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16/02/2023 09:19 Conceitos de infância

Conceitos de
infância
Prof. Leandro Henrique de Jesus Tavares

Descrição

Apresentação dos conceitos sobre a infância e sua construção prática a partir do século XIX.

Propósito

Reconhecer a evolução histórica dos conceitos de infância para identificar a criança atual como um ser competente, ativo e sujeito de direitos.

Objetivos

Módulo 1

Concepção de infância nos séculos XIX e XX


Identificar as concepções existentes sobre a infância nos séculos XIX e XX.

Módulo 2

Concepção contemporânea de infância


Reconhecer o conceito contemporâneo de infância como resultado de um processo histórico e legislativo.

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16/02/2023 09:19 Conceitos de infância

Introdução
Você já parou para pensar em como as crianças eram vistas socialmente?

Historicamente, percebemos diversos olhares sobre a infância que nos permitem identificar os conceitos construídos sobre a criança ao
longo de nossa história. No entanto, para compreendê-los, não podemos perder de vista as relações sociais e a cultura nas quais a criança
está inserida. Por isso, é importante fazer um percurso histórico sobre o atendimento à criança, de acordo com as concepções históricas,
sociais e políticas de cada época, que influenciaram no modo de percebê-las, bem como na legislação voltada para elas. Para começar a
nossa reflexão, leia o poema As cem linguagens da criança, de Loris Malaguzzi, cujo teor versa pela complexidade das crianças, de seu
pensamento, de como elas se expressam por meio de múltiplas linguagens e de como ressignificam os saberes produzindo cultura e
conhecimento. Feita a leitura, vamos compreender como a criança era considerada ao longo dos séculos XIX e XX.

A criança é feita de cem.


A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar,
de jogar e de falar.
Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar.
Cem alegrias para cantar e compreender.
Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar.
Cem mundos para sonhar.
A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem),
mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.
Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar,
De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem,
roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação,
O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.
Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário,
as cem existem.

MALAGUZZI, L. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

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1 - Concepção de infância nos séculos XIX e XX


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as concepções existentes sobre a infância nos séculos XIX e XX.

A infância ao longo do século XIX

Quem cuidava das crianças no século XIX?


As classes mais abastadas mantinham em suas estruturas familiares mulheres, escravizadas e alforriadas, que assumiam a função de tutela das
crianças. Eram amas de leite, cantavam as cantigas de roda, envolviam-se com o cotidiano dessas crianças. As mães ensinavam bons modos e
habilidades às meninas, como tocar piano, falar línguas, ser uma anfitriã que soubesse organizar a casa de seu futuro marido, preparando-as para
um bom casamento. Isso mesmo: a formação das meninas visava ao casamento.

A redenção de Cam (Modesto Brocos - 1895).

A classe média urbana reproduzia um misto das linhas da influência da modernidade europeia (crianças mais “funcionais”, criadas para atender à
sociedade) com traços da família patriarcal, com empregadas – mucamas ou assalariadas. As mães poderiam até cuidar dos próprios filhos,
mas isso acontecia em classes menos favorecidas, nas quais os maridos conseguiam reproduzir o ideal burguês com suas esposas se
dedicando ao lar e à criação dos filhos. Os meninos entravam nesse modelo social. Deveriam se exercitar, aprender números e letras para
assumirem a condição que sua família permitisse. Deveriam aprender o ofício de seus pais ou profissões que lhes concedessem um papel
superior. Os filhos dos menos favorecidos eram integrados ao mercado de trabalho muito cedo e as filhas assumiam a condição de cuidar dos
irmãos menores para que a mãe pudesse trabalhar.

Curiosidade
Nesse período, surgiu a roda dos expostos (ou roda dos enjeitados), criada pela Santa Casa de Misericórdia como um instrumento que recolhia as
crianças rejeitadas. Ao atingirem uma idade em que já tinham força para se preparar e trabalhar, os meninos eram enviados para casas de
custódia. As meninas se mantinham por mais tempo, pois a Santa Casa buscava benfeitores que pudessem ceder-lhes um dote, permitindo que
essas moças conseguissem um casamento. A roda dos expostos era uma representação social importante, icônica; ela não é uma política
pública, mas uma ação dos grupos sociais que inserem as crianças de alguma forma.

Outra peça importante da relação com as crianças eram as figuras das criadeiras, mulheres que passaram a tomar conta das crianças enquanto
suas mães trabalhavam. Essas mulheres, que eram remuneradas por isso, reuniam em suas casas e terrenos algumas dezenas de crianças, onde
eram alimentadas e aprendiam as primeiras letras (VELLOSO, 2009).

Em se tratando do Estado, quais foram as ações com foco no cuidado das crianças ao longo do século XIX? Veja a seguir sua trajetória
cronológica no período colonial:

1530 a 1822

Existia a tutela do Estado e influência do modelo europeu no atendimento à criança, com uma evidente diferença no trato entre
brancas e negras, uma vez que estas eram incorporadas ao trabalho desde os 5 anos e aos 12 eram consideradas adultas. As
crianças sofriam castigos corporais e havia elevado índice de mortalidade infantil.

