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DIREITO DA UNIÃO

EUROPEIA II
ACÇÃO/RECURSO DE
ANULAÇÃO
Dulce Lopes – dulce.rdgr@gmail.com
Via
Via
comunitári
Nacional
a

Eventual
Eventual reenvio
excepção de
prejudicial
ilegalidade

Acção perante Acção perante o


Tribunais Tribunal de
Nacionais Justiça

Actos
Actos nacionais
comunitários

Excepção: artigo 14, 2, do Protocolo n.º 4 relativo aos Estatutos do Sistema Europeu de
Bancos Centrais e do BCE – recurso de anulação para o TJ contra ato nacional de
destituição do governador do Banco central nacional – Proc. C‑202/18 e Case C‑238/18
 (Letónia) – a preservação de um sistema integrado e independente dos Estados
Pressupostos processuais
􏰂Pressupostos processuais (requisitos necessários para ser
proferida uma decisão, favorável ou desfavorável ao seu autor):
1. Contra quem se deve iniciar o processo (legitimidade
processual passiva)?
2. Se o acto é passível de anulação?
3. Se ainda há prazo para propor a acção?
4. Se o Autor tem legitimidade processual activa?
5. Se foi invocado fundamento para a anulação?
(nalguns casos pode ainda haver outros pressupostos
relacionados com a existência de recursos administrativos prévios
necessários – art. 73.º, n.º 1 do Regulamento N.º 2100/94 do
Conselho)
Condições de procedência da acção (se o autor prova os factos de
que depende ganho de causa e se o réu não elide a pretensão do
autor)
Acção de anulação
• Por intermédio desta acção, o requerente solicita a anulação de uma
medida adoptada por uma Instituição, órgão ou organismo da União
Europeia (artigo 263 TFUE):
• O TJUE fiscaliza a legalidade dos actos legislativos, dos actos do Conselho,
da Comissão e do Banco Central Europeu, que não sejam recomendações ou
pareceres, e dos actos do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu
destinados a produzir efeitos jurídicos em relação a terceiros. O Tribunal
fiscaliza também a legalidade dos actos dos órgãos ou organismos da União
destinados a produzir efeitos jurídicos em relação a terceiros.
• Estas medidas/actos devem ser emitidos por uma Instituição (vide a expressa
inclusão do Conselho Europeu) ou outro órgão ou organismo comunitário
(mesmo que seja um órgão não instituído pelos Tratados, como uma Agência
com poderes decisórios, como o Instituto Comunitário das Variedades
Vegetais), mas não por entidades nacionais ainda que em
execução/implementação ou preparação do direito da União.
Acção de anulação
• As medidas/actos sujeitos à apreciação do TJUE nesta acção são apenas
os que se revistam de vinculatividade (actos decisórios, obrigatórios e
com efeitos externos): são medidas vinculativas as que se destinam a
produzir efeitos jurídicos externos, positivos ou negativos, relativamente
a terceiros/ medidas que produzem efeitos jurídicos vinculativos que
afectem os interesses do recorrente, alterando de forma caracterizada a
situação jurídica deste.
• Por isso se usa a formulação: “que não sejam recomendações ou
pareceres” ou “destinados a produzir efeitos jurídicos em relação a
terceiros”.
• A irrelevância do critério formal “nomen iuris”, para definir os efeitos de um
acto comunitário.
• No Proc. C-249/02, o Tribunal entendeu que uma carta dirigida ao Governo
Português não era apenas informativa, mas visava produzir efeitos directos
(definia as correcções financeiras aplicáveis e critérios), estando inquinada por
vício de incompetência (foi assinada apenas por um Director-Geral da Comissão)
Acção de anulação
• Excluindo, portanto, a anulação de actos políticos, preparatórios,
informativos, confirmativos ou de mera execução.
• Actos informativos: Proc. T-212/99: Não constitui uma decisão
susceptível de ser objecto de um recurso de anulação uma carta da
Comissão que se limita a expor as razões dos atrasos ocorridos na
classificação de uma substância num dos anexos do Regulamento n.°
2377/90 (…) Esta carta, que se limita a informar o operador em causa
do estado do processo, não modifica a sua situação jurídica.
• Actos preparatórios: Proc. T-37/92: Quando se trate de actos ou
decisões cuja elaboração se processa em várias fases,
nomeadamente no termo de um processo interno, só constituem, em
princípio, actos recorríveis as medidas que fixem definitivamente a
posição da instituição no termo desse processo, excluindo as
medidas transitórias cujo objectivo é preparar a decisão final.
Acção de anulação
• Actos confirmativos: Proc. C-48/96: Uma empresa foi notificada em 93
de ter sido incluída numa lista de projectos de substituição, de acordo com
o qual apenas teria direito a financiamento se este ficasse disponível. Só
em 94 recebeu uma notificação confirmando esta última situação. O TJ
confirmou a decisão do TPI referindo que a primeira decisão já excluía a
empresa da lista dos beneficiários, pelo que já se havia esgotado o prazo
de recurso ao abrigo da acção de anulação.
• Actos de execução: Proc. T-353/00 : impossibilidade de anulação do acto
que negava o exercício de funções no Parlamento Europeu a Jean Marie
Le Pen, por este ter sido considerado ineligível no direito nacional francês:
tratou-se de uma mera declaração do Presidente do Parlamento Europeu,
sem efeitos constitutivos.
• Actos políticos: Artigo 275.º TFUE: exclusão do controlo da política
externa e de segurança comum, com excepção da fiscalização da
legalidade das decisões que estabeleçam medidas restritivas contra
pessoas singulares ou colectivas, adoptadas pelo Conselho com base no
Capítulo 2 do Título V do Tratado da União Europeia
Acção de anulação
• O prazo para dar início a esta acção é muito limitado: dois meses (ao
que acresce uma dilação em razão da distância de 10 dias – 51.º do
Reg TJ; 59.º Reg TG) desde:
• Publicação da medida (se a medida é publicada – 297 TFUE, o prazo acima
referido só começa a contar a partir do termo do 14.º dia subsequente ao dia da
publicação – art 50.º do Regulamento de Processo do TJUE e art. 60 do
Regulamento do TG)
• Notificação da mesma ao recorrente (nos casos não sujeitos a publicação);
• Dia em que o recorrente tenha tomado conhecimento do acto (caso em que deve
num prazo razoável solicitar o texto integral da medida T-109/94; T-411/06)

