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Pensamento, Linguagem e

Desenvolvimento da Criança

Conteudista
Prof. Me. Pascoal Fernando Ferrari

Revisão Textual
Aline de Fátima Camargo da Silva
Sumário

Objetivos da Unidade.............................................................................................................3

Introdução............................................................................................................................... 4

O Pensamento Humano........................................................................................................ 5

A Linguagem Humana...........................................................................................................7

O Desenvolvimento Humano............................................................................................ 10

Wallon e o Desenvolvimento da Criança................................................................................... 11

Wallon e o Pensamento da Criança............................................................................................ 16

Jean Piaget e o Desenvolvimento da Criança........................................................................ 18

Considerações Finais da Unidade..................................................................................... 22

Atividades de Fixação......................................................................................................... 23

Material Complementar..................................................................................................... 25

Referências............................................................................................................................ 26

Gabarito................................................................................................................................. 27
Objetivos da Unidade

• Promover uma reflexão a respeito do pensamento e da linguagem humana sob


o ponto de vista do desenvolvimento humano;

• Apresentar os aspectos orgânico e mental do desenvolvimento humano;

• Estudar o desenvolvimento da criança sob o olhar dos pensadores Henri Wallon


e Jean Piaget, com destaque para a teoria dos estágios ou períodos do desen-
volvimento da criança.

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3
VOCÊ SABE RESPONDER?

Ao observar uma criança que está aprendendo a falar, você já notou alguma estra-
tégia que ela utiliza para se comunicar antes mesmo de dominar completamente
as palavras? Como essas estratégias iniciais de comunicação podem auxiliar no seu
desenvolvimento linguístico?

Introdução
Para o momento de contextualização, sugerimos que você assista aos vídeos da
revista Nova escola. São três vídeos acerca da linguagem infantil.

Vídeos
Primeiro vídeo: “A conversa com bebês e
crianças pequenas”. O vídeo apresenta ob-
servações sobre o modo como os educado-
res devem conversar com seus alunos, des-
tacando o estímulo à comunicação oral.

Segundo vídeo: “As formas de estimular a


oralidade”. O vídeo traz sugestões para o
professor trabalhar na escola, a oralidade e
a linguagem da criança.

Terceiro vídeo: “O educador e o desenvol-


vimento da oralidade”. O vídeo discute o
papel do educador no desenvolvimento da
oralidade da criança.

Esperamos que os vídeos tragam boas reflexões no que se refere ao trabalho do


professor com crianças pequenas.

Caro estudante, nesta Unidade trataremos do pensamento e da linguagem, relacio-


nando esses dois aspectos humanos com o desenvolvimento infantil. Abordaremos
a temática sob uma visão interacionista e com um aporte da Psicologia enquanto
ciência. Para tanto, iremos nos apoiar, principalmente, na obra de Henri Wallon, à
qual daremos destaque, e de Jean Piaget, visto anteriormente.

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Importante
Esta opção de fundamentação teórica para o assunto desta Uni-
dade, baseia-se no fato de que os dois pensadores entendem o
desenvolvimento humano por meio de períodos ou estágios. E,
por intermédio da análise desses estágios, compreenderemos,
mais detalhada e criticamente, o desenvolvimento da criança.

Dessa maneira, iremos fazer alguns apontamentos a respeito da temática, analisare-


mos quais as influências que o pensamento e a linguagem exercem no desenvolvi-
mento do indivíduo, e como pensamento e linguagem se influenciam mutuamente
em seu próprio desenvolvimento.

Sabemos da importância de desvendarmos os caminhos do pensamento e da lin-


guagem, a fim de melhor entendermos o desenvolvimento humano. E, certamente,
conhecer o desenvolvimento humano contribuirá para o aprimoramento do exer-
cício da profissão de pedagogo, ou seja, acreditamos que esse conhecimento seja
essencial para aperfeiçoar a prática educativa na escola.

A ação educativa, de forma crítica, não pode se abdicar da comunicação


nesse processo, pois é mediante a comunicação humana que as informa-
ções são veiculadas e o conhecimento é construído. Uma ação educativa,
para atingir o seu fim, ancora-se no processo de comunicação. O desenvol-
vimento cognitivo de um educando, também, apoia-se na ação educativa
do professor. Assim, iniciaremos o nosso estudo explorando mais profunda-
mente o pensamento humano e, em seguida, a linguagem humana.

O Pensamento Humano
O pensamento é um fenômeno exclusivamente humano. Por meio dele, podemos
planejar o futuro, relembrar o passado ou entender o presente. Ele nos permite an-
tecipar nossas ações, deliberar e agir intencionalmente. É também, por intermédio
do pensamento, que podemos entrar na dimensão da imaginação e do simbólico.

