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2º Semestre – 2021/2022
Prof. Dra. Elisabete Ferreira e Ana Pessoa
Maria João Miranda da Costa
Bibliografia:
• Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo – Paulo Guerra - 5ª Ed;
• Violência Parental, e Intervenção do Estado à luz do Direito PT – Tese de Elisabete
Ferreira;
Aula 1 – 16/02/2022
I – Direitos da Criança.
1. Conceito da Criança (p. 67 até à p. 79 – livro Elisabete)
1.1. Perceções da infância ao longo do tempo
⎯ Na Antiga Roma:
• Tínhamos o conceito do bonus pater familias, acontece que nesta altura as
crianças quando não fossem perfeitas, quer em tamanho, isto podia ser motivo
para se matar as crianças, a época em que era comum o infanticídio.
• As mulheres não tinham muito poder e as decisões sobretudo na vida da
criança eram tomadas pelo pai. Durante algum tempo, de acordo com as leis
vigentes, um pai poderia até mesmo matar os seus filhos sem cometer crime
algum.
• Nessa época, a vida das crianças poderia variar muito dependendo do sexo ou
da classe social. As meninas, por exemplo, ficavam em casa ajudando as mães
com as tarefas domésticas, enquanto os meninos estudavam ou trabalhavam.
• Apesar disso, as crianças também se divertiam com jogos e brincadeiras.
⎯ Na Idade Média:
• ARIÈS (1981) a infância era um período caraterizado pela inexperiência,
dependência e incapacidade de corresponder a demandas sociais mais
complexas.
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• A criança era vista como um adulto em miniatura, logo, trabalhava nos
mesmos locais, usava as mesmas roupas, era tratada da mesma forma que o
adulto.
• Estava-lhe destinada a aprendizagem das tarefas do dia a dia. Para tal, eram
criadas por outras famílias, aprendessem um ofício.
• A passagem da criança pela própria família era muito breve e as
comunicações sociais e as trocas afetivas eram realizadas fora do círculo
familiar num composto de homens, mulheres, vizinhos, amos e criados,
velhos e crianças.
• Para a época, formar uma pessoa responsável era formar alguém para servir,
ou seja, as crianças aprendiam o que deviam saber ajudando os adultos,
por intermédio do trabalho. O trabalho era uma imposição a todos.
• A maioria da doutrina diz que este período da história era marcado por
pouco amor às crianças.
⎯ No Renascimento:
• Sob a pressão das tendências reformadoras da Igreja, a criança começou a
ser valorizada.
• Por meio da arte, da iconografia (arte de representar imagens) e da religião
(no culto dos mortos), passou-se admitir a existência de uma personalidade e
o sentido poético e familiar atribuído à particularidade da criança.
• Igreja teve fundamental importância, na época, ao associar a imagem das
crianças à de anjos, sinónimo de inocência e pureza divina.
• No decorrer do séc. XVII, percebe-se o início do processo de escolarização,
por meio do surgimento da escola.
• O final do séc.XVII, é considerado o marco na evolução dos sentimento em
relação à infância, origem de uma preocupação com a formação moral da
criança e com a sua construção como indivíduo. Foi nesta época que se
começou realmente a falar na fragilidade da infância.
NOTA: Na Antiguidade, o infanticídio comum, quer entre filhos ilegítimos, quer legítimos, e
mesmo entre famílias abastadas. Em relação a estes últimos, a sua prática diminuiu durante a
Idade Média, enquanto os filhos ilegítimos continuaram a ser objeto de infanticídio até ao séc.
XIX. Qualquer criança que não fosse perfeita, em forma e tamanho, ou chorasse demasiado, ou
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chorasse muito pouco, era geralmente morta, com exceção do primogénito, sobretudo se fosse
do sexo masculino. Em relação às raparigas, a situação era diferente, o que determinou nesta
época, no mundo ocidental, uma clara desproporção entre o número de homens e mulheres na
sociedade. Os Gregos acreditavam que as deficiências dos pais se transmitiriam à sua prole e
daí essa prática. A própria Lei das XII Tábuas, em Roma, proibia que as crianças deficientes
fossem poupadas. Aqui era também comum a exposição de crianças.
⎯ Fase do abandono:
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permitir o descanso das mães abastadas, ou para permitir o trabalho das mães
assalariadas.
• A SEGUNDA INFÂNCIA estendia-se até cerca dos sete anos. A criança vivia então nos
espaços destinados às mulheres, recebendo uma educação que incutia passividade e
obediência.
• Finalmente, a TERCEIRA INFÂNCIA correspondia à entrada na Idade da Razão, em que
se entendia que a criança já era capaz de distinguir entre o bem e o mal. Algumas
crianças começavam nesta altura a trabalhar, contribuindo paraa economia familiar
Da leitura conjugada dos diversos historiógrafos da infância, é de reter uma ideia chave: a de
que desde tempos imemoriais os filhos se encontravam numa posição de subordinação
em relação aos pais, a quem deviam respeito e obediência, cabendo a estes prover ao seu
sustento e educação. Presentemente, é atribuída à pessoa do filho uma importância
crescente, sendo a criança reconhecida como sujeito de direitos em paridade com os
adultos
Artigo 1º CDC
‘‘Nos termos da presente Convenção, criança é todo o ser humano menor de 18 anos, salvo se,
nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo.’’
1.3. A partir de que momento podemos falar de criança (em sentido jurídico)?
Artigo 66º
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2.Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento.’’
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• Orientação da criança e evolução das suas capacidades: O Estado deve respeitar os
direitos e responsabilidades dos pais e da família alargada na orientação da criança de
uma forma que corresponda ao desenvolvimento das suas capacidades.
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• Abuso de estupefacientes
• Exploração e abuso sexual
• Venda, tráfico e rapto.
“1. Todas as decisões relativas a crianças, adotadas por instituições públicas ou privadas de
proteção social, por tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, terão
primacialmente em conta o interesse superior da criança.”
3) Regra processual.
• Sempre que é tomada uma decisão que afeta uma determinada criança, o
processo de tomada de decisão deve incluir uma avaliação do
possível impacto (positivo ou negativo) da decisão sobre a criança
ou das crianças envolvidas.
• A avaliação e a determinação do interesse superior da criança requerem
garantias processuais.
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• A fundamentação de uma decisão deve indicar que o direito foi
explicitamente tido em conta. os Estados-partes deverão explicar como é
que o direito foi respeitado na decisão, ou seja, o que foi considerado
como sendo do interesse superior da criança; em que critérios se baseia a
decisão; e como se procedeu à ponderação do interesse superior da
criança face a outras considerações, sejam estas questões gerais de
políticas ou casos individuais.
Ver posição Rita Lobo Xavier vs. Clara Sottomayor – sobre os interesses da criança
(existem tantos interesses quantas crianças).
1. A opinião da criança
2. A identidade da criança
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3. Preservação do ambiente familiar e manutenção de relações (P. DA PREVALÊNCIA
DA FAMÍLIA)
NOTA: No preenchimento desses critérios é importante a audição da criança, apesar de não lhe
ser dada a mesma importância em todas as fases da vida. O limiar da audição é os 12 anos, o
que não significa que abaixo de 12 não se pode ouvir, mas o nível de discurso e maturidade é
bastante diferente.
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8. Avaliação do impacto sobre os direitos da criança (‘AIDC’)
‘‘1. Os Estados Partes garantem à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir
livremente a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem, sendo devidamente tomadas em
consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e maturidade.
2. Para este fim, é assegurada à criança a oportunidade de ser ouvida nos processos judiciais e
administrativos que lhe respeitem, seja diretamente, seja através de representante ou de
organismo adequado, segundo as modalidades previstas pelas regras de processo da legislação
nacional.’’
2.1.11. Princípio da audição da criança a propósito de todas as decisões que lhe digam
respeito
• Verifica-se uma conexão indissociável entre o artigo 3.º, parágrafo 1 e o artigo 12.º.
• Estes artigos têm funções complementares: o primeiro visa a realização do interesse
superior da criança, e o segundo estabelece a metodologia para ouvir a opinião da
criança ou crianças e a sua inclusão em todas as questões relativas à criança, incluindo a
avaliação do seu interesse superior.
• Quando estão em causa o interesse superior da criança e o direito desta a exprimir a sua
opinião deve ter-se em conta o desenvolvimento das capacidades da criança (artigo 5.º).
Quanto mais a criança sabe, tenha experienciado e tenha mais capacidade de
compreensão, mais os pais, os representantes legais ou outras pessoas legalmente
responsáveis por ela, devem transformar a direção e a orientação em alertas e sugestões
e, mais tarde, numa partilha em pé de igualdade.
• À medida que a criança ganha maturidade, a sua opinião terá um peso crescente na
avaliação do seu interesse superior. Os bebés e as crianças muito pequenas têm o
mesmo direito que todas as outras crianças a que o seu interesse superior seja avaliado,
mesmo que não possam exprimir a sua opinião e representar-se a si próprias da mesma
forma que as crianças mais velhas.
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B. Interesse superior da criança
C. Dignidade
D. Proteção contra a discriminação
E. Primado do direito
1. Informação e aconselhamento
2. Proteção da vida privada e familiar
3. Segurança (medidas preventivas especiais)
4. Formação de profissionais
5. Abordagem multidisciplinar
6. Privação da liberdade
Livro da Elisabete - (sobre o Acórdão - p.451 a 454) ; (doc. Internacionais – p.85 a p. 115).
Aula 2 – 23/02/2022
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3.2. Caraterísticas
• Inatos
• Intransmissíveis – quer por negócio inter vivos, quer por negócio mortis causa (em vida
e por fenómeno sucessório), não podem ser transmitidos em vida, nem por morte.
• Irrenunciáveis – estão ligados à pessoa e à sua titularidade.
• Absolutos – eficácia erga ommens;
• Extrapatrimoniais – não são avaliados pecuniariamente;
• Gerais;
• Relativamente indisponíveis – embora o seu titular não pode renunciar pode permitir
certas limitações voluntárias, pode dar o seu consentimento para se permitir certas
vicitudes;
3.3. Consentimento como causa de exclusão da ilicitude:
• Art.81º:
• Art.340º:
⎯ Consentimento presumido;
⎯ Expresso/tácito;
⎯ Livremente revogável – art.81º/2;
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⎯ Estes direitos de personalidade com preenchimento constitucional preenchem este
conteúdo dos direitos de personalidade.
Será que as crianças podem exercer de forma autónoma para o exercício de direitos de
personalidade?
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▪ De gozo: de natureza pessoal – casamento, testamento e perfilhação (a idade
depende, 16 anos, 18 anos (salvo emancipação) e 16 anos respetivamente)
▪ De exercício: capacidade para o negócio jurídico geral – não são de natureza
estritamente pessoal – 18 anos;
▪
• INCAPACIDADE NEGOCIAL DE GOZO E INCAPACIDADE NEGOCIAL DE EXERCICIO:
⎯ Incapacidade negocial - é insuprível, porque são incapacidades de natureza pessoal,
aquela pessoa não pode ser titular daquela relação jurídica;
⎯ Incapacidade de exercício - como não é de natureza pessoal, esta é suprível
mediante a representação legal.
Maioridades antecipadas:
▪ art.1886º CC – educação religiosa;
▪ art..38º/3) CP – consentimento para excluir ilicitude;
▪ art.127º;
• Assim, parece ser possível reconhecer à criança alguma autonomia no exercício dos
seus direitos de personalidade DESDE que esse exercício não ofenda o superior
interesse da própria criança.
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• Artigo 5º da Convenção sobre os Direitos da Criança: " Os Estados Partes respeitam
as responsabilidades, direitos e deveres dos pais e, sendo caso disso, dos membros da
família alargada ou da comunidade nos termos dos costumes locais, dos representantes
legais ou de outras pessoas que tenham a criança legalmente a seu cargo, de assegurar à
criança, de forma compatível com o desenvolvimento das suas capacidades, a orientação e
os conselhos adequados ao exercício dos direitos que lhe são reconhecidos pela presente
Convenção"
Entre nós, a incapacidade resultante da menoridade, não é suprida pela assistência, mas sim
pela representação (os anteriores incapacitados, poderiam ser aplicado a assistência, e os
atuais maiores acompanhados).
• Na representação legal significa que os representantes é que celebram o negócio e
os efeitos produzem-se na esfera do representado.
• Já no instituto da assistência é diferente, quem celebra o negócio é diretamente o
incapaz e participa no tráfego jurídico, mas é apoiado pelo assistente, este tem que
dar autorização, mas quem pratica o ato é o incapaz.
• Há OJ’s em que se combina estes dois modelos – por exemplo, a partir dos 16 anos
continua a haver incapacidade, mas seria suprida pela assistência, antes disto aplicar-
se-ia o mecanismo da representação.
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• Mas os pais continuam obrigados a exercer as responsabilidades parentais, de
vigiar e estar atentos, e evitar que estes causem danos a eles próprios – ou seja, terão
direito de oposição.
Pressuposto comum:
• Criança nasce com malformações congénitas graves;
• Erro médico por violação das boas práticas médicas (legis artis);
Diferenças:
• Wrongful life – ação proposta pelo filho – através de representante legal;
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• Wrongful life – ação proposta pelos pais, em seu próprio nome.
NOTA: A atribuição das indeminizações por Wrongful birth – mais pacifico, aliás, não houve
até ao dia de hoje a atribuição de indeminzaçoes por casos de wrongful life.
3.6.1. Wrongful life
• Fundamento – se não fosse a negligência médica, os pais teriam, eventualmente,
recorrido à interrupção voluntária da gravidez
• Dano – ter que viver com uma deficiência grave – a própria vida como dano.
Análise de casos:
• Portugal – 2001:
⎯ Abel representado intenta a ação contra o médico radiologista e clínica radiológica;
⎯ Negligência médica – não informou das malformações graves e irreversíveis nas
pernas e mão;
⎯ Pais impedidos de interromper voluntariamente a gravidez;
⎯ Tribunal não deu razão. Porquê?
⎯ Tribunal deixa em aberto a possibilidade de pedir a wrongful birth;
NOTA:
• Dano pré-natal – merecedor de tutela jurisdicional;
• Dano da vida indevida – não merecedor de tutela.
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⎯ Tínhamos aqui um pedido duplo – wrongful life (foi rejeitado) – mais o tribunal
entendeu que o nascimento deficiente do autor não constitui um dano juridicamente
reparável no nosso OJ;
⎯ Ambos os acórdãos concederam a indeminização à mãe – art.142º CP – interrupção
voluntária da gravidez;
• Ac. 55/2016:
⎯ “Não julga inconstitucionais os artigos 483.º, 798.º e 799.º do Código Civil,
interpretados no sentido de abrangerem uma pretensão indemnizatória dos pais de
uma criança nascida com uma deficiência congénita, a serem ressarcidos pelo dano
resultante da privação do conhecimento dessa circunstância, no quadro das respetivas
opções reprodutivas, quando esse conhecimento ainda apresentava potencialidade
para determinar ou modelar essas opções”
• EUA:
⎯ Decisões que atribuíram indemnização com fundamento wrognful life;
⎯ Num dos acórdãos, o tribunal da Califórnia explicou que o que estava em causa na
wrongful life não era a violação do direito a não nascer, mas o facto de a negligência
médica ter conduzido a uma existência em sofrimento;
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⎯ A existir responsabilidade, teria que ser do tipo extracontratual – rejeição da ideia de
contrato com eficácia de proteção para terceiros (nascituro);
⎯ Os pressupostos da Responsabilidade Civil não se verificam.