• Estes requisitos que asseguram a cognoscibilidade da medida (o conhecimento


exacto e inequívoco do acto é condição para a produção de efeitos jurídicos, se
desfavoráveis, da mesma) são aplicáveis de forma subsidiária (proc. C-122/95)
Acção de anulação
• Regime de publicação (em todas as línguas oficiais) ou notificação (artigo
297.º)
• Actos legislativos adoptados de acordo com o procedimento ordinário ou
especial devem ser publicados.
• Actos não legislativos:
• Regulamentos e Directivas dirigidas a todos os Estados-membros são
publicados, bem como decisões que não especifiquem os destinatários
são publicadas no Jornal Oficial da União Europeia.
• Outros actos que especifiquem os destinatários são notificados

• Flexibilidade: Possibilidade de exercício do direito depois do decurso do


prazo, mediante prova de caso fortuito ou de força maior (art. 45.º, n.º
2 ETJUE)
Acção de anulação
• Legitimidade para iniciar uma acção perante o TJ / Locus standi
• Este requisito encontra-se usualmente ligado à existência de interesse para
agir (a anulação de um acto deve ter consequências jurídicas efectivas na
esfera do recorrente)
• Contudo, os Estados-membros (Autoridades governamentais), o Conselho, a
Comissão e o Parlamento Europeu são recorrentes/ autores/demandantes/
requerentes privilegiados: não necessitam de demonstrar um interesse
específico para agir.
• Como visam a defesa da legalidade objectiva, os requerentes não estão
vinculados por anteriores tomadas de posição que tenham manifestado no
processo de adopção da medida (proc. C-378/00)
• O Parlamento Europeu viu o seu papel ampliado também no âmbito
contencioso, por ter passado a ser considerado recorrente interessado pela
jurisprudência do TJ (proc. 70/88, Chernobil) e, depois, pelos Tratados (de
Nice inicialmente) como recorrente privilegiado.
Acção de anulação
• Legitimidade para iniciar uma acção perante o TJ / Locus standi
• O Tribunal de Contas, o Banco Central Europeu e o Comité das Regiões
podem intentar acções de anulação objectivo de salvaguardar as respectivas
prerrogativas conferidas pelo Tratado ou pelos Estatutos (são
recorrentes/requerentes/autores/demandantes interessados ou institucionais
não privilegiados ou semiprivilegiados):
• por exemplo, uma Directiva é adoptada sem prévio parecer do Comité das
Regiões (quando legalmente previsto) ou um Regulamento que institui
mecanismos de controlo das finanças da União submete-os à apreciação de
empresas de auditoria privadas e não ao Tribunal de Contas.
• O Tratado de Lisboa criou um novo tipo de recurso: os Estados-membros, por
indicação (obrigatória) dos parlamentos nacionais ou uma câmara deste e o
Comité das Regiões podem intentar recursos de anulação contra os actos que
considerem contrários ao princípio da subsidiariedade.
Acção de anulação
• Pessoas singulares ou colectivas [cidadãos europeus e estrangeiros, pessoas
colectivas de direito privado e direito público não estaduais – T-37/04
(Região Autónoma dos Açores), Estados terceiros ou organizações
internacionais] são requerentes/recorrentes/autores/demandantes não
privilegiados ou ordinários, demonstrando interesse em agir:
• apenas podem intentar recursos contra os actos de que sejam
destinatários (1) ou que lhe digam directa e individualmente respeito
(2), bem como contra os actos regulamentares que lhe digam
directamente respeito e não necessitem de medidas de execução (3).
• Estes requisitos são de ordem pública (de conhecimento oficioso e a
todo o tempo, mesmo que a questão prévia da inadmissibilidade não
tenha sido levantada pelas partes – proc. C-417/04 P)
Acção de anulação
• Antes do Tratado de Lisboa, os requisitos legalmente fixados eram os
de que as pessoas singulares ou colectivas às quais não fosse
endereçado um acto, deveriam ter um “interesse individual e
directo” para recorrer, requisitos estes cumulativos, mas que são
interpretados separadamente (Proc. Plaumman, proc. 25/62):
• 1. Interesse directo:
• a) prejuízo (afetação) da esfera jurídica pessoal ou patrimonial do requerente,
porque o priva de um direito ou lhe impõe uma obrigação, de modo similar ao
que aconteceria se fosse o destinatário de uma decisão
• b) não deixa qualquer poder de apreciação aos destinatários da medida
encarregados da sua aplicação (proc 41/70 a 44/70 e 92/78, T-70/03 e C-
386/96). Pode intermediar um acto de implementação, mas com
discricionariedade zero, isto é que não deixe qualquer margem de apreciação
para a entidade nacional encarregada de aplicar o acto (Proc. C-404/96 P)
Acção de anulação
• 2. Interesse individual: o requerente deve diferenciar-se, devido a
características próprias, dos demais.
• O alcance geral e, portanto, a natureza normativa de um acto, não é
posto em causa pela possibilidade de se determinar, com maior ou
menor precisão, o número, ou mesmo a identidade, dos sujeitos de
direito a que a norma se aplica num dado momento, desde que se
comprove que essa aplicação se efectua em virtude de uma situação
objectiva, de direito ou de facto, definida pelo acto em relação com
a finalidade deste.
• Para que a recorrente possa pretender ser individualmente afectada,
é necessário que seja atingida na sua posição jurídica em razão de
uma situação de facto que a caracteriza em relação a qualquer outra
pessoa e a individualiza de maneira análoga à de um destinatário.
Acção de anulação
• O que pode suceder:
• Quando um acto é dirigido a outra pessoa, mas afecta o recorrente de forma análoga
ou contrária (exl: há apenas um subsídio aplicável, que é atríbuido a outra empresa,
que não ao recorrente)
• Proc. C-76/01 : A anulação da «decisão» do Conselho da União Europeia de não
adoptar a proposta de regulamento (CE) do Conselho que institui um direito
antidumping definitivo sobre as importações de tecidos de algodão não branqueado
originários da República Popular da China, do Egipto, da Índia, da Indonésia, do
Paquistão e da Turquia. A Eurocoton, enquanto denunciante, é individualmente
atingido pela decisão impugnada.
• Por outro lado, se a denúncia foi apresentada pelo Eurocoton, a denúncia foi
