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TEORIA GERAL

02.11.2021

Personalidade jurídica é importante para as pessoas singulares e coletivas; é a aptidão ou


idoneidade para se ser titular autónomo de relações jurídicas, para se ser possuidor de direitos
e deveres, ou existe ou não existe, ou se tem ou não se tem

ART. 66º /1 CC – personalidade jurídica

Capacidade jurídica ou capacidade de gozo  aptidão para se ser titular autónomo de um


círculo maior ou menor de relações jurídicas; estamos a reportar ao tipo de relações jurídicas
que aquela pessoa pode ser titular (um sujeito pode ter aptidão para ser titular mais do que
outro)

ART.67º CC- capacidade jurídica (regra: uma pessoa singular tem capacidade jurídica só não a
tem quando a lei diz o contrário)

Ex: Criança de 6 meses é titular de uma casa no chiado? SIM, tem capacidade jurídica , NÃO
TEM capacidade de exercício de direito

Consequencia da falta da capacidade de gozo- nulidade do ato praticado, regra geral 294º CC

245º CC -regular o negócio juridico , para os atos juridicos a lei manda aplicar os preceitos do
negócios juridicos que se adequem

Capacidade de exercício de direitos  idoneidade para atuar juridicamente exercendo


direitos e cumprindo deveres por ato próprio e exclusivo ou mediante representante ou
procurador; aptidão para movimentar a esfera jurídica por ato ….; quando tenho capacidade
de exercício o modo como exerço e transformo isso num ato concreto é através de um ato
próprio e exclusivo ou mediante representante ou procurador

Ato próprio- o ato é nosso, ninguém atua por nós

Exclusivo- o ato para produzir efeitos não precisa de outro ato a acompanhar (consentimento
ou autorização própria)

Fontes da incapacidade de exercício: a menoridade 122º e seg , emancipação -132º e 133º


articulado com o 1601º /a e 1604º CC ( geralmente, tem a incapacidade a não ser que a lei
diga o contrário) ; maiores acompanhados( tem mais mecanismos e deve atuar segundo o
principio da proporcionalidade) ; incapacidade incidental

- 1649º estatuto especial para sujeitos que casa, mas sem autorização dos pais; remissão para
o 1604º/a e 133º

-123º aplicamos aos menores


CASO PRÁTICO 1

Carlos Eduardo nasceu em Dezembro de 2003. Em janeiro do corrente ano, praticou os


seguintes atos:

1) Com o dinheiro que ganhou a entregar pizzas, comprou um anel para oferecer a Maria
Eduarda.

2) Ofereceu um LP de ROCK progressivo ao seu amigo Ega.

3) Vendeu a sua scooter a Eusébio.

4) Pediu um empréstimo a Cohen, no valor de 10.000€

a) Pedro, seu pai, tomou hoje conhecimento dos seus negócios. Como poderá reagir?

b) E se estivéssemos neste momento em outubro de 2022’

c) E o que é que aconteceria se estivéssemos neste momento em outubro de 2022, tendo


porem Carlos perdido a vida em Agosto desse ano?

d) Suponha agora que, ainda em janeiro de 2020, mas antes de ter praticado qualquer
um dos atos, Carlos Eduardo havia contraído matrimonio com Maria Eduarda. Seriam aqueles
atos anuláveis? Por quem e em que prazo?

e) Dâmaso, primo de Carlos, nasceu em 2010. Hoje pela manhã dirigiu-se a um quiosque
e comprou um pacote de sugos. Esse negócio é valido?

RESPOSTA

a) Fazer uma linha cronológica para saber se o sujeito é menor, primeiro vemos a data de
nascimento dezembro de 2003, ver em que data se torna maior dezembro de 2021,
art. 123º durante este intervalo seria incapaz.
1- Praticou estes atos em janeiro de 2021, compra do anel ( ct de compra e venda ) –
ofereceu o anel ( doação )
2- Doação 1940º ss
3- Compra e venda, agora Carlos é vendedor
4- Mútuo 1142º ss

Ponto de partida: menores não possuem capacidade de gozo; art. 127º CC se não estiver neste
âmbito o menor não tem capacidade de exercício e tem de ser compensada/ suprida

Art. 127º CC

a) o menor tem mais de 16 anos já tem alguma maturidade e se já está a prestar trabalho
presume-se ainda mais maturo, está a dispor de rendimentos que ele pode renovar pelo
seu trabalho (recebe o salário e dispõe desse)

b) Estabelece requisitos (3) normas mais flexíveis, até porque não é necessário ter 16
anos
c) Negócios que constituem a profissão do menor
09.11.2021

Prática

ART.123º articulado com o ART.127º dado que estamos a falar de atos que foram praticados
quando o menor ainda era menor.

No 127º temos uma gradação, por exemplo pela maior esfera de capacidade a quem já atingiu
16 anos.

Se ele praticou um ato para o qual não tinha capacidade de exercício, temos de ver se essa
incapacidade foi corretamente suprida.  124º CC remissão para 1277º (poder paternal) e seg
1921º e 1927º e seg ( , 1967º seg ( administração de bens). Neste caso é sempre através da
representação.