⎯ Também se tem entendido que este tipo de ações está relacionado com a licitude (ou,
pelo menos, não punição) da interrupção voluntária da gravidez.
• Questão: poderá a vida ser tão miserável e feliz que se chegue à conclusão de que
não merece ser vivida?
• Há quem entenda que a expressão utilizada (vida indevida) não é muito feliz - Vida
diminuída
• Vida indevida – parece que o que está em causa é o direito à não existência.
• Na verdade, o que a criança pede é uma compensação que lhe permita fazer face às
despesas que terá pelo facto de ser portadora daquela deficiência
Aula 3 – 02/03/2021
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Pressupostos da responsabilidade civil extracontratual – art.483º CC:
• Ilicitude:
⎯ Violação de um direito subjetivo dos pais – liberdade reprodutiva/direito
autodeterminação (wrongful birth);
⎯ Violação das leges artis (lei que estabelece os deveres profissionais) – art.4º da
Convenção de Oviedo;
• Culpa:
⎯ É necessário que seja possível fazer um juízo de censura, porque atuou em
desconformidade com a lei jurídica.
⎯ Existem vários níveis de culpa – culpa, mera culpa, negligencia. (o médico ficou
aquém do que era esperado do médico médio – não será propriamente o homem
médio, mas o médico médio).
⎯ Normalmente, falamos aqui de negligência:
▪ Falha no dever de informação;
▪ Não realização de exames exigidos pela prática;
▪ Falha na interpretação dos resultados dos exames;
⎯ Prova de culpa:
▪ Art.487º - responsabilidade extracontratual;
▪ Art.799º - responsabilidade contratual;
▪ Cláusula de exclusão de responsabilidade? Nula – ordem pública
(Direito à vida/Direito à saúde/Direito a constituir família). Seria nula por
ser contrária à ordem publica. Se existe uma clausula que viola um
princípio fundamental do OJ esta será contraria à ordem publica – viola
direito à vida, direito à suade e direito a constituir família.
• Dano:
⎯ Temos que comparar a situação atual e a anterior à lesão.
⎯ Resposta positiva ao pedido da criança – posição tradicional – estaríamos a
considerar a 2º situação (não vida) mais vantajosa. Teríamos que admitir a não
existência seria superior à vida (ainda que acompanhada de enorme sofrimento).
Tem sido difícil de admitir entre nós (art.24º CRP)
A doutrina:
⎯ Faria Costa – o art.24º CRP – é um direito à vida condigna, ou seja, ‘‘vida com
qualidade’’. Isto significa que o dano não é a vida em si, mas sim um dano nas
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condições, para apurar o dano teríamos que comparar a vida da criança com
malformações e uma criança sem malformações.
⎯ João Pires da Rosa – a indemnização serviria para que a vida se aproximasse
da criança sem malformações.
⎯ Danos patrimoniais e danos não patrimoniais
⎯ Paulo Mota Pinto – se recursamos a indeminização, isso corresponde a uma
nova agressão à criança, houve uma responsabilidade do médico, seria uma
dupla atribuição.
Ou seja, não só a criança nasceu com graves deficiências, como lhe é vedado
sequer comparar-se uma pessoa normal para efeitos de reparação de
danos resultantes de erro médico.
• Nexo da causalidade:
⎯ Existia aqui um impasse porque dificilmente conseguimos perceber como é que este
se preenchia – tem que haver uma relação de causa e efeito (dano e o facto). De
acordo com o art.563º do CC, aplica-se a teoria da causalidade adequada.
⎯ Segundo as regras da experiência a conduta do médico tem que ser adequada a
produzir aquele dano.
⎯ Não há um nexo de causalidade direto porque estão em causa malformações
congénitas, ou seja, não é o diagnostico negligente do médico a causa das
deficiências da criança.
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⎯ Atualmente, hoje a doutrina tem tentado dar um novo enquadramento do nexo de
causalidade, faz sentido falar num nexo de causalidade indireto, não é mediato, não
é a conduta do médico que causa o dano.
⎯ Guilherme de Oliveira – causalidade indireta ou mediata:
▪ Haverá uma relação de causalidade mesmo que o facto não produza
diretamente o dano, mas crie um outro acontecimento que, por sua vez,
conduzirá à produção do dano.
Assim:
• Falha do médico – a gravidez prossegue (gravidez que, de outro modo, seria
interrompida) – nascimento com deficiências graves.
• Conclusão: a conduta culposa do médico foi causa mediata do nascimento com
deficiências não diagnosticadas.
• Única prova: se a mulher grávida soubesse do real quadro clínico do feto, teria
recorrido à IVG.
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Será que havendo nascimento, pode a criança pedir a indemnização quando
nascer? Tem sido unanime na doutrina a atribuição.
• Existem várias teses a permitir a indemnização, há quem fale da retroação da
personalidade ao momento da lesão.
• Outra questão – ligada com a IF – o nascituro pode pedir indeminização pela morte
do seu pai, pelo facto de ter ocorrido no momento em que ainda não tinha
nascido?
- Ac. TRP de 21 de Fevereiro de 2013:
⎯ Pai morre com 25 anos
⎯ Filho com 16 meses – indemnização
⎯ Filho nascituro (nasceu 18 dias depois) – não indemnizado
• Uma criança que sofre lesão no ventre da mãe e acaba por não nascer, mãe é
atropelada na passadeira e o feto não consegue desenvolver-se, não chega a
aquisição da personalidade jurídica.
⎯ Se a criança sofre lesões e vem a nascer, pode haver a indemnização.
⎯ Se a criança sofre lesões e não vem a nascer, ficaria sem indemnização, isto é
injusto.
⎯ Horster – aplica o art.496º/2 do CC – o direito a indemnização pelo dano da
morte cabe à vítima (que nem sequer veio a nascer), mas às pessoas referidas
nesse artigo.
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⎯ Procriação medicamente assistida com recurso a dador;
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• Inicia-se na conservatória quando o funcionário se depara sem a indicação da
paternidade.
• O funcionário tira certidão de assento do nascimento e envia para o MP, dando origem
ao processo de investigação oficiosa.
• O MP começa por ouvir a mãe, se a mãe identificar o possível pai, ou se o MP chegar a
um possível pai, é chamado o pai, pode o pai confirmar a paternidade e fica a filiação
estabelecida mediante perfilhação.
• Se este se recusar a perfilhar o MP continua a investigar e se reúne indícios fortes de
aquele ser o pai intenta ação de investigação da paternidade.
• A paternidade é estabelecida daquelas duas formas:
1. Perfilhação;
2. Ação de investigação – pelo MP. (e não pelo filho)
Além destes dois casos, há um terceiro caso previsto na lei da PMA, uma mulher sozinha
recorre sozinha à PMA, neste caso, será inseminada com sémen do dador, este dador fica
excluído do projeto parental. Porque a lei permite que esta recorra sozinha à PMA.
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+ Portugal: pouquíssimas exceções ao princípio da verdade biológica. Tradicionalmente
entendia-se que o superior interesse do filho corresponde ao estabelecimento da
filiação de acordo com o princípio da verdade biológica. Mas nem sempre.
+ Algumas vezes a mãe oculta o nome do pai biológico para proteção da própria criança.
NOTAS:
☞ O instituto da averiguação oficiosa obriga o Estado a buscar a verdade biológica sem
conhecer as circunstâncias que levaram a mãe a não querer identificar o pai.
☞ Apenas umas pequenas percentagens dos processos de averiguação oficiosa resultam numa
ação de investigação da paternidade proposta pelo MP.
☞ Muitos destes processos não são concluídos. Alguns terminam por perfilhação
(espontânea ou depois de um exame de ADM que desfaça dúvidas).
☞ Na grande maioria dos casos, o MP falha no objetivo proposto. Necessita da colaboração da
mãe
☞ Necessidade de repensar este instituto.
• Prova –
⎯ prova de presunção de paternidade (art.1871º/1);
⎯ presunção direta do vínculo biológico.
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o Porque estas presunções são ilididas de uma forma distinta (1872º), para ser
afastadas o reu não precisa de provar que não é pai.
o Basta alegar e provar factos capazes de convencer o juiz acerca da paternidade
do reu.
o Tem apenas de alegar e provar factos, causando dúvidas sérias no espírito
do juiz.
A paternidade presume-se:
a) se provar que a criança era reputada como filha pelo reu e pelo público – posse de
Estado;
b) quando existir carta ou outro escrito em que declara inequivocamente paternidade;
c) Quando durante o período legal de conceção tenha existido comunhão duradoura entre
os cônjuges – ou seja, quando se provou que a mãe e o reu viviam em UF no período
legal de conceção;
d) Quando o pretenso pai tenha seduzido a mãe (quando esta menor) ou (......) – a ideia do
legislador seria de que o reu seduziu a mãe, porquê que se podia provar? O reu colocou
artifícios de vantagem em relação a outros homens.
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▪ Ou seja, a alteração introduzida foi a de que a paternidade se presume (basta que
se prove que a mãe teve relações sexuais no PLC para se presumir que o reu é
pai, não é necessária prova de exclusividade).
E deita-se por terra a doutrina do acórdão;
▪ Ratio - Se uma relação sexual no PLC é apta a gerar um filho, então se consegue
fazer a prova da relação sexual demonstra a possibilidade de o reu ser pai, ainda
que não seja uma possibilidade muito forte, continua a ser uma probabilidade,
existe uma possibilidade que segundo o legislador – pode provar o contrário
através da criação de dúvidas sérias ao juiz (diz que teve relações sexuais com
outras pessoas- exceptio plurium) ou pede um teste de ADN (prova direta –
exame científico – 1801º CC).
▪
Aula 4 – 09/03/2022
(Continuação da aula anterior)
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⎯ Prestação de carater pessoal;
⎯ Confronto com o Processo Penal - Ac. TC 228/2007.
• Art.417º/2) CPC – ‘‘Aqueles que recusarem a colaboração devida serão condenados em
multa, sem prejuízo dos meios coercitivos que forem possíveis…’’;
• Quando o art.417º do CC refere ‘‘sem prejuízo dos meios coercitivos que forem
possíveis’’, parece que está em contradição. A ratio deste artigo deve-se ao seguinte
facto, não porque este artigo estabelece um dever de cooperação da verdade, não
especificamente para os processos de estabelecimento da paternidade, mas sim no
âmbito de vários processos judicias em que pode fazer sentido alguns meios coercitivos;
Vd. Ac. TRP 9/11/2006 (Amaral Ferreira) – o tribunal pode ordenar coercivamente a
comparência no local onde se efetuam os testes de ADN, mas apenas quanto ao
comparecimento. Não quanto à submissão a exame.
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Prazo para propositura da ação de investigação:
• Art.1817º CC – aplicável por força da remissão do art.1873º;
• Questão – estas ações deveriam estar sujeitas a prazo de caducidade?
• O art.1873º manda aplicar normas de investigação da maternidade, nomeadamente,
quanto aos prazos.
A questão que se coloca é de saber se estes prazos, são constitucionais ou não?
• Os prazos que estavam previstos eram diferentes até 2009:
⎯ O prazo era de 2 anos a contar da maioridade;
• Era bastante mais reduzido e isto levantou algumas dúvidas de saber se este prazo
não era curto por violar a conveniência de uma ação de investigação de paternidade
porque poderia depois já não ter prazo para intentar a ação – Ac. TC 23/2006 –
entendeu que o prazo era inconstitucional, havia uma limitação desproporcionada
porque o prazo era demasiado curto, não só era uma limitação desproporcional da
identidade pessoal (26º CRP) e de constituir família (36º) – art.18 da CRP;
O tribunal também entendeu que outro interesse seria colocado em causa:
⎯ interesse do pretenso pai – não prolongamento de uma situação de
incerteza. Este argumento perde força, porque os exames de ADN podem ser
realizados muitos anos depois, o que permite fazer a prova muitos anos após
o nascimento da criança.
⎯ Interesse dos herdeiros do investigado;
⎯ Evitar caça as fortunas;
Em 2009, é alterado o art.1717º, o prazo passa deixar de ser dois anos e passa a dez anos. Mas
isto não resolveu o caso, a doutrina e a jurisprudência dividem-se:
• Jorge Duarte Pinheiro:
⎯ Qualquer que seja o prazo configura uma limitação desproporcionada aos
direitos fundamentais – art.36º e 26º;
⎯ A experiência demonstra que a investigação da paternidade dificilmente
assegurará o direito de o filho ter uma vida familiar com o progenitor. Mas a
sentença tornará exigível a responsabilidade parental na vertente
patrimonial.
⎯ Curiosamente em 1999, a Provedoria da Justiça recomendou que a lei
fosse alterada: a existência de prazos para a propositura da ação com fins
patrimoniais/imprescritibilidade para a propositura da ação de investigação,
desde que os efeitos pretendidos sejam apenas de natureza pessoal.
⎯ Projeto de lei que aditava um nº novo ao art.1817º - desde que os efeitos
pretendidos sejam de natureza estritamente pessoal, a ação de investigação
pode ser proposta a todo o tempo.
⎯ Mas a iniciativa acabou por caducar;
• Guilherme de Oliveira:
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⎯ Também defende a tese da ‘‘imprescritibilidade’’ do direito do
investigante;
⎯ Mas – abuso de direito, quando o autor não pretende mais do que faturar no
seu ativo patrimonial – art.334º CC;
☞ AC. TC 346/2015
Será que as normas que regulam a averiguação oficiosa 1864º e seguintes e ação de
investigação de paternidade – 1865º/5 e 1869º, são inconstitucionais?
• O argumento para invocar esta inconstitucionalidade, é porque nestes casos, a
investigação da paternidade será feita contra a vontade do progenitor.
• O argumento utilizado para referir que estes regimes não seriam inconstitucionais, seria
o de permitir estabelecer a paternidade contra a vontade do progenitor e que poderia
violar o princípio da igualdade – art.13º CRP, o argumento seria o de que as
mulheres poderiam rejeitar a sua maternidade, recorrendo à Interrupção VG. E os
homens não teriam essa possibilidade, e como haveria uma diferença de tratamento
poderia ser uma discriminação baseada no gênero e seria uma violação do art.13º CRP.
• Esta tese defendia que o direito a rejeitar uma paternidade, é o direito ao livre
desenvolvimento do pai;
31
• Jorge Martins Ribeiro – ‘‘o direito de o homem rejeitar a paternidade de um filho
nascido’’ – 2013;
• Estamos perante situações completamente diferentes em termos materiais.
No fundo, houve uma questão colocada de saber se o progenitor masculino, e queria
saber-se se isso não seria inconstitucional e a interrupção involuntária da gravidez era
da mãe, e o tribunal entende que se tratam de situações diferentes, ou seja, seria um
direito de veto do pai, imaginemos que o pai queria ir em frente com a gravidez e o mãe
não queria, e o TC entende que não era inconstitucional e que se justificava a diferença
pela diferença das coisas, da realidade humana.