apresentada em nome da indústria comunitária e que foi apoiada por numerosos
produtores comunitários que representam uma proporção significativa da produção
comunitária do produto similar, nomeadamente pelos outros recorrentes no presente
recurso. Nestas condições, justifica-se considerar igualmente os outros recorrentes
no presente recurso, que estiveram na origem da denúncia, individualmente
afectados pela decisão impugnada.
Acção de anulação
• O que pode suceder:
• Quando o regulamento, por exemplo, esconde um acto individual:
• Proc. apensos 41/70 a 44/70 : um regulamento foi adoptado tendo em
consideração a situação de mercado das maçãs e o número de pedidos
individuais de licença apresentados, pelo que era possível determinar o número
de destinatários do Regulamento. O Tribunal considerou que ao invés de uma
disposição de carácter geral, o Regulamento incorporava um conjunto de
decisões individuais, sob a aparência de um Regulamento e admitiu o recurso.
• Contudo, também aqui o critéro nem sempre é claro e consequente – cfr. proc.
C-1/64, no qual o Tribunal considerou que como em causa estava uma medida
de política económica geral, o facto de uma medida apenas afectar o único
exportador de glucose da Bélgica para a França, não se poderia considerar uma
medida de cariz individual).
Acção de anulação
• O que pode suceder:
• Quando a medida geral afecta um ou um conjunto de interessados
que, antes da medida ter sido adoptada, tinham já uma posição bem
definida (determinada ou determinável) que é prejudicada : círculo
fechado de operadores
• Proc. C-309/89:
• A Codorníu registou a marca gráfica "Gran Cremant de Codorníu" em
Espanha em 1924 e utilizou tradicionalmente essa marca antes e
depois desse registo. Ao reservar o direito de utilizar a menção
"crémant" aos produtores franceses e luxemburgueses, a medida
impugnada tem como consequência impedir a Codorníu de utilizar a
sua marca gráfica. A Codorníu fez prova de existência de uma
situação que a individualiza, relativamente à medida impugnada, em
relação a qualquer outro operador económico.
Acção de anulação
• Proc. C‐132/12 P
• O TJ considerou que a medida dizia directa e individualmente respeito aos WOCO
(como tinha decidido no Proc. C-71/09, relativamente a decisões que determinam a
recuperação de auxílios de Estado). Sendo a qualidade das wocos atribuída por um
sistema de reconhecimento mediante decreto real, o seu número e identidade
estavam exatamente determinados no momento da adoção da decisão controvertida
• Proc. T-400/11
• Antes nos proc. C‑71/09 P, C‑73/09 P e C‑76/09 P, o T havia considerado que os
beneficiários efetivos de auxílios individuais concedidos ao abrigo de um regime de
auxílios cuja recuperação tenha sido ordenada pela Comissão são, por este motivo,
individualmente afetados.
• Mas não se pode daqui concluir que a qualidade de beneficiário efetivo de um
regime de auxílios é suficiente para individualizar o referido beneficiário, quando
este não é visado pela obrigação de recuperação dos auxílios pagos ao abrigo do
referido regime previsto pelo acto impugnado.
Acção de anulação
• Algumas situações excluídas:
• Proc. apensos T-38/99 a T-50/99 (Medidas de emergência motivadas pelos casos de encefalopatia
espongiforme bovina surgidos em Portugal): Os recorrentes alegam, antes de mais, que os touros
que criam se destinam a ser lidados em certames culturais e desportivos (...). Além disso, alegam
que (…) estão submetidos a regras específicas que garantem um controlo rigoroso de todos os
animais exportados. (..) Estes elementos não são constitutivos de uma situação particular que
caracterize os recorrentes, face à decisão recorrida, em relação a qualquer outro criador ou
exportador de bovinos afectado pela proibição de expedição estabelecida nessa decisão
• Proc C-270/95 P: A utilização das línguas no processo de marca comunitária rege-se pelo
Regulamento n.° 40/94 e dispõe que as línguas do Instituto são exclusivamente o alemão, o
espanhol, o francês, o inglês e o italiano. A Sra KIK, advogada holandesa, especialista em matéria
de marcas, pretendeu reagir contra este Regulamento considerando que era directa e
individualmente atingida pelo mesmo.
• Para o Tribunal “o artigo 115.° do Regulamento n.° 40/94 aplica-se a todos os requerentes de uma
marca comunitária impondo-lhes um regime linguístico. Face a esta regulamentação de alcance
geral, a recorrente não demonstrou que a sua situação de facto a distingue relativamente a
qualquer outra pessoa que deseje obter uma marca comunitária.
• Como é que a Senhora KIK resolveu esta questão? Pediu o registo de uma marca que foi indeferida,
e assim conseguiu acesso ao TJ (que, porém, decidiu contra a sua pretensão - processo T-120/99,
Acção de anulação
• O Tribunal de Primeira Instância tentou mudar este quadro de grande
limitação de acesso à jurisdição do TJ, ao desenvolver uma interpretação
ampla do anterior artigo 230, 1, do Tratado de Roma:
• No caso T-173/98, C-50/00 (UPA), o Advogado-Geral Jacobs tentou justificar que
deveria ser suficiente satisfazer o requisito do interesse directo, mas o Tribunal não
aceitou esta interpretação.
• O então Tribunal de Primeira Instância no processo T-177/01 – Jezo-Quere assumiu
a interpretação de que o número de pessoas afectadas pela disposição comunitária
não era relevante, mas o Tribunal de Justiça considerou que esta era uma
interpretação contra legem.
• A alternativa para os indivíduos passava muitas vezes pela infracção a uma
disposição comunitária (por exemplo um regulamento), para serem sujeitos a
sanções e poderem discutir incidentalmente, nos Tribunais Nacionais (com reenvio
para o TJ), a validade daquele Regulamento de acordo com o direito da União (Ver
jurisprudência Foto Frost)
Acção de anulação
• No Tratado de Lisboa, o locus standi / legitimidade dos recorrentes
privados foi tendencialmente alargado, para amainar as críticas
relativas à deficiente tutela judicial efectiva concedida pelo TJ, mas
apenas no caso de anulação de de:
• A) actos regulamentares,

