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As intimações no contencioso

administrativo
Artigos 104º a 111º do CPTA
• (i) A intimação para a prestação de informações, consulta de processos
ou passagem de certidões;

• (ii) A intimação para a proteção de direitos liberdades e garantias.

• Concretização do princípio da tutela jurisdicional efetiva: acesso dos


cidadãos a uma tutela plena e efetiva, que se traduz na emissão de uma
decisão em prazo razoável, artigos 20º nº4 e 5, 268º nº4 da CRP e 2º nº1
do CPTA.
Intimação para a prestação de informações, consulta de processos ou
passagem de certidões, artigos 104º a 108º do CPTA

• Forma de processo: processo declarativo urgente, art. 36º nº1 d) do CPTA

• Concretização do art. 268º nº1 e 2 da CRP (que tem natureza análoga aos direitos, liberdades e
garantias, art. 17º da CRP)

• Abrange: a prestação de informações, consulta de processos e a reprodução mecânica de


documentos

• Utilização como meio acessório / instrumental, quando se destine exclusivamente à obtenção de


dados necessários ao uso de meios de impugnação administrativa ou jurisdicional, artigo 104º nº2
do CPTA.
Art. 104º
Objeto
“1- Quando não seja dada integral satisfação a pedidos formulados no exercício
do direito à informação procedimental ou do direito de acesso aos arquivos e
registos administrativos, o interessado pode requerer a correspondente
intimação, nos termos e com os efeitos previstos na presente secção.”

• Consagra direito à informação procedimental – informação sobre o andamento dos


procedimentos e o conhecimento das decisões, factos atos ou documentos que integram ou
resultam de um concreto procedimento administrativo que se encontre ainda em curso;

• E consagra o direito à informação não procedimental / extra procedimental – direito de


acesso aos arquivos e registos administrativos em procedimentos já terminados,
independentemente com a correlação com outro procedimento administrativo que esteja
pendente. Art. 268º nº3 da CRP. Reflexo do princípio da administração aberta do art. 17º
do CPA.
Pressupostos

(P1) Interesse em agir / necessidade de tutela judicial


existência de requerimento previamente apresentado à entidade
administrativa competente para fornecer a informação;

(P2) e verificação de um dos factos do nº2 do art. 105º do CPTA:


a) Decurso do prazo legalmente estabelecido, sem que a entidade
requerida satisfaça o pedido que lhe foi dirigido;
Ou b) Indeferimento do pedido;
Ou c) Satisfação parcial do pedido.
Legitimidade

• Legitimidade ativa: 9º nº1 e 104º nº1 do CPTA


do interessado no procedimento, 82º nº1, 83º nº1 e 85º do CPA;
se informação extra-procedimental – não há necessidade de invocação de
qualquer interesse. Princípio da administração aberta, arts. 2º e 12º da LADA;
do Ministério Público no exercício da ação pública, art. 104º nº2, 2ª pt CPTA

• Legitimidade passiva: contra a pessoa coletiva de direito público, o


ministério ou a secretaria regional competente para o acesso à informação,
art. 105º nº1 e 10º do CPTA;
Tempestividade, art. 105º nº2 do CPTA

A administração tem o dever de responder no prazo de 10 dias, art. nºs 82º nº3, 84º nº1 e 86º nº1 do CPA.

Assim, o interessado pode recorrer a este meio no prazo de 20 dias contados a partir:
(1) do término do prazo fixado para a Administração responder;
(2) ou do indeferimento do pedido;
(3) ou da satisfação parcial do pedido.

Se o interessado optar por não deduzir pedido de intimação 20 dias após a ausência de resposta da
administração (1), este ainda poderá aguardar pela resposta e caso o seu pedido seja indeferido (2) ou
parcialmente satisfeito (3), colocar a ação no prazo de 20 dias.

Em caso de resposta do tribunal, a ação caduca por inutilidade superveniente da lide.


Queixa à CADA, arts. 12º e ss da LADA

• Meio facultativo;

• Na falta de resposta da entidade a que foi dirigido o pedido, no prazo de


10 dias, no caso de indeferimento ou satisfação parcial ou decisão
limitadora de pedido, no prazo de 20 dias. Pode o administrado fazer
queixa à CADA, arts. 15º e 16º da LADA;

• Se houve queixa à CADA, interrompe-se o prazo do art. 105º nº2 do CPTA


(art. 16º nº2 da LADA).
Competência territorial

• Tribunal da área onde deva ter lugar a prestação, consulta ou


passagem de certidão pretendida, art. 20º nº4 do CPTA.
Tramitação e decisão, art. 107º e 108º do
CPTA
Quando recebido o documento de intimação apresentado pelo autor a secretaria promove
oficiosamente a citação da entidade demandada e dos contrainteressados para
contestação no prazo de 10 dias, art. 107º nº1 do CPTA;

Apresentada a contestação ou decorridos os 10 dias e concluídas as diligências


necessárias, o juiz profere decisão no prazo de cinco dias, art. 107º nº2 do CPTA;

O juiz determina o prazo para cumprimento da intimação que não pode ultrapassar os 10
dias, art. 108º nº1 do CPTA;

O juiz pode aplicar sanção pecuniária compulsória em caso de incumprimento, art. 108º
nº2 do CPTA.
Intimação para a proteção de direitos liberdades e
garantias, artigos 109º a 111º do CPTA

• Processo declarativo urgente, artigo 36º nº1 e) do CPTA


“1 - A intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias pode ser requerida quando a
célere emissão de uma decisão de mérito que imponha à Administração a adoção de uma conduta
positiva ou negativa se revele indispensável para assegurar o exercício, em tempo útil, de um
direito, liberdade ou garantia, por não ser possível ou suficiente, nas circunstâncias do caso, o
decretamento de uma providência cautelar.”

