LUIS CARLOS HERRERA

Analista de SEO da Rock Content. Formado em

Linguística e Tradução, atualmente sou candidato
a Mestre em Linguística Aplicada. Trabalho com
tradução desde 2007 e tenho experiência em
diversas áreas e com vários formatos, desde livros
até vídeogames, passando por indústria e editoras.
Introdução 4
Tradução 101: primeiros passos 6
Preparação, início de carreira, boas práticas e campo laboral 15
Ferramentas de tradução assistida por computador, localização e legendagem 20
Tradução e marketing 24
Palavras finais 28
 4

INTRODUÇÃO
A tradução é uma das atividades mais antigas do mundo. Afinal,
sempre que houver culturas em contato, algo que não esteja
restrito ao nosso mundo globalizado, é necessário que alguém
sirva de ponte entre os diversos povos que precisam se comunicar.

Seja pelo motivo que for: comercial, político ou artístico, os

tradutores estão por aí, como Lawrence Venuti defende, “sempre
nas sombras”. Não acredita? Então diga-me uma coisa: ao ler
seu livro estrangeiro favorito, você tem consciência de que a
obra que está desfrutando é a versão do tradutor? Ele tem uma
responsabilidade grande, né?

Quando estamos traduzindo, o poder da palavra está na ponta dos

nossos dedos, e a experiência que o leitor tem com essa obra é da
nossa completa responsabilidade.

Da mesma forma, esse trabalho não é diferente quando
levamos nossa atividade para o mundo digital. Somos
responsáveis pela experiência que os usuários têm em
aplicativos e plataformas que nós localizamos para a
língua-meta. Afinal, toda interação com a tecnologia é,
em grande parte, pelo canal escrito.
Conceitos como fidelidade, público alvo, linguística
contrastiva, negociação de significados, choques
culturais e outros que vêm diretamente da academia
são fundamentais para a atividade tradutória. No
entanto, pensando mais no nosso contexto atual, eles
não são suficientes.
Ter conhecimentos sobre tecnologia e o mundo digital
é um diferencial enorme, e por um motivo simples:
estamos cada dia mais conectados, e não é impossível
que negócios que começam na sala de uma casa
atinjam proporções globais em poucos anos. E ser
global passa pelo idioma.
5
Está vendo como nosso trabalho continua com o
mesmo nível de importância apesar de ser milenar?
Neste ebook, eu quero compartilhar com você parte
do que aprendi na minha caminhada no mundo da
tradução, que começou lá pelos longínquos 2007 e que
considero ser de utilidade.
Vamos focar as seguintes áreas:
# Conhecimentos técnicos
# Habilidades comportamentais
# Início de carreira, boas práticas e campo laboral
# Uso de ferramentas
# Localização e marketing
# UX/UX Writing
 6

TRADUÇÃO 101:
PRIMEIROS PASSOS
Este é um assunto muito discutido entre os círculos de
tradutores. Afinal, será que um bom profissional precisa
ter formação superior ou pode ir melhorando o trabalho
conforme vai traduzindo?

Pessoalmente, minha opinião está completamente dividida.

Ainda que eu acredite que a formação técnica em diversas
áreas da linguística tenha uma influência grande no ato
tradutório, também estou ciente de que todo trabalho feito por
profissionais iniciantes é, para ser elegante, pouco prolixo.

Portanto, defendo a ideia de que a tradução é um continuum,

que melhora tanto com a prática quanto com os estudos
formais. Por isso, que tal conhecermos as áreas formais que
temos que estudar e as habilidades comportamentais que
precisamos cultivar?
 7

CONHECIMENTOS TÉCNICOS

Como dito anteriormente, a tradução é uma

atividade eminentemente intelectual. Logo,
ter um vasto domínio de várias temáticas
vindas da linguística é essencial para
executarmos um bom trabalho e também
para nos posicionarmos como autoridade
perante os clientes no mundo freelancer ou
os clientes internos quando trabalhamos para
alguma organização.