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1824

De acordo com Aragão e Kreutz (2010, p. 27), o Brasil escravocrata e monocultor – que cedia espaço para a urbanização, com a
abertura de portos e a reorganização administrativa – sofria fortes pressões dos ideais liberais europeus, que defendiam a
instrução populacional em massa. Assim, em 1824, a Constituição estabeleceu, no artigo 179, a gratuidade da instrução primária
para todos os cidadãos.

1827

Uma lei determinou a criação de uma escola de primeiras letras em cada cidade, que não chegou a ser cumprida.

1861

Houve a criação do Instituto de Menores, para onde passaram a ser encaminhadas as crianças infratoras ou abandonadas e, em
seguida, as não infratoras também. Isso causou um problema, uma vez que o objetivo da educação ficou perdido. A criança das
classes menos favorecidas era tratada como criminosa.

1875

Nesse ano, foi criado o Jardim de Crianças do Colégio Menezes Vieira, localizado no Rio de Janeiro. Essa foi uma das primeiras
instituições brasileiras a atender crianças de 0 a 6 anos. Dois anos mais tarde, a cidade de São Paulo passou a ter os seus
primeiros jardins de infância, pertencentes à esfera privada (REIS; CUNHA, 2010).

Em relação à repercussão do surgimento do jardim de infância no Brasil, Oliveira declara o seguinte:

No final do século XIX, é trazido ao Brasil, através das influências americana e europeia, o jardim de infância,
que também foi alvo de muitas discussões entre os políticos da época. Alguns o criticavam porque
consideravam-no mais um local de mera guarda das crianças. Os Jardins de Infância eram considerados
prejudiciais porque tiravam a criança do convívio familiar precocemente. Outros os defendiam por
acreditarem que trariam benefícios ao desenvolvimento da criança, já se vislumbrando um aspecto
pedagógico influenciado pelo Movimento das Escolas Novas.

(OLIVEIRA, 2011, p.101)

Agora observe a trajetória cronológica, desta vez, no período do Brasil República:

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1889 a 1930

Como o índice de mortalidade infantil era alto nesse período e não diminuía, foi criado o Movimento Higienista, visando um melhor
atendimento à criança para que ela sobrevivesse às epidemias e aos maus-tratos. Desse modo, surgiram as primeiras leis para os
menores.

1932

Surge o Manifesto dos pioneiros, defendendo uma revolução educacional, com a criação da escola não religiosa, gratuita e
obrigatória, função do Estado. Uma escola única, para meninos e meninas, com um ensino ativo.

Primeiras décadas do século XX

Uma parcela do movimento operário, em virtude da maior participação das mulheres no trabalho, reivindicava um local onde as
mães pudessem deixar as crianças enquanto trabalhavam. Logo, os empresários construíam creches próximo às fábricas, embora
tal ação não constituísse bondade ou descaso.

ovimento Higienista
No fim do século XIX e início do XX, surgia uma nova mentalidade que se propunha a cuidar da população, educando e ensinando novos hábitos. (...)
Convencionou-se chamá-la “movimento higienista”. Muitos “higienistas” tomavam como referência a ideia que preconizava ser a falta de saúde e
educação do povo responsável por nosso atraso em relação à Europa (GÓIS JUNIOR, 2002).

anifesto dos pioneiros


O Manifesto da Escola Nova foi um documento elaborado por 26 educadores, em 1932, com o objetivo de oferecer diretrizes para a política
educacional. Veja um trecho desse manifesto:

“Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade o da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a

primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas, é impossível

desenvolver as forças econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que são os
fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade”.

reches
Apesar do tímido processo de expansão das escolas e creches, tanto por parte dos sistemas de educação como pelos órgãos de assistência ou
saúde, a legislação trabalhista que determinava a criação desses estabelecimentos tornou-se sem efeito, pois não atendia a todas as necessidades.

A partir desse breve descritivo histórico sobre o tratamento dispensado às crianças ao longo do século XIX, podemos perceber que, em geral, a
infância foi considerada sem importância e a criança era objetificada, ou seja, apontada como um ser que deveria ser protegido ou punido,
seguindo a lógica do tratamento diferenciado, de acordo com classe social ou raça.

E quanto ao conceito de infância, a partir desse histórico, você consegue defini-lo?

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Como você pode perceber, durante muito tempo não se pensou sobre o que é a infância. As decisões que eram tomadas com o objetivo de tutelar
e cuidar das crianças, não eram estabelecidas baseadas em um conceito definido sobre a criança. No máximo, havia uma classificação a partir de
debates sobre até quando se é uma criança. Essa discussão é antiga e tem como base a Teoria das Idades, de Agostinho de Hipona (354-430),
que destaca duas fases da infância, veja:

gostinho de Hipona
Agostinho foi um importante filósofo, escritor, bispo e teólogo cristão e suas concepções sobre a fé e a razão, Igreja e o Estado influenciaram toda a
Idade Média.

