Você está na página 1de 60

DIREITO FISCAL – AULAS PRÁTICAS

REGENTE: ANA PAULA DOURADO


ASSISTENTE: DANIELA TAVARES
04/10/2021
Programa:
❖ Relação entre o contribuinte (sujeito passivo de imposto) e o Estado (sujeito ativo).

❖ Existem três grandes tributos:


− Impostos
− Taxas
− Contribuições financeiras

❖ Relação jurídica tributária: sujeitos passivos e ativos de imposto, características desta


relação jurídica, casos de responsabilidade tributária

❖ Princípios estruturais do Direito Fiscal:


− Princípio da legalidade
− Princípio da proibição da retroatividade fiscal (génese no princípio da segurança
jurídica)
− Princípio da tributação do rendimento real
− Princípio da praticabilidade

❖ IRS
❖ Elisão ou abuso fiscal, evasão e planeamento fiscal agressivo (pandora papers): cláusula
geral anti abuso e clausula específica anti abuso

Bibliografia:

− Ana Paula Dourado, Direito Fiscal (2020)


− José Casalta Nabais, Direito Fiscal (2016)
− J. L. Saldanha Sanches, Manual de Direito Fiscal (2007)
− Paula Rosado Pereira, Manual de IRS (2018)

Legislação que contenha a Lei Geral Tributária, o Código IRS, o Código IRC, Estatuto dos
Benefícios Fiscais, Código do Procedimento e do Processo Tributário e a CRP

Legislação online » site da autoridade tributária e aduaneira


Publicações e Artigos Periódicos » CIDEEFF
Jurisprudência » InfoCuria
Tribunal Constitucional, Supremo Tribunal Administrativo (acórdãos), Tribunais de 1ª
Instância e Tribunal de Justiça da União Europeia
Bens não sujeitos a impostos:

− Os criptoativos, em Portugal e na União Europeia.


− Os bens não sujeitos a registo.
− O saldo bancário.

06/10/2021
Matéria dos Tributos + Impostos:
Tributos: receitas criadas pelo Estado/outras entidades públicas para a satisfação de
necessidades públicas; não têm natureza sancionatória.
Art 103º/1, CRP – o sistema fiscal português visa “a satisfação das necessidades financeiras
do Estado e outras entidades públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza”.
Art 165º/1/i), CRP – reserva relativa de competência legislativa da AR relativamente à
criação de impostos e sistema fiscal, por um lado, e o regime geral das taxas e das demais
contribuições financeiras a favor das entidades públicas, por outro.

Tributos Fiscais vs Tributos Parafiscais

Criados com finalidades públicas não Criados por entidades públicas de base não
sancionatórias – em regra, finalidades territorial e cujas receitas escapam ao
de arrecadação de receitas. princípio de unidade orçamental (tributos de
Assoc. Públicas, fundações, institutos
públicos, receitas do orçamento da SS),
provocando a desorçamentação das receitas
INCLUEM

Art 3º/2, LGT + 165º/1/i), CRP – classificação dos tributos: impostos (aduaneiros e
especiais), e outras espécies criadas por lei, designadamente as taxas e demais
contribuições financeiras a favor de entidades públicas.
Qualquer uma destas três categorias de tributos visa, em regra, assegurar a satisfação das
necessidades financeiras do Estado e de outras entidades públicas; mas atualmente, juntaram-
se outras finalidades tais como as da prossecução de fins ambientais (tributos sobre
empresas que desenvolvem atividades poluentes) e de alteração de comportamentos
individuais com ou sem externalidades negativas (comportamentos individuais mais
saudáveis para o próprio indivíduo (não consumir bebidas alcoólicas), para si e para 3ºs
(não fumar) ou para si e para o ambiente (sacos plástico).
Sistema Fiscal e Tipos de Normas
O sistema fiscal é complexo e prossegue múltiplas funções, concretizadas por três grupos
de normas:

 Normas com finalidades fiscais – consistem na arrecadação de receitas, constituem o


grupo mais relevante de Direito Fiscal e inserem-se no tipo sistemático.
Repartem a carga fiscal entre o universo de contribuintes, com base no princípio da
capacidade contributiva/princípio da igualdade.

 Normas com finalidades sociais – trata-se de normas cujas finalidades fiscais não são
predominantes, mas prosseguem outras finalidades públicas, sejam políticas,
económicas, culturais, ambientais (normas extrafiscais).
Podem constituir benefícios fiscais ou até agravamentos fiscais se o comportamento
adotado pelo contribuinte não for o pretendido.

 Normas procedimentais e processuais – disciplinam a relação jurídica tributária e o


contencioso tributário.
+ Normas com finalidades de simplificação na aplicação da lei – são regulamentos ou
orientações genéricas que concretizam conceitos legais vagos e clarificam a
aplicação da lei fiscal.

Impostos – são tributos de carácter unilateral, materializados por prestações pecuniárias (e


não em espécie; exceção: países produtores de petróleo – uma parcela do imposto é entregue em
espécie ao Estado) cuja finalidade seja a arrecadação de receitas a título principal/secundário
por parte de entidades públicas (impostos fiscais), ou até a prossecução de quaisquer outras
finalidades públicas (impostos extrafiscais), e que não tenham por base uma infração e
correspondente sanção.

• Tributos de carácter unilateral (sem contraprestação pública direta e imediata), que


servem as necessidades financeiras gerais
≠ taxas, que assentam na bilateralidade (prestação pecuniária e direta e imediata
contraprestação pública)
≠ contribuições especiais, que assentam num sinalagma difuso (bilateralidade com
externalidades).
• Prosseguem finalidades públicas não sancionatórias – a finalidade principal dos
impostos fiscais é a arrecadação de receitas; já a dos impostos extrafiscais é a
orientação de comportamentos individuais ou coletivos (ex: impostos sobre consumo
de sacos plástico, sobre empresas com atividades poluidoras, sobre a utilização de
transportes aéreos, sobre os jogos de fortuna e azar, consumo de tabaco, álcool, açúcar).
• Sujeitos ao princípio orçamental da universalidade – servem para financiar as
despesas orçamentais.
Sujeitos ativos (18º, LGT) – entidades públicas de base territorial: Estado, Regiões
Autónomas e Municípios.
Os impostos estão sujeitos a reserva de lei e devem tributar a capacidade económica
(capacidade contributiva), assentando em critérios ad valorem.
Como vivemos numa comunidade global, existe uma interdependência dos Estados – os
contribuintes mais ricos têm oportunidade de escolher os Estados com tributação mais
favorável (empresas que facilmente se podem descolar). Já não é o Estado a impor a sua
soberania tributária aos contribuintes, mas sim os contribuintes que escolhem o Estado.

A reserva de lei parlamentar fiscal (165º/1/i) e 103º/2, CRP) serve para justificar a
repartição de encargos segundo a capacidade contributiva e para não serem cometidos
abusos por quaisquer entidades públicas não eleitas por sufrágio universal.
No nosso ordenamento constitucional e para efeitos de reserva de lei fiscal, os impostos
podem ser fiscais (obtenção de receitas) e extrafiscais (prossecução de finalidades sociais
ou de orientação de comportamentos), devendo exigir-se que a obtenção de receitas não
seja estranha ao tributo. Em qualquer dos casos, deve haver um controlo dos tributos
prosseguidos, através do princípio da proporcionalidade.

Classificações de Impostos
❖ Impostos sobre o Rendimento, o Consumo e o Património (objeto)
• Imposto sobre o Rendimento:
− Das pessoas singulares (IRS): princípio geral de universalidade
− Das pessoas coletivas (IRC): dada a mobilidade atual dos fatores de produção
(capital), tem sido proposta a substituição do imposto sobre o rendimento das PC
baseado na tributação do lucro por um imposto no destino dos bens ou serviços.
A mobilidade dos fatões tem colocado em crise os impostos sobre o rendimento –
avultados montantes de rendimentos de capitais têm sido colocados em territórios de
baixa ou nula tributação – “não cooperantes” ou paraísos fiscais – porque não
fornecem informações aos Estados de residência dos sujeitos que aí colocam as suas
poupanças.

• Impostos sobre o Consumo incidem sobre o:


− Consumo geral de bens e serviços (IVA) – incidem sobre todos os sujeitos na
mesma medida, independentemente da capacidade económica de cada um. No
entanto, são mais neutros para o funcionamento da economia, uma vez que
implicam menos distorções nas opções acessíveis aos contribuintes.
− Consumo específico de certos bens (impostos especiais sobre o consumo – ex:
tabaco, álcool e produtos petrolíferos).
O art 104º/4, CRP faz referência a uma função redistributiva dos impostos sobre o
consumo – a tributação do consumo visa adaptar a estrutura do consumo à evolução
das necessidades do desenvolvimento económico e da justiça social, devendo onerar os
consumos de luxo.
• Impostos sobre o Património são impostos sobre a riqueza, podendo ser estáticos ou
dinâmicos; podem incidir sobre todo o património, imobiliário ou mobiliário
(impostos gerais sobre o património), ou sobre uma parte do património.

ESTÁTICOS
− Imposto estático sobre o Património, imobiliário ou mobiliário (impostos gerais
sobre o património) – incidem sobre a detenção da riqueza e visam controlar a
capacidade contributiva do sujeito passivo (através do cruzamento de dados com
as declarações de IRS).
− Imposto estático sobre uma parte do património (ex: Imposto Municipal sobre
Imóveis) – incide sobre os proprietários, usufrutuários ou superficiários dos
prédios rústicos e urbanos situados no território português (ART 1º E 8º, CIMI).

DINÂMICOS podem recair sobre:


− Transmissões Onerosas (ex: Imposto sobre a Transmissão de Imóveis – IMT) –
incide sobre as transmissões onerosas do direito de propriedade/figuras
parcelares desse direito, sobre bens imoveis situados no território nacional de
imóveis, qualquer que seja o título por que se operem. O IMT é devido pelas
pessoas (sing/colet) para que se transmitam os bens imóveis.
− Transmissões Gratuitas – impostos sobre sucessões e doações; as pessoas
singulares são sujeitas a este imposto (ex: art 2º/2, Código Imposto Selo).
Em Portugal, embora o art 104º/3, CRP refira que a tributação do património deve
contribuir para a igualdade dos cidadãos, até hoje não se criou um imposto geral sobre
o património.

❖ Impostos Reais e Pessoais (função que desempenham)


• Impostos Reais: centram-se na manifestação da riqueza, desconsiderando outros
elementos diferenciadores relacionados com a capacidade económica do sujeito (tal
como a situação familiar, despesas de saúde e educação, etc). Ex: IVA, IRC, IMI, IMT.

• Impostos Pessoais: têm em conta alguns elementos diferenciadores relacionados


com a capacidade contributiva do sujeito, estando ligados a um conceito de justiça,
podendo revelar-se menos eficientes por provocarem distorções. Ex: IRS (art 104º/1,
CRP).

A unicidade traduz a sujeição dos rendimentos de capitais a um tratamento tão


favorável como os rendimentos de trabalho, serviço ou pensões – todavia, o nosso IRS
(introduzido pela reforma de 1988) não reflete qualquer unicidade.
Vivemos num sistema dual, segundo o qual os rendimentos de capitais são sujeitos a
uma taxa única (mais favorável) e afastados de progressividade.

O imposto pessoal também exclui de tributação o mínimo de existência – até um


determinado montante, não há sujeição a Imposto sobre o Rendimento.
Art 104º/1 – economias de escala (os encargos familiares diminuem a capacidade
contributiva, devendo contribuir para a redução do imposto a pagar).

Carácter pessoal do IRS é aferido pelas deduções à coleta de despesa de carácter social
(saúde, educação, etc).
❖ Impostos Proporcionais, Progressivos e Regressivos
• Impostos Proporcionais: taxa/alíquota fixa, sob a forma de uma percentagem.
*Impostos reais costumam ser proporcionais.

• Impostos Progressivos: taxa/alíquota variável – implica um aumento da taxa, tendo


em conta o aumento do rendimento, concretizando-se por escalões (quanto maior o
nºescalões e taxas, maior a progressividade).
*Impostos pessoais costumam ser progressivos (104º/1, CRP) – esta questão +
liberdade de movimentos » pode levar a fenómenos de exílio fiscal (quando as taxas
são demasiado elevadas, +50%, os contribuintes podem alterar a residência ou
nacionalidade.

• Impostos Regressivos: taxa/alíquota variável – tributação mais elevada de uma


menor capacidade contributiva ou tributações iguais de diferentes capacidades
contributivas. Tanto as taxas como os impostos regressivos são inconstitucionais
(contrariam o princípio da igualdade).
Contudo, os elementos regressivos dos nossos impostos, não implicam
necessariamente a sua inconstitucionalidade se, no conjunto, o imposto não for
regressivo e apenas tenham contribuído para reduzir a progressividade.

❖ Impostos Direitos e Indiretos – art 6º, LGT + 112º e 113º, TFUE (critério financeiro)
• Impostos Diretos: são aqueles que atingem as manifestações diretas/imediatas da
riqueza e da capacidade contributiva (Impostos sobre Rendimento e Património).

• Impostos Indiretos: incidem sobre manifestações indiretas/mediatas da riqueza e da


capacidade contributiva (Impostos sobre o Consumo e a despesa).

Critério da repercussão – IVA verifica-se repercussão

❖ Impostos de Obrigação Única e Periódicos


• Impostos de Obrigação Única: o facto tributário nasce e extingue-se com um único
ato/negócio jurídico (consumo, aquisição onerosa/gratuita). IMT

• Impostos Periódicos: o facto tributário renova-se por diferentes períodos fiscais,


dando origem a obrigações declarativas enquanto não se informa a administração
tributária da extinção desse facto ou da atividade económica.

No fundo, o facto tributário nasce e extingue-se ao fim de um determinado período


fiscal (ano fiscal ou período mais curto), mas a continuidade da relação jurídica
tributária faz nascer relações jurídicas que adquirem um carácter de permanência até
que se verifique a alteração ou cessação da situação.

Permitem o controlo da situação fiscal do sujeito passivo pela administração


tributária – criam deveres declarativos para o sujeito passivo; contudo, evitam o
cumprimento renovado de alguns desses deveres, uma vez que se presume que a
relação jurídica tributária continua inalterada » apenas se apura o valor do
rendimento ou património em cada período fiscal.
Torna-se difícil categorizar os impostos, neste âmbito:

− IVA – incide sobre cada transmissão; no entanto, os deveres declarativos e de


liquidação do imposto são periódicos.
Prazo de caducidade – para efeitos de contagem considera-se o sujeito passivo de
IVA e não o consumidor final (liquidações e dívidas dos sujeitos passivos de IVA).

− IRS e IRC – embora sejam periódicos, as retenções a título definitivo têm carácter
de obrigação única.

Tributos, classificações de tributos


Taxas, impostos e contribuições especiais
103º/1 – aplica-se a todos os tributos
103º/2 e 3 – aplica-se apenas aos impostos

165º/1/i) – regime dos impostos e o regime geral das taxas (cada taxa não está sujeita ao
crivo da AR)

Art 3º/1/a) – impostos fiscais e parafiscais


Art 3º/1/b) – impostos estaduais (criados pelo órgão de soberania), regionais (Assembleias
legislativas regionais – 227º) e locais (Assembleia Municipal; os municípios não têm este
poder).

Finalidades dos tributos:


Arrecadação de receitas
Orientação de comportamentos
Repartição justa da riqueza – princípio da capacidade contributiva

TMPC – cobrir eventos que ocorram no município


Incide sobre o valor patrimonial de um imóvel

Elementos essenciais deste tributo


Taxa – existe uma bilateralidade? Uma correlação direta entre a AP e o sujeito passivo? Não
é possível atribuir este tributo a uma pessoa individualmente, nem a um conjunto de
pessoas.
Imposto – o TC considerou as TMPC como impostos; não podem ser criadas por
regulamento de uma Assembleia Municipal, mas por lei da AR.
Estrutura – ad valorem, incide sobre o património, remetendo para o IMI. Não existe um
benefício » capacidade contributiva

13/10/2021
Taxas:
Taxas – é um tributo sinalagmático (exige consignação - os contribuintes sabem
exatamente por que razão, ou em relação a que bem é que se está a pagar uma taxa) e
bilateral (prestação pecuniária direta, que implica uma contraprestação pública imediata),
podendo prosseguir finalidades fiscais ou extrafiscais. Compreende 3 tipos de situações
– art 4º/1, LGT:

• Utilização de serviços públicos;


• Utilização de um bem público/semipúblico ou de um bem de domínio público;
• A contrapartida pela remoção de um obstáculo jurídico ao exercício de uma atividade
por parte dos particulares.

Art 165º/1/i), CRP – exige apenas a criação de um “regime geral das taxas” e não de cada
taxa » há apenas um Regime Geral das Taxas das Autarquias Locais (aprovado pela Lei nº53-
E/2006, 29 dezembro).

➢ O bem utilizado/serviço prestado tem de ser individualizável e presente.

➢ A bilateralidade só ocorre se os custos pelo bem utilizado/serviço prestado/remoção


do obstáculo jurídico não excederem o benefício recebido por parte do particular »
princípio da cobertura de custos. Assim:
o Taxas < gastos – o restante custo tem de ser coberto por impostos
o Taxas > gastos – saímos do campo da bilateralidade, passando a ser cobrados
impostos, cuja competência está sujeita à reserva de lei (165º/1/i) e 227º/1/i),
CRP) » imposto oculto
O que se verifica é que a jurisprudência não tem vindo a aplicar o princípio de
proporcionalidade de forma absoluta, já que introduziu como limite a proibição da
manifesta desproporcionalidade - significa isto que os contribuintes não estão
totalmente protegidos contra abusos de entidades públicas na cobrança de taxas.

Regime Geral das taxas das autarquias locais


Art 10º/2 - o sujeito a quem seja exigido o pagamento de uma taxa por parte de um serviço
Público tem direito a reclamar ou impugnar o seu pagamento com fundamento em qualquer
ilegalidade.
Art 8º/2/d) - o regulamento que crie taxas municipais o das freguesias contém
obrigatoriamente as isenções e a sua fundamentação, sob pena de nulidade.
Art 3º - as taxas devem incidir sobre: a prestação concreta de um serviço público local; a
utilização privada de bens do domínio público e privado das autarquias locais; ou a remoção
de um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares, da atribuição das autarquias
locais.
Art 4º - Princípio da equivalência jurídica: pressupõe o sinalagma jurídico e é um
corolário do objeto das taxas (relaciona-se com o sinalagma económico). Concretiza o
princípio da proporcionalidade em matéria de taxas, sendo densificado pelo princípio da
cobertura de custos (o valor das taxas das autarquias locais não deve ultrapassar o custo da
atividade pública local ou o benefício auferido pelo particular).
Tal como os impostos, também as taxas podem ter finalidades fiscais e extrafiscais. NOS
termos do art 4º/1, a criação de taxas pelas AL visa a satisfação das necessidades financeiras
das AL e a promoção de finalidades sociais e de qualificação urbanística, territorial e
ambiental. O nº2 acrescenta que o valor das taxas pode ser fixado com base em critérios de
desincentivo à prática de certos atos ou operações » finalidade extrafiscal.

