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Literatura Gótica
A literatura gótica surge no século XVIII, mais precisamente na Inglaterra,
com a publicação de “O Castelo de Otranto” (1764). Essa obra tem a autoria
do romancista inglês Horace Walpole (1717-1797).
Poesia Gótica
Além da prosa, a poesia gótica foi também muito explorada na literatura
gótica. Lord Byron (1788-1824) foi um dos poetas mais importantes do
romantismo inglês, dentre suas obras de estilo gótico temos: "Horas de
Lazer", "Escuridão", "O Sonho", "A Profecia de Dante", "Manfred" e "Don Juan".
No Brasil, além de Álvares de Azevedo, com a obra poética “Lira dos Vinte
Anos”, Augusto dos Anjos (1884-1914) explorou o estilo gótico em suas
obras "Saudade e Versos Íntimos", "Psicologia de um Vencido", "Ao Luar" e "Eu
e Outras Poesias".
Noite na Taverna
Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, foi publicada postumamente em
1855. A obra de dois volumes e sete capítulos representa uma série de
narrativas de dimensões fantásticas, desenvolvidas numa taverna em torno
dos temas do amor, sexo e morte. Segue abaixo um trecho da obra:
“— Silêncio, moços! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as
mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da
embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da
volúpia?
— O cólera! e que importa? Não há por ora vida bastante nas veias do homem?
não borbulha a febre ainda as ondas do vinho? não reluz em todo o seu fogo a
lâmpada da vida na lanterna do crânio?
— Vinho! vinho! Não vês que as taças estão vazias bebemos o vácuo, como um
sonâmbulo?
— Oh! vazio! meu copo esta vazio! Olá taverneira, não vês que as garrafas estão
esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os lábios da garrafa são como os da
mulher: só valem beijos enquanto o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa
de lava?
— O vinho acabou-se nos copos, Bertram, mas o fumo ondula ainda nos
cachimbos! Após os vapores do vinho os vapores da fumaça! Senhores, em
nome de todas as nossas reminiscências, de todos os nossos sonhos que
mentiram, de todas as nossas esperanças que desbotaram, uma última saúde!
A taverneira ai nos trouxe mais vinho: uma saúde! O fumo e a imagem do
idealismo, e o transunto de tudo quanto ha mais vaporoso naquele
espiritualismo que nos fala da imortalidade da alma! E pois, ao fumo das
Antilhas, a imortalidade da alma!
— Bravo! bravo!”
Macário
Dividido em dois episódios, a peça teatral escrita por Álvares de Azevedo
em 1855 aborda a história do estudante Macário. Este é o nome do
protagonista da história, o qual tem um encontro com Satã.
“Não escreverei mais: não. Calarei o meu segredo e morrerei com ele.
Esqueceu tudo! tudo! Esqueceu as noites solitárias em que eu estava a sós com
ela, com sua mão na minha, com seus olhos nos meus. Esqueceu! Deus lhe
perdoe. E se eu morro por ela, seja ela feliz! Mas por que mentia se ela se ria de
mim? Por que aqueles olhares tão lânguidos, aqueles suspiros tão doces? Por
que sua mão estremecia nas minhas e se gelava quando eu a apertava? Por
que naquela noite fatal, quando eu a beijei, ela escondeu seu rosto de virgem
nas mãos, c as lágrimas corriam por entre seus dedos, e ela fugiu soluçando ?
( Pensativo ) .
Ela não me ama...é certo. Nunca, nunca ela me teve amor: a ilusão morreu...
Oh! não morrerei com ela? Ontem falei com Davi sobre o suicídio. Davi
declamou, repetiu o que dizem esses homens sem irritabilidade de coração, que
julgam que as palavras provam alguma coisa. Eu sorri. Davi é feliz: ele sim,
nunca amará, não há de sentir esse sentimento único e queimador absorver
como uma casuarina toda a seiva do peito, alimentar-se de todas as
esperanças, todas as ambições, todos os amores da terra e do céu, dos homens
e de Deus, para fazer de tudo isso uma única essência, para transubstanciar
tudo isso no amor de uma mulher! E depois, quando esse amor morrer,
achando o peito vazio como o de um esqueleto, não terá animo para
adormecer no seio da morte!
Eis aí o veneno, ó minha terra! Ó minha mãe! mais nunca te verei! Meu pai, meu
santo pai! e tu, mãe'! de minha mãe que sentias por mim, cuja vida era uma
oração por mim, que enxugavas tuas lágrimas nos teus cabelos brancos
pensando no teu pobre neto! Adeus! Perdão! perdão!
Creio que chorei. Tenho a face molhada. A dor me enfraqueceria? Não! não Não
há remédio. Morrerei.”