0 a 6 anos expand_more

Momentos de fragilidade das crianças que inspira cuidados e é de responsabilidade sempre da mãe.

7 e 8 anos expand_more

As crianças passam a ter outros locais de atuação-treinar para batalhas (espartanos), aprender a falar e a dominar a palavra (romanos), ir
para a Igreja e conter suas paixões (III Concílio de Toledo).

Mesmo para renascentistas (século XVI), iluministas (séculos XVII e XVIII) e cientificistas (séculos XVIII e XIX), as crianças tinham classificações
e, ao longo do tempo, as percepções de cuidado foram alteradas sem nunca se discutir efetivamente o que era chamado de infância. Parecia algo
tão óbvio, tão presente, que qualquer debate conceitual perdia para a observação direta: infância é esse momento de amadurecimento do ser.

A infância ao longo do século XX


O século XX é tratado como o século da infância e esse fenômeno ocorreu por muitos elementos. Nunca tinham ficado tão claras as diferenças
sociais sobre como as sociedades pensam e se relacionam com as crianças. Etnógrafos perceberam que as crianças e os relatos de como lidar
com elas eram diferentes. Vejamos como exemplo o relato de Heloisa Schurmann:

eloisa Schurmann

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Graduada Professora de Inglês pela New York University com especialização na área de Pedagogia, Heloísa Schurmann educou os quatro filhos nas
duas expedições de volta ao mundo da Família Schurmann. Desenvolveu o Programa Pedagógico da expedição Magalhães Global Adventure,
intitulado “Educação na Aventura”, que foi acompanhado por mais de 2 milhões de alunos no Brasil e nos Estados Unidos. Além de palestrante, é
responsável pelo núcleo de dramaturgia da produtora e pelo conteúdo digital da Família Schurmann.

Em certa ocasião, ao visitar algumas ilhas da Polinésia, percebi que as crianças de lá pareciam estar sempre
felizes, elas corriam e brincavam sem a supervisão de um adulto. Então, perguntei a algumas pessoas se eles
não tinham receio de que as crianças se machucassem, uma vez que na maioria das vezes estavam
sozinhas. Foi então que aprendi uma lição inesquecível: para eles, uma criança deveria ser criança, crescer,
brincar, aprender como a comunidade funcionava e como poderia ser um local de felicidade. Dessa forma, a
criança pouco a pouco se sentiria responsável por si e pelos que as acompanhavam.

(SCHURMANN)

Perceba que esse relato se distancia da forma como as crianças eram tratadas ao longo do século XIX, quando eram constantemente
supervisionadas. Ao contrário disso, nas ilhas da Polinésia, as crianças cresciam livres e se desenvolviam na medida em que interagiam com a
sua comunidade. Não há aqui a intenção de taxar como certa ou errada essas diferentes formas de se perceber e lidar com a infância, no entanto,
essa diferenciação nos faz refletir sobre o papel social da criança nas comunidades. Pensando nesse contexto, no século XX surgiram diversos
movimentos científicos, cada um com o seu enfoque particular, mas que tinham como objetivo conceituar e classificar a infância, veja:

Psicologia
Pensando nas fases do desenvolvimento infantil, buscava analisar os estímulos e condicionamentos que poderiam ser desenvolvidos nos seres
humanos.

Medicina
Buscava estudar o desenvolvimento dos corpos, definindo como deviam ser os cuidados com as crianças, estudando cérebros, medula,
hormônios entre outros aspectos.

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Pedagogia
Desenvolveu teorias sobre a absorção de conhecimentos, sobre as trocas e interações do sujeito.

A ciência moderna tentava constituir uma versão singular sobre as formas de pensar e lidar com a criança, com o objetivo de garantir o melhor
desenvolvimento infantil. Nesse cenário, o mundo passou a perceber e discutir a importância de cuidar de nossas crianças ainda que ninguém
soubesse muito bem o que era isso.

Como exemplo de ações desenvolvidas com esse objetivo, destacamos os órgãos internacionais que foram criados com a finalidade de discutir
sobre os cuidados necessários às crianças:

Convenção de 1919 da Organização Internacional do Trabalho expand_more

Fala sobre limitar o trabalho infantil em dois dos seus itens.

Declaração de Genebra de 1924 expand_more

Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a questão dos órfãos, foi o primeiro documento internacional a abordar sobre a proteção das
crianças.

Declaração do Direito das crianças e dos adolescentes de 1954 (ONU) expand_more

Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a ONU foi pressionada a constituir um caminho de proteção e defesa internacional das
crianças. O Brasil só adotou essas medidas a partir da Constituição de 1988.

Sobre a Convenção de 1919, cabe dizer que ela foi fundada como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Já
Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem como objetivo promover a justiça social. Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1969, a OIT é a
única agência das Nações Unidas que tem estrutura tripartite, na qual representantes de governos, de organizações de empregadores e de
trabalhadores de 183 Estados-membros participam em situação de igualdade das diversas instâncias da Organização.

