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Língua Portuguesa - Poesia

ÁREA: LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS


DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA
ASSUNTO: POESIA
PROFESSORA: Cleiane Nascimento Chaves Barros

POESIA
Que é a poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados
(Cassiano Ricardo)
Poesia versus Poema
 Poesia – é o estado emotivo ou lírico do poeta, no momento da criação do poema.
 Poema – é a fixação material da poesia, é a decantação formal do estado lírico;
– são as palavras, os versos e as estrofes que se dizem e se escrevem, e assim fixam e transmitem o estado lírico do
poeta.

 Poesia pode ser de natureza conceptual = comunica algo.

Pela noite de barulhos esvoaçados,


Neste silêncio que me livra do momento
E acentua a fraqueza do meu ser fatigadíssimo,
Eu me aproximo de mim mesmo
No espaço ignaro com que a gente se chega pra morte. (Mário de Andrade)

 Poesia pode ser de natureza emotiva = transmite apenas sensações ou emoções.

Vozes, veladas, veludosas vozes,


Volúpias dos violões; vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. (Cruz e Sousa)
Como estudar?
1. Sensibilidade e gosto ou atração espontânea pela Arte.
2. Para atingir o seu conhecimento em camadas mais profundas é preciso algo mais do que o simples gosto.
3. Os elementos teóricos precisam se articular para que surjam condições de se realizar uma análise poética.
4. A análise poética pode ser feita em vários níveis.

Análise do texto poético


 Cabe ao leitor ler, reler, analisar, interpretar. Ao analisar, é mais simples começar pelos aspectos mais palpáveis do poema,
aqueles que saltam aos olhos – ou aos ouvidos. A seguir, é preciso estabelecer relações entre os diversos aspectos do texto para
tentar interpretá-lo.
 Não há receitas para analisar e interpretar textos, nem isto seria possível, dado o caráter particular e específico de cada criação de
arte. O próprio texto deve sugerir quais as linhas de seu trabalho. Mas, de certo modo, é possível pensar-se em técnicas de
análises que seriam uma espécie auxiliar para o trabalho com texto.
 Dado o primeiro passo – a análise rítmica – será preciso que o leitor prossiga, estabelecendo relações entre o aspecto rítmico e os
demais aspectos do poema: vocabulário, categorias gramaticais predominantes, organização sintática, figuras. Ele deverá perceber
como se processou não só a escolha ou seleção de palavras, mas também a combinação que aproximou certas palavras umas das
outras, visando o efeito poético.
 A interpretação dificilmente será a palavra final se for feita por uma só pessoa. O texto literário talvez seja aquele que mais se
aproxima do sentido etimológico da palavra texto: entrelaçamento, tecido, como tecido de palavras, o poema pode sugerir
múltiplos sentidos, dependendo de como se perceba o entrelaçamento dos fios que o organizam. Ou seja: geralmente, ele
permite mais de uma interpretação. Dada a plurisignificação inerente ao poema, a soma de várias interpretações seria o ideal.
 A análise de texto atomiza o texto poético, fragmenta-o em vários elementos constitutivos (microanálise). Destrói de início a
beleza e emoção do poema, para que, numa síntese geral, com suas partes outra vez reintegradas no todo (macroanálise), o poema
surja muito mais rico em suas significações e dimensões.

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Língua Portuguesa - Poesia
Poesia versus Prosa
 POESIA – é a expressão do eu por meio de metáforas polivalentes.
 PROSA – é a expressão do não-eu por meio de metáforas univalentes.

 Metáfora – constitui-se de três camadas: a emocional, a sentimental, e a conceptual inter-relacionada.


 Metáfora – palavra-chave cercada de palavras secundárias, tudo compondo atmosferas poéticas.
 Poesia – em essência, é a-histórica, a-narrativa e a-geográfica.

CANÇÃO

Pus o meu sonho num navio o vento vem vindo de longe,


e o navio em cima do mar; a noite se curva de frio;
-depois, abri o mar com as mãos, debaixo da água vai morrendo depois tudo estará perfeito:
para o meu sonho naufragar. meu sonho, dentro de um navio... praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
Minhas mãos ainda estão molhadas chorarei quanto for preciso, e as minhas duas mãos quebradas.
do azul das ondas entreabertas, para fazer com que o mar cresça,
e a cor que escorre dos meus dedos e o meu navio chegue ao fundo (Cecília Meireles)
colore as areias desertas. e o meu sonho desapareça.

