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DIREITO ELEITORAL PROF.

GUSTAVO FERREIRA GOMES


FACULDADE DE DIREITO DE MACEIÓ - FADIMA CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE MACEIÓ

APOSTILA 08
NOÇÕES GERAIS
Cumpre destacar que as ações eleitorais típicas têm regramento próprio, o que os destoa do
habitualmente observado nos processos civil e penal - ainda que estes sejam subsidiariamente
observados no processo eleitoral, por isso é necessário antes de recorrer ver a estipulação eleitoral para
a aplicação de determinada ação – tal pode estar prevista no Código Eleitoral (CE), na legislação
eleitoral extravagante e/ou nas Resoluções do TSE.

OBS: Apesar do nome, o Recurso Contra a Expedição de Diploma (RCED) – antigamente também
nominado de Recurso Contra Diplomação (RCD), este professor se filia ao entendimento doutrinário
que, na verdade, trata-se de uma ação. Faz-se esta explicação para justificar sua inclusão neste tópico.

Mormente, os ritos das ações típicas eleitorais são considerados especialíssimos dada a natureza mais
que sumaríssima dos mesmos – inclusive a Minirreforma 2009 acrescentou prazo para julgamento de
todas as ações eleitorais em todas as instância da Justiça Eleitoral, mais precisamente, 01 ano a partir
da interposição – vide art. 97A da LE. Segue abaixo a análise de cada um deles.

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA (AIRC)


FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Arts. 3o a 16 da Lei Complementar (LC) nº 64/90 – também conhecida como Lei das Inelegibilidades
(LI).

LEGITIMIDADE ATIVA
Ministério Público Eleitoral (MPE), Partido ou Coligação (por seu representante legal), qualquer
Candidato.

OBS1: Entende-se como candidato, conforme a jurisprudência eleitoral predominante, para fins de
interposição das ações eleitorais típicas, entre outras atividades no período eletivo, o cidadão que tenha
pedido de registro de candidatura, só esse fato é suficiente para poder intentar com tal tipo de ação,
mesmo que, de forma estritamente técnica, alguém somente terá a condição de candidato de forma
plena, após ter seu pedido de registro de candidatura deferido pelo órgão jurisdicional eleitoral
respectivo.

OBS2: O cidadão comum não pode dar entrada em nenhuma das ações eleitorais típicas, somente pode
noticiar ao MPE – ou outro dos demais legitimados ativos - a existência de qualquer das hipóteses de
interposição destas ações.

OBS3: Não sendo o MPE o autor de qualquer das ações eleitorais típicas, ele sempre deve acompanhar
o processo na qualidade de custos legis.

OBS4: A AIRC serve para apurar os seguintes fatos referentes ao registro de uma candidatura: carência
de condição de elegibilidade, presença de causa de inelegibilidade e ausência de requisito formal
necessário ao registro de um candidato. O Prof. Adriano Soares denomina o conjunto de requisitos
formais de condições de Registrabilidade.

OBS5: No caso das AIRCs, o prazo para julgamento, em todas as instâncias da Justiça Eleitoral, devem
ser julgadas até 20 dias antes da Eleição, conforme previsão do Art. 16 §1º LE.

PROCEDIMENTO E PRAZOS:
A. Interposição: até 05 dias após a publicação com os pedidos de registro da candidatura.

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B. Contestação: prazo de 07 dias para a apresentação depois de notificado (citado); importante


