Você está na página 1de 47

1

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 3

2 LINGUAGEM, CONHECIMENTO E PENSAMENTO .......................... 4

2.1 Relação entre linguagem, conhecimento e pensamento .............. 4

2.2 O homem e a linguagem ............................................................... 8

2.3 Linguagem e língua: diferenças e semelhanças ......................... 11

3 O PAPEL DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO E NA


APRENDIZAGEM.................................................................................................. 16

3.1 Desenvolvimento da linguagem .................................................. 16

3.2 Regras que compõem o sistema linguístico ................................ 18

3.3 Teorias clássicas de aquisição da linguagem: o debate genética e


ambiente 21

3.4 Principais influências sobre o desenvolvimento da linguagem.... 22

4 PRODUÇÃO DA LINGUAGEM: PROCESSAMENTOS MENTAIS


ENVOLVIDOS NA FALA ....................................................................................... 26

4.1 Linguagem, fala e pensamento ................................................... 27

4.2 Representação mental e instrumentos do pensamento .............. 29

4.3 As funções dos hemisférios cerebrais para a fala e a linguagem 32

5 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM E DESENVOLVIMENTO


COGNITIVO .......................................................................................................... 39

6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................... 45

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão
a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

3
2 LINGUAGEM, CONHECIMENTO E PENSAMENTO

É possível haver pensamento sem linguagem? A linguagem influencia o


conhecimento? Neste capítulo, você vai estudar a relação entre as definições de
linguagem, conhecimento e pensamento, relacionando tais conceitos entre si.

Fonte: https://filosofandoehistoriando.blogspot.com

2.1 Relação entre linguagem, conhecimento e pensamento

“O conhecimento é o pensamento que resulta da relação que se estabelece


entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido” (ARANHA, 1993, p. 21).
Num primeiro momento, essa epígrafe se apresenta de forma complexa e, talvez,
pode até mesmo parecer de difícil compreensão. Mas, se você analisar a descrição
novamente (ou por várias vezes) e relacioná-la com o tema deste capítulo, as ideias
vão clareando e fazendo sentido. Linguagem, conhecimento e pensamento são

4
conceitos interligados. Naturalmente, você pode analisá-los separadamente, pois
seus significados são distintos, mas é como se, na prática, eles se apresentassem
de forma integrada. Na epígrafe que você acabou de ler, está em jogo a noção de
que o conhecimento é gerado a partir do momento em que as pessoas se deparam
com algo novo, até então desconhecido. Essa “apresentação” ao novo alimenta o
pensamento, gerando um novo conhecimento acerca do objeto que até então era
desconhecido e passa a ser familiar. Mas e a linguagem? A linguagem é a forma
utilizada para expressar esse pensamento resultante do conhecimento gerado a
partir do que foi apresentado.
Como você pode notar, portanto, há uma ligação entre a linguagem, o
conhecimento e o pensamento. É como se fosse possível expressar algo (por meio
da linguagem) internalizado no pensamento. Contudo, para tal coisa fazer parte do
pensamento, precisa antes passar pelo conhecimento (do objeto, da pessoa, do
conceito).
Para os estudiosos, a linguagem acompanha o ser humano desde o seu
nascimento, pois se trata de uma função inata, que permite ao indivíduo simbolizar
o seu pensamento e decodificar o pensamento do outro. O pensamento antecede a
linguagem, como você pode notar nos bebês: mesmo antes de falarem e se
expressarem por meio dos diferentes tipos de linguagem (verbal e corporal, por
exemplo), eles já possuem imagens mentais (DOS SANTOS, 2018). Ou seja, já
foram apresentados a diferentes tipos de objetos e pessoas, conhecendo-os e
dando significado a eles. Em síntese, os bebês geram em seu pensamento um
arquivo de imagens que futuramente irão se transformar em linguagem.
Segundo Aranha (1993, p. 42), “O verdadeiro conhecimento se faz,
portanto, pela ligação contínua entre a intuição e a razão, entre o vivido e o
teorizado, entre o concreto e o abstrato”. Para você, enquanto professor, a ligação
entre teoria e prática se faz necessária e de suma importância. E ela também é
fundamental para todas as pessoas. A vivência entre realidade e imaginação e
teoria e prática é importante para gerar cada vez mais conhecimento e, por

5
consequência, novos pensamentos, ampliando e aperfeiçoando a linguagem.
Dessa forma, Chauí (2000, p. 143) afirma que:

O problema do conhecimento torna-se, portanto, crucial e a Filosofia


precisa começar pelo exame da capacidade humana de conhecer, pelo
entendimento ou sujeito do conhecimento. A teoria do conhecimento volta-
se para a relação entre o pensamento e as coisas, a consciência (interior)
e a realidade (exterior), o entendimento e a realidade; em suma, o sujeito
e o objeto do conhecimento.

Além disso, o conhecimento, assim como o pensamento e a linguagem, se


divide em diferentes tipos. No Quadro 1, a seguir, você pode ver alguns dos tipos
de conhecimento e seu significado.

Mesmo que aqui seja priorizado o olhar por meio do conhecimento filosófico,
você já deve ter notado que constantemente se depara com os diferentes tipos de
conhecimento. Por consequência, produz o seu próprio saber com base naquilo a

6
que foi apresentado e a partir do pensamento gerado em seu interior. Aranha (1993,
p. 40) acrescenta que:

Pelo esforço resultante do questionamento, a razão elabora o trabalho de


conceituação, que tende a se tornar cada vez mais complexo, geral e
abstrato. A ação do homem, inicialmente “colada” ao mundo, é lentamente
elucidada pela razão, que permite “viver em pensamento” a situação que
ele pretende compreender e transformar. Com isso não estamos dizendo
que o pensar humano possa ficar separado do agir [...], mas que o próprio
pensamento torna-se objeto do pensamento: instala-se a fase de
autorreflexão e crítica do conhecimento anteriormente recebido.

Dessa forma, ao conhecer algo — por exemplo, ao se deparar com um


conhecimento empírico —, em seu pensamento esse objeto deixa de ser novo.
Contudo, ao confrontar esse objeto já internalizado em seu pensamento com um
novo olhar (como o do conhecimento científico), ocorre uma transformação em seu
interior e você passa a ter um novo conhecimento.
Segundo Chauí (2000, p. 138):

[...] conhecer é alcançar o idêntico, imutável. Nossos sentidos nos


oferecem a imagem de um mundo em incessante mudança, num fluxo
perpétuo, onde nada permanece idêntico a si mesmo: o dia vira noite, o
inverno vira primavera, o doce se torna amargo, o pequeno vira grande, o
grande diminui, o doce amarga, o quente esfria, o frio se aquece, o líquido
vira vapor ou vira sólido.

Com isso, você pode perceber o quanto linguagem, pensamento e


conhecimento são distintos, mas ao mesmo tempo estão conectados. Além disso,
você pode notar o quanto a teoria e a prática são necessárias para ampliar seu
campo de visão, assim como o quanto a filosofia é importante para sua prática
enquanto professor.

7
2.2 O homem e a linguagem

Ao refletir sobre a linguagem, num primeiro momento, você pode pensar


que o assunto se relaciona com a língua portuguesa, ou talvez você fique surpreso
ao encontrar essa abordagem na área da filosofia. No entanto, a linguagem e a
filosofia estão intimamente ligadas, uma vez que “[...] a propriedade de falar
distingue nitidamente o homem dos animais e de qualquer outro ser deste mundo e
faz dele um ser totalmente singular. Assim, o falar compreende a expressão do
homem sobre tudo o que o envolve” (MONDIN, 1980, p. 132). Nesse contexto, a
linguagem é um sistema simbólico que diferencia o homem dos animais e diferencia
os homens entre si. Assim, o homem revela-se e revela a realidade do mundo por
meio da linguagem.
Rubem Alves acrescentaria que: “[...] a linguagem é um conjunto de sinais
fonéticos e/ou gráficos convencionais, criados pela sociedade a fim de representar
para o homem as coisas e suas relações, e assim tornar possível a comunicação,
necessária à conjugação da ação” (FILOSOFIA NA REDE, 2014). Tais sinais
mencionados por Rubem Alves também são conhecidos como símbolos e signos,
que para a filósofa Maria Aranha são criados arbitrariamente, servindo como uma
forma de inserção social para o homem. A autora destaca ainda que, como no
exemplo da palavra “casa”:

[...] não há nada no som nem na forma escrita que nos remeta ao objeto
por ela representado (cada casa que, concretamente, existe em nossas
ruas). Designar esse objeto pela palavra casa, então, é um ato arbitrário.
A partir do momento em que não há relação alguma entre o signo casa e
o objeto por ele representado, necessitamos de uma convenção aceita
pela sociedade de que aquele signo representa aquele objeto. É só a partir
dessa aceitação que poderemos nos comunicar, sabendo que, em todas
as vezes que usarmos a palavra casa, nosso interlocutor entenderá o que
queremos dizer (ARANHA, 1993, p. 43).