 Sentido denotativo / Sentido conotativo

SERENATA SINTÉTICA EPITÁFIO PARA UM BANQUEIRO

Lua morta Negócio


Rua Torta Ego
Tua Porta Ócio
Cio
(Cassiano Ricardo) 0
(José Paulo Paes)

EPITÁFIO

Devia ter amado mais, ter chorado mais, Devia ter complicado menos, trabalhado menos,
ter visto o sol nascer ter visto o sol se pôr
Devia ter arriscado mais e até errado mais, Devia ter me importado menos com problemas pequenos
ter feito o que eu queria fazer ter morrido de amor
Queria ter aceitado as pessoas como elas são, Queria ter aceitado a vida como ela é.
cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier

O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído

(Titãs)

ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA LINGUAGEM POÉTICA

COMPOSIÇÃO GRÁFICA

TÍTULO:
 Elemento indicador do tema e condensa a significação do poema.
 pode ser indicador:
- do sujeito do enunciado. "Os lusíadas" de Camões.
- do tema geral. "Soneto de fidelidade" de Vinícius de Moraes.
- da determinação espacial. "Por baixo dos largos ficus" de Cecília Meireles.
- da determinação temporal. "Aurora" de Carlos Drummond de Andrade.

VERSO:
 Cada verso ocupa uma linha, marcada por um ritmo específico.
 Constituí o de palavras que se dividem em sílabas.
 O verso é um processo de poetização.
 O verso só existe como relação entre o som e o sentido. É uma estrutura fono-semântica.
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Verso – Metáfora
 A metáfora se situa unicamente no nível semântico.
 Na sua estrutura profunda, o verso é uma figura semelhante às outras.
 Verso e metáfora têm estruturas homólogas: a diferença está apenas nos elementos que as duas figuras utilizam.
Verso – Prosa
 Todo verso = versus, ou seja, retorno.
 Prosa = prosus, ou seja, que avança.
 verso volta sempre sobre si mesmo.
 Verso é o discurso que repete total ou parcialmente a mesma figura fônica.
 verso se baseia em elementos sonoros variáveis de uma figura para outra.
 É o isossilabismo – o número igual de sílabas – que fundamenta a repetição.
 Pode ser classificado:

 Versos regulares – são os que obedecem às regras estabelecidas pela


métrica clássica, determinando a posição das sílabas acentuadas em cada metro (tamanho do verso) e que apresenta rimas regulares,
fazendo coincidir os sons finais das últimas palavras de cada verso. Hométrico e homofônico.

Dizem que finjo


Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração. (Fernando Pessoa)

 Versos brancos – são os que obedecem às regras métricas de acentuação, mas não apresentam rimas.
Natureza e razão jamais diferem:
Natureza e razão movem, conduzem
A dar socorro ao pálido indigente,
A pôr limite às lágrimas do aflito. (Bocage)

 Versos polimétricos – é um conjunto de versos com diversos tamanhos (metros). São versos regulares de tamanhos
diferentes. Ou seja, as sílabas acentuadas de cada verso se distribuem de acordo com as regras clássicas de versificação,
sendo cada um deles de tamanho diferente.
 Versos livres – não obedecem a nenhuma regra preestabelecida quanto ao metro, à posição das sílabas fortes, à presença
ou distribuição de rimas.

OS MORTOS DE SOBRECASACA

Havia a um canto da sala um álbum de fotografia intoleráveis Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos, e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
em que todos se debruçavam Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca. que rebentava daquelas páginas. (Carlos Drummond de Andrade)

PONTUAÇÃO:
 O uso de parênteses e de hifens quebra a estrutura linear do discurso e indica a sobreposição de idéias e de sentimentos.

DISPOSIÇÃO DOS VERSOS, DAS PALAVRAS E O ESPAÇO EM BRANCO:


 À primeira vista, uma página em verso distingue-se de uma página em prosa pela disposição tipográfica.
 Após cada verso, o poema muda de linha.
 Cada verso é separado do seguinte por um espaço em branco.
 Pausa ou silêncio.
 O espaço em branco é o signo gráfico da pausa ou silêncio; signo natural, já que a ausência de letras simboliza normalmente a
ausência da voz.
 Efeitos iconográficos, conferindo à grafia uma função significante. Ex.: Epithalamium II de Pedro Xisto

PAUSA MÉTRICA X PAUSA SEMÂNTICA


 Normalmente, na linguagem em prosa, as pausas na leitura coincidem com o sentido lógico da frase.
 Ao nível da frase escrita são utilizados signos especiais para marcarem as várias pausas que ajudam a precisar o sentido lógico do
texto. São os sinais de pontuação.
Ex.: O quarto estava escuro. Ela tateou a parede, procurou o comutador e, pressionando de leve o botão, acendeu a luz. O
corpo estava lá, estendido no chão.
 Cada unidade lógica está delimitada por uma vírgula ou ponto final: sentido e pausa coincidem.
 Os sinais de pontuação dividem-se em:

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1. Signos pausais – o ponto, a vírgula, o ponto e vírgula, o parêntese.
2. Signos melódicos – ponto de interrogação, exclamação e reticências.
 Em poesia tanto o espaço em branco quanto os sinais de pontuação assinalam as pausas da leitura.

