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1.Introdução ao caso
Adão e Berta reabilitaram um imóvel, do qual pretendem fazer um hostel. Por terem
fracassado numa experiência anterior, querem que a Administração faça a gestão do
hostel, sendo que Adão e Berta ficariam apenas em posição reativa. Por outras
palavras, pretendiam que fosse a Administração Pública a iniciar o procedimento
administrativo, como ato interno, sem que Adão e Berta tenham que interferir. No
entanto, terão que ter uma posição proativa, pois são eles mesmos, enquanto
particulares interessados, que têm de iniciar o procedimento administrativo, através de
requerimento.
2.1. Questão 1)
2.2. Questão 2)
2.3. Questão 3)
2.4.Questão 4)
2.5. Questão 5)
A esta fase, a da decisão, aplicam-se os artigos 13º, 93º a 95º e 126º a 134º do
Código do Procedimento Administrativo.
Do art. 93º CPA retira-se que o procedimento se extingue com a tomada de decisão
ou outra causa tipificada no código. Contudo, afere-se do nº1 do art. 95º que o
procedimento é declarado extinto se a finalidade ou objecto se tornarem impossíveis
ou inúteis. Sendo o objecto deste procedimento um hostel oitocentista no Chiado, zona
que ficou completamente arrasado por um terramoto, este tornou-se impossível.
Assim, considera-se, de facto, o procedimento extinto, mediante declaração
fundamentada pelo órgão competente para a decisão (neste caso, a Câmara Municipal
de Lisboa).
2. Afinal o cenário fatídico não se verificou, tinha sido apenas um pesadelo de
Adão e a vida corre normalmente. Contudo, atingido o prazo para a decisão a
Administração Pública não se pronuncia. Qual a consequência?
A contagem de prazos para a decisão da AP está prevista no art. 128º nº1 CPA. O
mesmo diz-nos que os procedimentos de iniciativa particular devem ser decididos no
prazo de 90 dias (salvo se outro prazo decorrer da lei). O director do procedimento
pode prorrogar este prazo nos termos da segunda parte do mesmo artigo, 128º, nº1.
Como tal facto não se verificou, o órgão competente para a decisão (CML) está a
incumprir o dever de decisão (art. 13º). Pelo art. 129º, Adão e Berta têm, assim, a
possibilidade de recorrer aos meios de tutela administrativa e jurisdicional adequados
para corrigir a situação (ausência de decisão).
O incumprimento do dever de informação não origina deferimento tácito uma vez que
o art. 128º não o prevê e este apenas ocorre quando a lei assim determine.
4. Carlos vem mais tarde notar que, tendo em conta que o hostel se encontra
numa área que já detém plano de pormenor, não é necessário licenciamento, mas
apenas uma comunicação prévia. O que significa isto, procedimentalmente?
Procedimentalmente, quer isto dizer que para Adão e Berta verem produzidos os
efeitos jurídicos do seu interesse (o licenciamento e consequente abertura do hostel)
não precisam de percorrer todas as fases do procedimento e aguardar a tomada de
decisão pelo órgão decisor. Desde que se encontrem preenchidos os pressupostos
legais e regulamentos exigidos pelo “plano de pormenor” referido no enunciado, os
interessados apenas têm de comunicar tal facto ao órgão competente, previamente ao
início da actividade. Aplica-se, nesta situação, o art. 134º.
Caso seja estipulado, por lei, um prazo para a comunicação prévia estamos perante
uma comunicação prévia com prazo. No silêncio da lei, relativamente ao prazo,
estamos perante a figura da mera comunicação prévia. As duas distinguem-se na
medida em que na segunda (mera comunicação) a actividade económica pode ser
iniciada de imediato enquanto que na comunicação com prazo é necessário aguardar
o término do mesmo.
Quanto ao procedimento que até aqui já tinha decorrido, Adão e Berta podem desistir
ou desertar o mesmo, nos termos dos arts. 131º/1 e 132º/1, respectivamente.
Tratando-se de uma comunicação prévia, caso a AP nada diga não viola o dever de
decisão, mas também não se forma deferimento tácito (art. 134º, nº3), pois este último
é revogável (nos termos do art. 167º, nº 2, por estarem sujeitos ao regime dos actos
constitutivos de direitos) ao contrário da comunicação prévia. Esta está apenas sujeita
a medidas de fiscalização e defesa da legalidade à posteriori.
Não existe invalidade do regulamento alterado, existe sim uma ineficácia jurídica
relativamente ao caso concreto.
3) Do modo como resolvi o caso quem iria revogar o regulamento seria a ANPC e
deste modo deve ser aplicável o artigo 146 CPA que irei de seguida explicar.
Se o ato não observar requisitos de validade, este ato é inválido, pode ser contestado
perante a própria Administração, e perante os tribunais.
Durante muitos anos, a ilegalidade era considerada a única fonte de invalidade, todo
ato administrativo ilegal era inválido, e vice-versa. Hoje em dia, existem outras fontes
de invalidade, tais como: ilicitude, vícios de vontade, entre outras.
As formas de ilegalidade dos atos administrativo são conhecidas por Vícios do ato
administrativos. As ilegalidades, podem ser de natureza orgânica, formal, ou material.
1. Usurpação de poder
2. Incompetência
3. Vício de forma ou ilegalidade formal
4. Violação de lei
5. Desvio de poder
6. Falta de legitimação do sujeito
Divide se em:
Usurpação do poder legislativo: ex: criação de impostos pelo ministro, através de
despacho ministerial ou deliberação camararia.
2. Incompetência: pratica de um ato por um órgão, ato este incluído nas
atribuições ou competências de outro órgão da administração. Ela pode ser:
Absoluta ou por falta de atribuição: pratica atos fora da atribuição da pessoa
colectiva.
Relativa: um órgão pratica atos que não lhe compete, mas pertence a
competência de outro órgão da mesma pessoa colectiva.
