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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 3
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão
a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 LINGUAGEM, CONHECIMENTO E PENSAMENTO
Fonte: https://filosofandoehistoriando.blogspot.com
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conceitos interligados. Naturalmente, você pode analisá-los separadamente, pois
seus significados são distintos, mas é como se, na prática, eles se apresentassem
de forma integrada. Na epígrafe que você acabou de ler, está em jogo a noção de
que o conhecimento é gerado a partir do momento em que as pessoas se deparam
com algo novo, até então desconhecido. Essa “apresentação” ao novo alimenta o
pensamento, gerando um novo conhecimento acerca do objeto que até então era
desconhecido e passa a ser familiar. Mas e a linguagem? A linguagem é a forma
utilizada para expressar esse pensamento resultante do conhecimento gerado a
partir do que foi apresentado.
Como você pode notar, portanto, há uma ligação entre a linguagem, o
conhecimento e o pensamento. É como se fosse possível expressar algo (por meio
da linguagem) internalizado no pensamento. Contudo, para tal coisa fazer parte do
pensamento, precisa antes passar pelo conhecimento (do objeto, da pessoa, do
conceito).
Para os estudiosos, a linguagem acompanha o ser humano desde o seu
nascimento, pois se trata de uma função inata, que permite ao indivíduo simbolizar
o seu pensamento e decodificar o pensamento do outro. O pensamento antecede a
linguagem, como você pode notar nos bebês: mesmo antes de falarem e se
expressarem por meio dos diferentes tipos de linguagem (verbal e corporal, por
exemplo), eles já possuem imagens mentais (DOS SANTOS, 2018). Ou seja, já
foram apresentados a diferentes tipos de objetos e pessoas, conhecendo-os e
dando significado a eles. Em síntese, os bebês geram em seu pensamento um
arquivo de imagens que futuramente irão se transformar em linguagem.
Segundo Aranha (1993, p. 42), “O verdadeiro conhecimento se faz,
portanto, pela ligação contínua entre a intuição e a razão, entre o vivido e o
teorizado, entre o concreto e o abstrato”. Para você, enquanto professor, a ligação
entre teoria e prática se faz necessária e de suma importância. E ela também é
fundamental para todas as pessoas. A vivência entre realidade e imaginação e
teoria e prática é importante para gerar cada vez mais conhecimento e, por
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consequência, novos pensamentos, ampliando e aperfeiçoando a linguagem.
Dessa forma, Chauí (2000, p. 143) afirma que:
Mesmo que aqui seja priorizado o olhar por meio do conhecimento filosófico,
você já deve ter notado que constantemente se depara com os diferentes tipos de
conhecimento. Por consequência, produz o seu próprio saber com base naquilo a
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que foi apresentado e a partir do pensamento gerado em seu interior. Aranha (1993,
p. 40) acrescenta que:
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2.2 O homem e a linguagem
[...] não há nada no som nem na forma escrita que nos remeta ao objeto
por ela representado (cada casa que, concretamente, existe em nossas
ruas). Designar esse objeto pela palavra casa, então, é um ato arbitrário.
A partir do momento em que não há relação alguma entre o signo casa e
o objeto por ele representado, necessitamos de uma convenção aceita
pela sociedade de que aquele signo representa aquele objeto. É só a partir
dessa aceitação que poderemos nos comunicar, sabendo que, em todas
as vezes que usarmos a palavra casa, nosso interlocutor entenderá o que
queremos dizer (ARANHA, 1993, p. 43).
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Assim, você pode considerar que a linguagem é um sistema de
representações aceitas por um grupo social e que por meio dela é possível haver
comunicação entre os integrantes desse mesmo grupo. Porém, na medida em que
esse laço entre a representação (o significado casa) e o objeto representado (a casa
em si) ocorre de forma arbitrária, é possível dizer que essa é uma construção da
razão, ou seja, um sujeito cria (inventa) esse código (signo) para poder se aproximar
da realidade.
Segundo Aranha, por esse motivo é possível afirmar que a linguagem é um
produto da razão e só pode existir se há racionalidade. Como diria Heidegger, “a
linguagem é a casa do ser. É nessa morada que habita o homem” (HEIDEGGER
apud REALE; ANTISERI, 1991, p. 591), ou seja, o ser está na linguagem e vice- -
versa. Todas as ações do homem (fala, pensamento, atitudes) se dão por meio da
linguagem.
Fazendo uso de metáforas, Rubem Alves explica o processo pelo qual a
sociedade cria a linguagem.
[...] através dos seus sentidos ele tiraria “retratos” do mundo, que seriam
“revelados” na mente. A mente seria uma máquina reduplicadora do
mundo. E a linguagem, o que seria? Um sistema de sinais para representar
essa reduplicação. Imaginemos que um homem veja uma árvore. Lá fora
está a árvore e na mente dele está a imagem dela. Agora, se ele necessita
comunicar a um companheiro esta imagem, ele poderá simplesmente
apontar para a árvore, se se encontrarem próximos dela. Mas e se a árvore
estiver fora do alcance de sua vista? Nesse caso, a comunicação, isto é, a
focalização das atenções dos dois homens sobre um mesmo objeto, só se
dará se eles dispuserem de um sinal que “signifique” a árvore e lhes
evoque a sua imagem. Os sinais são criados para desempenhar esta
função. Parece, portanto, óbvio que as palavras têm por função
representar coisas (FILOSOFIA NA REDE, 2014, documento on-line).