Art 5º - Princípio da justa repartição dos encargos públicos: concretização do princípio


do bem-estar geral. De acordo com este princípio, as AL podem criar taxas para
financiamento das despesas públicas locais, desde que as utilidades sejam divisíveis; mas as
taxas também podem prosseguir finalidades extrafiscais, tal como a promoção de
qualificação ambiental.
Conjugando os arts 4º/2 e 5º, restringe-se o princípio da proporcionalidade ou da
cobertura de custos. É de referir ainda que deve ser exigida a afetação das taxas às
finalidades extrafiscais prosseguidas (consignação).

Taxa Municipal de Proteção Civil


Art 6º/1/f) - prevê a criação de taxas municipais pela prestação de serviços no domínio da
prevenção de riscos e da proteção civil.
Proteção civil: é uma atividade que visa prevenir os riscos inerentes às situações de acidente
grave ou de catástrofe, atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as pessoas e bens em
perigo quando aquelas situações ocorram.
Como esta taxa englobava indiferenciadamente todos os custos do serviço municipal de
proteção civil, tanto o benefício como a causa da atividade eram diluídos, não sendo possível
identificar o sinalagma jurídico. Além disso, este tributo tinha uma estrutura semelhante ao
IMI, assentando na capacidade contributiva dos sujeitos passivos e não no binómio custo-
benefício.

Impostos – capacidade contributiva (princípio igualdade)


Taxas – princípio equivalência: correspondência entre a taxa que está a ser cobrada e o valor
do serviço que está a ser prestado.
Contribuições Financeiras + Benefícios Fiscais:
Contribuições Financeiras - trata-se de uma categoria residual que enquadra:
➢ Tributos que não apresentam a unilateralidade e a cobertura da generalidade das
despesas dos impostos;
➢ Tributos não apresentem a bilateralidade das taxas;
➢ Tributos a favor de entidades públicas de base não territorial com características de
sinalagma difuso.
A doutrina tem agrupado as CF em 3 categorias:
❖ Contribuições destinadas a financiar serviços de interesses difusos que beneficiam
concretamente alguns grupos de destinatários, mas com externalidades positivas (ex:
prevenção de riscos naturais);
❖ Contribuições especiais parafiscais – financiam entidades públicas de base não
territorial, cuja atividade beneficia um grupo homogéneo de destinatários;
Taxas de regulação económica - são essenciais para financiar as despesas e garantir a
Independência das entidades reguladoras em relação aos governos emanados das
maiorias parlamentares.
As contribuições especiais parafiscais devem respeitar critérios materiais, tais como:

− Os contribuintes devem constituir um grupo homogéneo;


− A contraprestação deve ser suportada pelo grupo de destinatários/beneficiários dos
serviços (conjunto dos regulados);
− Deve existir uma utilidade do grupo;
− O montante deve ir de acordo com o princípio da proporcionalidade.

❖ Contribuições com finalidades extrafiscais puras – destinam-se a modelar ou


orientar comportamentos. Só não estamos perante impostos, desde que os montantes
cobrados sejam afetos à compensação dos prejuízos causados pela rigidez dos
comportamentos que se pretendia orientar (consignação orçamental).

Art 165º/1/i), CRP – exige apenas a criação de um “regime geral de outras contribuições
financeiras”.

Benefícios Fiscais - são desagravamentos fiscais que introduzem exceções à incidência


tributária e que prosseguem finalidades não fiscais (extrafiscais).
Ex: isenções totais ou parciais, deduções à coleta, créditos fiscais presumidos, amortizações
aceleradas, taxas reduzidas.
Sendo uma exceção às normas de incidência, os benefícios fiscais violam o princípio da
igualdade – daí o facto de terem de ser justificados por princípios que se sobreponham à
igualdade, ainda que temporariamente.
Art 2º/1, Estatuto BF - medidas de caráter excecional instituídas para tutela dos interesses
públicos extrafiscais relevantes, que sejam superiores aos da tributação que impedem.
Princípios do BF:
➢ Princípio do bem-estar social (forma de controlar o arbítrio) - implica uma isenção de
imposto para certo conjunto de contribuintes, tendo de aumentar o bem-estar da
comunidade.
➢ Princípio de proporcionalidade em sentido amplo (abrange p. necessidade, adequação e
proporcionalidade) – traduz-se no princípio da necessidade económica das famílias
com repercussões para toda a comunidade (ex: BF para aquisição de casa própria ou
para contas de poupança-reforma).
➢ Princípio do ganho ou do mérito – recompensa fiscal de um comportamento que serve
o interesse geral. Existindo uma redução da carga fiscal, toda a comunidade deve
ganhar com essa mesma isenção (ex: tributação dos jovens).

CASO Nº1 – ESPÉCIES DE TRIBUTOS


Farto dos garridos reclamos e anúncios luminosos na cobertura de prédios lisboetas, que segundo
o presidente da CML desarmonizavam a estética da cidade e afastavam os turistas, o executivo
camarário de Lisboa apresentou à respetiva Assembleia Municipal uma proposta de criação de
uma Taxa Especial a incidir sobre todo e qualquer objeto e estrutura publicitária colocado
na cobertura ou telhado dos imóveis sitos nos bairros históricos do Castelo, Mouraria,
Príncipe Real e Chiado. Ainda de acordo com a proposta, o tributo deveria assentar sobre:
(i) o valor tributário dos prédios e, sempre que este valor se revele manifestamente
desatualizado;
(ii) sobre uma ponderação da média dos rendimentos sujeitos a IRS declarados pelos
proprietários desses imóveis.
A referida proposta propunha também a criação de isenções específicas para:
(i) os imóveis cujo valor patrimonial não excedesse os € 2500;
(ii) as sedes dos partidos políticos.
Quid iuris?

Quanto ao tributo em si
1) Elementos do tributo:
Taxa: exige-se uma contrapartida – a remoção de um obstáculo jurídico
(bilateralidade/sinalagma).
Imposto: o fundamento para a sua criação assenta no princípio da capacidade contributiva;
além disso, é ad valorem.
Assim, prevalecem as características dos impostos, havendo, por isso, uma reserva relativa
de lei, competindo a sua criação à AR ou ao Gov (mediante autorização) – 165º/1/i), CRP.
2) Classificação do imposto
Imposto sobre o património, real, proporcional (incidia sobre aquele montante), obrigação
única e direto.
Quanto à vertente “ponderação da média dos rendimentos sujeitos a IRS declarados” –
104º/2, CRP » imposto sobre o rendimento, periódico
Admitindo não se tratar de um imposto, se fosse uma taxa:
Princípio da proporcionalidade, concretizado no princípio da cobertura de custos –
encontramos uma manifesta desproporcionalidade deste valor.

Quanto à criação de isenções específicas


Neste caso, estamos perante uma situação de isenção parcial (no primeiro caso – os
imóveis com valor patrimonial inferior a 2500€ têm isenção) e total (no caso das sedes dos
partidos políticos). Importa perceber o conceito de Benefícios fiscais e as repercussões que
estes têm.
Os benefícios fiscais são desagravamentos que excecionam a incidência tributária e que
prosseguem finalidades extrafiscais. Segundo o disposto no art 2º/1, do Estatuto dos
Benefícios Fiscais, são medidas de caráter excecional instituídas para tutela dos interesses
públicos extrafiscais relevantes, que sejam superiores aos da própria tributação que impedem.
Mesmo sendo uma exceção às normas de incidência, são admitidos em certos casos, desde
que os princípios em causa se sobreponham ao princípio da igualdade (em regra, de forma
temporária – 5 anos).
Há que perceber se estão em causa interesses públicos extrafiscais relevantes – para isso,
a situação descrita no caso prático tem de respeitar os três princípios materiais
legitimadores dos BF:
➢ Princípio do bem-estar social – a isenção para um certo conjunto de contribuintes
tem de aumentar o bem-estar da comunidade.
➢ Princípio da proporcionalidade em sentido amplo (necessidade, adequação e
proporcionalidade stricto sensu) – a isenção tem de atender à necessidade
económica das famílias, com repercussões para toda a comunidade.
➢ Princípio do ganho ou do mérito – deve haver uma recompensa fiscal de um
comportamento que serve o interesse geral (existindo uma redução da carga fiscal,
toda a comunidade deve ganhar com essa mesma isenção).
Além deste controlo material, existe também um controlo formal – isto é, nos termos do
disposto nos arts 103º/2 e 165º/1/i), CRP, os impostos são criados por uma lei que
determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias do contribuinte. Assim,
percebemos que os benefícios fiscais só podem existir quando estão em causa impostos (e
não taxas).
Não existem imóveis com valor tributário de 2500€.
No caso da sede dos partidos políticos, poderia ser o princípio do ganho ou do mérito, mas
não há qualquer reflexo na comunidade.
Desta forma, de entendêssemos que no caso em apreço, estava em causa um imposto,
estas isenções só poderiam ocorrer, mediante a criação de lei pela AR ou DL pelo Governo
(devidamente autorizado) » art 103º/2 e 165º/1/i), CRP.
No entanto, se o tributo em causa for classificado como taxa, nunca poderiam existir
BF.
Contribuições financeiras: sinalagma difuso (prestações presumivelmente provocadas ou
aproveitadas por grupo homogéneo).
Princípio da proporcionalidade » equivalência.
Ana Paula Dourado e doutrina – se o tributo for apurado com base numa lógica de
capacidade contributiva, será sempre um imposto e não uma contribuição financeira.

CASO Nº2 – SUBSTITUIÇÃO E RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA


Deolinda Nunes, gerente da empresa “Lagoas e Mares, Lda”, com sede em Faro, está muito
apreensiva relativamente aos meses de setembro e outubro, já que a empresa suportou um valor
elevado de juros para financiar a sua sucursal em Loulé e pagou diversas coimas por
infrações cometidas no trânsito com as viaturas da empresa.
Nesse período, o departamento financeiro da empresa não efetuou sequer as retenções na
fonte aos trabalhadores da empresa em relação aos seus salários.
E, por outro lado, em face das graves dificuldades financeiras da empresa, não foram entregues
as quotizações dos trabalhadores para a Segurança Social.
Quid iuris?
No presente caso, nos termos do art 30º/1/a), LGT, para efeitos da relação jurídica
tributária, estamos perante dívidas tributárias.
De acordo com o previsto no art 18º/1, LGT, os sujeitos ativos são as entidades de direito
público titulares do direito de exigir o cumprimento das obrigações tributárias, diretamente
ou através de representante – na hipótese apresentada, existem dois SA: por um lado, o
Estado (face às pessoas singulares – trabalhadores), e por outro, a Segurança Social (quanto
às quotizações).
Já os sujeitos passivos podem ser as pessoas, singulares ou coletivas, o património ou a
organização de facto ou de direito que estão vinculados ao cumprimento da prestação
tributária, seja como contribuinte direto, substituto ou responsável (18º/3, LGT) – neste
caso, são os trabalhadores (na modalidade de contribuintes originários e de substituídos) e
a empresa “Lagoas e Mares, Lda” (como substituto tributário).
Neste caso, parece haver três questões a tratar.
Quanto ao facto de o departamento financeiro da empresa não efetuar as retenções na
fonte aos trabalhadores da empresa em relação aos seus salários
Estamos perante uma situação de substituição tributária, uma vez que, por imposição
da lei (neste caso, dos arts 98º/1 e 3 e 99º/1/a), Código IRS – dispõem que a entidade
empregadora é que tem a obrigação de retenção na fonte), a prestação tributária é exigida
a pessoa diferente do contribuinte (art 20º/1, LGT). A ST é efetivada através do dever de
retenção na fonte do imposto (pode ser uma retenção por conta do imposto devido a final
ou uma retenção a título definitivo) e do dever de entrega do imposto.
Perante uma situação de não retenção na fonte por conta, nem entrega do imposto, nos
termos do art 28º/2, LGT, cabe ao substituído a responsabilidade originária e ao substituto
a responsabilidade subsidiária. Como o substituído (trabalhadores) recebe o rendimento
bruto, cabe-lhe satisfazer a obrigação do imposto.
Contudo, como referido anteriormente, o substituto é responsável subsidiariamente
(23º/2, LGT e 153º/2, CPPT), caso a Administração Tributária verifique que o património
do substituído é inexistente/insuficiente para pagar toda a dívida tributária, ficando ainda
sujeito aos juros compensatórios (reversão do processo de execução fiscal).
Caso este seja insuficiente, a gerente será responsabilizada – art 24º/1/b), LGT.

Quanto à não entrega das quotizações dos trabalhadores para a Segurança Social
Neste caso, houve retenção na fonte a título definitivo (as quotizações estão aqui
incluídas; mas o imposto não foi entregue. Com efeito, nos termos do art 28º/1, LGT, a
entidade obrigada à retenção (substituinte) é responsável pelas importâncias retidas, mas
não entregues nos cofres do Estado, ficando o substituído (trabalhadores) desonerado de
qualquer responsabilidade no seu pagamento.
Existe a presunção de que os trabalhadores não sabem nem têm a possibilidade de saber se
o montante retido foi entregue – apenas sabem que o montante devido foi retido, ficando
liberto de quaisquer obrigações relacionadas com a retenção.
Assim sendo, o substituto (Lagoas e Mares, Lda) será o responsável pela não entrega das
quotizações.
Retenção na fonte – as quotizações estão aqui incluídas. É uma relação contributiva que
opera por lei. O tributo tem carácter definitivo, tem carácter unilateral. Têm sido
consideradas como retenção na fonte a título definitivo.
Porém, nos termos do art 24º/1/b), LGT e de acordo com o dever de prática tributária
(32º, LGT), Deolinda poderá ser responsabilizada solidariamente pelas dívidas tributárias
cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado no período do exercício do seu
cargo – presunção de culpa » ónus de prova contra a gerente.
Averiguação de culpa – há culpa nos casos de crime ou contraordenação por abuso de
confiança fiscal (104º, RGIT) e falta de entrega da prestação tributária (114º, RGIT).

Se não se enquadrasse em nenhum dos crimes, teria de se identificar o responsável e


considerar os deveres de diligência – neste caso, temos uma situação dos juros e de
infrações » ainda que não traga vantagens ou o negócio tenha trazido prejuízos, o crivo da
diligencia não se basta com o resultado específico.

Art 23º/2/c), Código IRC – quando olhamos para a contabilidade da empresa, nem todos
os gastos devem ser abatidos aos rendimentos obtidos. Entende-se que os juros podem ser
um gasto dedutível – juros associados à gestão própria da empresa » no nosso caso, o
financiamento obtido pelo sujeito passivo era para financiar uma sucursal do grupo, pelo
que este juro não deve ser aceite fiscalmente.
Art 23º-A/1/e), Código IRC
Retenção na fonte > valor da coleta líquida – há imposto a pagar
Retenção na fonte < valor da coleta líquida – há imposto a receber
Art 28º - RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA EM CASO DE SUBSTITUIÇÃO

• 28º/1 (Ret. Fonte P/Conta ou Definitiva » Retenção do imposto, mas não há entrega)
R. originária: substituto; R. subsidiária: substituído (através da reversão).
Dívida + juros compensatórios

• 28º/2 (Ret. Fonte P/Conta » Não retenção, nem entrega)


R. originária: substituído; R. subsidiária: substituto.
Dívida + juros compensatórios

• 28º/3 (Ret. Definitiva » Não retenção nem entrega total)


R. originária: substituto; R.subsidiária: substituído (através da reversão).
Devido à dificuldade de se proceder à correta arrecadação de receita, a prof Ana Paula
Dourado considera que estamos perante uma responsabilidade solidária, pelo que se deve
poder escolher entre executar o património do substituto ou do substituído.

As obrigações tributárias não podem ser transmitidas inter vivos, mas podem ser transmitidas por
morte – art 29º/3, LGT.
A RJT e o seu objeto não podem ser alterados por vontade das partes.

03/11/2021
ART 24º, LGT
CASO Nº3 – TRIBUTOS E PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Visando aproveitar o crescente afluxo de turistas ao país, o Governo cria, através de decreto-lei
simples, uma “Taxa sobre Turismo de Luxo”, que incide sobre o preço das refeições e das
estadias, respetivamente, em restaurantes e estabelecimentos hoteleiros de luxo.
Poucos dias depois, uma Portaria:
i) define os critérios para a classificação de restaurantes e estabelecimentos hoteleiros como
“de luxo”, para efeitos da “Taxa sobre Turismo de Luxo”; e
ii) isenta da aludida taxa as refeições em restaurantes que se revistam de “manifesto interesse
para a preservação do património gastronómico português”.

Quid iuris?

Lei formal que defina os critérios – pode o governo definir a listagem desses mesmo países.
Através da LGT, o GOV define um conjunto de critérios face aos paraísos fiscais. Através de
portaria, concretiza os paraísos fiscais.
Isenção – baseada por objetivos extrafiscais.
Inconstitucionalidade formal, orgânica e material
Os benefícios fiscais são desagravamentos que excecionam a incidência tributária e que
prosseguem finalidades extrafiscais. Segundo o disposto no art 2º/1, do Estatuto dos
Benefícios Fiscais, são medidas de caráter excecional instituídas para tutela dos interesses
públicos extrafiscais relevantes, que sejam superiores aos da própria tributação que impedem.
Mesmo sendo uma exceção às normas de incidência, são admitidos em certos casos, desde
que os princípios em causa se sobreponham ao princípio da igualdade (em regra, de forma
temporária – 5 anos).
Há que perceber se estão em causa interesses públicos extrafiscais relevantes – para isso,
a situação descrita no caso prático tem de respeitar os três princípios materiais
legitimadores dos BF:
➢ Princípio do bem-estar social – a isenção para um certo conjunto de contribuintes
tem de aumentar o bem-estar da comunidade.
➢ Princípio da proporcionalidade em sentido amplo (necessidade, adequação e
proporcionalidade stricto sensu) – a isenção tem de atender à necessidade
económica das famílias, com repercussões para toda a comunidade.
➢ Princípio do ganho ou do mérito – deve haver uma recompensa fiscal de um
comportamento que serve o interesse geral (existindo uma redução da carga fiscal,
toda a comunidade deve ganhar com essa mesma isenção).
Além deste controlo material, existe também um controlo formal – isto é, nos termos do
disposto nos arts 103º/2 e 165º/1/i), CRP, os impostos são criados por uma lei que
determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias do contribuinte » ou seja
os benefícios fiscais são um dos elementos essenciais do imposto.