• B) que digam directamente respeito ao recorrente

• C) e não necessitem de medidas de execução

• Esta disposição inovadora implica a análise da natureza do acto que é objecto


do recurso e a posição da pessoa que invoca o direito de recurso
Acção de anulação
• A) Actos regulamentares
• Proc. C-583/11 P - Inuit
• O Tribunal baseou-se na interpretação histórica da disposição, para além da
mais “tradicional” interpretação literal e teleológia.
• Com este elemento histórico (recurso à intenção do Tratado que Estabelecia
uma Constituição para a Europa), concluiu que não se pretendeu aumentar
as vias de recurso ao TJ, sempre que haja actos (ainda que de execução)
que os recorrentes possam invocar perante os Tribunais Nacionais.
• Considerou que os actos regulamentares são actos de aplicação geral
adoptados de acordo com um procedimento distinto do legislativo.
• A AG Kokott propôs esta interpretação com base no princípio da separação
institucional, segundo o qual deveria ser mais fácil aos indivíduos recorrer de
actos com um menor grau de legitimidade democrática (como os actos não
legislativos de alcance geral).
• Praticamente só cabem nesta via os actos regulamentares da Comissão (C-
380/11 e T-367/10) ou decisões da mesma (T-262/10)
Direi
to
origi
nário
(prin
Actos
cípio
convencionais
s)

Actos legislativos

Actos não legislativos


Acção de anulação
• O que são actos não legislativos?
• Com o Tratado de Lisboa foi introduzida ainda uma hierarquia, do ponto de vista
procedimental, entre:
• Actos legislativos e
• Actos não legislativos
• Contudo, a diferença não se relaciona com o tipo material de actos adoptados
(Regulamentos, Directivas e Decisões podem ter tanto natureza legislativa como
não legislativa) mas com o procedimento adoptado
• OU SEJA, admite-se a existência de Regulamentos, Directivas e
Decisões com valor legislativo e de Regulamentos, Directivas e Decisões
com valor não legislativo.
• Os actos adoptados de acordo com o procedimento legislativo ordinário e especial
são considerados actos legislativos, porque pressupõem em regra a participação do
Parlamento Europeu e, por isso, têm uma mais ampla base democrática.
Acção de anulação - Vias
• B) Digam directamente respeito ao recorrente
• Critério similar ao do “interesse individual”, acima analisado
• C) Não necessitem de medida de execução
• Que não necessitem de qualquer medida de execução, ainda que esta
seja meramente automática
•  Proc. T‑262/10:Recurso de anulação de uma empresa contra a decisão da
Comissão de não incluir o triclosan numa lista dos aditivos (a empresa usava
esse aditivo): A decisão de não inscrição teve como consequência imediata a
retirada da lista provisória e a proibição da comercialização do triclosan,
sem que seja necessário os Estados‑Membros adoptarem qualquer
medida de execução. Embora, nesse caso, a medida transitória possa dar
origem a medidas de execução pelos Estados‑Membros, ela visaria facilitar
apenas a sua aplicação, portanto, acessória face ao objecto principal da
decisão recorrida. Pelo que a proibição da comercialização do triclosan, a
partir de 1 de Novembro de 2011, será aplicável sem necessidade de medidas
de execução.
Acção de anulação
• Proc. C‑274/12 P / Telefonica (e Despacho T-400/11): É indiferente, a este
respeito, que não se disponha de margem de apreciação na execução da decisão
impugnada. A inexistência de poder de apreciação é um critério que é examinado
para verificar se a condição de afetação direta de um recorrente está preenchida.
• Proc. C‑456/13 P: A T & L Sugars e a Sidul Açúcares alegam que o Tribunal
Geral cometeu um erro de direito ao considerar que as medidas tomadas
pelas autoridades nacionais no âmbito dos regulamentos controvertidos
constituem medidas de execução, por os regulamentos controvertidos terem
elaborados ao mais ínfimo pormenor pela Comissão e a única função
deixada aos Estados‑Membros ter sido a de mera «caixa de correio».
• O TJ considerou que as decisões das autoridades nacionais relativas à
emissão desses certificados, que aplicam aos operadores em caus
constituem, por isso, medidas de execução na aceção do artigo 263.°,
quarto parágrafo, último segmento de frase, TFUE.E que esta conclusão
não é posta em causa pelo alegado caráter mecânico das medidas
adotadas a nível nacional.
Acção de anulação
• Na prática esta novidade do Tratado de Lisboa tem-se revelado uma via
muito limitada de acesso ao TJ.
• O que continua a remeter privilegiadamente para a abertura de vias de
recurso nacionais: a norma promete mais do que efectivamente dá.
• Não parece ter sido alterado substancialmente o estatuto limitado de
recurso ao TJ, porque a nova abertura introduzida pelo TJ não pode ser
mobilizada perante actos legislativos, para além de que mesmo quanto
a actos não legislativos, apenas pode ser mobilizada perante aqueles
que não careçam de qualquer execução (que não seja puramente
acessória) por parte dos Estados-membros.
• Por isso, tem sido sujeita a amplas críticas tanto doutrinal como
jurisprudencialmente.
• Críticas do Advogado Geral WATHELET no proc. C‑133/12 P:Em minha opinião,
o ato regulamentar deve ser interpretado no sentido de que constitui um ato de caráter
geral, seja ou não legislativo; e considero que a condição relativa à inexistência de
medidas de execução é uma simples repetição da afetação direta.
Acção de anulação
 Fundamentos para a anulação (inspirados na tradição francesa):
 1. Incompetência (parcial, quando um acto é adoptado por um órgão e devia ser por
mais do que um ou total, quando aquele órgão não pode sequer agir ou não pode agir
sem delegação; interna/ externa ou usurpação de poderes, quando a acção for adoptada
fora do âmbito de atribuições da União Europeia)

 2.Violação de formalidades essenciais (falta de indicação base legal, ausência de


audiência prévia, ausência de parecer obrigatório, ausência de fundamentação)

 3. violação dos Tratados ou de qualquer norma jurídica relativa à sua aplicação (inclui
disposições de direito secundário ou direito convencional ou princípios de direito da
União, como os da subsidiariedade e proporcionalidade)

 4. Desvio de Poder (uma instituição ou órgão é movida, na sua acção, por finalidades
distintas das estabelecidas por lei, ou o seu objectivo é o de se furtar ao cumprimento de
uma regra ou procedimento pré-estabelecido)
Acção de anulação

