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CÓDIGO DE PROCEDIMENTO

ADMINISTRATIVO
Formadora: Francisca Moreira
PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
Tramitação Comum
TRÂMITE PROCESSUAL

FASE DE INICIATIVA AUDIÊNCIA DOS


INTERESSADOS

FASE DECISÓRIA
FASE DE INSTRUÇÃO
FASE DE
INICIATIVA
A fase inicial é aquela que desencadeia o procedimento
administrativo, podendo surgir:
- de iniciativa pública (através de um ato interno, se
através da Administração Pública); Se for a
Administração a iniciar deverá comunicá-lo às pessoas
cujos direitos/ interesses legalmente protegidos possam
ser lesados (110.º.1 CPA).
- de iniciativa privada (através de requerimento de um
particular interessado - art. 53.º do CPA).

- Do requerimento quer escrito, quer eletrónico devem


constar as menções indicadas pelo art.102º CPA.
O mecanismo fundamental para dar eficácia, é obrigar
a Administração a responder ao particular , previstas no
artigo 13º CPA, comportando 2 modalidades:
- dever de decisão ( uma vez colocado um
procedimento à Administração, esta deve responder
à mesma na sua totalidade - 13º.1. CPA);
- dever de resposta ( não obstante de haver
competência sobre o procedimento, o órgão não tiver
o dever ,sobre os termos do art. 13º.2, de dar resposta);
Desta fase pode também resultar a tomada de
Medidas Provisórias ( medidas que se mostrem
necessárias se houver justo receio de sem tais
medidas, se constituir uma situação de facto
consumado ou se produzirem efeitos de difícil
reparação para os interesses públicos/ privados
em presença → 89º.1 CPA). Qualquer alteração
deve ser fundamentada ( 89º.2,3 e 4 CPA) e
caducam segundo os termos do art. 90º CPA.
FASE DE
INSTRUÇÃO
A fase de instrução destina-se a averiguar os
factos que interessem à decisão final (arts. 115º a
120º CPA) e que se rege pelo princípio do
inquisitório, isto é, fase em que a administração
pública, sem a dependência da vontade dos
interessados, requer factos e esclarecimentos que
mais facilmente levem à tomada da melhor
decisão. (artigo 58ºCPA).
A direção do procedimento cabe ao órgão competente
para a decisão final, pelo que o CPA prevê três hipóteses
distintas (artigo 55º. 1 CPA):
● o órgão competente só dirige a instrução quando uma
disposição legal assim o ditar;
● fora os casos acima mencionados, a lei obriga o órgão
competente a delegar um subalterno;
● o diretor do procedimento pode incumbir um subalterno
a delegar apenas determinadas diligências instrutórias
específicas.
AUDIÊNCIA DOS
INTERESSADOS
É na fase de audiência dos interessados (arts. 121º - 125º
CPA) que se inserem os princípios da colaboração da
Administração com os particulares (artº11.1 CPA) e da
participação (art. 12º CPA), tendo a Audiência dos
Interessados dignidade constitucional -267º.5 CRP. É nesta
fase que se concretiza o direito de participação dos
cidadãos na formação das decisões que lhes dizem
respeito.
O CPA admite duas formas dos interessados serem
ouvidos no procedimento, antes de ser tomada a
decisão final:
- audiência escrita;
- audiência oral;

Uma vez que a lei não determina qualquer critério de opção do instrutor
pela audiência escrita ou oral, compete ao diretor do procedimento, que
goza de um poder discricionário, decidir se a audiência prévia dos
interessados deve ser escrita ou oral (art. 122º .1 CPA). Importa referir, que a
falta de audiência prévia do interessados, nos casos em que seja obrigatória
por lei, constitui uma ilegalidade e tem como consequência a anulabilidade
(art. 163º.1 CPA).
Casos em que a audiência pode ser dispensada: Existem
situações em que a audiência pode ser dispensada , se tal as
razões deverão ocorrer no caso concreto fundamentam a
dispensa da audiência ser expressa e autonomamente indicada
na decisão final ( 124º.2 e 126º). E também pelas situações do
art.124º.1 CPA.