• Não só o cumprimento da tutela do artigo 20º nº5 da CRP, mas todos os direitos liberdades e
garantias

• Acórdão do STA de 30 de Maio de 2023


Processo: 0237/13
Relator: Costa Reis
“ O legislador do CPTA acolheu uma formulação do citado normativo que admite a possibilidade de
outros direitos que não os direitos, liberdades e garantias fundamentais ou análogas merecerem
protecção célere e por meios processuais expeditos, isto é, quis adoptar um conceito que
abrangesse um maior número de direitos do que os indicados no art.º 20.º/5 da CRP.
Daí que se tenha de concluir que o processo previsto no art.º 109.º do CPTA se aplica à protecção
de todos os direitos, liberdades e garantias desde que, como é evidente, se reúnam os requisitos
nele previstos…”
• Título II da Parte I da CRP
direitos, liberdades e garantias pessoais, artigos 24º a 47º
de participação política, artigos 48º a 52º
dos trabalhadores, artigos 53º a 57º
• direitos fundamentais de natureza análoga, artigo 17º da CRP, não só
os do Título III da Parte I mas também os que se encontram dispersos
pelo texto constitucional
• e aqueles que resultem de lei ou norma internacional que vincule o
Estado português, por via da cláusula aberta do artigo 16º nº1 da CRP
Pressupostos
(P1) proteção de direitos, liberdades e garantias;

(P2) celeridade da necessidade de tutela impõe uma decisão de mérito que se revela
indispensável para assegurar o exercício de um direito, liberdade ou garantia, sob pena da
lesão irreversível desse direito;

(P3) indispensabilidade do meio processual, por não ser possível assegurar o exercício do
direito através de providência cautelar.

Mário Aroso de Almeida: “Não bastará a mera invocação genérica de um direito, liberdade
ou garantia, impondo-se a descrição factual da sua ofensa ou preterição que possa assim
justificar a atuação do tribunal através de um processo célere na condenação da
Administração à adoção ou abstenção de uma conduta que permita ao requerente o
exercício desse direito.”
• Tempestividade

A intimação pode ser colocada a todo o tempo, não estando sujeita a prazo de
caducidade.

Mas, o que dizer de situações que se prolongam no tempo? Em que há uma lesão
continuada de um direito fundamental?
Mário Aroso de Almeida e Carlos Cadilha: “o recurso à intimação só se justifica se
for o único meio útil que permita evitar a lesão do direito, pelo que está
relacionada com uma situação de urgência”
Não faz sentido que possa ser utilizada perante uma situação continuada ou
concretizada de um direito fundamental.
Muito menos poderá ser interposta como forma de contornar a lei, devendo
respeitar os prazos respetivos da correspondente ação, conforme estejamos
perante os casos do artigo 58º ou 69º do CPTA.
Acórdão do STA, de 10/09/2020
• Processo 01798/18.5BELSB
• Relator: Maria Benedita Urbano
“Não há dúvida que, em abstracto, se pode afirmar que o decurso do tempo prejudica a satisfação
de um direito ameaçado e que a busca tardia da via judicial e, mais especificamente, da tutela
urgente, pode ser sintomática da falta de urgência dessa mesma tutela. Ocorre, no entanto, que, ao
decidir como decidiu, o acórdão recorrido erigiu a “urgência” como pressuposto autónomo das
intimações para protecção de direitos, liberdades e garantias e, mais do que isso, concebeu-o de
acordo com uma visão puramente cronológica, capaz de, per se, afastar a aplicação desta via
processual. Ora, atentando no teor do artigo 109.º do CPTA, e não obstante se reconhecer que se
trata de um meio de tutela urgente, constata-se que essa orientação nele não encontra
correspondência. Erigir a urgência como pressuposto autónomo do meio processual em apreço
implica ignorar as “circunstâncias do caso”, designadamente, o tipo de direito ameaçado por um
prejuízo irreparável, o tipo de ameaça (iminente actual ou iminente latente), a ocorrência de factos
lesivos supervenientes; ignorar, ainda, se a lesão do direito causa prejuízo apenas a esse direito ou
se produz consequências danosas em outros direitos (ou seja, a lesão de um direito pode ocasionar a
lesão de outros direitos, o que também terá repercussão numa “contagem de tempo” entre o acto
lesivo e a propositura da acção). Acresce a isso que concluir que um recurso “tardio” à via judicial e
à tutela urgente significa necessariamente que, afinal, não se coloca a condição de urgência implica
especular sobre os motivos que levaram o A. da acção a não procurar a via judicial imediatamente
após a lesão do direito.”
(P3) Subsidiariedade da intimação – pressuposto negativo, art.
109º nº1, 2ª parte

• O recurso à intimação só se justifica se não for possível ou suficiente o decretamento de


uma providência cautelar.