• Fundamentos não taxativos:


• O Tribunal de Justiça tem admitido e aplicado outros fundamentos para
escrutínio judicial não previstos expressamente nos Tratados tais como a
existência de erro manifesto de apreciação ou de erro de direito;
desde que não se refiram ao direito nacional ou a outras ordens jurídicas
internacionais
• Arguição dos fundamentos deve ser feita logo com a Petição Inicial,
dado o princípio de proibição de introdução de novos fundamentos
(arigost 42.º, n.º 2 e 48.º, n.º 2, respectivamente dos Regulamentos do
Tribunal de Justiça e do Tribunal Geral.
• É admitida, porém, a ampliação ou novos fundamentos que tenham
origem em elementos de facto e de direito revelados ao longo do
processo processo.
Acção de anulação
• Proc. C-149/96: objecto: acordos têxteis entre a CE e a Índia e Paquistão.
Fundamentos solicitados para anulação (i) violação de regras e de certos
princípios fundamentais da OMC; (ii) violação do princípio da transparência;
(iii) violação do princípio da cooperação leal; (iv) violação do princípio da
confiança legítima; (v) violação do princípio da não retroactividade das
normas jurídicas; e (vi) violação do princípio da coesão económica e social.
• Proc. apensos T-185/00, T-216/00, T-299/00 e T-300/00: objecto: Decisão
2000/400/CE, relativa a um processo nos termos do art. 101.o TFUE: “Das
considerações precedentes resulta que a Comissão cometeu um erro
manifesto de apreciação na aplicação do artigo 81.°, n.° 3, alínea b), CE, ao
concluir que, mesmo na hipótese da existência de um mercado de produtos
limitado a determinados grandes acontecimentos desportivos internacionais,
o regime de sublicenças garante o acesso de terceiros concorrentes dos
membros da UER aos direitos Eurovisão e permite, por conseguinte, evitar
que exista uma eliminação da concorrência neste mercado.”
Acção de anulação
• Proc. C-43/12- Anulação da diretiva relativa à troca de informações em
matéria de segurança rodoviária
• A Comissão da União Europeia exercendo o seu direito de iniciativa propôs
ao Parlamento e ao Conselho a adoção de uma directiva relativa à troca de
informações em matéria de segurança rodoviária, ao Parlamento e ao
Conselho, em 2011, com base no artigo 91.º do TFUE relativo à política de
transportes.
• O Parlamento e o Conselho aceitaram a proposta, adoptaram a Directiva
mas mudaram-lhe a base legal, transferindo-a para o artigo 87.º do TFUE
relativo à cooperação policial.
• Inconformada, a Comissão propôs uma ação de anulação da Directiva do
Parlamento e do Conselho.
• O Tribunal de Justiça da União Europeia deu razão à Comissão anulando a
Diretiva litigiosa, mantendo embora os seus efeitos pelo prazo de um ano.
Acção de anulação
• Consequências da decisão do Tribunal (art. 264 TFUE):
• Ou o Tribunal considera que a medida não é ilegal (o que impede que se inicie uma
outra acção com base nos mesmos fundamentos, mas não que se venha a invocar
um vício não apreciado ainda pelo TJUE)
• Ou o acto é considerado nulo erga omnes (total ou parcialmente, desde que os
elementos cuja anulação se pede possam ser separados do resto do acto), com
efeitos retroactivos (ab initium ou ex tunc).
• Esta é uma acção com efeitos constitutivos e não apenas declarativos, o que pode
implicar a repristinação dos actos revogados (mas também o aproveitamento de
actos que não sejam tocados pela invalidade)
• O Tribunal pode, contudo, indicar, quando o considerar necessário, quais os efeitos
do acto anulado que se devem considerar subsistentes (por exemplo determinando
que a decisão não tem efeitos retroactivos mas apenas ex nunc – para o futuro -, ou
que o acto permanecerá em vigor durante um prazo ou até ser substituído)
• Esta opção é comum quando existe uma ilegalidade formal: o acto será
provavelmente repetido com o mesmo conteúdo.
Acção de anulação
• As instituições devem, num período de tempo razoável, pôr termo à
ilegalidade, pela adopção das medidas necessárias (art. 266 TFUE):
• Será relevante quando a reposição da legalidade não se baste com a eliminação do acto
viciado, mas implique a prática de um acto válido em sua substituição.
• Mas não há qualquer condenação à prática de actos determinados, nem
poderes de injunção ou de substituição (proc. 30/59), salvo em situações de
plena jurisdição, que são limitadas :
• Os regulamentos adoptados conjuntamente pelo Conselho e Parlamento
Europeu, e pelo Conselho, por força das disposições dos Tratados, podem
atribuir plena jurisdição ao Tribunal, como sucede em matéria de
contencioso das sanções – Regulamento 1/2003 (direito da concorrência).
• Não se prevê qualquer sanção pecuniária aplicável para promover o
cumprimento da medida; ao contrário do que sucede na acção por
incumprimento.
Caso prático I
• Em Março, o Conselho adoptou uma decisão tendo por base a cidadania da
União. De acordo com esta decisão tomada ao abrigo do art 22/1 TFUE,
foram harmonizadas as normas quanto à idade mínima para votar e ser
eleito para o parlamento europeu, tendo a mesma sido fixada em 18 anos.
• A) Jann, um nacional austríaco de 17 anos considera que a decisão é ilegal
porque vai para além das competências da União (na Áustria a maioriade
atinge-se aos 16 anos). Concorda?
• b) Terá Jann de solicitar uma decisão da comissão eleitoral (que lhe negue
a inscrição nas listas eleitorais) para reagir, ou poderá dirigir-se
directamente ao Tribunal Geral da União?
• c) O Parlamento Europeu também deseja colocar em causa esta medida por
não ter sido consultado antes dela ter sido adoptada (cfr. art. 22,1 TFUE).
Poderá fazê-lo?
Tópicos
• A.
• Os argumentos de Jann parecem razoáveis à luz dos princípios da atribuição e,
eventualmente, da subsidiariedade. São os próprios Tratados que identificam que
as regras eleitorais, mesmo no âmbito de direitos de cidadania competem aos
Estados (de acordo com o princípio da não discriminação com os nacionais, art.
22), para além de estes reterem competências em matéria de estatuto pessoal
• B.
• Jann poderia tentar anular a decisão perante o Tribunal Geral (está dentro de
prazo), com os fundamentos enunciados, intentando a acção contra o Conselho.
Muito embora Jann seja directamente afectado pela decisão (caso esta inviabilize
o exercício do direito de voto ao interessado) ele não é afectado individualmente
pela mesma, por a sua posição não ser diferente dos demais austríacos com a sua
idade. Assim, antes do Tratado de Lisboa, Jann não beneficiaria de locus standi.
Tópicos
• Depois do Tratado de Lisboa, Jann detém legitimidade desde que aquele acto não
seja um acto legislativo, uma vez que é um acto que o lesa (diz-lhe directamente
respeito) e, tratando-se de uma norma proibitiva, teria efeitos imediatos (não
carecia medidas de execução)
• Apesar de ser um acto do Conselho, o artigo 22.º, n.º 1 do TUE considera que é
tomado no âmbito de um processo legislativo especial, logo não é considerado um
“acto regulamentar”
• Logo Jann não poderia impugnar esta medida, apesar de por ela ser lesada… Teria
de “ provocar” a intervenção da Comissão Eleitoral nacional e reagir do acto
desta, suscitando-se no âmbito do processo judicial nacional um reenvio de
validade.