Em razão da matéria: um órgão invade poderes conferidos a outro órgão em
função de natureza dos assuntos ou matérias. Ex: subalterno praticar actos que não
constam na delegação de poderes a si conferida.
Em razão da hierarquia: quando a invasão de poderes conferidos a outro
órgão em função grau hierárquico. Ex: subalterno invade competência do superior.
Em razão do lugar: quando a invasão ocorre, tendo em conta o território. Ex.:
a camara municipal de Sintra deliberar sobre matérias competente a Camara de
Cascais.
Em razão do tempo: um órgão exercer poderes em relação ao passado ou
futuro, a competência tem de ser estabelecido em relação ao presente.
Modalidades de desvio de poder:
Como pode existir um ato que viole a lei, e seja desvio de poder.
Ilicitude: coincide com a ilegalidade, o ato torna se ilícito por ser ilegal.
Existem atos ilícitos, sem ser ilegal: ofensa de direito absoluto do particular (ex:
propriedade), violação do contrato não administrativo, ofensa de bons costumes e
ordem publica, ato que contem a forma de usura.
Nulidades por natureza: atos de conteúdo ou objectos impossíveis, atos cuja prática
consiste num crime ou envolvem práticas de crime, e atos que violam direitos
fundamentais. A lei não admite situações de nulidades por natureza, devem ter
previsão legal expressa.
Até não forem anulados, são obrigatórios para os funcionários, e para os particulares,
e não se podem opor a resistência, tem um prazo curto para serem impugnados, de
acordo com os números 2 e 4 do artigo 163º CPA, e podem ser impugnados por
qualquer interessado, que retira vantagens dessa anulação. E o pedido é feito ao
tribunal administrativo, ou a própria administração.
De acordo com o artigo 58ºnº2 do CPTA, deixam de poder ser impugnados fim de 1
ano.
De acordo com 163º nº5 do CPA conjugado com 71º numero 2 do CPTA, quando se
verificam algumas destas circunstancias, automaticamente afasta ex lege a
possibilidade de anulação do ato administrativo, vinculam o juiz, o Ministério Público, e
a própria administração.
O efeito geral da extinção do ato anterior por uma destas vias, é o do desaparecimento
dos respetivos efeitos jurídicos, sendo por isso, a revogação e a anulação integradas
na categoria de atos secundários ou atos sobre atos, pois os seus efeitos não fazem
sentido algum sem a existência de um “pré-ato”.
3. Tipos
1. Atos nulos (166º/1, alínea a) CPA) – pois estes não estão, por natureza, aptos
a produzir efeitos jurídicos;
2. Atos cujos efeitos já tenham sido destruídos (166º/1, alíneas b) e c)) – nesta
situação não há lugar a atos de anulação contenciosa nem de revogação com eficácia
retroativa;
3. Atos cujos efeitos tenham caducado ou se encontrem todos produzidos ou
esgotados (166º/2 CPA) – nos atos com esta característica não pode haver revogação
para o futuro, visto que já não se encontram a produzir efeitos, podem porém ser
objeto de anulação e de revogação com eficácia retroativa, pois o que se pretende
aqui é eliminar os efeitos já produzidos pelo ato e que ainda perdurem na ordem
jurídica.
5. Condicionalismos aplicáveis à revogação
6. Condicionalismos aplicáveis à anulação
1. O Autor do ato (nº2 e 3) – quanto à revogação, o autor tem habilidade legal para
decidir, conforme entenda melhor, em relação ao caso em concreto; quanto à
anulação, este tem o poder de autocontrolo da legalidade associado ao exercício da
competência, isto é, quem pratica o ato administrativo, está obrigado a controlar a
legalidade do seu exercício.
Coloca-se aqui a questão de saber quem tem competência revogatória ou anulatória
em casos de prática do ato por órgão incompetente: (nº6) os atos administrativos
praticados por órgão incompetente podem ser objeto de anulação administrativa
praticados pelo órgão competente para a sua prática; porém não podem ser por este
revogados, pois o dever de anular atos ilegais não inclui o poder de os revogar por
motivos de mérito.
Durante muitos anos defendeu-se a não existência desse dever de revogar. Contudo,
hoje em dia inclina-se mais para a situação de obrigatoriedade, sendo este um poder
vinculado.
Simulação de Julgamento
Interposição de Garantia Administrativa- Decisão da Administração
Introdução
A Constituição da República Portuguesa, no seu título IX, dedicado à
Administração Pública, visa como principal função desta a prossecução do interesse
público, com respeito pelos direitos e interesses dos cidadãos, com dever de
obediência à lei, bem como aos princípios basilares do Estado, tais como a igualdade,
a proporcionalidade, a justiça, a imparcialidade e a boa-fé.
Neste sentido, foram criados, pela ordem jurídica, diversos meios capazes
de tutelar os interesses legítimos dos particulares ou as ofensas dos direitos
subjetivos, assim como as violações do direito objetivo ou o demérito da ação
administrativa, evitando ou sancionando as condutas da Administração Pública.
Estes meios são designados por garantias, havendo essencialmente três
tipos: as garantias políticas, as garantias administrativas e as garantias contenciosas.
Garantias Políticas
As garantias políticas são efetivadas através dos órgãos políticos do Estado,
sendo por isso mais garantias do ordenamento constitucional do que propriamente
garantias dos cidadãos. As mesmas repartem-se em duas vias – o direito de
resistência, consagrado no artigo 21º CRP e, o direito de petição, quando exercido
perante um órgão da soberania, previsto no artigo 52º CRP.
DIREITO DE RESISTÊNCIA
Por este direto entende-se a faculdade de se opor a qualquer ordem que
ofenda os direitos, liberdades e garantias e de repelir por força qualquer agressão, em
situação de impossibilidade de recurso à autoridade pública. Este tipo de garantia
tanto serve para se reagir contra atuações dos privados, quanto contra atos da
autoridade pública.
DIREITO DE PETIÇÃO
Este direito não se destina a ser exercido perante os tribunais, contudo pode
ser praticado por qualquer pessoa residente em território português, além de que não
se encontra sujeito a processos ou formalidades específicas.