8
Assim, você pode considerar que a linguagem é um sistema de
representações aceitas por um grupo social e que por meio dela é possível haver
comunicação entre os integrantes desse mesmo grupo. Porém, na medida em que
esse laço entre a representação (o significado casa) e o objeto representado (a casa
em si) ocorre de forma arbitrária, é possível dizer que essa é uma construção da
razão, ou seja, um sujeito cria (inventa) esse código (signo) para poder se aproximar
da realidade.
Segundo Aranha, por esse motivo é possível afirmar que a linguagem é um
produto da razão e só pode existir se há racionalidade. Como diria Heidegger, “a
linguagem é a casa do ser. É nessa morada que habita o homem” (HEIDEGGER
apud REALE; ANTISERI, 1991, p. 591), ou seja, o ser está na linguagem e vice- -
versa. Todas as ações do homem (fala, pensamento, atitudes) se dão por meio da
linguagem.
Fazendo uso de metáforas, Rubem Alves explica o processo pelo qual a
sociedade cria a linguagem.

[...] através dos seus sentidos ele tiraria “retratos” do mundo, que seriam
“revelados” na mente. A mente seria uma máquina reduplicadora do
mundo. E a linguagem, o que seria? Um sistema de sinais para representar
essa reduplicação. Imaginemos que um homem veja uma árvore. Lá fora
está a árvore e na mente dele está a imagem dela. Agora, se ele necessita
comunicar a um companheiro esta imagem, ele poderá simplesmente
apontar para a árvore, se se encontrarem próximos dela. Mas e se a árvore
estiver fora do alcance de sua vista? Nesse caso, a comunicação, isto é, a
focalização das atenções dos dois homens sobre um mesmo objeto, só se
dará se eles dispuserem de um sinal que “signifique” a árvore e lhes
evoque a sua imagem. Os sinais são criados para desempenhar esta
função. Parece, portanto, óbvio que as palavras têm por função
representar coisas (FILOSOFIA NA REDE, 2014, documento on-line).

Assim, a linguagem não é uma cópia do real, mas antes uma organização
dele. Na verdade, para o homem, o real é aquilo que ele organiza. As pessoas
utilizam a linguagem para se comunicarem umas com as outras, pois ela
corresponde às palavras faladas, escritas ou gesticuladas e às maneiras como são

9
combinadas à medida que se pensa e se comunica. Dessa forma, a linguagem
assume grande parte do pensamento, é constituída por vários elementos que
afloram à medida que o sujeito amadurece. Ela é, assim, um dos principais
instrumentos na formação do mundo cultural, pois permite transcender a
experiência (DOS SANTOS, 2018).
A linguagem permite ao homem nominar qualquer objeto, como você viu.
Dessa forma, tal objeto se torna individualizado, sendo diferente (de outros iguais a
ele e do resto que o cerca) e passando a existir na consciência dos sujeitos. O
símbolo, na linguagem, é resultado desse ato de dar nome às coisas, aos objetos,
assim como do ato de nominar algo que é abstrato e que só têm existência no
pensamento (por exemplo, ações, estados ou qualidades como medo, beleza,
liberdade). Além de diferenciar os homens dos animais, o ato de nomear algo traz
para perto e torna presente na consciência o objeto que está longe. Por exemplo,
ao ver o nome do seu filho escrito em algum lugar, esse nome não necessariamente
se refere ao seu filho, mas você, em sua consciência, vai lembrar-se dele.
Nesse sentido, a linguagem permite que o simples pronunciar de uma
palavra torne presente, na consciência, o objeto a que ela se refere. Com isso, não
é mais necessária a existência física das coisas: é criado, por meio da linguagem,
um mundo estável de ideias que permite lembrar o que já foi e projetar o que será,
instaurando a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o homem deixa de
reagir somente ao presente, ao imediato, passa a pensar o passado e o futuro e,
com isso, a construir o seu projeto de vida.
Por meio das palavras, é possível transmitir o conhecimento acumulado por
uma pessoa ou por uma sociedade, assim se pode passar adiante essa construção
da razão que se chama cultura. Essa possibilidade que a linguagem dá de “nominar
o abstrato” permite transcender a situação concreta, o fluir contínuo da vida. Assim,
o mundo criado pela linguagem se apresenta de forma mais estável, sofrendo
mudanças mais lentas do que no mundo natural (DOS SANTOS, 2018).
A linguagem a que se refere essa abordagem não está relacionada
exclusivamente à linguagem verbal, pois existem diferentes tipos de linguagem que,
10
em diferentes situações ou para diferentes indivíduos, são utilizadas com o mesmo
objetivo da linguagem formal, que é o de comunicar, de expressar aquilo que está
armazenado no pensamento. Como exemplo, você pode considerar a linguagem de
sinais, utilizada pelos surdos, e a linguagem de computador, utilizada na área de
informática para criar diferentes programas com os comandos elaborados a partir
de códigos. Além disso, há a linguagem corporal, ou seja, seu corpo emite diversos
e diferentes sinais capazes de expressar ao outro (mesmo que inconscientemente)
o que está em seu pensamento.

2.3 Linguagem e língua: diferenças e semelhanças

A linguagem está ligada ao processo de comunicação entre os seres vivos,


pois em um sentido amplo ela é praticada por todos os animais, por meio de seus
gestos e movimentos diversos. Portanto, você sabe o que difere o homem dos
animais, se estes também são providos de linguagem? Para Aristóteles, a
especificidade humana em relação aos animais, uma vez que todos são providos
11
de vozes, está relacionada com a palavra, ou seja, a língua. Essa afirmação do
pensador está publicada em sua obra “A política” (DOS SANTOS, 2018).
A linguagem é uma forma de comunicação e você pode considerá-la como
a capacidade estritamente humana de manifestar algo, como sentimentos, desejos
e opiniões, bem como de promover a troca de informações entre diferentes culturas.
Por meio da linguagem, os sujeitos emitem mensagens que possibilitam identificar
a intencionalidade presente em determinado discurso. Como você viu, a linguagem
pode ser de natureza verbal ou não verbal e ocorre entre os seres humanos.
Segundo Dias (2011, documento on-line): “É a fala que dá ao homem o
poder de tornar visível aquilo que estava ausente, tornando possível do outro vê-lo.
O homem tem capacidade de poder falar tudo o que passa pelo seu pensamento.
Isto só é permitido porque ele é o único ser vivo dotado de linguagem”.
Em contrapartida, quando você reflete sobre a língua, deve considerar que
está em jogo uma atividade coletiva realizada por meio de um código. Tal código é
formado por palavras regidas por leis combinadas e pertencentes a um grupo
específico. É o caso das línguas estrangeiras, como a língua inglesa, brasileira,
italiana, francesa e muitas outras. Por possuir um caráter social, a língua não
permite mudanças arbitrárias. Assim, é necessário obedecer a certas regras para
que a comunicação se realize de maneira plausível. O agrupamento de palavras de
forma desordenada não torna uma língua efetiva (DOS SANTOS, 2018). Na Figura
1, você pode observar a diferença entre língua e linguagem.

12
A linguagem está presente em todos os países e culturas do mundo, mas a
língua se diferencia de país para país, como mostra a figura, em que você pode ver
a diferença da saudação “Olá” em diferentes países do mundo. Segundo Aranha
(1993, p. 50):

Nas línguas há modificações de repertório e semânticas a partir das novas


descobertas e do desenvolvimento da técnica. Nas artes, as
reestruturações da linguagem respondem a mudanças de valores, de
anseios e de buscas no seio da cultura de cada sociedade.

Assim como a linguagem, a língua também mantém estreita relação com a


cultura. Se, por um lado, as várias linguagens e diferentes línguas fixam e passam
adiante os produtos do pensamento do homem sob a forma de ciência, técnicas e

13
artes, elas também sofrem a influência das modificações culturais. Retomando o
exemplo da Figura 1, você pode considerar que “Olá”, seja em que língua for, tem
uma mesma função, saudar alguém, mas a forma com que cada língua apresenta
tal expressão resulta na apreensão de um aspecto particular, de uma série de
operações, e esse aspecto focalizado difere de uma comunidade para outra, de
acordo com a cultura.
Além disso, a linguagem permite ao homem realizar ações que o diferenciam
dos animais. Por exemplo, por meio dela os seres humanos são capazes de
construir e ler uma história, perguntar algo a alguém, agradecer, entre outras ações.
Para Medina (2007, p. 20):

Certamente, esta é uma lista que deve permanecer em aberto, pois nossas
atividades e práticas linguísticas são coisas vivas e estão sempre
mudando. O uso da linguagem é tão imprevisível quanto a ação humana,
pois, de fato, uma elocução é, ela própria, um ato. A questão não é
simplesmente que a fala esteja relacionada à ação, mas, por outro lado,
que a própria fala é ação.

Nesse sentido, Medina acrescenta que a linguagem vai além do ato de falar,
uma vez que:

Pedir desculpas, apostar, prometer, casar-se e todas as outras coisas que


fazemos com palavras requerem muito mais do que meramente proferir
certas palavras. Para que as palavras que proferirmos tenham a força
apropriada e desempenhem as ações devidas, toda uma máquina social
deve estar em funcionamento (MEDINA, 2007, p. 23).