• Técnicas:
⎯ Da fecundação dentro do corpo da mãe (inseminação artificial);
⎯ De fecundação in vitro;
• Técnicas:
⎯ Homologa: quando é com material de casal, mulher inseminada com sémen do
parceiro, material genético do casal
⎯ Heterólogas – intervenção de um dador – art.10º, art-19º/1 e art.27º;
Problema – como conciliar o regime previsto na lei que regula a PMA com o direito à
identidade pessoal da criança que é concebida com recurso a esse tipo de técnicas?
• PMA homóloga – não há problema;
• PMA heteróloga – Problema:
⎯ Art.20º - determinação da parentalidade – um casal unido em casamento que
recorre a uma técnica de PMA, este artigo 20º diz que a parentalidade é
32
estabelecida em relação ao casal que prestou consentimento para a técnica – a mãe
e o cônjuge que presta o consentimento para o recurso à técnica de PMA, só que na
verdade um dos membros do casal, não será o pai biológico porque é usado sémen
de outro dador, temos aqui uma parentalidade legal e não laços de sangue, não
correspondência com a verdade biológica, um deles não é realmente o pai
biológico da criança.
⎯ Art.21º - o dador de material genético fica excluído do projeto parental – este
nunca será havido como pai da criança, apesar de ser pai biológico, fixa totalmente
excluído.
Como compatibilizar?
▪ Art.15º - Regra do anonimato do dador. Não obstante, as exceções existentes;
▪ TC considerou que a regra do anonimato viola o art.26º CRP;
▪ Ac. TC 225/2018 – nova redação do art.15º CRP, para dar expressão à identidade
pessoal.
33
• Paulo Farinha: Que sentimento poderá experimentar essa criança quando, chegada à
idade adulta, toma consciência de tão grande?
• Problema: muitas vezes são os próprios pais que publicam nas suas redes sociais
informações sobre os seus filhos.
• Novo termo “sharenting” – progenitores que utilizam regularmente as suas redes
sociais para comunicarem uma quantidade enorme de informação detalhada acerca dos
filhos.
• Muitas crianças já têm algum tipo de informação pessoal partilhada na internet:
⎯ Escola
⎯ Hábitos alimentares
⎯ Hábitos de higiene e de sono
⎯ Locais que frequentados
34
⎯ Problemas de comportamento
⎯ Páginas de maternidade (grupos privados …)
Aula 5 – 16/03/2022
Estatuto do aluno:
Lei 51/2012 – Lei do Estatuto do Aluno e do Etica escolar
• Artigo 74º CRP – direito ao ensino;
• Há aqui direitos e deveres do aluno e percebemos como devemos entender as
responsabilidades parentais;
• Artigo 7º da Lei – consagra alguns direitos;
• Artigo 10º - consagra alguns deveres;
• Artigo 43º - Neste âmbito, surge a responsabilidade dos pais e dos encarregados de
educação;
• Artigo 44º - consequências para o incumprimento das obrigações dos pais ou
encarregados de educação;
EFEITOS DA FILIAÇÃO
35
⎯ Exercício da responsabilidade parentais (filhos menores de idade) – este é o
efeito principal;
• Conceito legal de família – é importante definir porque a maior parte das relações
familiares surgem no seio familiar.
⎯ 1576º CC – diz quais as fontes das relações jurídicas familiares e percebemos
que existem quatro: 1) relação matrimonial; 2) relação do parentesco; 3) relação
afinidade; 4) relação adotiva (resulta da sentença judicial). Este conjunto grande
de pessoas fazem parte da mesma família;
⎯ Em termos sociológicos, não é esta grande família que tem relevância, por
regra, esta grande família não convive com tanta frequência. Hoje em dia, fala-se
em pequena família ou família nuclear – pais e filhos;
• Houve uma passagem da grande família para a pequena família, esta passagem é
acompanha por uma alteração ao nível da família, algumas já não são exercidas, outras
já não são exercidas em monopólio, a família perde algumas funções que lhe eram
apontadas;
⎯ Função política;
⎯ Função económica;
⎯ Função de assistência;
⎯ Função de educação;
⎯ Função de segurança;
36
• Ocupam o estatuto de filho, são um dos sujeitos da relação de filiação. Quando os filhos
são menores, o principal efeito desta filiação é o princípio das responsabilidades
parentais – 1877º CC;
• Assim para entendermos o estatuto da criança na comunidade familiar, analisemos o
instituto das responsabilidades parentais;
• Reforma de 1977
⎯ Serviu para adequar o CC à nova ordem constitucional, depois do 25 de Abril e
depois em 77 adequa-se o novo CC à ordem constitucional;
⎯ Princípio da igualdade dos cônjuges – artigo 36º CRP/1671º CC – 1901º CC –
acaba-se com o poder marital, o CC assume a igualdade dos cônjuges; deixamos
37
de ter o chefe da família, e era exercido por ambos os cônjuges com cúmulo
acordo;
⎯ Critério orientador – superior interesse do filho – artigo 1878º/1
⎯ Consagra o dever de obediência – artigo 1878º/2/1ª parte –
▪ MAS – reconhece progressiva autonomia na condução de vida – artigo
1878º/2/2ª parte
▪ Consagração de “maioridades especiais” – artigo 127º - ou seja, há
certos atos que os menores podem praticar antes de atingir a menoridade
⎯ Mas estas situações de maior autonomia, continuaram a ser vistas como exceções, e
ainda existia a ideia de que o poder paternal era o poder de representação.
☞ Exemplo
• Parecer da Procuradoria-Geral n.º 53/80, de 6 de novembro – sobre o acesso do
menor a consultas de planeamento familiar – os pais é que decidem.
• Fundamento: incapacidade geral de agir – incapacidade suprida pelo Poder Paternal
(artigo 124º). Ora, percebemos que este Parecer está a hipervalorizar o poder de
representação quando na verdade a questão das consultas são questões mais educativas
e o poder de representação deveria ser reservado para questões negociais, em que o
filho não pode celebrar certos negócios jurídicos e os pais exercem para suprir. E isto
não estava em causa, mas sim mais uma questão educacional;
• CONCLUSÂO – o parecer hipervaloriza o poder de representação.
⎯ O problema em questão é de ordem educacional
⎯ Poder de representação – incapacidade negocial
⎯ Visão redutora do instituto do Poder paternal
38
⎯ Se os progenitores não são casados e vivem em UF, aplicamos as mesmas regras
para o caso de progenitores casados;
• Art.36º, nº5 – poder dever e manutenção de educação dos filhos:
⎯ Este princípio tem duas vertentes:
1) em relação aos filhos, sujeitos às responsabilidades parentais até atingirem a
maioridade;
2) vetor digerido ao Estado – este deve colaborar com os pais na tarefa de
educação dos filhos;
A visão que o legislador constituinte dispõe a cerca do poder paternal daquela que vimos
anteriormente, enquanto no passado existia a ideia de que o poder paternal devia ser um poder
de representação. Percebemos que parece que a CRP dá um papel de maior destaque ao
cuidado parental;
39
• Art.1874º CC – deveres mútuos de respeito, auxílio e assistência (que não se extinguem
com a maioridade). Art.2009º - refere quem pode ser obrigado a pagar alimentos, e
verificamos que os pais dos filhos mesmo não sendo menor, pode suceder que este já
não necessite de alimentos, mas os pais continuam obrigados. Um filho maioridade pode
num momento de fase adulta necessitar de alimentos e pode recorrer à pessoas para
verificar se estas pessoas podem prestar alimentos (existe uma ordem), o mesmo
sucede com os pais, ou seja, no futuro podem ser estes a precisar e nos termos do 2009º
e se o filho tiver condições de os prestar;
• Esta redação resultou da Reforma de 77, porque antes eram deveres unilaterais
dos pais quanto aos filhos, o dever de honrar e respeitar pai e mãe.
Finalidades da RP:
• Proteção – as crianças e jovens estão numa situação de vulnerabilidade, esta pode
crescer ou não. Os menores de idade estão em situação de vulnerabilidade, porque estes
próprios podem colocar em causa, não só o património, mas também a sua integridade
física;
• Finalidade de promoção da autonomia pessoal do filho e da sua independência –
para que estes se vão progressivamente preparando para o futuro, para que depois dos
18 anos sejam adultos responsáveis e independentes;
• Situação de vulnerabilidade – possibilidade de se colocar em perigo:
⎯ Proteção em relação à pessoa do filho (artigo 1878º/1/1ª parte);
⎯ Proteção em relação ao património do filho (artigo 1878º/1/2ª parte);
• Processo de evolução e crescimento – é um processo continuo, cabe aos pais saber
gerir e promover esta autonomia;
⎯ Artigo 1885º - promover a independência. Criar condições que favoreçam o
pleno desenvolvimento de competências físicas, intelectuais, morais,
emocionais e sociais dos seus filhos.
Natureza Jurídica:
• No exercício das RP este tem certos poderes e faculdades quanto aos seus filhos,
que resulta do conteúdo das RP.
• Estas RP consistem num conjunto de direitos subjetivos que o legislador atribui
aos pais?
40
⎯ Não é adequado dizer que é um direito subjetivo, este era um instrumento para o
princípio da autonomia privada;
⎯ O titular do direito subjetivo pode em princípio atuar com ampla liberdade,
embora existam válvulas de escape como o abuso de direito, tirando estes casos
o titular tem ampla proteção. Uma vez que, a função do direito subjetivo o que
está em causa é proteção dos interesses do próprio, se age mal o que prejudica é
o interesse dele próprio. É isto que sucede com as responsabilidades parentais?
⎯ Ao contrário do que sucede no direito subjetivo, consagra o direito e interesse
que se pretende proteger, isto não sucede nas responsabilidades parentais. Isto
significa que os pais não significar que o pai tem a liberdade como sucede no
direito subjetivo. Aqui nas responsabilidades parentais tem mesmo que exercer
no superior interesse do filho;
⎯ A natureza jurídica deste é o chamado poder-dever ou poderes funcionais. As
RP têm como função proteger ineresse de um terceiro.
• Caraterísticas:
⎯ Irrenunciáveis – art.1882º - há casos em que há renuncia, por exemplo, quando
os pais dão o filho para a adoção;
⎯ Intransmissíveis (inter vivos; mortis causa);
▪ Quando o pai morre por exemplo, estas não se transmitem para os
herdeiros;
⎯ Exercício objetivamente controlável;
▪ A OJ preocupa-se em controlar o modo como estas são exercidas, tem que
ser exercidas de forma correta, caso contrário pode haver a intervenção
de órgãos como a CPCJ;
41
⎯ Poder-dever de educação
⎯ Poder dever de representação (patrimonial)
⎯ Poder-dever de administração de bens (patrimonial)
• Outros:
⎯ Poder-dever de declarar o nascimento – artigo 97º\1\a) CRP
⎯ Poder-dever de dar o nome – artigos 1875º e 1876º
⎯ Poder-dever de pedir o passaporte
⎯ Poder-dever de autorizar ou negar a saída do filho para o estrangeiro
2. Poder-dever de vigilância:
• Relacionado com o anterior – se poder assegurar a guarda e ter os filhos na sua
companhia, faz sentido que tenha o poder de vigilância, devem poder estar atentos para
terem o filho na sua companhia;
• Possibilidade de vigiar - estar atento para poder proteger o filho na sua integridade
física e moral.
42
▪ Se for demonstrável que é razoável fazer a exigência aos pais e pelo
tempo normal a durar essa formação profissional, podem os pais ter
que continuar a prover estes alimentos educacionais;
▪ Art.1905º, nº2 CC – antes de 2015, tínhamos um casal com um filho
menor, esse casal divorciou-se e é necessário regular as RP quanto ao
filho menor. Temos que definir a residência do filho, e se este fica a residir
com a Mãe, o pai teria que pagar alimentos e fica a pagar alimentos ao
filho. Antes de 2015, o filho estava a receber a pensão de alimentos do pai
e quando atingisse os 18 anos, perdia a pensão e depois teria que intentar
uma ação com fundamento no 1880º e que era razoável a exigência ao pai
dos alimentos.
A partir de 2015, se a criança ou jovem já recebia os alimentos antes de
atingir a maioridade, não perde os alimentos quando atinge os 18 anos,
mantem até aos 25 anos, porque se entende que é a idade média para
completar a formação. A não ser que, o obrigado a alimentos acha que não
deve suportar, tem o ónus de provar, ou que não é razoável a exigência ou
que o filho abandonou ou já completou os estudos.
• Poder de correção?
⎯ Antiga redação artigo 1884º - “poder de corrigir moderadamente o filho nas
suas faltas”.
☞ Plano Patrimonial:
6. Poder dever de representação
• Suprir a incapacidade de agir do filho no campo negocial – exemplo: arrenda um
bem do filho. Não podem celebrar negócios jurídicos, estes servem para suprir a
43
incapacidade negocial, são pais que celebram um contrato de arrendamento no nome do
filho, e os efeitos produzem-se na esfera do filho;
• Compra comida ou roupa – poderes-deveres que integram o plano pessoal (já não é
poder-dever de representação), é o tal poder dever de manutenção do filho de prover a sua
subsistência e desenvolvimento integral.
• Artigo 1881º
• Artigo 1888º
• Artigo 1889º
• Artigo 1892º
• Artigo 1897º
• Artigo 1888º
Aula 6 – 23/03/2022
44
• Limite quanto ao exercício das RP: respeito pelos direitos fundamentais do filho e da
sua personalidade – artigo 1878º\2;
⎯ Pais devem evitar moldar a criança à sua imagem e semelhança;
⎯ Devem respeitar a sua individualidade gostos e ideias;
LIMITES E INIBIÇÕES:
Quando os pais não agem de acordo com as Responsabilidades Parentais, aplicamos o Processo
Tutelar Cível – Lei 141\2015, de 8 de setembro.
Quanto às limitações:
• Casos em que pode haver limitações - Artigo 1918º - situação de perigo para a
segurança, saúde, formação moral, educação…
• Providências adequadas:
⎯ Entrega da criança a uma terceira pessoa
⎯ Entrega a um estabelecimento de educação ou assistência
Para casos mais graves, temos as inibições:
Olhando para o regime que se aplica à limitação e inibição, o legislador distinto a titularidade
das responsabilidades parentais, quando estes são titulares e o exercício destas porque nem
sempre são exercidas por estes, podem ser exercidas por uma terceira pessoa.
• Distinção entre:
⎯ Titularidade das Responsabilidades Parentais (pais biológicos);
⎯ Exercício das Responsabilidades Parentais (3ª pessoa, artigo 1907º e 1919º);
45
parentais só pode ser decretada quando se perfilar uma situação de violação grave e culposa de
algum ou alguns dos assinalados deveres, daí resultando grave prejuízo para o filho, o que no
caso não ocorre.
3.- A inibição é uma medida de último “ratio”, pelo que a verificar-se uma situação de perigo
para a segurança, saúde, formação moral e educação do filho menor sempre cumprirá indagar
se o regime prevenido no art.1918 CC não constitui remédio adequado, em ordem a preservar
no progenitor o exercício das responsabilidades parentais.
• Progenitores em UF – 1911º:
⎯ As mesmas regras para o casamento, suprarreferidas;
• Artigo 1904º A
⎯ Em caso de separação de pessoas e bens ou divórcio – artigos 1905º e 1906º
- havendo o divorcio da mãe ou terminando a UF suprarreferido, a relação
biológica entre a criança e o companheiro continua a ser protegida legalmente, e
o companheiro da mãe pode ter direito de visita em relação à criança. O objetivo
é titular a relação de afetividade.