Amor, antes que a tarde se detenha


Em mim, como uma rosa prematura,
Antes que a melodia sobrevenha
Às mãos pousadas sobre a tecla escura,
Ouve, que este é o momento de dizermos
Das coisas imutáveis e perdidas. (Renata Pallotini)

 espaço em branco no fim de cada linha corta o pensamento lógico e passa a ter tanta significação quanto os sinais de pontuação.
1. Pausa métrica – exigida pelos finais de cada verso.
2. Pausa semântica – exigida pelo sentido lógico da frase e assinalada também por sinais de pontuação.
 Daí a característica marcante da verdadeira linguagem poética: a pausa métrica via de regra não coincide com a pausa
semântica.
 A linguagem poética, sendo emotiva por natureza, não obedece ao paralelismo fono-semântico: coincidência entre as pausas da
leitura e as de sentido lógico da frase, natural na linguagem prosaica.
 A poesia através dos séculos foi se libertando da retórica racionalista do classicismo, e pode fluir livremente de acordo com a sua
natureza, foi
provocando a violação do paralelismo metro-sintaxe e apresentando uma clara inadequação entre pausa métrica – cada fim de
verso – e pausa semântica – cada unidade com sentido entre si.
Ex.: Poesia clássica – onde se dá a coincidência entre as pausas métrica e semântica.
Males, que contra mim vos conjurastes,
Quanto há-de durar tão duro intento?
Se dura por que dure meu tormento,
Baste-vos quanto já me atormentastes. (Camões)

Ex.: Poesia contemporânea – onde se dá a inadequação entre as pausas.

Demorou o processo O olho do autor


No armário do século. tinha veias azuis
Nenhum juiz sentenciava num rochedo;
Esta causa e do réu
De perdas civis. eram caixas de ar
Tocá-la era uma chama no porão (Carlos Nejar)
De asas implumes e longas.

- Neste poema predomina o pensamento emotivo, intuitivo, e não lógico.


- Em grande parte da poesia contemporânea desaparecem também os sinais de pontuação.
- Cada linha poética torna-se uma imagem sob a qual corre o fluxo do pensamento. Daí a inutilidade de pontuação, signos
precisos do pensamento lógico.

Ex.: Poesia contemporânea – onde inexistem sinais de pontuação e letras maiúsculas: outra recusa de certa linha atual.

como quem se abre num poço o que o poeta é por dentro


e num poço só se devora bicho anatômico que vendo
assim o poeta rasga suas entranhas violadas
a boca do corpo agora faça delas as violências
que é tempo de tocar em que se sente tocado
não nos objetos por dentro e exposto ao sal do vento
mas expor deles cá fora em que se estenda levado (E. Melo e Castro)

METRO
 Metro – unidade rítmica repetida ou combinativa num verso.
-- a medida das sílabas que formam a linha (o verso) poética.
 Andamento – são os acentos silábicos, responsáveis pela homofonia rítmica.
 Metrificação ou escansão – contagem das sílabas poéticas para verificar a composição do verso e sua medida.
 Contando as sílabas métricas, hoje. A organização do poema em versos agrupados em estrofes faz o ritmo saltar aos olhos do
leitor. a rima, quando presente, acentua essa impressão. no entanto, é a cadência do versos lido em voz alta que realmente indica a
alternância de sílabas fortes e fracas. são as regras de versificação ou de metrificação que estabelecem onde deve cair o acento
tônico em cada verso. na mesma posição da sílaba forte, ocorre a cesura, pausa que geralmente, divide o verso em partes ou
segmentos rítmicos.

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Sílabas Métricas Metro
Uma Monossílabo
Duas Dissílabo
Três Trissílabo
Quatro Tetrassílabo
Cinco Pentassílabo ou Redondilha Menor
Seis Hexassílabo ou Heróico Quebrado
Sete Heptassílabo ou Redondilha Maior
Oito Octossílabo
Nove Eneassílabo
Dez Decassílabo
Onze Hendecassílabo ou Arte Maior
Doze Dodecassílabo ou Alexandrino
+ Doze Bárbaros

REGRAS:
 O metro de um verso é definido pelo número de sílabas métricas que o compõem, consideradas até a última sílaba tônica.