Somos seres inseridos em um contexto social e, por esse motivo, nossas


práticas são influenciadas por esse meio e esse convívio. Logo, nossas ações
também sofrem influências desse meio, bem como nossas palavras e seus hábitos.
Assim, “A criatividade da linguagem, enquanto uma atividade que estrutura,
consiste tanto na articulação quanto na constituição. Além de dar articulação ao
nosso mundo, a linguagem também tem o poder de fazer-nos o que somos”
(MEDINA, 2007, p. 54). Para o autor, as emoções são construídas por meio da
14
linguagem, seguindo padrões normativos e regras preestabelecidas. Além disso,
“As preocupações humanas são, consequentemente, reveladas linguisticamente, e
não haveria possibilidade de as reconhecer caso não fossem articuladas ou
reconhecidas em nossas atividades de expressão” (MEDINA, 2007, p. 55).
Você pode associar a “língua” ao “saber coletivo”, que é fundamental para
um povo, para uma nação, para o seu processo cultural. Fundamental? Sim, pois é
por meio da língua que os seres humanos criam sua identidade, utilizam as palavras
para se organizar, nomear coisas, objetos e pessoas. E isso é fundamental para a
sua sobrevivência, pois por meio dessa denominação os sujeitos cultivam suas
crenças, valores, etc. Assim, como a linguagem se dá de diversas formas (como a
linguagem visual, sonora, entre outros tipos), também não existe comunicação
verbal sem palavras, o que inviabilizaria a constituição de um agrupamento humano,
seja uma tribo, uma cidade ou um país. Sem as palavras (a língua), não seria
possível a criação de saberes coletivos que são planejados, registrados — ainda
que na memória da tradição oral — e comunicados pela língua de geração em
geração.
A língua é um saber coletivo e, por isso, você pode considerar que é o maior
bem de um povo ou comunidade. Além disso, a língua está em constante
transformação e crescimento. Você já parou para pensar quantas palavras faziam
parte do dia a dia dos seus avôs e atualmente já estão “fora de moda”? Nesse
sentido, a língua pode ser comparada a uma roupa, que cai em desuso e não
representa mais esse ou aquele grupo.
A identidade de um povo é fortemente representada por sua língua, por esse
motivo ela passa a ser um valioso instrumento. Além disso, a linguagem oferece ao
ser humano outro recurso extremamente importante, que é a possibilidade de
transitar ora no presente, ora no passado e, mais ainda, por vezes se lançar ao
futuro e “visitar” mundos nunca antes vistos. A língua e a linguagem, aliando-se à
memória, permitem essa viagem ao passado e essa projeção ao futuro. Com a
linguagem e a língua, o homem representa o mundo, imagina outras formas de viver

15
e elabora saberes coletivos que herda e transmite para gerações que o sucedem
(DOS SANTOS, 2018).

3 O PAPEL DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO E NA APRENDIZAGEM

Fonte: https://fono-dialogo.blogspot.com

Neste capítulo, abordaremos o modo como a linguagem se desenvolve em


diferentes períodos da infância. Em seguida, identificaremos os principais fatores
que influenciam o desenvolvimento da linguagem.

3.1 Desenvolvimento da linguagem

As pessoas se comunicam por meio da linguagem, seja oral, escrita ou por


gestos que podem se desdobrar em símbolos. Existem diversas comunidades
falantes que utilizam diferentes códigos para discursar. Nós utilizamos a Língua
Portuguesa que contém vocabulário, regras, variações e combinações
(SANTROCK, 2009).

16
Engana-se quem pensa que o desenvolvimento da linguagem se inicia
quando a criança pronuncia as primeiras palavras, comumente chamando por suas
figuras materna/paterna e pedindo algo relacionado a suas necessidades básicas.
Antes mesmo de se valer da fala como recurso expressivo, os bebês emitem sons
para se comunicar por meio de choro, balbucio, chamados de sons pré-linguísticos.
Uma única sílaba pode apresentar significados distintos, variando de acordo com
contexto.
Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 196), “Da pode significar ‘eu quero
aquilo’, ‘eu quero sair’ ou ‘onde está o papai?’. Uma palavra como essa, que
expressa um pensamento completo, é chamada de holofrase”. No decorrer de seu
desenvolvimento, também é ampliada a capacidade de identificar os sons
pronunciados no ambiente e se valer de gestos. A partir de seu primeiro ano de
vida, aproximadamente, a criança é capaz de emitir sons de suas primeiras palavras
e sentenças, comumente um ano e oito meses depois.
A partir desse período, após os 24 meses, a criança gradativamente vai
conseguindo expressar-se combinando três, quatro e cinco palavras, transitando de
frases simples para complexas, entre dois ou três anos até os anos do ensino
fundamental (BLOOM, 1985).
Outros marcos importantes entre os 24 e 36 meses de vida são observáveis
na aprendizagem de novas palavras a cada dia e na fala que realiza combinações
de três ou mais palavras, passíveis de erros gramaticais pelo nível de
desenvolvimento e aquisição da gramática interna. Por volta dos 36 meses,
demonstram ser capazes de falar até mil palavras, ainda que inteligíveis e
cometendo alguns erros no que tange à sintaxe (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Veja, no Quadro 2, a seguir, as principais etapas desse desenvolvimento nos
primeiros dois anos de vida da criança (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 196-197).

17
3.2 Regras que compõem o sistema linguístico

Por meio dessas regras em nosso sistema linguístico, encontramos o modo


como a linguagem se organiza, assim como a descrição de seu funcionamento
(GLEASON, 2005; SANTROCK, 2004).

18
Analisando esse desenvolvimento a partir das cinco regras que compõem
nosso sistema, observamos as seguintes evoluções, adaptadas de acordo com
Papalia e Feldman (2013):

 Em termos de fonologia, elas percebem ritmos, gostam de poemas,


inventam nomes bobos para as coisas, substituindo um som por outro
(como bubblegum, bubblebum, bubbleyum), e gesticulam com cada
sílaba em uma frase.
 Conforme as crianças deixam esse estágio de falar duas palavras, fica
evidente que elas sabem regras morfológicas. Então, começam a
utilizar as formas de plural e possessivo dos substantivos,
preposições, artigos e a colocar finais apropriados nos verbos.
 Quanto à sintaxe, após passar do estágio das duas palavras, a criança
mostra um domínio crescente de regras complexas sobre como as
palavras devem ser ordenadas. Para perguntas feitas com “que” e
“onde”, como “Onde o papai está indo?” ou “O que aquele garoto está
fazendo?”, a criança deve conhecer duas diferenças importantes entre
frases interrogativas e afirmativas.
 De acordo com a análise de elementos semânticos, o vocabulário
verbal de uma criança de seis anos de idade varia de 8 mil a 14 mil
palavras. Considerando que a aprendizagem das palavras começou
quando ela tinha 12 meses, isso traduz uma proporção de 5 a 8 novos
significados de palavras por dia, entre um e seis anos de idade.
 Mudanças substanciais em pragmática também ocorrem durante a
primeira infância. Uma criança de seis anos é muito mais falante do
que uma de dois anos. Quais são algumas das mudanças na
pragmática que acontecem nos anos pré-escolares? Por volta dos três
anos de idade, as crianças melhoram sua habilidade em conversar
sobre coisas que não estão fisicamente presentes. Isto é, elas

19
melhoram seu domínio sobre a característica da linguagem conhecida
como deslocamento. As crianças se tornam cada vez mais distantes
do “aqui e agora” e são capazes de conversar sobre coisas que não
estão fisicamente presentes, assim como coisas que aconteceram no
passado ou podem acontecer no futuro. Pré-escolares podem dizer o
que querem almoçar amanhã, algo que não seria possível no estágio
das duas palavras na infância. Crianças pré-escolares também se
tornam cada vez mais capazes de conversar de modos diferentes com
pessoas diferentes.

A partir das etapas intermediárias e finais da infância, as bases construídas


das fases anteriores fornecem meios para que a criança seja capaz de adquirir e
consolidar novas habilidades no momento da aprendizagem da leitura e da escrita.
Conhecimentos acerca do alfabeto e os sons relacionados a esses sinais gráficos,
a ampliação vocabular e os modos estruturais de construções de sentenças tendem
a se consolidar, e a compreensão de regras mais complexas vai sendo
internalizada.
Durante o ensino fundamental, as crianças já podem, segundo Papalia e
Feldman (2013, p. 60), “[...] produzir discursos conectados, relacionando sentenças
conectadas uma a outra e produzir descrições, definições e narrativas que se
compõem e fazem sentido [...]”. Agora que você identificou as características das
primeiras etapas de aquisição da linguagem, conhecerá algumas teorias a respeito
desses processos envolvendo as abordagens propostas por B. F. Skinner e Noam
Chomsky.

20
3.3 Teorias clássicas de aquisição da linguagem: o debate genética e
ambiente

Questões envolvendo os processos que levam à aquisição da linguagem


foram objetos de estudo de pesquisadores de diferentes áreas em diferentes
tempos. Uma das problematizações a serem investigadas diz respeito ao
questionamento sobre a capacidade lingüística: se ela é aprendida ou inata. Na
década de 1950, houve duas correntes teóricas representadas por B. F. Skinner e
Noam Chomsky, apresentadas no Quadro 3, a seguir (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

21
A partir dessas concepções, no decorrer dos anos subsequentes, novos
estudos acerca desses processos foram desenvolvendo-se. Atualmente, a maioria
dos pesquisadores do desenvolvimento sustenta que a aquisição da linguagem,
assim como outros elementos envolvendo a evolução humana, depende de um
entrelaçamento entre a genética e o ambiente (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
De acordo com as novas concepções, a criança com a audição funcionando
de acordo com a normalidade, ou seja, ela não estando surda, comumente terá uma
capacidade nata de aquisição da linguagem, que pode ser ativada ou restringida de
acordo com as experiências que vivenciará. Assim, quanto mais estímulos na
apresentação de diferentes modos de se comunicar na infância, mais condições a
criança terá para novas etapas dessa aprendizagem.