Garantias Petitórias
As garantias petitórias dividem-se em cinco espécies: no direito de petição,
no direito de representação, no direito de queixa, no de denúncia e, por fim, no direito
de oposição administrativa. Todas estas modalidades assentam na existência de um
pedido dirigido à Administração, de modo a que esta considere o ponto de vista do
particular, devidamente fundamentado. No entanto, iremos apenas tecer algumas
considerações relativas às garantias que mais se enquadram ao caso.
Contudo, a petição não tem cariz impugnatório. Deste modo, não se trata de
atacar uma decisão já tomada, pelo contrário, pressupõe-se a falta de uma certa
decisão ou ainda que é necessário consultar algo que apenas a Administração pode
facultar.
Garantias Impugnatórias
As garantias impugnatórias têm por base a impugnação de um ato jurídico já
praticado pela Administração, com vista à sua revogação, modificação, ou anulação
administrativa. A impugnação pode fundar-se em motivos de ilegalidade ou de mérito
cfr. art. 185º/3 CPA, e as autarquias locais têm legitimidade para reclamar ou recorrer,
por força do art. 68º/2 c) ex vi do art. 186º/1 b).
No caso sub judice é possível efetuar uma reclamação do ato de colocação
e recolocação dos parquímetros por parte da EMULTA ao órgão que o praticou. Com
base no art. 1º/1 do Estatuto da EMULTA, verificamos que se trata de uma pessoa
coletiva própria, dotada de autonomia administrativa financeira e patrimonial.
Consequentemente, tem atribuições e órgãos que prosseguem essas atribuições
através de competências. As atribuições da EMULTA são as consagradas no art. 3º/2
do seu Estatuto. Através do art. 14º/ 1 c) do Estatuto, verificamos que é a Presidente
do Conselho da Administração que representa a empresa municipal em relação aos
atos praticados, consequentemente, seria perante este órgão que se reclamaria o ato
praticado. Não parece, contudo, que tal possa ser feito mediante juízos de legalidade,
uma vez que segundo o art. 5º/1 d) do Código de Estrada, a colocação de
parquímetros é da competência da Câmara Municipal, e que esta pode delegar esta
competência à EMULTA, por força do art. 5º/1 a) do Estatuto, do art. 5º/3 d) do Código
da Estrada e do art. 62º/2 do Regulamento Geral de Estacionamento e Paragem na
Via Pública.
O recurso tem que ser apresentado ao órgão a quo cfr. art. 194º, nº 2 CPA,
e sempre dirigido ao mais elevado superior hierárquico do mesmo cfr. art. 194º, nº 1
CPA, salvo se a competência para a decisão se encontrar delegada ou subdelegada.
Quanto aos prazos para a interposição do recurso, nos casos em que o
objeto é a impugnação de um ato, estes encontram-se estipulados legalmente nos
arts. 188º, nº 1 e 2 e 198º, nº 1 CPA, sendo, em regra, o prazo de 30 dias. Se o objeto
do recurso for a contestação da omissão de um ato, o prazo conta-se da data do
incumprimento do dever de decisão cfr. art. 188º, nº 3 CPA. A interposição do recurso
pode ter consequências suspensivas ou não suspensivas, ocorrendo a suspensão
automática do ato em causa até à reapreciação do superior hierárquico. A
autoridade ad quem deve pronunciar-se em 30 dias, podendo alongar-se o prazo até
aos 90 dias cfr. art. 198º, nº 1 e 2 CPA.
Não parece haver órgão da EMULTA que exerça poderes de supervisão
sobre o Conselho de Administração ou sobre a Presidente do Conselho de
Administração.
Quanto à omissão por parte da Câmara Municipal, é possível efetuar recurso
hierárquico impróprio perante a Assembleia Municipal, pois ela fiscaliza a atividade da
Câmara Municipal, conforme o art. 25º/2 a) da Lei nº 75/2013.
Quanto ao ato praticado pela EMULTA, verificamos que a Câmara Municipal
do Listejo exerce poderes de tutela e de superintendência sobre a mesma cfr. art. 20º
do Estatuto, podendo ser feita uma impugnação tutelar do ato praticado pela
Presidente do Conselho de Administração à Câmara Municipal. No entanto, dada a
relação estrita entre ambos os órgãos, não parece que esta garantia seja a que melhor
salvaguarde os interesses dos particulares. No entanto, também a Assembleia
Municipal fiscaliza a sua atividade, exercendo poderes de fiscalização sobre a mesma,
mediante art. 25º/2 a) da Lei nº 75/2013.
O principal foco da sua função é atender às queixas dos particulares, direito
este presente no artigo 3º da Lei 9/91, de 9 de abril, contra ações ou omissões da
Administração Pública. Para tal, utiliza o seu poder de persuasão para levar as
autoridades administrativas a reparar ou a alterar as suas decisões, quando injustas
ou ilegais, consideradas de “má administração”.
Este órgão serve de recurso naquelas situações em que as outras garantias
não são capazes de satisfazer totalmente o interesse dos particulares. Isto é,
enquanto as garantias administrativas apelam para às próprias autoridades
administrativas, que muitas vezes agem conforme a sua visão da legalidade ou do
interesse público, acabando por não dar razão aos interesses legítimos dos
particulares, as garantias contenciosas permitem aos mesmos solicitar aos tribunais a
anulação de decisões ilegais da Administração Pública ou obter a reparação dos
prejuízos causados por esta. Todavia, acaba por ficar sempre um leque de problemas
por cobrir, sobretudo momentos que não estejam relacionados com a ilegalidade das
decisões ou os prejuízos por estas causado, mas sim com questões de mérito da ação
administrativa. Por esta razão, existe a figura do Provedor de Justiça, que trata de
controlar a legalidade, justiça e funcionalidade da atividade administrativa, não
possuindo um poder decisório para a anulação ou revogação de atos administrativos,
praticando atos que considere legalmente devidos, ou atos injustos e inconvenientes,
por aqueles que ache mais adequados; tão pouco se poderá fazer substituir às
autoridades competentes para cumprir os seus deveres.