frisar, é o único ato processual em sede de AIRC que o prazo não começa a correr automaticamente
em Cartório, POIS TODOS OS DEMAIS SÃO PEREMPTÓRIOS E CONTÍNUOS .
C. Testemunhas: deverão ser indicadas pelas partes em suas peças iniciais – até o máximo de
06, serão todas ouvidas na mesma oportunidade nos 04 dias posteriores a entrada da contestação.
D. Diligências: Se for necessária à prática de qualquer diligência, esta acontecerá nos 05 dias
seguintes a oitiva das testemunhas.
E. Alegações Finais: passada a fase probatória, inicia-se o prazo comum de 05 dias para as
Alegações Finais.
OBS: Se, porventura, a inelegibilidade que fundamenta a AIRC envolver apenas matéria de Direito,
pula-se as fases ora mencionados, passando direto da contestação à conclusão.
F. Sentença: o julgamento deve ser feito em 03 dias – excedido este prazo é obrigatório a
publicação editalícia, em Cartório, da decisão.
G. Recurso: Tanto o recurso, quanto as contrarrazões devem ser apresentadas em 03 dias –
sendo que o prazo das contrarrazões começa a correr da data da interposição do recurso. Este subirá
para o Tribunal competente que o decidirá, também, no prazo de 03 dias – o Procurador tem 02 dias
para se manifestar sobre o recurso, mas este irá a julgamento com ou sem o parecer deste.
H. Resultado: Será negado o registro de candidatura, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou
declarado nulo o diploma, se expedido.

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORLA (AIJE)


FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Arts. 19 a 24 da LC 64/90.

LEGITIMIDADE ATIVA
Ministério Público Eleitoral (MPE), Partido ou Coligação (por seu representante legal), qualquer
Candidato.

OBS: Os atos cabíveis de serem investigado numa AIJE são: abuso do poder político e/ou econômico,
abuso de autoridade, abuso no exercício ou desvio de cargo ou função pública e uso indevido de meios
de comunicação.

PROCEDIMENTO E PRAZOS
A. Interposição: como o objeto da AIJE é apurar todo e qualquer fato, a partir de provas ou
indícios, que implique em irregularidade durante a eleição (período compreendido entre o registro da
candidatura e a diplomação dos eleitos).
B. Inicial: Pode ser indeferida por falta de requisitos legais, pode ser deferida pura e
simplesmente, ou deferida com a concessão da suspensão inaudita altera pars do ato que a motivou –
apenas nos dois últimos casos abre-se o prazo para contestar.
C. Contestação: prazo de 05 dias para a apresentação, o investigado deve ser notificado
(citado); como na AIRC, os prazos são peremptórios e contínuos.
D. Testemunhas: deverão ser indicadas na Inicial e na Contestação, até o limite de 06 (seis);
deverão ser ouvidas, numa só assentada, nos 05 dias posteriores ao prazo para apresentação da
contestação – tenha esta ocorrido ou não.
E. Diligências: Se forem relevantes as diligências pedidas pelas partes e deferidas pelo Juiz,
além das que ele mesmo determinar, acontecerão nos 03 dias após a coleta da prova testemunhal –
aliás, nada impede que o Magistrado queira, para formar seu convencimento, ouvir outras testemunhas.
F. Alegações Finais: passada a fase probatória, prazo comum de 02 dias para as Alegações
Finais.
OBS: Se, porventura, a AIJE envolver apenas matéria de Direito, pula-se as fases ora mencionados,
passando direto da contestação à conclusão.
G. Sentença: o julgamento deve ser feito em 03 dias.
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H. Recurso: O recurso e as contrarrazões devem ser interpostos no igual prazo de 03 dias.


I. Resultado: Cassação do registro da candidatura (ou do diploma se já concedido) e
inelegibilidade por 08 anos a contar da eleição em tela.

REPRESENTAÇÃO/RECLAMAÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Art. 96 da Lei Eleitoral c/c Resolução do TSE.

LEGITIMIDADE ATIVA
Ministério Público Eleitoral (MPE), Partido ou Coligação (por seu representante legal), qualquer
Candidato.

OBS¹: Em todas as eleições o TSE baixa resolução específica regulando de forma mais detalhada o
procedimento da Representação, sempre ver no sítio deste (www.tse.jus.br) a Resolução da última
eleição.

OBS²: A diferença entre Representação e Reclamação, é que a primeira visa coibir atos praticados por
candidatos, partidos, coligação e/ou terceiros enquanto que a última serve para atacar atos de servidor
lato sensu da Justiça Eleitoral que impliquem em descumprimento da Lei das Eleições (LE).

