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Capítulo 3. Segundo Bimestre – Prof.

Anderson

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Durante a Idade Média, senhores e mestres não tinham qualquer problema em bater em crianças até a sua submissão. Por exemplo, em um
documento do final do século 14, um conde francês aconselha que todo nobre caçador deveria “escolher um menino-servo com sete ou oito
anos” e que “esse garoto deve apanhar até ter um temor sobrenatural de falhar em seguir as ordens de seu mestre.” [1] O documento prossegue
listando um prodigioso número de tarefas que um menino deveria cumprir a cada dia e afirmando que ele iria dormir em um mezanino em cima
dos cães de caça para estar atento às necessidades dos animais.

“Uma boa criança era uma criança obediente, que suprimia seu desejo de brincar e explorar e obstinadamente cumpria as ordens de seus mestres
adultos”

“Uma boa criança era uma criança obediente, que suprimia seu desejo de brincar e explorar e obstinadamente cumpria as ordens de seus mestres
adultos”

Com o crescimento da indústria e com o surgimento da burguesia, o feudalismo foi desaparecendo, mas isso não melhorou a vida de grande
partes das crianças. Donos de negócios, como donos de terra, precisavam de trabalhadores e poderiam lucrar ao extrair o máximo de trabalho
com o menor pagamento possível. Todos sabem como isso foi estruturado – e permanece assim em muitas partes do mundo. Pessoas, incluindo
crianças, trabalhavam durante a maior parte das suas horas despertas, sete dias por semana, em condições bestiais, apenas para sobreviver. O
trabalho das crianças não se dava mais no campo, onde ao menos havia sol, ar fresco e alguma oportunidade para brincar. Agora ele estava nas
feias, superlotadas e escuras fábricas. Na Inglaterra, capatazes dos pobres costumavam procurar crianças pauperizadas e às levavam para
fábricas, onde eram tratadas como escravas. Milhares de crianças morriam a cada ano de doenças, fome e exaustão. Foi apenas no século 19 que
a Inglaterra aprovou leis limitando o trabalho infantil. Em 1883, por exemplo, a nova legislação proibiu a indústria têxtil de empregar crianças
com menos de nove anos e limitou o trabalho máximo semanal em 48 horas, para crianças de 10 a 12 anos, e 69 horas, para crianças de 13 a 17
anos. Em resumo, por milhares de anos após o advento da agricultura, a educação de crianças era, até certo ponto, uma questão de esmagar a
espontaneidade delas na criação de um bom trabalhador. Uma boa criança era uma criança obediente, que suprimia seu desejo de brincar e
explorar e obstinadamente cumpria as ordens de seus mestres adultos. Tal educação, felizmente, nunca foi bem sucedida. Os instintos humanos
para brincar e explorar são tão poderosos que nunca podem ser totalmente expulsos de uma criança. Conforme a indústria se desenvolveu e se
tornou mais automatizada, a necessidade do trabalho infantil diminuiu em algumas partes do mundo. A ideia de que a infância deve ser uma
etapa de aprender começou a se espalhar e escolas para crianças foram desenvolvidas como lugares de aprendizado. A ideia e a prática da
educação pública universal e obrigatória se desenvolveu gradualmente na Europa, do começo do Século 16 até o 19. Era uma ideia que tinha
muitos apoiadores, todos com agendas próprias relativas ao que as crianças deveriam aprender.

Muito do ímpeto por uma educação universal veio das religiões protestantes, que emergiam na época. Martinho Lutero declarou que a salvação
dependia da leitura individual das Escrituras. Um corolário, que não se perdeu em Lutero, foi que cada pessoa deveria aprender a ler e que as
Escrituras representavam a verdade absoluta. A salvação dependia do entendimento dessas verdades. Lutero e outros líderes da Reforma
promoveram educação pública como um dever Cristão, para salvar nossas almas da danação eterna. Ao fim do século 17, a Alemanha, que era
líder no desenvolvimento da escolaridade, tinha leis em diversos estados demandando que as crianças fossem à escola, que era gerida pela igreja
Luterana, não pelo estado [3]. Nos EUA, na metade do século 17, o estado de Massachussetts se tornou a primeira colônia a tornar a educação
obrigatória, sob o objetivo de transformar as crianças em bons Puritanos. Tendo início em 1690, as crianças de Massachussetts e das colônias
próximas aprenderam a ler o “New England Primer”, conhecida informalmente como “A Pequena Bíblia da Nova Inglaterra.”