46
⎯ Justifica um novo impedimento matrimonial – artigo 1602º - impedimento
dirimente (é dos mais graves que pode afetar a validade do casamento) –
⎯ Importância das relações afetivas
⎯ Problema: Estabelecimento tardio da filiação – artigo 1797º\2) - Posição de
Cecília Peixoto.
▪ Imagine-se que aberta a filiação apenas em relação à mãe e que casou com
um sr. E colocam requerimento para exercer as responsabilidades
parentais em conjunto, o tribunal defere e exercem. Até que o pai
biológico decide perfilhar a criança, este problema não se resolve pelo
1904º A, o 1792º/2) CC, o estabelecimento de filiação produz efeitos
retroativos. O que sucede à posição do companheiro da mãe? A lei não
resolve diretamente a questão. Cecília Peixoto mesmo que houvesse a
caducidade da solução, poderia fazer sentido manter alguma forma de
contacto entre a criança e o antigo companheiro da mãe, poderia
estabelecer um regime de convivência – 1887º-A CC
47
• Art.18º - obrigação de constituir advogados em certos casos (na fase de recurso e da
nomeação de advogados quando os interesses da criança e progenitores está em
conflito);
Alimentos:
• Artigos 45º e seguintes da Lei 141/2015;
• Dever de assistência autonomiza-se – obrigação de pagar alimentos
• Artigos 2003º, 2004º, 2009º -
• Esta determinação dos alimentos deve ser feita por acordo dos pais, sujeito a
homologação. Se não houver acordo, tem de haver decisão do tribunal – 1905º CC;
• Montante de alimentos- manutenção do nível de vida dos progenitores?
⎯ Depende da necessidade do filho e da capacidade do progenitor;
⎯ Há quem entenda que quanto aos filhos menores de idade, sempre que o
progenitor tem condição para tal, deveria pagar alimentos que permitisse à
criança do mesmo nível de vida do progenitor;
⎯ Na medida da possibilidade deve ser um valor que permite manter o nível de
vida dos progenitores;
• Fundo de Garantia de Alimentos devidos a Menores (Lei 75/98, de 19 de
novembro e DL 164\99, de 13 de maio)
⎯ Há um valor inscrito no orçamento de estado da segurança social que serve para
menores e maiores com menos de 25 anos.
⎯ Serve para pagar quando o progenitor não cumpre a sua obrigação, porém, é
preciso preencher um conjunto de pressupostos. Neste caso, ativa-se o fundo e
esta paga o valor dos alimentos devidos pelo progenitor e depois o Fundo fica
sub-rogado quanto aos direitos do pai e pode executar o patrimônio do obrigado.
• Artigo 250º Código Penal – crime de violação da obrigação de pagar alimentos
• Artigo 48º Processo Tutelar Cível – meios para tornar efetiva a obrigação de pagar
alimentos.
• Alimentos em relação a filhos maiores: artigos 1880º e 1905º/2
⎯ 1880º - tem de preencher os requisitos aí preenchidos.
⎯ A não ser que faça prova que não é razoável a exigência ou que já completou os
estudos;
• Artigo 1906º -
• Questões de particular importância e questões da vida corrente:
⎯ Particular importância – regra do exercício em conjunto (não era isto que
acontecia antes de 2008, até então em princípio não existia responsabilidade em
conjunto, a não ser que fizesse um requerimento em conjunto.
▪ Há uma exceção a esta regra suprarreferida – decisão judicial
fundamentada. Contrário aos interesses do filho.
▪ Exemplos: grande conflitualidade, violência doméstica, etc.
▪ Novidade – artigo 1906º A – crimes de violência doméstica e outras
formas de violência em contexto familiar.
48
▪ RLX – entende que o legislador poderia ter ido mais longe. Não deveria
ser ‘pode’, mas sim ‘deve’, uma obrigação de afastar-se da regra e impor
que não deveria haver exercício em conjunto;
▪ Questões de particular importância – conceito indeterminado. Deve a
Doutrina e jurisprudência determinar o que é particular importância, tem
se entendido que a saída para estrangeiro, submissão da criança a
atividades de risco, sujeição a cirurgia, são questões de particular
importância;
⎯ Questões da vida corrente: são exercidas pelo progenitor que quando é
importante decidir esteja com a criança – 1906º/3) CC;
▪ Possibilidade de delegar o exercício – n.º 4. Exemplo, padrasto ou
madrasta
▪ Por exemplo, come a sopa ou não, vai a uma festa ou não. Mas há limite no
sentido de não poder contrariar orientações educativas estabelecidas pelo
progenitor residente;
Fixação da residência:
• O tribunal fixa a residência do filho e os direitos de visita
• Critério principal – superior interesse da criança.
• Outros critérios: (apesar de o mais importante ser o do superior interesse da criança)
⎯ eventual acordo dos progenitores;
⎯ disponibilidade manifestada por cada um deles para promover relações
habituais do filho com o outro progenitor.
Regime de visitas:
• Objetivo – impedir que o divórcio dite o afastamento do filho em relação a um dos
progenitores;
• Regime de visitas – fixados de acordo com o interesse da criança;
• Situações de violência doméstica – perigo de a criança ser usada como meio de
controlo ou de proximidade;
• Não se trata de um direito, mas sim de um poder-dever, logo, havendo um perigo
e tribunal entender que não se cumpre o superior interesse da criança, não terá
direito da visita;
• Lei 112\2009 – artigo 14º - Havendo denúncia do crime de violência doméstica, há
atribuição do estatuto de vítima. E sempre que existam filhos menores, o regime de
visitas do agressor deve ser avaliado, podendo ser suspenso ou condicionado, nos
termos da lei aplicável (lei 129\2015, de 3 de setembro);
• Danos psicológicos causados às crianças que presenciam violência parental –
problemas comportamentais, pesadelos, baixa autoestima, ansiedade;
• Não deve ser visto como um direito do progenitor. É um dever. Relacionar com a
natureza jurídica das responsabilidades parentais
• Podem ser decretadas restrições ou suspensões – em conformidade com o
interesse da criança;
49
• Artigo 31º da Convenção de Istambul:
1. As Partes deverão adotar as medidas legislativas ou outras que se revelem
necessárias para assegurar que os incidentes de violência abrangidos pelo
âmbito de aplicação da presente Convenção sejam tidos em conta na tomada
de decisões relativas à guarda das crianças e sobre o direito de visita das
mesmas.
2. As Partes deverão adotar as medidas legislativas ou outras que se revelem
necessárias para assegurar que o exercício de um qualquer direito de visita ou
de um qualquer direito de guarda não prejudique os direitos e a segurança da
vítima ou das crianças. –
• Artigo 249º Código Penal – incumprimento do regime estabelecido
• Esta solução parece um pouco excessiva quando o incumprimento se deve ao
respeito pela vontade da criança. O incumprimento deveria ser considerado
justificado? (RLX)
⎯ Se o pai não devolve a criança no horário, ou se mãe dificulta a ida de fim de
semana com o pai, isto pode consistir num crime.
⎯ RLX – entende que nestes casos, deveria haver uma causa de exclusão de
ilicitude, é difícil forçar uma criança de 15 anos, e pode haver motivos que leve o
filho a não querer ter contacto com o progenitor.
• Motivos de recusa da criança ao convívio com o outro progenitor:
⎯ Contexto de violência doméstica
⎯ Abuso sexual
⎯ Maus-tratos
⎯ Toxicodependência
⎯ Rebeldia própria da adolescência
⎯ Culpabilização pelo divórcio
⎯ Conflitos de lealdade
⎯ Manipulação por um dos progenitores – síndrome da alienação parental – não
quer ter na sua vida a presença do outro progenitor. Neste caso, temos que ter
cuidado porque a situação poderia ser de haver uma acusação infundada de
abuso sexual do outro progenitor fantasiada, e que influencia o filho.
⎯ etc
50
ao regime de convívios vigente entre o filho e o progenitor pai, que apenas se fica a dever à
recusa, manifesta e reiterada, do jovem (com quase 15 anos de idade) em conviver e estar com
o pai, não lhe é exigível, ou sequer minimamente aconselhável, que, perante o descrito quadro,
a mesma, apesar de ser a progenitora guardiã, use de força física no sentido de obrigar o filho a
respeitar o regime de convívios com o progenitor pai ;
– o que assume maior pertinência e acuidade quando resulta da mesma factualidade ter sido o
comportamento anterior do Apelante progenitor pai a determinar tal recusa do convívio ou
proximidade por parte do filho, fruto das agressões físicas perpetradas sobre este, e trauma
daí decorrente, determinando-lhe instabilidade e desinteresse pela figura paterna ;
– perante tal quadro factício, não corresponde, no presente, ao interesse do menor impor-lhe
ou obrigá-lo a tais convívios/visitas, cabendo antes ao progenitor, ora Apelante, o trabalho
específico e paciente de voltar a reconquistar a confiança do filho, deixar de ser visto como uma
figura agressora e violenta, saber cativar-lhe a afeição e o interesse e saber respeitar as suas
características pessoais específicas, que, desde logo, o limitam na interação com a figura
adulta .”
Divórcio:
• Divórcio por mútuo consentimento administrativo:
⎯ Requisitos - Artigo 1775º, b)
51
⎯ 1776ºA -
⎯ 1778º - se o MP não aprova o acordo;
• Divórcio por mútuo consentimento judicial:
⎯ Artigo 1778º A – números 2, 3 e 4;
⎯ Mesmo que corra no tribunal, irá tentar-se promover acordo, nomeadamente, no
que respeita às responsabilidades parentais;
• Em que situações:
⎯ Separação de facto;
⎯ Dissolução da união de facto;
⎯ Pais não casados nem unidos de facto;
52
Há dois tipos de critérios: (legais e jurisprudenciais)
1. Critérios legais:
⎯ Superior interesse da criança;
▪ Conceito indeterminado
▪ Noção de desenvolvimento contínuo e progressivo
▪ Este critério pode ser aplicado em diferentes contextos, este conceito
pode desempenhar diferentes funções, às vezes, funciona com função de
controlo. No superior interesse da criança pode ser inibido das
responsabilidades parentais. Outras vezes, este conceito pode ter uma
função de decisão, por exemplo, na fixação da residência da criança, em
função da apreciação do superior interesse daquela criança;
▪ Não é suscetível de uma definição em abstrato;
▪ Há tantos interesses de crianças quanto crianças;
▪ Diferentes funções:
+ Controlo – situações graves;
+ Decisão – por exemplo, fixação da residência da criança. O juiz deve
fixar a residência em função da apreciação que faz do interesse da
criança;
▪ Este conceito tem 2 (halos) zonas conceituais:
+ A primeira zona, é o núcleo do conceito em que a
indeterminação é bastante menor, se um progenitor coloca em
perigo a integridade física da criança, não há dúvidas que esta deve
ser afastada do progenitor. Este é o núcleo mais importante,
interpretado de acordo com os princípios constitucionais.
+ Depois temos uma zona periférica do conceito, em que pode ter
que recorrer a poderes discricionários, embora a liberdade de
decisão não seja total, existem princípios que limitam a atuação.
Se um dos progenitores viola direitos fundamentais da criança e
coloca em causa a sua integridade física, esta não pode ficar a
residir com aquele progenitor, depois há casos que não respeitam
a este conceito tão nuclear – ambos os progenitores, são pais
responsáveis, igualmente ligados emocionalmente a criança,
ambos com cuidado para a criança, mas com estilo diferente, um
impõe mais regras, o outro é mais emotivo, um e mais protetor e o
outro não, o juiz tem de decidir de acordo com o superior interesse
da criança, isto depende da perspetiva do juiz.
▪ Objetivo de limitar a subjetividade e discricionariedade – os tribunais
tendem a atribuir um peso especialmente forte a certos fatores que
funcionam como presunções de que correspondem ao superior interesse
da criança. Exemplo:
+ Presunção maternal (atualmente pouco utilizada)
+ Figura primária de referência
▪ Figura primária de referência:
53
+ Juiz deverá verificar qual dos dois progenitores, durante a vida em
comum, desempenhou predominantemente as tarefas relacionadas
com o cuidado e responsabilização diária com a criança.
▪ Vantagens:
+ Neutro do ponto de vista do sexo dos progenitores;
+ Promove a intervenção mínima na família;
+ Muitas vezes corresponde à própria vontade da criança;
▪ Ac. RC de 6\10\2015 (Relator: Carlos Moreira): “.- Hodiernamente, e, vg.,
em função da maior participação das mulheres no mundo do trabalho e dos
homens na vida familiar, o critério primordial para atribuir a guarda
normal do menor, mesmo para crianças na 1ª infância, não é o da primazia
maternal ( critério da preferência maternal), mas o do progenitor que possa
assumir o papel de maior protetor do filho e seja para ele a figura primária
de referência –Primary Caretaker-, e/ou que com ele mantenha e possa
manter uma relação afetiva referencial e propiciadora de um
desenvolvimento estável, são, harmonioso, e familiar e socialmente
abrangente ( critério da figura primária de referência).”
2. Critérios jurisprudenciais:
• Superior interesse da criança – conceito indeterminado – o trabalho do legislador
tem que ser completado pelo trabalho do juiz
⎯ Preferência maternal para crianças de tenra idade
⎯ Preferência da criança
⎯ Não separação dos irmãos
⎯ Figura primária de referência
⎯ Continuidade das relações da criança
• Preferência ou presunção maternal para crianças de tenra idade:
54
⎯ Noção – varia, não havia um critério uniforme.
⎯ Razões biológicas e sociológicas – achava-se que biologicamente as mães
estariam em melhores condições para cuidar dos filhos;
⎯ Limite – mãe negligente, desleixada, padece de perturbação que impedisse de
desempenhar este papel;
⎯ Cada vez menos utilizado:
+ Desaparecimento da figura tradicional de mãe
+ Alteração gradual do papel do pai
+ Maternidade e paternidade com igual dignidade
+ Só por si não será critério suficiente. Tirando a época de amamentação;
• Ac. RC de 20\11\04 (Relator Garcia Calejo): “Tendo os menores tenra idade, a não ser
que existam razões ponderosas, não se deve privar os menores dos cuidados e contactos
íntimos e continuados com a mãe”
• Ac. RL, de 14\12\06 (Relator Fátima Galante): “2. Apesar do carácter essencial da
relação mãe-filho, na primeira infância, o Tribunal deve conceder um peso decisivo à
estabilidade e ao equilíbrio emocional dos menores, razão pela qual a atribuição da
guarda à mãe, só é compatível com o princípio da igualdade, nos casos em que a guarda
do menor lhe é conferida, não em virtude do sexo, mas antes por força das circunstâncias
do caso concreto, avaliadas pelo julgador, que, à luz dos interesses do menor, apontem
essa solução”
• Preferência da criança:
⎯ Tendência do atual direito da Família: conferir à criança um espaço maior de
autonomia na orientação da sua vida pessoal;
⎯ Regime tutelar cível;
⎯ A preferência é apenas um elemento a tomar em conta. Não é vinculativa;
⎯ Ac. RL 27\10\11 (Relator EZAGÜY MARTINS): “I - O interesse da criança permanece o
princípio decisório último da atribuição da guarda dos filhos e da fixação do regime de
visitas.