Decisão Administrativa
A primeira garantia administrativa, de cariz impugnatório: arts. 184º/1 a) e
191º/1 do CPA, destina-se a combater a instalação dos parquímetros e é
fundamentada pela inconveniência do ato praticado, em conformidade com o requisito
exigido pelo art. 185º/3 CPA. Os interessados arguiram que a instalação dos
parquímetros constituiu um ato grosseiro por não ter sido convenientemente
acompanhado pela construção de parques de estacionamento para a população das
Carnitas, o que colocou todos os seus residentes e trabalhadores numa situação
comparativamente pior com a situação verificada originariamente quando o
estacionamento dos seus veículos não acarretava quaisquer custos.
Apesar da epígrafe deste artigo ser “Princípio da decisão”, todavia, o mesmo
encerra dois princípios: o da pronúncia e o da decisão. Se o primeiro obriga sempre a
Administração a tomar posição perante qualquer petição formulada por um particular,
correspondendo a tal dever o direito fundamental de petição, em matérias que lhes
digam respeito ou à Constituição e às leis dos cidadãos (arts. 52º da CRP e 102º e ss.
do CPA e Lei nº 43/90 de 10 de agosto) o segundo liga-se a uma exigência de
conclusão dos procedimentos, com a consequente prática de um ato administrativo
(arts. 59º e 106º a 109º do CPA). Na mediação semântica da lei ordinária a pluralidade
vocabular revela que o dever constitucional de apreciação se cumpre pelo dever de
pronúncia e pelo dever de decisão. E, quanto ao âmbito deste último, os autores do
“Código do Procedimento Administrativo, Comentado, 2ª ed.” Mário Esteves de
Oliveira, Pedro Costa Gonçalves e J. Pacheco de Amorim, interpretam a lei com o
sentido de que, face às petições dos particulares formuladas em defesa de interesses
próprios, individuais e concretos, o dever de pronúncia exigido à Administração é um
dever de praticar um ato administrativo de aplicação da lei à situação jurídica do
peticionante. Quando assim é, o dever de pronúncia do órgão administrativo não pode,
pois, quedar-se pelo mero dever constitucional de resposta que existe sempre, para
qualquer assunto que lhe seja apresentado, correspondente ao direito fundamental de
petição dos cidadãos. Salvo se ocorrer a situação de dispensa, de discricionariedade
de silêncio, prevista no nº 2 do art. 13º do CPA, a lei exige-lhe mais do que uma mera
resposta. Impõe-lhe uma decisão que, ao abrigo de normas de direito administrativo
produza efeitos na situação individual e concreta do pretendente.
Face à diferente natureza destes princípios, também o seu incumprimento
tem de ter naturalmente consequências diferentes: assim, o dever de pronúncia e,
consequentemente, o direito de pronúncia, sendo um direito de cariz politico-
constitucional, é aí que, essencialmente, se encontra o seu regime. Todavia, quando o
destinatário de uma petição é a própria Administração Pública, e está em causa uma
questão administrativa, a falta de pronúncia pode sancionar-se quer com uma ação
para o reconhecimento de um direito, ou porventura, com uma intimação das previstas
no art. 86º da LPTA. Bem diferente, é a sanção para o incumprimento do dever de
decisão. Em tal hipótese, haverá lugar à ação para reconhecimento de um direito e,
eventualmente, a Administração Pública ser responsabilizada civilmente pela prática
de um ato ilícito de gestão pública.
A petição termina com a ressalva de que, não obstante serem deficitários os
atuais saldos das finanças públicas, na eventualidade da ocorrência de eleições
autárquicas existem sempre verbas suficientes para, por exemplo, afetar a uma
reabilitação rodoviária implementada de forma ordinal e prioritária. Mas quando é
preciso tutelar os direitos subjetivos e/ou interesses legalmente protegidos dos
cidadãos, as autarquias acabam por se imiscuir das respetivas atribuições e postergar
as competências materiais que lhes foram legalmente acometidas, como resulta ex
vi a incumbência de assegurar a manutenção e recuperação do património cultural e
urbanístico do município (art. 33º/1/t) LAL) ou a designação para deliberar sobre o
estacionamento de veículos nas vias públicas e demais lugares públicos (art. 33º/1/rr)
LAL).
Com base na omissão ilegal apurada, o órgão declarou a petição procedente
determinando também a emissão dos atos pretendidos pelos interessados ao abrigo
dos artigos 184º/1/b) e 191º/1 do CPA.
Este post incidir-se-á sobre as garantias administrativas, dentro das quais temos de
distinguir, por um lado, entre aquelas que funcionam como garantias de legalidade e
as que funcionam como garantias de mérito, ou seja, que não visam apreciar a
legalidade de um ato, mas o seu mérito. Por um lado, é importante distinguir as
garantias petitórias, dentro das quais se insere o direito de queixa, o direito de petição,
o direito de representação, o direito de denúncia e o direito de oposição administrativa
que têm por base um pedido, das garantias impugnatórias, nas quais se insere a
reclamação e os recursos hierárquicos, que têm por base uma impugnação, nas quais
há um ato administrativo a impugnar.
Posto isto, podemos definir as garantias administrativas como aquelas que se efetivam
através de um órgão da Administração Pública, aproveitando, de certa forma, as
próprias estruturas administrativas e os controlos de mérito e de legalidade por elas
utilizadas. Por outras palavras, as garantias são instrumentos que o Direito
Administrativo concede aos particulares para que estes possam defender os seus
interesses e direitos, e defender-se quando entendam que a atuação da administração
poderá estar a ser lesiva em alguma medida. O recurso das garantias administrativas
encontra-se devidamente expresso tanto no CPA, como no CPTA. Analise-se agora as
garantias administrativas em si.