Donos de indústrias viam nas escolas uma oportunidade de criar trabalhadores e trabalhadoras melhores. Para eles, o aspecto mais crucial a ser
ensinado era pontualidade, seguir instruções, tolerância às longas horas de trabalho tedioso e uma habilidade mínima para ler e escrever. De seu
ponto de vista (mesmo que não tenham dito isto desta forma), quanto mais chatos os assuntos ensinados na escola, melhor. Conforme as nações
se tornaram mais centralizadas, líderes nacionais viam a escolarização como forma de criar bons patriotas e futuros soldados. Para eles, os
ensinamentos mais cruciais eram sobre as glórias da pátria, seus maravilhosos feitos e as virtudes morais dos fundadores da nação e de seus
líderes e a necessidade de defender a nação das forças malignas dos invasores.

Surge a creche na Europa nos Estados Unidos

ESCOLA DO TRICÔ -> fundada em 1767 pelo Padre Oberlin, na França. A palavra Creche, que tem origem francesa, significa manjedoura.

ESCOLA INFANTIL -> criada em 1816 por Robert Owen, na Escócia. Fundou o INSTITUTO PARA FORMAÇÂO DE CARÁTER que era
organizado em três níveis: o 1º era a escola infantil para crianças de 3 a 6 anos; o 2º atendia crianças de 6 a10 anos e o 3º era oferecido durante a
noite e atendia alunos dos 10 aos 20 anos.

JARDIM-DE-INFÂNCIA -> criado por Froebel em 1873, na Alemanha.

CASA DEI BAMBINI (casa das crianças) -> no início do sec. XX, na Inglaterra, Maria Montessori trabalhou com crianças pobres de um bairro
operário.

O INFANTÁRIO -> no início do sec. XX, na Inglaterra, Margaret McMillan em parceria com sua irmã Raquel criaram esta instituição.
1
Cabe observar que, com exceção dos jardins-de-infância de Froebel, todos os outros programas foram iniciados para melhorar a vida das
crianças pobres. A creche surgiu como uma instituição assistencial que ocupava o lugar da família, nas mais diversas formas de ausência.

No Brasil, o surgimento das creches foi um pouco diferente do restante do mundo. Enquanto no mundo a creche servia para as mulheres terem
condição de trabalhar nas indústrias, no Brasil, as creches populares serviam para atender não somente os filhos das mães que trabalhavam na
indústria, mas também os filhos dasempregadas domésticas.

A história da educação infantil é relativamente recente no país. Foi nas últimas décadas que o atendimento a criança menor de sete anos de idade
em creches e pré-escolas nasceu mais significativa e aceleradamente. Esse crescimento é motivado pelo aumento da demanda por instituições de
educação infantil decorrente da inserção, cada vez maior, da mulher no mercado de trabalho.

O pesquisador brasileiro Moysés kuhlmann Jr. relata que a primeira creche do país surgiu ao lado da Fábrica de Tecidos Corcovado, em 1899,
no Rio de Janeiro. Naquele mesmo ano, o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro deu início a uma rede assistencial que
se espalhou por muitos lugares do Brasil. Vista por este ângulo, as instituições de educação infantil surgiram com caráter puramente assistencial.

No Brasil Escravista, a criança escrava entre 6 e 12 anos já começa a fazer pequenas atividades como auxiliares. A partir dos 12 anos eram vistos
como adultos tanto para o trabalho quanto para a vida sexual. A criança branca, aos 6 anos, era iniciada nos primeiros estudos de língua,
gramática, matemática e boas maneiras. Vestia os mesmos trajes dos adultos.

As primeiras iniciativas voltadas à criança tiveram um caráter higienista, cujo trabalho era realizado por médicos e damas beneficientes, e se
dirigiram contra o alto índice de mortalidade infantil, que era atribuídas aos nascimentos ilegítimos da união entreescravas e senhores e a falta de
educação física, moral e intelectual das mães.Com a Abolição e a Proclamação da República, a sociedade abre portas para uma nova sociedade,
impregnada com ideias capitalista e urbano-industrial.

Neste período, o país era dominado pela intenção de determinados grupos de diminuir a apatia que dominava as esferas governamentais quanto
ao problema da criança. Eles tinham por objetivo primário para as classes populares, de pequena duração, com ensino prático para formação de
mão-de-obra; e o ensino secundário para a burguesia e para a aristocracia, de longa duração, com o objetivo de formar eruditos, pensantes e
mandantes. No final do século XIX, difunde o ensino superior na classe burguesa.

A creche no Brasil surge acompanhando a “estruturação do capitalismo, a crescente urbanização e a necessidade de reprodução da força de
trabalho”, ia desde a liberação da mulher-mãe para o mercado de trabalho até uma visão de mais longo prazo em preparar pessoas nutridas e sem
doenças.