Assim, a linguagem não é uma cópia do real, mas antes uma organização
dele. Na verdade, para o homem, o real é aquilo que ele organiza. As pessoas
utilizam a linguagem para se comunicarem umas com as outras, pois ela
corresponde às palavras faladas, escritas ou gesticuladas e às maneiras como são
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combinadas à medida que se pensa e se comunica. Dessa forma, a linguagem
assume grande parte do pensamento, é constituída por vários elementos que
afloram à medida que o sujeito amadurece. Ela é, assim, um dos principais
instrumentos na formação do mundo cultural, pois permite transcender a
experiência (DOS SANTOS, 2018).
A linguagem permite ao homem nominar qualquer objeto, como você viu.
Dessa forma, tal objeto se torna individualizado, sendo diferente (de outros iguais a
ele e do resto que o cerca) e passando a existir na consciência dos sujeitos. O
símbolo, na linguagem, é resultado desse ato de dar nome às coisas, aos objetos,
assim como do ato de nominar algo que é abstrato e que só têm existência no
pensamento (por exemplo, ações, estados ou qualidades como medo, beleza,
liberdade). Além de diferenciar os homens dos animais, o ato de nomear algo traz
para perto e torna presente na consciência o objeto que está longe. Por exemplo,
ao ver o nome do seu filho escrito em algum lugar, esse nome não necessariamente
se refere ao seu filho, mas você, em sua consciência, vai lembrar-se dele.
Nesse sentido, a linguagem permite que o simples pronunciar de uma
palavra torne presente, na consciência, o objeto a que ela se refere. Com isso, não
é mais necessária a existência física das coisas: é criado, por meio da linguagem,
um mundo estável de ideias que permite lembrar o que já foi e projetar o que será,
instaurando a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o homem deixa de
reagir somente ao presente, ao imediato, passa a pensar o passado e o futuro e,
com isso, a construir o seu projeto de vida.
Por meio das palavras, é possível transmitir o conhecimento acumulado por
uma pessoa ou por uma sociedade, assim se pode passar adiante essa construção
da razão que se chama cultura. Essa possibilidade que a linguagem dá de “nominar
o abstrato” permite transcender a situação concreta, o fluir contínuo da vida. Assim,
o mundo criado pela linguagem se apresenta de forma mais estável, sofrendo
mudanças mais lentas do que no mundo natural (DOS SANTOS, 2018).
A linguagem a que se refere essa abordagem não está relacionada
exclusivamente à linguagem verbal, pois existem diferentes tipos de linguagem que,
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em diferentes situações ou para diferentes indivíduos, são utilizadas com o mesmo
objetivo da linguagem formal, que é o de comunicar, de expressar aquilo que está
armazenado no pensamento. Como exemplo, você pode considerar a linguagem de
sinais, utilizada pelos surdos, e a linguagem de computador, utilizada na área de
informática para criar diferentes programas com os comandos elaborados a partir
de códigos. Além disso, há a linguagem corporal, ou seja, seu corpo emite diversos
e diferentes sinais capazes de expressar ao outro (mesmo que inconscientemente)
o que está em seu pensamento.
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A linguagem está presente em todos os países e culturas do mundo, mas a
língua se diferencia de país para país, como mostra a figura, em que você pode ver
a diferença da saudação “Olá” em diferentes países do mundo. Segundo Aranha
(1993, p. 50):
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artes, elas também sofrem a influência das modificações culturais. Retomando o
exemplo da Figura 1, você pode considerar que “Olá”, seja em que língua for, tem
uma mesma função, saudar alguém, mas a forma com que cada língua apresenta
tal expressão resulta na apreensão de um aspecto particular, de uma série de
operações, e esse aspecto focalizado difere de uma comunidade para outra, de
acordo com a cultura.
Além disso, a linguagem permite ao homem realizar ações que o diferenciam
dos animais. Por exemplo, por meio dela os seres humanos são capazes de
construir e ler uma história, perguntar algo a alguém, agradecer, entre outras ações.
Para Medina (2007, p. 20):
Certamente, esta é uma lista que deve permanecer em aberto, pois nossas
atividades e práticas linguísticas são coisas vivas e estão sempre
mudando. O uso da linguagem é tão imprevisível quanto a ação humana,
pois, de fato, uma elocução é, ela própria, um ato. A questão não é
simplesmente que a fala esteja relacionada à ação, mas, por outro lado,
que a própria fala é ação.
Nesse sentido, Medina acrescenta que a linguagem vai além do ato de falar,
uma vez que:
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e elabora saberes coletivos que herda e transmite para gerações que o sucedem
(DOS SANTOS, 2018).
Fonte: https://fono-dialogo.blogspot.com
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Engana-se quem pensa que o desenvolvimento da linguagem se inicia
quando a criança pronuncia as primeiras palavras, comumente chamando por suas
figuras materna/paterna e pedindo algo relacionado a suas necessidades básicas.
Antes mesmo de se valer da fala como recurso expressivo, os bebês emitem sons
para se comunicar por meio de choro, balbucio, chamados de sons pré-linguísticos.
