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PERÍODO

2022/2
4º Passo
Conhecimento é ação! Observado pela biologia da nossa evolução, pode ser.
E nos move quando é organizado. O que já se percebeu sobre nossa gené ca é que viemos de uma
população rela vamente pequena na África.
Todas as espécies que habitam Embora outras línguas possam ter surgido fora desse grupo, as que
nosso planeta interagem de conhecemos agora provavelmente descendem de modificações da
alguma forma. Nenhuma usada por aquele grupo.
como a nossa, afinal, não se Os fósseis dos nossos ancestrais, quando estudados, deram
conhece nada que se pareça algumas pistas sobre quando começamos a falar. Para emi r sons,
com a linguagem humana, um precisamos respirar com bastante controle; por isso, devemos ter
traço vivo e consciente total- controle muscular de nosso diafragma, que tem muito mais nervos
mente nosso. do que o diafragma de outras espécies mais próximas, como os
Há quem acredite que a lingua- macacos — que não falam.
gem tenha se manifestado a Todos esses nervos fazem com que nossa medula espinhal seja um
pelo menos 50 mil anos. E há pouco mais espessa nessa área — e a coluna vertebral, um pouco
linguistas que es mam sua mais larga.
expressão a até meio milhão Os neandertais de cerca de 600 mil anos atrás têm essa expansão
de anos. na coluna. Mas se retrocedermos um milhão de anos ao Homo
Seria possível que, apesar da erectus, espécie anterior de humano primi vo, essa expansão não
diversidade de idiomas que existe.
existem no mundo, todos des- Se esse aspecto pode indicar quando nossa espécie começa a agir
cendam de um antepassado no espaço natural através da linguagem, pense nela como força
comum? que precisa ser organizada no exercício do seu trabalho que
depende, antes, da interação.
O fato é que a complexidade da nossa linguagem, seja qual for o
po que usamos, nos torna únicos. Nos permite interagir,
relacionar, falar sobre o passado, presente ou futuro e transformar
conhecimentos.
Vamos conversar sobre conhecimento?