A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (Convenções e Recomendações). As Convenções, uma
vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico.

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Já acerca dos Direitos, podemos afirmar que são as vantagens, permissões e oportunidades que cada criança ou adolescente deve ter. A
Convenção sobre os Direitos da Criança estabelece esses direitos em 54 artigos e em um conjunto de "Protocolos Facultativos" que listam
direitos adicionais.

A partir de 1980, a criança passou a ser percebida, também, em seu âmbito social. Nesse sentido, os enfoques psicológicos, biológicos e médicos
sobre a criança começaram a dialogar com os fenômenos sociais que englobam a infância. Essa nova percepção trouxe à tona o problema da
marginalização da infância e, na década de 1990, temas como abuso sexual passaram a ser abordados. A partir desse direcionamento, novas
ideias sobre a infância puderam ser concluídas, veja:

face
Está imersa em contextos sociais.

face
Está sujeita à sexualização.

face
Pode ser considerada objeto de consumo.

face
Estrutura relações e se constitui a partir da complexidade delas.

face
Faz conexões com a cultura na qual está imersa.

Perceba que as mudanças sociais e econômicas ocorridas no século XX provocaram significativas mudanças nos modos de ver e de lidar com as
crianças. Apesar disso, manteve-se uma clara separação entre crianças pobres e ricas, brancas e negras:

Às crianças das classes mais elevadas, quase sempre brancas, era garantida a educação desde a pré-escola, a partir das primeiras décadas

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do século XX.

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Às crianças de classes menos favorecidas, na maioria negras, posteriormente foi ofertada a creche, com caráter assistencialista e direito da
mãe que trabalhava, não da criança.

Ainda no século XX, surgiu a preocupação com um investimento maciço no ensino fundamental, mas não para todos. Houve, também, uma
movimentação dos operários que passaram a reivindicar melhorias no atendimento educacional prestado às crianças pequenas, uma vez que as
condições trabalhistas precárias às quais eram submetidos os havia impulsionado na luta por seus direitos.

Esse cenário nos mostra como a visão que os adultos têm sobre as crianças mudou e continua em transformação, segundo as culturas nas quais
estão imersas. Seja considerando-as seres mais ou menos frágeis, capazes ou incapazes, dignos ou não de proteção, costuma haver diferentes
compreensões a respeito do que podem ou não fazer, dos lugares adequados para elas, das vivências permitidas ou não, das expectativas para
seu futuro e dos seus direitos.

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Tratamento dado às crianças pelas representações artísticas
Veja a seguir uma análise sobre o tratamento dispensado às crianças a partir de representações artísticas.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

No século XIX, as crianças eram vistas como pessoas que precisavam ser assistidas e tuteladas, com a necessidade de supervisão
constante. Nesse sentido, assinale a alternativa que indica de quem era a responsabilidade de cuidar das crianças.

A responsabilidade de cuidar das crianças era da família. As que eram mais abastadas mantinham em suas estruturas
mulheres, escravizadas e alforriadas, que cuidavam das crianças. Já as famílias de classe média urbana tentavam, na medida
A
do possível, reproduzir os traços da família patriarcal: o pai era o provedor e a mãe era responsável por cuidar dos próprios
filhos.

A responsabilidade de cuidar das crianças era do Estado, que disponibilizava creches e escolas para todas as crianças, sejam
B
elas de classes mais pobres ou mais abastadas.

A responsabilidade de cuidar das crianças era da igreja, por meio das instituições religiosas que tinham como objetivo
C
oferecer espaços nos quais as famílias poderiam deixar os seus filhos para serem educados.

A responsabilidade de cuidar das crianças era do Estado e da Igreja que, juntos, ofereciam escolas acessíveis para todos,
D
onde os alunos poderiam desenvolver o seu potencial, de acordo com os interesses de cada família.

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As famílias deveriam responsabilizar-se pelo cuidado das crianças: meninos e meninas eram educados para poder seguir a
E
profissão do pai, ou o cuidado da casa, a exemplo da mãe

Parabéns! A alternativa A está correta.

As famílias eram as responsáveis por cuidar de suas crianças, de acordo com o contexto social no qual se encontravam. Cada família
educava os seus filhos de acordo com as suas possibilidades econômicas e com o objetivo de prepará-los para o papel social estabelecido
para eles. Assim, às meninas era ensinado bons modos: piano, como ser uma boa anfitriã etc., tudo isso com o objetivo de torná-las prontas
para o casamento. Já os meninos deveriam se exercitar, aprender números e letras, e aprender o ofício ou profissão de seus pais.

Questão 2

Como vimos, no século XX, a ciência moderna buscou construir uma versão singular sobre as formas de pensar e lidar com a criança, com o
objetivo de garantir o melhor desenvolvimento infantil. Sobre isso, assinale a alternativa que apresenta o novo paradigma que foi utilizado
para se pensar a infância.

A A criança passou a ser compreendida em seus aspectos biológicos.

B A criança passou a ser percebida nos âmbitos social e biológico.