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Portanto, sem negar o empirismo, o ato de pensar pode nos levar a construir co-
nhecimentos conceituais ou científicos. O pensamento, que atua por estágios, me-
diante um encadeamento ou conexão de ideias e formação de juízos, baseia-se em
raciocínios os quais nos conduzem à determinada conclusão em um processo de
construção de conhecimento.

Há, basicamente, dois tipos de pensamento, a saber: o pensamento concreto e o


pensamento abstrato.

Pensamento concreto

O pensamento concreto se constitui por meio da percepção, mediante os


órgãos dos sentidos, sendo uma representação de objetos reais que estão
no campo de nossa percepção.

Pensamento abstrato

Já o pensamento abstrato, é fruto de um processo mental de abstração,


de desligamento do real e que só existe enquanto ideia. O pensamento
abstrato estabelece relações entre as coisas; com ele, podemos construir
conceitos e noções gerais e abstratas. Esse tipo de pensamento precisa da
mediação da linguagem para ser construído.

A escola, que tem como uma de suas funções, contribuir a fim de que a criança
trabalhe e amplie esses tipos de pensamentos, deve, por meio de suas ações edu-
cativas, incentivá-la para que se distinga do meio em que vive, e, vagarosamente,
perceba o que é imaginação e o que é real, até atingir o conhecimento objetivo.

Assim, o ambiente escolar é fundamental para o desenvolvimento do pensamento da


criança, oferecendo a ela desafios constantes. Ele é um local para conhecer, investi-
gar e dominar o meio. A linguagem, por sua vez, facilita todo o processo educacional.

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A Linguagem Humana
Quando abordamos o tema linguagem, alguns aspectos devem ser ressaltados. O
primeiro deles, refere-se ao tipo de linguagem, que pode ser verbal ou não-verbal.
A linguagem verbal é aquela que se apropria da palavra falada ou escrita para existir;
e a não verbal é aquela linguagem que se apropria de outros signos para existir, tais
como o desenho, a imagem, o gesto ou a expressão facial. Um exemplo desta, é a
linguagem da criança que ainda não desenvolveu a fala e utiliza a linguagem corporal.

Morin (1975), quando tenta aclarar


o processo de hominização dos in-
divíduos, identifica, entre outros fa-
tores, a linguagem como elemento
fundamental nesse processo, que,
certamente, levou alguns milhões
de anos até chegar ao estágio atu-
al. Presume-se que os Antropoides
surgiram há 10 milhões de anos,
mas que a linguagem humana sur-
giu apenas com o aparecimento do
Homo sapiens, por volta de 100 a
50 mil anos a.C.

Veja, também, como o autor relaciona o tamanho do cérebro humano ao seu desen-
volvimento e ao processo de hominização, que se dá com a influência da linguagem
e da cultura:

A carteira de identidade do homem turva-se. Faber? Socius? O australan-


tropo com o crânio de 6003 e o “Man 1470” com o crânio de 800 cm3 já o
são. Resta-lhe a linguagem, a cultura? Conforme veremos, a linguagem e a
cultura devem, cronologicamente, preceder sapiens e logicamente, condi-
cionar a evolução biológica final que resulta no seu cérebro de 1.500 cm3.
MORIN, 1975, p. 59

Nota-se que, para o autor, o processo de hominização é complexo, sem que seja
possível determinar uma data para seu início, que pode ser localizado antes, durante
e depois do surgimento do Homo sapiens. Ele ainda continua seus argumentos so-
bre o tema, afirmando que, além do tempo, fatores genéticos e cerebrais, e outros,

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como a socialização, o ecossistema e a práxis dos indivíduos – principalmente a
caça, por necessitar do grupo, no caso de animais grandes – são influências recebi-
das nesse processo de transformação dos indivíduos em homens.

Observe, a seguir, a Figura que Morin (1975, p. 61) propõe para explicar o complexo
processo de hominização dos indivíduos:

Sistema genético Sistema cerebral

Práxis

Ecossistema Sociedade-cultura

Figura 1 – Processo de hominização dos indivíduos


Fonte: Adaptada de MORIN, 1975
#ParaTodosVerem: a imagem retrata um fluxograma que representa o processo de hominização dos indivíduos,
de acordo com o pensamento de Edgar Morin. O fluxograma é composto por uma série de elementos gráficos,
interconectados por setas, e segue uma sequência lógica. No centro, temos a “práxis”, na qual surgem setas
bidirecionais que levam aos elementos “sistema genético”; “sistema cerebral”; “sociedade-cultura”; e “ecossiste-
ma”. Entre tais elementos, também há setas nos dois sentidos, indicando bidirecionalidade: “sistema genético”
liga-se a “ecossistema”, que se liga a “sociedade-cultura”, que se une a “sistema cerebral”, o qual, por fim, volta
ao “sistema genético”. Fim da descrição.