Jean Piaget estudou sobre a fundamenta em Piaget observa que o ser


construção do conhecimento por meio da humano não aprende somente por meio de
i nte ra çã o d o s u j e i to co m o m u n d o, observação, mas também mediante ações
co n s i d e ra n d o o s fato re s b i o l ó g i co s , con nuas sobre o objeto do conhecimento.
experiências sicas, a troca social, e os Numa perspec va sociológica, em
processos de equilíbrio e desequilíbrio nessa contrapar da, ques ona-se a necessidade de
construção. se levar o ambiente e as inter-relações deste
Além de Piaget, outros estudiosos com o aprendiz em consideração no processo
importantes para a educação, como o russo de aprendizagem.
Lev Seminovitch Vigostki, o francês Henry Entre as várias abordagens de
Wallon e a argen na Emília Ferreiro, entre perspec va sócio cogni va, a mais validada é
outros, colaboram com farto conhecimento a teoria sócio histórica de Vigotski.
compar lhado. E não, nada disso é novidade para
O importante, no entanto, é que o vocês. Mesmo que não consiga indicar a
conhecimento não pode ser dado como algo contribuição de cada cien sta na sua
alcançado em sua totalidade, pois é formação, o que estudaram está presente,
construído e cons tuído pela interação dos antes, em você.
sujeitos com o espaço sico e social, através
das relações sociais de troca de Quando meu corpo sente, eu estudo;
conhecimentos. É um ciclo infinito. quando eu estudo, eu conheço; quando eu
Emília Ferreiro nos oferece em sua conheço, me pertence.
co n st r u çã o te ó r i ca u m a p e rs p e c va
interessante: a pessoa precisa construir o seu E como nosso desenvolvimento
próprio conhecimento. Daí o pressuposto cogni vo, por força de nossa condição social
básico é que o processo de aprendizagem se (não somos seres sozinhos), nunca cessa,
concre za em situações de interação entre nosso patrimônio histórico, cultural,
ela, os colegas e os arranjos sociais com quem cien fico, polí co, intelectual, enfim, nossa
e sta b e l e c e e ste ato , a s s e g u ra n d o a existência se estende ao infinito.
construção de significados a par r de relações Daí, é organizar os conhecimentos
entre o que eles já conhecem e o que estão compar lhados sobre como organizar a
aprendendo de novo. enunciação nas formas discursivas mais
Você promoveria a mediação e básicas (frase, oração, período, gêneros,
precisaria conhecer o conjunto de pessoas expressões e gestos) com o auxílio generoso
trabalhadoras naquele espaço para elaborar de todas as formas linguís cas que compõem,
planos que os ajudem a se desenvolver. material e afe vamente, nossa língua.
Já o constru vismo psicológico que se
Só a produção capitalista foi profundamente inclinada e capacitada econômica e
socialmente a cons tuir para suas finalidades, de forma consciente, uma ciência
par cular no sen do atual. Nas crises espirituais dos tempos de transição, a ligação
das ciências com as questões gerais da concepção de mundo era ainda muito
intensa. Não vesse esgotado os conflitos assim originados, a ciência jamais teria
conseguido sua independência, necessária para a indústria. Mas, assim que esta foi
ob da, essa ligação inicial com questões de concepção de mundo pôde aos poucos
desaparecer.
LUKÁCS, G. Prolegômenos para uma ontologia do ser social: questões de princípios para
uma ontologia hoje tornada possível. São Paulo : Boitempo, 2010.
Progredindo...
A sua relação com toda gramá ca que medeia nossa interação sócio cogni va com todos
os discursos, venham na forma como vierem, apresentem-se nas estruturas que lhes convierem,
será pontuada na medida em que você se percebe sujeito do exercício da enunciação; um
procedimento humano em que recepção e provocação de significações ocorrem todo o tempo, a
delícia dialógica da expressão humana.
Pode soar inalcançável a quem se acomodou ao condicionamento posi vo (abstrato,
empírico) de validar o certo e o errado como medidas da ação cogni va. Acredite! Se esse mesmo
sujeito desconfiou da validade do que acabei de enunciar, há esperanças! Nossa gramá ca não nos
silencia; mas, tal como é compar lhada, impede-nos o movimento, a ação. Nossa gramá ca nos
liberta. Ela nos habita e mediamos todas as nossas relações com tudo e todos que nos rodeiam por
força desta cognição indócil, incon da, rebelde às vezes. Pense, e se nos significássemos ao
universo sensível organizando toda essa cognição?
Vamos con nuar percebendo a linguagem como totalidade, então. Tome-a como um
meio orgânico de ar culação discursiva possível por causa da organização (sintaxe) e da
significação (semân ca) necessárias ao diálogo. Descrevendo com menos rigor: tome-a em seu
corpo (consciente do corpo outro) considerando os sen dos provocados e seus efeitos derivados
dos arranjos sintá cos e semân cos, lançando mão de todas as formas linguís cas que organizam
o discurso, a fim de que sua enunciação lhe permita alcançar a sa sfação (ou, realização) dos
desejos cognoscíveis.

"O que ocorre, de fato, é que, quando me olho no espelho, em meus olhos
olham olhos alheios; quando me olho no espelho não vejo o mundo com
meus próprios olhos desde o meu interior; vejo a mim mesmo com os
olhos do mundo - estou possuído pelo outro".