C A criança passou a ser percebida, também, em seu âmbito social.

D A criança passou a ser compreendida em seu âmbito psicológico.

E A criança passou a ser compreendida em seus aspectos fisiológicos.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Esse novo direcionamento permitiu que os enfoques psicológicos, biológicos e médicos sobre a criança começassem a dialogar com os
fenômenos sociais que englobam a infância. Esse cenário permitiu que novas ideias sobre a criança fossem construídas, como: a criança
está imersa em contextos sociais; pode ser sexualizada; pode ser objeto de consumo; estrutura relações e se constitui a partir da
complexidade delas; faz conexões com a cultura na qual está imersa.

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2 - Concepção contemporânea de infância


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito contemporâneo de infância como resultado de um processo
histórico e legislativo.

Os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (PNQEI)


Atualmente, tanto as pesquisas quanto os teóricos apresentam uma imagem de criança e infância bem diferente da que existia, ou seja, ela é
considerada um ser competente, ativo, crítico e comunicativo, capaz de posicionar-se sobre as situações que mais lhe afetam, de representar o
mundo e a si mesma, como coconstrutora de sua cultura lúdica, a partir das interpretações que faz sobre os conteúdos encontrados durante as
interações sociais ocorridas em seus jogos e brincadeiras.

Seguindo essa mesma linha de pensamento, os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (PNQEI) definiram a criança como
ser integrante da sociedade, que tem direito à dignidade e ao respeito, bem como à autonomia e participação. Desse modo, as crianças devem
ser:

Apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a expressar sentimentos e pensamentos,


desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão.

(PNQEI)

Com base nesses novos preceitos, houve, então, a necessidade de se criar espaços onde a criança pudesse se expressar livremente. Para isso,
novas leis foram criadas com o objetivo de garantir que os direitos das crianças fossem cumpridos. É o que veremos neste momento. Vamos lá!

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Aspectos legislativos sobre a infância


Nunes (2011) afirma que o lugar da criança também na política pública corrobora com a visão que permeia a legislação nacional da atualidade, ou
seja, que entende a criança como um sujeito histórico, protagonista e cidadão. Sendo assim, a criança precisa ter os seus direitos garantidos e um
deles é a educação, desde o seu nascimento, em instituições que assegurem o cuidar e o educar indissociáveis e que possibilitem seu
desenvolvimento integral, em seus múltiplos aspectos.

Segundo Cury (2002), vivemos novos desafios no mundo contemporâneo e a cidadania também os enfrenta à medida que deve ser reafirmada a
todo instante, sem que se esqueça da luta histórica que garantiu seus direitos. Para ele, a educação, como um desses direitos é uma “dimensão
fundante da cidadania”, nunca perderá sua atualidade no debate. Diz ainda que, em todo o mundo, as legislações garantem o acesso à educação
de seus cidadãos. Assim, “tal princípio é indispensável para políticas que visam à participação de todos nos espaços sociais e políticos e, mesmo,
para inserção no mundo profissional”. Por isso, a seguir, você encontrará um quadro legislativo que mostra as principais leis criadas com o
objetivo de garantir os direitos da criança, dos mais básicos aos mais específicos, veja:

Constituição Federal 1988 expand_more

A Constituição Federal (CF) de 1988, conhecida como Constituição cidadã, apresenta mudanças com relação ao tratamento dado à
educação infantil, pois a partir dela esta etapa passa a ser vista como direito da criança, e não da mãe que trabalha. Dos artigos 205 ao
214, apresenta um rol dedicado apenas à Educação e alça a criança a sujeito de direito, garantindo a educação básica e gratuita dos 4 aos
17 anos, por força da emenda Constitucional n° 59 de 2009.

ECA - Lei 8.069/90 expand_more

ECA – Lei 8.069/90, por sua vez, regulamentando o art. 227 da CF, ratifica a visão da criança e do adolescente como sujeitos de direitos
fundamentais (individuais, difusos e coletivos). Ademais, os reafirma como titulares de prioridade absoluta e de proteção integral.

Segundo Amin (2014, p. 50), “o Estatuto da Criança e do Adolescente resultou da articulação de três vertentes: o movimento social, os
agentes do campo jurídico e as políticas públicas.” Em seu artigo 3º ficam expostos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
os quais a criança e o adolescente devem ter assegurados para que seja possível seu “desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social, em condições de liberdade e dignidade” (BRASIL, 1990). Para Nunes, (2011, p. 26), “o ECA, de 1990, é que vai fazer a revolução
conceitual e criar os mecanismos operacionais para a implementação dos direitos da criança no Brasil”.

Lei de diretrizes e bases da educação nacional, Lei nº 9.394 de 1996 expand_more

A atual LDBEN insere a educação infantil como primeira etapa da educação básica. De acordo com seu art. 21, “a educação escolar
compõe-se de: I - educação básica, formada pela Educação Infantil, ensino fundamental e ensino médio”. Em seu art. 29 afirma que a EI
“tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade.” (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).