PROCEDIMENTO E PRAZOS
A. Interposição: o objeto da Representação é punir eventuais descumprimentos a Lei
Eleitoral, com base em provas, indícios ou circunstâncias, durante a eleição (período compreendido
entre o registro da candidatura e a diplomação dos eleitos).
B. Inicial: Como a da AIJE, pode ser indeferida por falta de requisitos legais, pode ser
deferida pura e simplesmente, ou deferida com a concessão da suspensão inaudita altera pars do ato
que a motivou – apenas nos dois últimos casos abre-se o prazo para contestar. Destaca-se que se a
inicial vier acompanhada de fita de áudio e/ou de vídeo, inclusive com gravação de programa de rádio
ou de televisão, esta deverá ser devidamente degravada (isto é, colocar por escrito seu conteúdo), em
duas vias, e se tiver pedido “liminar” deve haver a cópia da referida fita.
C. Contestação: prazo de 48 horas para a apresentação, o investigado deve ser notificado
(citado); como sempre, os prazos são peremptórios e contínuos.
D. Parecer do MP: O juiz poderá enviar o feito para parecer do MP, que deverá ser proferido
em 24hs – vencido este prazo, com ou sem parecer, retornará ao Magistrado.
E. Testemunhas, Diligências e Alegações Finais: Somente se houver a necessidade de
produção de prova, além das já constantes na inicial, se for o caso – aliás, é muito rara neste tipo de
procedimento, mas quando cabível aplica-se subsidiariamente o rito da AIJE, com a adequação das
prazos.
F. Sentença: o julgamento deve ser feito em 24hs.
G. Recurso: O recurso e as contrarrazões devem ser interpostos no igual prazo de 24hs se for
para os plenos dos TREs e de 03 dias para o TSE. Os Tribunais deverão julgar os recursos em 48hs.
H. Resultado: Suspensão da irregularidade e, quando há previsão, aplicação de multa

DIREITO DE RESPOSTA
FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Art. 58 da Lei Eleitoral c/c Resolução do TSE.

OBS¹: Procedimento similar ao da Representação, inclusive sempre é regulado pela mesma Resolução
das Representações, mas possui algumas diferenças, especialmente, quanto aos prazos.

LEGITIMIDADE ATIVA

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Ministério Público Eleitoral (MPE), Partido ou Coligação (por seu representante legal), qualquer
Candidato, qualquer Ofendido em Programa Eleitoral Gratuito.

PROCEDIMENTO E PRAZOS
A. Interposição: o objeto da Reclamação é garantir o direito de resposta, sempre que possível,
até dois dias antes da eleição, mas admitem-se exceções para evitar grave ofensa ao Direito de
Resposta. Deverá ser proposta no prazo de 72 horas, a contar das 19h do dia em que circulou, acaso
veiculada a ofensa na imprensa escrita; se for em programa normal do Rádio e/ou da TV, tal prazo
passa para 48hs a contar de veiculação; no caso de programa eleitoral gratuito no Rádio e/ou da TV
será de 24hs também começando a contar de data e hora da veiculação.
B. Inicial: Mesmas determinações da inicial de Representação.
C. Contestação: prazo peremptório e contínuo de 24 horas para a apresentação.
D. Parecer do MP, Testemunhas, Diligências e Alegações Finais: Mesmas determinações
previstas na Representação.
E. Sentença: o julgamento deve ser feito em 72hs.
F. Recurso: O recurso e as contrarrazões devem ser interpostos no igual prazo de 24hs,
sempre. Os Tribunais deverão julgar os recursos em 48hs.
G. Resultado: Retirada da matéria/propaganda ofensiva, concessão de Direito de Resposta e,
por vezes, aplicação multa.