Percebe-se que Morin (1975) analisa a questão do ponto de vista antropológico e


considera complexo esse processo por existirem diversos fatores que influenciam o
desenvolvimento humano. Observe, também, como os fatores se influenciam mu-
tuamente. A linguagem, seguramente, está inserida no quadro Sociedade-cultura,
como fator determinante do desenvolvimento humano.

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No que se refere a linguagem na criança, esta surge por volta dos 2 anos e depende
da maturação dos órgãos da fala, da intensidade e da quantidade de estímulos que
ela recebe. Devemos considerar que, no estágio anterior, de nomear os objetos e as
pessoas de seu relacionamento, a fala dela continua na dimensão da fala humana,
sem articulação entre várias palavras e incapaz de construir frases.

Figura 2 – Crianças em sala de aula


Fonte: Freepik

Outra consideração importante a fazer é que a comunicação independe da lingua-


gem, uma vez que ela acontece desde o ventre materno e intensifica-se a partir
do nascimento, com os recursos dos órgãos dos sentidos, como: visão, audição,
paladar, olfato e tato. Ademais, a comunicação ocorre a partir da interação entre a
criança e seu cuidador ou outros indivíduos do seu meio.

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O Desenvolvimento Humano

O desenvolvimento, portanto, é uma equilibração progressiva, uma


passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado
de equilíbrio superior.
PIAGET, 1972, p.11

Piaget (1972) busca explicar o desenvolvimento cognitivo humano por meio da ideia
de equilíbrio ou equilibração. Nas páginas iniciais de seu trabalho, quanto ao desen-
volvimento orgânico ou físico, ele afirma que: “Da mesma maneira que um corpo
está em evolução até atingir um nível relativamente estável, – caracterizado pela
conclusão do crescimento e pela maturidade dos órgãos (PIAGET, 1972, p.11).

Figura 3 – O aprendizado infantil


Fonte: Freepik

E ele ainda continua apontando que: “A acuidade visual, por exemplo, atinge um má-
ximo no fim da infância, diminuindo em seguida; muitas comparações perceptivas
são também regidas por esta mesma lei (PIAGET, 1972, p. 11-12).

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Quanto ao desenvolvimento cognitivo ou mental é primordial ressaltar que:

É, portanto, em termos de equilíbrio que vamos descrever a evolução


da criança e do adolescente. Deste ponto de vista, o desenvolvimento
mental é uma construção contínua, comparável à edificação de um gran-
de prédio que, à medida que se acrescenta algo, ficará mais sólido, ou à
montagem de um mecanismo delicado, cujas fases gradativas de ajusta-
mento conduziriam a uma flexibilidade e uma mobilidade das peças tanto
maiores quanto mais estável se tornasse o equilíbrio.
PIAGET, 1972, p. 12

Dessa forma, observamos nas citações apresentadas, a defesa da ideia de que o ser
humano se desenvolve na construção de estruturas mentais ou orgânicas que buscam
o processo de equilíbrio entre forças. É importante salientar que esse desenvolvimen-
to está envolto em duas dimensões: uma mais flexível e móvel, e outra mais sólida.

Logo após o nascimento, a vida mental se restringe a tentativa de organização sen-


sório-motora com fundo hereditário e instintivo da própria manutenção do orga-
nismo, como, por exemplo, o comportamento de sucção dos recém-nascidos, a
nutrição e o sono.

Em seguida, acontece o desenvolvimento de uma inteligência prática ou


sensório-motora, quando a criança se relaciona com os objetos ao seu re-
dor, pois já domina certos movimentos corporais em função da maturação
neurofisiológica em curso. Por volta dos 2 anos, a linguagem é a grande
diferença da fase de desenvolvimento em que a criança se encontra.

Entretanto, em relação ao desenvolvimento mental ou orgânico dos indivíduos, de-


vemos considerar, ainda, mais dois fatores importantes: a afetividade e as influên-
cias socioculturais que os indivíduos sofrem durante o seu desenvolvimento.