Constituição RJT
Art 36º/1, LGT – a RJT constitui-se com o facto tributário (preenchimento fáctico dos
pressupostos legais, com subsunção do facto à lei).
Pretende-se assegurar a possibilidade de defesa do sujeito passivo contra ilegalidades
cometidas pelo Fisco – art 268º/4, CRP e 9º/2, LGT.

Alteração RJT
Art 36º/2, LGT – os elementos essenciais não podem ser alterados por vontade das partes
(princípio da indisponibilidade do imposto inter vivos – 29º).

Art 36º/3, LGT – a administração tributária não pode conceder moratórias no pagamento
das obrigações tributárias.
Art 30º/2 e 36º/2 e 3, LGT – o crédito tributário é indisponível, so podendo fixar-se
condições para a sua redução ou extinção com respeito pelo princípio da igualdade e da
legalidade.
Regimes Excecionais de Regularização das Dívidas Tributárias (3 RERT) – aprovaram
regimes de perdão fiscal (parcial) e o regime de regularização de dívidas, que constituiu um
perdão de juros e sanções » regimes excecionais de regularização tributária de elementos
patrimoniais colocados no exterior (depósitos, certificados de depósitos, partes de capital,
valores mobiliários, seguros do ramo “vida”, etc).
Os RERT são perdoes fiscais – em princípio, são inconstitucionais por violarem o princípio
da igualdade na vertente da capacidade contributiva, já que:
➢ Extinguem as obrigações tributárias exigíveis em relação aos elementos e
rendimentos identificados, em comparação com os contribuintes cumpridores;
➢ Excluem da responsabilidade quem comete infrações tributárias que resultem de
condutas ilícitas, em comparação com contribuintes já submetidos a procedimento
de inspeção ou procedimento penal/contraordenacional e que dele tenham tido
conhecimento nos termos da lei.
➢ Constituem prova bastante para os efeitos previstos no art 89º-A/3, LGT, em
comparação com os contribuintes a quem este preceito tenha sido aplicado, em
idênticas circunstâncias.
Assim, os perdões fiscais justificam-se por finalidades extrafiscais que, no caso concreto se
sobrepõem à igualdade, sendo de aplicação excecional – repatriamento de capitais para
efeitos de poupança e investimento em território nacional.
CC: No entanto, a prof Ana Paula Dourado duvida que os RERT tenham tido um objetivo de
repatriamento de capitais, dada a sua sequência temporal e tendo em conta que o último
RERT não excluiu os elementos patrimoniais situados em paraísos fiscais.
Além disso, a comparação entre contribuintes faltosos e cumpridores exige uma separação
fiscal muito além de cada ano/exercício fiscal – com efeito, a partir da aprovação de um
regime excecional de perdão fiscal, deve-se ter em conta o período de prescrição das dívidas
fiscais até eventual aprovação de novo período fiscal.

Extinção RJT
➢ COBRANÇA (40º, LGT)
O montante apurado/liquidação deve ser validamente notificado junto do sujeito
passivo no decurso do prazo de 4 anos (45º/1, LGT). Há 2 modalidades:

• Cobrança/pagamento voluntário (84º, CPPT) – forma comum de extinção da RJT.


O pagamento voluntário é efetuado dentro do prazo estabelecido.

• Cobrança/pagamento coercivo (163ºss, CCPT) – a falta de pagamento dentro do


prazo legal não implica necessária e imediatamente a cobrança coerciva. É preciso
um título executivo (certidão de dívida). Compete à Administração tributária
(órgão execução fiscal) instaurar o processo e aos tribunais decidir.
Património insuficiente – 40º/4, LGT.
Depois de citado, o executado pode requerer o pagamento em prestações ou a
dação em cumprimento.

Trata-se de uma modalidade excecional, associada à execução do património do


sujeito passivo (penhora e alienação dos bens apreendidos).
➢ CADUCIDADE DA LIQUIDAÇÃO (45º, LGT)
O poder de liquidação caduca se a sua notificação não ocorrer ou não for válida, dentro
do prazo determinado na lei.
Art 45º/1, LGT (regra) – 4 anos.
Exceções nº2, nº3, nº5, nº7 (paraísos fiscais; contas abertas em que não é possível
identificar o SP na declaração de rendimentos – troca de informação entre autoridades
fiscais internacionais).

➢ PRESCRIÇÃO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA (48º, LGT)


Refere-se ao prazo em que a dívida fiscal pode ser cobrada – o prazo é de 8 anos. O montante
já foi definido, o que se vai fazer é a cobrança.

Juros Compensatórios, de Mora e Indemnizatórios


➢ Juros compensatórios – começam a correr com o atraso na liquidação (35º/1, LGT).
Só são devidos pelo prazo máximo de 180 dias no caso de erro do SP evidenciado na
declaração ou, em caso de falta apurada em ação de fiscalização, nos 90 dias (35º/7,
LGT). Pretendem compensar a Administração fiscal.
➢ Juros de mora – começam a correr com o atraso do pagamento do imposto (44º,
LGT). O prazo máximo de aplicação é de 3 anos.
➢ Juros indemnizatórios (43º/1, LGT) – compensação do SP pelos prejuízos causados
pela administração tributária.

Princípio da Legalidade:
O princípio da legalidade fiscal é um princípio fiscal formal, com origem nas monarquias
constitucionais, assegurando que a interferência na propriedade privada resulta de
discussão e aprovação parlamentar – no taxation without representation.

A lei é, assim, o ponto de partida para garantir a segurança jurídica porque é aprovada pelos
representantes e serve a igualdade por ser geral e abstrata.

➢ Vertente competencial ou formal (AR, GOV, RA, AL em matéria fiscal) » 165º/1/i) e


2, 227º/1/i), 232º/1 e 238º/4, CRP – função garantística de assegurar a discussão
e o acordo, permitindo uma melhor conformidade.
➢ Objeto da reserva de lei – inclui criação de impostos e sistema fiscal (103º/2 e
165º/1/i), CRP) – e regime geral das taxas e demais contribuições financeiras a
favor das entidades públicas.
➢ Vertente material – exigências de intensificação da lei fiscal quanto aos elementos
essenciais de imposto (103º/2, 1ªparte, CRP » incidência e taxa, garantindo o
princípio da tipicidade fiscal e legalidade substancial).
➢ Princípio de preferência/precedência de lei (103º/3, CRP) e consagração de um
direito de resistência à tributação que viole a CRP ou a lei.
Reserva competencial – porque se justifica a atribuição de poder tributário ao Governo?
A competência legislativa em matéria de criação de impostos e sistema fiscal está reservada
ao Parlamento, mas este pode delega-la ao Governo – 165º/1/i) e 2, CRP.
A reserva de competência parlamentar não deve ser interpretada como uma ausência de
legalidade democrática – insere-se na lógica do Estado Social de Direito, traduzindo uma
quase homogeneização política da Assembleia da República e do Governo, em que ambos
são democraticamente legitimados.
As autorizações legislativas ao governo em matéria fiscal (165º/2, CRP) têm como objetivo
contrabalançar o poder legislativo parlamentar com um poder legislativo governamental
mais especializado e ciente das imperfeições da lei na sua aplicação efetiva, pela sua
proximidade da administração fiscal e de organizações internacionais como a OCDE e a
União Europeia.

Exigências/requisitos de determinação das leis de autorização?

A revisão constitucional de 1982 deu nova redação ao 168º/2 e as autorizações legislativas


passaram a definir, para além do objeto, extensão e da duração da autorização, o sentido da
mesma. Devem definir o objeto e o sentido do DL autorizado e não podem ser meros cheques
em branco, isso significa que elas devem ter uma determinação mínima.

Matéria fiscal: Acórdão TC 358/92 que considerou inconstitucional a autorização legislativa


dada ao governo, para este aprovar o código das avaliações da contribuição autárquica. Nos
termos da al b) do artigo 50º da Autorização legislativa era exigida uma maior equidade de
tributação, reforço das garantias dos contribuintes e determinação mais rigorosa da matéria
coletável.

Tem de haver tripla função: conteúdo material bastante da lei de autorização (103º/2) +
linha de orientação do legislador delegado + informação genérica das inovações a introduzir
no ordenamento para os particulares.

Verificação, em aula, das seguintes autorizações legislativas constantes da proposta de


Orçamento do Estado para 2022: artigo 227.º e 239.º (anexo)
10/11/2021

Autorizações Legislativas ao Governo

Seria perigoso atribuir um papel secundário à AR na orientação política em matéria fiscal,


sob pena de o Governo e a administração deterem o monopólio da criação, interpretação e
desenvolvimento das leis fiscais – isto porque os nossos tribunais ainda não exercem
devidamente as funções de controlo judicial da margem de livre apreciação e tipificação
administrativa.

Reserva relativa de competência legislativa – há uma delimitação de competências


legislativas entre a AR e o GOV » este último tem competência legislativa originária,
mediante autorização legislativa parlamentar.

165º/2, CRP - a autorização legislativa deve definir o objeto, o sentido, a extensão e a


duração da autorização, a qual pode ser prorrogada » DL Autorizado (normação
primária) pode ser submetido à apreciação de parlamentar para efeitos de cessação de
vigência ou de alteração, podendo neste caso ser suspenso temporariamente (169º,
CRP).

Tripla vertente das autorizações legislativas - o Parlamento, unilateralmente ou com a


colaboração do governo, deve definir sempre as linhas de orientação política em
matéria de impostos.

Podemos ter uma orientação política única (AR) ou partilhada (com o GOV – caso em
que a reserva de competência deve implicar sempre um assentimento parlamentar
dessa orientação, mesmo que seja proposta pelo governo).

Poder Tributário das Regiões Autónomas

O princípio democrático que constitui um dos fundamentos da reserva de lei, já não é


cabalmente assegurado pelo Parlamento nacional e atribuiu aos parlamentos regionais e às
autarquias locais poder tributário.

A revisão constitucional de 1982 introduziu o poder tributário das RA no art 229º/f) –


desdobrou as competências legislativas regionais em matéria fiscal num poder tributário
próprio (originário – art 227º/1/i), CRP) e num poder de adaptação do sistema fiscal
nacional às especificidades regionais » segundo o professor José Casalta Nabais, o poder
tributário estadual é soberano e originário e o poder tributário autonómico regional é
apenas originário.

➢ Poder tributário próprio – se a CRP concede poder tributário próprio às RA (168º/i),


CRP), deve-se interpretar no sentido de existir uma reserva da criação de todos os
impostos à AR ou deve-se permitir a criação de alguns impostos pelas RA?
• Regionalistas: admitiram um verdadeiro poder de criar impostos regionais,
sempre que houvesse um interesse específico, e nos termos da lei geral da
república.
- Eduardo Paz Ferreira – entendia que o poder tributário próprio só podia ser o
poder de criar impostos, com todas as consequências e conteúdo do art 106º,
desde que respeitadas as restrições estabelecidas nos estatutos regionais.
- Maria Luísa Duarte – poder de autolimitação da AR » com a aprovação da
referida lei, verifica-se uma deslocação de uma matéria originariamente da
competência reservada para uma competência partilhada com as RA, embora
sujeita a limites fundamentais.

• Centralistas: admitiram, no máximo, um poder de adaptação dos impostos


nacionais.
- Sousa Franco – decorria do art 106º/1, CRP que a criação dos impostos estava
reservada à lei da AR, mas nada obstava a que a AR, através de uma lei-quadro,
fixasse princípios gerais sobre a adaptação do sistema fiscal regional e cometesse
o seu desenvolvimento aos órgãos legislativos regionais, em primeira linha,
porque se trata de matéria que é do seu interesse específico.

- O TC, antes da revisão de 1989, fez uma interpretação restritiva de “poder


tributário próprio”, no sentido de considerar que este apenas podia consistir na
possibilidade de criação ex novo de impostos regionais.
Contudo, atualmente, entende que, tendo em consideração o carácter unitário
do Estado e o art 115º/3, CRP 1982 (Dec-Legislativos regionais não podiam
dispor contra leis gerais da AR), considera que há uma proibição de adaptação,
por DL regional, das leis fiscais nacionais à RA.
O poder seria exercido prater legem e nunca contra legem.
O poder tributário próprio seria então apenas para a criação de impostos
regionais e a adaptação dos impostos nacionais à insularidade, apenas cabia o
poder de iniciativa legislativa (229º/c), CRP).

58º/2, LFL – as ALR podem diminuir as taxas do IVA até determinada legislação em vigor.

Arts 55º, 57º e 59º, LFL

Poder Tributário das Autarquias Locais

Art 15º, LFL – art 14º (IMI e IMT) + possibilidade de liquidação e cobrança de impostos.

Tem sido reconhecido aos municípios o poder de criarem taxas, mas não têm poder em
matéria de impostos (tanto na sua criação, como na sua adaptação).

Poderes em matéria fiscal dos municípios:

• Fixar as taxas do IMI relativamente a prédios urbanos, embora a moldura seja fixada
na lei » art 112º/1/c) e nºs 5-9, CMI;
• Fixar a taxa da derrama até um limite máximo de 1,5% sobre o lucro tributável
sujeito e não isento de IRC.

Os municípios podem conceder benefícios fiscais, relativamente aos impostos e a outros


tributos próprios, não podendo ser concedidos por mais de 5 anos (16º/4 LFL). O tipo e a
medida dos benefícios fiscais também estão na discricionariedade do município (16º/3,
LFL). No quadro do IMI, podem majorar ou minorar a taxa de IMI aplicável com vista à
prossecução de objetivos extrafiscais, relacionados com a reabilitação e requalificação
urbana, dispondo de uma ampla margem de discricionariedade para tal.

Art 238º/4, CRP » poder tributário dos municípios, a exercer nos termos da lei, cujo alcance
ainda não está delimitado – não foi consagrado um poder tributário próprio, nem se faz
referência à adaptação de impostos nacionais.

CASO Nº4 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


Após a outorga, por parte da Assembleia da República, de uma lei de autorização
legislativa, onde se permitia ao Governo «tributar em IRS todos os rendimentos pessoais que
decorram de uma relação de trabalho dependente», é aprovado um decreto-lei que prevê:
O art 103º, CRP determina que os impostos são criados por lei, que determina a
incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes (elementos do
imposto).
De acordo com o disposto no art 165º/1/i), CRP, compete à AR legislar sobre a criação de
impostos e o sistema fiscal, podendo ser concedida autorização ao Governo (198º/1/b),
CRP), mediante lei de autorização legislativa (165º/2, CRP) – que no nosso caso, incide
sobre o IRS (imposto sobre o rendimento, direto e periódico).
Como sabemos, nos termos do nº2 do art 165º, esta lei deve definir o objeto, o sentido, a
extensão e a duração da autorização, a qual pode ser prorrogada – pretende-se evitar os
“cheques em branco”.
O objeto diz respeito ao conteúdo sobre o qual se pode legislar – esta autorização é
concedida para que o Governo legisle sobre a tributação em IRS dos rendimentos pessoais.
Relativamente à extensão, que estabelece os limites sobre os quais se pode legislar, neste
caso corresponde à tributação em IRS dos rendimentos pessoais que decorram de uma
relação de trabalho dependente.
No entanto, o sentido e a duração da autorização não parecem estar definidos.
O sentido tem de ser definido quanto aos elementos enumerados no art 103º/2, CRP – a
autorização tem de ser suficientemente detalhada quanto aos seus elementos, de forma a
fornecer uma orientação política ao governo » neste caso, aquando da atribuição de
autorização, não houve qualquer menção do seu sentido, o que se traduz numa violação do
princípio da legalidade (estaríamos perante uma inconstitucionalidade material da lei de
autorização legislativa). António Vitorino (tripla vertente do sentido): a finalidade de
concessão dos poderes delegado – indicação genérica dos fins a prosseguir.
Além disso, não nos é dito qual a duração da autorização.
Assim sendo, conclui-se pela inconstitucionalidade da lei de autorização legislativa e,
consequentemente, do Decreto-lei autorizado.
«1 – As prestações a que o trabalhador tenha direito por efeito da lei ou do contrato de
trabalho, assim como as despesas cujo encargo a entidade patronal assuma no predominante
interesse daquele, serão tributadas em IRS.
Nos termos do art 2º/1/a), Cód. IRS, consideram-se rendimentos de trabalho
dependente todas as remunerações pagas provenientes de trabalho por conta de outrem
prestado ao abrigo de contrato individual de trabalho ou de outro a ele legalmente
equiparado. Mas o art 2º-A/1, Cód. IRS diz-nos que nem todas as despesas em que a
entidade patronal incorre, mesmo que no interesse do trabalhador, são rendimentos.
Neste caso, além da tributação sobre os rendimentos do trabalhador (válido, tendo em
conta o objeto e extensão, e o art 2º/1/a), Cód. IRS), pretende-se tributar as despesas, o que
parece extravasar o âmbito da autorização – neste sentido, este disposto violaria o princípio
da legalidade, desencadeando uma inconstitucionalidade material.
As relações de trabalho dependente – estende-se para relações decorrentes da lei
(Governo excedeu neste ponto).
Além disso, a expressão “no predominante interesse” do trabalhador parece ser
indeterminada, já que os particulares não conseguem entender e prever as atuações da
administração tributária (ou seja, torna-se difícil de perceber quais as opções tomadas, e
prever o imposto a pagar) – o conjunto de argumentos legais disponíveis é insuficiente para
justificar os resultados a que se chega » o princípio de a legalidade fiscal exige que todas as
leis em sentido formal (DL autorizado, no caso) sejam suficientemente determinadas.

2 – O valor tributável das prestações e despesas a que se refere o número anterior será o seu
valor nominal ou, na falta deste, o valor mais próximo das condições normais de mercado.
Nos termos do art 103º/2, CRP, um dos elementos do imposto é a incidência, que
segundo a professora Ana Paula Dourado, tem de ser interpretada em sentido amplo,
abrangendo o an (sujeito passivo e objeto) e o quantum (quantificação/taxa). Como a
legalidade tem funções garantísticas e os impostos são limites imanentes ao direito de
propriedade individual, deve-se conseguir prever o montante de imposto que se vai pagar.
Ora, ao determinar que o valor tributável será “o mais próximo das condições normais de
mercado”, este DL autorizado parece criar algumas dúvidas e incertezas quanto à taxa de
imposto que irá ser aplicada – seria necessária a concretização destes conceitos, para que
pudesse ser aplicável, sob pena de violação do princípio da legalidade.
Caberá, em última instância, aos tribunais densificarem este conceito por lei formal.