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Para Nunes (2011), a EI “vem se tornando não só uma demanda cada vez mais expressiva, um objeto explícito da política educacional e
um dever dos organismos governamentais, mas também um claro empenho de organizações da sociedade civil.” (NUNES, 2011, p.15).
Desse modo, não se modifica apenas a visão da criança, mas também, do papel do Estado para que a EI seja garantida a todos, a partir
dos 4 anos de idade.

Lei n° 12.796 de 2013 expand_more

A Lei n° 12.796, de 2013, regulamenta a EC 59/2009, pois estende a obrigatoriedade do Estado em oferecer educação para todos, dos 4
aos 17 anos. De acordo com a alteração proposta pela Lei nº 11.700, de 2008, no inciso X do art. 4° da LDB, no caso da EI e do ensino
fundamental, a oferta de vaga deve ocorrer em escola pública mais próxima da residência de toda criança a partir do dia em que
completar 4 anos de idade.

Marco legal da primeira infância - Lei nº 13.257, de 2016 expand_more

O Marco Legal da Primeira Infância é a Lei n° 13.257, de 8 de março de 2016, dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e
altera algumas leis, entre elas o ECA, o Código de Processo Penal (CPP), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Lei n° 12.662, de 5
de junho de 2012 (que regula a expedição e a validade nacional da Declaração de Nascido Vivo – DNV).

Em seu artigo 1°, essa lei estabelece os princípios e as diretrizes a serem utilizados na formulação e a implementação de políticas
públicas para a primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no
desenvolvimento do ser humano. A Lei n° 13.257/2016 está em consonância com os princípios e as diretrizes expressos na legislação que
esta lei altera.

Você consegue visualizar a trajetória legislativa que conferiu às crianças a imagem contemporânea de infância no Brasil?

É possível afirmar que historicamente ocorreu uma luta intensa para que a infância fosse prioritária e houvesse um olhar atento às suas
especificidades e às necessidades das crianças, como sua constituição em sujeito de direitos, merecedoras de proteção. Apesar dessa evolução
de conceitos, as práticas aqui no Brasil permaneceram apontando a família como responsável máxima pela infância, seguida pelo Estado,
garantidor daqueles cujas famílias não tivessem condição, e pelas ações religiosas como caridade.

Fato é que a Educação, como direito social, requer a atuação do Estado para a garantia de sua efetividade e acesso a todos. Nesse sentido,
Bobbio diz sobre os direitos sociais que:

Para sua realização prática, ou seja, para a passagem da declaração puramente verbal à sua proteção efetiva, (...) é
necessária a ampliação dos poderes do Estado.

(BOBBIO, 2004, p. 67)

Uma proposta para a solução desses percalços é a criação de mecanismos de fiscalização que permitam monitorar se todos os esforços para se
garantir os direitos das crianças estão sendo realizados e alcançando os objetivos propostos. O Brasil é um dos líderes mundiais em termos de

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políticas de atendimento à infância, no entanto, é importante reconhecer que há a necessidade de que essas políticas se tornem em ações
efetivas que atendam de forma satisfatória às crianças, foco desses direitos.

Uma nova concepção sobre a criança


Os estudos da área, realizados tanto por universidades como por centros de pesquisa brasileiros, têm contribuído para o surgimento de uma nova
concepção das crianças e sua capacidade criadora:

A criança passou a ser vista como produtora de cultura e sujeito de direitos, bem como um ser sócio-histórico
que atua na sociedade na qual está inserido.

Seguindo essa concepção, a Política Nacional da Educação Infantil (2006) passou a preconizar a indissociabilidade entre o cuidar e o educar,
possibilitando outra função para as ações que são desenvolvidas com as crianças, segundo suas especificidades. Posteriormente, tal filosofia é
incorporada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010).

De acordo com Bobbio (2004), essa caracterização da criança como um ser que merece proteção especial não surge naturalmente na sociedade,
antes, é fruto de estudos e debates que comprovam essa necessidade de especificação. A ampliação dos direitos do ser humano ocorre de
acordo com categorias específicas. Nesse sentido, a humanidade deixa de ser vista de maneira genérica para ser encarada de acordo com suas
especificidades. Ou seja, são levadas em consideração características de sua diversidade, quais sejam, a idade, o sexo ou as condições físicas,
por exemplo, que não permitem que todos sejam tratados igualmente. O autor conclui que a mulher é diferente do homem; a criança, do adulto; o
adulto, do velho; o sadio, do doente etc.

O Marco Legal pela Primeira Infância se tornou crucial para garantir ao Brasil o alinhamento com os países que estão na vanguarda do cuidado
com suas crianças. Tal preocupação evidencia a importância que os primeiros anos de vida têm sobre todo o desenvolvimento do ser humano,
desde o crescimento físico, a aquisição de habilidades motoras e a aprendizagem da fala até a criação das bases para o desenvolvimento
cognitivo, social, psicológico e cultural.

Dessa forma, o trabalho com as crianças deve ser um conjunto de:

Um trabalho consciente na educação infantil.