Ser referência em assuntos linguísticos dentro

da empresa e entre os clientes externos só traz
benefícios. Afinal, a comunicação corporativa
também passa pela escrita, e quem melhor
do que você para esclarecer dúvidas técnicas
sobre o assunto? Sem mais, vamos lá!

SINTAXE, SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA
Nós, tradutores, somos conhecidos por termos
um conhecimento funcional, técnico e estilístico
das línguas com as quais trabalhamos. Porém,
existe um ponto de início que é comum: bases
sólidas em sintaxe — a velha e boa gramática
— e em semântica. Incluo também ortografia,
mas não vou me aprofundar nesse ponto por
motivos óbvios.
A sintaxe é uma área dos estudos linguísticos
que foca a relação entre as palavras que formam
uma sentença e as regras de combinação que
possibilitam a produção de um discurso que seja
compreendido pelo interlocutor.
Por outro lado, a semântica foca o significado
dessa produção, isto é, que a intenção do locutor
seja clara e facilmente entendida pela outra parte.
8
Finalmente, a pragmática é o estudo do
discurso em contexto e do efeito que nosso
discurso tem sobre o interlocutor. Então, você
pode ver que os três conceitos são parte de um
todo funcional que é de grande relevância para
a tradução. Sabe por que?
Nunca podemos nos esquecer de que
traduzimos para um público-alvo e que
a função principal da tradução é verter o
significado íntegro de uma produção em língua
X para uma língua Y, pensando sempre no
que o autor quis passar para seus leitores e na
reação que este procurava com o seu trabalho.
Pensemos em gêneros como comédia, suspense
ou terror. Imagine gerar uma reação diferente da
proposta original. O que aconteceria com uma
das máximas da tradução que é a fidelidade?

LINGUÍSTICA DO TEXTO
A linguística do texto é uma área da
linguística que estuda as relações
transfrásticas, isto é, que tenta ir
além da análise de frases para ver o
texto como uma unidade pragmática
e funcional, de maior complexidade.
Ter noções dessa área é de
importância para quem trabalha
com tradução, já que temos que
entender o texto como uma unidade
só, com um objetivo bem definido.
Em outras palavras, as escolhas
feitas ao longo da execução do
trabalho têm um impacto no
produto final, e esse produto
final deve respeitar sempre a
intenção do original.
9
Note que eu não estou tocando
em assuntos como a gramática
do texto ou a análise do discurso,
que poderiam ser interessantes
para nosso propósito. No entanto,
a primeira disciplina não
inclui os aspectos culturais que
geraram aquela produção textual,
e a segunda é muito subjetiva,
assunto ainda controverso no
mundo da tradução.
É por isso que a linguística do
texto tem um peso maior ao
falarmos em um produto cuja
matéria-prima é a produção
cultural, sintática e semântica de
uma língua estrangeira.

LINGUÍSTICA CONTRASTIVA
Antigamente, o conceito mais difundido era o da
gramática contrastiva, vindo da linguística aplicada
ao ensino de línguas estrangeiras. Essa área se
dedica ao estudo de dois ou mais sistemas sintáticos
diferentes com o objetivo de encontrar semelhanças,
diferenças e características inexistentes entre eles.
No mundo da tradução, o aspecto puramente
sintático ganha grande relevância. Ao trabalharmos
com pelo menos duas línguas diferentes, é
fundamental conhecer em profundidade os sistemas
de cada uma delas.
Isso possibilita prever problemas de tradução e
entrega soluções sintáticas para resolvê-los.
Um exemplo claro entre um par próximo,
como o português e o espanhol, é o uso do
futuro do subjuntivo.
10
Como traduzir para o espanhol um segmento que
tem um período cujo verbo principal está em uma
construção nesse tempo, sendo que a língua de
Cervantes não o usa mais?
A virada para o conceito de linguística contrastiva
é mais recente, e é mais global. Além de tocar em
assuntos formais, sua preocupação é o sistema
como um todo, isto é, desde aspectos estruturais
até os aspectos da língua em uso, que nos levam à
cultura da língua-meta.
O conhecimento gramatical, aliado ao
conhecimento cultural da língua-meta, garante que
o nosso trabalho seja o mais adequado, tanto em
termos estruturais como em termos de aceitação
na cultura-meta. Um exemplo que eu gosto de dar
neste ponto é o Pai Nosso. Como seria a oração em
uma cultura cuja referência principal não é o pão?