II - O juiz, uma vez manifestada a preferência da menor, não está vinculado a segui-la,
conservando o poder de apreciar o interesse da criança e podendo impor a esta uma
decisão mesmo contra a sua vontade”
55
harmonioso, formação das suas personalidades e para o seu equilíbrio afetivo-
psicológico”
56
• Precisão de conceitos (residência alternada):
⎯ Antes de 2008, a regra era do exercício unilateral:
⎯ Excecionalmente exercício conjunto:
▪ Guarda única – ficava a residir permanentemente com um dos
progenitores e este exercia exclusivamente as suas RP; ´
▪ Guarda conjunta – quando residia alternadamente
▪ Guarda alternada – vivia alternadamente com os progenitores e nesse
período, era exercido de forma exclusiva.
▪ Também existia outro conceito: guarda alternada: a criança vivia
alternadamente com cada um dos progenitores e, durante esse período, as
responsabilidades eram exercidas de forma exclusiva – modelo pouco
aplicado. Grande instabilidade.
Hoje em dia, os conceitos foram alternados e fala-se de residência alternada. Não se fala em
guarda alternada e sim em residência.
• Fundamentos:
⎯ Processo de jurisdição voluntária:
+ Não há propriamente um conflito de interesses a regular (1 interesse,
várias visões do mesmo);
+ Poderes inquisitórios
+ Critérios de oportunidade e conveniência;
+ Alterações das soluções;
⎯ Acordo;
⎯ Interesse do menor;
• Residência alternada:
• Argumentos a favor:
⎯ Contacto diário com ambos os pais
⎯ Evita sentimentos de abandono
⎯ Promove autoestima (Relação parental não se altera)
⎯ Tem dois progenitores psicológicos (personalidade mais completa e
diversificada)
⎯ Contacto com a família alargada
⎯ Facilita tarefa do juiz quando é difícil a escolha
57
⎯ Encoraja a cooperação e diminui a conflitualidade:
• Argumentos desfavoráveis:
⎯ Pode gerar instabilidade na criança,
⎯ Satisfazes interesses dos pais e sacrifica interesses filhos
⎯ Não diminui sofrimento causado pelo divorcio
⎯ Ilusão e fantasia na reconciliação – não se adapta ao divórcio
⎯ Pode ser estratégia para o juiz evitar decisões difíceis
⎯ Pode aumentar a conflitualidade;
Os tribunais devem investigar, oficiosamente, mesmo que nenhuma das partes o peça, ou a
pedido do MP, todas as circunstâncias do caso para que não se corra o risco de a decisão de
homologação do acordo constituir um perigo para a criança (Clara Sottomayor)
58
doméstica, de grande conflitualidade entre os progenitores ou quando estes residem em
diferentes localidades”.
• Ac. RE de 9 \11\17 (Relator: Francisco Matos): “Residindo ambos os pais na mesma
localidade, tendo ambos condições económicas e de habitabilidade para terem o filho
consigo, dando ambos garantias de velar pela segurança, saúde, educação e
desenvolvimento do filho e inexistindo quaisquer razões ponderosas que o desaconselhem,
é de fixar a residência alternada, com ambos os pais, a um menor de 12 anos, por ser a
solução que melhor defende o seu interesse”
• Ac. RE de 26\10\17 (Relator: Canelas Brás): “Era totalmente desadequado às idades
das crianças (de 4 e 9 anos) o regime em que as mesmas passavam uma semana com um
dos progenitores, no Cartaxo – aí frequentando as escolas – e outra semana com o outro,
em Moscavide, pois que tal havia de implicar um desgaste considerável para as menores,
que naturalmente se não poderia prolongar por muito mais tempo”
Aula 7 - 30/03/2022
A Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo surgiu em 1999 ao lado da Lei Tutelar
Educativa.
Em 1999, houve uma mudança de paradigma em relação à abordagem que se fazia da
intervenção junto de crianças. Antes “metíamos tudo no mesmo saco”, as crianças em perigo e
as crianças delinquentes (cometem factos penais). Em 1999, surgiram os dois diplomas.
Passamos a reconhecer a existência de realidades diferentes e a necessidade de uma intervenção
diversificada.
Sistemas de proteção:
• Modelo participativo: Crianças e jovens têm o direito a ser ouvidos em todos os
processos que lhes digam respeito.
⎯ É o princípio da audição obrigatória - art.º. 4º j) LPCJP.
⎯ É um corolário do princípio do superior interesse da criança.
• Modelo de proteção: Crianças em situação de perigo na sua segurança, integridade,
educação - Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei n.º 147/99, de 1/9) -
LPCJP (alterações da Lei n.º 142/2015, de 08 de setembro)
59
• Modelo educativo: Crianças que, entre os 12 e os 16 anos, praticam factos ilícitos
classificados como crime pela lei penal – Lei Tutelar Educativa (Lei n.º 166/99, de 14/09)
(alterações da Lei n.º 4/2015, de 15 de janeiro)
No art. 3º LPCJP temos as situações que são consideradas pela lei como situações de perigo.
Vamos ver que pode existir uma interligação entre os diplomas:
• Art. 3º/2 g): Assume comportamentos ou se entrega a atividades ou consumos que
afetem gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem
que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto se lhes oponham de
modo adequado a remover essa situação.
⎯ Nestes casos existe uma aproximação dos dois regimes, uma criança que pratica
factos qualificados como crime é também uma criança em perigo.
60
Estrutura da LPCJP
1. Disposições gerais
4. Comunicações
5. Intervenção do MP
6. Processo
7. Procedimentos de urgência
9. Processo judicial
Disposições gerais
Artigo 1.º - Objeto
Artigo 2.º - Âmbito
Artigo 3.º - Legitimidade da intervenção
Artigo 4.º - Princípios orientadores da intervenção
Artigo 5.º - Definições
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Legitimidade da intervenção: art. 3º LPCJP
• 1 - A intervenção para promoção dos direitos e proteção da criança e do jovem em perigo
tem lugar quando os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto
ponham em perigo a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento,
ou quando esse perigo resulte de ação ou omissão de terceiros ou da própria
criança ou do jovem a que aqueles não se oponham de modo adequado a removê-lo.
• 2 - Considera-se que a criança ou o jovem está em perigo quando, designadamente,
se encontra numa das seguintes situações:
o a) Está abandonada ou vive entregue a si própria;
o b) Sofre maus-tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos sexuais;
o c) Não recebe os cuidados ou a afeição adequada à sua idade e situação pessoal;
o d) Está aos cuidados de terceiros, durante período de tempo em que se observou
o estabelecimento com estes de forte relação de vinculação e em simultâneo com
o não exercício pelos pais das suas funções parentais;
o e) É obrigada a atividades ou trabalhos excessivos ou inadequados à sua idade,
dignidade e situação pessoal ou prejudiciais à sua formação ou desenvolvimento;
o f) Está sujeita, de forma direta ou indireta, a comportamentos que afetem
gravemente a sua segurança ou o seu equilíbrio emocional;
o g) Assume comportamentos ou se entrega a atividades ou consumos que afetem
gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem
que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto se lhes
oponham de modo adequado a remover essa situação.
o h) Tem nacionalidade estrangeira e está acolhida em instituição pública,
cooperativa, social ou privada com acordo de cooperação com o Estado, sem
autorização de residência em território nacional.
62
o Estará ainda assim implícita uma prevalência das soluções que privilegiem
a família biológica?
• Audição obrigatória e participação
• Subsidiariedade
Desafio:
• Descoberta do critério que nos permita a obtenção de um justo equilíbrio, entre os
diversos princípios em presença.
• Este critério consiste:
o Na afirmação, em abstrato, de limites imanentes aos interesses em confronto, OU
o Em dirimir o conflito entre valores efetivamente protegidos, em concreto, por
referência ao PRINCÍPIO DA HARMONIZAÇÃO OU CONCORDÂNCIA PRÁTICA.
63
Existe quem diga que o art. 67º e de alguma forma o que resulta não precisava de estar na
CRP:
• Antes de termos códigos e leis já tínhamos famílias e funções determinadas para as
famílias.
• A instituição família é preexistente ao estado.
• Em rigor, a CRP não está a dizer nada de novo, está a dizer algo que já faz parte do direito
natural.
64
do menor ao desenvolvimento são e normal no plano físico, intelectual, moral, espiritual
e social, em condições de liberdade e dignidade.
• II- Apesar do progenitor de dois menores de três e quatro anos de idade, respetivamente,
ter por eles afeto estes não lhe devem ser entregues, uma vez que não dispõe, de forma
manifesta, das capacidades parentais que são requeridas para poder assumir a educação
e o cuidado dos seus filhos, sendo que a família alargada, constituída pelos avós paternos,
em nada o pode ajudar nessa matéria.
• III- Também não é solução para estes menores a sua confiança a pessoa que se dispõe a
cuidar deles até que o progenitor consiga reunir as competências parentais requeridas.
• IV- Trata-se de uma solução provisória e precária, porquanto não se pode perspetivar
com o mínimo rigor, qual o período de tempo de que o progenitor necessitará para reunir
tais condições, ou sequer se alguma vez as conseguirá reunir.
• V- Neste momento, a melhor solução para estes dois menores será a sua confiança à
instituição onde presentemente se encontram com vista a futura adoção, uma vez que,
atendendo à sua idade, urge proporcionar-lhes um projeto de vida seguro e definitivo
capaz de lhes garantir a estabilidade afetiva de que carecem.
Sempre que possível, deve dar-se preferência às medidas que não impliquem o
afastamento dos filhos dos seus progenitores, em detrimento da aplicação de medidas de
colocação familiar ou institucionais:
• Reconhece-se a família como célula fundamental da sociedade, imprescindível no seu
papel de socialização e de desenvolvimento da criança.
• A tutela constitucional do casamento e da família não impede que sejam proferidas
decisões que comprometam o direito de educação dos pais, ou impeçam, ou
comprometam a vida familiar, ou a reserva da sua intimidade, constitucionalmente
garantida, mas, antes dessas decisões serem tomadas, deve ser ponderado o interesse da
família.
• A separação só será inconstitucional se, atenta a concreta ponderação dos interesses em
presença, os interesses que sustentarem a separação não forem suficientemente
relevantes para a justificar, uma vez que a proteção constitucional da família resultante
do artigo 67.º impõe a proteção da unidade desta e, sobretudo, o direito à convivência, ou
seja, o direito dos membros do agregado familiar a viverem juntos.
65
continuado de reorganização por parte dos progenitores, e não estando em causa a
quebra dos vínculos afetivos dos menores com os pais.”
Temos situações onde não se verifica esta subsidiariedade onde se vai diretamente para
tribunal, que acontece desde logo quando temos pais, que têm de dar o seu consentimento, mas
por vezes são eles próprios a razão da intervenção, pela prática dos crimes. Por isso, não faz
sentido ir pelas comissões de proteção. O art. 11º LPCJP sobre a intervenção judicial:
• (…)
o b) A pessoa que deva prestar consentimento, nos termos do artigo 9.º, haja sido
indiciada pela prática de crime contra a liberdade ou a autodeterminação sexual
66
que vitime a criança ou jovem carecidos de proteção, ou quando, contra aquela
tenha sido deduzida queixa pela prática de qualquer dos referidos tipos de crime;
• 2 - A intervenção judicial tem ainda lugar quando, atendendo à gravidade da situação
de perigo, à especial relação da criança ou do jovem com quem a provocou ou ao
conhecimento de anterior incumprimento reiterado de medida de promoção e proteção
por quem deva prestar consentimento, o Ministério Público, oficiosamente ou sob
proposta da comissão, entenda, de forma justificada, que, no caso concreto, não se mostra
adequada a intervenção da comissão de proteção.
Intervenção para promoção dos direitos (art. 6º LPCJP): A quem comunicar a situação de
perigo?
• Entidades com competência em matéria de infância e juventude
• Comissões de proteção de crianças e jovens
• Intervenção judicial: subsidiariedade
Modalidades de intervenção:
• Artigo 7.º - Intervenção de entidades com competência em matéria de infância e
juventude
• Artigo 8.º - Intervenção das comissões de proteção de crianças e jovens
• Artigo 11.º - Intervenção judicial
67
Comissão nacional ≠ Comissões de proteção:
• Comissão nacional:
o Planificar, coordenar, acompanhar e avaliar as comissões de proteção - art. 30.º;
o Auditoria e inspeção – art. 33.º
• Comissões de proteção:
o Poder decisório exclusivo, sem recurso das suas decisões administrativas
para a Comissão Nacional.
o Carácter multidisciplinar: articulação entre os vários saberes
▪ Serviço social, psicologia, direito, educação e saúde
o Justiça de proximidade: intervenção da comunidade
Comissão alargada:
• Estabelecimento de diretrizes gerais de atuação e de colaboração com outras
entidades
• Composição: art. 17.º
• Competências: art. 18.º
• Funcionamento: art. 19.º
Comissão restrita:
• Entidade interventora;
• Funcionamento permanente;
• Atuação direta perante as situações colocadas;
• Decisão sobre a aplicação ou não das medidas de proteção e sobre o seu
acompanhamento.
• Composição: art. 20.º
• Competência: art. 21.º
• Funcionamento: art. 22.º
68
Esquema simplificado da intervenção das comissões de proteção de crianças e jovens no
sistema de promoção e proteção:
69
Sobre a comissão de proteção:
• Pressuposto da intervenção: consentimento dos pais e não oposição da criança (arts
9.º e 10.º)
• Falta de consentimento ou oposição da criança: comunicação ao MP, para apreciação
da situação - art. 95.º LPP
• Cessação da situação de perigo – arquivamento (art. 98.º, n.º 1)
• Manutenção da situação de perigo: intervenção judicial (art 11º, al d) – art. 98.º, n.º 4)
Art. 200º CP: a consequência no caso de não comunicação obrigatória poderá estar aqui.
Nos termos em que está consagrado os termos da comunicação obrigatória, não é coincidente
com a omissão de auxílio no CP. Risco e perigo não é a mesma coisa. Perigo é algo de imediato
ou iminente; o risco é o patamar anterior. Parece que entre o risco e o perigo, a falta de
comunicação acaba por não ser punida. Existir comunicação obrigatória sem sanção não faz
sentido.
Iniciativa processual:
• MP – art. 105.º (princípio do inquisitório (art. 11.º)
• Pais, representante legal, pessoas com guarda de facto, criança com idade superior
a 12 anos – art. 11.º, al. g), se decorridos seis meses após o conhecimento da situação
pela CPCJP não foi proferida qualquer decisão
70
Aula 8 – 20/04/2022
71
Artigo 1978º:
• Assim como nos temos um princípio de subsidiariedade de intervenção que primeiro
parte da intervenção das comissões da proteção, soluções da comunidade envolvente da
criança e só depois os tribunais quando verificados o pressuposto para sua intervenção.
• Também nas medidas de proteção, há uma hierarquia, porque há medidas mais
interventivas e medidas menos interventivas, medidas que mexem mais com o dia a dia
da criança e com a criança no seu meio. E aqueles que são menos interventivas e mais
inócuas.