• C.
• O Parlamento Europeu pode reagir através de uma acção de anulação,
fundamentando a mesma na infracção de regras de competência (usurpação de
poderes). Para tanto, não necessita de demonstrar um qualquer interesse (ainda
que o tenha, como no caso) uma vez que é hoje um recorrente privilegiado e não
um mero recorrente interessado.
Caso prático II
• A União Europeia, na sequência da recente crise económica e do
adensar dos problemas da insegurança, tem vindo a ser objecto, em
vários Estados-membros, de protestos nas Fronteiras.
• O Conselho, de modo a evitar entraves à livre circulação de pessoas e
bens, decide emanar um Regulamento a dar instruções imperativas às
polícias nacionais para intervirem nessas situações, dispersando as
manifestações, de modo a assegurar a liberdade de circulação.
• Como fundamento legal para esta medida, o Conselho invoca o artigo
26.º, n.º 3, sobre a realização do mercado interno: “O Conselho, sob
proposta da Comissão, definirá as orientações e condições necessárias
para assegurar um progresso equilibrado no conjunto dos sectores
abrangidos”.
• Uma ONG, que tem vindo a organizar algumas contestações na fonteira,
pretende debater a legalidade deste Regulamento. Terá sucesso?
Tópicos
• A. A questão da legitimidade activa da ONG (e outras associações)
• Proc T-585/93 e C-321/95 (considerou-se que a Greenpeace só tinha
legitimidade indirecta; não pode invocar um interesse próprio, mas apenas
os interesses dos seus membros); proc. 72/74; proc. 282/85; proc. T-381/11;
proc. T-91/07 e, em recurso, C-335/08 P.
• Apenas se reconhece legitimidade a associações quando haja uma disposição que
expressamente o preveja - Regulamento Aarhus reconhece legitimidade directa mas com
limitações (não abrange actos legislativos e judiciais, mas apenas actos administrativos)
C-191/82; quando todos os membros da associação sejam directa e individualmente
afectados T-447/03 – T-229/02; e quando os próprios interesses da associação estejam em
causa, proc. 67/85 e T-84/01,
• Desequilíbrio entre acesso ao TJUE e aos tribunais nacionais (C-240/09 e
C-263/08; e proc. C‑401/12 P a C‑403/12 P).
Tópicos
• B. Invalidades:
• 1. A questão da base legal (é uma matéria de realização de mercado interno ou
de cooperação policial: art. 82, 83 e 87 TFUE)?
• 2. A questão da forma do acto: A harmonização mínima prevista nestes artigos
e a forma eleita (Regulamento e não Directiva – art 83.º, n.º 1
• 3. A questão do procedimento seguido: não recurso ao procedimento legislativo
ordinário - art 83.º, n.º 1
• 4. A questão da usurpação de poderes: ordens imperativas às polícias nacionais
e não meros actos de coordenação (matérias reservadas aos Estados)?
• 5. A questão do desvio de poder: a finalidade da medida poderia ser não a
garantia da liberdade de circulação, mas o afastamento de críticas dirigidas à
União?
• 6. Violação de normas substantivas: a medida adoptada restringe um direito
fundamental reconhecido na Carta dos Direitos Fundamentais, sendo que,
mesmo que a finalidade prosseguida seja legítima, o meio parece ser
desproporcional
Caso Prático III
• Rochar, um dos únicos dois produtores de um medicamento ainda em fase
experimental, foi confrontado no passado dia 15 de fevereiro com a
publicação de um regulamento adoptado pela Agência Europeia dos
Medicamentos, organismo da União Europeia, que proibia a utilização de
um componente usado naquele medicamento.
• Impossibilitado de continuar a produção daquele medicamento, a Rochar
visa reagir judicialmente daquele Regulamento comunitário, por considerar
que o mesmo padece de uma errada avaliação dos factos que conduziram à
proibição referida.
• a) Qual o órgão jurisdicional a que se deve dirigir? A sua resposta seria
idêntica se o regulamento proibitivo tivesse sido emanado pelo Infarmed,
Instituto público português?
• b) Analise sucintamente a verificação dos vários pressupostos processuais de
que depende o desenvolvimento da adequada ação a intentar contra a
Agência Europeia dos Medicamentos.
DIREITO DA UNIÃO
EUROPEIA II
ACÇÃO - RECURSO POR OMISSÃO/
ACÇÃO PARA CUMPRIMENTO/
Acção por Omissão
• Visa controlar a ausência de pronúncia das Instituições,
órgãos e organismos da União, quando um comportamento
activo destes seja exigível.
• O sistema jurisdicional da União ficaria incompleto se apenas a acção
das Instituições e Órgãos da União pudesse ser fiscalizada
judicialmente, mas não a sua inacção (nalguns casos o TJ afirmou a
unidade ou complementaridade entre a acção do art. 263 e a do art. 264
do TFUE)
• Mas há diferenças entre estas acções no que se refere aos seus requisitos
processuais (e que aproxima a acção por omissão da acção por
incumprimento): a accão por omissão é sempre precedida de uma fase
não contenciosa (fase esta que encontra o seu fundamento no princípio
da separação de poderes e que constitui um pressuposto processual
necessário para o momento judicial) e tem natureza declarativa
Acção por Omissão
Convite à acção (notificação ou solicitação
para agir) dirigido pelo interessado à
entidade competente para a prática do
acto.