HABILIDADES COMPORTAMENTAIS
Quando eu digo que sou tradutor há mais de 13 anos, como você
imagina meu dia a dia? A primeira coisa que deve chegar à sua
cabeça é eu mergulhado em livros, completamente isolado do
planeta, bebendo litros de café, olhando a paisagem pela janela
desde um lugar perdido no mundo. No entanto, a realidade é
completamente diferente.
11
Cultivar habilidades comportamentais não
apenas ajuda no nosso trabalho, que de forma
alguma é solitário, mas também alavanca outras
áreas de desenvolvimento. Também não podemos
esquecer que profissionais da tradução trabalham
em equipes multidisciplinares, não importa se é a
contratação é in-house ou como freelancer.
 12

BOA COMUNICAÇÃO

A imagem clássica de São Jerônimo traduzindo à luz das

velas é um lembrete constante de que a tradução pode ser uma
atividade bem solitária. Com ênfase em pode.

Se analisarmos bem o contexto geral, a tradução se enquadra

também no mundo da comunicação, com a particularidade
de que nossa atividade transita entre línguas. No entanto, ela
continua sendo comunicação e somos nós que a possibilitamos.

No dia a dia, os tradutores devem cultivar boas habilidades

comunicativas, já que, na atualidade, nosso trabalho deixou
de ser uma etapa isolada dentro de fluxos de trabalho. Em
empresas que têm tradutores in-house, é comum que eles
trabalhem em conjunto com designers, programadores e
profissionais de marketing.

E, da mesma forma, quem trabalha como autônomo não pode

perder a oportunidade de aumentar a rede de contatos com o
objetivo de ter mais clientes. E se eu contasse que conheci um dos
meus maiores clientes jogando futebol num domingo de manhã?

CURIOSIDADE
Se você já trabalha com tradução ou está
começando a se aventurar nesse mundo,
saiba algo importante: nós, tradutores,
questionamos toda e cada uma das nossas
escolhas e também somos excelentes
pesquisadores. Eu gosto de falar que, para
nós, Google não é apenas um buscador,
mas também uma habilidade.
A curiosidade no mundo da tradução
é o motor principal da nossa atividade,
e, embora isso pareça um pouco
estranho, vou explicar por meio de um
exemplo bem claro.
13
No início de carreira, somos pau para
toda obra: temos que trabalhar com uma
diversidade enorme de textos, áreas do
conhecimento e da produção e formatos.
Suponhamos que, com o intuito de ganhar
experiência, você receba um texto bem
específico sobre engenharia mecânica, focado
em motores rotativos.
Certamente, apenas o Google não será
suficiente para executar o trabalho de forma
satisfatória. Lembre-se: a primeira resposta do
buscador nunca é suficiente. Particularmente,
eu pesquiso em várias fontes antes de decidir
qual termo usar. Aquele ditado “a curiosidade
matou o gato” não se aplica em nosso trabalho.

ORGANIZAÇÃO
A quantidade de informação que tradutores em
geral têm que administrar é enorme. Vários
arquivos — originais e traduzidos —, glossários e
memórias de tradução, gestão de clientes — caso
você seja freelancer —, prazos e reuniões de equipe
de trabalho podem ser um pouco desesperadores
para quem está começando.
Ferramentas como Google Suite, Toggl, Asana,
Pomodoro e similares ajudam a manter tudo em dia.
A organização de absolutamente todos os arquivos
com os quais você trabalha e das suas fontes
de consulta é fundamental para ter um fluxo
de trabalho tranquilo e sem empecilhos, tirar
dúvidas terminológicas em textos específicos,
ter previsibilidade das suas atividades e,
principalmente, cumprir prazos.
14
COMPETÊNCIA INTERCULTURAL
A tradução é uma das atividades profissionais mais
antigas da humanidade, uma vez que o contato entre
culturas diferentes não é um fenômeno exclusivo
da globalização.
A grande diferença entre tradutores e outros
profissionais que trabalham com textos escritos é
que nós transitamos entre culturas e precisamos
ter a capacidade de analisá-las de forma objetiva
para conseguirmos expressar determinado
produto cultural na língua-alvo. Mas onde entra a
competência intercultural?
Traduzir é um ato de negociação constante. Portanto, as
adaptações para que o texto traduzido tenha o mesmo
impacto que o original devem ser feitas de forma
crítica, equilibrando a intenção do original e as regras
culturais, sintáticas e semânticas dos leitores-meta.
 15