Mikhail Bakhtin
Vamos conversar sobre gramá ca?
Não tem se sen ndo muito bem ul mamente, é uma pena! Gramá ca não é nome de um
livro, é o estudo da língua em si, a organização de um sistema que, organizado e apresentado (como
resultado de uma inves gação, com método) aos falantes de uma língua torna possível perceber
como as enunciações são (e podem ser) organizadas nas expressões humanas em interação.
Embora não deva ser centralidade na sua relação com a língua, tampouco reduzir o
conhecimento de seu sistema e possibilidade viva à ortografia e às regras da sintaxe, a inves gação
sobre a gramá ca tem função sócio cogni va relevante. Afinal, é através da língua, em exercícios da
linguagem, nas a vidades discursivas que conseguimos alcançar os resultados desejados e
necessários em todos os contextos de interação que tenham o conhecimento como centralidade
(mesmo nas situações co dianas mais comuns). Lembre-se, no entanto, que discurso não deve ser
reduzido a uma prá ca, afinal, é expressão do desejo humano e pode/deve ser recebido com toda
simpa a e movimento.
Bakh n, em quem referencio meu trabalho, oferece a percepção da linguagem como um
exercício para tomar parte em um diálogo. O diálogo então, não pode ser definido apenas como
comunicação local, concre zada na presença real ou imaginada de algum po de interlocução.
Afinal, toda enunciação pressupõe, responde, colabora ou polemiza com outras enunciações,
anteriores e posteriores, síncronas ou assíncronas, e sempre informadas histórica e
ideologicamente. Assim, se para me afirmar sujeito a linguagem me põe em movimento, anuncia a
necessidade de me organizar (cogni va e socialmente) para tomar uma posição e engajar-me em
uma relação, uma disputa de poder.
Essa perspec va teórica, que organiza o sujeito para agir movido por métodos, deverá
(guardadas todas as proporções sensíveis) orientar nossa inves gação sobre as letras
(representações gráficas dos sons humanos) formando palavras (signos linguís cos) e indicando
como sua organização forja a enunciação (do sujeito que se percebe todo) e dá força ao discurso
(do todo que se percebe sujeito).
Antes de nos reencontrarmos com a “gramá ca”, que segundo os gregos significa “o estudo
das letras”, deixe-me provocar uma questão: se nós nos encontramos com os estudos grama cais
tal como é promovido nas úl mas décadas, e se talvez por isso no instante em que somos
chamados a receber um discurso não conseguimos ouvir e entender o que se enuncia, e se somos
convocados a escrever qualquer discurso ficamos em angus ante silêncio, ou balbuciando
tenta vas que acomodem o desejo de quem lerá ao possível alcançável por nós, não estaríamos,
então, AGRAMATICALIZADOS?

Defina o termo em destaque acima e se pergunte: ele me representa?


O conhecimento e o exercício Consciências?
Sim, embora seja uma dimensão da
consciente.
existência de tudo o que é vivo ainda pouco
conhecida (ainda bem, quando alcançarmos
A palavra, como detentora de todas as respostas para todas as questões, a
significado, ao mesmo tempo em que vida acaba, o que sen mos não nos moverá
desperta eventos na consciência, é mais).
base para a sua formação.
Os significados são resultados dos Consciência sintá ca
sen dos provocados na pessoa, de acordo Cada unidade linguís ca, cada palavra, cada
com as necessidades e emoções que signo, enfim, cada elemento verbal com força
mo varam o seu uso. A consciência, então, de significação, constrói o todo que se
p o s s u i o r i g e m s o c i a l q u e p re c i s a enuncia no ato humano da linguagem.
organização (sintaxe) e significação Percebemos nos exemplos referentes ao
(semân ca) a fim de alcançar a força professor que não gosta de ler que a unidade
discursiva necessária à enunciação. linguís ca classificada no grupo das
O trabalho de quem ensina e de conjunções coordena duas orações num
quem aprende a língua materna deve ser período composto estabelecendo, entre elas,
acompanhado de uma consciência em significações possíveis.
movimento (nunca a mesma, nem a
negação do que a compôs) sobre a função Consciência semân ca
sócio histórica iden tária das variedades e Todas as unidades percebidas na organização
usos linguís cos, evitando apagamentos e discursiva através da qual enunciamos
silêncios estruturantes da existência. apresentam, certamente inspiradas pela
Então, viva o método! s i t u a çã o s ó c i o co m u n i ca va e p e l a
intencionalidade, significados diversos. A
enunciação será recebida consciente destas
forças presentes na ação da linguagem e
provocará no receptor as respostas que delas
derivam.

