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maio202 Escola Secundária de Fonseca Benevides

2 Ano letivo 2021 – 2022


Teste de PORTUGUÊS-Leitura e Gramática

11º A1 Profª Mª Teresa Santos

Grupo I
Parte A
Lê atentamente o excerto d’ Os Maias que se segue.

No verão, Pedro partiu para Sintra; Afonso soube que os Monfortes tinham lá alugado uma
casa. Dias depois o Vilaça apareceu em Benfica, muito preocupado: na véspera Pedro
visitara-o no cartório, pedira-lhe informações sobre as suas propriedades, sobre o meio de
levantar dinheiro. Ele lá lhe dissera que em setembro, chegando à sua maioridade, tinha a le-
gítima1 da mamã…
– Mas não gostei disto, meu senhor, não gostei disto…
– E porquê, Vilaça? O rapaz quererá dinheiro, quererá dar presentes à criatura… O amor
é um luxo caro, Vilaça.
– Deus queira que seja isso, meu senhor, Deus o ouça!
E aquela confiança tão nobre de Afonso da Maia no orgulho patrício 2, nos brios de raça
de seu filho, chegava a tranquilizar Vilaça.
Daí a dias, Afonso da Maia viu enfim Maria Monforte. Tinha jantado na quinta do Se-
queira ao pé de Queluz, e tomavam ambos o seu café no mirante 3, quando entrou pelo cami-
nho estreito que seguia o muro a caleche 4 azul com os cavalos cobertos de redes. Maria, abri-
5
gada sob uma sombrinha escarlate, trazia um vestido cor-de-rosa cuja roda, toda em folhos,
quase cobria os joelhos de Pedro, sentado ao seu lado: as fitas do seu chapéu, apertadas num
grande laço que lhe enchia o peito, eram também cor-de-rosa: e a sua face, grave e pura
como um mármore grego, aparecia realmente adorável, iluminada pelos olhos de um azul
sombrio, entre aqueles tons rosados. No assento defronte, quase todo tomado por cartões de
modista, encolhia-se o Monforte, de grande chapéu panamá, calça de ganga, o mantelete 5 da
filha no braço, o guarda-sol entre os joelhos. Iam calados, não viram o mirante; e, no
caminho verde e fresco, a caleche passou com balanços lentos, sob os ramos que roçavam a
10 sombrinha de Maria.
O Sequeira ficara com a chávena de café junto aos lábios, de olho esgazeado, murmurando:
– Caramba! É bonita!
Afonso não respondeu: olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate que agora se inclinava
sobre Pedro, quase o escondia, parecia envolvê-lo todo – como uma larga mancha de sangue
alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.

QUEIRÓS, Eça de, 2016. Os Maias. Porto: Porto Editora (Capítulo I, pp. 30-31) (1.ª ed.: 1888)

1. porção de bens de que o testador não pode dispor, por ser legalmente destinada aos herdeiros em linha reta; 2. nobre,
distinto; 3. miradouro; 4. carruagem; 5. capa curta de senhora, leve e com rendas.
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Apresenta, de forma estruturada, as tuas respostas aos itens.


1. Integra o excerto na obra, destacando a importância dos acontecimentos narrados.

2. Divide o texto nas suas partes constitutivas, fundamentando.

3. Descreve a evolução do estado de espírito de Afonso da Maia ao longo do relato.

4. Aponta dois indícios do desenlace trágico da paixão de Pedro por Maria Monforte.

5. Identifica e explicita o valor de dois recursos expressivos utilizados no texto.


(Questionário parcialmente adaptado da Prova Escrita de Português A, 2007, 1.ªfase)

Parte B
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Lê o texto seguinte.

Eu conheci Tomás de Alencar. Conheci-o na província, donde nunca saiu, quando ele
já tinha o seu longo bigode romântico embranquecido pela idade e amarelecido pelo
cigarro, como n’Os Maias. Não era este homem profissionalmente um poeta – quero
dizer, nunca fabricara livros de versos para vender a editores. Fazia, porém, versos, que
apareciam 5num jornal de ***. E era ainda poeta pela sua maneira especial de entender
a vida e o mundo. Desde o primeiro dia que o tratei, senti logo nele uma soberba
encarnação do lirismo romântico. E desde logo tive o desejo, a fatal tendência, de
convertê-lo num personagem. Já, com efeito, este homem perpassa n’O Crime do Padre
Amaro – tão rapidamente, porém, que o tipo vem todo condensado numa só linha.
Ninguém hoje se 10lembra já d’O Crime do Padre Amaro, por isso cito esse episódio. É
na praia da Vieira, uma praia de banhos ao pé de Leiria, à hora do banho: “As senhoras
sentadas em cadeirinhas de pau, de sombrinhas abertas, olhavam o mar palrando; os
homens, de sapatos brancos, estendidos pelas esteiras, chupavam o cigarro, riscavam
emblemas na areia – enquanto o poeta Carlos Alcoforado, muito fatal, muito olhado,
passeava só, 15soturno, junto à vaga, seguido do seu terra-nova.” Mais nada. Não volta
mais em todo o livro. Mas nessa curta linha passa ele real, como era, tão vivo que o
revejo agora, magro, com a grenha sobre a gola, fatal e soturno, admirado das mulheres,
seguido do seu terra- -nova. E revejo-o ainda, como numa das derradeiras vezes, anos
depois, passeando rente de um muro de cemitério, ao cair da tarde, numa quieta vila de
província, mais grisalho, 20mais soturno, falando de versos e das tristezas da vida, com
o chapéu desabado sobre os olhos, embrulhado num xale-manta cinzento, seguido do
seu terra-nova. O meu trabalho n’Os Maias foi transportá-lo para as ruas de Lisboa,
acomodá-lo ao feitio de Lisboa, começando por o desembrulhar do seu xale-manta, e
separá-lo do seu cão – porque estes dois atributos não se coadunam com os costumes da
capital. Completei-o 25também dando-lhe esse horror literário do naturalismo, que
Alcoforado nunca tivera – porque nesses tempos ditosos ainda não se parolava em
Portugal acerca do naturalismo, nem o nosso bom Chagas conhecia ainda, para dele se
rir, de alto para baixo, o épico d’O