PREPARAÇÃO,
INÍCIO DE CARREIRA,
BOAS PRÁTICAS E
CAMPO LABORAL
Como em toda profissão, o início de carreira talvez pareça um
pouco confuso, já que pode existir certa distância entre o que
aprendemos na faculdade e a realidade do mercado de trabalho.

Ficar com um pouco de insegurança também é normal,

especialmente na nossa área, na qual damos voz a especialistas que
não falam nossa língua. No entanto, recomendações sobre como
começar a dar forma a nossa carreira são sempre bem-vindas.
 16

PREPARAÇÃO

Eu sempre indico começar a trabalhar com tradução estando

na faculdade. É de vital importância aproveitar o espaço
multidisciplinar que o mundo acadêmico oferece. Nesse
sentido, é relevante que você comece a construir pontes com
outros cursos e se ofereça para traduzir o que for necessário.

A prática constante em áreas diversas tem como impacto

uma familiaridade maior com segmentos produtivos que
poderiam ser parte do seu dia a dia. Na universidade, o que
vale é traduzir o que chegar na sua mão. Lembre que ter
uma rede ampla de contatos que fazem sentido para você é
garantia de trabalhos no futuro.

Outra iniciativa interessante é trabalhar em programas de

voluntariado de ONGs internacionais, como Translators
without Borders. Primeiro, porque esse é um critério que
recrutadores levam em consideração no momento de
analisar seu currículo. Segundo, porque você já vai conhecer
o funcionamento de um time de tradução dentro de uma
organização internacional. Win-win.

INÍCIO DE CARREIRA
O caso da tradução é bem interessante,
já que realmente não temos noção do
que nos espera no mundo do trabalho.
Particularmente, eu já passei por
campos tão diversos como o literário, o
jurídico e o de tecnologia, mas as áreas
que conheço melhor são engenharia
mecânica e segurança do trabalho.
Isso porque trabalhei nessas áreas como
tradutor in-house em uma multinacional
de manufatura. Atualmente, minha
especialidade é marketing internacional
porque trabalho na área.
17
Ter contato com várias temáticas bem no início é
importante. Desse modo, podemos entender melhor
qual assunto nos gera menos dificuldade ao traduzir e,
assim, podemos focar o estudo em uma área específica.
Ao mesmo tempo, é importante sempre seguir
as tendências de mercado e de tecnologia, pois o
desenvolvimento da análise de dados aplicada a
comunicação, redes neurais e processamento de textos
multilíngues também são fatores importantes que não
podem ser ignorados.
No entanto, como regra, o assunto da especialização
chega de forma bem natural. Por isso, se não aparecer
algo interessante bem no início, não entre em
desespero; isso é completamente normal.

BOAS PRÁTICAS
O básico aqui é entender que,
independente da modalidade de
trabalho que você escolha para sua
carreira, in-house ou freelancer, existem
certos aspectos que são transversais.
O primeiro é ter uma comunicação
eficiente, seja com sua equipe ou
como freelancer, algo essencial
para alinhar expectativas e definir
responsabilidades. É necessário ter
clareza de qual é seu papel dentro
da equipe, do que você vai entregar
e de como você vai interagir com os
outros profissionais.
Quando você trabalha como
freelancer, o onboarding (processo de
implementação do seu trabalho) evita
possíveis desencontros com os clientes.
18
O recomendado é explicar seu
fluxo de trabalho e como vão
entrar em contato com você, bem
como estabelecer suas próprias
responsabilidades e a forma como o
cliente vai participar do processo. Não
ignore o pós-venda, e inclua no seu
orçamento um número determinado
de ajustes que poderão ser feitos após
a finalização do trabalho.
A documentação também é
essencial para o bom andamento
do trabalho. Além de suas
comunicações, sempre armazene
de forma organizada todos os seus
glossários, memórias de tradução
e, principalmente, as fontes que
você usa com mais frequência para
resolver dúvidas terminológicas.