As garantias petitórias
No entanto, nem toda a denúncia é uma queixa, pois só há queixa quando esta tem
por objeto o comportamento de uma certa entidade, ao passo que pode haver
denúncias que tenham por objeto outras realidades que não o comportamento de
pessoas singulares ou coletivas.
Por fim, temos então o direito de oposição administrativa. Este define-se como uma
figura de contestação que em certos procedimentos administrativos, os contra-
interessados têm o direito de apresentar para combater quer os pedidos formulados
por outrem à Administração, quer as iniciativas da Administração que esta tenha
resolvido divulgar ao público. Neste contexto, admite-se direito de oposição
administrativa ao pedido formulado por um particular à Administração Pública. Por
exemplo, um particular solicita à Administração Pública licença para exercer uma certa
atividade condicionada, sendo que a lei prevê que os seus concorrentes do mesmo
ramo de negócios venham ao processo deduzir oposição ao pedido do particular, a fim
de fazerem valer as razões legais que porventura tenham contra o deferimento da
pretensão apresentada.
Assim, após a análise destes direitos, depreende-se que estamos perante garantias
petitórias porque todos assentam na existência de um pedido dirigido à Administração
Pública para que esta considere as razoes ou pontos de vista do particular que
executa o pedido.
As garantias Impugnatórias
O prazo para apresentar uma reclamação, salvo lei especial, é de 15 dias (Artigo
191º/3 CPA) e, o prazo para o órgão competente decidir sobre a reclamação é de 30
dias (Artigo 192º/2 CPA). Em caso de silêncio do órgão competente, segue-se um
novo regime de reação contra a omissão de atos ilegais, o recurso administrativo ou
ação de condenação à prática do ato devido (Artigo 192º/3 CPA). Relativamente ao
efeito suspensivo ou não suspensivo da reclamação, veja-se os artigos 189º e 190º do
CPA.
O ato pode ainda ser substituído ou modificado, exceto quando existe competência
exclusiva do autor, ou seja, quando o superior hierárquico carece de competência
dispositiva sobre a matéria em causa. Desta forma, entende-se que tanto no caso da
impugnação de atos ilegais como no de reação contra omissão ilegal de atos, o
superior hierárquico pode substituir-se ao subalterno, exceto se este dispuser de
competência exclusiva, caso em que, se der provimento a recurso, só pode ordenar ao
subalterno a prática de atos que se lhe afigurarem adequados, de acordo com o
disposto no artigo 197º/1 CPA.
O recurso hierárquico apresenta uma estrutura tripartida. Por um lado, temos o
recorrente, ou seja, o particular que interpõe o recurso; por outro lado, temos o
recorrido, ou seja, o órgão subalterno de cuja a decisão se recorre; e, por fim, temos o
órgão decisório, entenda-se este como órgão superior para quem se recorre e que
deve legalmente decidir o recurso.
Quanto ao prazo do recurso, se este tiver por objetivo a impugnação de um ato, e este
tiver de ser notificado ao interessado, o prazo só corre a partir da data de notificação,
de acordo com o artigo 188º/1 CPA. No entanto, nos restantes casos, o prazo conta-se
a partir da publicação, notificação ou conhecimento do ato ou da sua execução,
conforme o que ocorre no primeiro (188º/2 CPA); vigora o disposto no artigo 198º/1 do
CPA que determina que quando a lei não fixe o prazo diferente, então o prazo é de 30
dias para o prazo de interposição do recurso hierárquico necessário. Se o recurso tiver
por objeto contestar a omissão legal de um ato, o prazo para a respetiva interposição,
conta-se da data do incumprimento do dever de decisão, de acordo com o nº3 do
artigo 188º do CPA.
Desta forma, a lei fixa o prazo de 30 dias para a interposição do recurso, salvo nos
casos especialmente previstos na lei. Desta forma, se o recurso não for interposto
dentro do prazo, a impugnação contenciosa que venha depois a dirigir-se contra o ato
pelo qual o superior decida o recurso será extemporânea e, consequentemente,
rejeitada por ter sido proposta fora do prazo estabelecido.
Por outro lado, o segundo efeito jurídico, o efeito não suspensivo, consiste no facto de
o ato recorrido manter a sua eficácia, enquanto o superior hierárquico competente não
decidir sobre ele, sem prejuízo de um superior hierárquico poder, oficiosamente ou a
requerimento do interessado, suspender o ato recorrido (Artigo 189º/ 2 a 4 CPA).
Por fim, estas garantias podem ainda assumir a forma de recurso tutelar, em que a
impugnação é feita perante uma entidade tutelar, isto é, perante um órgão de outra
pessoa coletiva diferente daquele cujo órgão praticou o ato impugnado e que exerce
sobre esta poderes de tutela ou de superintendência (recurso administrativo especial,
segundo o artigo 199ºCPA).
Neste contexto, é importante conceber uma alta autoridade, independente, que, com
espírito de justiça, estude, nos casos concretos que lhe sejam apresentados pelos
particulares, as queixas que eles tiverem para lhe formular.
Assim, é importante realçar que o Provedor de Justiça não tem poder decisório, ou
seja, não pode anular ou revogar atos administrativos, nem pode substituir-se às
autoridades competentes para praticar em vez delas os atos que considere legalmente
devidos, ou para substituir atos injustos ou inconvenientes por atos que considere
mais justos ou mais convenientes.
Os poderes deste são apenas poderes persuasórios, uma vez que estuda cada caso
concreto e, se entender que o particular tem razão na sua queixa, dirige
recomendações às autoridades competentes.
Antes de mais, consideramos ter de salientar que, nos termos do artigo 1º/1 do
seu Estatuto, a EMULTA tem personalidade jurídica própria. Constitui, portanto, uma
entidade distinta da Câmara Municipal de Listejo (CM).