Consciência discursiva
A seleção das unidades que compõe a
enunciação pode indicar, derivado da
ar culação como se faz no todo discursivo, o
O cérebro é um sistema aberto, mutável. conjunto de intenções significa vas do
Suas estruturas são moldadas ao longo da sujeito que enuncia.
história, do desenvolvimento e nas relações
sociais. O funcionamento psicológico tem
como base estas relações sociais, dentro de É o instante em que percebemos a
um contexto histórico e cultural. A cultura é necessidade de não nos acomodarmos às
parte essencial do processo de construção meias palavras. Risco que corre o sujeito da
da natureza humana. e a nossa relação com
o mundo é uma relação mediada por enunciação que não ar cula com a
sistemas simbólicos (signos). Entre o nós e predisposição para provocar no outro
ele existem elementos mediadores, que são
ferramentas auxiliares da atividade
ações, movimentos, respostas a vas
humana. essenciais à nossa caracterís ca dialógica.
Observe a ação discursiva ao centro da página e note que você se organizará para
receber uma enunciação no gênero poesia. A forma, a organização do enunciado, a
estrutura em versos indicam à nossa consciência que trabalharemos com um ato
carregado de figuras, imagens, estratégias humanas que caracterizam bastante a
poesia: metáforas, por exemplo.
Calma, receba-a sem pressa! A compulsão pela resposta que você acredita dever ao
outro provoca a imprudência. A ação humana nos atos discursivos é conduzida de tal
modo que o encontro seja provocador de uma relação social transformadora.
Note como o exercício de análise é motivado pelas estratégias discursivas que fazem
(fatores) ativar seu exercício cognitivo para que alcance os significados compartilhados
pela enunciação.

2 - Lembra-se dos estudos sobre


1 - Etapa importante para organizar a recepção os processos de formação das
discursiva, a CONTEXTUALIZAÇÃO situa a enun- palavras? E sobre os neologismos?
ciação no tempo e no espaço. Conhece Millôr Reconhece esta forma Lingüística e
Fernandes? E o suporte discursivo em que o ato a INTENCIONALIDADE do autor?
foi impresso, tem a intenção de divulgar poesia?
3 - Sobre Darwin e seu trabalho
4 - Palavra da classe das adverbiais que indica você conhece; há CONHECIMENTO
tempo, permanência; Darwin permanece como? PRÉVIO compartilhado sobre este
naturalista inglês em sua história
5 - O verbo ‘‘vir’’ indica cognitiva, cultural, intelectual.
lugar ou tempo?
2
6 - O RECONHECIMENTO
7 - Bom, não há regis- POEMEU DAS FORMAS LINGÜÍS-
tros na teoria de que 3 4
TICAS é sempre neces-
uma espécie evolui e DARWIN, ainda. sário. O que é ‘‘símio’’?
se transforma em outra Quer uma estratégia?
e não há lindeza na
O homem veio5do símio.6 Qual é a teoria desenvol-
Acho isso lindo.7 vida por Darwin? Como
imagem projetada; eis Mas8 tem9 alguns
a IRONIA colaborando Quinda10 estão vindo. ela é representada no
para a promoção dos modo não-verbal?
1
efeitos desejados pelo FERNANDES, Millôr. Veja, 1 jun. 2005, p. 31.
autor.

8 - RECONHECIMENTO DAS FORMAS LINGÜÍSTICAS: palavra


da classe das conjunções (mas é adversativa).

9 - O autor escolhe o verbo ‘‘ter’’ a fim de signi- 10 - Palavra formada pela aglutinação


ficar ‘‘existir’’ referenciado pela variação linguís- do pronome ‘‘que’’ com o advérbio
tica coloquial, informal. Sua intenção não é ‘‘ainda’’: recurso característico na
poética; portanto, o rigor da norma culta pode- produção poética que antecede o
ria comprometer a ACEITABILIDADE, dada a modernismo para dar ritmo e melodia
INTENCIONALIDADE crítica. à poesia.

Quando o artista empreendeu o trabalho de criação para sua expressão discursiva,


já era movido por um interesse, uma intenção enunciativa. Daí, foi definir a estrutura
e as estratégias para provocar os efeitos que desejava em que a recebesse.
Percebeu como uma conduta ativa nos permite alcançar a síntese de tudo o que é
enunciado por que notamos as estratégias discursivas adotadas para circular a
enunciação?
Quando nos comportamos assim, progredimos na jornada e nos desenvolvemos.
Da teoria à prá ca; do ensino ao movimento.

A linguís ca moderna alcança nossa formação (não entenda moderna como palavra
sinônima de contemporâneo) e orienta os trabalhos de ensinar/aprender com seus aportes
teóricos. Embora a linguagem seja objeto de análise e inves gação desde a an guidade, foi
com a colaboração da ciência moderna que a linguís ca pôde fazer parte, desde Saussure, de
nossa formação.