Germinal. Em todas as feições fundamentais, porém, ele permaneceu no romance


exatamente como foi na vida. Era dele a solenidade do Alencar. Dele a voz cavernosa e
30lenta. Dele o hábito (que o ajudou a matar) de atirar às goelas copinhos de genebra.
Dele o costume de empregar o invocativo filhos! – tão inveterado que este plural vinha
mesmo quando se dirigia a uma só pessoa, como se em espírito falasse a uma
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descendência de espíritos. Eram dele, enfim, a lealdade, a honestidade impecável, a


bondade, a generosidade, a alta cortesia de maneiras: e é bem petulante que alguém
tente 35à força encafuar-se dentro destas nobres qualidades, e procure resplandecer
perante a multidão com o brilho que elas irradiam, repetindo assim a fábula sempre
grotesca e sempre irritante da gralha que se reveste com as penas melhores do pavão!

QUEIRÓS, Eça de (2000). Notas Contemporâneas. Lisboa: Livros do Brasil [pp. 157-159]

1. Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que


identifica a opção escolhida.

1.1. Neste texto, Eça de Queirós

a. dá a conhecer a génese da personagem Alencar.

b. caracteriza minuciosamente, em termos físicos, psicológicos e sociais, a


entidade real que deu origem à personagem Alencar.

c. critica asperamente o perfil psicológico dos poetas Carlos Alcoforado e


Alencar.

1.2. No primeiro parágrafo, Eça de Queirós refere-se a

a. um poeta real.

b. uma entidade marcada pela veia romântica.

c. um artista de renome no século XIX.

1.3. Na linha 8, o conector “com efeito” desempenha uma função (5 pontos)

a. contrastiva.

b. de confirmação.

c. contra-argumentativa.

1.4. O discurso reproduzido nas linhas 10 a 15 é apresentado sob a forma de


(5 pontos)
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a. discurso direto.

b. discurso indireto.

c. citação.

1.5. Com a expressão “Completei-o também dando-lhe esse horror literário do

naturalismo” (ll. 24-25), Eça de Queirós (5 pontos)

a. demonstra a sua repulsa pelo Naturalismo.

b. atribui uma característica psicológica à personagem Alencar.

c. alude a Carlos Alcoforado como poeta que segue a estética do Naturalismo.

1.6. Na última frase do texto, a referência à “gralha” e ao “pavão” baseia-se.

a. na metáfora.

b. no eufemismo.

c. na sinestesia.

Grupo II
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1. Identifica a modalidade de reprodução do discurso no discurso


presente nas frases que se seguem.

a. No seu texto, António utiliza repetidas vezes o provérbio “Quem espera sempre
alcança.”
b. Os meus pais estavam dececionados. Sim, eles podiam lá compreender que o
seu filho seguisse Direito em vez de Medicina. Era o que faltava!
c. – Sandra, trouxeste a gramática que te emprestei na semana passada?
d. Ele insistiu que não havia mais nada a fazer naquela situação.
e. A Sílvia disse ao Pedro que lhe ligasse antes de sair de casa.
f. – Concordas com o que Fernando Pessoa diz no poema “Tudo o que faço ou
medito”?
g. O Ricardo descrevia aos amigos o espetáculo de acrobacia a que tinha assistido
no Coliseu. Que leveza! Que harmonia! Era bom voltar a ver aqueles artistas
outra vez.
h. Segundo Eugénio de Andrade, “as palavras são como cristal”.

2. Seleciona a opção que completa corretamente cada uma das frases seguintes.

2.1. Na frase “A Rita disse novamente que aquele livro era fantástico.”, a forma verbal que
pode substituir o verbo introdutor do discurso, atendendo ao contexto em que ocorre, é
(A) indagou.
(B) sussurrou.
(C) negou.
(D) reforçou.

2.2. Em “O Rodrigo disse: – Estou cansado de estar sempre a fazer o mesmo tipo de
trabalho. Acabou-se!”, a forma verbal que, no contexto, pode substituir o verbo
introdutor do discurso, é
(A) lamentou
(B) alegou.
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(C) reclamou.
(D) propôs.

Grupo III
(2ª parte do teste)

Cotações
Grupo Item
Cotação (em pontos)

I 20 20 20 10 10 10 10 100
1. 2.
II 25 25 50

III Item único 50

TOTAL 200

* conteúdo - 9 pontos; aspetos de estruturação do discurso e correção linguística - 7 pontos (4+3)

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