CAMPO LABORAL
Profissionais da tradução são conhecidos por ter uma
grande versatilidade, que está relacionada com as
habilidades que desenvolvemos ao longo da nossa
formação acadêmica. Você pode pensar em duas
alternativas: ser profissional freelancer ou tradutor
in-house dentro de uma empresa.
Como freelancer, você pode ter clientes diretos,
mas, para chegar a esse patamar, é necessário ter
experiência e um portfólio. Portanto, é sempre
recomendado adquirir experiência trabalhando
para agências.
O volume costuma ser alto e a diversidade de temas
é bem grande, de modo que esse é um ótimo primeiro
emprego. Outra vantagem é que você pode conhecer
por dentro como funciona a indústria dos idiomas.
Por outro lado, se o seu foco é trabalhar em empresas,
seu campo de atuação vai depender do segmento dela.
19
Se for produção de bens, você pode trabalhar como tradutor
técnico, intérprete simultâneo — embora essa tarefa exija um
treino específico —, assistente técnico e tradutor in-house
para cobrir todas as demandas linguísticas da operação.
Em empresas de comunicação e marketing, um tradutor
pode desempenhar funções relacionadas com marketing
internacional, produção de conteúdo mono e multilíngue e
legendagem de conteúdo audiovisual — que também requer
treinamento especial.
Outra possibilidade é integrar equipes multidisciplinares,
indo desde a concepção de produtos — quando são pensados
de forma multilíngue — até recursos humanos.
Finalmente, não podemos esquecer que existe a figura do
tradutor juramentado. Para ganhar esse título, você deve
ser aprovado em concurso público, tendo então, como objeto
de trabalho, todo tipo de documento de caráter oficial que
precisa ser traduzido para ser usado dentro do país. No
entanto, os concursos não são regulares, sendo realizados
segundo a necessidade de cada estado.
 20

FERRAMENTAS DE
TRADUÇÃO ASSISTIDA
POR COMPUTADOR,
LOCALIZAÇÃO E
LEGENDAGEM
A tradução está cada vez mais tecnologizada; esse é um fato
com o qual temos que saber lidar para nos preparar para o
futuro da profissão.

As vantagens de usá-la são diversas: é possível trabalhar com

um fluxo maior e mais rápido, a qualidade do trabalho aumenta
e as interfaces das ferramentas tornam o trabalho menos
cansativo. Mais uma vez: elas são nossas aliadas!
 21

É importante diferenciar a tradução automática da

tradução assistida por computador. Na primeira, várias
operações algorítmicas alteram os textos de forma
automática. Geralmente, esse recurso é recomendado
para unidades sintáticas simples, que não dão espaço
para duplas interpretações e têm uma intenção simples.

Um exemplo disso é usar algum tradutor automático

em uma viagem internacional para perguntar por um
endereço. A estrutura por trás dessa função linguística
é sintaticamente simples, não oferecendo maiores
problemas para o motor de tradução da máquina.

Já a tradução assistida por computador responde a

uma dinâmica bem diferente e tem um funcionamento
interno mais complexo.