3.4 Principais influências sobre o desenvolvimento da linguagem

As línguas naturais têm um sistema linguístico represantado por sinais


gráficos e sons que são requisitados nas construções de discursos por meio da fala
e escrita. Gradativamente, os bebês vão sendo influenciados pelas suas interações
com o ambiente que os cerca e que contribuem para o desenvolvimento de seu
progresso linguístico (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Você já parou para observar o quanto as crianças, de uma maneira geral,
aprendem em tão pouco tempo a se expressar por meio de diferentes linguagens?
E o quanto conseguem relacionar o vocábulo e seu significado, compreender
estruturas e empregar palavras nos momentos adequados? Mas o que determina o
tempo e a capacidade que a criança tem de aprender, compreender e fazer uso da
linguagem?
O renomado pesquisador linguista, Chomsky (1957) considerava que os
humanos estão predestinados a aprenderem da linguagem de certo tempo e modo.
Outros pesquisadores da área identificam similaridades às formas como as crianças
passam pelo processo de aquisição da linguagem, independentemente da parte do
mundo que habitam, devido à sua base biológica (SANTROCK, 2009).
22
Pesquisadores têm investigado as relações que esses processos têm com
as influências neurológicas e ambientais. O desenvolvimento do cérebro, que ocorre
em grande proporção nos primeiros períodos de vida, apresenta estreitas relações
com o desenvolvimento da linguagem (Figura 7). Os primeiros meios de se
expressar por meio do choro passam por ações controladas pelo tronco encefálico
e pela ponte, que são as partes mais primitivas cerebrais a serem desenvolvidas.
De acordo com Papalia e Feldman (2013, p. 200), “[...] é possível que o balbucio
repetitivo surja com a maturação de partes do córtex motor, que controla os
movimentos da face e da laringe [...]”. O hemisfério cerebral, responsável pelas
funções linguísticas, inicia seu desenvolvimento muito cedo (HOLOWKA; PETITTO,
2002).

Outro aspecto relevante de influência para o desenvolvimento da linguagem


é chamado de interação social, pois a linguagem faz parte de um ato social de
interação (Figura 8). Quando a criança se desenvolve sem um contato social dentro
da normalidade, como é o caso dos autistas, a linguagem não se desenvolve
normalmente.

23
Como afirma Papalia e Feldman (2013, p. 200), “[...] a ordem de nascimento
da criança, a experiência em cuidar de criança e, mais tarde, a escolaridade, os
colegas e a exposição à televisão, tudo isso afeta o ritmo da aquisição da linguagem
[...]”.

De acordo com Hoff (2006), a partir do momento em que o bebê inicia o


processo de fala, pais e cuidadores podem estimular o desenvolvimento do
vocabulário por meio da repetição de palavras pronunciadas pelo bebê, mas com
precisão, ao passo que ele observa com atenção e se torna capaz de aprender de
modo mais rápido novos vocábulos.

24
Com o ingresso das crianças nas instituições de educação infantil, elas
iniciam o processo de alfabetização, onde já apresentam uma gramática
internalizada, que lhes oportuniza a detenção de um conhecimento prévio. Elas são
apresentadas a experimentações para que passem a se apropriar das habilidades
relacionadas à leitura e escrita. De acordo com Scopel, Souza e Lemos (2011, p.
733):

A escola é um dos ambientes que proporcionam o processo do


desenvolvimento infantil. Cabe às instituições criar condições que
propiciem ao indivíduo uma aprendizagem contínua, em que os
conhecimentos adquiridos nos os primeiros anos de vida possam ser
explorados, confrontados e aprofundados na instituição escolar. As
crianças estão sendo colocadas cada vez mais cedo e num período maior
de tempo em instituições de educação infantil, portanto é importante que o
ambiente escolar também seja avaliado, de forma que esse possa oferecer
as melhores condições possíveis para o desenvolvimento infantil. Estes
devem ser ambientes ricos em recursos em estimulação ao
desenvolvimento de linguagem, principalmente na fase pré-escolar, fase
na qual a criança começa a desenvolver conhecimentos e capacidade
importantes para o bom desempenho não apenas escolar, mas também
social e emocional. O atraso de linguagem causa prejuízos escolares
significantes na vida das crianças. A detecção precoce desses atrasos,
bem como o conhecimento dos seus fatores de risco e proteção, possibilita
ações de promoção de saúde no campo da atenção primária em saúde
com a melhor capacitação dos profissionais da área e organização de
programas de intervenção na infância.

Ao refletirmos sobre os fatores que influenciam o desenvolvimento da


linguagem, constatamos que há um entrelaçamento de aspectos intrínsecos e
extrínsecos, tais como fatores biológicos, ambientais familiares e espaços sociais,
como as instituições de educação infantis.
Todos esses elementos que fazem parte do contexto onde a criança está
inserida acarretam em consequências diretas ao seu desenvolvimento linguístico
em todas as suas formas de expressão e regras. Desse modo, é de extrema
relevância que todos os responsáveis por ofertar à criança experimentações
favoráveis à aquisição desses saberes tenham dimensão do papel que
desempenham em todo esse processo.

25
4 PRODUÇÃO DA LINGUAGEM: PROCESSAMENTOS MENTAIS
ENVOLVIDOS NA FALA

Fonte: https://professormarcelobraga.com.br

A linguagem é algo que dá acesso não à totalidade, mas a uma parte


daquilo que se espera poder alcançar um dia em relação ao conhecimento sobre a
evolução e o funcionamento cognitivo de nossa espécie.
Neste capítulo, você estudará sobre a relação entre linguagem, fala e
pensamento e verá que a diferença entre essas abordagens gerou uma grande
transformação nessa linha de pesquisa. Além disso, verificará que cada hemisfério
cerebral tem uma função distinta e interfere de alguma forma no desenvolvimento
cognitivo do ser humano. Por fim, conhecerá as diferentes etapas da produção da
linguagem, bem como os desdobramentos possíveis por esse caminho.

26
4.1 Linguagem, fala e pensamento

Do ponto de vista da psicolinguística, quando falamos em linguagem,


estamos nos referindo a um elemento que faz parte da constituição biológica do
cérebro. Segundo Pinker (2002, p. 9), a linguagem “[...] é uma habilidade complexa
e especializada, que se desenvolve espontaneamente na criança, sem qualquer
esforço consciente ou instrução formal [...]”. O autor ainda afirma que a linguagem
já foi descrita como “[...] uma faculdade psicológica, um órgão mental, um sistema
neural ou um módulo computacional [...]”, mas que ele prefere “[...] o simples e banal
termo ‘instinto’ [...]”. Tal termo é adotado pelo autor por lembrar o fato de que a
linguagem não é uma “[...] invenção cultural [...]”, na medida em que não foi criada
pelo homem. Segundo ele, ao considerarmos a linguagem como “[...] uma
adaptação biológica para transmitir informação [...]”, passamos a respeitar cada ser
humano, independentemente de sua origem ou de sua formação, e qualquer língua
que seja em sua própria complexidade.
Nesse contexto, Balieiro Jr. (2004, p. 191) afirma que “[...] se consideramos
as bases indubitavelmente cerebrais (ou mentais) do pensamento e a hipótese de
que este pensamento se articula com a linguagem [...]”, precisamos reconhecer “[...]
que o acesso que temos a este processamento é indireto, ou seja, supomos que
existe um processamento linguístico na mente ou no cérebro da pessoa, mas
somente temos acesso aos eventos físicos a ele relacionados, sejam estes eventos
a fala, o gesto ou a escrita [...]” (BALIEIRO JR., 2004, p. 192). Assim, outros dois
conceitos cuja explicitação se faz necessária são língua e fala.
Segundo Slobin (1980, p. 204), “A fala é um processo físico tangível que
resulta na produção dos sons da fala”, ao passo que a “língua é um sistema
intangível de significados e estruturas linguísticas [...]” . Como nosso acesso ao
pensamento é restrito, é normal que tenham sido elaboradas diferentes teorias
sobre a relação entre a linguagem, a fala e o pensamento. No início do século XX,
havia uma crença preponderante acerca desse tema.