Em relação à instalação de parquímetros, nos termos do artigo 5º/2 do
Regulamento Geral de Estacionamento do Município de Listejo, a autorização para
prática destes atos é da CM, regime que vai conforme ao previsto no artigo 5º/1 alínea
d) do Decreto-lei nº 44/2005. A EMULTA é o meio encontrado pela CM para construir,
gerir, explorar, manter e vigiar os locais de estacionamento público, conforme o artigo
3º/2 do seu Estatuto. Para este efeito, a CM pode delegar algumas das suas
competências, nos termos do artigo 5º do Estatuto da EMULTA, à EMULTA. Assim
sendo, não vemos motivos para considerar ilegal a colocação dos parquímetros.
Talvez seja possível contestar a instalação dos parquímetros ao alegar que,
nos termos do artigo 16º/1 ff) da Lei nº 75/2013, que a competência para proceder à
manutenção e conservação dos passeios é da competência da Junta de Freguesia.
Mas não nos confundamos! A competência para manter e conservar os passeios nada
mais estabelece que isso mesmo. Quer isto dizer que não se confunde com a
competência para decidir ou não da instalação de parquímetros. Essa competência,
como foi estabelecido em cima, é da CM.
Também não estamos perante uma ação direta, nos termos do artigo 336º CC,
uma vez que não preenche os pressupostos de impossibilidade de recurso aos meios
de tutela normais, bem como o requisito da indispensabilidade da ação. O mesmo se
diga do direito de resistência, consagrado no artigo 21º CRP, justamente por não
preencher o pressuposto de impossibilidade de recurso para uma autoridade.
Tendo em conta o que acima foi dito, não podemos considerar a ação dos
habitantes de Carnitas como legal. Num Estado de Direito, com meios de tutela
legitimados para o efeito, afigura-se-nos impensável este recurso automático à
autotutela. Preocupante, também, é a liderança do autarca. Como uma figura que
deveria liderar e encorajar os habitantes da freguesia a cumprirem com ideias de
justiça e de legalidade, faz um trabalho desadequado. Prefere a violência de um
Estado de Natureza digno do pensamento de Rousseau a um Estado de Direito e a
sua inerente civilização, que têm como princípio geral a proibição do uso da força.
Em segundo lugar, a recolocação dos parquímetros não é um ato que deva ser
encarado com desconfiança. Eles foram instalados legalmente e depois desinstalados
de forma ilícita. A sua recolocação é apenas o retorno ao cenário que existiria se a lei
tivesse sido constantemente observada.
Importa, agora, referir o abaixo-assinado entregue a Francisco Filião por Fábio
Sem Terra. Antes de mais, a CRP consagra, no seu artigo 52º/1, um direito de petição
a qualquer autoridade. Portanto, é possível apresentar tal abaixo-assinado. Coisa
distinta são os efeitos da sua apresentação. Obviamente, por respeito ao princípio da
prossecução do interesse público, consagrado nos artigos 266º/1 CRP e 4º CPA, ele
deve ser considerado pelo decisor, neste caso a CM. No entanto, como notam os
professores Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado de Matos, a atividade
administrativa prende-se, frequentemente, com a limitação de direitos particulares em
prol do interesse da comunidade. Pelo que o decisor não pode ficar vinculado ao
abaixo-assinado, sendo-lhe legítimo decidir de forma contrária a este.
Em relação às pretensões de Fábio Sem Terra, pensamos que, do que já foi
dito, se ter provado para lá de qualquer dúvida, a legalidade das ações de colocação e
recolocação dos parquímetros. Em relação às repetidas exigências de requalificação
do centro histórico e de construção de parques de estacionamento, não sendo
nenhuma delas de competência da EMULTA, mas sim da CM, não nos compete tecer
qualquer comentário. O mesmo se diga em relação à anulação do Regulamento Geral
de Estacionamento.
Concluímos, assim pela inocência da EMULTA, que viu a sua propriedade ser
ilegalmente removida e reagiu licitamente ao ordenar a sua recolocação. As calúnias
de Fábio Sem Terra também carecem de qualquer fundamento.
FÁBIO SEM TERRA, cidadão com CC nº XXXX, NIF YYYY, em colaboração com os
moradores da Junta de Freguesia de Carnitas, Listejo, vem pela presente petição
inicial propor ação de impugnação de ato administrativo, nos termos dos artigos 50º e
ss. do CPTA, e providência cautelar, nos termos do artigo 182º, nº3, do CPA,
contra CÂMARA MUNICIPAL DE LISTEJO, com em sede em ZZZZZ, Listejo,
e EMULTA – Empresa Municipal de Parques de Estacionamento, com sede em
Listejo, o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:
I – DOS FACTOS
1º
2º
3º
Para dar resposta positiva a esses alertas, o Autor celebrara um acordo com a
primeira Ré, na pessoa de Francisco Filão, Presidente da Câmara Municipal de
Listejo, no qual esta se comprometeu a requalificar o centro histórico e a construir
parques de estacionamento para a zona em questão.
4º
No passado dia 31 (trinta e um) de março, a segunda Ré, por indicação da primeira,
procedeu à instalação de parquímetros na zona histórica da autarquia.
5º
Isto apesar de, até à data, os compromissos assumidos nesse acordo não terem sido
cumpridos.
6º
Ora, no passado dia 1 (um) de abril, um grupo de moradores de Carnitas, liderado pelo
Autor, procedeu à retirada dos parquímetros instalados na zona do centro histórico da
autarquia.
7º
8º
9º
10º
11º
12º
O Autor pretende também reagir contra a recolocação forçada dos parquímetros por
ação da Polícia Municipal e obrigar a primeira Ré a cumprir os seus compromissos
relativos à requalificação do centro histórico e à construção de parques de
estacionamento.
A) Da audiência de interessados
13º
14º
Não houve audiência prévia dos interessados para o ato de instalação dos
parquímetros em Carnitas.
15º
16º
Não se prevê quaisquer das situações dispostas no nº1 do artigo 124º CPA, pelo que
não é admissível qualquer dispensa de audiência dos interessados.
17º
18º
19º
20º
22º
Nos termos do artigo 33º, nº1, alínea rr), da Lei nº 75/2013, de 12 de setembro,
doravante denominada Lei das Autarquais Locais (LAL), compete à câmara municipal
deliberar sobre o estacionamento de veículos nas vias públicas e demais lugares
públicos.