TRADUÇÃO ASSISTIDA
POR COMPUTADOR
A tradução assistida por computador é recomendada para
textos de maior volume, com estruturas sintáticas mais
sofisticadas e que pedem consistência terminológica
para uma compreensão sem margem para erros por
parte do leitor.
Essas ferramentas são conhecidas como CATs, ou Computer
Assisted Translation Tools. Elas usam algoritmos e
processos de aprendizagem de inteligência artificial próprios
para sugerir a tradução para um segmento específico.
Em outras palavras, quanto mais você traduz em alguma
dessas ferramentas, mais você treina o algoritmo para
que ele traduza da mesma forma que você. É por isso que
ela é assistida — a máquina sugere e cabe ao profissional
validar o trabalho feito pela máquina, processo conhecido
como pós-edição.
22
Outra vantagem de usar ferramentas especializadas
em tradução é que elas contam com uma
variedade de recursos que são específicos para
a área: criação de memórias de tradução, gestão
de glossários, inclusão de dicionários e adição de
referências de pesquisa.
Finalmente, porém não menos importante, a
interface de usuário dessas ferramentas ajudam
muito no trabalho, já que segmentam o texto e
apresentam tais segmentos de forma isolada, não
como um bloco de texto, evitando o desgaste de quem
traduz diretamente em um documento, por exemplo.
Existem várias ferramentas de tradução assistida
disponíveis no mercado, com versões gratuitas e
pagas. Porém, as mais conhecidas são: WordFast,
Memosource, MemoQ e Trados, sendo a última a
mais usada por agências de tradução.

FERRAMENTAS DE LOCALIZAÇÃO
DE SOFTWARE
Em termos gerais, dentro da indústria, o termo
localização é o padrão usado para se referir à
tradução de interfaces digitais de produtos em
ambientes multilíngues, como videogames,
aplicativos ou landing pages, por exemplo.
As ferramentas de localização de software mais
usadas são: Transifex, Phrase, Lokalise e SmartCat.
O interessante de usá-las é que basta trabalhar na
plataforma, sem a necessidade de entrar no código ou
na programação per se.
Um aspecto que você deve considerar: quando se trata
de produtos digitais, é necessário ter conhecimentos
em UI, UX e UX Writing, disciplinas vindas do
Design e que têm um papel importantíssimo no
desenvolvimento de produtos digitais. Mais uma vez,
fica claro que a atividade tradutória requer estudo
constante e diálogo com outras disciplinas.
23
FERRAMENTAS DE LEGENDAGEM
O processo de legendagem responde a um padrão que é rígido
e está relacionado com a multicanalidade comunicativa
dessa modalidade.
Essa multicanalidade, no nível cognitivo, é a interação dos
canais auditivo e visual para a criação da legenda. Em outras
palavras, você deve considerar os elementos contextuais da
cena para poder legendar os intervalos segundo os padrões
internacionais. Dica: a Netflix é uma ótima referência para
você entender essas especificidades.
Tais padrões incluem orientações sobre o número de
caracteres por linha e como segmentar o tempo de fala de
cada cena. Pode parecer complexo, mas esses requisitos
estão relacionados com a capacidade de processamento de
caracteres que o olho do ser humano tem por segundo.
Em relação a ferramentas, existem várias disponíveis no
mercado, sendo as mais populares: Subtitle Workshop,
Subtitle Creator e Aegisub Advanced Subtitle Editor.
 24

TRADUÇÃO E
MARKETING
Embora não pareça tão óbvio, existem muitos
pontos em comum entre tradução e marketing:
ambas trabalham com comunicação, usam dados
para a tomada de decisão, são uma mistura de
criatividade e conhecimento técnico e têm como
foco um público determinado. Interessante, certo?

No entanto, de que forma uma das áreas mais

técnicas das Ciências Humanas dialoga com
o marketing, que tem como objetivo gerar
oportunidades de negócios? As respostas estão
nos conceitos de SEO, localização e transcriação.