Uma única sílaba pode apresentar significados distintos, variando de acordo com
contexto.
Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 196), “Da pode significar ‘eu quero
aquilo’, ‘eu quero sair’ ou ‘onde está o papai?’. Uma palavra como essa, que
expressa um pensamento completo, é chamada de holofrase”. No decorrer de seu
desenvolvimento, também é ampliada a capacidade de identificar os sons
pronunciados no ambiente e se valer de gestos. A partir de seu primeiro ano de
vida, aproximadamente, a criança é capaz de emitir sons de suas primeiras palavras
e sentenças, comumente um ano e oito meses depois.
A partir desse período, após os 24 meses, a criança gradativamente vai
conseguindo expressar-se combinando três, quatro e cinco palavras, transitando de
frases simples para complexas, entre dois ou três anos até os anos do ensino
fundamental (BLOOM, 1985).
Outros marcos importantes entre os 24 e 36 meses de vida são observáveis
na aprendizagem de novas palavras a cada dia e na fala que realiza combinações
de três ou mais palavras, passíveis de erros gramaticais pelo nível de
desenvolvimento e aquisição da gramática interna. Por volta dos 36 meses,
demonstram ser capazes de falar até mil palavras, ainda que inteligíveis e
cometendo alguns erros no que tange à sintaxe (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Veja, no Quadro 2, a seguir, as principais etapas desse desenvolvimento nos
primeiros dois anos de vida da criança (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 196-197).
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3.2 Regras que compõem o sistema linguístico
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Analisando esse desenvolvimento a partir das cinco regras que compõem
nosso sistema, observamos as seguintes evoluções, adaptadas de acordo com
Papalia e Feldman (2013):
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melhoram seu domínio sobre a característica da linguagem conhecida
como deslocamento. As crianças se tornam cada vez mais distantes
do “aqui e agora” e são capazes de conversar sobre coisas que não
estão fisicamente presentes, assim como coisas que aconteceram no
passado ou podem acontecer no futuro. Pré-escolares podem dizer o
que querem almoçar amanhã, algo que não seria possível no estágio
das duas palavras na infância. Crianças pré-escolares também se
tornam cada vez mais capazes de conversar de modos diferentes com
pessoas diferentes.
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3.3 Teorias clássicas de aquisição da linguagem: o debate genética e
ambiente
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A partir dessas concepções, no decorrer dos anos subsequentes, novos
estudos acerca desses processos foram desenvolvendo-se. Atualmente, a maioria
dos pesquisadores do desenvolvimento sustenta que a aquisição da linguagem,
assim como outros elementos envolvendo a evolução humana, depende de um
entrelaçamento entre a genética e o ambiente (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
De acordo com as novas concepções, a criança com a audição funcionando
de acordo com a normalidade, ou seja, ela não estando surda, comumente terá uma
capacidade nata de aquisição da linguagem, que pode ser ativada ou restringida de
acordo com as experiências que vivenciará. Assim, quanto mais estímulos na
apresentação de diferentes modos de se comunicar na infância, mais condições a
criança terá para novas etapas dessa aprendizagem.
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Como afirma Papalia e Feldman (2013, p. 200), “[...] a ordem de nascimento
da criança, a experiência em cuidar de criança e, mais tarde, a escolaridade, os
colegas e a exposição à televisão, tudo isso afeta o ritmo da aquisição da linguagem
[...]”.
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Com o ingresso das crianças nas instituições de educação infantil, elas
iniciam o processo de alfabetização, onde já apresentam uma gramática
internalizada, que lhes oportuniza a detenção de um conhecimento prévio. Elas são
apresentadas a experimentações para que passem a se apropriar das habilidades
relacionadas à leitura e escrita. De acordo com Scopel, Souza e Lemos (2011, p.
733):
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4 PRODUÇÃO DA LINGUAGEM: PROCESSAMENTOS MENTAIS
ENVOLVIDOS NA FALA
Fonte: https://professormarcelobraga.com.br
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4.1 Linguagem, fala e pensamento
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De acordo com Slobin (1980), os behavioristas defendiam que pensamento
e fala estavam intrinsecamente ligados. A posição mais radical, do americano John
B. Watson, era de que fala e pensamento seriam a mesma coisa; já a dos psicólogos
russos, como Ivan Sechenov, era de que fala e pensamento estariam relacionadas
nas crianças, porém, nos adultos, o pensamento seria um pouco mais livre.
Entretanto, basta pensar em um exemplo simples, como alguém que sofre um
acidente e fica desprovido da capacidade de fala, mas compreende o que lhe é dito
e se comunica de outra forma que não a oral, para que se perceba que essa relação
não pode ser verdadeira.
Os teóricos Jean Piaget e Lev Vygotsky tiveram posicionamentos diferentes,
os quais, simultaneamente (ambos nasceram no mesmo ano, 1896) e em diferentes
lugares (Suíça e Rússia, respectivamente) estudaram o mesmo tema (o
desenvolvimento cognitivo), porém sem nunca terem se encontrado. Segundo o
primeiro, “[...] o desenvolvimento cognitivo avança por si, em geral seguido pelo
desenvolvimento linguístico, ou encontrando reflexo na linguagem da criança. O
intelecto da criança se desenvolve por meio da interação com as coisas e pessoas
do seu meio ambiente [...]” (SLOBIN, 1980, p. 203). Já para Vygotsky, “[...] a fala
pode servir ao pensamento, e o pensamento pode ser revelado na fala [...]”