3 – As despesas do n.º 1 não serão dedutíveis para efeitos do apuramento do lucro


tributável em IRC e, acaso se mostrem excessivas, serão tributadas autonomamente à taxa
de 42%.
De acordo com o disposto no art 17º/1, Cód. IRC, o lucro tributável das pessoas
coletivas é constituído pela soma algébrica do resultado líquido do período e das variações
patrimoniais positivas e negativas verificadas no mesmo período e não refletidas naquele
resultado. Nos termos do art 23º/1, Cód.IRC, para a determinação do lucro tributável, são
dedutíveis todos os gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter
ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC.
Neste caso, o que importa referir é que, ao legislar sobre o IRC, o DL autorizado parece
extravasar o objeto da autorização concedida, até porque o IRC é um imposto real (104º/2,
CRP) e o IRS um imposto pessoal (104º/1, CRP) – inconstitucionalidade orgânica e
material.
Quer para a não dedutibilidade das despesas, quer as tributações autónomas violam o
princípio da legalidade.

4 – Será fixada, por Portaria, a lista das prestações a que referem os nºs 1, 2 e 3, bem como
os critérios concretos para apuramento do seu valor.
Entramos na análise do conteúdo que constará da portaria. É possível fazer remissões
e concretizações de aspetos técnicos por regulamentações, mas não pode dizer respeito aos
elementos essenciais, como seria aqui o caso (incidência).
Lista das prestações -
Critérios concretos para apuramento do seu valor – referem-se ao quantum, sendo
regras que, por dizerem respeito aos elementos essenciais, não podem ser desenvolvidos
por Portaria, mas sim por DL autorizado.

5 – São isentados do pagamento do imposto os trabalhadores da construção naval.»


Esta isenção constitui um benefício fiscal, isto é, um desagravamento que exceciona a
incidência tributária e que prossegue finalidades extrafiscais. Segundo o disposto no art
2º/1, do Estatuto dos Benefícios Fiscais, são medidas de caráter excecional instituídas
para tutela dos interesses públicos extrafiscais relevantes, que sejam superiores aos da própria
tributação que impedem.
Mesmo sendo uma exceção às normas de incidência, são admitidos em certos casos, desde
que os princípios em causa se sobreponham ao princípio da igualdade (em regra, de forma
temporária – 5 anos).
Analisando os 3 princípios (p.bem-estar social, p.proporcionalidade em sentido amplo
e p.do ganho ou do mérito), não parece estar em causa um interesse público extrafiscal
relevante » haveria uma violação do princípio da igualdade, desencadeando uma
inconstitucionalidade material.
Além deste controlo material, existe também um controlo formal – isto é, nos termos do
disposto nos arts 103º/2 e 165º/1/i), CRP, os impostos são criados por uma lei que
determina os benefícios fiscais, havendo uma reserva de lei » inconstitucionalidade
orgânica.
Como a lei não previa qualquer criação de isenções fiscais (arts 103º/2 e 165º/1/i),
CRP), e não está em causa qualquer interesse público extrafiscal relevante, estamos perante
uma inconstitucionalidade formal e material, respetivamente.
O Governo aprovou finalmente o decreto-lei que procede à alteração do imposto sobre a
venda de imóveis, pondo termo à imensa fraude que se tinha instalado no sector da construção
civil.
Esta matéria está sujeita à reserva de lei (165º/1/i), CRP) – além da criação, também
as alterações das regras relativamente aos impostos encontram-se sujeitas ao princípio da
legalidade. Este imposto é semelhante ao IMI.

O imposto passa a ser calculado de acordo com o “valor objetivo” de cada imóvel, um
valor a fixar pelos serviços de finanças atendendo à sua “localização”, “equipamentos” e
“antiguidade”, bem como a “outros fatores relevantes” que a lei em si mesma não especifica.
Por portaria do Ministro das Finanças haver-se-ia de precisar melhor estes elementos e o peso
relativo de cada um no cálculo do valor tributável.
Valor patrimonial tributável – a determinação de determinados montantes tem de ser
efetuada pelos serviços de finanças. Contudo, embora os elementos já estejam previstos
numa lei, temos um elemento extremamente amplo (outros fatores relevantes).
Arts 37º e 38º, Código IMI
Temos uma Portaria que vai precisar melhor estes elementos e o peso relativo de cada
um – o peso de cada um dos elementos constitui um aumento essencial do imposto pelo que
não pode ser definido por portaria, sem que haja qualquer orientação dada pelo legislador
» violação princípio da legalidade.

Ao valor assim determinado aplicar-se-ia uma taxa única de 2% nas grandes cidades,
podendo, fora delas, oscilar a taxa entre os 0,8% e 1%, consoante deliberação das assembleias
municipais, uma solução que a Federação dos Municípios Portugueses sustenta ser
inconstitucional por comprimir em demasia a autonomia financeira local.
Nos termos do art 103º/2, CRP, a taxa é um elemento essencial do imposto e deve ser
também fixada por ato legislativo. Contudo, o art 238º/4 reconhece às AL o direito de
dispor de poderes tributários, nos casos e termos previstos na lei – não se trata de um poder
de criar e adaptar impostos nacionais (pelo menos com a amplitude que resulta para as RA
do art 227º/1/i)).
A taxa a oscilar entre 0,8% e 1% não parece suscitar uma questão de violação de
segurança jurídica, na medida em que o diferencial fixado é razoável.
Tratando-se de IMT, não poderia haver uma alteração pelas ALocais.

A proposta da Federação era antes a de que na generalidade dos municípios a taxa pudesse
oscilar entre os 0,5% e os 5% e que por deliberação das assembleias municipais se pudessem
isentar de imposto todos os imóveis situados em “zonas degradadas”, tal como os próprios
municípios as definissem.
O diferencial proposto parece ser excessivo e violar o princípio da segurança jurídica;
A isenção, que comporta um BF – os municípios podem concedê-los relativamente a
impostos pp, como o IMT, mas para isso têm de preencher os requisitos do art 16º/3, LFL.
Nos termos do art 238º/4, CRP e 15º, LFL, estava tudo bem.
Contudo, nos termos do art 16º, era essencial a deliberação deste BF, que não ocorreu »
violação do princípio da legalidade.

Contribuição sobre o setor bancário – discutido agora nos tribunais

Próxima aula: princípio da não retroatividade

17/11/2021
Princípio da não retroatividade
Porque estudamos a retroatividade em Direito Fiscal?
O direito e as leis têm uma função ordenadora na vida dos cidadãos reflete-se na vida dos
cidadãos

ACÓRDÃO N.º 399/10


Situação de IRS: criação de um escalão adicional em sede de IRS e um acréscimo das taxas
de tributação de todos os restantes escalões.

 PR requereu, ao abrigo do art 281º/2/a), CRP (fiscalização abstrata) apreciação


e declaração de inconstitucionalidade do art 68º/1, C.IRS, na redação conferida
pelo art 1º, Lei nº11/2010, 15 junho, conjugado com os arts 2º e 3º da mesma lei, e
na redação conferida pelo art 1º, Lei nº12-A/2010, 30 junho, conjugado com o art
20º/1 da mesma lei.
Apresentou 2 requerimentos separados, face às duas leis:

 Requerimento relativo à Lei nº11/2010, 15 junho


A AR aprovou esta lei, que alterou o C.IRS, com o propósito de criar um escalão adicional de
tributação, sujeitando os rendimentos anuais superiores a 150.000 euros à taxa de imposto
de 45%.
O IRS caracteriza-se, em primeiro lugar, por ser um imposto directo, em que se tributam os
rendimentos das pessoas singulares. Este imposto assenta em factos tributá rios de
formaçã o sucessiva, sendo que o facto tributá rio sujeito a imposto só está completo no
ú ltimo dia do período de tributaçã o. O facto tributá rio que dá origem ao imposto é , pois,
complexo.
Nos termos do artigo 22.o, n.o 1, do CIRS, “o rendimento colec- tá vel em IRS é o que resulta
do englobamento dos rendimentos das vá rias categorias auferidas em cada ano, depois de
feitas as deduçõ es e os abatimentos”.
• suscita fundadas dú vidas de constitucionalidade porquanto, ao per- mitir a
aplicaçã o de uma taxa de imposto agravada a rendimentos auferidos em momento anterior
ao da sua entrada em vigor, parece violar o princípio da irretroactividade da lei fiscal,
inscrito no n.o 3 do artigo 103.o da Constituiçã o.
• Resulta, pois, claro que o novo escalã o, tendo legalmente um cará cter anual, se
pretende aplicar unitariamente ao presente ano de 2010 e, consequentemente, a todos os
rendimentos obtidos durante este ano, mesmo os rendimentos obtidos, no passado, antes
da entrada em vigor da lei.
• Partindo do princípio que se demonstrará , em seguida, de que a Constituiçã o da
Repú blica Portuguesa proíbe a retroactivi- dade fiscal, no artigo 103.o, n.o 3, CRP, a resposta
à questã o de constitucionalidade colocada pelo Requerente, implica, num pri- meiro
momento, a delimitaçã o do conceito de retroactividade fis- cal constante daquele preceito.
• Contrariamente à generalidade das Constituiçõ es euro- peias, a Constituiçã o da
Repú blica Portuguesa proíbe, expressa- mente, a retroactividade fiscal, no artigo 103.o, n.o
3, o qual estabe- lece o seguinte: “Ningué m pode ser obrigado a pagar impostos que nã o
hajam sido criados nos termos da Constituiçã o, que tenham natureza retroactiva ou cuja
liquidaçã o e cobrança se nã o façam nos termos da lei“.
• Proibindo a Constituiçã o a retroactividade da lei fiscal, cumpre salientar que o seu
sentido nã o é unívoco. Como sustenta Alberto Xavier, nã o basta afirmar que a lei fis- cal nã o
pode ser retroactiva
• Assim, atendemos a 2 casos:

• um caso em que o facto tributá rio que a lei nova pre- tende regular já tenha
produzido todos os seus efeitos ao abrigo da lei antiga
• outro caso em que o facto tributá rio tenha ocorrido ao abrigo da lei antiga, mas os
seus efeitos, designadamente os relativos à liquidaçã o e pagamento, ainda nã o
estejam totalmente esgotados
• um terceiro em que o facto tributá rio que a lei nova pretende regular na sua
totalidade nã o ocorreu totalmente ao abrigo da lei antiga
Em relaçã o aos segundo e terceiro casos enunciados, há quem considere que ambas
as situaçõ es se enquadram na retroacti- vidade inautê ntica,
• Em suma, dos trabalhos preparató rios da revisã o constitucio- nal de 1997 retira-se,
por um lado, que o legislador da revisã o ape- nas pretendeu incluir, no n.o 3 do artigo 103.o
da CRP, a proibiçã o da retroactividade autê ntica, pró pria ou perfeita da lei fiscal - que nã o
se pretenderam integrar no preceito as situaçõ es em que o facto tributá rio que a lei nova
pretende regular nã o ocorreu totalmente ao abrigo da lei antiga, antes continuando a
formar-se na vigê ncia da lei nova, pelo menos, quando estã o em causa impostos directos
relativos ao rendimento (como é clara- mente o caso dos presentes autos).
o Aliá s, o pró prio Tribunal Constitucional, na sua mais recente jurisprudê ncia em
maté ria fiscal, designadamente nos acó r- dã os n.os 128/2009 e 85/2010, també m
considerou que a retroacti- vidade consagrada no artigo 103.o, n.o 3, CRP é somente a autê n-
tica. Disse-se no primeiro acó rdã o:
o “A retroactividade proibida no n.o 3 do artigo 103.o da Constituiçã o é a
retroactividade pró pria ou autê ntica. Ou seja, proíbe-se a retroactividade que se traduz na
aplicaçã o de lei nova a factos (no caso, factos tributá rios) antigos (anteriores, portanto, à
entrada em vigor da lei nova).”
• No fundo, o alcance prá tico desta tese é o de admitir que nos casos de retroacçã o
limitada ao período fiscal em que a lei entrou em vigor, que seria, como vimos, o caso dos
autos - é possível, no que diz respeito aos impostos perió dicos, a aprovaçã o de leis no
decurso do período de tributaçã o que se destinem a produzir efeitos em relaçã o a todo esse
período, ficando, no entanto, tais leis sujeitas ao teste resultante dos princípios do Estado
de Direito, como seja o teste da protecçã o da confiança.
• Se antes da revisã o constitucional de 1997, o Tribunal fundamentava o princípio da
proibiçã o da retroactividade da lei fiscal no princípio da segurança e da confiança (cfr., por
exemplo, Acó rdã o n.o 67/91), apó s 1997, embora nã o possa deixar de dar relevo à
corporizaçã o do princípio no texto constitucional, o Tribu- nal continua a considerar que,
nas situaçõ es de retroactividade impró pria, se deve ponderar a confiança que os
contribuintes depo- sitaram na norma fiscal.
• Vejamos, entã o, se as normas em apreço passam o teste da protecçã o da confiança.
o a «mobilizaçã o» do princípio da confiança em maté ria tributá ria obriga a um juízo
que nã o prescinde de pondera- çõ es: saber se a norma é ou nã o inconstitucional (por viola-
çã o da protecçã o da confiança) obriga a que se tenha em conta, e se pondere, tanto o
contexto da administraçã o tribu- tá ria quanto o contexto do particular tributado.
• De acordo com esta jurisprudê ncia sobre o princípio da segurança jurídica na
vertente material da confiança, para que esta ú ltima seja tutelada é necessá rio que se
reú nam dois pressupostos essenciais:
a) a afectaçã o de expectativas, em sentido desfavorá vel, será inadmissível, quando constitua
uma mutaçã o da ordem jurídica com que, razoavelmente, os destinatá rios das normas dela
constantes nã o possam contar; e ainda

• b) quando nã o for ditada pela necessidade de salvaguardar direitos ou interesses


constitucionalmente protegidos que devam considerar-se prevalecentes (deve recorrer-se,
aqui, ao princípio da proporcionalidade, explicitamente consagrado, a propó sito dos
direitos, liberdades e garan- tias, no n.o 2 do artigo 18.o da Constituiçã o).
o Os dois crité rios enunciados (e que sã o igualmente expressos noutra jurisprudê ncia
do Tribunal) sã o, no fundo, reconduzíveis a quatro diferentes requisitos ou “testes”. Para
que para haja lugar à tutela jurídico-constitucional da «con- fiança» é necessá rio, em
primeiro lugar, que o Estado (mor- mente o legislador) tenha encetado comportamentos
capazes de gerar nos privados «expectativas» de continuidade; depois, devem tais
expectativas ser legítimas, justificadas e fundadas em boas razõ es; em terceiro lugar, devem
os priva- dos ter feito planos de vida tendo em conta a perspectiva de continuidade do
«comportamento» estadual; por ú ltimo, é ainda necessá rio que nã o ocorram razõ es de
interesse pú blico que justifiquem, em ponderaçã o, a nã o continuidade do comportamento
que gerou a situaçã o de expectativa.
• Começando pelo teste relativo à questã o de saber se existe afectaçã o de
expectativas, em sentido desfavorá vel, e se essa afectaçã o constitui uma mutaçã o da ordem
jurídica com que, razoavelmente, os destinatá rios das normas dela constantes nã o teriam
podido contar, importa averiguar, desde logo, se a Consti- tuiçã o tutela a expectativa dos
contribuintes de que nã o haja altera- çõ es dos escalõ es e das taxas de IRS desde o início do
ano fiscal até ao seu final — de 1 de Janeiro até 31 de Dezembro.
o Em primeiro lugar, tendo em conta a conjuntura econó mico- financeira
internacional, incluindo a situaçã o dos mercados inter- nacionais, a avaliaçã o da situaçã o
financeira portuguesa por parte das instâ ncias internacionais, designadamente do FMI e da
OCDE, bem como as medidas tomadas em Estados-Membros da uniã o Europeia em idê ntica
situaçã o, como foram os casos da Gré cia e da Espanha, nã o seria razoá vel pensar que
Portugal ficaria imune a esta tendê ncia.
o Em segundo lugar, nã o é possível afirmar que esta medida fosse algo com que os
contribuintes por ela afectados nã o pudes- sem razoá vel e objectivamente esperar, tendo
em conta que um dos modos de fazer face à situaçã o econó mico-financeira do País
o Em terceiro lugar, deve notar-se que a produçã o de efeitos das normas em apreço,
desde 1 de Janeiro de 2010, nã o se afigura into- lerá vel nem insuportá vel para os
contribuintes.
• Por ú ltimo, refira-se que o grau de tolerâ ncia da medida legislativa tomada face ao
princípio da confiança é directa- mente correspondente ao grau de relevâ ncia do interesse
pú blico constitucionalmente tutelado.
o Segundo o legislador, existem razõ es imperiosas de interesse pú blico que justificam
quer uma nova taxa de IRS no valor de 45% para sujeitos passivos ou agregados familiares
que obtenham um valor anual de rendimentos superiores a € 150000,00, a qual veio a ser
criada pela Lei n.o 11/2010, quer uma tributaçã o adicional em sede de IRS, mediante
aumento de 0,58 % das taxas gerais deste imposto aplicá veis até ao 3.o escalã o de
rendimentos e em 0,88 % a partir do 4.o escalã o, a qual consta da Lei n.o 12-A/2010.
o Ora, nã o tem este Tribunal razõ es que lhe permitam pô r em causa que a prossecuçã o
do interesse pú blico,
• Em conclusã o, do exposto resulta que as Leis n.os 11/2010 e 12-A/2010
prosseguem um fim constitucionalmente legítimo, isto é , a obtençã o de receita fiscal para
fins de equilíbrio das contas pú blicas, tê m cará cter urgente e premente e no contexto de
anú ncio das medidas conjuntas de combate ao dé fice e à dívida pú blica acumulada, nã o sã o
susceptíveis de afectar o princípio da confiança ínsito no Estado de Direito,

➢ O Estado tem de gerar comportamentos capazes de gerar expetativas jurídicas de


continuidade;
➢ Estas expetativas têm de ser legítimas e fundadas em boas razões;
➢ Os privados façam determinados planos face a essas expetativas;
➢ Segurança jurídica

Impostos de formação única vs Impostos formação sucessiva


(factos tributários instantâneos) // (factos tributários duradouros)
Pode-se aplicar o disposto no art 103º/3, CRP nos dois casos – também há retroatividade
O que interessa é a data – se é anterior à çeo, há retroatividade
Contudo, se tivermos um facto tributário que ocorreu entre janeiro e setembro de 2021,
Impostos de formação única – factos tributários instantâneos - quer nos primeiros, quer nos
segundos pode ser aplicado o preceito do artigo 103º, nº3, CRP (retroatividade autêntica),
ou seja, quando a lei aprovada pretende produzir efeitos em factos surgidos em 2020, por
exemplo – também há retroatividade autêntica nos impostos de formação sucessiva
(proibição em sentido forte, do artigo 103º, nº3, CRP).
Impostos de formação sucessiva – factos tributários duradouros – por exemplo, o caso do
IRS, se a lei foi aprovada em 9/2021 – segundo o TC o facto tributário consolida-se a
31/12/2021, logo a situação de retrospetividade não é abrangida pelo artigo 103º, nº3, CRP
(no entanto, é sujeita ao teste do princípio da confiança).Factos duradouros
➢ TC – esta situação de retrospetividade não é protegida pelo art 103º/3 » permite
que a lei produza efeitos desde janeiro de 2021, contudo, é sujeita ao teste do
princípio da confiança (4 pressuposto)
➢ Art 12º, LGT – se a lei entrou em vigor em setembro de 2021, não se alteram os
montantes entre janeiro e setembro (aplica-se LA), mas altera-se os montantes de
setembro a dezembro (aplica-se a LN) » não é válida; o ano de 2021 deve estar
totalmente protegido, aplicando-se a LN apenas no próximo ano.