SEO INTERNACIONAL
O SEO é um conjunto de técnicas que usamos para que
nossa produção textual conquiste as primeiras posições
dos buscadores.
Dentro das ações de otimização de textos para a internet,
temos a estrutura e hierarquização de informações
nos intertítulos, a escaneabilidade (formatação do
texto para que o mais importante possa ser encontrado
rapidamente) e o uso de palavras-chave ao longo do texto.
Todos esses conceitos são de importância para quem
trabalha com tradução de textos para o marketing pelos
seguintes motivos:
# tais textos estão estruturados para responder
às dúvidas dos leitores que podem estar em
qualquer fase da sua jornada de compra —
descobrimento, consideração ou decisão;
25
# os leitores querem encontrar as
respostas de forma rápida;
# principalmente, a palavra-chave que norteia a
produção do texto deve manter a intenção de busca
do original — ou pelo menos deve ser próxima.
Por outro lado, vale ressaltar que o marketing está
intimamente relacionado com a maturidade dos
mercados locais. Portanto, as necessidades dos
falantes de uma mesma língua, porém que morem em
países diferentes, são diferentes também, porque suas
economias estão em ciclos diferentes.
Em conclusão, traduzir em modo piloto automático
não garante que o texto tenha um bom desempenho
no mercado-meta. Nesse sentido, é interessante que
você esteja familiarizado com ferramentas de análise
de palavras-chave, como também com técnicas de
pesquisa de mercado e tendências.

LOCALIZAÇÃO
Como o termo sugere, a localização é uma técnica
de tradução de cunho mais comercial, e que visa
incluir os aspectos da cultura local para que os
produtos tenham a melhor recepção possível.
Da mesma forma, a localização não trabalha
apenas com textos. Profissionais dessa área
trabalham também com a adaptabilidade dos
produtos, tanto nos campos de requisitos legais
quanto de interação, pensando em embalagens e
nos textos que elas trazem.
É possível considerar como um belo exemplo de
localização aqui no Brasil o Toyota Bandeirante,
que na época era internacionalmente conhecido
como Land Cruiser.
26
A decisão para o nome do modelo aqui no país
estaria claramente baseada nos exploradores
do Sertão que viajaram milhares de quilômetros
entre os territórios da América portuguesa e
espanhola à procura de riquezas. A ideia do Land
Cruiser é similar: ter a habilidade de viajar longas
distâncias para descobrir novos horizontes.
No campo do marketing digital e da produção
de conteúdo web, o conceito também é
difundido nesse sentido. Afinal, os profissionais
que trabalham na área devem ser capazes
de interpretar intenções de busca locais
para definir as melhores palavras-chave
que vão disputar as primeiras posições nas
páginas de resultados.
 27

TRANSCRIAÇÃO

A transcriação é uma modalidade relativamente nova

dentro do campo da tradução e do marketing, e muitas
vezes é associada ao mundo da publicidade.

Diferentemente do que ocorre com a localização,

transcriadores geralmente vêm do mundo do copywriting
(escrita persuasiva), e o trabalho está mais relacionado
com a criação de um texto, que pode ser bem diferente do
original, porém sempre mantendo a intenção do original.

O melhor exemplo de transcriação é quando não existem

equivalentes semânticos entre línguas, ou quando o
conceito X não existe ou não tem relevância na cultura Y
que é alvo da transcriação.

Nesse sentido, textos religiosos são casos de transcriação,
já que nem todos os conceitos que usamos no Ocidente
têm a mesma importância no Oriente. É o caso do exemplo
que dei anteriormente: o que acontece com o Pai Nosso se
o pão não tiver uma carga semântica como aqui no Brasil?
No mundo do marketing funciona da mesma forma:
como entrar em culturas que desconhecem conceitos
que para nós são corriqueiros? A única alternativa é criar
uma solução paralela, culturalmente aceita e com a
mesma função.
 28

PALAVRAS FINAIS
O conteúdo que foi apresentado é apenas uma amostra
bem sucinta do mundo da tradução, de algumas
das disciplinas que são parte dela, do panorama dos
profissionais das línguas no mercado e da relação da
tradução com o marketing e a tecnologia.

Da mesma forma, foram apresentadas algumas boas

práticas que são de utilidade durante o trabalho e uma
descrição breve das habilidades comportamentais que
devem ser cultivadas. Espero que este material seja
útil para você e que, principalmente, nunca pare de se
atualizar e estudar.

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profissional da tradução? Cadastre-se agora mesmo
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Revisão, Planejamento de Pauta e Diagramação, a
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