27
De acordo com Slobin (1980), os behavioristas defendiam que pensamento
e fala estavam intrinsecamente ligados. A posição mais radical, do americano John
B. Watson, era de que fala e pensamento seriam a mesma coisa; já a dos psicólogos
russos, como Ivan Sechenov, era de que fala e pensamento estariam relacionadas
nas crianças, porém, nos adultos, o pensamento seria um pouco mais livre.
Entretanto, basta pensar em um exemplo simples, como alguém que sofre um
acidente e fica desprovido da capacidade de fala, mas compreende o que lhe é dito
e se comunica de outra forma que não a oral, para que se perceba que essa relação
não pode ser verdadeira.
Os teóricos Jean Piaget e Lev Vygotsky tiveram posicionamentos diferentes,
os quais, simultaneamente (ambos nasceram no mesmo ano, 1896) e em diferentes
lugares (Suíça e Rússia, respectivamente) estudaram o mesmo tema (o
desenvolvimento cognitivo), porém sem nunca terem se encontrado. Segundo o
primeiro, “[...] o desenvolvimento cognitivo avança por si, em geral seguido pelo
desenvolvimento linguístico, ou encontrando reflexo na linguagem da criança. O
intelecto da criança se desenvolve por meio da interação com as coisas e pessoas
do seu meio ambiente [...]” (SLOBIN, 1980, p. 203). Já para Vygotsky, “[...] a fala
pode servir ao pensamento, e o pensamento pode ser revelado na fala [...]”
(SLOBIN, 1980, p. 202).
Slobin (1980) ressalta que a crença de Watson relaciona a fala ao
pensamento, ao passo que Vygotsky e Piaget relacionam linguagem e pensamento,
ou seja, “[...] as relações entre linguística interna e estruturas cognitivas [...]”
(SLOBIN, 1980, p. 204). Para ir além, pode-se “[...] indagar se é possível o
pensamento sem a FALA INTERIOR — isto é, sem alguma atividade da linguística
interna [...]. Há muitos processos mentais que parecem pré-linguísticos ou não
linguísticos [...]” (SLOBIN, 1980, p. 205) — um exemplo seria tentar encontrar uma
palavra mais adequada para expressar o que se deseja. Pode-se observar que “[...]
uma frase não é um mapeamento direto a um pensamento [...]” (SLOBIN, 1980 p.
206); se assim fosse, não haveria necessidade de buscar uma “palavra ideal” em
determinado momento, por exemplo.
28
Vygotsky (1939, documento on-line) afirmou não haver correspondência
entre as unidades do pensamento e aquelas da fala: “[...] o pensamento tem a sua
própria estrutura e a transição entre ele e a linguagem não é coisa fácil [...]”. Slobin
afirma que, ainda que sem a língua a existência humana — cultura, comportamento,
pensamento — certamente não seria como é, e que, portanto, “[...] ninguém negue
o papel central da língua na vida humana, definir a natureza desse papel tem sido
um problema difícil e persistente [...]” (SLOBIN,1980, p. 202). Assim, é muito difícil
determinar qual o espaço e os atributos da linguagem verbal em relação ao
pensamento em toda a sua complexidade, com “[...] imagens e emoções, intenções
e abstrações, lembranças de sons e perfumes e sentimentos, e muita coisa mais
[...]” (SLOBIN, 1980, p. 202).

4.2 Representação mental e instrumentos do pensamento

Fonte: https://escribo.com/

Segundo Slobin (1980), ao considerarmos a relação entre língua e cognição,


é necessário levantar duas questões, segundo o ângulo a partir do qual olhamos tal

29
relação. “Se consideramos a língua como uma entre as muitas formas de
representação mental [...]”, devemos nos perguntar quais são as relações entre
essas formas, o que consiste em “[...] uma questão estrutural [...]” (SLOBIN, 1980,
p. 207). Por outro lado, “Se consideramos a língua como um dos instrumentos do
pensamento [...]”, precisamos entender como esse “[...] ‘instrumento’ infl uencia os
processos cognitivos [...]”, o que é “[...] uma questão de uso [...]” (SLOBIN, 1980, p.
207).
No que concerne à linguagem como representação mental, “[...] para que os
processos do pensamento se realizem — raciocínio, planejamento, solução de
problema, etc. —, é necessário que o conhecimento seja codificado e armazenado
de alguma forma [...]” (SLOBIN, 1980, p. 208). Algumas formas de representação
são: enações, imagens, proposições, traços e protótipos.
A ideia de representação enativa liga-se à capacidade sensório-motora. Na
infância, em particular, aprende-se muito por meio da manipulação. Para
exemplificar, basta lembrar do ato de dar laço no tênis, de dançar, de usar
instrumentos. Os adultos mantêm representações enativas, como, por exemplo,
fazer gestos com os braços.
O escritor Millôr Fernandes jocosamente afirmou, desafiando uma famosa
frase, que “Se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isso com uma
imagem”. No entanto, certos conhecimentos apenas podem ser expressos por
palavras. Não poderíamos representar uma teoria, por exemplo, por meio de
imagens. Contudo, as imagens mentais (interiores) têm grande relevância. Cores,
faces, representações artísticas, todas são representadas por imagens no
pensamento. Um questionamento importante é se haveria algum tipo de estrutura
comum a palavras e imagens.
As proposições igualmente fazem parte da representação mental,
correspondendo a uma “[...] rede de conceitos inter-relacionados, que é mais
abstrata e mais geral que qualquer expressão linguística particular em palavras e
frases ou a imagem de qualquer acontecimento particular [...]” (SLOBIN, 1980, p.

30
210). Mais especificamente, esses elementos seriam representações subjacentes,
como descrições de situações — por exemplo, “mamãe me deu um brinquedo”.
Os traços ou protótipos dizem respeito a atributos que agrupam
determinados elementos. Por exemplo, brinquedos, louças e ferramentas têm em
comum o fato de serem inanimados; cachorrinhos, bebês e pintinhos, de serem
filhotes. Os traços, no entanto, não dão conta de tudo.
Para Eleanor Rosch, que ampliou a ideia de Wittgestein de que o
armazenamento de conceitos é feito por meio de semelhanças parciais e traços que
se cruzam, esse conjunto de informações é ampliado pela noção de transvariação
(SLOBIN, 1980). Segundo essa acepção, nenhum elemento de um conjunto
(família) apresenta todos os traços semelhantes, mas há um prototípico que reunirá
a maior parte deles. Assim, sabiás e corujas são bons exemplos de aves, mas
pinguins e avestruzes, ainda que se enquadrem, parecem menos aves que os
primeiros, por não voarem ou serem muito grandes. Dessa forma, “[...] muitas
categorias se organizam de maneira vaga, em torno do melhor exemplo e protótipo,
esmaecendo nos limites [...]” (SLOBIN, 1980, p. 213).
Independentemente do tipo de representação do pensamento, há ainda dois
aspectos importantes. O primeiro diz respeito ao fato de que, por mais que isso seja
um problema, uma vez que a psicolinguística aborda as relações entre pensamento
e linguagem, há uma conceituação clara de pensamento que subjaz à teoria.
O segundo ponto é que a forma de interação entre os diferentes sistemas de
representação mental (sejam eles linguísticos ou não) não estão claras. Haveria
uma espécie de “mentalês”, uma linguagem da mente por meio da qual se teria a
capacidade de “[...] traduzir imagens sensoriais, pensamentos abstratos e
expressões linguísticas?” (SLOBIN, 1980, p. 214).
Quando se trata a língua como um dos instrumentos do pensamento, é
preciso levar em consideração o uso da língua como instrumento do pensamento,
internamente, e como instrumento de comunicação, interpessoalmente. Ambos os
aspectos relacionam-se de forma direta com os papéis que a linguagem exerce
tanto na aprendizagem quanto na memória. Segundo Slobin, “a capacidade de
31
codificar experiências verbalmente influencia, muitas vezes, o modo pelo qual essas
experiências são lembradas. De fato, muitas lembranças são distorcidas justamente
porque estão armazenadas de forma verbal [...]” (SLOBIN, 1980, p. 216). No
entanto, como nem tudo pode ser representado verbalmente de forma tão precisa,
a memória pode falhar. Memórias que associam elementos verbais e visuais tendem
a ser mais facilmente acessíveis — a associação de uma forma a um nome de
objeto, por exemplo.
Slobin (1980, p. 217) destaca algumas mudanças que nossas memórias de
histórias e de acontecimentos sofrem. O nivelamento implica que muitos
acontecimentos desaparecem para uma maior concisão, deixando a história “[...]
mais curta e esquemática [...]”. Já o aguçamento faz alguns detalhes ganharem
maior destaque, sendo “[...] várias vezes repetidos e recontados [...]”. Por fim, há a
“[...] assimilação e alguns esquemas, ou estereótipos ou expectativas [...]”. Como
afirma Slobin (1980, p. 217), “[...] até certo ponto, nós lembramos os acontecimentos
como queremos lembrá-los; as recordações se mudam, muitas vezes, para atender
aos nossos preconceitos ou desejos — para se tornarem a nós mais plausíveis ou
aceitáveis [...]”.
Vale questionar, aqui, qual seria, afinal, o objetivo desse tipo de
esquematização que ocorre na memória. A resposta é bastante simples: trata-se de
uma necessidade, posto que não conseguiríamos lembrar de todas as coisas que
nos acontecem. Imagine que você precisasse recordar algo que aconteceu no dia
anterior: se não se lembrasse de tudo, teria de reviver o dia todo, no mesmo período,
para recordar algum evento.