ATENDIMENTO À INFÂNCIA ATÉ 1900 -> existiu institucionalmente a Casa dos Expostos, também chamada de Roda. Tratava-se de um
lugar onde eram deixadas as crianças não-desejadas. Deve-se a criação da Roda a Romão de Mattos Duarte. A sociedade da época achava que o
grande número de mortes de crianças era devido aos nascimentos ilegítimos (frutos da união entre escravos ou entre escravos e senhores) e à
falta de educação moral, física, e intelectual das mães. Podemos observar que as duas causas culpam a família, além de dizerem que os negros
escravos eram portadores de doenças. Não se levava em consideração as condições econômicas e sociais e a ausência de estruturas de saúde
pública.

1900 A 1930 -> Organizados aqui no Brasil, os operários passaram a protestar contra as precárias condições de vida e de trabalho. Os
empresários procurando enfraquecer os movimentos começaram a conceder algumas creches e escolas maternais para os filhos de operários. As
grandes cidades não dispunham de infraestrutura urbana suficiente, em termos de saneamento básico, moradias etc., sofriam o perigo de
constantes epidemias. A creche passou a ser defendida por sanitaristas preocupados com as condições de vida da população operária. Grupos de
mulheres de classes sociais mais abastadas que, organizadas em associações religiosas ou filantrópicas, criaram várias creches. Instruíam as
mulheres das camadas populares a serem boas donas-de-casa e a cuidarem adequadamente de seus filhos. Eram convictas de que o cuidado
materno era o melhor para a criança e que o cuidado em grupo (creche) era certamente um substitutivo inadequado. Concursos de Robustez para
escolher o bebê mais saudável. A mãe do bebê vencedor, que deveria ter comprovada a sua pobreza, era premiada em dinheiro. Em 1922, o
Estado organizou o 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância. As conclusões foram as de que a creche tinha como finalidade:

· Combater a pobreza e a mortalidade infantil;

· Atender os filhos da trabalhadora, mas com uma prática que reforçava o lugar da mulher no lar e com os filhos;

· Promover a ideologia da família.

1930 A 1980 -> Mário de Andrade é nomeado diretor do Departamento de Cultura e começa a estruturar o “Parque Infantil”. A proposta era dar
atendimento ás crianças de 3 a 6 anos e também às de 7 a 12 anos, fora do horário escolar. O parque proporcionava à criança de família operária
o direito à infância, a brincar e ao não-trabalho. Dava ênfase ao caráter lúdico e artístico.

Em 1940, foi criado o Departamento Nacional da Criança no Ministério da Educação e Saúde. Em 1950 verificou-se que as medidas morais
foram as que tiveram maior destaque, pretendia-se domesticar as classes populares, tirando-as da desordem, do instinto e da tradição e incutindo
os valores das classes médias.

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Chegam às creches os discursos pedagógicos que procuravam demonstrar que a ausência da relação afetiva mãe-filho, em determinados
momentos da infância, tornava-se irreversível, podendo produzir “personalidades delinquentes e psicopatas”.

Passando para 1960 os discursos pedagógicos baseados na teoria de privação cultural e da sua solução, a educação compensatória. Privação
cultural baseava-se na ideia de que só havia um modelo de criança: a da classe média, e assim, as outras crianças desfavorecidas
economicamente comparadas a estas crianças-modelo eram consideradas “carentes” e “inferiores”. Faltavam para elas determinadas atitudes e
conteúdos.

Em 1970 existe uma crescente evasão escolar e repetência das crianças das classes pobres no primeiro grau. Por causa disso, foi instituída a
educação pré-escolar (chamada educação compensatória) para crianças de quatro a seis anos para suprir as carências culturais existentes na
educação familiar da classe baixa. As carências culturais existem porque as famílias pobres não conseguem oferecer condições para um bom
desenvolvimento escolar, o que faz com que seus filhos repitam o ano. Faltam-lhes requisitos básicos que não foram transmitidos por seu meio
social e que seriam necessário para garantir seu sucesso escolar. E a pré-escola irá suprir essas carências. Contudo, essas pré-escolas não
possuíam um caráter formal; não havia contratação de professores qualificados e remuneração digna para a construção de um trabalho
pedagógico sério. A mão-de-obra, que constituía as pré-escolas, era muitas das vezes formada por voluntários, que rapidamente desistiam desse
trabalho.