• A medida de confiança com vista a adoção, é medida de fim de linha, mais gravosa porque
determina o fim de vínculo entre progenitor biológico e a criança, a determinação desta
medida, é certo que há situações raras em que esta pode ser revertida, mas quando é
revertida não é pelo melhor dos motivos. Pq vamos ver que a adoção tem uma idade limite,
e a adoção não tenha sido adotada, até a idade limite que tenha de ser. Nestes casos, é
necessário alterar o projeto de vida que tinha sido traçado para a criança
• Dai que esta é uma solução de fim de linha e para chegarmos à decisão de que esta é a
melhor forma de traçar um projeto de vida para a criança, não é de animo leve que o
mesmo deve ser feito.
• O 1978º, é complexo e bastante denso. Temos aqui requisitos cumulativos, pq não basta
que se verifique objetivamente uma das situações da alínea a) a e) mas é preciso que da
existência da situação se possa concluir ou não existem seriamente comprometidos os
vínculos afetivos próprios da filiação.
• Estas situações por exemplo, negligência (d), aqui nós podemos encontrar as situações
de pobreza, não só, mas também. Será que um pai que faltam com o essencial com uma
alimentação adequada a uma criança, isto é suficiente para concluirmos? Não, neste tipo
de situações, é complicado chegar-se a situações de confiança com vista a futura adoção.
⚠️
⎯ (Vd. Ac. do TEDH – Caso Pontes e o Caso Neves Caratão Pinto – ambos os casos,
o que sucedeu foi que os pais foram privados da companhia dos filhos e não só por
razoes económicos.
⎯ No caso Pontes havia toxicodependência dos dois progenitores, mas houve ali uma
má gestão dos processos que levou a que houvesse, houve uma decisão de
confiança com vista a futura adoção e desde essa data os pais são privados do
contacto com a criança e estes apresentaram recurso da decisão que decretou a
medida e apesar de haver recurso e o efeito dever ser suspensivo, tal não
aconteceu, e esta criança foi privado do contacto com os pais, e os processo nos
tribunais arrastam-se no tempo e é obvio que a criança deixa de reconhecer
aquelas pessoas como seus pais, aqui já fazia sentido manter a decisão, no superior
interesse da criança. Porque neste caso, o Estado PT foi condenado pela violação
do art.8º, relativo à intimidade da família, e o que os pais pretendiam era o
reingresso da criança na família, não aconteceu, e aqui entramos em consideração
com aquilo que já falamos do SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA.)
72
⎯ No caso Neves Caratão, foi retirado os filhos, porque estava sem emprego e não
tinha habitação, estas duas crianças gémeas, foram colocadas à guarda de
familiares distintos, um a guarda do familiar da mãe e outro familiar do pai. E certo
foi que passaram 10 anos, e o TEDH condena o Estado PT, porque houve uma
altura que a mãe tinha condições para que regressassem à sua convivência e que
isso não seria contrário ao superior interesse da criança e ainda assim o Tribunal
PT manteve as crianças com os seus protetores. 10 anos depois seria traumático
para estas crianças ingressarem no ambiente familiar da criança. Seria possível
um reingresso parcial? (Nota: Caso Esmeralda, tinha sido empregue pela mãe a
casal, que funcionou como família de acolhimento, e o pai biológico reivindicou a
guarda da criança, e os pais afetivos andaram fugidos para não entregar a criança,
o certo é que o tribunal decidiu que a criança tinha que regressar à família
biológica.)
⎯ O interesse dos pais deve ceder perante o interesse dos filhos, pois este princípio
acaba por ser uma concretização do princípio fundamental da proteção dos mais
fracos, as crianças são pessoas desprotegidas que devem ser protegidas a todo o
custo e estando em presença interesses de adultos e crianças, prevalece os últimos.
• Em que circunstâncias podemos decretar a confiança com vista a futura adoção? O
1978º responde.
⎯ Al. a) – isto não coloca problemas de maior, se não sabemos quem são os pais ou
se estes estão falecidos, permite facilmente o requisito não existirem ou estarem
comprometidos os vínculos próprios da filiação.
⎯ Al. b) – Aqui também não há grandes problemas, pq se estes decidem de modo
próprio abdicar da parentalidade, não haverá aqui grande relação de afetividade
e não será impossível, será até recomendável a futura adoção.
⎯ Al. c) – Aqui também não há grandes problemas, em considerar eu não há vínculos
afetivos.
⎯ Al. d) – O grande problema pode estar nesta alínea. (como vimos supra). É possível
pais que por exemplo, recorram por via de regra a castigos corporais e que, no
entanto, tenham amor aos seus filhos. E do outro lado as crianças apesar de serem
castigadas pelos pais, podem ter afetividade pelos pais e sentirem-se
culpabilizadas (o pai bateu-me porque eu fiz asneiras). Neste tipo de
comportamentos, temos que ver com cuidado até que ponto, é possível decretar a
confiança com vista a adoção, até porque estas medidas são hierárquicas, ou seja,
vamos aplicar aquela que com a mínima intervenção, terá o maior sucesso, e há
certas medidas que terão maior sucesso.
⎯ Al. e) – Se os pais se estão a borrifar para a criança e se estiverem verificados os
pressupostos para adoção, esta deve ser decretada.
73
Artigo 62º A – Medida de confiança a pessoa selecionada para adoção, a família de
acolhimento ou a instituição com vista a adoção:
• Noutros tempos, a adoção era algo muito mais fechado e quase que secreto do que hoje.
• Hoje em dia, é possível uma maior manutenção com avos e irmãos, temos que pensar o
seguinte, a não ser que estejam em causa crianças de tenra idade, as crianças tem afeição,
interesses e memorias, e no nome do superior interesse da criança, para esta não ser
totalmente desenraizada do mundo que conhece, tem que ser acarinhada, por isso, é
necessário que estes contactos tenham que ser mantidos, na media em que isto seja
benéfico para a criança, se por exemplo, temos vários irmãos e cada um é separado, este
contacto podia ser positivo.
☞Na lei de 2015, quando se fala em acolhimento residencial, antes falava-se de acolhimento
institucional, a ideia foi de retirar a ideia negativo dos estabelecimentos, e dar um ar de
residencia.
☞Algumas são em medidas a executar em meio natural de vida. Nas medidas do meio natural de
vida, a criança não é desenraizada no seu ambiente o que na maioria das situações será
proveitoso para ela, há casos em que não é possível manter a criança, no meio natural de vida
(familiar, escolar, conhecidos e temos de optar pelo acolhimento familiar ou residencial) (face,
aos princípios da prevalência da família, seja natural, biológica ou outra família, pq este é
propicio ao desenvolvimento harmonioso da criança, embora nem sempre isto seja possível.)
1. Quais as medidas?
Apoio junto dos pais – art-39º:
• É a medida de promoção e proteção mais aplicada no nosso país, por várias razoes.
• Há casos que enquanto se averigua, a situação de perigo depois desaparece, há muitos
casos que derivam de uma certa inexperiência e preparação e por vezes, das tais carências
económicas, sabemos que às vezes a maternidade na adolescência, as jovens mães não
estão tao preparadas comparadamente com mães mais maturas.
• Há também uma serie de componentes que devemos considerar, a formação académica,
o meio, os grupos de amigos, tudo isto determina as competências parentais de cada um,
sejam diferentes.
• Assim sendo, muitas situações, ao aplicar-se a medida menos gravosa que permite o
melhor efeito, muitos casos são dignos de sinalização, mas podem resolver-se de forma
de medida de apoio junto dos pais, ao proporcionar à criança ou ovem, apoio
psicopedagógico à criança e quando necessário apoio monetário.
• ⚠️ MT ATENÇAO – art.31º!
Este artigo é fundamentalíssimo porque em casos em que as crianças se colocam em
perigo ou quando estão em perigo e resultam de falta apoio parental, fornecer estas
74
capacidades parentais é fundamental, em nome do princípio do superior interesse da
criança e do princípio da prevalência familiar.
• Assim sendo, é normal que se comece por estas medidas de apoio junto dos pais
(imaginemos que está em causa casos de falta de higiene, falta de vestuário adequado, ou
quando não comem e dizem na escola, nestes casos, são casos que são graves, MAS são
casos que se houver trabalho coma família são ultrapassáveis. Se o problema é de higiene,
com apoio da assistente social, pode ultrapassasse. Se for problema económica pode ser
mais difícil, mas ainda assim pode haver a atribuição de apoio pecuniária pelos serviços
distritais da segurança social
75
Artigo 49 º - acolhimento residencial:
• Ver lei anotada.
2. Duração das medidas:
76
Artigo 62º - Revisão das medidas:
• No processo penal, as medidas de coação também tinham de ser revistas ao fim de
determinados períodos, não está em causa a mesma razão, mas não deixa de estar em
causa vários aspetos –
1) por um lado, há perigo para a criança, logo, a obrigatoriedade de revisão a x
tempo, destina-se a proteger o superior interesse da criança, logo, é necessário
verificar se a medida decretada está a ser vem realizada, porque senão pode ser
substituíam por outra.
2) E, desta revisão pode suceder que a medida seja tao bem-sucedida, que o perigo
desapareceu, temos que cessar a medida porque esta deixa de ser proporcional e
estamos a intervir excessivamente na família, o que não se justifica.
Aula 9 – 27/04/2022
https://www.cnpdpcj.gov.pt/documents/10182/16406/Relatório+Anual+da+Atividade+das+CPCJ+do+ano+2020/2a522
cda-e8ba-40fe-9389-47fa5966f7ed
77
• Para sabermos se houve comprometimento dos vínculos, temos que recorrer a profissionais,
que permitam avaliar em bom rigor para saber se existe ou não esta relação afetiva.
• Neste sentido, foi por isso que dissemos que a alínea b) era a mais duvidosa, porque os pais
podem colocar em causa a saúde, a educação, mas por falta de sabedoria ou falta de
conhecimento, o que não implica uma falta de amor por parte da criança e vice-versa.
Quando as coisas correm mal nas Comissões, temos que ir para os Tribunais (art.100º e
seguintes):
• Processos de jurisdição voluntaria – em que o critério de decisão não é de estrita legalidade,
mas ligados à oportunidade da medida, em causa está a decidir em acordo com o superior
interesse da criança.
• A lei dos critérios, nomeadamente, aplicar a medida menos gravosa, porque temos o princípio
da proporcionalidade e da mínima intervenção, a aplicação deste princípio no caso em concreto,
pode ser distinta dependendo das circunstâncias concretas do caso.
• Conseguimos retirar isto do acordoa que vamos ver do TEDH.
• Estes são processos urgentes, estes correm nas férias judiciais, porque o tempo da criança, não
é o tempo do adulto.
• E deve estar concluído no prazo de 4 meses. Quanto mais depressa se decidir e bem, isto é
benefício para a criança.
• Quanto à existência de advogado, não é sempre obrigatório, tanto os pais como a criança podem
requerer a nomeação de advogado, e se houver interesse conflituante entre a criança e os pais,
é mesmo necessário nomear advogado para a criança – 103º/2) LPCJ.
• Há uma fase, que se chegarmos lá, é obrigatória a constituição de advogado (nº3 e 4 art.103º
LPCJ), alínea g) do art.35º, da medida de confiança com vista a adoção, desta confiança
78
passamos para a adoção, e, portanto, daqui já não há volta a dar, embora possa ser uma medida
convertida, o plano de vida do menor, não pode passar pela adoção.
• É preciso contraditório, por isso, os pais e a criança tem de poder dizer de sua justiça.
• Quanto à iniciativa do processo, cabe ao MP – com base no art.11º (p. exemplo a retirada de
consentimento dos progenitores que dá início ao processo o MP).
• Quando se fala em instrução, trata-se de carrear para o processo elementos que apesar de não
serem jurídicos, mas de facto e que permitem uma decisão em conformidade com os interesses
da criança.
• O juiz pode pedir informação ou relatório judicial – art.108º LPCJ. É possível que os prazos
não sejam cumpridos, embora fosse desejável que fossem.
Art.121º - Decisão:
Art.123º - Recursos
O recurso é possível, não só da decisão final, mas também de quando falamos de medidas cautelares,
aplicadas e que se destinam a vigorar no processo de proteção e promoção, e se os pais não concordem
com as mesmas. Pode recorre, o MP, criança ou jovem e quem tem a guarda deste.
79
Art.1244º LPCJ:
• Medida de confiança com vista a adoção e os pais recorrem este recurso tem efeito suspensivo,
isto importa porque como já vimos porque quando se decreta esta confiança com vista a adoção,
os pais deixam de ter contacto com os filhos, se esta decisão é revertida, e se recurso não tem
efeito suspensivo, estaríamos a privar os pais do contacto com os filhos, o que teria problemas
irreversíveis – o que sucedeu no caso Pontes vs. Portugal.
80
ansiedade, em função da situação de estar afastada dos filhos, sem perspetivas suicidas, mas
apresenta sem critica à sua situação e dificuldades. Mas o estado mental, não justifica
acompanhamento psiquiátrico.
• A filha da mãe, veio dizer que o comportamento da mãe que era recorrente e similar ao que já
tinha tido com ela mesma e que levou com que esta fosse morar com os avós.
• No dia 8 Junho, CPCJ pede uma perícia das responsabilidades parentais da requerente, e esta
declara que encontrou um emprego, numa casa de repouso e pede o retorno das crianças, quanto
à perícia refere que a requerente é uma mãe atenciosa e que encontrou uma habitação para as
crianças, adotou uma atitude de vítima, de forma logica e coerente, sem qualquer índice de
psicopatia.
• No dia 12, CPCJ visita a casa que estava OK. Entretanto, há informação de que no dia 22 de
Outubro a medida é renovada, de permanecer junto de familiar.
• Tenta-se fazer no processo de acordo, ainda no âmbito da CPCJ e ia-se renovar o acordo, e
quem dá para trás, são os familiares, porque estes deram como justificação.
• Não há dúvida que a aplicação da medida por duração de 6 meses, se fundava em motivos
suficientes e pertinentes, aos olhos do tribunal a medida inicial fundava-se em motivos
imperiosos.
• Não se fundava a renovação da medida em motivos suficientes e pertinentes, e constitui
violação do art.8º da vida familiar da Convenção. Pq a autoridade interna tem o dever de reunir
a família interna, desde que isso seja possível, a separação prolongada das crianças provocou
um afastamento das crianças que não vai de acordo com os interesses das crianças (referindo
dois acórdãos Pontes, Melo e um acórdão Russo).
• Foi violado o art.8º da CEDH, e esta ganhou 15 000 por danos morais, 19 663 pelas despesas
no tribunal.
Apadrinhamento Civil:
• Instituto criado pela Lei 103/2009, e que prometia muito, ao criar uma nova relação familiar, e
que seria um novo caminho entre a tutela, entre o que existia e deixou de existir.
• O apadrinhamento civil era uma fiura de meio termo,
• Visava dar resposta às crianças instuticionalizadas mas que não itnham condições de ser
adotadas, o que não tem necessariamente que ver só com a idade, e sabemos que quando as
pessoas quando querem adotar, querem adortar alguém com menos idade.
• Quando se trata de crianças mais grandes, não é tao desejável. Estas não são adotaveis.
• Até para as crianças, tem problemas na adoaçao também haverá problemas de não adaptação.
• O projeto de vida de muitas crianças passa pela instituição.
• O apadrinhamento civil foi conseguido pra estas crianças não adotáveis que já não iam ser
filhas, como sabemos a adoçao faz com que a criança se integre de pleno dirieto, filha desses
pais, e oortanto, o apadrinhamento civil, é algo menos do que a adoção, pq na adoçao são
cortados por completo, entre a família biológica entre a criança.