4.3 As funções dos hemisférios cerebrais para a fala e a linguagem

Os seres humanos são dotados de um órgão altamente especializado, cuja


totalidade de funções e alcance ainda estamos longe de conhecer. Nosso cérebro
é relativamente grande (cerca de 1,5 kg), se comparado ao nosso corpo, e a sua

32
quantidade de células é “[...] superior ao número que tem o cérebro de qualquer
outro animal do mesmo peso [...]” (SLOBIN, 1980, p. 165).
Poderíamos supor que o tamanho do cérebro seja determinante para a
aquisição da linguagem, mas isso não é, necessariamente, verdade. Brunoni et al.
(2016), por exemplo, fazem um acompanhamento de crianças com microcefalia e
relatam o atraso, mas não a ausência do desenvolvimento linguístico em tais
crianças. Portanto, como afirma Slobin (1980), a nossa capacidade para a
linguagem deve estar relacionada à organização do cérebro, e não à sua massa.
Segundo Pinker (2002, p. 47), se a linguagem é um instinto, como ele
defende, deve haver uma “localização identificável no cérebro [...] que ajude a
mantê-la no lugar. No caso de danos desses [...] neurônios, deveria haver prejuízo
da linguagem sem que outras partes da inteligência fossem afetadas”. Embora
ainda não tenha sido encontrado um órgão da linguagem, diz o autor, a pesquisa
continua, e se há um endereço no cérebro para a linguagem, este é o hemisfério
esquerdo.
De modo geral, o sistema nervoso dos animais é simétrico (SLOBIN, 1980).
Nos seres humanos, entretanto, os hemisférios cerebrais diferem estruturalmente,
e essa diferença reflete no funcionamento. Scliar-Cabral (2018) relata que os
primeiros estudos com relação à distinção entre produção e compreensão da
linguagem verbal foram feitos por neurologistas.
Paul Broca, em 1861, realizou um exame post mortem do cérebro de um
paciente que, ainda que entendesse o que lhe diziam, havia perdido a capacidade
de produzir palavras, exceto o monossílabo tan. A partir desse exame, Broca
constatou uma lesão na parte frontal do hemisfério esquerdo, “[...] antes do córtex
motor e acima da fissura transversal, conhecida como fissura de Sylvius, que separa
a região temporal da parietal e de parte da região frontal [...]” (SCLIAR-CABRAL,
2018, p. 429). Lesões nessa região, chamada então de área de Broca, provocam a
afasia de Broca ou de produção (Figura 1).
Pouco depois, em 1874, Wernicke “[...] formulou a hipótese de uma conexão
entre a parte posterior do giro temporal do hemisfério esquerdo, que processa as
33
imagens sensoriais acústicas das palavras com a que processa as imagens motoras
de palavras e sílabas [...]”, o que explicaria o fato de haver pacientes cujas lesões
na posteriormente chamada área 22 de Brodmann “[...] tivessem a compreensão
verbal comprometida, embora eles produzissem um discurso fluente, mas sem
sentido, conhecido como discurso da jargonofasia. A denominação corrente para
esse tipo de afasia passou a ser afasia de recepção ou receptiva [...]” (SCLIAR-
CABRAL, 2018, p. 429). A seguir apresentamos a Figura 1, com as partições do
sistema nervoso cebtral.

34
Lembre-se de que os hemisférios cerebrais recebem informação do lado
oposto do corpo, e conexões transmitem essas informações entre os lados
(SLOBIN, 1980). “Se a língua está ‘localizada’ no hemisfério esquerdo, o ouvido
direito deve estar mais em condições de realização da linguagem que o ouvido
esquerdo [...]” (SLOBIN, 1980, p. 170). De fato, Doreen Kimura descobriu, por meio
de um teste denominado “tarefa de audição dicotômica”, que os ouvintes “[...]
relatam com mais exatidão a matéria verbal apresentada no ouvido direito do que a
matéria simultaneamente apresentada ao ouvido esquerdo [...]” (SLOBIN, 1980, p.
170).
Trata-se não de uma diferença fisiológica de recepção sonora entre os
ouvidos, mas de interpretação diferenciada pelo cérebro. “O hemisfério esquerdo se
ajusta, perfeitamente, a receber os sons para fins de realização estritamente
linguística ou acústica. O hemisfério direito é superior ao esquerdo na tarefa de
detectar sons ambientais não linguísticos e melodias [...]” (SLOBIN, 1980, p. 170).
Pinker (2002, p. 391) apresenta a hipótese de que a linguagem, nos seres
humanos, pode ter se concentrado no hemisfério esquerdo por ser “[...] coordenada
no tempo, embora não no espaço ambiental [...]”, ou seja, “[...] palavras são reunidas
em ordem, mas não apontadas em várias direções [...]”. Muitos psicólogos
cognitivistas, diz Pinker (2002, p. 391), creem que “[...] uma grande quantidade de
processos mentais que exigem coordenação sequencial e ordenação de partes,
como reconhecer e imaginar objetos de muitas partes e empreender passo a passo
raciocínios lógicos, resida no hemisfério esquerdo [...]”.
Há, contudo, capacidade linguística no hemisfério direito. Para Slobin (1980),
isso possivelmente é uma garantia do cérebro para o caso de haver alguma lesão
no lado esquerdo. Essa capacidade linguística, entretanto, é limitada. Se há dano
cerebral no lado esquerdo ainda na infância, o lado direito assume sua função, e a
aquisição de palavras ocorre normalmente, porém a capacidade sintática (de
combinações), mesmo que adequada, não se iguala à alcançada pelo hemisfério
esquerdo.

35
Pinker (2002) aponta o fato de que o hemisfério esquerdo controla a
linguagem de 97% dos destros, mas, quanto aos canhotos, 19% têm sua linguagem
controlada pelo hemisfério direito, 68% pelo esquerdo, e os demais por ambos os
lados, casos em que os indivíduos, devido à linguagem estar distribuída de forma
mais uniforme, apresentam maior possibilidade, no caso de terem lesão cerebral,
de não sofrerem afasia. Além disso, “[...] alguns dados demonstram que, embora os
canhotos se destaquem em matemática e atividades espaciais e artísticas, eles são
mais suscetíveis a distúrbios de linguagem, dislexia e gagueira [...]” (PINKER, 2002,
p. 391).
Duas questões ainda devem ser abordadas: por que um ser humano leva
três anos para dominar completamente a gramática (como conjunto de regras) de
sua língua? (Ainda que isso seja surpreendente, considerando-se o grau de
especialização e complexidade da linguagem humana. Pense no tempo que levam
os outros animais para se exprimirem conforme sua espécie.) E por que há um limite
para a aquisição da linguagem?
O desenvolvimento da linguagem nos bebês não parte do zero. Lembre-se
de que, para Pinker (2002), a língua é um instinto, então nascemos “programados”
para usá-la, o que já foi comprovado por testes. O autor narra o experimento que
Peter Eimas e Peter Jusczyk realizaram com bebês de um mês:

[...] colocaram dentro de uma chupeta um dispositivo conectado a um


gravador, de tal modo que, quando o bebê sugava, a fita tocava. Quando
a fita tocava monotonamente ba, ba, ba, ba..., os bebês demonstravam seu
fastio sugando mais lentamente. Mas, quando as sílabas mudavam para
pa, pa, pa..., os bebês começavam a sugar com mais vigor, para escutar
mais sílabas. Além disso, não escutavam as sílabas apenas como sons
brutos; usavam o sexto sentido, a percepção da fala: dois ba que diferem
acusticamente entre si tanto quanto um ba difere de um pa, mas que são
ambos escutados como ba por adultos, não reavivaram o interesse das
crianças (PINKER, 2002, p. 335).

Conforme Pinker (2002), as crianças ouvem como os adultos, e já nascem


com essa habilidade; ela não é aprendida com os pais. No entanto, ainda precisam
da interação social (i.e., ouvir regularmente a fala dos adultos) para apreenderem a

36
gramática de sua língua (i.e., a gramática interna, o conjunto de regras fonéticas,
lexicais e morfossintáticas da língua) e desenvolverem pragmaticamente a fala.
As crianças nascem com a habilidade de ouvir todos os fonemas possíveis
em todas as línguas, mas, à medida que vão crescendo, aprendem a melodia e
selecionam os fonemas necessários para a língua que os cerca. Assim, segundo
Pinker, “[...] por volta dos dez meses, já não são mais foneticistas universais [...]”,
fazendo “[...] essa transição antes de emitir ou compreender palavras, portanto, sua
aprendizagem não pode depender de conseguir correlacionar som e sentido [...]”.
As crianças “[...] devem estar sintonizando de alguma maneira seu módulo de
análise da fala para emitir os fonemas usados em sua língua. Esse módulo
provavelmente serve de unidade avançada do sistema que aprende palavras e
gramática [...]” (PINKER, 2002, p. 335–336).
Pinker (2002) faz uma síntese do desenvolvimento da linguagem nas
crianças. Ele explica que, entre os 5 e os 7 meses, os bebês começam a brincar
com sons, e entre os 7 e os 8 meses, a balbuciar sílabas verdadeiras, cujos sons
“[...] consistem em padrões de fonemas e sílabas comuns a todas as línguas [...]”
(PINKER, 2002, p. 338). Essa fase é importante porque “[...] ao escutar seu próprio
balbucio, os bebês [...] aprendem quando devem mover que músculo em que
sentido para obter que mudança no som [...]” (PINKER, 2002, p. 338).
Um pouco antes de 1 ano, as crianças começam a compreender palavras, e,
em seguida, com cerca de 1 ano, a emiti-las. “Por volta dos dezoito meses, a
linguagem deslancha. O incremento de vocabulário ganha a velocidade de no
mínimo uma-palavra-nova-a-cada-duas-horas que a criança irá manter até o fim da
adolescência [...]” (PINKER, 2002, p. 341).
E do final do segundo ano até os três anos e meio, aproximadamente, que
“[...] a linguagem das crianças transforma-se numa conversa gramatical fluente,
desabrochando de maneira tão rápida que desconcerta os pesquisadores, e até
agora ninguém conseguiu descobrir a sequência exata desse processo [...]”
(PINKER, 2002, p. 341–342).