Percebemos que a educação não era tratada por um órgão somente, era fragmentada. A educação se queixava da falta de alimentação e das
condições difíceis das crianças. Nesse quadro, a maioria das creches públicas prestava um atendimento de caráter assistencialista, que consiste na
oferta de alimentação, higiene e segurança física, sendo muito vezes prestado de forma precária e de baixa qualidade enquanto as creches
particulares desenvolviam atividades educativas, voltadas para aspectos cognitivos, emocionais e sociais. Consta-se um maior número de creches
particulares, devido à privatização e à transferência de recursos públicos para setores privados.

Ocorrendo neste período a profusão de movimentos sociais e com eles surge, dentre outras, uma proposta de creche mais afirmativa para a
criança, a família e a sociedade. Para encerrar este período, é importante ainda lembrar que, em 1975, o Ministério de Educação e Cultura
instituiu a Coordenação de Educação Pré-Escolar e, em 1977, foi criado o Projeto Casulo, vinculado à Legião Brasileira de Assistência (LBA)
que atendia crianças de 0 a 6 anos de idade e tinha a intenção de proporcionar às mães tempo livre para poder “ingressar no mercado de trabalho
e, assim, elevar a renda familiar”.

DÉCADA DE 1980 -> Nos anos 80, os problemas referentes à educação pré-escolar são: ausência de uma política global e integrada; a falta de
coordenação entre programas educacionais e de saúde; predominância do enfoque preparatório para o primeiro grau; insuficiência de docente
qualificado, escassez de programas inovadores e falta da participação familiar e da sociedade. Através de congressos, da ANPEd e da
Constituição de 88, a educação pré-escolar é vista como necessária e de direito de todos, além de ser dever do Estado e deverá ser integrada ao
sistema de ensino (tanto creches como escolas). A partir daí, tanto a creche quanto a pré-escola são incluídas na política educacional, seguindo
uma concepção pedagógica, complementando a ação familiar, e não mais assistencialista, passando a ser um dever do Estado e direito da
criança. Esta perspectiva pedagógica vê a criança como um ser social, histórico, pertencente a uma determinada classe social e cultural. Ela
desmascara a educação compensatória, que delega a escola a responsabilidade de resolver os problemas da miséria. Porém, essa descentralização
e municipalização do ensino trazem outras dificuldades, como a dependência financeira dos municípios com o Estado para desenvolver a
educação infantil e primária. O Estado nem sempre repassa o dinheiro necessário, deixando o ensino de baixa qualidade, favorecendo as
privatizações. Mesmo assim pode-se dizer que nesta década houve um avanço considerável com relação à Educação Infantil. Como: Foram
produzidos estudos e pesquisas de relevante interesse, inclusive discutindo e buscando a função da creche/pré-escola; Universalizou-se a idéia de
que a educação da criança pequena é importante ( independente de sua origem social) e que é uma demanda social básica; A Constituição de
1988 definiu a creche e a pré-escola como direito de família e dever do Estado em oferecer esse serviço. Com a Constituição de 88 tem-se a
construção de um regime de cooperação entre estados e municípios, nos serviços de saúde e educação de primeiro grau. Há a reafirmação da
gratuidade do ensino público em todos os níveis, além de reafirmar serem a creche e a pré-escola um direito da criança de zero a seis anos, a ser
garantido como parte do sistema de ensino básico. Neste período, o país passa por um período muito difícil, pois aumentam-se as demandas
sociais e diminuem-se os gastos públicos e privados com o social. O objetivo dessa redução é o encaminhamento de dinheiro público para
programas e público-alvo específico.

Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8069/90, os municípios são responsáveis pela infância e adolescência., criando as
diretrizes municipais de atendimento aos direitos da criança e do adolescente e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, criando o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Tutelas dos Direitos da Criança e do
Adolescente. Nos anos 90, o Estado brasileiro vê na privatização das empresas estatais o caminho para resolver seu problema de déficit público,
não tentando resolver com um projeto mais amplo de ampliação industrial. Com essa situação, na educação tem-se aumentado a instituição de
programas de tipo compensatório, dirigido para as classes carentes. Esse programa requer implementação do sistema de parceria com outras
instituições, já que o Estado está se retirando de suas funções. Concluindo, a educação infantil é muito nova, sendo aplicada realmente no Brasil
a partir dos anos 30, quando surge a necessidade de formar mão-de-obra qualificada para a industrialização do país. E a educação infantil pública
é muito ineficiente devido à politicagem existente no governo brasileiro, que está favorecendo a privatização da educação, como a de outros
setores também.

Todo o avanço é histórico, cultural e político, portanto, precisa ser conquistado o tempo todo.

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