Eu vim de geração das crianças traídas. (______sílabas)


Eu vim de um montão de coisas destroçadas. (______sílabas)
Eu tentei unir células e nervos mas o rebanho morreu (______sílabas)

Eu fui à tarefa num tempo de drama (______sílabas)


Eu cerzi o tambor da ternura quebrado. ( Lindolfo Bell) (______sílabas)

 Na contagem das sílabas métricas, o poeta pode usar os seguintes artifícios:


- Elisão – quando uma palavra termina por vogal e a seguinte também começa por vogal ou h, considera-se uma única sílaba
métrica.

Ex.: De amor = ____________________=______sílabas


De hora ____________________ =______sílabas

- Hiato – as duas vogais se repelem.

Ex.: Como pode o homem (________________________) (__________________)


sentir-se a si mesmo (________________________) (__________________)
quando o mundo some? (________________________) (__________________)
(Carlos Drummond de Andrade)

- Ectlipse – se a palavra termina por nasal e a seguinte começa por vogal, pode haver a supressão da ressonância nasal para
permitir a elisão.
Ex.: Com o ___________________ = __________sílabas

Quando se dá o encontro de duas ou mais vogais no interior da palavra:


- Sinérese – transformação de um hiato num ditongo. Fusão das vogais numa só sílaba.
Ex.: Piedade _____________________ = ____________sílabas

- Diérese – transformação de um ditongo num hiato. Repulsão das vogais, tornando-se independentes.
Ex.: Saudade _____________________ = _____________sílabas

- Aférese – supressão de uma sílaba ou fonema inicial.


Ex.: Ainda _____________________ = _____________sílabas

ESTROFE:
 É um conjunto de versos. Antes e depois de cada estrofe aparece uma linha em branco, marcando a sua unidade.
 Cada estrofe corresponde a um movimento rítmico ideológico do poema.
 Denota a forma poemática: soneto, canção, ode...
 Conforme o número de versos, recebe um nome diferente:

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Número de versos Nome da estrofe
Um verso Monóstico
Dois versos Dístico
Três versos Terceto
Quatro versos Quadra ou Quarteto
Cinco versos Quintilha ou Quinteto
Seis versos Sextilha ou Sexteto
Sete versos Septilha ou Sétima
Oito versos Oitava
Nove versos Nona ou Novena
Dez versos Décima

Quanto à medida métrica:


- Estrofe isométrica – quando usa uma só medida métrica em todos os versos.

Cavaleiro das aramas escuras


Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangrenta nas mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração? (Álvares de Azevedo)

- Estrofe heterométrica – quando misturam metros de diferentes medidas ou utilizam versos livres.

O poema, com seus cavalos


Quer explodir
Teu tempo claro; romper
Seu branco fio, seu cimento
Mudo e fresco. (João Cabral de Melo Neto)

Quanto ao esquema rítmico:


- Estrofes isorrítmicas – constituídas por versos com o mesmo esquema rítmico.
- Estrofes heterorrítmicas – constituídas por versos com esquema rítmico variado.

RIMA:
 Rima – é a semelhança sonora dos fonemas a partir da última sílaba tônica.
 Elemento essencial na criação da musicalidade inerente à linguagem poética.
 Convencionou-se que cada tipo de rima é indicado por uma letra.
 A rima pode ser homofônica e homográfica ou apenas homofônica.

Caland'e sofrendo Tem no seio – dois pássaros que pulam


Meu mal sem medida Ao contato de um beijo – nos pequenos
Mil mortes na vida Pés, que as sandálias sôfregas osculam,
Sinto, nam vos vendo Na coxa, no quadril, no torso airoso,
(Conde do Vimioso) Todo o primor da calipígia Vênus (Olavo Bilac)

Tipologia:
- Rima externa – quando a semelhança fônica ocorre no final dos versos.
- Rima interna – quando a semelhança fônica ocorre no interior dos versos.

Como é difícil acordar calado


Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado (Cálice – Gilberto Gil)

São belas – bem o sei, essas estrelas,


Mil cores – divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas (Almeida Garret)

- No interior do mesmo verso:


Ex.: Como são cheirosas as primeiras rosas.

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- Na última palavra de um verso com outra do meio do verso seguinte:
Ex.: Anjo sem pátria, branca fada errante
Perto ou distante que de mim vás

- Rima coroada – produzida pelo eco.