Wallon e o Desenvolvimento da Criança


Henri Wallon nasceu na França em 1879 e morreu em 1962. Médico, psicólogo e po-
lítico francês, tinha o marxismo como convicção. Ele participou da Primeira e da Se-
gunda Guerra Mundial como médico. Wallon foi, também, professor na Universidade
Sorbonne, em Paris. Atuou como médico de instituições psiquiátricas, demonstran-
do interesse pela Psicologia Infantil.

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Importante
Apesar de seu vínculo com a Medicina e com a Psicologia, sua
teoria foi apropriada pela área educacional e é fundamento de
inúmeras reflexões e práticas educacionais na atualidade. A vi-
são interacionista da educação tem como um de seus pilares as
contribuições de Wallon.

Wallon entendeu o desenvolvimento infantil em estágios que se estabelecem não


de forma estanque, mas os quais se complementam sucessivamente, ou seja, o fim
de um estágio acontece paralelamente ao início de outro, momento em que nota-
mos, ao mesmo tempo, características de um e de outro estágio na mesma criança.

Ainda, para ele, o surgimento de um novo estágio não suprime o estágio anterior,
apenas o modifica. O desenvolvimento humano não acontece de forma linear e pas-
sa por avanços e retrocessos de forma dialética.

Observe a Figura a seguir:

Estágio impulsivo - emocional


De 0 a 1 anos

Estágio sensório-motor e projetivo


De 1 a 3 anos

Estágios do
Estágio do personalismo
desenvolvimento
De 3 a 6 anos
humano

Estágio categorial
De 6 a 11 anos

Estágio da puberdade e adolescência


11 anos em diante

Figura 4 – Estágios do desenvolvimento humano


Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: a imagem retrata um fluxograma que representa os estágios do desenvolvimento humano
segundo Wallon. O fluxograma é uma representação visual dos estágios que os indivíduos atravessam desde o
nascimento até a idade adulta, abrangendo diferentes aspectos do crescimento e do amadurecimento. Há um
quadro maior, com a inscrição “Estágios do desenvolvimento humano”, do qual saem quatro linhas, as quais
levam a estágios menores, quais sejam, na ordem: Estágio impulsivo - emocional de 0 a 1 anos/Estágio sensório-
-motor e projetivo De 1 a 3 anos/Estágio do personalismo de 3 a 6 anos/Estágio categorial de 6 a 11 anos/Estágio
da puberdade e adolescência 11 anos em diante. Fim da descrição.

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O desenvolvimento humano acontece em uma progressão dialética dos estágios, os
quais, segundo Wallon, ora predominam aspectos cognitivos, ora aspectos afetivos,
o que detalharemos a seguir. Antes, vejamos o que a psicóloga e professora espe-
cialista em educação infantil Adrianne Ogêda Guedes pensa a respeito do desenvol-
vimento da criança:

O desenvolvimento da pessoa se dá numa construção progressiva em


que se sucedem fases em que ora predominam aspectos afetivos, ora
cognitivos. A essa tendência ao predomínio de um aspecto sobre o outro
Wallon dá o nome de “predominância funcional”. Tal predomínio é orien-
tado pelo princípio de alternância funcional. Cada fase tem suas pecu-
liaridades, delineadas pela predominância de um tipo de atividade. Tais
predominâncias estão ligadas aos recursos de que a criança dispõe para
interagir com o ambiente.
GUEDES, s/d, p. 6

De acordo com Guedes (s/d), Wallon identifica como predominância funcional o


predomínio de um aspecto sobre o outro. A autora continua com seus argumentos:

Cada um desses estágios traz novas conquistas realizadas pela etapa


anterior, construindo-se reciprocamente num processo de integração e
diferenciação. O fato de haver o predomínio do aspecto afetivo em deter-
minada fase, como, por exemplo, na impulsiva-emocional, não quer dizer
que aspectos afetivos não estarão presentes na próxima etapa (ainda que
não sejam os predominantes)
GUEDES, s/d.,p. 6, parênteses da autora

A predominância atual não extingue por completo a predominância anterior. Deter-


minados aspectos permanecem, de forma dialética, no desenvolvimento humano,
e isso se refere ao desenvolvimento mental e orgânico dos indivíduos. A seguir, de-
talharemos um pouco mais os estágios de desenvolvimento propostos por Wallon.

Estágio Impulsivo-Emocional

Este estágio ocorre do nascimento até o primeiro ano de vida, período em que a
criança se mostra extremamente dependente do adulto. É um estágio com o predo-
mínio do aspecto afetivo; nele, as emoções e sentimentos são os principais instru-
mentos de interação com o meio e são traduzidos em movimentos e expressões. A
relação da criança com o ambiente ainda é confusa e seus gestos e expressões são
desordenados, pois dependem de uma maturação neurofisiológica.