(SLOBIN, 1980, p. 202).
Slobin (1980) ressalta que a crença de Watson relaciona a fala ao
pensamento, ao passo que Vygotsky e Piaget relacionam linguagem e pensamento,
ou seja, “[...] as relações entre linguística interna e estruturas cognitivas [...]”
(SLOBIN, 1980, p. 204). Para ir além, pode-se “[...] indagar se é possível o
pensamento sem a FALA INTERIOR — isto é, sem alguma atividade da linguística
interna [...]. Há muitos processos mentais que parecem pré-linguísticos ou não
linguísticos [...]” (SLOBIN, 1980, p. 205) — um exemplo seria tentar encontrar uma
palavra mais adequada para expressar o que se deseja. Pode-se observar que “[...]
uma frase não é um mapeamento direto a um pensamento [...]” (SLOBIN, 1980 p.
206); se assim fosse, não haveria necessidade de buscar uma “palavra ideal” em
determinado momento, por exemplo.
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Vygotsky (1939, documento on-line) afirmou não haver correspondência
entre as unidades do pensamento e aquelas da fala: “[...] o pensamento tem a sua
própria estrutura e a transição entre ele e a linguagem não é coisa fácil [...]”. Slobin
afirma que, ainda que sem a língua a existência humana — cultura, comportamento,
pensamento — certamente não seria como é, e que, portanto, “[...] ninguém negue
o papel central da língua na vida humana, definir a natureza desse papel tem sido
um problema difícil e persistente [...]” (SLOBIN,1980, p. 202). Assim, é muito difícil
determinar qual o espaço e os atributos da linguagem verbal em relação ao
pensamento em toda a sua complexidade, com “[...] imagens e emoções, intenções
e abstrações, lembranças de sons e perfumes e sentimentos, e muita coisa mais
[...]” (SLOBIN, 1980, p. 202).
Fonte: https://escribo.com/
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relação. “Se consideramos a língua como uma entre as muitas formas de
representação mental [...]”, devemos nos perguntar quais são as relações entre
essas formas, o que consiste em “[...] uma questão estrutural [...]” (SLOBIN, 1980,
p. 207). Por outro lado, “Se consideramos a língua como um dos instrumentos do
pensamento [...]”, precisamos entender como esse “[...] ‘instrumento’ infl uencia os
processos cognitivos [...]”, o que é “[...] uma questão de uso [...]” (SLOBIN, 1980, p.
207).
No que concerne à linguagem como representação mental, “[...] para que os
processos do pensamento se realizem — raciocínio, planejamento, solução de
problema, etc. —, é necessário que o conhecimento seja codificado e armazenado
de alguma forma [...]” (SLOBIN, 1980, p. 208). Algumas formas de representação
são: enações, imagens, proposições, traços e protótipos.
A ideia de representação enativa liga-se à capacidade sensório-motora. Na
infância, em particular, aprende-se muito por meio da manipulação. Para
exemplificar, basta lembrar do ato de dar laço no tênis, de dançar, de usar
instrumentos. Os adultos mantêm representações enativas, como, por exemplo,
fazer gestos com os braços.
O escritor Millôr Fernandes jocosamente afirmou, desafiando uma famosa
frase, que “Se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isso com uma
imagem”. No entanto, certos conhecimentos apenas podem ser expressos por
palavras. Não poderíamos representar uma teoria, por exemplo, por meio de
imagens. Contudo, as imagens mentais (interiores) têm grande relevância. Cores,
faces, representações artísticas, todas são representadas por imagens no
pensamento. Um questionamento importante é se haveria algum tipo de estrutura
comum a palavras e imagens.
As proposições igualmente fazem parte da representação mental,
correspondendo a uma “[...] rede de conceitos inter-relacionados, que é mais
abstrata e mais geral que qualquer expressão linguística particular em palavras e
frases ou a imagem de qualquer acontecimento particular [...]” (SLOBIN, 1980, p.
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210). Mais especificamente, esses elementos seriam representações subjacentes,
como descrições de situações — por exemplo, “mamãe me deu um brinquedo”.
Os traços ou protótipos dizem respeito a atributos que agrupam
determinados elementos. Por exemplo, brinquedos, louças e ferramentas têm em
comum o fato de serem inanimados; cachorrinhos, bebês e pintinhos, de serem
filhotes. Os traços, no entanto, não dão conta de tudo.
Para Eleanor Rosch, que ampliou a ideia de Wittgestein de que o
armazenamento de conceitos é feito por meio de semelhanças parciais e traços que
se cruzam, esse conjunto de informações é ampliado pela noção de transvariação
(SLOBIN, 1980). Segundo essa acepção, nenhum elemento de um conjunto
(família) apresenta todos os traços semelhantes, mas há um prototípico que reunirá
a maior parte deles. Assim, sabiás e corujas são bons exemplos de aves, mas
pinguins e avestruzes, ainda que se enquadrem, parecem menos aves que os
primeiros, por não voarem ou serem muito grandes. Dessa forma, “[...] muitas
categorias se organizam de maneira vaga, em torno do melhor exemplo e protótipo,
esmaecendo nos limites [...]” (SLOBIN, 1980, p. 213).