Virgem, de loiros cabelos Sob nuvem lutulenta
- Belos - - Lenta -
Como cadeia de amores, Se esconde a pálida lua,
Onde vais tão triste agora Na sombra os gênios combatem,
- Hora - - Batem -
De tão sinistros horrores? Os ventos em rocha nua...
(Fagundes Varela
Quanto à acentuação:
- Rima Aguda ou Masculina – quando as palavras que rimam são oxítonas.
- Rima Grave ou Feminina – quando os vocábulos são paroxítonos.
- Rima Esdrúxula – quando a rima se realiza entre segmentos proparoxítonos.

Um mavioso harpejo Geram-te – rosa súplice!


De cítara ideal, Que amor e que inocência
De luz solar um beijo Formam-te o ser! É dúplice
Em prisma de cristal, Dúplice a tua essência! (Raimundo Correia)

Quanto à natureza:
- Rima Consoante ou Soante – é a que apresenta semelhança de consoantes e vogais, a partir da vogal tônica.
Quando olhaste bem nos olhos meus.
E o teu olhar era de adeus. (Chico Buarque de Hollanda)

Flabela
Flébil
Lábil
Isabela
Nota e núbil (Manuel Bandeira)
- Rima Assonante ou Incompleta ou Vocálica ou Toante – é a que apresenta semelhanças apenas de vogais, isto é, quando
há identidade de vogal tônica.

Muito bom dia, senhora, Por Deus, coitada vivo


que nessa janela está. Pois não vem meu amigo
Sabe dizer se é possível Pois não vem, que farei?
algum trabalho encontrar? Meus cabelos, com sirgo
(João C. de Melo Neto) Eu non vos liarei.
(Pero Gonçalves Portocarreiro)
Pelo critério gramatical e fônico:
 Rima Pobre
- Critério Gramatical: é a rima de palavras que pertencem à mesma classe gramatical ou surge do relacionamento de palavras
com terminações comuns (ão, ente...)
- Critério Fônico: quando ocorre apenas em um fonema.
 Rima Rica
- Critério Gramatical: é a que faz coincidir sonoramente palavras de diferentes classes gramaticais ou de palavras de
terminações pouco freqüente.
- Critério Fônico: quando coincide os sons das palavras a partir da consoante que precede a vogal.

O Havaí Sigo...Dissipo a tristeza


Seja aqui De tudo, por todo o espaço
Tudo o que sonhares E ardo, e canto a Natureza
Todos os lugares Arde e canta quando eu passo. (Olavo Bilac)
As ondas dos mares (Caetano Veloso)
- Rima Ampliada ou Lexemática: é quando a homofonia atinge a vogal pretônica e pode se estender a todos os fonemas.

Um prêmio ainda da justiça eternal


Oh! Basta um sonho!... O respirar de um silfo
O amor de uma alma compassiva e terna (Fagundes Varela)

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Quanto à disposição:

- Rima Emparelhada ou Germinada: é a que se distribui de forma alternada, duas a duas, conforme a estrutura aa bb cc bb
aa, etc.
Sim, a minh'alma sabe essas coisas ébrias
Que nos atiram para o infinito.
Quando a minh'alma fala, a sua voz é um grito
Grito de oiro que vara a solidão do espaço,
E Deus acolhe no seu regaço. (José Régio)

- Rima Entrelaçada, Interpolada ou Oposta: é a que intercala uma unidade rítmica em outra, segundo a estrutura abba,
bccb, cddc, etc.
Sobre estas duras cavernosas fragas
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões na alma fervendo
Como fervem no pego as crespas vagas. (Bocage)

- Rima Cruzada ou Alternada: é a que distribui de forma alternada, uma a uma, conforme a estrutura abab.

Cheguei, chegaste. Vinhas fatigada


E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
A alma de sonhos povoada eu tinha... (Olavo Bilac)

- Rima Encadeada: é a que relaciona um fonema do fim do verso com outro situado no interior do verso seguinte.

Ouve ó Glaura, o som da Lira,


Que suspira lagrimosa,
Amorosa em noite, escura
Sem aventura, nem prazer (Silva Alvarenga)
-
- Rima Misturada : é a que não obedece a nenhum esquema regular.

Aos que souberam escutar


O sino desta balada,
Que faz do fim seu começo,
Batendo ao longo da estrada;
Aos que puderam acompanhar
Os pombos duma revoada,
Que atravessando seu corpo
A tornam ressuscitada; (Marcos Konder Reis)

- Rima Perdida ou Rima Órfã : é um verso que não rima. Indicado pela letra ''x''.

Sim, a minh'alma sabe essas coisas ébrias


Que nos atiram para o Infinito.
Quando a minh'alma fala, a sua voz é um grito
Grito de oiro que vara a solidão do espaço,
E Deus acolhe no seu regaço. (José Régio)

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