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• No apadrinhamento civil, são os padrinhos que exercem as responsabilidades parentais, e em
princípio 2os pais, não desaparecem completamente de cena.
• Este instituto foi criado com estes objetivos tao positivos, porém, na prática isto não deu
resultado, e porquê? Porque não há um corte com a família antiga. Como não há em princípio,
o corte com a família biológica, e não desaparecem completamente de cena, faz com que não
haja padrinhos, porque há sempre aquela sombra da família biológica.
• E, por muito que os pais biológicos não queiram perturbar a relação, o facto de ter alguém
exterior.
O que é o apadrinhamento?
• Art.2.º Lei 103/2009 – estabelecer vínculos afetivos, está a diferença da tutela, porque a tutela
surge com objetivos patrimoniais de resolver negócios jurídicos.
• Exerce os poderes e deveres próprios dos pais, em vez dos pais – isto aplica-se em território
nacional
• Art.4º - mais de 25 anos, pré-habilitadas para o efeito.
• Quem pode ser apadrinhado? 1) Desde que apresente vantagens para o jovem e 2) que não se
apresente em vista os pressupostos para adoção.
• A vantagem para o jovem tem de se verificar tanto na adoção e no apadrinhamento civil. O que
interesse é saber se há vantagem real com a adoção para a criança, o mesmo se verifica no
apadrinhamento civil. E se não for possível aplicar a medida com vista a adoção da criança,
porque o grau da adoção e apadrinhamento civil, é total diferente. Na adoção é equivalente a
um filho, aqui não é bem o caso.
• Há uma precedência da adoção sobre o apadrinhamento civil. As situações que falamos sobre
a alínea d), dos pais que não sabem ser pais, mas que os filhos gostam dos pais, se nessas
situações não conseguimos preencher os vínculos afetivos com vista a adoção, logo, uma boa
solução é a do apadrinhamento civil, porque os pais continuam na vida dos filhos e temos outras
pessoas a exercer as RP.
• Adoção – até aos 15 anos e apadrinhamento civil – até aos 18 anos.
• E quais crianças?
⎯ Al. a) – beneficia de medida de acolhimento residencial
⎯ Al. b) – beneficia de outra medida de proteção ou promoção
⎯ Al. c) - Situação de perigo em processo de
⎯ Al. d) – quando é encaminhada pelas pessoas do art.10º
• Os padrinhos exercem as RP, a não ser que haja alguma limitação.
• E os pais que direitos tem? Art.8º da Lei:
⎯ Conhecer identidade dos padrinhos
⎯ Dispor de modo de contractar dos padrinhos
⎯ Saber local de residência de local do filho
⎯ Dispor de forma de contactar o filho
⎯ Informados sobre o progresso individual, profissional do filho
⎯ Receber registos fotográficos do filho,
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• O tribunal pode estabelecer limites na de contactar o filho e visitar o filho, quando colocam em
causa a saúde física, segurança psíquica ou comprometem o êxito da relação de
apadrinhamento civil. Isto não é a regra, mas a exceção à regra, esse é que é o problema.
• Legitimidade para tomar iniciativa – do MP, da CPCJ, do Organismo da Seg. Social, dos
pais, representante legal do jovem, ou pessoa que tenha a sua guarda de facto ou de criança ou
jovem maior de 12 anos (neste caso, é nomeado patrono).
• Designação dos padrinhos – estes são designados entre pessoas ou famílias habilitadas
constantes de uma lista organizada da Segurança Social. Imagine-se que a família x, não tem
as condições necessárias.
• Art.12º - certificação que a pessoa singular ou membros da família possuem idoneidade que
lhes permitam assumir o vínculo.
• Como se constitui a decisão de apadrinhamento civil? Art.13º
• Quem dá o consentimento? Art.14º - da criança ou jovem maior de 12 anos, do cônjuge,
padrinho ou madrinha, dos pais do afilhado. Há casos em que as pessoas não tem de dar
consentimento – nº2 do art.14º.
• Compromisso de apadrinhamento civil – identificação da criança dos pais e dos padrinhos,
a instituição onde o jovem estava acolhido, a entidade encarregada de encaminhar o
apadrinhamento civil.
• O apadrinhamento tem a possibilidade de o instituto ser apoiado, tendo em vista criar ou
intensificar o êxito do apadrinhamento.
• É um instituto que é mais do que a tutela, os padrinhos ficam no mesmo patamar relativo à
prestação de alimentos, entre si, apenas ser precedidos pelos filhos verdadeiros ou pais
verdadeiros – art.21º.
• Esta relação é tendencialmente permanente, não havendo motivo para revogar, é padrinho e
afilhado toda a vida, logo, se no fim da vida, o padrinho necessita de alimentos, o afilhado tem
de os prestar, não exatamente nos mesmos sentidos de que o filho, mas logo a seguir a este.
• Direitos de padrinhos e afilhados. Logos, estes direitos cessam na mesma altura do que nos
pais.
• Quando pode haver revogação?
⎯ Al. a) - Se houver acordo de todos os que intervém.
⎯ Al. B) quando os padrinhos infringem culposo e reiteradamente os deveres assumidos
com o apadrinhamento, em prejuízo do superior interesse deste.
⎯ Al. c) – quando se tenha tornado contrário aos interesses do afilhado. Como dissemos,
só poderia ocorrer quando houvesse vantagens para o afilhado, se estas já não existem,
a relação de apadrinhamento deve cessar.
⎯ AL d=) – atividades consumos, que afetam o seu desenvolvimento e formação e os
padrinhos não se opõe – afilhado que se torna toxicodependente e os padrinhos não
conseguem travar com o consumo.
⎯ Al. e) – quando a criança assuma de modo persistente que afetam a pessoa ou vida
familiar dos padrinhos e que esta se mostre insustentáveis – agressões físicas, começa
a fazer pequenos furtos em casa.
⎯ Al f) – acordo dos padrinhos e quando o afilhado é maior.
• Decisão de revogação cabe ao tribunal.
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• Direitos de padrinhos em caso de revogação:
⎯ Revogado contra vontade dos padrinhos, as pessoas com estatuto de padrinho mantem
enquanto o seu exercício não for contrário aos dos jovens, saber do local de residência,
ser informados sobre o crescimento, receber fotos, visitas, etc.
Aula 10 - 11/05/2022
Perspetiva Jurídico-Laboral
• Artigo 68º CT – idade de admissão para trabalho, são os 16 anos. Se não preenchem a idade
mínima do 68º, é trabalho infantil.
• Limite etário mínimo – é necessário olhar para o 138º OITR e Carta Social Europeia, Carta
Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores, Diretiva 94/33/CE, Carta
dos Direitos Fundamentais da União Europeia.
• Mesmo que a criança possa ter hipótese de estar inscrita no ensino secundário (é sobretudo por
exemplo), não pode trabalhar mesmo que preencha os requisitos do art.68º CT, devido às
disposições da UE.
• Art.68º - nos casos de 15 anos para baixo, apenas podem ser tarefas leves.
• 1998 – o problema não era a legislação, mas o facto de esta não ser fiscalizada. Tanto em 98,
como hoje, a nossa legislação está a altura das exigências, o que temos de garantir é que esta é
respeitada.
• Convenção 182 OIT
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⎯ Art.70.º n.º 3) CC – em princípio quem trabalha é o menor, o que significa que quem
recebe é o menor, salvo oposição escrita dos representantes.
• Regras sobre o objeto do contrato:
• Regras sobre a saúde e segurança no trabalho:
Dario e Eva viviam em condições análogas às dos cônjuges há já 3 anos quando Eva engravidou.
Dario, que nunca pretendeu ser pai, ficou assustado com as responsabilidades inerentes à
chegada de um filho e terminou a relação com Eva ainda antes do nascimento de Frederica, a
futura filha do casal, que viria a nascer em março de 2020.
a) Em fevereiro de 2020, Eva sofreu um violento acidente de automóvel provocado por um
condutor embriagado, Guilherme. Em consequência deste facto, Frederica veio a nascer
com malformações nos membros inferiores. Terá Frederica direito a ser indemnizada
pelos danos sofridos no ventre da mãe? (1,5 valores)
• Lesões causados por 3º e que afetam o filho
• No momento do acidente, a criança não tem personalidade jurídica, que só se adquire com
o nascimento completo e com vida. Ainda não era uma pessoa no sentido jurídico.
• Nesta fase, é ainda um nascituro. Um ser que já foi concebido, mas ainda não nasceu, é um
nascituro propriamente dito.
• A lei consagra alguns direitos aos nascituros – art.66º CC, n.º 2 (estes direitos dependem
sempre do nascimento completo e com vida).
• Este efeito não é expressamente previsto na lei, a possibilidade de ter indeminização caso
venha a ocorrer o nascimento.
• Há várias teorias:
1) Fazer retroagir a personalidade ao momento do acidente;
2) Identidade biológica (Hoster) - do ponto de vista biológico, o ser era o mesmo em termos
biológicos quando ocorreu o acidente, e com base nesta doutrina, se colocar esta doutrina,
esta criança podem pedir a indemnização pelos danos que sofreu, através do seu
representante legal – 483º CC e art.70º (integridade física).
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b) Não tendo havido perfilhação, Eva, em representação da sua filha, intenta uma ação de
investigação da paternidade contra Dario, provando que viveram os dois em condições
análogas às dos cônjuges, nos 3 anos anteriores ao nascimento de Frederica. Dario, por
sua vez, conseguiu demonstrar que Eva manteve um relacionamento amoroso com outro
homem durante o último ano da relação. Quid Iuris? (2 valores)
• Ações de investigação.
• Dario e Eva, não eram casados e não se aplicou a presunção de paternidade (1826º), porque
esta presunção pater ist est, só se aplica quando a mãe é casada, portanto, esta terá que ser
estabelecida mediante o reconhecimento.
• Havendo duas formas de reconhecimento:
1) voluntário – perfilhação (não sucedeu, in casu);
2) judicial – através de ação de investigação de paternidade intentada contra o Dario – 1869º e
seguintes.
• Quanto à legitimidade ativa já sabemos que é do filho, se é menor é representado pela sua mãe,
por vexes pode ser o MP, mas neste caso, é do filho (1869º). E legitimidade passiva, é do Dario.
• Aqui tem de ser provada a relação biológica entre o réu, há duas formas:
1) presunção;
2) direta.
• Nesta alínea b), existem presunções da paternidade em contexto de investigação (art.1881º CC),
presume-se que o réu, é o pai da criança.
• Neste caso, o reu tentou usar a al. c) do 1881º CC, o Dario e a mãe vivam em condições
análogas às dos cônjuges, e isto serve no âmbito de ação de investigação para provar que o réu
era o pai da criança.
• Só que no CPC havendo o processo do contraditório, o reu tem direito a dizer de sua justiça e
ilidir a presunção, estas são presunções híbridas, em vez de não ter que provar o contrário, basta
lançar a dúvida, basta alegar e causar dúvidas sérias no espírito do Juiz.
c) Em face da prova produzida, o Juiz entendeu que seria importante que Dario se
submetesse a um teste de ADN. O réu recusou, argumentando que, mesmo que o resultado
fosse positivo, teria direito a “rejeitar a sua paternidade”, e invocou a
inconstitucionalidade do artigo 1869º do Código Civil. Aprecie o argumento utilizado por
Dario e identifique as consequências resultantes da sua recusa em se submeter à prova
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pericial. Relacione a sua resposta com os direitos de personalidade das crianças. (4
valores)
• Aqui estamos perante a prova direta. Porque a prova por presunção não surtiu efeito, sendo
assim, a outra forma de fazer prova é a prova direta. (1881º CC)
• O réu está a recusar-se, será que pode?
Poder pode, mas podemos obrigá-lo a submeter-se, aqui há interesses do filho e do réu, no lado
do reu temos a proteger a integridade física e moral, e no lado da criança., o direito à identidade
pessoal e constituir família.
• E estamos aqui a falar de exames muito pouco evasivos, olhando para o tipo de exames em
causa, não há aqui um grande risco para a vida e saúde do reu, parece que os interesses do filho,
merecem mais proteção.
• Porém, não é possível realizar de forma coercitiva, tem de se entendido que no âmbito das
ações de investigação, não podemos forçar o reu. E quais as consequências?
• Poderá ser ele a provar que não é o pai – art.7º do CC (princípio da cooperação) art.417º CPC
(dever de cooperação) - nos termos destes artigos, o reu deve colaborar para descobrir-se a
verdade que não são evasivos, não colaborando, as consequências estão no 417º - condenado a
pagar multa e depois das duas uma ou o juiz aprecia livremente a recusa, e retiras as ilações
que entender da recusa. Em alguns casos, pode haver inversão do ónus da prova, presumimos
que ele é o pai e se o Dario não quer que a presunção seja estabelecida, tem que provar que não
é pai, o que é difícil se não for através de exame.
• Mesmo que o teste seja positivo, pode recusar a paternidade, afirmando que o 1869º CC que é
inconstitucional – as mulheres podiam interromper a gravidez, e se os pais podiam provar que
não teriam um direito igual, obrigando a que o homem a ver a sua paternidade estabelecida e
isto seria contrário ao princípio da igualdade – não considerou os artigos inconstitucionais. ´
• O TC entendeu que os artigos não eram inconstitucionais, o tc já se tinha pronunciado ser a
mãe a decidir interromper a gravides, e que isso não era inconstitucional e ela é que decidia se
queria interromper, e estando esse problema resolvido, não faria sentido dar essa opção ao pai,
e aqui falamos de uma criança que já nasceu. Assim como, a mãe também pode ser ré num
processo de investigação de paternidade.
• Art. 26º e art.36º da CRP - direitos de personalidade.
87
d) Imagine que Eva está constantemente a fazer “posts” no Instagram com imagens da filha,
expondo momentos da intimidade desta e partilhando uma grande quantidade de informação
pessoal relativa a Frederica. Comente a situação à luz do que estudou sobre os direitos de
personalidade das crianças, o conteúdo e a natureza jurídica das responsabilidades parentais.
(2,5 valores)
• Direito à imagem e reserva da intimidade da vida privada.
• É possível limitar os direitos de exercício de personalidade, a criança sendo menor, seria a sua
mãe que em sua representação, poderia a mãe dar o seu consentimento
• Aqui teríamos um conflito de interesses do filho e da mãe e quer expor essa situação – sharentig.
• Relacionar esta questões com a natureza jurídica das responsabilidades parentais, a serem
exercidas no superior interesse da criança, os conteúdos das responsabilidades parentais estão
no âmbito dos poderes-deveres, a serem exercidos no superior interesse do filho. Porque ao
contrário dos direitos objetivos, porque o interesse do que se visa prosseguir é o do filho e nos
direitos subjetivos, temos na mesma pessoa o direito e a titularidade do direito que se vida
prosseguir, que não é o que sucede no caso.
• E ainda o conteúdo das responsabilidades parentais – poder-dever da segurança das RP (1884º).
Elba, mãe do bebé (Gil) que nasceu sem nariz, olhos e parte do crânio, no Hospital de Setúbal,
no início de 2019, vai avançar com um processo cível no tribunal contra o obstetra que
acompanhou a gravidez. Caso o médico tivesse seguido as normas da Direção-Geral de Saúde
(DGS), as malformações teriam sido detetadas antes das 25 semanas de gestação e a mãe teria
opção de interromper a gravidez no período legalmente permitido.