O modo de suprimento dessa incapacidade é em todos os casos a representação ou da


assistência.

1878º  representação

1881º representação

1901º

Os atos jurídicos que o menor não tem capacidade para praticar pode afetar a esfera
patrimonial e a esfera pessoal deste. No que toca a esfera patrimonial, há certas limitações à
esfera dos pais 1881º bens dos quais os pais não têm administração, a 1888º fala destes casos
excecionais.

A norma seguinte 1889º fala de bens que estão sob a administração dos pais, e nestes é
necessária autorização do tribunal/judicial.

Tutela – 1921º forma de suprimento das responsabilidades parentais 1935º, o regime da tutela
está com remissão para os poderes parentais, mas é mais restritivo na sua regulação. O tutor
também representa o menor.

Atos proibidos ao tutor- 1937 e 1938

Administração de bens  1937º há certos bens que tanto os pais como o tutor não têm
administração. O administrador de bens não é competente para reger a pessoa do
administrado, só é competente de reger a sua esfera patrimonial. 1971º remete-se para a
tutele e o regime da tutela remete-se para a responsabilidade parental.
Autorização judicial – hoje em dia quem tem competência é o ministério publico. DL 272/2001
art.2/1 al.b .

1- Aquisição de um anel que depois foi oferecido – jan 2021

127º do CC exceções nº1/ al.a) – cada alínea tem os seus próprios requisitos

Estamos perante um sujeito com mais de 16 anos e está a prover do que resultou do seu
trabalho.

‘’provenientes do seu trabalho ‘’ inclui prémios.

2- Doação jan 2021

Diz-nos que foi adquirido com rendimento do trabalho? NÃO, vamos pressupor que foi com a
mesada que não é um rendimento do trabalho. Está no seu património, mas não pelos
rendimentos do seu trabalho.

Encaixa-se no nº1/ al. b) .

Negócio da vida corrente? Sim, tem 17 anos e fazer uma doação a um amigo é algo dos hábitos
de um sujeito com 17 anos.

Está ao alcance natural de um sujeito de 17 anos compreender este negócio? SIM, é um


negócio instantâneo, não é duradouro.

Disposição de bens de pequena importância? SIM

O sujeito tem capacidade para este negócio.

3- Venda

Nada nos diz que a Scooter foi adquirida pelo trabalhado do menor. Só poder salvar a
capacidade deste ano a al. b) do art.127º.

Negócio recorrente para um menor? NÃO; os requisitos destas alíneas são cumulativos.

4- Empréstimo

Só poderia ser enquadrado no nº2 do 127º

127º al.b , não é um negócio recorrente da vida de um menor de 17 anos.

Não há capacidade.

 Quem tinha competência para suprir esta incapacidade de exercício? O pai, não deve
ter suprido porque só hoje teve conhecido, e tinha de ter sido ele a atuar em vez do
menor.
 Via da destruição dos negócios jurídicos praticados: art.125º são anuláveis

125º CC INVALIDADES

Quando o negócio padece de vícios internos o resultado é a invalidade, art.286º e seg

Nulidade – protege interesses de ordem publica, o negócio nulo desde que é celebrado é nulo;
o juiz declara a nulidade, é ato puramente declarativo; a nulidade não é passível de
confirmação 288º a contrario

Anulabilidade- são previstas para proteção de interesses particulares, por isso o neg anuláveis
produzem efeitos que são precários, caem (retroativamente) se alguém com legitimidade e
dentro do prazo pedir anulação do negócio; é passível de confirmação

Menoridade – 125º

287º/2: ele alarga o prazo para a invocação da anulabilidade

16.11.2021

Al.d)

1649º/1 e 2 do CC falamos de um casamento que é irregular, que esta sobre um regime de


proteção

O sujeito face aos bens que tem antes ou de titulo gratuito de antes do matrimonio 1649º1 ,
continua menor

Quanto a assunção de dividas não há a limitação ao sujeito. Os bens que estão sob a
administração dos pais não estão sujeitos à divida.

- quanto à venda da scooter, ele é tratado como menor quanto a disposição desse bem até
atingir os 18 anos, é um ato inválido, anulável pelo seu representante

-empréstimo a Cohen, ele tem capacidade, a lei protege diminuindo a garantir patrimonial do
seus credores, apenas respondem para este empréstimo os bens que ele tinha livre
disposição ato válido

Al.e)

Dâmaso torna-se maior em 2028

Praticou um negócio jurídico , uma compra e venda.

Ou seja, ele praticou o negócio antes das maioridade, 123º .


ART.127º al. b) , estão preenchidos os requisitos do artigo, e como tal é um negócio para o
qual o sujeito tem capacidade.

CP II

Carlos nasceu em Janeiro de 2003.

1) Em Fevereiro de 2019, Pedro, seu pai, vendeu a Tomás a casa sita na Rua das Janelas
Verdes que Carlos havia herdado de seu avô. Antes dessa venda, vendeu a Maria toda a
colheita do laranjal da casa.