Independentemente do tipo de representação do pensamento, há ainda dois
aspectos importantes. O primeiro diz respeito ao fato de que, por mais que isso seja
um problema, uma vez que a psicolinguística aborda as relações entre pensamento
e linguagem, há uma conceituação clara de pensamento que subjaz à teoria.
O segundo ponto é que a forma de interação entre os diferentes sistemas de
representação mental (sejam eles linguísticos ou não) não estão claras. Haveria
uma espécie de “mentalês”, uma linguagem da mente por meio da qual se teria a
capacidade de “[...] traduzir imagens sensoriais, pensamentos abstratos e
expressões linguísticas?” (SLOBIN, 1980, p. 214).
Quando se trata a língua como um dos instrumentos do pensamento, é
preciso levar em consideração o uso da língua como instrumento do pensamento,
internamente, e como instrumento de comunicação, interpessoalmente. Ambos os
aspectos relacionam-se de forma direta com os papéis que a linguagem exerce
tanto na aprendizagem quanto na memória. Segundo Slobin, “a capacidade de
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codificar experiências verbalmente influencia, muitas vezes, o modo pelo qual essas
experiências são lembradas. De fato, muitas lembranças são distorcidas justamente
porque estão armazenadas de forma verbal [...]” (SLOBIN, 1980, p. 216). No
entanto, como nem tudo pode ser representado verbalmente de forma tão precisa,
a memória pode falhar. Memórias que associam elementos verbais e visuais tendem
a ser mais facilmente acessíveis — a associação de uma forma a um nome de
objeto, por exemplo.
Slobin (1980, p. 217) destaca algumas mudanças que nossas memórias de
histórias e de acontecimentos sofrem. O nivelamento implica que muitos
acontecimentos desaparecem para uma maior concisão, deixando a história “[...]
mais curta e esquemática [...]”. Já o aguçamento faz alguns detalhes ganharem
maior destaque, sendo “[...] várias vezes repetidos e recontados [...]”. Por fim, há a
“[...] assimilação e alguns esquemas, ou estereótipos ou expectativas [...]”. Como
afirma Slobin (1980, p. 217), “[...] até certo ponto, nós lembramos os acontecimentos
como queremos lembrá-los; as recordações se mudam, muitas vezes, para atender
aos nossos preconceitos ou desejos — para se tornarem a nós mais plausíveis ou
aceitáveis [...]”.
Vale questionar, aqui, qual seria, afinal, o objetivo desse tipo de
esquematização que ocorre na memória. A resposta é bastante simples: trata-se de
uma necessidade, posto que não conseguiríamos lembrar de todas as coisas que
nos acontecem. Imagine que você precisasse recordar algo que aconteceu no dia
anterior: se não se lembrasse de tudo, teria de reviver o dia todo, no mesmo período,
para recordar algum evento.
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quantidade de células é “[...] superior ao número que tem o cérebro de qualquer
outro animal do mesmo peso [...]” (SLOBIN, 1980, p. 165).
Poderíamos supor que o tamanho do cérebro seja determinante para a
aquisição da linguagem, mas isso não é, necessariamente, verdade. Brunoni et al.
(2016), por exemplo, fazem um acompanhamento de crianças com microcefalia e
relatam o atraso, mas não a ausência do desenvolvimento linguístico em tais
crianças. Portanto, como afirma Slobin (1980), a nossa capacidade para a
linguagem deve estar relacionada à organização do cérebro, e não à sua massa.
Segundo Pinker (2002, p. 47), se a linguagem é um instinto, como ele
defende, deve haver uma “localização identificável no cérebro [...] que ajude a
mantê-la no lugar. No caso de danos desses [...] neurônios, deveria haver prejuízo
da linguagem sem que outras partes da inteligência fossem afetadas”. Embora
ainda não tenha sido encontrado um órgão da linguagem, diz o autor, a pesquisa
continua, e se há um endereço no cérebro para a linguagem, este é o hemisfério
esquerdo.
De modo geral, o sistema nervoso dos animais é simétrico (SLOBIN, 1980).
Nos seres humanos, entretanto, os hemisférios cerebrais diferem estruturalmente,
e essa diferença reflete no funcionamento. Scliar-Cabral (2018) relata que os
primeiros estudos com relação à distinção entre produção e compreensão da
linguagem verbal foram feitos por neurologistas.
Paul Broca, em 1861, realizou um exame post mortem do cérebro de um
paciente que, ainda que entendesse o que lhe diziam, havia perdido a capacidade
de produzir palavras, exceto o monossílabo tan. A partir desse exame, Broca
constatou uma lesão na parte frontal do hemisfério esquerdo, “[...] antes do córtex
motor e acima da fissura transversal, conhecida como fissura de Sylvius, que separa
a região temporal da parietal e de parte da região frontal [...]” (SCLIAR-CABRAL,
2018, p. 429). Lesões nessa região, chamada então de área de Broca, provocam a
afasia de Broca ou de produção (Figura 1).
