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Níveis de complexidade e a seleção de textos para a aula de leitura

A complexidade de um texto res ulta da relação entre o texto, os


conhecimentos prévios do leitor e as condições de recepção. Nessa relação,
podemos pensar, por exemplo, nos seguintes aspectos:

A complexidade de um texto resulta da interação entre vários


fatores:
• por que se está lendo o texto, para que e em que
momento histórico;
• se o leitor tem maior ou menor motivação para ler o
texto:
• se o gênero do discurso é familiar ou pouco familiar ao
leitor;
• se o tema se relaciona ao cotidiano ou se é de uma área
especializada, pouco familiar ao leitor;
• se a estrutura composicional do texto segue uma
organização mais direta ou mais indireta;
• se o vocabulário utilizado é o que o leitor usa no dia a dia
ou se é de um campo semântico especializado ou
historicamente mais distante;
• se o (trecho do) texto a ser lido é breve ou longo.

Trabalhar com textos de várias extensões em sala de aula requer diferentes


abordagens: textos longos vão exigir uma leitura em partes, com pausas
sistemáticas para discussão e análise. Diferentes conhecimentos prévios vão exigir
mais ou menos etapas preparatórias e de compreensão de detalhes. É possível que
haja, entre os alunos, alguns que tenham, desde o início, um interesse para ler um
determinado texto, mas criar uma razão e uma motivação para a lei tura também faz
parte do planejamento de atividades para a sala de aula.
Os inúmeros textos que circulam têm diferentes níveis de complexidade, e
esses níveis não são possíveis de delimitar a priori, mas se estabelecem sempre e
novamente na relação do texto com o leitor e as condições de recepção. Isso quer
dizer que, tanto para selecionar quanto para planejar as atividades, é essa relação
que precisa ser levada em conta. O professor pode indicar ou selecionar textos que
julga serem mais adequados para a ma turidade e conhecimentos prévios dos alunos
e que, portanto, serão lidos sem tanto esforço. Mas pode também selecionar textos
que, conhecendo sua turma, sabe que serão desafiadores. Neste caso, será
importante fazer um planejamento de atividades preparatórias que possibilitem a
construção de sentidos e de novas aprendizagens.
Cabe lembrar que o que se deseja é escolher textos que sejam significativos
para o foco de estudo ou para o projeto em curso, sem descartar possibilidades
interessantes de leitura por conta de um conceito pré-estabelecido de que os alunos
não conseguirão ler porque o texto é muito difícil. Se o texto é relevante para a
temática em pauta, o professor pode criar oportunidades para interpretações
compartilhadas através de atividades que, em primeiro lugar, esclareçam as razões
para o esforço que está por vir e que ajudem nesse percurso. Em seguida, o
professor pode propor atividades que promovam dinâmicas variadas e
possibilidades de construir entendimentos com a ajuda de leitores mais experientes.
Os degraus ou etapas necessários serão definidos a cada novo texto ou mes mo a
cada nova leitura do texto, de acordo com o nível de complexidade desse texto,
definido na relação com cada leitor e com cada turma.
Cada um de nós construiu e constrói níveis de familiaridade distintos com
diferentes gêneros do discurso e com as práticas de leitura. Cada um de nós tem maior
afinidade, costume ou necessidade de ler alguns textos (e não outros), ou textos sobre
determinados temas (e não sobre outros) ou textos de determinados autores (e não
de outros). Quando o professor e também os alunos sugerem textos para serem
trabalhados em sala de aula, é importante que sejam levados em conta nessa seleção a
maturidade e os interesses dos leitores, as demandas dos projetos que estão sendo
desenvolvidos e também as características dos próprios textos.
Cabe salientar ainda que, se temos como ponto de partida o que é mais conhecido e
familiar para preparar o aluno para a leitura, o desafio da aula de leitura é promover
oportunidades para conhecer o que é novo e para desnaturalizar o que é conhecido
para, assim, poder ampliar a compreensão da realidade que nos cerca e participar de
modo mais confiante e criativo das práticas sociais mediadas pelo texto escrito.

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