O obstetra terá assegurado, ao longo das três ecografias realizadas durante a gravidez, que
estava tudo bem com o bebé.
Adaptação da notícia publicada no jornal Expresso em 24 de maio de 2021
(https://expresso.pt/sociedade/2021-05-24-Pais-de-bebe-sem-rosto-vao-pedir-indemnizacao-
b538647f).
a) Comente a notícia à luz do que estudou sobre os direitos de personalidade das crianças.
(5 valores)
• Aqui é temos a questão da wrongful birth.
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• Não diz se pede indeminziaçao nos danos causadas pela própria ou pelo filho. Sabemos é que
existe um problema de malformação congénita e negligencia médica.
• Temos um problema de wronggful life ou birht – não sabemos é qual é porque não se
especifica.
• Qual é a diferença entre estas?
⎯ Wrongful birth – danos causados aos pais pelos aos próprios
⎯ Wrongful life – danos causados ao filho.
• A mais viável é a da wrongful birth.
• Na wrongful life, o nosso tribunal não tem concedido indeminizações com base nesta, neste
caso, teriam que ser uma responsabilidade extracontratual, porque não haveria contrato com os
pais. A criança ainda não era nascituro, e teríamos de verificar os pressupostos da
responsabilidade civil, ou seja, teria que haver comportamento voluntário (uma omissão), é
necessário ilicitude, que se traduz na violação de direitos subjetivos ou de disposições legais
destinais interesses alheio, é necessário culpa (negligência), a questão do dano ( a nossa
jurisprudência, enquadra como dano da vida, era preferível não ter nascido do que ter nascido
a não nascer naquelas condições, a nossa CRP, consagra o direito a nascer.)
• Hoje, há autores que fazem um enquadramento diferente do dano, em não ter uma vida com
qualidade, uma criança dita normal, sem aquelas ditas malformações.
• E o outro problema tem que ver com o nexo de causalidade, porque não foi o médico que
originou o dano, mas pode haver um dano indireto (Guilherme Oliveira).
b) Imagine que a paternidade de Gil não se encontra estabelecida e que no início de 2020
Elba casou com Feliciano. Feliciano rapidamente se afeiçoou a Gil e demonstrou interesse
em exercer as responsabilidades parentais em relação à criança, embora não cogite a
hipótese de recurso ao instituto da adoção, pois tem apenas 22 anos. Poderá Feliciano, e
em que circunstâncias, exercer as responsabilidades parentais em relação a Gil? (2
valores)
• Temos uma criança sem a paternidade estabelecida, só tem a filiação estabelecida em relação
a um dos progenitores, e a mãe casou com o Feliciano e querem que o Feliciano possa exercer
as RP, ele vem com bons olhos devam ser exercidas as RP pelos dois. Um dos caminhos seria
a adoção, mas isso está fora de questão, há algum artigo que permite? Art. 1904º A
• E o tribunal pode ouvir a criança, dependendo da maturidade, e pode determinar que estas RP
sejam.
89
• Esta decisão baseia-se em laços de afetividade, e a mesma lei que introduziu este artigo, criou
um novo impedimento patrimonial (1602º, al. b)
c) Imagine que Feliciano tem êxito na sua pretensão. No entanto, no início deste ano,
Graciano (pai biológico de Gil, que estivera emigrado em França desde maio de 2019 e
que desconhecia, até há pouco tempo, ser pai do filho de Elba) pretende reconhecer
voluntariamente a sua paternidade. Quid Iuris? (1,5 valores)
• Pretende perfilhar nos termos do 1449º CC.
• E pode fazê-lo, mas como fica a situação do marido da Elba? Isto é particularmente complicado
porque o 1797º, a filiação produz efeitos retroativos, à data do nascimento da criança. Aquele
requerimento, foi feita antes, mas como vai retroagir, a lei não resolveu como vai ser resolvida
este caso.
• Cecília Peixoto – entende que se houver a perfilhação da criança, deveria haver um
cancelamento imediato com base no 1904º A, logo, que há perfilhação existe logo um
cancelamento, mas isto não está previsto na lei.
• O que não impede que a criança continue a ter contacto com o marido da mãe, protegendo
(1887º-A), no sentido de manter o contacto mesmo após a separação com a família afastada
(neste caso, o homem, se isso corresponder ao superior interesse da criança).
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• No caso de atos particularmente importância, são ambos, a não ser que o tribunal entenda que
a decisão se afaste do superior interesse da criança.
• Na questão da vida corrente, é por aquele que está com a criança, correntemente. Este último,
não se pode contrariar as regras estabelecidas por um dos pais, o que não reside pode decidir,
mas não pode contrariar as regras mais importantes por aquele que não reside com a criança.
Adoção
• Numa 1ª fase, os pais são os primeiros garantes dos direitos da criança, só que há
situações em que os pais falham nas garantias dos direitos da criança, e aí é necessária a
intervenção do Estado – processos de proteção e promoção (que do ponto da vista da
casa, não podem vigorar mais do que 18 meses.
• Porém, há casos em que o perigo se mantém e não podemos prolongar as medidas, e
temos que adotar medidas mais radicais e definitivas, e a este propósito vimos o
apadrinhamento civil (com alguma semelhança com o apadrinhamento católico) e os pais
continuam presentes (salvo exceções), permanecem na vida da criança. E foram estas
caraterísticas que não eram apetecíveis para os padrinhos civis, e por isso, é rara a
utilização deste.
• E começamos por dizer que se for possível a adoção, esta é a via desejada, porque aqui na
adoção, há uma integração plena do adotando, na família do adotante. Este passa a
integrasse na família do adotante, e tem posição equiparada à dos filhos, a adoção tem
pressupostos.
• Código Seabra não previa a adoção como forma de relação familiar, esta decorre do
Código de 1966.
• O 1586º - dá a noção de adoção – vínculo que, à semelhança da filiação natural mais
independentemente dos laços do sangue, se estabelece legalmente
• Verdade afetiva e sociológica.
Evolução
• Figura do direito romano
• Para satisfazer o adotante que não tinha filhos. O que estava em causa, era uma ideia de
que havia pais que não tinham filhos, mas como não tinham e queria deixar alguém os
seus bens, mas também uma forma de as mulheres solteiras esconderem os seus filhos.
• O instituto cai em desuso a partir do séc. XVI. E no séc. XX, ganha novamente importância,
com as guerras mundiais. Com muitas crianças órfãs, apurou-se a adoção e regulou-se
direitos da família adotiva, e consagra-se a rutura com a família biológica.
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• Até à bem pouco tempo, tínhamos duas modalidades de adoção: 1) estrita ; 2) plena. Até
à reforma de 77, a plena era pouco usada porque se levantava vários pressupostos rígidos,
e só a partir de 77, é que passamos ter a adoção plena.
Artigo 1973º a 1991º do Código Civil + Lei nº 143/2015 (Regime Jurídico do Processo da
Adoção).
PROBLEMA – poderá constituir-se uma adoção post mortem – inicia-se o processo de adoção, e
tanto depois da morte do adotado quanto dempois da morte do candidato a adotante?
• Na nossa lei, há situações em que relação à filiação biológica, pode ser constituída depois
da morte, não seria descabido admitir esta possibilidade
• A adoção post mortem, é reconhecido pelo direito alemão e brasileiro, mas na vertente
de morrer o adotante e ficar vivo o adotando. Qual pode ser o interesse aqui? Pode ser o
de que aquela criança se torne herdeira do adotante, o que significa que a criança, pode
herdar algum património, e à luz desta ideia que se defende a adoção post mortem.
• No nosso OJ, não existe esta possibilidade, morrendo um ou outro, não se conclui o
processo de adoção, porque nos dissemos que adoção visa dar um processo de
estabilidade e felicidade da criança, para se tornar um adulto formado, útil e feliz inserido
na sociedade.
• O problema de base para a criança, para o adotante mantinha-se, mesmo deixando o
património à criança, o problema de ela não ter ninguém para cuidar dela mantinha-se.
• Logo, havendo morte, o processo termina.
• Elisabete concorda em função da ratio legis da adoção.
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• Fase de pré-adoção – para ver se aquilo resulta, nós sabemos que quando pensamos em
crianças de tenra idade, é mais fácil porque não tem memorias, sabemos que na maior
parte das situações não será assim, podemos ter crianças com traumas, doenças, etc, e
por isso, nem sempre, as coisas correm bem, é preciso ver se as coisas vão ser bem-
sucedidas.
Art.1978º CC
• Quando falamos da LPCJ, falamos da medida da confiança com vista a adoção e dissemos
que não é em qualquer situação que podemos adotar esta medida, tendo que estar em
causa.
• E que não basta o preenchimento das alíneas deste número e que se possa retirar, que
não se encontrem comprometidos os vínculos da relação
Art.1978º A:
• Os pais ficam inibidos das responsabilidades parentais, e cessa qualquer contacto, entre
os progenitores e a criança.
Art.1979º:
• Se estivermos a falar dos casados, a partir dos 25 anos, desde que casados à 4 anos.
• Se for adoção singular, a pessoa tem de ter mais de 30 anos. A não ser que esteja em causa
a adoção do filho do outro cônjuge.
• 4 anos de casamento? Pode não ser efetivamente 4 anos, atentemos no nº6, ou seja,
podemos ter casal que tá casado há 1 ano, mas que viveu 3 anos em União de Facto. Este
requisito temporal, implica em pensar que estamos perante um casamento estável e
pacifica e que é compatível com a criação de um projeto de vida para uma criança, está
aqui uma presunção de que as pessoas estão casadas a 4 anos, é porque as coisas estão a
correr bem.
• Fala-se aqui de casados há mais de 4 anos, vamos atentar na Lei nº 2/2016, ou seja,
também os unidos de facto, há mais de 4 anos, poderão adotar, não há exigência de que
estas pessoas tenham que casar para adotar.
• Só pode adotar quem não tem mais de 60 anos, sendo que a diferença de idades, não pode
ser superior a 50 anos. Mas há exceções:
⎯ Nº 4 – por motivos ponderosos e atendendo num superior interesse de criança,
em que só um ou vários apresentam o limite superior, a pessoa adota 3 irmãos e
um tem uma diferença apresenta a diferença superior aos 50 anos, em nome da
proteção do conjunto de irmãos, faz sentido prescindir da possibilidade.
⎯ Nº 5 – adotando é filho do cônjuge do adotante.
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• Esta questão já foi levada ao TEDH, mas na verdade o TEDH entende que a recusa de
adoção com base na homossexualidade, era uma violação de vários direitos humanos.
• Caso E.B. vs. France:
⎯ Educadora de infância e vivia com uma senhora, e queria adotar uma criança, seria
só por ela, e a companheira não se opunha.
⎯ A adoção seria feita pela B (homossexual). Diz-se no processo que a influencia
paterna seria feita pelo pai e irmão.
⎯ Pediu a autorização para adotar criança asiática.
⎯ O pedido de adoção foi rejeitado. Isto seguiu par ao Tribunal Administrativo, e
declara as decisões inválidas, só que as autoridades recorreram para o Supremo
Tribunal e a decisão foi invalidada e foi por isso que B recorreu para o TEDH que
isto tinha sido rejeitado em função da sua orientação sexual
⎯ O TEDH entende que há violação de várias disposições: art.8º da CEDH; art.14º da
CEDH; art.7º Condições para adoção
⎯ TEDH deu razão à requerente e condenou o Estado Francês ao pagamento de
danos de 10.000 €.
⎯ As pessoas que vivem em relação homossexual podem adotar nos mesmos termos
que um casal heterossexual.
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Audição obrigatória – 1984 º CC:
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Irrevogabilidade – 1989º CC:
FASE DE TRAMITAÇÃO:
FASE DE AJUSTAMENTO:
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CASOS PRÁTICOS DE EXAME:
Com base no sumário deste acórdão do Tribunal da Relação do Porto e no excerto que se lhe
segue, responda, fundamentando legal e doutrinalmente a sua resposta:
1.Indique o fundamento legal do direito da criança a ser ouvida quanto a todas as decisões que
lhe digam respeito, no ordenamento jurídico português (LPCJP) e internacional. Refira-se às
consequências da oposição da criança ou do jovem maior de 12 anos, no contexto de um processo
de promoção e proteção. (3 valores)
• Primeira parte da questão (1,5 v) Começar por referir os princípios orientadores (LPCJ), e uma
delas tem que ver com o direito da criança a ser ouvido. Ao nível internacional, temos a CDC,
que fixa o direito da criança a ser ouvida, corolário só superior interesse da criança.
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• Quanto à segunda parte da questão - se o jovem se oposir a intervenção da CPCJ, o processo
tem de ser remetido ao Tribunal (art. 12º da LPCJ).
2.No processo em análise, o tribunal prorrogou a medida de confiança a pessoa idónea por mais
seis meses. Se este jovem tivesse 16 anos, seria pensável a aplicação de uma outra medida de
promoção e proteção? (1 valor)
• Apoio para autonomia de vida, nestes casos, é possível que em vez da criança ser aplicada outra
medida, quando houver a maioridade o menor pode ser apoiado no sentido de se manter
sozinho, sem mais recurso a ninguém – autonomia de vida.
3.Admitindo que decorridos esses seis meses após a prorrogação da confiança a pessoa idónea, a
situação fáctica se mantém inalterada (manifesta incapacidade da progenitora para o cuidado
parental), problematize as soluções que considera viáveis para o projeto de vida desta criança,
supondo que este jovem tem 13 anos, não deixando de se referir às suas diferenças de regime e
as respetivas implicações. (4 valores)
• Temos uma criança já pouco jovem, 13 anos. Acabamos de ver que a adoção pode ocorrer até
aos 15 anos, quando se esgota os prazos previstos na lei de Proteção, temos que recorrer a
soluções que resolvem de forma definitiva, e que fixe um projeto de vida estável para o jovem.
• Era pensável o apadrinhamento civil ou a adoção
• A adoção tem precedência sobre o apadrinhamento civil, só quando não é possível a adoção é
que recorremos ao apadrinhamento civil.
• No caso da adoção a criança seria integrada na família, e portanto, corta-se por completo com
o vinculo familiar anterior, sendo certo que o requisitos para adoção é a idade máxima de 15
anos.
• O que nos leva a supor eu a criança de 13 anos, ainda que pode ser adotada, não é muito adotada,
o que nos leva a questionar o apadrinhamento civil, este que foi criado para casos em que as
crianças estão institucionalizadas, e a adoção não é viável para elas.
• O apadrinhamento civil apesar de ser tendencialmente permanente, mas não há corte com a
família biológica.
• Comparar os pressupostos e consequências dos apadrinhamentos e da adoção, e perceber que
em 1º lugar, equacionar a adoção porque é de maior estabilidade e só na sua impossibilidade é
que recorremos ao apadrinhamento.
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4. Admitindo que esta criança preenche os pressupostos que a lei exige para que possa ser
adotada, e que a adoção se concretiza, diga se será possível a manutenção de alguma espécie de
contactos com algum dos membros da sua família biológica. (2 valores)
• Temos aqui a figura da adoção aberta e que está aqui em causa é os efeitos da adoção 1986º/3)
CC.
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