Acórdão do TC 5/2006
Processo n.º 912/05
Relator: Conselheiro Mário Torres
Não julgou inconstitucional a subsidiariedade da intimação face à tutela cautelar à luz do
princípio da tutela jurisdicional efetiva. Concluindo que a relação de subsidiariedade e a
forma como estava configurada, ao abrigo da margem de conformação conferida ao
legislador, não configurava uma limitação excessiva no acesso à tutela jurisdicional efetiva,
que se justifica pela necessidade de racionalização do sistema e dos meios processuais, antes
visa a efetiva concretização daquele princípio. O critério do artigo 109º radica na adequação
do meio processual.
Legitimidade

• Legitimidade ativa: artigos 9º e 109º nº1 do CPTA, titulares de


direitos, liberdades e garantias objeto de lesão ou potencial lesão
(12º e 15º da CRP).
Existindo autores que pela transversalidade do meio aplicam aqui os
critérios específicos da legitimidade processual caso a pretensão fosse
deduzida através de uma ação administrativa.

• Legitimidade passiva: artigos 10º nº1, 109º nº2 e 10º nº9, a


contraparte (seja a Administração ou os concessionários / particulares
nos termos do 37º nº3 do CPTA) e os contrainteressados.
Convolação em providência cautelar, artigo
110ºA
• Princípio do dispositivo vs Princípio de gestão processual

• Consagra expressamente a faculdade de o juiz poder convolar a intimação em providência


cautelar a título provisório. Assim, sempre que o juiz, em face das circunstâncias do caso
concreto, entenda que o direito não fica comprometido, e que portanto é subsidiária a intimação;
• Nº1 ‘urgência normal’ – o juiz no despacho liminar notifica o Autor para substituir a PI por forma a
requerer uma Providência Cautelar;
• Nº2 ‘especial urgência’ no despacho liminar o juiz decreta a Providência Cautelar;
• Nº3, evitam-se eventuais críticas à violação do Princípio do dispositivo, uma vez que notificado o
autor, é este que irá requerer a PC e poderá este escolher a PC que melhor corresponda aos seus
interesses (sem prejuízo das faculdades do juiz em sede de providências cautelares, nos termos
do artigo 120º nº3 do CPTA).
Tramitação processual
• Mário Aroso de Almeida: “modelo polivalente ou de geometria variável” o juiz
pode modelar a tramitação em função da urgência, poder-dever do juiz em
face da proteção dos direitos fundamentais;

• No despacho liminar o juiz deve definir qual o modelo de tramitação irá adotar,
art.111º nº1;

• Há sempre lugar a contraditório.


110º CPTA
Modelo Normal (nº1) Modelo mais lento que o Modelo Rápido (nº1 + Modelo Ultrarápido (nº1
Normal (nº2) nº3 a)) + nº3 b) e c))
(depende da (lesão iminente e (lesão iminente e
complexidade da irreversível) irreversível do direito)
questão)
Juiz profere despacho Tramitação do Título II, O juiz pode: b) Audição do requerido
liminar em 48h; Capítulo III, dos artigos a) Reduzir o prazo de por qualquer meio;
Admitida a citação, 78º e ss, com prazos resposta de 7 dias; c) Tomar a decisão de
notifica a outra parte reduzidos a metade. imediato, mediante
para responder em 7 audiência oral.
dias.
Decisão e efeitos, 111º do CPTA
• Nº1: o juiz decide a tramitação processual e prazos (em não mais de 5 dias);

• Nº3 e 36º nº2: na decisão o juiz determina o comportamento concreto a adotar e seu
responsável e fixa o prazo para o seu cumprimento, veja-se o nº2 do artigo 111º do CPTA.
Esta notificação da decisão é feita de imediato, 111º nº3 e 36º nº2 do CPTA;

• Afasta a regra geral da execução para a prestação de facto do artigo 162º nº1 do CPTA;

• Nº4: pode ainda o juiz determinar uma sanção pecuniária compulsória ou até mesmo vir a
ser determinada, oficiosamente ou a requerimento da parte, o apuramento de
responsabilidade civil, disciplinar e / ou criminal;

• 109º nº3: regra geral a sentença é condenatória mas pode ser substitutiva, quando o
particular pretenda a emissão de um ato estritamente vinculado, designadamente a
execução de um ato administrativo já praticado.
Recurso (processos urgentes) 147º CPTA

• 142º nº3 a): é sempre admissível recurso dos pedidos de intimação; efeito
meramente devolutivo;

• Nº1: prazo de 15 dias com subida imediata;

• Nº2: prazos reduzidos a metade e o julgamento do recurso tem prioridade


face aos outros processos;

• 142º nº1: se a intimação for procedente, aí sim atende-se ao valor da causa.


Só há recurso quando o valor superior a metade da alçada do tribunal.

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