37
Retomando nosso questionamento, pode-se dizer que é provável que os
seres humanos levem cerca de 3 anos até o domínio completo de sua língua
materna, uma vez que a linguagem se desenvolve à medida que a criança cresce
e, consequentemente, seu cérebro também se desenvolve. Os seres humanos,
diferentemente dos outros animas, não nascem prontos. Se o tempo da gestação
humana fosse proporcional ao dos demais primatas, duraria 18 meses, idade em
que, de fato, as crianças começam a juntar palavras. Assim, “A linguagem parece
desenvolver-se na velocidade que o cérebro em crescimento tolera [...]” (PINKER,
2002, p. 368).
Chegamos ao nosso questionamento sobre a idade-limite para a aquisição
da linguagem. Sabe-se que é mais difícil para um adulto aprender uma nova língua,
visto que os aspectos fonológicos acabam não sendo totalmente apreendidos, e a
organização morfossintática pode ser mais bem recebida, mas a fluência
dificilmente será a de um nativo.
Casos de crianças que, por algum motivo, foram mantidas em isolamento até
a adolescência e lesões cerebrais a partir desse período também costumam deixar
sequelas irreversíveis. Segundo Slobin (1980, p. 174), “Pode haver uma ‘idade
crítica’ para o hemisfério esquerdo na sua missão de desenvolver as funções da
linguagem, como também para o hemisfério direito quando precisa assumir tais
funções [...]”.
Corroborando essa ideia, Pinker (2002, p. 374) afirma que “[...] a aquisição
de uma linguagem normal é certa para crianças até seis anos, fica comprometida
depois dessa idade até pouco depois da puberdade e é rara depois disso [...]”.
Considerando-se que, segundo essa teoria, a capacidade de aquisição de
linguagem é instintiva, ela não deveria acompanhar o indivíduo ao longo da vida?
Com efeito, o hemisfério direito do cérebro não sofre essa espécie de “atrofia” que
ocorre no hemisfério esquerdo, aponta.
O autor responde à questão ao relacionar tal “atrofia” justamente às
necessidades instintivas do ser humano. O hemisfério que se relaciona com a
linguagem está “[...] predisposto a adquirir a língua num estágio apropriado de
38
maturação. [...] o aprender a falar está condicionado pela complexa tabela do
crescimento físico [...]” (SLOBIN, 1980, p. 175). Ou seja, não faria sentido manter o
cérebro ocupado com a obtenção da linguagem após o período em que isso ocorre
plenamente, sendo mais útil direcionar os esforços neuronais a outras atividades.
Ratificando esse ponto de vista, Pinker (2002, p. 375) afirma que “[...]
aprender uma língua – em oposição a usar uma língua – é extremamente útil uma
única vez. Uma vez aprendidos os detalhes da língua local falada pelos adultos,
qualquer outra capacidade de aprender (afora o vocabulário) é supérflua [...]”. Isso
tem relação com a nossa constituição biológica, decorrente da evolução.
Metabolicamente, “[...] o cérebro consome um quinto do oxigênio do corpo e porções
igualmente grandes de suas calorias e fosfolipídios [...]” (PINKER, 2002, p. 376).
Assim, é natural que, pela seleção natural, os recursos do corpo sejam
diferenciados ao longo de nossa existência física, e corpos que envelhecem
precisam destinar energia para sua sobrevivência — a linguagem, afinal, já está
apreendida e em pleno uso.

5 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Fonte: http://www.clifaceotorrino.com.br/

O ser humano é uma espécie social que interage e se comunica. Mas a


comunicação associa-se a diversos fatores que a tornam complexa. A linguagem
39
verbal é apenas uma das formas de comunicação e é a última a se desenvolver,
tamanha a complexidade do processo. Assim, nos estágios de aquisição da
linguagem, é importante considerar a influência dos aspectos cognitivos. Zorzi
(1987, p. 116) afirma o seguinte:

A construção do conhecimento, considerando-se aí também a aquisição


da linguagem, resulta de um processo de interação do sujeito com o meio
social e físico, com o mundo das pessoas e das coisas. É através das
trocas entre sujeito e meio que a inteligência se estrutura, se organiza. Por
outro lado, na medida em que a inteligência assim se constitui, abre a
possibilidade de novas interações, mais ricas e mais complexas que as
anteriores e assim sucessivamente.

Diferentes teóricos têm discutido a função da linguagem no desenvolvimento


cognitivo. De forma geral, todos partem da ideia de que existe uma capacidade
inata. Uma das principais propostas cognitivistas é a de Piaget. Para o teórico, a
linguagem faz parte de uma organização cognitiva mais geral, que vai além do fato
linguístico. Ele a considera um elemento com função semiótica, pois a linguagem
permite que o indivíduo evoque verbalmente e de forma representativa objetos e
acontecimentos ausentes.
Piaget defende que a evolução da inteligência sensório-motora pré-verbal é
condição para o surgimento do simbolismo. Para tanto, a criança experimenta
ativamente os esquemas produzidos por ela, isto é, a criança elabora
continuamente novas estruturas. Assim, ela interage e compreende o meio e
constrói a linguagem, evidenciando que esse processo é um reflexo de suas
capacidades cognitivas (BIZELLO, 2019).

40
Na proposta interacionista piagetiana, a linguagem se manifesta apenas
quando a criança tem cerca de 2 anos de idade. Afinal, é nessa fase que o indivíduo
desenvolve a função simbólica e consegue representar mentalmente seus
esquemas de ação. Assim, a criança consegue imitar, jogar e desenhar, até,
finalmente, desenvolver a linguagem. Nesse período, ela revela uma inteligência
prática cuja base está na ação e nos movimentos. Assim, os reflexos, já organizados
hereditariamente, ou seja, pelo ambiente, são consolidados. De acordo com Zorzi
(1987, p. 117),

A criança começa a dar mostras de ser capaz de combinar esquemas de


tal modo que alguns sirvam de meios e outros de objetivos finais de sua
ação. Ocorre uma diferenciação entre meios e fins: tendo estabelecido um
objetivo, a criança procura os intermediários adequados para alcançá-lo.

O processo de aquisição depende da elaboração gradual das operações


mentais responsáveis pela evolução da inteligência. As relações interpessoais são
elementos fundamentais para a concretização desse processo, pois todos os
conflitos que surgem nas interações podem ser assimilados e, dessa forma, podem
contribuir com a descentralização do pensamento (ZORZI, 1987).
As habilidades mentais são uma construção gradativa e ocorrem à medida
que o sujeito se adapta ao ambiente. Para Piaget, é essa interação com o ambiente
que as crianças herdam. O estudioso entendia o pensamento como uma ação
internalizada viabilizada por dois mecanismos: a assimilação, responsável pela
incorporação de objetos como meios de conhecimento, e a acomodação,
responsável pela transformação da estrutura anterior para a incorporação do objeto
assimilado. Dias (2010, p. 120) alerta:

[...] interagir pressupõe, da perspectiva do sujeito, poder assimilar o objeto


às suas estruturas, demanda que o sujeito tenha um esquema pelo qual o
elemento exterior possa ser incorporado no mesmo. Não é uma interação
qualquer que proporcionará o desequilíbrio e a acomodação, mas uma
interação sujeito- -objeto, a qual possui sentido para aquele sujeito.
Consequentemente, pode-se considerar este um processo individual.

41
Isso significa que, quando a criança interage com o mundo, consegue
apreender a realidade e desenvolver esquemas mentais que constituirão a sua
inteligência. O desenvolvimento cognitivo ocorre por períodos que servem de níveis
de construção de inteligência. Os quatro estágios são: sensório-motor, pré-
operatório, operatório concreto e operatório formal.
O estágio sensório-motor ocorre até os 2 anos de idade, quando o
conhecimento está ligado às ações e às percepções. A capacidade de
representação inicia o segundo estágio, o pré-operatório. Nele, a criança elabora
relações de causalidade, e o pensamento é estático: não há integração de
pensamentos. É nessa fase também que aparece a linguagem, pois os esquemas
evoluem das ações para os esquemas mentais.
No terceiro estágio, operatório concreto, ocorre o início das operações
mentais, com atendimento a mais de um aspecto. Na fase do pensamento
operatório formal, surgem o planejamento e a imaginação (BIZELLO, 2019).
De qualquer forma, os dois primeiros estágios é que têm relação mais estreita
com a aquisição da linguagem. Para Piaget, o desenvolvimento linguístico depende
do desenvolvimento da inteligência, pois o desenvolvimento cognitivo é que
possibilitará o nascimento do simbolismo. O brincar simbólico está diretamente
ligado ao desenvolvimento sensório-motor. Nesse sentido, pode-se afirmar que há
uma pré-linguagem (BIZELLO, 2019).
Zorzi (1987) afirma que esse brincar simbólico se desenvolve quando há
outros personagens, ou seja, quando há uma descentralização do simbolismo em
relação à ação própria. Entretanto, o último nível de desenvolvimento ocorre quando
há uma representação independente, ou seja, quando a criança passa a usar
substitutos simbólicos correspondentes a palavras, objetos, etc.
O desligamento do contexto evidencia a consolidação da formação do
símbolo, pois é sinal de que a criança não se prende ao que vê. “Pode-se dizer que
a linguagem e o brinquedo desenvolvem-se ao mesmo tempo e influenciam-se
reciprocamente [...]” (DIAS, 2010, p. 114). O estabelecimento da representação
depende do uso pela criança de símbolos ou da linguagem para evocar situações.
42
Como você pode notar, a teoria piagetiana reflete investigações sobre a
aquisição da linguagem. Os estudos iniciais de Piaget já relacionavam os diálogos
ao desenvolvimento cognitivo das crianças. Aliás, os conceitos ligados à linguagem
socializada também revelam essa estreita relação.
Essas relações podem ser estabelecidas justamente pela importância da
linguagem para o desenvolvimento da aprendizagem. Por exemplo, para que a
leitura e a escrita se estabeleçam, a língua oral é necessária. Isso significa que o
contexto social interfere no desenvolvimento da linguagem. Aliás, todas as
atividades desenvolvidas pelo indivíduo em seu contexto cultural interferem nas
suas habilidades cognitivas e na sua forma de estruturar o pensamento.
O papel da linguagem, nessa situação, é o de determinar como a criança vai
aprender a pensar, já que os adultos transmitem à criança as formas de pensamento
por meio de palavras, da linguagem oral. Veja o que afirmam Mousinho et al. (2008):