Na fase de preparação da decisão a Administração pondera o


quadro traçado na fase inicial, a prova recolhida na fase de
instrução e os argumentos apresentados pelos particulares na
fase da audiência dos interessados. Posteriormente, o
procedimento é levado ao órgão decisório que pode ser: -
singular (emite um despacho); - colegial (emite uma
deliberação) → 125º e 126º CPA
FASE DECISÓRIA
É a fase que põe fim a todo o procedimento administrativo, tal
como qualquer facto do CPA que o acompanhem ( 93º CPA).
Salvo disposição em contrário, o procedimento pode terminar
pela prática de um ato administrativo ou pela celebração de
um contrato (art. 126º CPA). Caso termine pela prática de um
ato administrativo, todas as questões pertinentes, suscitadas
durante o procedimento e que não não tenham sido decididas
em momento anterior, devem ser resolvidas pelo órgão
competente (art. 94º nº1 do CPA).
O art. 123º CPA, remete-nos para a importância da divergência
entre o orgão decisor e o orgão instrutor, uma vez que as
decisões de ambos podem divergir. Quando for este o caso,
deve-se ter em conta se o órgão instrutor ouviu os interessados,
no processo de instrução. Caso não o tenha feito, deverá
marcar-se
uma nova audiência, de âmbito meramente instrutório.
Pode também dar-se a extinção do ato pelas seguintes causas:
- desistência/ renúncia dos interessados (131º CPA),
- deserção dos interessados ( 132º CPA);
- impossibilidade/ inutilidade superveniente (95º CPA);
- falta de pagamento de taxas ( 133º CPA);
- deferimento tácito ( 130º)
QUESTÕES

RESUMO -ESQUEMA
A que informação têm direito os diretamente
interessados?

Os diretamente interessados podem consultar


o processo?

E podem obter certidões?


Que atos devem ser notificados?

Como podem ser feitas as notificações?

Em que prazo devem ser feitas as


notificações?

O que deve constar das notificações?