Caso prático:
1. Ver se estamos perante uma lei oneradora /agravadora do contribuinte – nesse
caso, aplica-se p.proibição do contribuinte.
2. Identificar se a lei se está a aplicar a factos passados ou não.
3. Identificar o tipo de norma em causa – porque o p.nao retroatividade tem um
alcance diferente consoante a norma que se aplique.

19/11/2021

CASO Nº5 – APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

O Governo, na sequência da grave crise financeira, e tendo em vista cumprir as obrigações de


redução do défice público constantes no Programa de Estabilidade e Crescimento para o período
de 2011-2015, propõe, no dia 1 de abril de 2015, à Assembleia da República as seguintes medidas
legislativas:

Começamos logo pela análise, do Governo ter feito por sua iniciativa legislativa um conjunto
de medidas que atuam em relação a impostos, aumentando-os, eliminado benefícios fiscais,
são alguns exemplos. Como sabemos pelo artigo 165º nº1 i) e 103/2, da CRP, é da exclusiva
competência da AR a i) Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e
demais contribuições financeiras a favor das entidades públicas;, e 2. Os impostos são
criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos
contribuintes. E esta só pode ser delegada ao governo mediante uma autorização da AR,
pelo artigo 165º nº2 da CRP, em nome do principio da legalidade fiscal, de modo a evitar
que esta seja um cheque em branco. Esta não parece ter sido consagrada, pela AR, por isso
estamos perante uma inconstitucionalidade orgânica.
Estamos aqui perante casos de aplicação da lei no tempo, o que nos leva a referir o princípio
da não retroatividade da lei fiscal, segundo o qual a lei nova só se aplica para o futuro, ou
seja, a aplicação da lei nova a factos passados é proibida nos termos do art. 103º/3, CRP. Se
o facto se iniciou no passado e ainda continua a decorrer, fala-se em retrospetividade, e esta
é proibida se houver uma violação do princípio da confiança.

1. Aumentar a taxa do IVA para 25% com efeitos a partir do dia 1 de maio de 2015;

Imposto sobre o consumo (104º/4 CRP): incidem sobre o consumo geral de bens e serviços
(IVA) e sobre o consumo específico de certos bens, tais como tabaco, álcool (impostos sobre
o pecado/sin taxes), produtos petrolíferos (impostos especiais sobre o consumo/IEC’s). Os
impostos gerais sobre o consumo são considerados menos justo do que os impostos sobre
o rendimento, porque incidem sobre todos os sujeitos na mesma medida,
independentemente da capacidade económica de cada um. Mas são considerados mais
neutros para o funcionamento da economia, porque implicam menos distorções nas opções
acessíveis aos contribuintes. No quadro do IVA, o sujeito passivo não coincide com o
consumidor final. Enquanto para o consumidor final o IVA é um imposto de obrigação
única, para o sujeito passivo ele é um facto tributário de formação sucessiva. Como o
IVA é suportado pelo consumidor final, a aplicação da lei nova no tempo, em matéria
de IVA, não pode colocar em causa o imposto já pago pelo consumidor final. Assim, o
aumento do IVA a meio do ano fiscal só se pode aplicar aos factos tributários
(consumo, prestação de serviços ou importação) futuros (que ocorram após a entrada em
vigor da lei nova), sob pena de se colocar em causa o montante de IVA cobrado
anteriormente em casa elo da cadeia. Portanto, não há problema em o Governo propor
esta medida legislativa tendo em conta que ela não viola o princípio da não retroatividade
da lei nova (art. 103º/3CRP), caso contrário haveria uma inconstitucionalidade material.
Não há violação da retroatividade.

2. Aumentar a taxa máxima de IRS para as duas categorias mais elevadas em 5% com
efeitos nos rendimentos pessoais de 2015;

Temos uma norma oneradora.


IRS – imposto de formação sucessiva, imposto periódico (facto gerador prolonga-se ao longo do
tempo).
Os casos de alteração de uma lei ao longo do ano origina uma situação de retrospetividade, que
embora não seja proibida pelo art 103º/3, deve ser protegido pelo art 2º da segurança jurídica.
Mas para isso, temos de verificar os 4 testes – dada a dificuldade de comprovar que existem razões
de interesse público ().

22/11/2021

ACÓRDÃO TC Nº617/2012

Uma Sociedade Anónima impugnou um ato tributário de liquidação de IRC nº2009, relativo
ao exercício de 2008 e a respetiva demonstração de liquidação de juros de mora nº2009, na
parte respeitante à tributação autónoma incidente sobre os encargos dedutíveis
relativos a despesas de representação e a viaturas ligeiras de passageiros ou mistas,
motos ou motociclos, suportados até ao dia 30 de novembro de 2008.
➢ Invocam a inconstitucionalidade do art 5º/1, da Lei nº64/2008, de 5 de dezembro,
por violação do princípio da não retroatividade da lei fiscal.

Tribunal Tributário Lisboa – em dezembro de 2011 julgou a impugnação procedente,


recusando a aplicação do art 5º/1, Lei nº64/2008, por violar o princípio da não
retroatividade da lei fiscal (art 103º/3, CRP).
O MP interpôs recurso para o TC.
Em junho de 2012, o TC negou provimento ao recurso, julgando inconstitucional o art 5º/1,
Lei nº64/2008, por violação do art 103º/3, CRP, na parte em que faz retroagir a 1 de janeiro
de 2008 a alteração do art 81º/3/a), Cód. IRC.
O MP interpôs recurso para o Plenário do TC, invocando a sua contraditoriedade com o juízo
de não inconstitucionalidade proferido pela 3ªSecção deste Tribunal noutro acórdão
(nº18/2011, 12 janeiro 2011).
Ou seja, tanto a Sociedade Anónima, como o MP alegaram a inconstitucionalidade do
art 5º/1, Lei nº64/2008, 5 dezembro, na parte em que faz retroagir a 1 janeiro 2008 a
alteração do art 81º/3/a), Cód. IRC.

Fundamentação
- Conhecimento do Recurso
Art 79º-D/1, LTC admite recurso para o Plenário do TC quando uma das suas secções julgue
uma questão de constitucionalidade em sentido divergente.
Ac. Nº310/2012 da 2ªsecção, proferido em junho de 2012, julgou inconstitucional o art
5º/1, Lei 64/2008, no que diz respeito à retroatividade da alteração do art 81º/3/a), Cód.
Imposto sobre Rendimento PC, a 1 janeiro 2008.
Ac. Nº18/2011 da 3ªSecção, julgou a não inconstitucionalidade da mesma norma.

- Mérito do Recurso
A decisão recorrida julgou inconstitucional o art 5º/1, Lei 64/2008, no que diz respeito à
retroatividade da alteração do art 81º/3/a), Cód. Imposto sobre Rendimento PC, a 1
janeiro 2008 – fundamentos:

• O art 81º, Cód. IRC “Taxas de tributação autónoma”, após a alteração introduzida
pelo art 1º-A, Lei 64/2008, passou a dispor diversamente nos nºs 3 e 4.
 Nº3: antes, eram tributados autonomamente, à taxa de 5%, os encargos
dedutíveis relativos a despesas de representação e os relacionados com
viaturas ligeiras ou mistas, motos ou motociclos; esta alteração, veio tributar
com taxas de 5% e 10%, dependendo das características.
 Nº4: antes eram tributados autonomamente, à taxa de 15%, os encargos
dedutíveis das despesas referidas anteriormente, cujo custo de aquisição
seja superior a 40.000€; esta alteração passou para 20%.
Com esta nova redação, houve um agravamento da taxa de tributação aplicável às
despesas referidas, sendo que, por força do art 5º/1, Lei 64/2008, esse
agravamento é aplicável aos encargos e despesas já realizados pelos contribuintes
no período de 1 janeiro de 2008 até à data de início de vigência da lei.

• O TC recusou a aplicação do art 5º/1, Lei 64/2008, por violação do princípio da


proibição da retroatividade fiscal (103º/3, CRP) – razões que justificam a
importância deste princípio:
◊ Para que o Estado possa cobrar um imposto, ele terá que ser previamente aprovado
pelos representantes do povo e terá que estar perfeitamente determinado em lei geral
e abstrata, só assim se evitando que esse poder possa ser exercido de forma abusiva e
arbitrária, indigna de um verdadeiro Estado de direito.
◊ Por outro lado, o mesmo princípio da legalidade deve impedir que a lei tributária
disponha para o passado, com efeitos retroativos, prevendo a tributação de atos
praticados quando ela ainda não existia, sob pena de se permitir que o Estado imponha
determinadas consequências a uma realidade posteriormente a ela se ter verificado,
sem que os seus atores tivessem podido adequar a sua atuação de acordo com as novas
regras.
◊ Esta exigência revela as preocupações do princípio da proteção da confiança dos
cidadãos, também ele princípio estruturante do Estado de direito democrático,
refletidas na vertente do princípio da legalidade, segundo o qual, a lei, numa atitude
de lealdade com os seus destinatários, só deve reger para o futuro, só assim se
garantindo uma relação íntegra e leal entre o cidadão e o Estado.

Quanto, ao disposto no art 103º/3, CRP, importa dizer que o TC tem vindo a seguir o entendimento
que esta proibição da retroatividade, no domínio da lei fiscal, apenas se dirige à retroatividade
autêntica.

1) A retroatividade autêntica abrange apenas os casos em que o facto tributário que a lei
nova pretende regular já tenha produzido todos os seus efeitos ao abrigo da lei antiga.
2) Assim, são excluídos do âmbito aplicativo da norma as situações de retrospetividade ou
retroatividade imprópria, ou seja, aquelas situações em que a lei é aplicada a factos
passados mas cujos efeitos ainda perduram no presente, como sucede quando as normas
fiscais que produziram um agravamento da posição fiscal dos contribuintes em relação a
factos tributários que não ocorreram totalmente no domínio da lei antiga e continuam a
formar-se, ainda no decurso do mesmo ano fiscal, na vigência da nova lei.

Assim, de modo a perceber se estamos perante uma situação de retroatividade autêntica e, por
consequência, perante uma violação do disposto no artigo 103º/3, CRP, o TC procura responder
a duas perguntas: que tipo de tributação está aqui em causa e, saber se a mesma consiste num
imposto periódico ou de obrigação única.

Quanto à primeira questão – tipo de tributação: estamos perante tributação autónoma em IRC,
sendo que com este tipo de tributação teve-se em vista, por um lado, incentivar os contribuintes a
ela sujeitos a reduzirem tanto quanto possível as despesas que afetem negativamente a receita
fiscal e, por outro lado, evitar que, através dessas despesas, as empresas procedam à distribuição
camuflada de lucros, sobretudo de dividendos que, assim, apenas ficariam sujeitos ao IRC
enquanto lucros da empresa, bem como combater a fraude e evasão fiscais que tais despesas
ocasionem não apenas em relação ao IRS ou IRC, mas também em relação às correspondentes
contribuições, tanto das entidades patronais como dos trabalhadores, para a segurança social.
Ou seja, o legislador procura responder à questão reconhecidamente difícil do regime fiscal de
despesas que se encontram na zona de interseção da esfera pessoal e da esfera empresarial, de
modo a evitar remunerações em espécie mais atraentes por razões exclusivamente fiscais ou a
distribuição oculta de lucros.

Quanto à segunda questão – imposto periódico ou de obrigação única?

Contrariamente ao que acontece na tributação dos rendimentos em


sede de IRS e IRC, em que se tributa o conjunto dos rendimentos auferidos num determinado ano
(o que implica que só no final do mesmo se possa apurar a taxa de imposto, bem como o escalão
no qual o contribuinte se insere), no caso tributa-se cada despesa efetuada, em si mesma
considerada, e sujeita a determinada taxa.

Assim, quanto à tributação autónoma em IRC, o TC considerou que o facto gerador do imposto é
a própria realização da despesa, não se estando perante um facto complexo, de formação sucessiva
ao longo de um ano, mas perante um facto tributário instantâneo. Ou seja, estamos perante um
imposto de obrigação única (cujo facto gerador se produz de modo instantâneo, surge isolado
no tempo, gerando sobre o contribuinte uma obrigação de pagamento com caráter avulso).
O facto tributário esgota-se no ato de realização de determinada despesa que está sujeita a
tributação (embora, o apuramento do montante de imposto, resultante da aplicação das diversas
taxas de tributação aos diversos atos de realização de despesa considerados, se venha a efetuar no
fim de um determinado período tributário).

Assim, quanto ao caso concreto:

Deste modo, conclui o TC que estamos perante a aplicação de lei nova a factos tributários de
natureza instantânea, já completamente formados, anteriores à data da sua entrada em vigor.

Com efeito, o facto gerador da obrigação fiscal – a realização de despesas de representação ou


com viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, motos ou motociclos, no período de 1 janeiro de
2008 até à entrada em vigor da Lei n.º 64/2008, de 5 de dezembro (6 de dezembro
de 2008) – ocorre indubitavelmente antes da publicação da lei nova, não sendo possível entender
que se está perante um facto jurídico-fiscal complexo de formação sucessiva.

A aplicação da nova lei a este facto ocorrido anteriormente à sua aprovação envolve, pois, uma
retroatividade autêntica. O que releva, face aos princípios constitucionais enunciados, não é o
momento de liquidação de um imposto, mas sim o momento em que ocorre o ato que determina
o pagamento desse imposto. É esse ato que vai dar origem à constituição de uma obrigação
tributária, pelo que é nessa altura, em obediência ao princípio da legalidade, na vertente
fundamentada pelo princípio da proteção da confiança, que se exige, como medida preventiva,
que já se encontre em vigor a lei que prevê a criação ou o agravamento desse imposto, de modo
que o cidadão possa equacionar as consequências fiscais do seu comportamento.

Uma vez que a alteração efetuada ao artigo 83.º, n.º 3, do CIRC, através da Lei n.º 64/2008, de 5
de dezembro, veio aumentar a taxa de tributação autónoma aplicável a despesas de representação
e com viaturas, agravando a situação dos contribuintes abrangidos, estava-lhe vedada uma
eficácia retroativa. Assim, o TC julgou a norma inconstitucional.

Votos de Vencido:

Ω Maria Lúcia Amaral


Considera não ser possível defender que o art 103º/3, CRP consagra uma “regra absoluta”, cujo
sentido seja apreensível sem qualquer recurso, no plano hermenêutico, ao princípio da proteção
da confiança.

Acrescenta que, ao fazer depender, de forma absoluta e exclusiva, do critério do facto tributário
(formalmente entendido) a distinção entre retroatividade própria e retroatividade imprópria, o
Tribunal corre o risco de, em inversão metódica, vir a interpretar a Constituição em conformidade
com a lei, em vez de interpretar a lei em conformidade com a Constituição. Se não há nenhum
critério material, de ordem constitucional, que permita separar a retroatividade intolerável da
tolerável, então, o âmbito de aplicação do princípio da proibição da retroatividade da lei fiscal
pode ficar inteiramente dependente das escolhas do legislador.

Ou seja, bastaria que o legislador atribuísse às coisas a configuração formal de “imposto


autónomo”, com facto tributário formalmente “único” e “com efeitos totalmente já passados”,
para que se esteja no campo da “retroatividade” proibida; e, inversamente, basta
que o mesmo legislador configure formalmente as coisas de outro modo para que se esteja no
campo da “retroatividade” tolerada.

Por último, refere que estão em causa, neste caso, encargos que, por natureza, são indispensáveis
para a formação do rendimento sobre o qual incide o IRC. E que, portanto, não faria sentido a
qualificação do imposto que sobre eles recai como imposto “autónomo”, (e “autónomo” face ao
IRC), de tal forma que, ao contrário do que sucederia se a alteração legislativa incidisse sobre o
restante rendimento sujeito a IRC, se considere aqui o facto tributário como tendo produzido já
todos os seus efeitos. Aponta, assim, a adoção de uma visão excessivamente formal do princípio
da proibição da retroatividade da lei fiscal, que, justamente por ser excessivamente formal, corre
o risco de colocar a força vinculativa da Constituição à disposição do legislador ordinário.

Ω Carlos Alberto Fernandes Cadilha

Considera que não estamos aqui, em rigor, perante um imposto de obrigação única, mas perante
factos tributários que incidindo sobre as despesas dedutíveis estão indissociavelmente ligados ao
apuramento e liquidação do IRC, e perante uma solução legislativa cujo objetivo poderia ter sido
atingido, para a determinação da matéria coletável.

Nesse sentido, se o interessado, realizou artificiosamente despesas que não eram indispensáveis
para a realização dos proveitos ou ganhos sujeitos a imposto de IRC, e apenas pretendeu com tais
despesas afetar negativamente a receita fiscal, a sua posição jurídica não é suscetível de ser
tutelada por via do princípio da proteção da confiança (e da proibição de retroatividade fiscal que
dele é uma mera decorrência), visto que para que haja lugar à tutela jurídico -constitucional da
«confiança» é necessário, antes de mais, que as expectativas dos privados na continuidade no
regime sejam legítimas, justificadas e fundadas em boas razões.