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A participação da família por meio de políticas intersetoriais.

Essa convergência entre o trabalho da educação infantil e a participação da família poderá gerar repercussões em toda a vida da criança, além de
garantir que as suas necessidades sejam de fato atendidas. Vejamos o que Corsaro nos diz sobre isso:

orsaro
Professor titular do Departmento de Sociologia da Indiana University, Blommington, onde ocupa a cátedra Professor Robert H. Shaffer. Entre seus
interesses de pesquisa, destacam-se a Sociologia da Infância, Etnografia e Sociologia da Educação.

As crianças são agentes sociais, ativos e criativos, que produzem suas próprias e exclusivas culturas infantis
enquanto, simultaneamente, contribuem para a produção das sociedades adultas.

(CORSARO, 2011, p.15)

Ao se posicionarem diante dos acontecimentos do mundo, as crianças expressam sua visão da realidade que as cerca. Ou seja, de acordo com o
pensamento de Corsaro, elas agem na sociedade e contribuem para que os adultos entendam um pouco como encaram determinados fatos
sociais. Por isso, é necessário um trabalho conjunto entre escola, família e comunidade, pois esses três âmbitos permitirão que se conheça um
pouco mais as necessidades e realidades nas quais a criança está inserida.

A Sociologia da Infância aparece aqui como contribuição teórica, trazendo pesquisas que, atualmente, têm sido importantes para os
delineamentos da política nacional para a infância. Os autores dessa Sociologia afirmam que esse é um campo recente do estudo da infância e
evidenciam a importância de que os investigadores busquem observar as relações entre as crianças, desvelando os jeitos de ser criança. Para a
Sociologia da Infância, as crianças são atores sociais, imersas em seus mundos; a infância, por sua vez, é entendida como uma categoria social
do tipo geracional, socialmente construída.

Para esses autores, a infância ainda é colocada numa relação de dependência nas sociedades em relação aos adultos. Por isso, a necessidade de
olhar para as crianças com o objetivo de conhecer as suas construções e particularidades e permitir que elas se tornem participantes de suas
culturas, manifestando as suas interpretações e percepções sobre os diferentes contextos nos quais estão inseridas.

ociologia da Infância
A Sociologia da infância é um campo de estudo que passa a analisar a criança como parte do tecido social. Assim, traz a ideia de que a educação
funciona em teias de saberes, ou seja, os grupos sociais, ao se relacionarem, constroem regras próprias. Ao mesmo tempo se relacionam com outros
grupos são, também, influenciados por essas regras. A Infância faz parte desta dinâmica, sendo assim, as crianças criam as suas próprias regras,

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trocam e fazem micro modelos sociais, mas, ao mesmo tempo, são marcadas pela sociedade dos adultos, suas disputas, vícios e formas de
violência.

Essa teoria está de acordo com as ideias do modelo construtivista, proposto por Lev Vygotsky, que desenvolveu pesquisas na área de Psicologia,
enfatizando os processos de aprendizagem, sendo estes de grande relevância para a Educação. Vygotsky enxerga a criança como um ser
competente, que deve ser colocada numa posição mais ativa que passiva e que é capaz de construir uma interpretação própria do mundo. Assim,
ele relaciona o desenvolvimento social da criança às ações grupais que ocorrem na sociedade, possibilitando o desenvolvimento de estratégias
coletivas por meio da interação com outras pessoas para superar os problemas que surgem.

Alguns autores, fundamentados na teoria de Vygotsky, criticam o que foi feito por muito tempo no campo educacional, ou seja, a fixação em
concepções de criança e infância advindas da psicologia do desenvolvimento, pautada na herança biológica, conformando-a num modelo
universal, a-histórico, abstrato e predeterminado, que as remetem à condição de dependência. As maiores críticas que surgem residem no fato de
muitas práticas revelarem a vontade de apagar esse “ser criança” ativo e crítico, exigindo a renúncia de seu desejo para prevalecer a vontade dos
adultos que lidam com elas.

Você consegue notar como fica clara a necessidade de reconhecer a competência dos discursos infantis e da
urgência em se ouvir as crianças?

A ideia de criança como pessoa completa, competente, curiosa e criativa, com direito a ser ouvida e atendida nas suas necessidades específicas,
surge tanto nos discursos dos profissionais envolvidos com elas como nas pesquisas e estudos que propõem escuta e olhar sensíveis e livres de
preconceitos, que sejam capazes de ver e ouvir crianças concretas, vivas, reais. Ou seja, os novos paradigmas apresentam uma perspectiva
diferente de criança, definindo-a como ser competente para interagir e produzir cultura no meio em que se encontra.

Nesse sentido, cabe às instituições a disponibilização de espaços de participação nos quais as crianças, mais que ouvidas, sejam auscultadas de
modo que sua opinião seja considerada e gere efetivas mudanças, a começar pela proposta pedagógica, que constitui um espaço privilegiado no
qual a criança deve poder se expressar acerca de seus desejos e expectativas com relação à sua institucionalização. Indubitavelmente, não é uma
tarefa fácil e requer metodologias capazes de captar essas vozes e transformar esses desejos em ações. Segundo Rocha (2008, p. 47), os
projetos pedagógicos deixam de ser apenas para as crianças e passam a ser definidos a partir delas e com elas.

