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19/04/2013 - 00:00

Repercussão geral e regularidade fiscal


Por Frederico Menezes Breyner

O requisito de
admissibilidade
dos recursos
ex traordinários
inserido pela
Emenda
Constitucional
(/sites/default/files/gn/13/04/foto19leg-101-artigo-e2.jpg)
nº 45, de 2004,
denominado repercussão geral, tev e por finalidade dar mais racionalidade aos julgamentos do Supremo
Tribunal Federal (STF).

Reconhecida a repercussão geral da questão constitucional, os recursos que v ersem sobre idêntica
controv érsia são sobrestados, aguardando o julgamento do recurso eleito como modelo para ao fim
receberem a mesma solução.

Nossa proposta é discutir a influência do reconhecimento da repercussão geral sobre a regularidade fiscal
dos contribuintes, quando a questão constitucional controv ertida diz respeito à ex istência ou v alidade de
crédito tributário.

A primeira consequência v islumbrada é o fato de que os casos idênticos terão a mesma solução do recurso
ex traordinário no qual a repercussão geral foi reconhecida.

No entanto, como fica a regularidade fiscal dos contribuintes até o julgamento definitiv o do recurso
escolhido como modelo?

A decisão do STF no âmbito da admissibilidade do recurso ex traordinário se dá sobre a repercussão geral da


questão constitucional. A repercussão geral é definida no art. 543-C, parágrafo 1 º do CPC, e não é nosso
objetiv o discutir seu alcance e conteúdo. Nosso interesse recai sobre o sentido de "questão constitucional".
Por questão constitucional poderia se entender a própria lide v ersada no recurso ex traordinário ou então
uma indagação pendente de resposta pelo STF para solucionar a controv érsia.

A nosso v er, a ex pressão abrange ambos os sentidos. Contudo, fato é que uma lide constitucional sobre a
qual já ex iste jurisprudência firmada do STF receberá um tratamento mais simplificado, pois, se for o caso de
reafirmação de jurisprudência, o regimento interno do STF dispensa a realização de sessão de julgamento em
Plenário, podendo a matéria ser julgada por meio eletrônico e no próprio acórdão de reconhecimento da
repercussão geral.
Caso o Supremo reconheça a repercussão geral sem reafirmar a jurisprudência, o recurso ex traordinário
será submetido a julgamento público, em sessão, com debate entre os ministros. Se não for reafirmada a
jurisprudência, é porque a questão constitucional no caso apresenta-se como uma indagação a ser
respondida, pendente de solução.

Com o fica a regularidade fiscal até julgam ento definitivo do recurso m odelo?

Nesses casos, estaremos diante de uma situação de maior imprev isibilidade, pois, ou inex iste jurisprudência,
a ser reafirmada, no âmbito da Suprema Corte ou ev entuais entendimentos anteriores poderão ser tidos
como inaplicáv eis ou ultrapassados.

Parece-nos que, nesse caso, é impossív el falar em certeza do crédito tributário cuja ex istência e/ou v alidade
passe pela solução da questão constitucional sobre a qual se reconheceu a repercussão geral. Sobre ele
pende uma questão constitucional ainda não resolv ida. E o crédito tributário despido de certeza não pode
v alidamente ser oposto ao contribuinte para lhe negar a certidão da regularidade fiscal (CPEN) e afastar
demais restrições adv indas da ex igibilidade do crédito.

Solução oposta faz com que a igualdade entre os sujeitos ativ o e passiv o da obrigação tributária seja abalada.
Na pendência da solução da questão constitucional, o credor poderia ex igir o crédito tributário e impor ao
dev edor as restrições daí adv indas (negativ a de certidão de regularidade fiscal, constrição do patrimônio em
ex ecução fiscal, etc.) enquanto ao dev edor restaria apenas a possibilidade de sofrer tais consequências,
ainda que seja incerta a sorte do crédito tributário.

Se a questão constitucional terá ainda que ser solucionada após o reconhecimento da repercussão geral,
dev em as partes da relação tributária receber tratamento igualitário: sendo indefinida a sorte do litígio, é
desigual que apenas o polo passiv o da relação sofra os ônus, enquanto o polo ativ o pode nesse meio tempo
impor restrições e realizar a cobrança.

A igualdade só será respeitada caso, enquanto não solucionada a questão constitucional, o contribuinte
possa ex ercer suas ativ idades sem as restrições adv indas de crédito tributário cuja ex istência ou v alidade
mostram-se pendentes de solução.

Concluímos que o reconhecimento da repercussão geral sem reafirmação de jurisprudência terá o condão de
abalar a certeza do crédito tributário discutido, demandando a igualdade que não sejam impostas restrições
aos contribuintes decorrentes da ex igibilidade desse crédito até o julgamento final do STF, dev endo ser
garantida a certidão positiv a com efeitos de negativ a nesse interv alo de tempo.

Nesse sentido foi o v oto do ministro Marco Aurélio na ação cautelar nº3.1 41 , na qual foi deferida liminar
para suspender a ex igibilidade do crédito tributário, pois o reconhecimento da repercussão geral da questão
ali discutida se deu ex atamente pela "necessidade de ex istir, em uma das correntes, a maioria absoluta - seis
v otos - para chegar-se à definição da constitucionalidade, ou não, de preceito normativ o". Daí o deferimento
da cautelar fundado na "pendência da controv érsia no âmbito do Supremo", que, a nosso v er, abala a certeza
da relação tributária.

Frederico Menezes Brey ner é adv ogado tributarista em Belo Horizonte e sócio do escritório
Sacha Calm on - Misabel Derzi Consultores e Adv ogados

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