Pouco depois, em 1874, Wernicke “[...] formulou a hipótese de uma conexão
entre a parte posterior do giro temporal do hemisfério esquerdo, que processa as
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imagens sensoriais acústicas das palavras com a que processa as imagens motoras
de palavras e sílabas [...]”, o que explicaria o fato de haver pacientes cujas lesões
na posteriormente chamada área 22 de Brodmann “[...] tivessem a compreensão
verbal comprometida, embora eles produzissem um discurso fluente, mas sem
sentido, conhecido como discurso da jargonofasia. A denominação corrente para
esse tipo de afasia passou a ser afasia de recepção ou receptiva [...]” (SCLIAR-
CABRAL, 2018, p. 429). A seguir apresentamos a Figura 1, com as partições do
sistema nervoso cebtral.
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Lembre-se de que os hemisférios cerebrais recebem informação do lado
oposto do corpo, e conexões transmitem essas informações entre os lados
(SLOBIN, 1980). “Se a língua está ‘localizada’ no hemisfério esquerdo, o ouvido
direito deve estar mais em condições de realização da linguagem que o ouvido
esquerdo [...]” (SLOBIN, 1980, p. 170). De fato, Doreen Kimura descobriu, por meio
de um teste denominado “tarefa de audição dicotômica”, que os ouvintes “[...]
relatam com mais exatidão a matéria verbal apresentada no ouvido direito do que a
matéria simultaneamente apresentada ao ouvido esquerdo [...]” (SLOBIN, 1980, p.
170).
Trata-se não de uma diferença fisiológica de recepção sonora entre os
ouvidos, mas de interpretação diferenciada pelo cérebro. “O hemisfério esquerdo se
ajusta, perfeitamente, a receber os sons para fins de realização estritamente
linguística ou acústica. O hemisfério direito é superior ao esquerdo na tarefa de
detectar sons ambientais não linguísticos e melodias [...]” (SLOBIN, 1980, p. 170).
Pinker (2002, p. 391) apresenta a hipótese de que a linguagem, nos seres
humanos, pode ter se concentrado no hemisfério esquerdo por ser “[...] coordenada
no tempo, embora não no espaço ambiental [...]”, ou seja, “[...] palavras são reunidas
em ordem, mas não apontadas em várias direções [...]”. Muitos psicólogos
cognitivistas, diz Pinker (2002, p. 391), creem que “[...] uma grande quantidade de
processos mentais que exigem coordenação sequencial e ordenação de partes,
como reconhecer e imaginar objetos de muitas partes e empreender passo a passo
raciocínios lógicos, resida no hemisfério esquerdo [...]”.
Há, contudo, capacidade linguística no hemisfério direito. Para Slobin (1980),
isso possivelmente é uma garantia do cérebro para o caso de haver alguma lesão
no lado esquerdo. Essa capacidade linguística, entretanto, é limitada. Se há dano
cerebral no lado esquerdo ainda na infância, o lado direito assume sua função, e a
aquisição de palavras ocorre normalmente, porém a capacidade sintática (de
combinações), mesmo que adequada, não se iguala à alcançada pelo hemisfério
esquerdo.
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Pinker (2002) aponta o fato de que o hemisfério esquerdo controla a
linguagem de 97% dos destros, mas, quanto aos canhotos, 19% têm sua linguagem
controlada pelo hemisfério direito, 68% pelo esquerdo, e os demais por ambos os
lados, casos em que os indivíduos, devido à linguagem estar distribuída de forma
mais uniforme, apresentam maior possibilidade, no caso de terem lesão cerebral,
de não sofrerem afasia. Além disso, “[...] alguns dados demonstram que, embora os
canhotos se destaquem em matemática e atividades espaciais e artísticas, eles são
mais suscetíveis a distúrbios de linguagem, dislexia e gagueira [...]” (PINKER, 2002,
p. 391).
Duas questões ainda devem ser abordadas: por que um ser humano leva
três anos para dominar completamente a gramática (como conjunto de regras) de
sua língua? (Ainda que isso seja surpreendente, considerando-se o grau de
especialização e complexidade da linguagem humana. Pense no tempo que levam
os outros animais para se exprimirem conforme sua espécie.) E por que há um limite
para a aquisição da linguagem?
O desenvolvimento da linguagem nos bebês não parte do zero. Lembre-se
de que, para Pinker (2002), a língua é um instinto, então nascemos “programados”
para usá-la, o que já foi comprovado por testes. O autor narra o experimento que
Peter Eimas e Peter Jusczyk realizaram com bebês de um mês:
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gramática de sua língua (i.e., a gramática interna, o conjunto de regras fonéticas,
lexicais e morfossintáticas da língua) e desenvolverem pragmaticamente a fala.
As crianças nascem com a habilidade de ouvir todos os fonemas possíveis
em todas as línguas, mas, à medida que vão crescendo, aprendem a melodia e
selecionam os fonemas necessários para a língua que os cerca. Assim, segundo
Pinker, “[...] por volta dos dez meses, já não são mais foneticistas universais [...]”,
fazendo “[...] essa transição antes de emitir ou compreender palavras, portanto, sua
aprendizagem não pode depender de conseguir correlacionar som e sentido [...]”.