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Diferentes visões sobre o limite de idade infantil
Veja a seguir diferentes profissionais e as visões das suas respectivas áreas sobre até qual idade uma pessoa é considerada criança.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

No Brasil, tivemos o desenvolvimento de diversas legislações que foram construídas com o objetivo de tornar as crianças mais ativas na
sociedade e de atender às suas reais necessidades. A seguir, você encontrará uma lista com as principais legislações brasileiras. Observe

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cada legislação e marque a que apresenta corretamente a sua contribuição para a construção desse novo cenário.

Constituição de 1988: determinou a mãe como sujeito de direitos, podendo ter acesso a creches onde pudesse deixar o seu
A
filho enquanto trabalha.

B ECA: reafirmou a criança como sujeito de direitos e titular de prioridade absoluta e proteção integral.

C LDB: determinou que a educação básica deve começar pelo ensino fundamental e concluir com o ensino médio.

Marco Legal da Primeira Infância: determinou que as crianças devem ter acesso à educação nas escolas mais próximas de
D
suas casas.

E ECA: teve como marco a inclusão da educação infantil como primeira etapa da educação básica.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A Constituição de 1988 na verdade mudou a relação de tratamento dado à educação infantil, estabelecendo como direito da criança e não
mais da mãe, a ter acesso a esse nível de educação. Já a LDB teve como marco a inclusão da educação infantil como primeira etapa da
educação básica. Por fim, o Marco Legal estabeleceu os princípios e diretrizes a serem utilizados na formulação e implementação de
políticas públicas para a primeira infância.

Questão 2

Ao discutirmos o conceito contemporâneo de infância, notamos uma transformação nas imagens de criança e de infância. Sobre isso,
assinale as alternativas a seguir e marque a que apresenta a concepção contemporânea de criança e de infância.

A criança passou a ser vista como um sujeito frágil e dependente, cujas vontades deveriam ser renunciadas para que a
A
vontade dos adultos fosse sobreposta.

B A criança passou a ser vista como um ator social à medida que seguia as regras determinadas pelos adultos.

A criança passou a ser vista como produtora de cultura e sujeito de direitos, bem como um ser sócio-histórico que atua na
C
sociedade na qual está inserido.

A criança passou a ser vista como um ser pensante e capaz de absorver as regras e orientações dos adultos de modo a
D
reproduzi-las para seu grupo social.

A criança passou a ser vista como sujeito de direitos, mas ainda incapaz de ser produtora de cultura na sociedade na qual
E
está inserida.

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Parabéns! A alternativa C está correta.

De acordo com essa nova concepção, a criança precisa ser ouvida e atendida nas suas necessidades específicas. Ela passa, então, a ser
vista como um ser competente, capaz de interagir com o seu meio social, criando soluções a partir da sua própria interpretação da realidade.

Considerações finais
Você percebeu que compreender o conceito de infância é fundamental a todo profissional que, direta ou indiretamente, colocará seus esforços
com o objetivo de formar as crianças. Quanto mais entendermos tal conceito como constituído ao longo dos últimos séculos, melhor teremos
condições de buscar possibilidades de uma atuação mais eficaz no processo educativo das crianças.

Ao sairmos de um conceito forjado ao longo dos séculos XIX e XX que, por um lado, tutelava a infância sob o Estado e a Religião e, por outro,
definia a mesma exclusão social e étnica presente no ambiente adulto, chegamos à visão contemporânea que tem como foco a garantia de uma
educação integral das crianças. Busca, assim, alcançar um equilíbrio que não volte a transformar a criança em mini adulto, agora como que sem
necessidade de cuidados específicos, por já possuir autonomia necessária a sua formação.

headset
Podcast
Para encerrar, ouça um bate-papo sobre os conceitos de infância.

Referências
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Para se aprofundar no conhecimento dos pensamentos que contribuíram para o avanço da Educação, leia a obra Manifestos dos Pioneiros da
Educação Nova (1932) e dos educadores (1959), de Fenando Azevedo. Coleção Educadores. Fundação Joaquim Nabuco. Recife: Massangana,
2010.

Visite o site da Organização Internacional do Trabalho – OIT.

Busque, no site da UNICEF, a versão para crianças e adolescentes da Convenção sobre os Direitos da Criança, que traz uma linguagem mais
simples para o documento promulgado pelo Decreto nº 99.710, em 1990.

Conheça os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (PNQEI) – volume 1, publicados em 2010, que tratam do ensino infantil
das crianças na faixa etária de 0 a 6 anos.

Leia a matéria Pelo direito das crianças de zero a seis anos à Educação, 2006.

Busque e conheça as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010).

Visite o portal do MEC e conheça a Política Nacional da Educação Infantil.

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