2) Em Março de 2019, Pedro usou os proventos do arrendamento de uma casa pertencente


também a Carlos e afecta a alojamento local para adquirir, em nome de Carlos, uma série de
serigrafias produzidas por um colectivo de artistas portuense, que espera que se venham a
valorizar. Um mês mais tarde, Pedro adquiriu ainda em nome de Carlos um novo imóvel para
afectar a arrendamento local, usando para o efeito montantes que Carlos havia herdado de
um tio, e se encontravam depositados em conta bancária.

3) Em Maio de 2020, Carlos, envergando um fato completo e conduzindo o carro de seu pai,
abeirou-se de Gouvarinho (com quem havia contactado através de um site de vendas em
segunda mão) e vendeu-lhe um valioso quadro a óleo que havia herdado de seu tio. Carlos e
Gouvarinho assinaram, para selar a transacção, um documento escrito, tendo Carlos exibido,
nesse acto, o seu documento de identificação, cuidadosamente retocado para lhe atribuir a
data de nascimento de Janeiro de 2000.

a) Poderá hoje Carlos pedir a anulação dos vários negócios?

b) E se fosse Afonso, tutor de Carlos, a celebrar os negócios referidos em 1) e 2)

- Carlos nasceu em Janeiro de 2003, e fez 18 anos em janeiro de 2021.

Compra e venda – 874º

 Colheita de laranja –

Natureza jurídica: estamos aqui perante frutos do ponto de vista jurídico 212º/ 1 e 2. Incidem
sobre coisas móveis (art.202º e seg CC, 205º), porque não se incluem no 204º

Exemplos de frutos civis : rendas geradas por uma casa; juros

2.

 Casa

Negócio sobre o bem imóvel, um prédio urbano 204º1 a) e 2

Aquisição de um imóvel – compra e venda de um bem imóvel para afetar a arrendamento local

3.

Carlos vende um valioso quadro- bem móvel


a) Negócios celebrados por Pedro, todos praticados antes de Janeiro de 2021

Pedro tinha poderes para praticar estes atos? Pedro é pai de Carlos e em primeira linha a
incapacidade dos menores é suprido pelas responsabilidades parentais 1881º e seg

Limites aos poderes de representação legal 1887º e seg:

ART.1889º

1- Ato da venda do imóvel: precisa de autorização porque estamos perante uma


alienação de bens, nº1 al.a) deste artigo.

1893º CC Carlos podia atacar este negócio, contando um ano depois da


maioridade, até janeiro de 2022

2- Venda das colheitas: alienação oneroso (compra e venda) , mas para estes atos
não é preciso autorização
3- Compra de bem móvel: nº1; al.a) articulado com o nº2 , não sendo necessário a
autorização judicial dada a utilização das rendas para compra de serigrafia, pelo
nº2
4- Compra de bem imóvel: aplicação de capitais do menor para aquisição de um bem
imóvel, não carece de autorização
5- Ato próprio de Carlos no momento em que era menor, venda dos quadros a óleo
que tinha herdado: ato praticado por Carlos sem ter capacidade

125º CC neste momento Carlos podia atacar este negócio até janeiro de 2022

126º bloqueia o direito a anular quando tenha havido dolo do menor. Dolo
enquanto juízo do negócio jurídico, vicio da vontade, entende-se que há dolo
quando o menor usou embustes de modo em fazer a outra parte acreditar
erroneamente que o menor já era menor

No nosso caso, houve dolo do menor ‘’ retoque do documento de identificação’’,


portanto o negócio consolidou-se.

- É controverso, o 126º desprotege então o incapaz, prevalece as expectativas da outra parte ,


é uma ponderação de interesses que está desalinhada como restante regime.

Temos 2 correntes:

- a das lições, que nos diz que este artigo protege as expectativa de terceiros e como tal vale
independentemente de quem(125º) esteja a pedir a anulação do negócio

- numa perspetiva mais restritiva (Mendes Cordeiro) , o 126º é uma manifestação do pp da


proibição de comportamento contraditório, só quando é o próprio menor a querer anular o
negócio ou os seus herdeiros, ou seja, não pode ser o representante legal ( este artigo não se
aplica ao representante legal)
Al.b)

A incapacidade de Carlos não é suprida pela responsabilidade parental, mas sim pela tutela,
por Afonso.

Lei é mais restritiva em relação à tutela, presunção que o tutor tem menos proximidade em
relação ao menor. O regime da tutela parte do regime dos representantes parentais, mas há
adaptações limitativas quanto ao tutor , p.ex. 1938º.

1938º restringe tudo o que esteja limitado aos pais e limita-se ainda mais atos

Venda de colheita de laranja: os pais não carecem, e o tutor também não carece de
autorização

Venda do imóvel: não pode ser praticada pelo tutor sem autorização judicial

Utilização para serigrafia e das rendas : 1938º al. b) , não são permitidos ao tutor  1940º

1940º para anular estes negócios, prazo de 5 anos

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