As crianças “[...] devem estar sintonizando de alguma maneira seu módulo de
análise da fala para emitir os fonemas usados em sua língua. Esse módulo
provavelmente serve de unidade avançada do sistema que aprende palavras e
gramática [...]” (PINKER, 2002, p. 335–336).
Pinker (2002) faz uma síntese do desenvolvimento da linguagem nas
crianças. Ele explica que, entre os 5 e os 7 meses, os bebês começam a brincar
com sons, e entre os 7 e os 8 meses, a balbuciar sílabas verdadeiras, cujos sons
“[...] consistem em padrões de fonemas e sílabas comuns a todas as línguas [...]”
(PINKER, 2002, p. 338). Essa fase é importante porque “[...] ao escutar seu próprio
balbucio, os bebês [...] aprendem quando devem mover que músculo em que
sentido para obter que mudança no som [...]” (PINKER, 2002, p. 338).
Um pouco antes de 1 ano, as crianças começam a compreender palavras, e,
em seguida, com cerca de 1 ano, a emiti-las. “Por volta dos dezoito meses, a
linguagem deslancha. O incremento de vocabulário ganha a velocidade de no
mínimo uma-palavra-nova-a-cada-duas-horas que a criança irá manter até o fim da
adolescência [...]” (PINKER, 2002, p. 341).
E do final do segundo ano até os três anos e meio, aproximadamente, que
“[...] a linguagem das crianças transforma-se numa conversa gramatical fluente,
desabrochando de maneira tão rápida que desconcerta os pesquisadores, e até
agora ninguém conseguiu descobrir a sequência exata desse processo [...]”
(PINKER, 2002, p. 341–342).
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Retomando nosso questionamento, pode-se dizer que é provável que os
seres humanos levem cerca de 3 anos até o domínio completo de sua língua
materna, uma vez que a linguagem se desenvolve à medida que a criança cresce
e, consequentemente, seu cérebro também se desenvolve. Os seres humanos,
diferentemente dos outros animas, não nascem prontos. Se o tempo da gestação
humana fosse proporcional ao dos demais primatas, duraria 18 meses, idade em
que, de fato, as crianças começam a juntar palavras. Assim, “A linguagem parece
desenvolver-se na velocidade que o cérebro em crescimento tolera [...]” (PINKER,
2002, p. 368).
Chegamos ao nosso questionamento sobre a idade-limite para a aquisição
da linguagem. Sabe-se que é mais difícil para um adulto aprender uma nova língua,
visto que os aspectos fonológicos acabam não sendo totalmente apreendidos, e a
organização morfossintática pode ser mais bem recebida, mas a fluência
dificilmente será a de um nativo.
Casos de crianças que, por algum motivo, foram mantidas em isolamento até
a adolescência e lesões cerebrais a partir desse período também costumam deixar
sequelas irreversíveis. Segundo Slobin (1980, p. 174), “Pode haver uma ‘idade
crítica’ para o hemisfério esquerdo na sua missão de desenvolver as funções da
linguagem, como também para o hemisfério direito quando precisa assumir tais
funções [...]”.
Corroborando essa ideia, Pinker (2002, p. 374) afirma que “[...] a aquisição
de uma linguagem normal é certa para crianças até seis anos, fica comprometida
depois dessa idade até pouco depois da puberdade e é rara depois disso [...]”.
Considerando-se que, segundo essa teoria, a capacidade de aquisição de
linguagem é instintiva, ela não deveria acompanhar o indivíduo ao longo da vida?
Com efeito, o hemisfério direito do cérebro não sofre essa espécie de “atrofia” que
ocorre no hemisfério esquerdo, aponta.
O autor responde à questão ao relacionar tal “atrofia” justamente às
necessidades instintivas do ser humano. O hemisfério que se relaciona com a
linguagem está “[...] predisposto a adquirir a língua num estágio apropriado de
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maturação. [...] o aprender a falar está condicionado pela complexa tabela do
crescimento físico [...]” (SLOBIN, 1980, p. 175). Ou seja, não faria sentido manter o
cérebro ocupado com a obtenção da linguagem após o período em que isso ocorre
plenamente, sendo mais útil direcionar os esforços neuronais a outras atividades.
Ratificando esse ponto de vista, Pinker (2002, p. 375) afirma que “[...]
aprender uma língua – em oposição a usar uma língua – é extremamente útil uma
única vez. Uma vez aprendidos os detalhes da língua local falada pelos adultos,
qualquer outra capacidade de aprender (afora o vocabulário) é supérflua [...]”. Isso
tem relação com a nossa constituição biológica, decorrente da evolução.
Metabolicamente, “[...] o cérebro consome um quinto do oxigênio do corpo e porções
igualmente grandes de suas calorias e fosfolipídios [...]” (PINKER, 2002, p. 376).
Assim, é natural que, pela seleção natural, os recursos do corpo sejam
diferenciados ao longo de nossa existência física, e corpos que envelhecem
precisam destinar energia para sua sobrevivência — a linguagem, afinal, já está
apreendida e em pleno uso.