O que sucede aos requerimentos que
apresentem deficiências?
APLICAÇÃO PRÁTICA DO
CPA
Resolução de Casos Práticos
1. António, agricultor no Alentejo, solicitou à Direção
Regional de Agricultura e Pescas uma autorização para
utilização de um produto fitofarmacêutico em algumas das
suas explorações agrícolas. Considerando que se vivem
tempos modernos, efetuou o requerimento através de uma
mensagem via a aplicação WhatsApp, dirigido ao Diretor
Regional Adjunto, seu amigo de infância. O início do
procedimento foi notificado ao vizinho de António, Hipólito,
também ele agricultor, mas reconhecido pelas suas
hortaliças de produção biológica. A notificação, sem
qualquer assinatura ou outra informação e apenas com o
timbre da Direção Regional, apenas mencionava o
seguinte:
“Ex.mo Senhor Hipólito, Fica V/ Exa. por esta via
notificado de que um seu vizinho solicitou, há́
alguns dias, abertura de um procedimento de
autorização para utilização de fitofármacos num
dos terrenos contíguos ao seu. O referido
procedimento concluir-se-á́, impreterivelmente,
no prazo de 90 dias, tendo V/ Exa. apenas direito
a ser informado da abertura e da conclusão do
presente procedimento, nos termos do disposto no
artigo 61.º do Código do Procedimento
Administrativo. Qualquer pedido da parte de V/
Exa. relativamente ao presente procedimento
será́ liminarmente indeferido.”
Perante esta notificação, Hipólito decidiu fazer uso
das adequadas garantias
administrativas. O que poderá́ ele alegar e
solicitar à Administração Pública?
Proposta de resolução:
António fez o pedido pelo WhatsApp ao Diretor Regional
Adjunto. Um procedimento inicia-se nos termos do artigo
102.º do CPA, onde se exige que seja feito um requerimento
inicial. Mesmo que o contacto fosse admissível, teria que ser
à entidade que ele coordena, nunca ao diretor. Este
requerimento só pode ser enviado, ainda, nos termos do
artigo 104º (por exemplo por transmissão eletrónica de
dados). Deve haver alguma formalidade, deve ter os
mínimos requisitos cumpridos, o requerimento tinha que ser
dirigido ao telemóvel coletivo em causa. Expõe-se os factos
(motivos do pedido) e faz-se o pedido formalmente
elaborado.
Referências: BUE (Artigo 62º), Balcão Único Eletrónico era a
plataforma que deveria existir para que este processo
acontecesse online (excetuando o e-mail).
Perante a notificação, Hipólito procura ajuda.
O início do processo, através do artigo 110º, é notificado às
pessoas cujos interesses protegidos possam ser lesados e
subliminarmente identificados. O objeto da notificação é o
pedido da licença.
Tem que ter acesso aos processos pelo principio da
administração aberta, consagrado no artigo 17º.
Amílcar, proprietário de uma emissora de rádio – a FM
Noticias –, requereu à Ministra da Cultura o acesso ao
exercício da atividade de rádio. Em resposta, recebeu
uma notificação do gabinete da Secretaria de Estado
da Comunicação Social para se pronunciar, em sede e
audiência prévia, sobre a decisão de concessão de
uma licença a outra emissora de rádio que não a sua –
a Rádio Explosiva. Mais se informava que Amílcar teria 5
dias para responder à notificação.
Perante esta situação, Amílcar considerou ser a notificação um engano dos
serviços e não apresentou qualquer resposta. Passados dois anos sem nunca
mais ter sido notificado sobre a conclusão ou sequer o andamento do
procedimento, apresentou, junto do gabinete da Secretária de Estado um
requerimento para consultar a documentação relativa ao seu
procedimento. Foi então notificado de que, além da Secretária de Estado
ter sido substituída, todo o processo tinha sido encaminhado para a
Entidade Reguladora da Comunicação (ERC), que era o organismo público
responsável pelas concessões de licença de radiodifusão. Em conclusão, a
nova Secretária de Estado não tinha qualquer obrigação de prestar
informações ou esclarecimentos. Ao saber disto, Amílcar entrou em
contacto com a ERC, que o informou que o seu procedimento já́ tinha sido
concluído, tendo sido concedida licença à Rádio Explosiva, que se
encontrava já́ em funcionamento há́ quase dois anos. Atormentado com
estas noticias, Ananias pediu para consultar o processo e qual não foi o seu
espanto quando, ao ver as assinaturas, se apercebeu que não eram as suas.
Analise as situações juridicamente relevantes
respeitantes ao procedimento administrativo
“(…) a nova Secretária de Estado não tinha qualquer obrigação
de prestar informações ou esclarecimentos.” - o princípio da
colaboração dos particulares, que define que à Secretaria de
Estado cumpre sempre dar a mínima satisfação aos particulares.
Mesmo o gabinete da SE tinha que prestar essas informações.
“Ao saber disto, Ananias entrou em contacto com a
ERC, que o informou que o seu procedimento já́ tinha
sido concluído, tendo sido concedida licença à
Rádio Explosiva, que se encontrava já́ em
funcionamento há́ quase dois anos.” - está
novamente em causa o princípio da decisão, uma
vez que se espera que a administração tome uma
decisão sobre o requerimento do particular, e para
além disso, poderia posteriormente o próprio fazer-se
valer do princípio da responsabilidade.
A empresa “Ventoinhas Somos Nós, S.A.” deu
entrada com um pedido de licenciamento de um
parque eólico junto da Direcção-Geral de Energia e
Geologia (a “DGEG”). Transcorridos cerca de 90 dias
depois da entrada do requerimento, a DGEG
indeferiu liminarmente o pedido formulado
sustentando as seguintes razões:
• O pedido formulado não incluiu todos os elementos
necessários para a sua apreciação – faltando
inclusivamente a certidão de registo comercial da
sociedade “Ventoinhas Somos Nós, S.A.”;

• Foi solicitado parecer à Agência Portuguesa do


Ambiente a qual não se chegou a pronunciar pelo
que, em todo o caso, o licenciamento solicitado não
poderia ser deferido.