Eventual resposta da instituição no prazo


de dois meses a contar da data do convite
à acção

Eventual procedimento (fase contenciosa)


perante o Tribunal de Justiça, no prazo de
dois meses a contar da resposta ou termo
do prazo anterior
Acção por Omissão
• O interessado deve primeiro solicitar que a Instituição cumpra o
seu dever de decidir de acordo com Direito da União
• Este deve ser caracterizado como uma verdadeira obrigação – e
não apenas uma faculdade/habilitação para agir -, seja de adopção
de um acto ou de alteração ou revogação de um acto existente, que
não tem de ser vinculativo:
• Obrigações procedimentais: Não é omissão não iniciar uma acção por
incumprimento por parte da Comissão; mas já o poderá ser não iniciar um
processo de averiguações quando tenha sido apresentada uma denúncia no
âmbito da política da concorrência, dada a menor discricionariedade existente
neste âmbito para a Comissão (Proc. T-37/92)
• Obrigações substanciais: A não execução de um acórdão do TJ em prazo
razoável configura uma omissão; o mesmo poderá decorrer da ausência de
regulamentação de uma matéria referida nos Tratados ou noutras disposições
de direito da UE.
Acção por Omissão
• Convite à acção: (convite escrito fundamentado, com intenção de
prossecução da acção, dirigido pelo interessado à entidade reputada
competente, num prazo razoável desde a constatação do
incumprimento):
• Consiste num convite que o interessado dirige ao órgão ao qual a
omissão é imputada para adopte o acto devido
• 􏰂Este convite deve ser escrito
• Não há prazo (embora possa ser rejeitado em caso de demora
excessiva, por razoes de segurança jurídica)
• 􏰂O convite deve identificar a obrigação de agir (o seu fundamento)
e o acto pretendido
• 􏰂O pedido deve mencionar a intenção de recorrer à acção por
incumprimento, no caso de a omissão persistir.
Acção por Omissão
• Importância do convite à acção:
• É importante que o interessado seja o mais preciso possível ao fazer a
solicitação das medidas concretas que devem ser adoptadas, porque
este é o documento que definirá o objecto da disputa (mesmo perante o
Tribunal).
• É um momento relevante porque os prazos (de dois meses para a
resposta e de dois meses depois desta resposta ou do decurso do prazo
para a sua emissão para iniciar o processo em Tribunal) começam a
contar da data do convite.
• Confere um prazo “final” para que a entidade competente cumpra com
o direito da União.
• É portanto um pressuposto processual adicional para recurso ao
Tribunal de Justiça.
Acção por Omissão
• Possíveis respostas da Instituição, órgão ou organismo (C-13/83) :
• 1.A Entidade adopta o acto que foi solicitado: o propósito da acção por
omissão cessa.
• Se a Instituição adopta uma posição mesmo depois da propositura da acção
mas antes da decisão, o objecto desta cessa -T-28/90; T-67/94
• 2. A Entidade não responde nos dois meses ou responde de forma
inconclusiva, remissiva ou dilatória: É possível perante este estado de
incumprimento/indefinição iniciar o processo judicial (acção por
omissão) 42/59 e 49/59; 13/83
• 3. A Entidade adopta um acto “incorrecto” (em moldes diversos do
solicitado): neste caso, como foi proferido um acto com um conteúdo
determinado, o meio processual adequado é eventualmente o de uma
acção de anulação, se os pressupostos desta estiverem reunidos.
Acção por Omissão
4. A Instituição responde que não se encontra a infringir direito da União
(recusa explicita e fundamentadamente a prática do acto, por considerar que
que não tem de o praticar ou que o mesmo já foi praticado – corresponde a
uma tomada de posição)
• Neste caso, a Doutrina divide-se entre quem considera que deve poder
seguir-se uma acção por omissão e quem considera que, como houve
uma tomada de posição, o meio processual idóneo deve ser uma acção de
anulação.
• A jurisprudência do TJ vai no sentido de que qualquer acto, mesmo de
conteúdo negativo dá lugar à acção de anulação, excepto se o mesmo não
tiver força vinculativa (proc. 48/65) ou se for um acto puramente
preparatório – C-282/95.
Acção por Omissão
• 5. A Entidade responde dizendo que abriu/ não abriu um processo de
averiguações na sequência da solicitação do interessado: cessa a
situação de omissão
• Um acto que em si não é susceptível de recurso de anulação pode,
todavia, constituir uma tomada de posição que põe fim à omissão,
se constituir a condição necessária para o desenrolar de um
processo que deve terminar num acto jurídico que, este sim, pode
ser objecto de recurso de anulação (T-186/94)
Acção por Omissão
• O procedimento judicial:
• O recurso pode ser apresentado dentro de um novo prazo de dois meses (+
10 dias dilação; excepto em situações de caso fortuito ou força maior) contra
a entidade que deveria ter praticado o acto.
• Fundamentos de ilegalidade
• Uma interpretação textual do art. 266 (que fala de abstenção declarada
contrária aos Tratados) faz crer que este é o único fundamento de ilegalidade
invocável nesta acção. No entanto, aquela norma deve ser interpretada de
modo a abranger todas as formas de violação de direito secundário (por
exemplo, o não cumprimento de uma obrigação estabelecida num
Regulamento), desde que não sejam relativas a questões formais (como o
vício de incompetência ou preterição de formalidades essenciais)
Acção por Omissão
• Legitimidade processual passiva: Esta acção deve ser instaurada contra o
Conselho, o Conselho Europeu, a Comissão, o Parlamento Europeu e o
BCE, bem como outros órgãos e organismos da Administração comunitária
(os que tiverem competência para a adopção do acto, possibilidade de
litisconsórcio passivo)
• Estas são as instituições e órgãos que adoptam actos vinculativos
• Mas uma acção por omissão não necessita de se referir à omissão de actos
vinculativos, podendo reportar-se à prática de actos preliminares, como a
aprovação de um projecto de orçamento, ou de actos finais mas não
vinculativos (aprovação de um relatório de avaliação), ou de execução