A comunicação humana pode ser diferenciada da comunicação das outras


espécies animais de três maneiras diferentes. A primeira e a mais
importante é a possibilidade de simbolizar. Os símbolos linguísticos são
convenções sociais de significados, nos quais cada indivíduo compartilha
sua atenção com o outro, direcionando a sua atenção ou seu estado
mental (pensamento) para alguma coisa no mundo que os cerca. A
segunda diferença é que a comunicação humana linguística é gramatical.
Os seres humanos usam os símbolos linguísticos associados em
estruturas padronizadas. A terceira é que, ao contrário das outras espécies
animais, os seres humanos não têm um único sistema de comunicação
utilizado por todos os membros da espécie. Portanto, diferentes grupos de
humanos convencionaram, no decorrer da história, sistemas mútuos de
comunicação. Isso significa que a criança, diferente das outras espécies
animais, deve aprender as convenções comunicativas usadas por aqueles
a sua volta, pela sociedade da qual faz parte (MOUSINHO et al, 2008, p.
297).

Portanto, a aquisição da linguagem depende tanto de fatores neurológicos e


biológicos quanto de aspectos sociais. Nesse sentido, a criança só conseguirá
adquirir a linguagem e desenvolvê-la se as estruturas cerebrais estiverem
adequadas e se tiver oportunidades de interação social desde que foi concebida.
Essa constatação é importante, pois simboliza a compreensão das investigações
atuais sobre aquisição da linguagem: a questão não é se o indivíduo aprende a

43
linguagem ou nasce com ela, e sim como a interação entre os fatores biológicos e
os sociais interfere na qualidade da aquisição e do desenvolvimento da linguagem.
Mousinho et al. (2008) destacam dois aspectos que revelam a ligação estreita
entre cognição e comunicação:

Linguagem e cognição: pensamos bastante por meio da linguagem depois


que desenvolvemos esta habilidade. A memória, a atenção e a percepção
podem ter ganhos qualitativos com ela. Por exemplo, memorizamos melhor
quando fazemos associações de ideias. Ela também ajuda na regulação
do comportamento. Na infância, podemos observar o desenvolvimento da
linguagem como apoio à cognição a partir dos dois anos, em média,
principalmente por meio da forma como a criança brinca. Linguagem e
comunicação: temos a intenção comunicativa, e podemos nos comunicar
de diversas formas diferentes, através de gestos, do olhar, de desenhos,
da fala, entre outros. A estruturação da linguagem nos permite lançar mão
de recursos cada vez mais sofisticados, a fim de aprimorar nossas
possibilidades de comunicação (MOUSINHO et al, 2008, p. 297).

Em suma, os cognitivistas afirmam que a linguagem humana está


subordinada a elementos cognitivos mais fundamentais e que ela é apenas um
desses elementos. A aquisição da linguagem, portanto, tem relação direta com a
interação entre a linguagem e as estruturas cognitivas. Os estudos de diferentes
aspectos do desenvolvimento da linguagem contribuem com as investigações sobre
a relação entre linguagem e cérebro.

Fonte: https://www.revistaplaneta.com.br/

44
6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARANHA, M. L. A. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna,


1993.

BALIEIRO JR., A. P. Psicolinguística. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (org.).


Introdução à linguística. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004. v. 2.

BIZELLO, A. A. Aquisição e desenvolvimento da linguagem: reconhecimento de


propriedades de uma língua e comunicação. SAGAH. 2019.

BRUNONI, D. et al. Microcefalia e outras manifestações relacionadas ao vírus Zika:


impacto nas crianças, nas famílias e nas equipes de saúde. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 10, p. 3297–3302, 2016.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.

CHOMSKY, N. The minimalist program. Cambridge: MIT, 1995. FIORIN, J. L. (Org.).


Introdução à linguística: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.

CREMONESE, L. E. Produção da linguagem: processamentos mentais envolvidos


na fala. SAGAH. 2019.

DIAS, F. O desenvolvimento cognitivo no processo de aquisição de linguagem.


Letrônica, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 107–119, 2010. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/view/7093/5931
Acesso em: 15 nov. 2019.

DIAS, J. M. A linguagem como expressão do sentido humano, 2011. Disponível


em: https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2004. Acesso em: 8 maio 2018.

DOS SANTOS, A. R. Linguagem, conhecimento e pensamento. SAGAH. 2018.

FILOSOFIA NA REDE. A rede das palavras (Rubem Alves). 2014. Disponível em:
http://vidainteligentenaescolaenarede.blogspot.com/2014/03/a-rede-das-palavras-
rubem-alves.htm . Acesso em: 16 maio 2018.

GLEASON, J. B. The development of language. In: GLEASON, J. B. (Ed.). The


development of language. 6th ed. Boston: Allyn & Bacon, 2005.

HOFF, E. How social contexts support and shape language development.


Developmental Review, v. 26, n. 1, p. 55-88, Mar. 2006.

45
HOLOWKA, S.; PETITTO, L. A. Left hemisphere cerebral specialization for babies
while babbling. Science, v. 297, n. 5586, p. 1515, Aug. 2002.

LEVELT, W. J. M.; ROELOFS, A.; MEYER, A. S. A theory of lexical access in speech


production. Behavioral and Brain Sciences. Cambridge, v. 22, n. 1, p. 1-75, 1999.

MEDINA, J. Linguagem: conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre: Artmed,


2007.

MONDIN, B. O homem, quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. 10. ed.


São Paulo: Paulinas, 1980.

MOUSINHO R.; SCHMID E.; PEREIRA J.; LYRA L.; MENDES L.; NÓBREGA V.
Aquisição e desenvolvimento da linguagem: dificuldades que podem surgir neste
percurso. Rev. Psicopedagogia 2008;25(78):297-306. Disponível em:
http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/310/aquisicao-e-desenvolvimen
to-da-linguagem--dificuldades-que-podem-surgir-neste-percurso#:~:text=A%20pri
meira%20e%20a%20mais,no%20mundo%20que%20os%20cerca. Acesso em: 15
nov. 2019.

NICOLAIEWSKY, Clarissa de Arruda; CORREA, Jane. Escrita ortográfica e revisão


de texto em Braille: uma história de reconstrução de paradigmas sobre o aprender.
Cadernos CEDES [online]. 2008, v. 28, n. 75, pp. 229-244. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0101-32622008000200006>. Acesso em: 10 maio 2018.

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto Alegre:


AMGH, 2013.

PINKER, S. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. São Paulo:


Martins Fontes, 2002.

REALE, G.; ANTISERI, D. Do romantismo até nossos dias. In: REALE, G.;
ANTISERI, D. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 1991. v. 3. (Filosofia).

RODRIGUES, E. S. O estudo psicolinguístico da produção da linguagem: uma breve


apresentação de métodos empregados na investigação do processamento adulto.
Revista Linguística, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 110–128, 2009. Disponível em:
https:// revistas.ufrj.br/index.php/rl/article/view/4426/3198. Acesso em: 12 nov.
2019.

RODRIGUES, E. S. Produção da linguagem. In: MAIA, M. (org.). Psicolinguística,


psicolinguísticas: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2015.

46
SANTROCK, J. W. Life-span development. New York: McGraw-Hill, 2004.

SANTROCK, J. W. Psicologia educacional. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2009.

SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 9. ed. Tradução de Antônio Chelini,


José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 2006.

SCLIAR-CABRAL, L. Modelos psicolinguísticos de produção da linguagem verbal


oral. Gragoatá, Niterói, v. 23, n. 46, p. 427–447, 2018.

SCOPEL, R. R.; SOUZA, V. C.; LEMOS, S. M. A. A influência do ambiente familiar


e escolar na aquisição e no desenvolvimento da linguagem: revisão de literatura.
Revista CEFAC, São Paulo, v. 14, n. 4, p. 732-741, jul./ago. 2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rcefac/a/nmNzvNdp54VRxQP4pqDJRVx/abstract/?lang=pt .
Acesso em: 25 abr. 2018.

SKINNER, B. F. Verbal behavior. New York: Appleton-Century-Crofts, 1957.

SLOBIN, D. I. Psicolinguística. Tradução de Rosine Sales Fernandes. São Paulo:


Nacional, 1980.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. [S. l.]: Ridendo Castigat Mores,


1939. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/vigo.pdf. Acesso
em: 13 nov. 2019.

ZORZI, J. L. Desenvolvimento cognitivo e distúrbios da aquisição da linguagem:


uma proposta terapêutica. Revista Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 2,
n. 3/4, p. 115–125, 1987. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/dic/article/v
iew/1093 1/24171. Acesso em: 15 nov. 2019.

47

Você também pode gostar