Aprecie criticamente a argumentação avançada


pela DGEG a propósito do requerimento
apresentado.
EFICÁCIA DOS ATOS
ADMINISTRATIVOS
De modo a que o ato administrativo seja válido e eficaz, tem
que acatar determinadas exigências de validade e de
eficácia, que não se confundem. Acontece que a validade
de um ato não importa a sua eficácia, nem a sua eficácia
importa a sua validade

Validade → a aptidão intrínseca do ato administrativo para


produzir os efeitos jurídicos correspondentes ao tipo legal a
que pertence, em consequência da sua conformidade com
a ordem jurídica;

Requisitos de Validade: Quanto aos sujeitos, questões de


forma e formalidades; quanto ao objeto; quanto ao fim.
Para um ato administrativo ser eficaz, logo, produzir efeitos
jurídicos, têm que se verificar condições diversas. Salientamos
novamente a irrelevância da validade do ato para a sua
eficácia e vice-versa. De acordo com o princípio da
imediatividade dos efeitos jurídicos, os atos produzem efeitos
jurídicos a partir do momento em que são praticados, salvo nos
casos especificados na lei (155º.1 CPA).
Este momento dá-se quando são identificados os sujeitos e o
objeto do ato ( 155º.2 CPA). Uma das grandes exceções a esta
regra geral está prevista no 156º.1 CPA, relativamente a atos com
eficácia retroativa, que produzem efeitos antes do momento da
sua prática. As situações em que a eficácia retroativa do ato é ou
não atribuída ao mesmo pelo seu autor encontram-se previstas no
156º.2 CPA. Outra exceção à norma geral, porém
diametralmente oposta à da eficácia retroativa, é a da eficácia
diferida ou condicionada, consagrada no 157º CPA, na qual os
atos produzem efeitos em momento posterior ao da sua prática.
O CPA exige que os atos cuja publicação seja exigida por lei
sejam publicados, por modo a garantir a sua eficácia (158.2) e o
conhecimento dos mesmos pelos seus destinatários.
TIPOS DE VÍCIOS
DO ATO
ADMINISTRATIVO
i) Usurpação de poder : vício que consiste por um
órgão administrativo de um ato incluído nas
atribuições do poder legislativo, do poder
moderador ou poder judicial;
ii) Incompetência: prática de um ato por um órgão, ato
este incluído nas atribuições ou competências de outro
órgão da administração.
iii) Vícios de forma /ilegalidade formal: consiste na
preterição de formalidades essenciais ou carência de
forma legal.
iv) Violação de Lei:
v) Desvio de poder:
vi) Falta de legitimação do sujeito
i) Usurpação de poder : vício que consiste por um
órgão administrativo de um ato incluído nas
atribuições do poder legislativo, do poder
moderador ou poder judicial;
ii) Incompetência: prática de um ato por um órgão, ato
este incluído nas atribuições ou competências de outro
órgão da administração.
iii) Vícios de forma /ilegalidade formal: consiste na
preterição de formalidades essenciais ou carência de
forma legal.
iv) Violação de Lei:
v) Desvio de poder:
vi) Falta de legitimação do sujeito
FORMA DA ILEGALIDADE

• Nulidade (161º CPA)


• Anulabilidade(163º CPA)
• Irregularidade
APLICAÇÃO PRÁTICA DO CPA

Resolução de Casos Práticos


O regulamento n.º 364/2022, de 12 de abril, estabelece as normas
de atribuição do incentivo à natalidade - «Cheque Bebé» no
Município de Santa Comba Dão. Nos termos deste regulamento,
têm legitimidade para requerer o incentivo
a) Em conjunto, ambos os progenitores, caso sejam casados ou
vivam em união de facto, nos termos da lei; ou
b) O/a progenitor/a que, comprovadamente, tenha a guarda da
criança.
Para além disso, o incentivo à natalidade deverá ser requerido até
180 dias após o nascimento da criança e a candidatura deve ser
instruída com: a) Cópia da certidão de nascimento da criança ou
documento comprovativo do registo da criança; b) Cópia do
bilhete de identidade e do documento de identificação fiscal ou
cartão de cidadão do/a requerente ou requerentes; c) Certidão
de não dívida às Finanças e à Segurança Social
Antonieta, casada com Bernardo, requereu ao
Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão
a atribuição do incentivo à natalidade “Cheque Bebé”,
em virtude de ter sido mãe há seis meses. O Presidente
da Camara Municipal indeferiu o requerimento de
Antonieta, pelo facto de esta não ter instruído a sua
candidatura com a certidão de não dívida às Finanças e
à Segurança Social e pelo facto de a candidatura ter

sido apresentada fora do prazo devido.