Fonte: http://www.clifaceotorrino.com.br/
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Na proposta interacionista piagetiana, a linguagem se manifesta apenas
quando a criança tem cerca de 2 anos de idade. Afinal, é nessa fase que o indivíduo
desenvolve a função simbólica e consegue representar mentalmente seus
esquemas de ação. Assim, a criança consegue imitar, jogar e desenhar, até,
finalmente, desenvolver a linguagem. Nesse período, ela revela uma inteligência
prática cuja base está na ação e nos movimentos. Assim, os reflexos, já organizados
hereditariamente, ou seja, pelo ambiente, são consolidados. De acordo com Zorzi
(1987, p. 117),
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Isso significa que, quando a criança interage com o mundo, consegue
apreender a realidade e desenvolver esquemas mentais que constituirão a sua
inteligência. O desenvolvimento cognitivo ocorre por períodos que servem de níveis
de construção de inteligência. Os quatro estágios são: sensório-motor, pré-
operatório, operatório concreto e operatório formal.
O estágio sensório-motor ocorre até os 2 anos de idade, quando o
conhecimento está ligado às ações e às percepções. A capacidade de
representação inicia o segundo estágio, o pré-operatório. Nele, a criança elabora
relações de causalidade, e o pensamento é estático: não há integração de
pensamentos. É nessa fase também que aparece a linguagem, pois os esquemas
evoluem das ações para os esquemas mentais.
No terceiro estágio, operatório concreto, ocorre o início das operações
mentais, com atendimento a mais de um aspecto. Na fase do pensamento
operatório formal, surgem o planejamento e a imaginação (BIZELLO, 2019).
De qualquer forma, os dois primeiros estágios é que têm relação mais estreita
com a aquisição da linguagem. Para Piaget, o desenvolvimento linguístico depende
do desenvolvimento da inteligência, pois o desenvolvimento cognitivo é que
possibilitará o nascimento do simbolismo. O brincar simbólico está diretamente
ligado ao desenvolvimento sensório-motor. Nesse sentido, pode-se afirmar que há
uma pré-linguagem (BIZELLO, 2019).
Zorzi (1987) afirma que esse brincar simbólico se desenvolve quando há
outros personagens, ou seja, quando há uma descentralização do simbolismo em
relação à ação própria. Entretanto, o último nível de desenvolvimento ocorre quando
há uma representação independente, ou seja, quando a criança passa a usar
substitutos simbólicos correspondentes a palavras, objetos, etc.
O desligamento do contexto evidencia a consolidação da formação do
símbolo, pois é sinal de que a criança não se prende ao que vê. “Pode-se dizer que
a linguagem e o brinquedo desenvolvem-se ao mesmo tempo e influenciam-se
reciprocamente [...]” (DIAS, 2010, p. 114). O estabelecimento da representação
depende do uso pela criança de símbolos ou da linguagem para evocar situações.
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Como você pode notar, a teoria piagetiana reflete investigações sobre a
aquisição da linguagem. Os estudos iniciais de Piaget já relacionavam os diálogos
ao desenvolvimento cognitivo das crianças. Aliás, os conceitos ligados à linguagem
socializada também revelam essa estreita relação.
Essas relações podem ser estabelecidas justamente pela importância da
linguagem para o desenvolvimento da aprendizagem. Por exemplo, para que a
leitura e a escrita se estabeleçam, a língua oral é necessária. Isso significa que o
contexto social interfere no desenvolvimento da linguagem. Aliás, todas as
atividades desenvolvidas pelo indivíduo em seu contexto cultural interferem nas
suas habilidades cognitivas e na sua forma de estruturar o pensamento.
O papel da linguagem, nessa situação, é o de determinar como a criança vai
aprender a pensar, já que os adultos transmitem à criança as formas de pensamento
por meio de palavras, da linguagem oral. Veja o que afirmam Mousinho et al. (2008):
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linguagem ou nasce com ela, e sim como a interação entre os fatores biológicos e
os sociais interfere na qualidade da aquisição e do desenvolvimento da linguagem.
Mousinho et al. (2008) destacam dois aspectos que revelam a ligação estreita
entre cognição e comunicação:
Fonte: https://www.revistaplaneta.com.br/
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6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FILOSOFIA NA REDE. A rede das palavras (Rubem Alves). 2014. Disponível em:
http://vidainteligentenaescolaenarede.blogspot.com/2014/03/a-rede-das-palavras-
rubem-alves.htm . Acesso em: 16 maio 2018.
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HOLOWKA, S.; PETITTO, L. A. Left hemisphere cerebral specialization for babies
while babbling. Science, v. 297, n. 5586, p. 1515, Aug. 2002.
MOUSINHO R.; SCHMID E.; PEREIRA J.; LYRA L.; MENDES L.; NÓBREGA V.
Aquisição e desenvolvimento da linguagem: dificuldades que podem surgir neste
percurso. Rev. Psicopedagogia 2008;25(78):297-306. Disponível em:
http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/310/aquisicao-e-desenvolvimen
to-da-linguagem--dificuldades-que-podem-surgir-neste-percurso#:~:text=A%20pri
meira%20e%20a%20mais,no%20mundo%20que%20os%20cerca. Acesso em: 15
nov. 2019.
REALE, G.; ANTISERI, D. Do romantismo até nossos dias. In: REALE, G.;
ANTISERI, D. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 1991. v. 3. (Filosofia).
46
SANTROCK, J. W. Life-span development. New York: McGraw-Hill, 2004.
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