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Figura 5 – Criança desenhando
Fonte: Freepik

Wallon caracteriza dois momentos nesse estágio. No primeiro momento a impul-


sividade da criança está voltada a questões motoras; seus movimentos são des-
contínuos e reflexos apenas. No segundo momento, a impulsividade da criança se
volta para as questões emocionais. Sua relação com o meio se efetiva, surgindo as
interações sociais como elemento para o desenvolvimento humano. É o início da
vida psíquica, quando surgem as primeiras imagens mentais.

Estágio Sensório-Motor e Projetivo

Neste estágio, aparecem os movimentos exploratórios, e a criança pas-


sa a conhecer o mundo a sua volta mediante a manipulação de obje-
tos. É um estágio de grandes transformações e dois novos fenômenos
marcam esse período: o andar, que dará maior autonomia para explo-
ração do mundo pela criança; e a linguagem, que facilitará a nomeação
das coisas e objetos e possibilitará a formação dos signos culturais. O
desenvolvimento da inteligência está dividida em duas extensões: uma
inteligência prática, advinda da interação entre a criança e os objetos
com os quais ela tem contato; e uma inteligência discursiva, advinda
do domínio da linguagem. Neste período existe um predomínio dos
aspectos cognitivos.

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Estágio do Personalismo

Como o próprio nome indica, este é um estágio em que a personalida-


de será formada. Com o desenvolvimento da linguagem, as interações
sociais são intensificadas e estabelecem-se como a base do desenvol-
vimento humano, predominando o aspecto afetivo. Nesse período a
criança, por estar imersa em um mundo cultural, que prevê simbologia
e formação de signos, já é capaz de representar. O objeto não precisa
estar presente para ela se referir a ele, podendo, então, desenhá-lo ou,
mais tarde, escrever a palavra que representa esse objeto.

Estágio Categorial

Neste estágio, a criança inicia o desenvolvimento da memória, da aten-


ção voluntária e da abstração. É uma fase em que o pensamento simbó-
lico se estabiliza, transformando-se em mais um instrumento cognitivo.
Há predominância dos aspectos cognitivos em detrimento dos aspec-
tos afetivos. Dessa maneira, a criança se capacita para ler, escrever e
abstrair no universo dos números e da matemática. É quando entende-
mos que ela já está em idade escolar, pois, nesse período, ela é capaz
de formar categorias mentais ou conceitos abstratos. Wallon identifi-
ca neste estágio um pensamento pré-categorial, que é marcado pelo
sincretismo do pensamento da criança. Segundo Almeida e Mahoney
(2003, p. 53): “Nesse momento emerge o pensamento categorial, que
juntamente com o pré-categorial caracteriza a inteligência discursiva”.

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Estágio da Adolescência

A puberdade traz com ela diversas transformações físicas, psicológi-


cas e afetivas. Esta é uma fase predominantemente afetiva e repleta
de conflitos internos e externos advindos da busca de autoafirmação
pelo adolescente. As interações sociais dentro do grupo a que perten-
cem são mais fortes do que na família e a escola se torna não só um
lugar de aprendizagem, mas também, de socialização. As característi-
cas da sexualidade se efetivam e são um fator de grande influência no
comportamento desse adolescente. Os estágios de desenvolvimento
físico e cognitivo não se encerram com a adolescência, pois ainda exis-
tem a vida adulta e a velhice para serem vividas. O processo dialético
de desenvolvimento jamais se encerra.”

Wallon e o Pensamento da Criança


Wallon, em sua teoria, aponta dois tipos de pensamento no desenvolvimento in-
fantil: o pensamento sincrético e o pensamento categorial. Se conversarmos com
crianças pequenas, veremos que, por vezes, deparamo-nos com frases inusitadas,
como “amanhã você vai lá hoje” ou “desliga a chuva”. Parece sem lógica? Uma lógi-
ca adulta, talvez!

Ao lermos a obra de Wallon, entendemos que a criança tem uma lógica própria, que
permite a reunião de diferentes verdades, um pensamento singular e de difícil com-
preensão pela sua complexidade, pela mistura de realidade e fantasia. Entretanto, é
um pensamento que a impulsiona a entrar no mundo da brincadeira, no mundo do
faz-de-conta, fundamental para o ser criança.

Glossário
O pensamento sincrético: se refere a fusão de diversos elemen-
tos, permitindo diferentes configurações na acomodação entre
esses elementos. A criança tem a tendência a fundir realidade e
fantasia; ela combina, aleatoriamente, as informações que rece-
be do meio, as experiências pessoais, com sua percepção pró-
pria. O pensamento sincrético corresponde a um momento do
desenvolvimento humano.