Surge como estudo cien fico da linguagem humana. Cien fico, porque opõe-se a prescri vo.
Importa, portanto, para conhecer a linguagem em toda sua fortuna, insis r no caráter
cien fico e não prescri vo do seu estudo. Ferdinand de Saussure foi um pioneiro que se
dedicou a inves gar as relações entre língua/fala, significado/significante (significado,
rela vo ao conceito, isto é, à imagem acús ca; significante, realização material de tal
conceito, por meio dos fonemas e letras), sintagma/paradigma (lembra-se das aulas de
morfologia?) sincronia/diacronia (para organizar, método de análise: sincrônica, o estudo
descri vo da linguís ca associado ao tempo; diacrônica, estudo da linguís ca histórica e as
transformações notadas no registro da linguagem). Enfim, devolveu aos estudos da
linguagem uma centralidade importante.

Já no séc. XX, os estudos de Roman Jakobson exercem grande influência. Sua teoria da
comunicação tem uma acolhida tão boa e confortável que os materiais didá cos passam a
descrever e validar a tese de que a língua é (no centro) um instrumento de comunicação.
Também ganham espaço o conceito de funções da linguagem elaborado por ele e, no estudo
do texto, a análise estrutural da narra va. Apesar da comunicação ser apresentada como
foco, a língua é percebida de modo u litário: seu estudo deve alcançar funções, como a vida
nas cidades e o exercício das profissões. Com um discurso tão pragmá co (apesar de
aparentemente metodológico), não teria sido esse o momento em que a gramá ca começa a
perder, de vez, seu espaço na formação dos sujeitos? Afinal, se eu funciono, sou formado
como coisa.

Esta perspec va ultrapassou os anos 1980, quando outras transformações ganharam outro
vigor. Movidas por desejo de liberdade democrá ca e respirando mais levemente com o fim
da ditadura, as escolas e seus sujeitos vivenciam e experienciam perspec vas teóricas e
metodológicas que, durante as duas décadas anteriores, seriam impossíveis.
Do constru vismo ao interacionismo, passando pela sociolinguís ca, o que se nota com mais
precisão é a devolução da centralidade nos processos ao professor, percebido como o vetor
para as transformações. Um resgate, de fato, da autoria: o professor volta a ser autor de seus
trabalhos, de suas aulas. Se o contexto polí co e epistemológico eram outros, outro pacto
deveria ser firmado a fim de se devolver a palavra a sujeitos historicamente silenciados.

Nos úl mos vinte anos, no entanto, devemos perceber dois movimentos: a contaminação do
“pensamento” pós-moderno nos movimentos cogni vos das pessoas e ins tuições escolares
e a necessidade flagrante de se reencontrar com métodos que permitam construir uma
relação inteligente com a linguagem. É uma pauta que não se apresenta mais nos espaços de
pesquisa, nas universidades e nos corredores das escolas; acredito que, também, em seu
espaço mais ín mo quando relaciona mais de uma década de história escolar com as
dificuldades vividas na recepção e na produção de discursos textuais, visuais ou orais.

Talvez eu perceba mais ni damente essa angús a porque fiz adesão a um método: o sócio
cogni vo interacionista, sobre o qual conversamos intensamente quando lhe convoco para
alcançarmos os estudos da enunciação; quando a linguagem nem é reduzida a uma forma de
expressão lógica do pensamento, conforme os gramá cos, nem como um instrumento de
comunicação, mas como uma forma de realizarmos ações entre nós, com a força da
interação.
‘‘Quanto mais o ouvinte se
esquece de si mesmo, mais
profundamente se grava
nele o que é ouvido.
Quando o ritmo do trabalho
se apodera dele, ele escuta
as histórias de tal maneira
que adquire
espontaneamente o dom de
narrá-las. Assim se teceu a
rede em que está guardado
o dom narrativo. E assim
essa rede se desfaz hoje
por todos os lados, depois
de ter sido tecida, há
milênios, em torno das mais
antigas formas de trabalho
manual.’’

Walter Benjamin, “O narrador.


Considerações sobre a obra
de Nikolai Leskov” In:
BENJAMIN,Walter. Obras
escolhidas, volume 1: Magia e
técnica, arte e política –
Ensaios sobre literatura e
história da cultura. São Paulo:
Brasiliense, 1987. 3.ed. p. 205.

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