23º
23º
24º
25º
26º
27º
O dever de solicitar auxílio administrativo revela-se, neste caso, como uma exigência
do princípio da boa fé, do qual decorrem deveres acessórios de lealdade, informação e
proteção.
28º
Deveres esses que não foram respeitados, na medida em que a junta de freguesia não
foi devidamente informada acerca da instalação dos parquímetros, matéria sobre a
qual apresenta competências próprias que decorrem da lei.
30º
31º
32º
33º
No contrato celebrado entre o Autor e a primeira Ré, estamos, portanto, perante uma
situação de bilateralidade e paridade jurídica – existência de obrigações recíprocas
entre os dois entes públicos – e em que há uma tentativa de harmonização das
atribuições dos órgãos em matéria de parqueamento urbano.
34º
35º
36º
A exceção de não cumprimento encontra-se regulada nos artigos 327º CCP e 428º
CC, de onde se retiram os seguintes pressupostos: i) bilateralidade do contrato; ii)
prazos idênticos para as obrigações; iii) a recusa em cumprir não implica grave
prejuízo para a realização do interesse público.
37º
38º
39º
40º
41º
42º
Isto porque, neste caso, o interesse público subjacente à instalação de parquímetros
corresponde, sobretudo, ao interesse dos moradores da junta de freguesia de Carnitas
em terem a situação do estacionamento nessa área mais regularizada.
43º
44º
O princípio da prossecução do interesse público decorre dos artigos 266º, nº1, CRP e
4º CPA e constitui "o verdadeiro fio condutor da actividade administrativa pública" (cfr.
JOÃO CAUPERS, Introdução Ao Direito Administrativo, 11ª edição).
45º
Decorre ainda do nº 1 do artigo 235º CRP que as “autarquias locais (…) visam a
prossecução de interesses próprios das populações respetivas”.
46º
47º
O que, neste caso, não se verifica com a instalação dos parquímetros, visto que nem
os próprios moradores aceitam a antecipação da sua implementação. E é o interesse
dos moradores que deve ser tido em principal consideração.
48º
49º
50º
51º
O uso da força, para afastar ou impedir a produção de efeitos em ordens que ofendam
direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos, pode ser legitimado com base
no direito de resistência, consagrado no artigo 21º CRP.
52º
53º
54º
De facto, estão verificados os requisitos que constam do artigo 336º, nº1, CC, para a
ação direta: i) recurso à força; ii) fim de assegurar um direito (ou interesse) próprio; iii)
impossibilidade de recorrer em tempo útil à hetero-tutela, de modo a evitar inutilidade
prática do direito; iv) proporcionalidade entre o direito a proteger e o dano ou prejuízo
causado.
55º
56º
Além disso, recorrer à hetero-tutela não traria efeito útil à proteção dos
direitos supra mencionados, pois os meios coercivos normais poderiam agir tarde de
mais ou poderiam implicar custos desnecessários aos interessados.
57º
58º
59º
A Constituição consagra ainda, no seu artigo 52º, nº3, o direito de ação popular: um
direito fundamental de tutela de interesses transindividuais, de uma totalidade de
titulares, para fins diversos.
60º
Alguns desses fins encontram-se elencados no artigo 1º, nº2, da Lei nº 83/95, de 31
de agosto (doravante Lei do Direito de Ação Popular, LAP), sendo de destacar, no
presente caso, a proteção da qualidade de vida e do domínio público, bem como a
defesa da autarquia local.
61º
Nos termos do artigo 2º, nº1, LAP, “quaisquer cidadãos no gozo dos seus direitos civis
e políticos” são titulares do direito de ação popular.
62º
O artigo 12º, nº1, LAP remete as formas de ação popular administrativa, neste caso,
para o artigo 9º, nº2, CPTA, que prevê a ação popular administrativa genérica,
segundo a qual “qualquer pessoa, bem como (…) as autarquias locais (…) têm
legitimidade para propor e intervir, nos termos previstos na lei, em processos
principais e cautelares destinados à defesa de valores e bens constitucionalmente
protegidos, como (…) o urbanismo (…) e os bens do Estado, (…) e das autarquias
locais”.
63º
64º
65º
66º
Ora, foi exatamente isso que aconteceu quando Penélope Filião, esposa do
Presidente da Câmara e Presidente do Conselho de Administração da EMULTA,
segunda Ré, ordenou a imediata recolocação dos parquímetros.
67º
68º
Mais ainda, a segunda Ré não tem atribuições no domínio da Polícia municipal, pelo
que a Presidente do Conselho de Administração não lhes pode dar ordens.
69º
Quem dispõe de atribuições nesse domínio é o Município, nos termos do artigo 23º,
nº2, alínea o), LAL.
70º
Valor: X milhares de euros
IV – DA PROVA TESTEMUNHAL
Os Advogados
O princípio da imparcialidade
O princípio da imparcialidade decorre do artigo 266.º, nº2 da CRP e do artigo 9.º do
CPA (ou artigo 6.º do antigo CPA). Anteriormente, este princípio era entendido como
um mero entrave à forma como os particulares eram encarados pela administração,
dado que esta estava proibida de os favorecer ou, pelo contrário, desfavorecer. Isto
justificava-se através de razões relacionadas com os titulares dos órgãos ou agentes
administrativos na posição de decidir ou atuar. Atualmente, o princípio da
imparcialidade ordena, sucintamente, a que a Administração atenda aos interesses
públicos e privados de forma ponderada e considerada, sem que os seus próprios
interesses particulares interfiram no procedimento. Este princípio adota duas vertentes
distintas: a negativa e a positiva. A vertente negativa remete-nos para a ideia de
que, casuisticamente, a Administração está proibida de considerar e/ou ponderar
interesses públicos ou privados que sejam irrelevantes para a decisão, tendo em conta
o fim legal a ser prosseguido. MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA, espelhando a
conceção de SÉRVULO CORREIA, afirma que esta vertente é, de facto, um pouco
redundante, uma vez que pouco ou nada acrescenta àquilo que conhecemos por
princípio da legalidade, sendo que este princípio já determina que as decisões
administrativas fundadas em interesses irrelevantes significariam uma invalidade por
desvio de poder.