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Sincretizar significa reunir. Quando a criança é desafiada a resolver um problema
qualquer, sua resolução ou resposta é um misto de realidade e fantasia sem discer-
nimento, com uma visão generalizada e de forma global.

Figura 6 – O pensamento infantil


Fonte: Freepik

O resultado desse combinado de influências recebidas, como suas vivências, fantasias,


cultura, conhecimentos escolares, torna-se a principal característica do pensamento
infantil. Essa característica, que possui uma lógica própria, difere do pensamento ló-
gico encontrado na fase adulta, que é marcada pela característica da categorização.

Glossário
Pensamento categorial: nos primeiros meses de vida, a percep-
ção do bebê ainda não é clara. À medida que novas vivências
e informações vão acontecendo, o pensamento da criança vai
se aprimorando. O desenvolvimento do pensamento acontece
partindo do pensamento sincrético e passando para o pensa-
mento categorial.

Com o pensamento categorial, a criança já é capaz de definir e classificar elementos,


discernindo semelhanças e diferenças entre os objetos e pessoas. Além disso, na
fase do pensamento categorial, ela é capaz de fazer a representação das coisas e
também já consegue explicar a realidade à sua volta, caminhando para uma lógica
adulta de explicação do mundo.

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Com o intuito de esclarecer tal questão, Almeida e Mahoney (2003) alegam que:

Entre os 6 e os 9 anos, transformações progressivas no pensamento e no


comportamento assinalam a redução do sincretismo, mas só a partir da
emergência do pensamento categorial será possível a criança operar com
um sistema de relações
ALMEIDA; MAHONEY, 2003, p. 56

O desenvolvimento do pensamento da criança ocorre em um movimento evolutivo


que vai do pensamento sincrético ao pensamento categorial, permitindo uma re-
elaboração da sua percepção do mundo. Se pensarmos na educação escolar, este
período é aquele em que ela está cursando o Ensino Fundamental I e tem plenas
condições de construir os conhecimentos científicos, característicos da aprendiza-
gem adquirida na escola.

Jean Piaget e o Desenvolvimento da Criança


Piaget (1896-1980) se destaca como grande pensador da matriz do conhecimento
denominada interacionismo. Ele entende o desenvolvimento humano, orgânico ou
mental em estágios que se sucedem durante a vida. Segundo Piaget, o pensamento
humano é influenciado por fatores referentes à sua capacidade cognitiva e às influ-
ências que recebe do meio em que o indivíduo vive.

Figura 7 – Piaget
Fonte: Reprodução
#ParaTodosVerem: a imagem retrata Jean Piaget. Ele é representado em uma fotografia em preto e branco. Ele
é um homem de meia-idade, com cabelos brancos e usa óculos. Piaget está vestindo uma roupa formal, com
uma gravata. Sua postura é ereta e sua expressão é séria. Fim da descrição.

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Em sua teoria do desenvolvimento cognitivo humano, os períodos de desenvolvi-
mento que o ser humano experimenta, apesar de ocorrerem em uma determinada
ordem, não seguem uma norma rigorosa para acontecerem ou se esgotarem. Bock;
Furtado; Teixeira (1991) argumentam sobre a passagem dos períodos de desenvolvi-
mento que propõe Piaget:

Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o in-
divíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por
todas essas fases ou períodos, nessa sequência, porém o início e o término
de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de
fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma
referência e não uma norma rígida
BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1991, p.76

Ao lermos a obra de Piaget, compreendemos que a periodização e as idades referen-


tes a um determinado período são referenciais e não fixas; o tempo de duração dos
períodos depende de fatores genéticos e sociais. A vida escolar de uma criança, suas
relações educacionais e o próprio conhecimento, com certeza, influenciam o tempo
de duração de cada período.

Agora, observe a Figura a seguir, a fim de compreendermos melhor o desenvolvi-


mento humano para Piaget:

Sensório-motor
De 0 a 2 anos

Pré-operatório
De 2 a 7 anos
Períodos do
desenvolvimento
Operatório
De 7 a 11 anos

Operatório formal
11 anos em diante

Figura 8 – Períodos de desenvolvimento da criança


Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: a imagem retrata um fluxograma que representa os períodos de desenvolvimento da crian-
ça, conforme descrito pela teoria de Jean Piaget. O fluxograma é composto por uma série de elementos gráficos
e setas, organizados de forma lógica e sequencial. No início do fluxograma, há um retângulo que indica o ponto
de partida do desenvolvimento da criança. A partir desse retângulo, setas apontam para outros retângulos repre-
sentando diferentes estágios do desenvolvimento. Cada retângulo contém uma descrição breve dos períodos
de desenvolvimento da criança de acordo com a teoria de Piaget. Alguns exemplos de estágios, podem incluir
“Sensório-motor”, “Pré-operatório”, “Operatório” e “Operatório formal”. Fim da descrição.