Legislação onde consta taxas de tributação autónoma


Art 88º, CIRC - incidem, não sobre o rendimento que vai sendo obtido ao longo do ano, mas
sobre o consumo. Estamos perante despesas associadas a uma finalidade anti-abuso, que
servem para evitar que o contribuinte abuse destas despesas para efeitos fiscais, aplicando-
lhes uma tributação autónoma » ou seja, aplica-se o imposto de 23% + taxa.
Art 73º, CIRS – estas são devidas pelos sujeitos passivos que possuem ou devam possuir
contabilidade organizada (categoria B).
Assim, perante tributação autónoma, podemos dizer que nos encontramos diante factos
tributários de obrigação única e que existe retroatividade autêntica.
CASO Nº5 (continuação)

3. Aumentar a taxa de IRC para 27% para os rendimentos das pessoas coletivas com
efeitos no lucro tributável de 2015, e agravando a tributação autónoma das despesas
com veículos automóveis para 60%;

Tributação autónoma - os factos tributários objeto de tributação autónoma constituem


factos tributários de obrigação única.
A tributação autónoma incide sobre despesas avulsas e não sobre rendimento acréscimo
Uma lei nova só deve ser aplicada a factos tributários que ocorram apos a sua entrada em
vigor, sob pena de ser retroativa e inconstitucional
Ver Acórdão nº617/2012, TC
A tributação autónoma em IRC, o fator gerador do imposto é a própria realização da
despesa, não se tratando de um facto complexo, de formação sucessiva ao longo de um ano,
mas de um facto tributário instantâneo típico dos impostos de obrigação única.
O tratamento das despesas como dedutíveis significa que enquanto despesas elas
contribuem para o apuramento da matéria tributável e para o apuramento do IRC como
imposto sobre o rendimento de acréscimo – art 104º/2, CRP.
A legislação fiscal consagra as tributações autónomas como factos tributários de obrigação
única, uma vez que a tributação incide sobre cada ato de despesa e o facto de a tributação
autónoma estar sistematicamente incluída nos códigos do IRC e IRS não a torna uma
tributação de factos de formação sucessiva.
Não era possível, porque estaríamos perante uma inconstitucionalidade formal da
retroatividade – art 103º/3 CRP – era retroatividade autêntica.

A jurisprudência traz insegurança jurídica, ou seja, a proibição da retroatividade e para a


segurança e depois a jurisprudência ao se alterar leva à violçaao.
Não é por estarem no CIRC, porque o momento de tributação destas despesas não ocorre
ao mesmo tempo que o no IRC.

4. Estabelecer um adicional de 6% ao IRS apurado e liquidado em 2014;

Quando nos referimos a um facto tributário que decorreu num período já terminado.
Neste caso, estamos perante uma retroatividade autêntica (em sentido próprio ou forte)
pois a lei nova de 6% adicionais ao IRS está a ser aplicada a um facto com início no passado,
inteiramente decorrido ao abrigo de uma LA. Está a ser aplicada ao ano de 2014.

Cabe, assim, determinar o tipo de normas fiscais que não podem ser retroativas. Como a
retroatividade visa proteger a segurança jurídica e a confiança do sujeito passivo, só as
normas fiscais oneradoras do sujeito passivo é que não podem ser retroativas. Pelo
contrário, as normas desoneradas podem sê-lo porque favorecem os sujeitos passivos e a
segurança jurídica não é afetada. Como estamos perante um imposto, que é uma norma
onerada esta não pode ser retroativa.
A interpretação dominante do TC é a de que o art. 103º/3 apenas consagrou a proibição da
retroatividade autêntica ou própria (retroatividade forte). Como o TC entende que a
retroatividade autêntica é proibida pela CRP, sem ser necessário avaliar se a proteção da
confiança foi ou não violada, a análise da proteção da confiança é relegada para as situações
de retrospetividade.
No entanto, a professora regente discorda deste ponto de vista, considerando que a
proteção da confiança está sempre ínsita na análise da retroatividade proibida de uma lei
fiscal, pois é o seu princípio interpretativo. Portanto, para a regente temos sempre de fazer
o teste da proteção da confiança.

5. Eliminar, com efeitos ao dia 1 de janeiro de 2014, os benefícios fiscais relativos à


contratação de jovens desempregados.

O art 103º/3, CRP, cabe determinar o tipo de normas fiscais que não podem ser
retroativas. Uma vez que a retroatividade visa proteger a segurança jurídica e a confiança
do sujeito passivo, só as normas fiscais oneradoras do sujeito passivo é que não podem ser
retroativas e pelo contrário as normas desoneradas podem sê-lo porque favorecem os
sujeitos passivos e a segurança jurídica não é afetada.
Esta é uma diferença em relação à reserva de lei fiscal e ao princípio da tipicidade fiscal, pois
a reserva de lei abrange quer as normas oneradoras quer as normas desoneradoras
relacionadas com o an, o quantum, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. Ou
seja, como estamos perante um benefício fiscal, acabava por não haver esta proibição de
retroatividade.

Mas, como estamos perante uma extinção dum benefício fiscal, em que isentava estes
jovens desempregados de pagar impostos, estamos já perante normas oneradas, por isso a
LN só pode produzir efeitos para o futuro, sob pena de ser inconstitucional nos termos do
art 103º/3, CRP e 12º/1, LGT, pelo que consubstancia uma retroatividade autêntica ou em
sentido forte, o que original uma inconstitucionalidade material » quando um benefício
fiscal não tenha prazo num tempo.
Se for um benefício fiscal de 3 anos, aí é muito discutível, teremos de ver se está em
causa a segurança jurídica ou não.
BF duradouros – não se devem lesar as expetativas dos contribuintes.

Art 19º, CBF

Temos de distinguir se estamos perante um BF futuro (quando ainda não tenham sido
praticados os atos necessários, havendo apenas uma expetativa futura de que esse venha a
ser aplicado – nesse caso, não se tutelam expetativas) ou duradouro (certos
comportamentos são incentivados por lei – a proteção das expetativas deve ser efetuada,
dada a segurança jurídica).
6. Prever a tributação imediata em IRS de todas as mais-valias mobiliárias,
independentemente do momento da aquisição das ações e do período de detenção.

Tribunal: mais-valias mobiliárias são factos tributários de obrigação única, porque na


norma de incidência, o IRS diz-nos que há uma tributação quando a mais valia ocorre (art
10º) – a liquidação em si não interessa, o que importa é olharmos para a norma de
incidência.
Prof. Ana Paula Dourado: olhando para outras categorias de rendimentos, como trabalho
dependente, a remuneração é mensal, pelo que se adotássemos a posião do STA, cada vez
que era pago um montante, já tinha havido um facto tributário de obrigação única, a
retenção foi feita.

Entende que o STA faz uma distinção artificial porque não olha para o regime das mais-
valias. Ao contrário do STA, a professora sustenta que a determinação da matéria tributável
é um elemento relevante para determinar se o imposto é periódico ou de obrigação única.
Só a determinação da matéria tributável pode esclarecer se o imposto incide sobre o
acréscimo patrimonial anual ou não; isto significa que as normas de determinação da
matéria coletável têm consequências para a aplicação da lei no tempo.

Art 43º, CIRS – segundo a professora Ana Paula Dourado, temos uma verdadeira norma de
incidência (saldo apurado entre as mais e as menos valias, que só se efetua no final do ano).

O STA diz-nos que esta regra não é verdadeiramente uma norma de incidência, mas sobre a
determinação do rendimento sobre o IRS, e que estamos perante factos tributários que vão
sendo efetuados em momentos particulares ao longo do ano – assim, não se pode olhar
singularmente a cada uma destas mais-valias.

Ex: Janeiro + 100

Fevereiro – 100

Segundo o STA, tributava-se o mês de janeiro. Mas o art 43º, não determina esta mesma
regra – como no final do ano, daria zero, não havia tributação.

CASO Nº6 – IRS E IRC: CAPACIDADE CONTRIBUTIVA, COLETA MÍNIMA E


SINAIS EXTERIORES DE RIQUEZA, FINALIDADE DO IMPOSTO, CONFISCO,
DEDUTIBILIDADE DE GASTOS

Por entre mais uma “crise das instituições democráticas”, a Assembleia da República aprova um
novo pacote de medidas de luta contra a fraude e a evasão fiscais.
Antes do mais, todas as empresas passam a estar sujeitas a uma coleta mínima no valor anual de
mil euros, a aplicar já relativamente ao ano em curso e independentemente dos lucros que resultem
da sua atividade. Trata-se de uma medida com um propósito elementar de moralização a que se
soma a eliminação de todos os benefícios fiscais relativos a cooperativas, fundações e instituições
de utilidade pública, dados os abusos que nesta matéria têm vindo a ser constatados pela
Administração.
Depois, estabelece-se que sempre que os contribuintes singulares possuam determinados sinais
exteriores de riqueza se presuma, para efeitos de IRS, que são titulares de um determinado
rendimento, a menos que façam prova do contrário. A tabela a usar para o cálculo deste
rendimento presumido é a seguinte:

− Viagens 10 vezes o valor


− Cartões de crédito 20 vezes o plafond
− Telemóvel 20 vezes o valor
− Despesas em discotecas 10 vezes o consumo mensal
Enfim, por modo a reforçar a moralização do sistema, determina-se que todos os rendimentos
provenientes de práticas ilícitas fiquem sujeitos a uma taxa agravada de IRS ou de IRC de 60% e
que as despesas suportadas com práticas ilícitas não sejam dedutíveis ao rendimento de Empresas
e profissionais.
Quid iuris?

29/11/2021
Características e estrutura do IRS

• Sobre o rendimento
• De base cedular: divide-se em categorias
• Pessoal (considera as complexidades da pessoa, agregado familiar, etc)
• Periódico (o facto trib forma-se ao longo do período fiscal)
• Progressivo
• Único, mas não unitário
A consequência final desta falta de unidade do IRS é que uns rendimentos são sujeitos a
englobamento (22º) e sujeitos a IRS (68º), mas os que estão sujeitos a taxas liberatórias não estão
sujeitos a englobamento (71º e 72º).

Fase analítica:
Determina-se o rendimento líquido (rendimento bruto da categoria A – dedução específica de
montante fixo, alínea a) do nº1 do art 25º, CIRS).

Fase sintética (comum a todos os impostos):


➢ Caracteriza-se pelo englobamento; contudo os rendimentos da categoria E e F, além dos
rendimentos de sujeitos passivos não residentes não estão sujeitos a englobamento.

Resolução casos – p.10 guia prático:


❖ Quem é sujeito passivo e incidência do tributo
❖ Rendimentos apurados pelo SP, enquadrando-o numa das categorias existentes
(determinamos o rendimento bruto)
❖ Verificar se existem deduções específicas (relacionadas com a obtenção desse
rendimento) – categoria E não tem dedução específica
❖ Englobamento (art 22º, CIRS) – obrigatório para categorias A, B e H. Nas restantes, pode-
se optar pelo englobamento. Os não residentes não podem escolher englobamento.
❖ Rendimento coletável – particularidade do quociente familiar (SP casados ou unidos de
facto, que optem pela tributação conjunta, nos termos do art 69º - ())
❖ Multiplicação pela respetiva taxa do art 68º, obtendo, assim, a coleta.

Deduções à coleta não respeitam à obtenção de dado rendimento, mas estão relacionadas com a
pessoalização do imposto, () fiscais » art 78º, CIRS

INCIDÊNCIA PESSOAL
Incidência subjetiva do imposto:
Agregado familiar – composição (art 13º)
Dependentes (integram agregado familiar) – art 13º/5
Ascendentes/colaterais – não integram o agregado familiar, mas podem ser objeto de
deduções à coleta, nos termos do art 78º-A, CIRS
Tributação separada (13º/2 e 3)

Âmbito de sujeição (13º e 15º)


Residentes PTG: IRS incide sobre totalidade dos rendimentos obtidos em território português,
quer os obtidos no estrangeiro » 13º/1 e 15º/1 (rendimento mundial – worldwide income) + 16º,
CIRS
Não residentes PTG: IRS incide sobre os rendimentos obtidos em território português » 16º
Eliminar questão da dupla tributação - art 81º

Residência fiscal – questão da deslocalização da residência

Residentes não habituais (16º/2 a 8, CIRS) – a determinadas PS que reúnam determinados


requisitos:
➢ Nos termos do art 16º, tem de se verificar que a pessoa é efetivamente residente português;
➢ Não podem ter sido residentes em território português nos últimos 5 anos.
Vantagens: tributação a uma taxa pessoal de 20% das categorias A e B (72º/10); taxa fixa de 10%
(72º/12); isenções fiscais das categorias E, F e G.
Eliminação dupla tributação – art 81º
Portaria 12/2012
03/12/2021
Pagamento remunerações ao abrigo da categoria A – IRS » não retenção na fonte ou retenção sem
entrega
88º, CIRC – tributação autónoma
Remunerações dos órgãos de administração – 2º/3/a), CIRS, estão sujeitas a tributação
autónoma
➢ Viagens pagas ao administrador e família – 2º/3/b), ponto 6), CIRS » também estas viagens
pagas ao trabalhador e agregado familiar consideram-se a tributação autónoma? Não existe
tributação autónoma – só haveria se fossem despesas de representação (ex: viagens pagas a
clientes ou potenciais clientes de angariação)
➢ Utilização viatura – 2º/3/b), ponto 9) – quando a utilização é pessoal e exista um acordo
escrito entre o trabalhador e a entidade patronal »» sujeitos a IRC. Art 88º, CIRC – nº3
(quando não há acordo, há tributação autónoma); mas nº6 diz que se for utilização pessoal e
houver acordo, não existe tributação autónoma.
Qualificação como gasto ou não – art 23º, CIRC.
➢ Remunerações em espécie – art 24º

Caso prático em que a empresa esteve em dificuldades financeiras – art 23º, alínea a) + 88º, CIRC
Art 23º/1 – interpretação »» business purpose test + teoria seguida pela prof Ana Paula Dourado

IRS
Começar por analisar a incidência subjetiva, tendo em conta os sujeitos passivos/agregado
familiar referido no caso prático
Analisar a incidência real, rendimento a rendimento:
Ex: rendimento categoria E, juro, onde estão previstas estas regras de rendimento, há deduções
específicas? Forma de tributação de rendimento (englobamento + taxas gerais // taxas
liberatórias); retenção na fonte.
Rendimentos não residentes – eliminar questão da dupla tributação.

INCIDÊNCIA REAL
❖ Rendimentos da Categoria A » art 2º, CIRS
Princípio da substância sobre a forma
Todo o tipo de formas de remuneração do SP, revista de que forma for, deve ser inserida na
categoria A.
Trata-se de um conceito tão amplo para que as entidades patronais não encontrem forma de não
declarar rendimentos.
Art 2º/3/b) – remunerações acessórias
Ponto 2) Subsídio de refeição – 4€
Art 2º-A: rendimentos excluídos da tributação

Deduções especificas: 25º


Regime de tributação: englobamento obrigatório (22º/1 e 3/b), a contrario); excluem-se os não
residentes.
Rendimentos dos não residentes nunca estão sujeitos a englobamento » gratificações
Salário pago a alguém não residente em Portugal – 72º/10 (taxa de 20%)

Rendimentos da Categoria B » art 3ºss., CIRS


Art 3º/2 – poder de atração: quaisquer rendimentos prediais, de capitais e mais-valias vão
ser imputáveis na categoria B!!!!!
Determinação do rendimento tributável: 28º-39º

− Regime simplificado (31º)


− Contabilidade organizada (32º e 33º)
− Atos isolados (30º)
− Opção pela tributação segundo as regras da categoria A (28º/8)
Regime de tributação: englobamento obrigatório (22º/1 e 3/b), a contrario); excluem-se os não
residentes.
Taxas tributação: gerais progressivas (68º)
Retenção na fonte: 101º; exceção 101º-B/1/a)
Art 151º, Portaria nº1011/2001 – prestação serviços por conta própria

Rendimentos de Categoria E » art 5ºss, CIRS


Juros de depósitos, juros provenientes de contratos, dividendos, ganhos relativos a propriedade,
etc. Regra – não há englobamento (22º/3)
Regra de tributação normal – 71º (taxas liberatórias)
Exceções – 72º/1/d) e nº17 (taxas especiais) » pagamento de juros por uma entidade não residente
a um residente em PTG.
71º/16/b) – tributação agravada, regra antiabuso (30% em vez de 28%)

Rendimentos de Categoria F » 8ºss, CIRS


Rendas dos prédios
Se forem imputáveis a uma atividade, devem ser integrados na categoria B »» art 3º/2,
CIRS!!!
Deduções específicas – art 41º
Englobamento
Todas as categorias aceitam deduções específicas, menos a categoria E

Rendimentos de Categoria G » art 9º, CIRS


Mais valias » art 10º
Mobiliárias (associadas a um ativo móvel) // imobiliárias (associadas a um ativo imóvel)
Regras de determinação deste rendimento:
Mais valias imobiliárias – regra: art 43º (residente, mais valias imobiliárias)
Exceção: art 10º/5, 6, 7 – excluem-se de tributação rendimentos que possam ser reinvestidos
➢ Sujeitos passivos residentes
➢ Reinvestimento num imóvel com o intuito de habitação própria
➢ 24 anteriores ou 36 meses posteriores
Mais valias mobiliárias: art 43º/3

Rendimentos da Categoria H » art 11º, CIRS


Pensões
Englobamento obrigatório (22º/1 e 22º/1/3/b), a contrario) para residentes; não há englobamento
para não residentes (71º/4/…)

Art 70º - mínimo de existência: em determinados casos, quando estejam em causa rendimentos
muito baixos, o nosso CIRS prevê a não tributação desses mesmo rendimentos.
Pág. 36

CASOS P. 37 E 39 GUIA PRÁTICO


Deduções à coleta – art 78ºss, CIRS
Dependentes ou ascendentes

CASO Nº7 – IRS, RENDIMENTOS ATIVOS E PASSIVOS


No ano transato, António e Maria tiveram os seguintes rendimentos:

i) O salário dele e os rendimentos que ela obtém enquanto advogada. Contudo, relativamente
a este último rendimento, houve que contar com variadas despesas;

ii) Juros de um depósito a prazo e dividendos de ações da ‘PT’ que compraram há alguns
anos;

iii) Uma pequena mais-valia relativamente a algumas das ações, que venderam.
Contudo, a vida não é fácil. Foram elevadas as despesas de saúde e de educação dos três filhos,
e ainda tiveram a seu cargo o pai de António, que vive com eles e recebe apenas a pensão
mínima.

Quid iuris?

O presente caso incide sobre o Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
(doravante IRS).

De acordo com o disposto no art 104º/1, CRP, o IRS é um imposto sobre o rendimento (art 4º/1,
LGT – incide sobre a capacidade contributiva das pessoas singulares revelada através do
rendimento), pessoal (já que considera alguns elementos diferenciadores relacionados com a
capacidade contributiva do sujeito – “tendo em conta as necessidades e os rendimentos do
agregado familiar”), de base cedular (tipificam-se os rendimentos tributáveis com recurso a seis
categorias de rendimento), periódico (art 1º/1, CIRS – “incide sobre o valor anual dos rendimentos
das categorias”), único, mas não unitário (procede a uma tributação de carácter global dos
rendimentos das pessoas singulares; contudo, não procede a uma tributação de todos os tipos de
rendimento do sujeito passivo em termos similares), progressivo (aumenta-se o nível de tributação
do contribuinte tendo em conta a subida do seu rendimento coletável) e direto (atingem as
manifestações imediatas da riqueza e da capacidade contributiva, verificando-se uma
coincidência entre o sujeito passivo contribuinte e a pessoa que deve suportar o encargo
económico do imposto).