Antonieta, recorreu da decisão do Presidente da Câmara
Municipal de Santa Comba Dão junto da Câmara
Municipal de Santa Comba Dão, por entender que a
certidão mencionada se encontra em poder da
Administração e também por considerar que a
candidatura foi apresentada dentro do prazo devido.

Sabendo que, nos termos do art. 11.º do regulamento n.º


364/2022, de 12 de abril, a competência para aprovar os
pedidos de atribuição de incentivo à natalidade é da
Câmara Municipal de Santa Comba Dão, responda às
seguintes questões:
1. A atuação do Presidente da Câmara
Municipal de Santa Comba Dão é válida?

2. Antonieta podia recorrer para a Câmara


Municipal de Santa Comba Dão da atuação
do seu Presidente?
1. Vício de incompetência relativa, porque, não havendo
delegação de poderes, a competência para aprovar os
pedidos de atribuição de incentivo à natalidade é da
Câmara Municipal, consequentemente o desvalor jurídico
deste ato é a anulabilidade nos termos do art. 163.º, n.º 1,
do CPA. Havia um dever de remessa do requerimento para
o órgão competente - art. 109.º, n.º 2 do CPA e art. 41.º do
CPA.
- Candidatura não instruída com a certidão de não dívida
às Finanças e à Segurança Social –
falta de um dos requisitos de apresentação da
candidatura, logo, há motivos para o
indeferimento do pedido – discutir a aplicação do art.
108.º, n.º 1 do CPA.
(Não está em causa
a aplicação do art. 116.º, n.º 2 do CPA.)
- Apresentação da candidatura fora do prazo – este
argumento não é procedente, porque os
prazos administrativos contam-se nos termos do art. 87.º do
CPA, suspendendo-se nos
sábados, domingos e feriados (art. 87.º, alínea c) +
entendimento da doutrina que os prazos
indicados em meses, no caso seis meses, devem ser
convertidos para, no caso, 180 dias. Logo,
não existe uma extemporaneidade do pedido, nos termos
do art. 109.º, n.º 1, d), do CPA.
- Falta de legitimidade da requerente que, estando
casada, deveria ter apresentado o requerimento em
conjunto com o marido, nos termos do regulamento n.º
364/2022, de 12 de abril. Logo, o requerimento poderia ser
indeferido por estes motivos - art. 109.º, n.º 1, c), do CPA.
2. Recurso administrativo especial art. 199.º, n.º 1, alínea b),
pode ocorrer nos casos expressamente previstos na lei.
Requisitos- legitimidade (art. 186.º, n.º 1, alínea a) do CPA;
impugnabilidade – art. 199.º, n.º 1, alínea b) do CPA;
oportunidade – art. 193.º, n.º 2 do CPA ex vi art. 199.º, n.º 5,
do CPA. Competência para anular o ato administrativo do
Presidente da Câmara Municipal é do órgão competente,
ou seja, da Câmara Municipal – art. 169.º, n.º 6 do CPA.
Procedimento administrativo decisório de segundo grau.
No rescaldo da pandemia, a FCT, I.P. elaborou o
Regulamento n.º 332-A/2022, de 31 de março, que dispõe
sobre o regime de teletrabalho nas suas atividades.
Os n.ºs 1 e 2 do artigo 2.º rezam que:
“1 — O regime instituído pelo presente Regulamento é
aplicável ao universo de trabalhadores da FCT,
independentemente de o vínculo contratual existente ser
de natureza pública ou privada.
2 — A prestação de trabalho em regime de teletrabalho
pode ser realizada pelos trabalhadores da FCT cujas
funções sejam compatíveis com a ausência física do
trabalhador.”
Para requerer o regime de teletrabalho, o interessado
deve endereçar um requerimento ao seu superior
hierárquico e aos serviços de Gestão de Recursos
Humanos, seguindo-se parecer fundamentado do
superior hierárquico sobre a elegibilidade do trabalhador.