(por exemplo, não fazer pagamentos devidos num determinado prazo).
Acção por Omissão
• Legitimidade processual activa: Os Estados Membros e as Instituições da
União (todas, incluindo o Tribunal de Contas ou o Conselho Europeu), são
recorrentes privilegiados, visando a defesa da legalidade objectiva.
• Um Estado membro pode intentar uma acção contra uma Instituição
comunitária mesmo não tendo sofrido um prejuízo particular (proc.
13/83). O objectivo é levar a Instituição a tomar uma decisão que havia
sido ilegalmente omitida.
são recorrentes não privilegiados, apenas
• Pessoas singulares e colectivas
podendo intervir “para acusar uma das instituições, órgãos ou
organismos da União de não lhe ter dirigido um acto que não seja
recomendação ou parecer.” – suprimento de uma carência de protecção
• O objectivo é levar a Instituição a tomar uma decisão que deveria ter sido dirigida
ao interessado e que foi ilegalmente omitida. Neste caso, aplica-se o mesmo teste
do interesse “directo e individual” aplicável à acção de anulação (proc. 42/71 and
134/78).
Acção por omissão
• O Acórdão tem natureza declarativa:
􏰂O Tribunal limita-se a afirmar que a entidade não praticou um acto que
deveria ter praticado
• 􏰂Não condena o órgão a adoptar uma posição, muito menos
determinando o seu conteúdo (seria uma decisão condenatória)
• 􏰂Não determina a produção dos efeitos jurídicos que o acto em falta
deveria impor (seria uma decisão constitutiva)
• 􏰂Também não há lugar à condenação em sanções (como na acção por
incumprimento), não havendo, por isso, utilidade para uma segunda acção
por omissão.
• Abertura, no entanto, para a responsabilidade extracontratual da União
(art 266 e 340.º TFUE).
• Quando a inacção de uma Instituição, órgão ou organismo for considerada
ilegal, aquele deve tomar as medidas necessárias num prazo razoável à
execução do acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia.
Acção por Omissão
• Proc. apensos T-297/01 e T- 298/01 “32. (...) Daí resulta que a
acção por omissão constitui igualmente a via processual adequada
para se obter a declaração de omissão ilegal de uma instituição de
tomar as medidas que a execução de um acórdão implica, no caso
vertente, as medidas que a execução do acórdão SIC implica. (...).
58. Com efeito, resulta da jurisprudência recordada no n.° 31 supra
que, no caso de o acto cuja omissão é censurada ter sido adoptado
depois da propositura da acção por omissão, mas antes de ter sido
proferido o acórdão, já não há que conhecer do mérito. Cabe à
demandante, se considerar que sofreu um prejuízo pelo facto de a
Comissão ter violado os prazos razoáveis,propor uma acção de
indemnização.”
Caso prático IV
• A Comissão lançou um programa de financiamento para agricultores de áreas mais
desfavorecidas da União. De acordo com as regras aplicáveis, definidas em
Regulamento, aquela Instituição deveria, no prazo de três meses, decidir todos os
requerimentos que lhe tivessem sido apresentados.
• 1. Sr. John, um agricultor maltês, apresentou uma solicitação e encontra-se à espera
de resposta há mais de cinco meses. Poderá reagir desta omissão e como?
• 2. A sua resposta seria idêntica caso o Regulamento tivesse estabelecido que, na
ausência de uma resposta explícita, se deveria ter por indeferido o pedido
apresentado?
• 3. A Roménia pretende instaurar uma acção por omissão porque considera que o
Regulamento deveria ter incluído algumas regiões desfavorecidas romenas. Será
esta acção bem sucedida?
Tópicos
• 1. O Sr. John parece ser ser parte legítima, uma vez que a decisão de
atribuição de um financiamento (fosse emitida em sentido positivo ou
em sentido negativo) deveria ser directa e individualmente dirigida
(praticada e notificada) àquele requerente.
• Por esse motivo, uma decisão individual (relativa à posição jurídica
do Sr. John) deveria ter-lhe sido remetida (o que incorpora uma
verdadeira obrigação de agir), o que abre a possibilidade de recurso a
uma acção por omissão ou acção para cumprimento.
• Sr. John deve dirigir um convite à acção por parte da Comissão,
dando-lhe o prazo de dois meses para responder. Só passados dois
meses a contar deste primeiro prazo é que o Sr. John pode instaurar
uma acção no Tribunal Geral (o tipo de reacção depende da resposta
dada pela Comissão)
Tópicos
• 2. Neste caso não teria havido omissão, uma vez que o Regulamento estabeleceu
uma consequência jurídica para a inacção da Comissão: o indeferimento tácito.
Assim a via de acção idónea seria a acção de anulação (do acto que indefere a
concessão do financiamento).
• 3.Os Estados membros são requerentes privilegiados, pois não necessitam
demonstrar interesse para agir. Contudo, neste caso esse interesse acaba por
existir.
• O que não existe, porém, é uma obrigação da Comissão para agir, uma vez que
não há qualquer provisão nos Tratados que imponha a inclusão de outras regiões
no âmbito de aplicação do Regulamento (logo não há Omissão).
• Considerações relacionadas com o princípio da igualdade são de natureza
discricionária e deveriam, por isso, ser discutidas numa acção de anulação
dirigida contra o próprio Regulamento (pela imprevisão deste e não por uma
omissão em sentido estrito). Todavia, o prazo para o efeito já cessou.
Caso prático V
• A Associação Ambiental “Watch the waves” apresentou uma queixa na Comissão
Europeia quanto ao funcionamento da empresa de aquicultura FIXEMAIS que, de
acordo com aquela associação, estaria a funcionar em incumprimento da
regulamentação comunitária.
• Seis meses depois, não tendo recebido qualquer resposta, a referida Associação
pretende intentar uma ação no Tribunal de Justiça

• A) Poderá fazê-lo? Se sim, em que moldes?

• B) Imagine agora que a Comissão Europeia respondeu àquela Associação Ambiental


dizendo que não encontrou provas suficientes de qualquer ilegalidade por parte da
empresa FIXEMAIS e que, por isso, iria arquivar o processo. Teria a “Watch the Waves”
alguma forma de defender a sua posição?

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