REPRESENTAÇÃO ESPECIAL (PARA APURAÇÃO DE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE


SUFRÁGIO, ARRECADAÇÃO E/OU GASTOS ILÍCITOS DE CAMPANHA, CONDUTAS
VEDADAS E DOAÇÃO IRREGULAR DE CAMPANHA)
FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Arts. 23, 30-A, 41-A, 73 e 81 da Lei Eleitoral c/c incisos I a XII do art. 22 da LC 64/09 e Resolução do
TSE.

LEGITIMIDADE ATIVA
Ministério Público Eleitoral (MPE), Partido ou Coligação (por seu representante legal), qualquer
Candidato.

PROCEDIMENTO E PRAZOS
A. Interposição: o objeto desta Representação é apurar todo e qualquer fato, a partir de provas
ou indícios, que implique em captação de sufrágio (compra de voto) durante a eleição ou uso e/ou
arrecadação de recursos eleitorais de possam implicar em abuso de poder econômico.
B. Inicial: Mesmíssimo encaminhamento da AIJE.
C. Contestação: prazo peremptório e contínuo de 05 dias para a apresentação após ser
notificado (citado).
D. Testemunhas, Diligências, Alegações Finais, Sentença: Mesmíssimos encaminhamentos da
AIJE.
OBS: Como sempre se envolver apenas matéria de Direito, passa-se direto da contestação à conclusão.
E. Recurso: O recurso e as contrarrazões devem ser interpostos no igual prazo de 03 dias. Os
Tribunais deverão julgar os recursos em 48hs.
F. Resultado: Cassação do registro da candidatura (ou do diploma se já concedido), multa
(nos casos em que houver previsão) e inelegibilidade por 08 anos a contar da eleição em tela (com as
seguintes exceções: conduta vedada em que somente for aplicada multa, não há inelegibilidade e a
inelegibilidade do doador irregular tão somente começa depois do trânsito em julgado da decisão
judicial condenatória).

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO (AIME)


FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Art. 14, § 3o CR c/c a LC 64/90.

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OBS: Esta ação, por previsão constitucional expressa, deve caminhar sob “segredo de Justiça”, além
de ser crime eleitoral interpor a mesma sem nenhum fundamento.

LEGITIMIDADE ATIVA
Ministério Público Eleitoral (MPE), Partido ou Coligação (por seu representante legal), qualquer
Candidato.

PROCEDIMENTO E PRAZOS
Prazo para interposição: 15 (quinze) dias após a diplomação.

Não há previsão legal expressa de qual rito caberia aqui, então, o TSE, por intermédio da Res.
n.º 21.635/04 – fartamente fundamentada em tese defendida por PEDRO HENRIQUE TÁVORA
NIESS – firmou posicionamento no sentido de que o procedimento a ser adotada é o da AIRC.
No entanto, é importante registrar que a interposição de uma AIME deve se basear nas
hipóteses previstas no §10 do art. 14 CR (mais precisamente: abuso de poder econômico, corrupção
e/ou fraude eleitoral).

RECURSO CONTRA A EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA (ACED/RCED)


FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Art. 262 do Código Eleitoral.

OBS: Em que pese este professor entender que se trata de uma ação, a Lei nº. 12.891/13, nominada de
Nanorreforma 2013, reiterou a condição de recurso, com a denominação de Recurso Contra a
Expedição de Diploma (RCED).

LEGITIMIDADE ATIVA
Ministério Público Eleitoral (MPE), Partido ou Coligação (por seu representante legal), qualquer
Candidato.

PROCEDIMENTO E PRAZOS
Interposição: 03 dias depois da diplomação.
No restante, seu procedimento segue igual ao do Recurso Eleitoral previsto nos arts. 265 e seguintes do
Código Eleitoral.

HIPÓTESES DE CABIMENTO
A Nanorreforma 2013 modificou as hipóteses de cabimento do RCED estipulando que este caberá tão
somente nos casos de: inelegibilidade superveniente, inelegibilidade de natureza constitucional e/ou de
falta de condição de elegibilidade – neste último caso suprindo uma antiga lacuna legislativa.

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