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Piaget propôs quatro estágios ou períodos de desenvolvimento da criança no cam-
po cognitivo. A seguir, vamos fazer algumas considerações sobre o desenvolvimen-
to do pensamento e da linguagem humana em cada um desses estágios.

Período Sensório-Motor

Neste estágio, a criança busca ampliar o controle motor e conhecer os ob-


jetos que a rodeiam. Seu desenvolvimento físico e mental acelerado é a
garantia de novas conquistas e novas percepções do ambiente que a cerca.
A criança parte de movimentos reflexos, de fundo hereditário, para depois
alcançar o movimento consciente e intencional. Ao final do período, devido
à maturação neurológica e motora, ela é capaz de se locomover, ganhan-
do autonomia para melhor explorar o mundo e interagir com os objetos. A
aquisição da linguagem é iniciada, chegando a nomear objetos e fenôme-
nos, e se aprimora até chegar à construção de frases simples.

Período Pré-Operatório

Nesta fase, o surgimento da linguagem acarreta inúmeras transformações


nos aspectos afetivo, cognitivo e social da criança. Com o domínio da lin-
guagem, ela é capaz de desenvolver o pensamento simbólico, das repre-
sentações e das imitações. A criança, nesse período, apresenta uma forma
de pensar egocêntrica, que tende a ter uma visão única e singular. Ao final
desse período, a estrutura física e sensorial já desenvolvida garante a ela
todos os requisitos básicos para uma plena aprendizagem escolar.

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Período das Operações Concretas

Superando o pensamento egocêntrico predominante no estágio anterior, a


criança experimenta o pensamento lógico. A abstração lhe oferece a capa-
cidade de utilizar a matemática, pois ela já possui a habilidade da abstração,
não necessitando da presença do objeto para representá-lo. Nessa fase, a
criança consegue entender regras e, consequentemente, poderá compre-
ender seus próprios erros. Ao final desse período, ela terá a habilidade para
solucionar problemas de forma concreta, desenvolvendo análises lógicas
sobre os desafios a ela apresentados. A cooperação entre seus pares se
desenvolve, propiciando o trabalho em grupo.

Período das Operações Formais

Uma característica peculiar desta fase é a passagem do pensamento con-


creto para o pensamento formal e abstrato. Por meio do pensamento abs-
trato, o adolescente é capaz de realizar operações no plano das ideias,
construindo conceitos como liberdade, democracia e justiça. É um perí-
odo em que os valores sociais e morais são questionados, em que ele faz
profundas reflexões sobre a sua existência e realizando perguntas, como:
Quem sou eu? O que serei no futuro? O grupo de amigos é sua mais impor-
tante referência; dentro dele realiza novas experiências estimuladas pelo
grupo. Quanto à questão afetiva, o desenvolvimento da sexualidade é bas-
tante presente. Ao final do período, o adolescente está apto para adentrar
o universo adulto.

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Considerações Finais
Chegamos ao final desta Unidade conhecendo as contribuições de Piaget e Wallon
para a melhor compreensão do desenvolvimento humano, principalmente do desen-
volvimento infantil, ao qual deram um destaque especial. Cabe salientar que, suas
teorias serviram de base para a construção de muitas outras teorias educacionais.

Por intermédio de suas teorias,


compreendemos como a criança
formula suas hipóteses de pen-
samento e podemos constatar o
desenvolvimento das capacidades
simbológica e linguística nos pe-
quenos. Com esse conhecimento,
enquanto profissionais da edu-
cação, poderemos aperfeiçoar o
planejamento da ação pedagógica
que iremos desenvolver em nossa
prática educativa, adequando os
conteúdos a serem trabalhados
aos objetivos, os quais deverão
atender às capacidades próprias
de cada período do desenvolvi-
mento do aprendiz.

O aporte da visão interacionista, nos estudos a respeito do desenvolvimento huma-


no, garante uma visão crítica e uma abordagem mais global do indivíduo, o que é
fundamental no processo educacional. Ao analisarmos as interações sociais, dentro
do contexto específico do processo de ensino/aprendizagem, compreendemos que
conhecer o desenvolvimento cognitivo e orgânico das crianças permite uma melhor
compreensão do sujeito de nossa ação pedagógica.