Os mecanismos preventivos
O acatamento deste princípio não é garantido através de uma mera prescrição. Deste
modo, é necessária a imposição de mecanismos, cujo objetivo é o de assegurar que
os titulares dos órgãos e agentes administrativos não influenciem certas decisões
tomadas em procedimentos nos quais seria de esperar uma atuação parcial por parte
destes. Estes mecanismos surgiram não só devido à dificuldade de provar a violação
do princípio da imparcialidade, como também porque este princípio está dependente
de circunstâncias relativas (na sua vertente negativa).
De modo a ilustrar que tipo de casos podem enquadrar-se no artigo 69.º do CPA,
referimos um caso hipotético em que uma determinada Sociedade de Advogados é
responsável por um concurso público para aquisição de equipamentos informáticos,
mas prestou serviços jurídicos a um dos participantes privados nesse concurso há
menos de 3 anos. Aqui, há um impedimento grave e a Sociedade de Advogados é
impedida de prestar esses serviços jurídicos, nos termos do artigo 69.º, nº3 CPA.
Caso os impedimentos previstos nos artigos 69.º e seguintes do CPA se verifiquem, é
necessário comunicar a situação ao superior hierárquico, presidentes do órgão
colegial ou a quem tenha poder para concretizar a substituição (artigo 70.º, nºs 1,2,4 e
5 do CPA), de forma a que a atuação do titular de órgão/agente administração nesse
determinado caso cesse (artigo 70.º, nº1 do CPA). Assim que o impedimento é
comunicado e a sua ação cesse, o impedido é substituído pelo suplente (artigo 72.º do
CPA).
Uma situação diferente consta do artigo 73.º, nº1 do CPA, em que são referidas
situações que, por apenas suscitarem dúvidas acerca da proximidade entre os
interesses particulares e o titular de órgão ou agente administrativo, o seu grau não é
tão intenso quanto a situação decorrente do artigo 69.º do CPA.
Assim, imaginemos que o filho de membro de júri de concurso público recebeu, a título
gratuito, uma viagem paga por uma empresa que participa nesse concurso. Neste
caso, o membro de júri deve pedir escusa (artigo 73.º, nº1, alínea c) do CPA). Deste
exemplo, aferimos que, embora a situação não seja tão grave quanto o exemplo
supramencionado (decorrente do artigo 69.º, nº3, CPA), continua a constituir um
impedimento.
Por fim, é de referir que a discrepância dos regimes das suspeições e dos
impedimentos graves é mínima, suscitando a questão de se aferir se se justifica, de
facto, a existência de um regime separado para cada uma das situações. MARCELO
REBELO DE SOUSA e ANDRÉ SALGADO DE MATOS respondem afirmativamente: a
diferença parcial de regimes jurídicos justifica-se em virtude da intensidade do perigo
de violação do princípio da imparcialidade, que, como já verificámos, difere de uma
situação para a outra.
Caso Prático 7
O presente caso suscita algumas dúvidas quanto aos tipos de actos que são
executados pela Administração e aos efeitos que produzem, ainda que a matéria seja
a do regime de anulação administrativa.
Como tal, é necessário começar pela distinção teórica entre os tipos de actos que
podem ser executados para extinguir ou modificar efeitos, e quais os efeitos da sua
aplicação tendo em consideração o seu objectivo.
Quanto à extinção dos efeitos. Estes podem esgotar-se com a execução do acto num
determinado momento – uma ordem policial que manda parar ou avançar o trânsito,
por exemplo - ou perdurar, extinguindo-se decorrido determinado período de tempo –
é o caso da concessão da utilização privativa de um bem do domínio público. Assim,
os actos podem ser de execução instantânea ou de execução continuada, conforme o
momento da extinção dos seus efeitos.
Há modificação sempre que se faz de um acto outro diferente mas isto envolve
sempre uma interferência com os efeitos do acto primário.
Outra questão são os fins prosseguidos pelos actos. Mais uma vez o artigo 165º do
Código de Procedimento administrativo estabalece uma distinção. No número relativo
à revogação estabalece que esta ocorre “ por razões de mérito, conveniência ou
oportunidade.”, o que significa que existe uma valoração relativa ao acto revogado que
não se liga aos seus requisitos. Já no caso da anulação essa ligação existe uma vez
que o mesmo artigo estabelece que a destruição dos efeitos de outro acto tem como
fundamento a invalidade.
Não estando em causa um acto nulo – uma vez qua licença produziu efeitos jurídicos
– anulado contenciosamente, ou revogado com eficácia retroactica – uma vez que se
trata de um acto primário (a atribuição da licença), não se aplica o nº 1 do artigo 164.
Também não se aplicará o nº 2 uma vez que os efeitos não caducaram, nem se
encontram esgotados.
Logo, sim, a licença pode ser anulada, desde que sejam observados os
condicionalismos aplicáveis ao regime da anulação previstos no artigo 168º.
2. Pode o acto de atribuição do subsídio ser anulado ?
A anulação do acto de atribuição de subsídio ocorreria por violação do regíme jurídico,
mais concretamente por não terem sido cumpridas obrigações pelos particulares no
que toca aos resultados do investimento. É afastado o nº 2 do artigo 165º por não se
tratar de uma questão de ilegalidade.
No segundo caso, não existe anulação, mas sim revogação. A acto de atribuição do
subsídio “para início do próprio negócio” é um acto de redução de encargo suportado
pelo particular, pelo que se aplicam os números 2 e 3 do artigo 167º.
Os indicadores de resultados são aspectos técnicos supervenientes, pelo que há a
aplicação da alínea c) do nº 2 e a consideração do nº 5 do mesmo artigo.