Joana, trabalhadora da FCT, seguiu todos os trâmites


previstos no regulamento, mas deparou-se com uma
decisão do seu superior hierárquico em sentido negativo,
baseada em parecer negativo do mesmo.
Ao ter acesso ao parecer, Joana não consegue extrair os
motivos da recusa. Reclama, então, da decisão, para o
Conselho Diretivo da FCT, I.P., que escreveu que “a
competência foi legalmente exercida”, que o superior
hierárquico “não é obrigado a justificar a sua decisão” e que,
de todo o modo, a função de Joana exigia a permanência no
local de trabalho.
Nota: A decisão de admissão no regime é da competência do
Conselho Diretivo da FCT, I.P., nos termos do n.º 4 do artigo 3.º
do Regulamento. Responda, de forma completa e
fundamentada, às questões que se seguem:
a) A atuação do superior hierárquico é válida?

b) Aprecie a legalidade da atuação do Conselho Diretivo.

c) Imagine que Joana vem alegar que apenas 1/3 dos


trabalhadores tinham sido ouvidos no procedimento do
regulamento e que a FCT, I.P. não poderia ter preterido a
audição de todos. Como aprecia esta reivindicação?
a) Joana não consegue extrair os motivos da recusa: falta de
fundamentação da decisão: obrigatória pelo artigo 151.º,
n.º 1, alínea d) + artigo 152.º, n.º 1, alínea a) + artigo 153.º do
CPA. Desvalor: discussão entre anulabilidade (163.º, n.º 1) e
nulidade (161.º, n.º 2, alínea d) do CPA) e respetivo regime;
b) A decisão, tomada pelo superior, é competência do
Conselho Diretivo – estamos perante incompetência
relativa, logo, o ato administrativo é inválido (anulável), nos
termos do artigo 163.º, n.º 1 do CPA. De acordo com o
artigo 40.º, n.º 1 do CPA, o princípio do autocontrolo da
competência exige que o superior hierárquico verificasse a
sua incompetência para a questão.
b) A competência não foi legalmente exercida, logo, o
Conselho Diretivo não tem razão no primeiro ponto (remissão
para a resposta à questão anterior);

• Há um dever de fundamentação da decisão, logo, o


Conselho Diretivo não tem razão quanto ao segundo ponto
(remissão para a resposta à questão anterior);

• Em virtude do princípio do autocontrolo da competência


(artigo 40.º, n.º 1 do CPA), o Conselho Diretivo devia ter
concluído, aquando da reclamação de Joana, que era o
órgão competente para decidir;
• O Conselho Diretivo argumentou a impossibilidade de
deferir o pedido de Joana com o artigo 2.º, n.º 2 do
Regulamento. O regulamento administrativo contém
normas, caracterizando-se pela generalidade e
abstração (artigo 135.º do CPA), servindo como fonte
legal para a prática de atos administrativos, logo, o ato
administrativo não pode dispor em sentido contrário ao
regulamento (princípio da inderrogabilidade singular dos
regulamentos – 142.º, n.º 2, do CPA). O Conselho Diretivo
tem razão em não aceder ao pedido de Joana.
c) Não se trata de uma situação de consulta pública
obrigatória (artigo 100.º, n.º 3, alínea c) + artigo 101.º, n.º
1, 1.ª parte).
Este regulamento afeta de modo direto e imediato
direitos ou interesses legalmente protegidos dos
cidadãos (artigo 100.º, n.º 1, 1.ª parte), logo, o projeto
de regulamento é submetido à audiência dos
interessados que como tal se tenham constituído no
procedimento (artigo 100.º, n.º 1, 2.ª parte) – em prazo
razoável, não inferior a 30 dias.
• Discutir a aplicabilidade da alínea d) do n.º 3 do
artigo 100.º do CPA. Referir a discricionariedade da
decisão administrativa (proémio do n.º 3). Referência,
também, ao n.º 4.
MUITO OBRIGADA PELA
VOSSA ATENÇÃO!

Dúvidas?
franciscamoreira.adv@gmail.com

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