22
Atividades de Fixação

1 – Entender o desenvolvimento humano é fundamental para o professor melhorar


a sua prática profissional. Assim, assinale a alternativa que apresenta corretamen-
te o pensamento de Jean Piaget e Henry Wallon sobre o desenvolvimento humano.
a. O desenvolvimento humano não pode ser qualificado, segundo Piaget.
b. O desenvolvimento humano acontece por períodos ou estágios de desenvol-
vimento.
c. O desenvolvimento humano depende, exclusivamente, de sua alimentação.
d. O desenvolvimento humano depende, exclusivamente, de sua disposição para
fazer exercícios e boa alimentação.
e. O desenvolvimento humano não é estudado por Piaget e Wallon.

2 – A estruturação de uma língua é uma característica puramente humana, o seu


surgimento acarreta modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social da
criança. Segundo Piaget, o seu aparecimento ocorre em qual período?
a. Pré-Operatório.
b. Sensório-Motor.
c. Operações Concretas.
d. Concreto-Motor.
e. Operações Formais.

3 – Edgar Morin, em seu livro O Enigma do Homem, discute o desenvolvimento hu-


mano sob o ponto de vista antropológico e entende-o como um processo comple-
xo. Assinale a alternativa que apresenta a afirmação correta sobre o pensamento
de Morin a esse respeito.
a. Para Morin, esse é um processo complexo por existirem diversos fatores que in-
fluenciam o desenvolvimento humano.
b. Na realidade, Morin não acredita na complexidade do desenvolvimento humano.
c. Para Morin, o desenvolvimento humano é complexo, entretanto é de fácil com-
preensão, segundo Morin.
d. Morin entende o desenvolvimento humano como um processo empírico, por isso
pouco complexo.
e. Para Morin este processo é complexo por existirem apenas três fatores que in-
fluenciam o desenvolvimento humano, sendo um deles, evidentemente, o fator
antropológico.

23
Atividades de Fixação

4 – O desenvolvimento humano acontece em uma progressão dialética dos está-


gios. Quais são os aspectos que, segundo Wallon, predominam de forma alternada
na progressão desses estágios?
a. Aspectos cognitivos e mentais.
b. Aspectos mentais e sociais.
c. Aspectos cognitivos e afetivos.
d. Aspectos afetivos e sociais.
e. Aspectos mentais e psicológicos.

5 – Wallon acreditava existir, basicamente, dois tipos de pensamento: o pensa-


mento sincrético e o pensamento categorial. Como pode ser conceituado o pen-
samento sincrético?
a. O pensamento sincrético é aquele que acontece após a adolescência.
b. O pensamento sincrético é aquele que é formado apenas na escola.
c. O pensamento sincrético se refere ao pensamento adulto.
d. O pensamento sincrético não nos permite abstrair.
e. O pensamento sincrético é aquele que mistura realidade e fantasia.

Atenção, estudante! Veja o gabarito desta atividade de fixação no fim


deste conteúdo.

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Material complementar

Leituras
Henri Wallon
https://bit.ly/3qu5lpN

O conceito de afetividade de Henri Wallon


https://bit.ly/3qDZvlF

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Referências

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L T. Psicologias: uma introdução ao es-


tudo de psicologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1991.

GUEDES, A. O. Psicogênese da pessoa completa de Henri Wallon: desenvolvimento


da comunicação humana nos seus primórdios. Museu da Infância. Disponível em:
<http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/expo_escolares/GUEDES_psi-
cogenese.pdf>. Acesso em: 26/07/2012.

MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. Henri Wallon: psicologia e educação. 3. ed. São


Paulo: Edições Loyola, 2003.

MORIN, E. O enigma do Homem: Para uma nova antropologia. Trad. Fernando de


Castro Ferro. Rio de Janeiro: Zahar. 1975.

PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice M. D’Amorim e Paulo Sérgio
L. Silva. Coleção culturas em debate. Rio de Janeiro: Ed. Forense. 1972.

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Gabarito

Questão 1
b) O desenvolvimento humano acontece por períodos ou estágios de desen-
volvimento.

Questão 2
b) Sensório-Motor

Questão 3
a) Para Morin, esse é um processo complexo por existirem diversos fatores que
influenciam o desenvolvimento humano.

Questão 4
c) Aspectos cognitivos e afetivos.

Questão 5
e) O pensamento sincrético é aquele que mistura realidade e fantasia.

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