No processo de liquidação do IRS, primeiramente numa fase analítica, enquadra-se os


rendimentos apurados pelo sujeito passivo numa das categorias de rendimentos previstas nos
artigos 2º e ss., CIRS (aferindo a sua sujeição a tributação ou não); subtrai-se ao rendimento bruto
de cada categoria o valor correspondente às deduções específicas (artigos 25ºss., CIRS),
apurando-se o rendimento líquido tributável (podendo ainda existir dedução de perdas de anos
anteriores, relativamente às categorias B, F e G, nos termos do art 55º, CIRS); o rendimento
líquido é objeto de englobamento (art 22º, CIRS), excluindo-se aqueles que estiverem sujeitos a
taxas dos artigos 71ºss, CIRS. Desta forma, apura-se o rendimento global líquido ou rendimento
coletável do sujeito passivo.

Numa fase posterior, designada de fase sintética, cessa a distinção entre as diversas categorias de
rendimentos, aplicando-se um único conjunto de regras fiscais – ao rendimento coletável são
aplicadas as taxas gerais progressivas do IRS, previstas no art 68º, CIRS, apurando-se, assim, a
coleta. De seguida, efetuam-se as deduções à coleta (nos termos e com os limites fixados nos arts
78ºss., CIRS), obtendo-se, assim, o valor do imposto final.

Finalmente, considerando os valores de imposto que o sujeito passivo já tenha pago ao longo do
ano, a título de retenções na fonte, com a natureza de adiantamento por conta do imposto devido
em termos finais ou a título de pagamentos por conta, este poderá ainda ter imposto a pagar, ou
reembolso de imposto a receber (art 78º/2 e 3, CIRS).

Cumpre, assim, atender aos dados da hipótese em apreço.


Relativamente a António:

De acordo com o disposto no art 13º/1, CIRS, António é sujeito passivo de IRS se residir em
território português ou obtiver, neste, rendimentos. Para aferirmos se este é residente em Portugal,
temos de atender ao art 16º, CIRS (não existe nenhuma informação no caso que nos permita
analisar esta questão com precisão, pelo que se presume que está cumprida uma das alíneas deste
preceito).

Observando os arts 1º/1 e 2º/2, CIRS, percebemos que os rendimentos de trabalho dependente são
todas as remunerações do nº1 do art 2º, compreendendo estas os salários – com efeito, os
rendimentos apurados por António enquadram-se na categoria A. O rendimento líquido tributável
é determinado nos termos do art 25º/1/a), CIRS – aos rendimentos brutos da categoria A
deduzem-se 4.104€ (não temos qualquer informação que nos permita aplicar as alíneas b) ou c))
–, não lhe sendo aplicável as alíquotas dos arts 71º e 72º, CIRS. Deste modo, conforme disposto
no art 22º/1 e 3/b), a contrario, CIRS, este tipo de rendimento encontra-se sujeito a englobamento
obrigatório, aplicando-se, à partida, a tabela do art 68º/1, CIRS (integra as taxas gerais
progressivas do IRS), para definirmos a coleta – a este valor, são efetuadas as deduções à coleta
(arts 78ºss., CIRS), obtendo-se, assim, o valor do imposto final. Contudo, se António e Maria
fossem sujeitos passivos casados e optassem pela tributação conjunta dos rendimentos, as taxas
aplicáveis são as correspondentes ao rendimento coletável dividido por dois (art 69º/1, CIRS).
Para se apurar a coleta do IRS, de acordo com o nº3, teria de se aplicar as taxas fixadas no art 68º
ao quociente de rendimento coletável, multiplicando-se o resultado obtido por dois.

As retenções na fonte desta categoria constam dos arts 99ºss., CIRS, sendo que António poderá
ainda ter imposto a pagar, ou reembolso de imposto a receber (art 78º/2 e 3, CIRS), dependendo
do valor de imposto que pagou ao longo do ano.

Relativamente a Maria:

De acordo com o disposto no art 13º/1, CIRS, Maria é sujeito passivo de IRS se residir em
território português ou obtiver, neste, rendimentos. Para aferirmos se esta é residente em Portugal,
temos de atender ao art 16º, CIRS (não existe nenhuma informação no caso que nos permita
analisar esta questão com precisão, pelo que se presume que está cumprida uma das alíneas deste
preceito).

Observando os arts 1º/1 e 3º/1/b), CIRS, percebemos que os rendimentos de Maria se enquadram
na categoria B, já que estamos perante uma atividade de prestação de serviços de carácter técnico
(advocacia). A determinação da matéria coletável terá de ser feita de acordo com o previsto no
art 28º, CIRS, mais concretamente, nos termos da alínea a), uma vez que Maria parece não ter
ultrapassado no período de tributação imediatamente anterior um montante anual ilíquido de
rendimentos desta categoria de 200.000€ (e também porque não optou pela determinação dos
rendimentos com base na contabilidade – nº3 e nº1/a)). No âmbito do regime simplificado, a
determinação do rendimento tributável de Maria obtém-se através da aplicação do coeficiente de
0,75 (art 31º/1/c), CIRS).

No que diz respeito às “variadas despesas” relativas ao rendimento de Maria, primeiramente,


cumpre referir que no nº1 do art 33º, CIRC são referidos alguns encargos não dedutíveis para
determinar o rendimento da referida categoria. Não são aplicáveis as alíquotas dos arts 71º e 72º,
CIRS.
Quanto ao englobamento, conforme dispõe o art 22º/1 e 2/a), CIRS, nos rendimentos da categoria
B, cada contitular engloba a parte do rendimento que lhe couber, na proporção das respetivas
quotas. À partida, aplicar-se-ia a tabela do art 68º/1, CIRS (integra as taxas gerais progressivas
do IRS), para definirmos a coleta – a este valor, são efetuadas as deduções à coleta (arts 78ºss.,
CIRS), obtendo-se, assim, o valor do imposto final. Contudo, se António e Maria fossem sujeitos
passivos casados e optassem pela tributação conjunta dos rendimentos, as taxas aplicáveis são as
correspondentes ao rendimento coletável dividido por dois (art 69º/1, CIRS). Para se apurar a
coleta do IRS, de acordo com o nº3, teria de se aplicar as taxas fixadas no art 68º ao quociente de
rendimento coletável, multiplicando-se o resultado obtido por dois.

As retenções na fonte desta categoria constam dos arts 99ºss., CIRS, sendo que Maria poderá
ainda ter imposto a pagar, ou reembolso de imposto a receber (art 78º/2 e 3, CIRS), dependendo
do valor de imposto que pagou ao longo do ano.

Relativamente ao pai de António:

De acordo com o disposto no art 13º/1, CIRS, o pai de António é sujeito passivo de IRS se
residir em território português ou obtiver, neste, rendimentos. Para aferirmos se este é residente
em Portugal, temos de atender ao art 16º, CIRS (não existe nenhuma informação no caso que nos
permita analisar esta questão com precisão, pelo que se presume que está cumprida uma das
alíneas deste preceito).

Observando os arts 1º/1 e 11º, CIRS e considerando as circunstâncias da hipótese, a pensão do


pai de António enquadra-se na alínea a) do nº1 do art 11º, CIRS – são prestações devidas a título
de pensões de aposentação ou de reforma, velhice, invalidez ou sobrevivência, bem como outras
de idêntica natureza. Com efeito, os rendimentos apurados pelo pai de António enquadram-se na
categoria H. O art 11º/3, CIRS, acrescenta que este tipo de rendimentos fica sujeito a tributação,
desde que pagos ou colocados à disposição dos respetivos titulares. A determinação da matéria
coletável terá de ser feita de acordo com o previsto no art 53º/1 ou 2, CIRS (as informações da
hipótese são insuficientes para determinar em concreto). Não são aplicáveis as alíquotas dos arts
71º e 72º, CIRS. Quanto ao englobamento, conforme dispõe o art 22º/1 e 2/b), CIRS, nos
rendimentos das restantes categorias (excluindo a B), cada contitular engloba os rendimentos
ilíquidos e as deduções legalmente admitidas, na proporção das respetivas quotas. Deste modo,
aplica-se a tabela do art 68º/1, CIRS (integra as taxas gerais progressivas do IRS), para definirmos
a coleta – a este valor, são efetuadas as deduções à coleta (arts 78º/1/a) e 78º-A, CIRS), obtendo-
se, assim, o valor do imposto final.

Importa referir que o rendimento desta pensão não pode ser englobado nos rendimentos de
António e Maria, já que, nos termos do art 13º/4, CIRS, o ascendente não faz parte do agregado
familiar.
Relativamente aos juros de depósito a prazo e aos dividendos das ações da “PT”:

Tanto os juros de depósito a prazo (arts 1º/1 e 5º, nºs 1, 2/b) e 4, CIRS), como os dividendos das
ações da “PT” (arts 1º/1 e 5º/1 e 2/h), CIRS) enquadram-se na categoria E. Estes ficam sujeitos a
tributação desde o momento em que se vencem, são colocados à disposição do seu titular, são
liquidados ou desde a data do apuramento do respetivo quantitativo (art 7º/1, CIRS). Não se
reconhecem deduções específicas para os rendimentos de capitais, pelo que o rendimento bruto
corresponde ao rendimento tributável. Neste caso, os rendimentos de capitais obtidos em território
português estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, à taxa liberatória de 28% (art
71º/1/a), CIRS), podendo ser englobados (nº8). Assim, a não ser que os titulares dos rendimentos
de capitais, residentes em território português optem pelo englobamento, este não poderá existir,
conforme previsto no art 22º/3/b), CIRS. Porém, se os rendimentos de capitais não estivessem
sujeitos a retenção na fonte, seriam tributados à taxa autónoma de 28% (art 72º/1/d), CIRS).

Relativamente às mais-valias:

As mais valias (art 10º, CIRS) constituem rendimentos da categoria G (arts 1º/1 e 9º/1/a),
CIRS). Nos termos do art 10º/1/b), CIRS, constituem mais-valias os ganhos obtidos que, não
sendo considerados rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, resultem da
alienação onerosa de partes sociais e de outros valores mobiliários. Não se reconhecem deduções
específicas para os incrementos patrimoniais, exceto quanto às mais-valias (art 42º, CIRS).
Relativamente ao valor dos rendimentos destas, por força do art 43º/1, CIRS, corresponde ao
saldo apurado entre as mais-valias e as menos-valias realizadas no mesmo ano. Neste caso, o
saldo positivo entre as mais-valias e as menos-valias é tributado à taxa autónoma de 28% (art
73º/1/c), CIRS). Assim, não pode existir englobamento, conforme previsto no art 22º/3/b), CIRS.

Relativamente às despesas de saúde e de educação:

Nos termos das alíneas c) e d) do nº1 do art 78º, CIRS, à coleta são efetuadas deduções relativas
às despesas de saúde e de educação, pela ordem indicada no art 78º/1, CIRS (nº3), sendo que, se
forem superiores ao imposto devido, conferem direito ao reembolso da diferença.

Ora, de acordo com o previsto no art 78º/5, CIRS, estas deduções só se aplicam aos sujeitos
passivos residentes em território português – como vimos anteriormente, a propósito dos arts
13º/1 e 16º, CIRS, tanto António, como Maria são sujeitos passivos de IRS; no entanto, a hipótese
não nos fornece informações suficientes para sabermos se residem em Portugal (mas presumimos
que sim). O nº7 do art 70º acrescenta que a soma destas duas deduções à coleta não pode exceder,
por agregado familiar, e, no caso de tributação conjunta (que também poderia ser o caso, como
suscitámos em momento anterior), após aplicação do divisor previsto no art 69º, os limites
constantes das alíneas desse preceito. Nos agregados com três ou mais dependentes a seu cargo
(o agregado familiar seria constituído por cinco pessoas: Maria, António e os três filhos – art 13º/4
e 5, CIRS), os limites do nº7 são majorados em 5% por cada dependente ou afilhado civil que não
seja sujeito passivo do IRS.

Deveriam ser ainda feitas as deduções dos arts 78º-A, 78º-B, 78º-C e 78º-D, relativamente aos
descendentes, às despesas gerais do agregado familiar, às despesas de saúde e às despesas de
formação e educação, respetivamente.
CASO Nº8 – CATEGORIAS DE RENDIMENTOS DE IRS, GASTOS EMPRESARIAIS,
SUBSTITUIÇÃO E RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
Joaquim, administrador de uma empresa de contabilidade, utilizava para uso pessoal um
carro que a sua entidade patronal, a sociedade Átila & Irmãos, lhe havia disponibilizado, bem
como recebia subsídio de almoço e subsídio de residência. A entidade patronal pagou ainda
uma viagem de férias ao Dubai a Joaquim e a toda a sua família. Contudo, e na sequência da
epidemia que se abateu sobre o País e estando a Átila & Irmãos com dificuldades financeiras,
decidiu deixar de entregar os montantes retidos aos seus funcionários aquando do pagamento dos
salários junto das Autoridades Fiscais Portuguesas.

Quid iuris?

De acordo com o disposto no art 13º/1, CIRS, Joaquim é sujeito passivo de IRS se residir
em território português ou obtiver, neste, rendimentos (tal como dispõe neste preceito, os sujeitos
passivos serão tributados no seu rendimento mundial, worldwide income). Para aferirmos se este
é residente em Portugal, temos de atender ao art 16º, CIRS (pelas circunstâncias do caso, António
parecia residir em Portugal, estando cumprida pelo menos a regra geral dos 183 dias – alínea a)
do nº1 do art 16º, CIRS).

Joaquim é administrador de uma empresa de contabilidade, tendo uma remuneração que se


enquadra nos rendimentos de trabalho dependente, por força dos arts 1º/1 e 2º/3/a), CIRS – com
efeito, os rendimentos apurados por Joaquim enquadram-se na categoria A.

O rendimento líquido tributável é determinado nos termos do art 25º/1/a), CIRS – aos rendimentos
brutos da categoria A deduzem-se 4.104€ (não temos qualquer informação que nos permita
aplicar as alíneas b) ou c)) –, não lhe sendo aplicável as alíquotas dos arts 71º e 72º, CIRS.

Deste modo, nos termos do art 22º/1 e 3/b), a contrario, CIRS, este tipo de rendimento encontra-
se sujeito a englobamento obrigatório, aplicando-se, à partida, a tabela do art 68º/1, CIRS (integra
as taxas gerais progressivas do IRS), para definirmos a coleta – a este valor, são efetuadas as
deduções à coleta (arts 78ºss., CIRS), obtendo-se, assim, o valor do imposto final.

As retenções na fonte desta categoria constam dos arts 99ºss., CIRS, sendo que Joaquim poderá
ainda ter imposto a pagar, ou reembolso de imposto a receber (art 78º/2 e 3, CIRS), dependendo
do valor de imposto que pagou ao longo do ano.

Cumpre analisar cada questão, em separado.

Relativamente ao uso de viatura automóvel – art 2º/3/b), ponto 9), CIRS:

O gasto com a viatura automóvel, uma vez que nada se refere sobre a existência do acordo
mencionado no art 2º/3/b), ponto 9), CIRS, considerei que a mesma não seria inserida num
rendimento da Categoria A de Manuel.

Uma vez que se trata da utilização de um veículo, teríamos de analisar o regime do artigo 24º, que
diz respeito aos rendimentos em espécie. O nº5, face aos rendimentos em espécie no caso de
atribuição do uso de viatura automóvel pela entidade patronal, determina que o rendimento anual
corresponde ao produto de 0,75% do seu valor de mercado, reportado a 1 de janeiro do ano em
causa, pelo número de meses de utilização é a mesma.
Não são aplicáveis as alíquotas dos arts 71º e 72º, CIRS. Nos termos do art 22º/1 e 3/b), a
contrario, CIRS, estes tipos de rendimentos encontram-se sujeitos a englobamento obrigatório,
aplicando-se, à partida, a tabela do art 68º/1, CIRS (integra as taxas gerais progressivas do IRS),
para definirmos a coleta – a este valor, são efetuadas as deduções à coleta (arts 78ºss., CIRS),
obtendo-se, assim, o valor do imposto final.

Se forem, efetivamente, rendimentos em espécie, nos termos do art 99º/1/a), não pode haver
retenção na fonte. Assim, Joaquim terá de pagar IRS sobre os montantes relativos à viatura
automóvel.

Relativamente ao subsídio de almoço – art 2º/3/b), ponto 2)

Já no que concerne ao “subsídio de almoço”, e uma vez que nada nos é dito sobre valor específico
do mesmo, temos que apenas será́ considerado como um rendimento da Categoria A, “na parte
em que exceder o limite legal estabelecido ou em que o exceda em 60 % sempre que o respetivo
subsídio seja atribuído através de vales de refeição”, como dispõe o art 2º/3/b), ponto 2), CIRS.

Existirá, então, retenção na fonte, uma vez que o subsídio é em dinheiro, atendendo aos arts 98º/1
e 99º/1/a).

Relativamente ao subsídio de residência – art 2º/3/b), pontos 4) e 11), CIRS

Relativamente ao subsídio de residência, este constitui também um rendimento da Categoria A


de António tal como disposto nos arts 1º e 2º/3/b), pontos 4) e 11), CIRS, sendo determinado
nos termos do art 25ºss. Sendo também em espécie, aplicar-se-ia, novamente, o art 24º/2.

Relativamente à viagem oferecida

A viagem é considerada um rendimento da Categoria A, tal como dispõe o art 2º/3/b), ponto 6),
CIRS. É ainda relevante mencionar o disposto no artigo 2º/11 do CIRS, onde se considera
rendimento de trabalho do sujeito passivo as regalias e benefícios atribuídos pela entidade
patronal ao trabalhador, abrangendo qualquer outra pessoa do seu agregado familiar.

A sociedade Átila e Irmãos é sujeito passivo de IRC, tratando-se de uma sociedade


comercial, nos termos do art 2º/1/a), CIRC, que incide sobre o seu lucro (art 3º/1/a), CIRC)
nomeadamente o seu lucro real, sendo que o art 17º/1, CIRC, concretiza o preceito constitucional
do art 104º/2, CRP.

Uma vez que a viatura automóvel e a viagem se constituem como remunerações de A, considerei
que ambos os gastos são dedutíveis pela empresa, segundo o art 23º/2/d), CIRC, encontrando-
se os gastos com a viatura excluídos expressamente de tributação autónoma, no art 88º/6/b),
CIRC. Deste modo, a empresa poderá efetivamente deduzir os gastos relativos à viatura
automóvel e à viagem de férias.

Como sujeito ativo da relação jurídico tributária temos a segurança social, pelo disposto no
art 18º/1, LGT.

Os sujeitos passivos, nos termos do art 18º/3, LGT, são: a sociedade (como substituto), os
trabalhadores da sociedade (como substituídos) e os administradores (como eventuais
responsáveis tributários). Assim, havendo entrega retenção e não entrega das quotizações, quem
fica desonerado é o substituído, apenas respondendo pela respetiva dívida tributária o substituto,
tal como refere o art 28º/1 da LGT.

Apenas se poderá́ responsabilizar os administradores, se o património da empresa for insuficiente


ou inexistente para o cumprimento das dívidas tributárias, por via da reversão do processo de
execução fiscal e sem prejuízo do benefício da excussão prévia, como dispõem os arts 23º/1 e 2,
LGT, sendo a responsabilidade subsidiária, nos termos do art 22º/4, LGT. Ainda assim, será
necessário aferir previamente da culpa da empresa, ou seja, se a mesma não sabia que tinha de
cumprir com a obrigação fiscal, o que parece verificar-se uma vez que no caso afirma-se que foi
devido à crise que decidiram não pagar. Relativamente à averiguação da culpa funcional dos
administradores, estes têm de ser diligentes, criteriosos e ordenados, como enumera o art 64º/1/a),
CSC, apenas sendo ilidível a sua culpa funcional apenas em excecionais.

Assim, sendo Joaquim o administrador da empresa, recairá sobre si o ónus da prova de que não
foi por culpa sua que se incumpriu com a divida tributária, se o prazo legal de pagamento ou
entrega tenha terminado no período de exercício do seu cargo (que podemos concluir que sim),
como elencado no artigo 24º/1, alínea b) da LGT.

CASO Nº10 – IRC, NORMAS ESPECIAIS ANTI-ABUSO E CLÁUSULA GERAL ANTI-


ABUSO

A sociedade anónima X prevê apresentar um resultado líquido do exercício positivo de 200


milhões de euros, em 2014, pretendendo ainda distribuir o máximo do lucro possível aos cinco
sócios. Face à possibilidade de se ver confrontada com uma elevada coleta de IRC, além do IRS
dos respetivos sócios pela distribuição de dividendos, a sociedade X resolve consultar um Técnico
Oficial de Contas (TOC), conhecido do sócio.

O TOC fez uma análise fiscal da situação e apresenta uma proposta de poupança fiscal, onde se
pode ler:

Sem qualquer intervenção, a carga fiscal global ascenderia a 46 milhões de euros em IRC (23%
x 200 milhões) e a cerca de 77 milhões de euros em IRS (aprox. 53% x [200 milhões – 50
milhões]).

No mesmo documento, como proposta de otimização fiscal, o TOC sugeriu à sociedade X:

• Pagamento de 50 milhões de Euros a uma sociedade situada na República de Vanuatu, por


prestação de serviços de consultoria geral, criando assim custos;
• Venda à sociedade Z – que é detida em 55% pela empresa X – ao valor de mercado, de ações
que detém na sociedade Y, gerando uma menos-valia mobiliária de 50 milhões;
• Compra de maquinaria industrial pelo dobro do seu preço de mercado à sociedade Z,
permitindo assim deduzir uma quota de amortização de 25 milhões de euros já́ em 2014;
• Compra de jóias para as esposas dos 3 administradores, no valor de 50 milhões de euros,
deduzindo assim o respetivo valor em IRC e evitando a tributação dos administradores em
IRS;
• Compra aos sócios de parte das ações que estes têm na própria sociedade, pagando esta
pelas ações próprias o valor de 150 milhões de euros. A sociedade comprometer-se-á́ , ainda,
a revender as mesmas aos sócios pelo valor de mil euros logo no ano de 2014, enquanto os
sócios financiarão gratuitamente a sociedade em 150 milhões de euros em 2014 e 2015.

Os administradores da sociedade não sabem o que pensar de tudo isto, enquanto o Revisor Oficial
de Contas (ROC) da sociedade, por seu lado, não está minimamente convencido com a análise.
Em particular, o ROC acha que a proposta não vai resultar e que vai trazer até mais encargos em
IRS e IRC do que se nada se fizesse.

Quid iuris?

Nos termos do art 1º, CIRC, o IRC incide sobre os rendimentos obtidos, mesmo quando
provenientes de atos ilícitos, no período de tributação, pelos respetivos sujeitos passivos, nos
termos deste Código. De acordo com o art 2º/1/a), são sujeitos passivos do IRC as sociedades
comerciais com sede ou direção efetiva em Portugal, portanto, presumindo que a Sociedade X
tem a sua sede em Portugal, esta seria sujeito passivo do IRC.

O art 3º, CIRC determina a base do imposto, sendo que no nº1/a), estabelece-se que incide sobre
o lucro das sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, das cooperativas e das empresas
públicas e o das demais pessoas coletivas ou entidades referidas nas alíneas a) e b) do nº 1 do
artigo anterior que exerçam, a titulo principal, uma atividade de natureza comercial, industrial
ou agrícola”, sendo que o lucro aqui referido consiste na diferença entre os valores do património
líquido no fim e no início do período de tributação (3º/2, CIRC). O período de tributação encontra
a sua previsão no art 8º - o IRC é devido por cada período de tributação que coincide com o ano
civil. O IRC incide sobre a totalidade dos rendimentos da Sociedade X, incluindo os obtidos fora
do território português – 4º/1 CIRC.

Quanto à matéria coletável, diz o art 16º/1 que esta é, em regra, determinada com base em
declaração do sujeito passivo, sem prejuízo do seu controlo pela administração fiscal. Porém, no
presente caso, estamos perante lucro tributável, tendo de aplicar o art 17º/1 que nos diz pelo que
é constituído o lucro tributável das pessoas coletivas: “soma algébrica do resultado líquido do
período e das variações patrimoniais positivas e negativas verificadas no mesmo período e não
refletidas naquele resultado, determinados com base na contabilidade e eventualmente corrigidos
nos termos deste Código”.

A primeira questão deste caso está relacionada com a distribuição de lucros aos sócios e tributação
desses mesmos lucros. De acordo com o art. 1º/1, em conjugação com o 5º/1 e 2/h) todos do
Código do Imposto sobre Rendimento das Pessoas Singulares (CIRS), a distribuição de
dividendos aos sócios constitui rendimento da Categoria E – Rendimentos de Capitais. A lei não
reconhece deduções específicas quanto a rendimentos de capitais pelo que, estão sujeito à taxa
liberatória de 28% - 71º/1/a) CIRS - sendo que podem estes rendimentos “ser englobados para
efeitos da sua tributação” – 71º/8 CIRS.

Relativamente ao pagamento a uma Sociedade situada em Vanuatu

No art 23º-A CIRC, que trata dos encargos não dedutíveis, temos, no número 1, alínea r) que as
importâncias pagas a pessoas coletivas situadas fora do estado português (que seria aqui o caso)
e submetidas a regimes fiscal a que se referem os nº 1 e 5 do art. 63º-D da Lei Geral Tributária
(LGT), que são os país com um regime fiscal mais favorável, não são dedutíveis. Temos assim
que saber se a República de Vanuatu consta da lista dos países com regime de tributação
privilegiada da Portaria 150/2004 – a República de Vanuatu consta, de facto, da lista, estando na
posição 80). Assim, o gasto não seria dedutível.

Porém há que ter em atenção a parte final da alínea r) do número1 do 23º-A do CIRC que contém
a possibilidade de a Sociedade X provar que estes encargos correspondem a operações reais e que
não são anormais nem tem um montante exagerado – a Autoridade Tributária e Aduaneira notifica
o sujeito passivo para a produção de prova, devendo, para tal, ser fixado prazo mínimo de 30 dias
– 23º-A/8 CIRC.

Caso a Sociedade X não prove o referido acima, ilidindo a presunção, aplicar-se-á uma taxa de
tributação autónoma de 35% - 88º/1 e 8.

Venda de ações à sociedade Z

Estamos aqui perante uma situação de abuso fiscal – 38º/2 LGT – a sociedade X realizou
construções com a finalidade principal de obter uma vantagem fiscal que frustra o objeto do
direito fiscal aplicável, temos uma simulação, o objetivo do negócio é a fuga ao fisco.

Os pressupostos para aplicação do 38º/2 são: obtenção de uma vantagem, que é contrária à lei
(tinha em vista a redução de impostos devidos); obtenção dessa vantagem é a finalidade essencial
da transação; utilização de esquemas fraudulentos (no caso, tínhamos simulação). Esta realidade
será desconsiderada para efeitos tributários, efetuando-se tributação de acordo com as normas
aplicáveis aos negócios ou atos que correspondam à substância ou realidade económica e não se
produzindo as vantagens fiscais pretendidas, ou seja, há ineficácia para efeitos fiscais, pelo que,
não se têm em conta as menos-valias geradas.

Compra de maquinaria industrial

Neste caso temos de atentar no art. 63º do CIRC, pois a Sociedade X detém 55% da Sociedade Z,
e este artigo refere, no seu nº1, “nas operações efetuadas entre um sujeito passivo e qualquer outra
entidade, sujeita ou não a IRC, com a qual esteja em situação de relações especiais, devem ser
contratados, aceites e praticados termos ou condições substancialmente idênticos aos que
normalmente seriam contratados, aceites e praticados entre entidades independentes em
operações comparáveis”.

Para determinar o que serão “relações especiais” temos de atentar no nº4 do preceito em questão,
e verificamos que a sociedade X e Z se encontravam nesta situação devido ao facto de X deter
55% de Z.

Relativamente às condições em que normalmente seriam contratados, determina o nº3/a) o


método do preço comparável de mercado. Isto significa que esta compra de maquinaria industrial
não seria uma compra “normal”, pois em condições normais não se iria comprar pelo dobro do
preço do mercado.

Não respeitando estas regras, determina o nº9, que a Autoridade Tributária e Aduaneira pode
efetuar as correções na determinação do lucro tributável, pelo montante correspondente ao que
teria sido obtido se as operações se tivessem efetuado numa situação normal de mercado.
Compra das joias para as esposas dos administradores

Esta situação não está prevista no art. 23º-A do CIRC, nem expressamente no 23º.

O regime que decorre atualmente do artigo 23º CIRC pauta a dedutibilidade de gastos por dois
critérios: um critério de natureza formal, nos termos do qual os gastos ou perdas deverão ter um
suporte documental adequado, à luz do disposto no respetivo nº3; e um critério de natureza
material, nos termos do qual os mesmos gastos ou perdas deverão ter sido incorridos ou
suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC (vulgarmente
designado “business purpose test”). Relativamente a este segundo critério, o entendimento
doutrinário para sua interpretação é relativamente unânime: são dedutíveis todos os gastos e
perdas que verifiquem uma relação objetiva face ao interesse da empresa, entendendo-se como
tal o próprio objeto da sua atividade. Cabe dizer, então, que a compra de joias não tem relevância
para a vida da sociedade e, como tal, não seria dedutível em sede de IRC.

Existiria tributação autónoma nos termos do 88º/7 CIRC.

No que toca à tributação dos administradores, seria em sede de IRS. Isto pode considerar-se uma
vantagem económica, benefícios não incluídos na remuneração principal, sendo rendimentos da
categoria A (1º/1, 2º/2 e 3/b) do CIRS). O facto de ser para as esposas e não para os
administradores em si não tem relevância devido ao art. 2º/11 que refere que se consideram, para
efeito do 3º/b), “rendimentos do trabalho do sujeito passivo os benefícios ou regalias atribuídos
pela respetiva entidade patronal a qualquer outra pessoa do seu agregado familiar”. Deste modo,
estando dentro dos rendimentos dos administradores e sendo bens em espécie, aplica-se as regras
do 24º do CIRS, recorrendo aos critérios do nº1 para determinar o preço a considerar.

Compra de ações aos sócios

A compra aos sócios de parte das ações que estes têm na sociedade é uma prática de elisão fiscal,
em que se situam negócios jurídicos que assumem formas jurídicas não abrangidas pelas normas
de incidência ou que evitam certas normas de determinação da matéria coletável. Ocorre elisão
porque a substância desses atos ou negócios não é conforme com o fim/espírito da lei, sendo que
no caso o negócio é claramente artificial porque é uma compra seguida da devolução aos sócios
dos montantes pagos. Resolve-se por meio da cláusula geral anti-abuso do 38º/2 LGT, estando
verificados os pressupostos já acima referidos. A consequência é a ineficácia para efeitos fiscais,
não se produzindo as vantagens fiscais visadas.

Tudo isto considerado, o Revisor Oficial de Contas, tem razão ao referir que a proposta não irá
resultar, acabando por trazer mais encargos.
Aula de dúvidas de Direito Fiscal

Começando pelo Grupo I:

Quanto à incidência objetiva:

Em 2020 ele é não residente em PTG e não aufere salário em PTG » não há tributação em PTG em relação
aos rendimentos da categoria A.

Em 2021 – o que está no slide + as retenções na fonte constituem uma dedução à coleta (art 78º, CIRS).

No último ponto, a propósito do art 72º/10, CIRS, devemos referir a portaria sobre atividades de valor
acrescentado (Portaria nº230/2019 – pág. 429 coletânea Almedina, atualizada, com a designação de
“Portaria nº12/2010”).

Estas matérias constam nas págs. 13 e 14 do guia prático.


Efeitos de se aplicar o englobamento (em casos de rendimentos não sujeitos a englobamento
obrigatório):
➢ Aplicação das tabelas gerais do art 68º
➢ A retenção que tinha natureza liberatória (e que tivesse ocorrido nos termos do art 71º,
CIRS), passa a ter natureza por conta do imposto devido a final.

Se esta entidade “Crédit Agricole” estivesse localizada num paraíso fiscal, em vez do art 72º/1/d),
aplicaríamos o 72º/17/a) (tributação agravada em 35%).
Em contraposição, se os rendimentos que são pagos pela Caixa Geral de Depósitos fossem pagos
a um não residente que se localizasse num paraíso fiscal, o art 71º/16/b) obrigaria a aplicar uma
tributação acrescida (taxa de 35%).

Em 2020 e em 2021, as rendas vão estar sujeitas a tributação em Portugal:


➢ Em 2020, embora fosse não residente, obteve um rendimento em Portugal, nos termos do
art 18º/1/h), CIRS, resultante do arrendamento.
➢ Quanto a 2021, sendo residente em território português, é tributado pela integralidade dos
seus rendimentos (art 15º/2, CIRS).
Em ambos os casos, a tributação que iria ocorrer seria de 28% (art 71º/1/e) e 2, CIRS).
Como no nosso caso tínhamos um residente não habitual, este poderia beneficiar da isenção de
tributação quanto aos rendimentos obtidos no estrangeiro (art 81º/4 e 5, CIRS).
Quanto ao Grupo II:

Esta empresa seria tributada em 60% autonomamente relativamente a encargos não dedutíveis

Desde logo, referir a não aceitação destes encargos, como encargos dedutíveis, nos termos do art
23º-A (norma anti abuso – art 23º-A/1/r), CIRC), porque estamos perante um pagamento efetuado
a uma entidade residente num paraíso fiscal (consta da Portaria nº150/2004 e dos critérios
constantes do art 63º-D, LGT).
Quando diz que os gastos tiveram um montante avultado – se este valor avultado resultar da
prática de preços que não respeitem o princípio da plena concorrência (preços praticáveis entre
entidades independentes), aplicava-se o art 63º/4/h), CIRC (entidade não residente sujeita a um
regime mais favorável).
A propósito do conceito de relações especiais entre entidades do art 63º/4, CIRC:
Estas relações resultam, desde
logo, de participações diretas ou
indiretas no capital de uma
empresa.
Relações especiais:

• entre a empresa ABC e todas as


empresas-filhas onde detêm uma
participação direta;
• entre a empresa ABC e a
empresa D, onde detêm uma
participação indireta;
• entre as empresas B e D;
• entre as empresas B e C.
•…

A dedutibilidade ou não, nos termos do art 23º, CIRC já não condiciona a questão das tributações
autónomas (podem acontecer ou não, mediante a opção do legislador relativamente à penalização
de determinadas despesas).

Continuação do caso prático:

Regra geral, as remunerações dos membros dos órgãos de Administração, constituem, para essas
mesmas pessoas, rendimentos da categoria A (art 2º/3/a), CIRS).
Referir quem é o substituto e substituinte, recorrer às regras da LGT.

Matéria do confisco está bem explicada no manual da regente.

Quanto ao IVA, observar regras sobre incidência objetiva (1ºss, CIVA)

09/12/2021

Regras específicas anti-abuso

Diretiva anti-elisao – combate à elisão fiscal. Foi incluída num pacote que incluiu um conjunto
de preceitos normativos.

• Limitação à dedutibilidade dos juros – art 67º, CIRC + 4º, ATAP e 4º, BEPS
• Assimetrias Híbridas (diferenciação de tratamento; qualificação divergente em ais do que
um OJ; entidades híbridas são aquelas que são tratadas de forma diferente por diferentes
países) – proposta lei nº10/XIV/1ª (GOV).

Ex: produto que num Estado é assimilado a um juro, mas noutro já é qualificado como dividendo)
• Regra Geral Antiabuso – 38º, LGT + 6º, ATAD

Passou a aplicar-se a todas as situações (exteriores e interiores); passa a ter em conta a


jurisprudência do TJUE e a finalidade de anti-elisão.

• Regras relativas às sociedades estrangeiras controladas – 66º, CIRC + 7º e 8º, ATAD + ação

REGRA GERAL ANTIABUSO – 38º, LGT

Nº2:

• Elemento mãe (construção com abuso das formas jurídicas que não sejam consideradas
genuínas)
• Elemento finalidade – apurado com base em elementos objetivos
• Vantagem fiscal
• Frustre o objeto ou a finalidade do direito fiscal aplicável – tendo em conta o elemento
sistemático, tem de se readaptar a conduta do SP de acordo com aquela que é a conduta(…)
• Elemento sancionatório (não se produzindo as vantagens fiscais pretendidas)

Nº3:

Nº6: juros compensatórios – para a elisão fiscal, o nosso ordenamento jurídico responde com ().

APD: este elemento adicional sancionatório poderá resultar numa inconstitucionalidade desta
norma.

Limitações à dedutibilidade de juros – art 67º, CIRC

A aceitação destes gastos de financiamento sem qualquer limite, pode facilitar práticas de
planeamento fiscal abusivo, através do recurso a capitais alheios (remunerações que não juros).

Nº9 – aplica esta regra aos estabelecimentos estáveis de entidades não residentes

Art 66º, CIRC

Ficciona uma distribuição

→ Percentagem de capital de valor igual ou superior a 25%


→ A distribuição não esteja a ser efetuada por uma entidade sujeita a um regime claramente
mais favorável

Entidade sujeita a um regime mais favorável (nº6):

• Portaria;
• Quando o imposto sobre os lucros efetivamente pago seja inferior a 50%.
Art 51º/10, CIRC

Não se vai aceitar quando estes gastos sejam dedutíveis pela entidade que os distribui para efeitos
do imposto mencionado no nº1, alínea d).

Você também pode gostar