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ESCOLA BÁSICA DA VENDA DO PINHEIRO

PORTUGUÊS
FICHA DE AVALIAÇÃO – 9.º B
Prof.ª Sílvia Rebocho

Grupo I

Parte A

Lê atentamente o texto.

Da nossa literatura vê-se o mar


Em mais de 800 anos, os autores portugueses fizeram do mar uma personagem que foi
revelando as suas várias faces, do desconhecido ao perigoso, da promessa à decadência, da
esperança à tristeza.

Texto de Ana Cristina Câmara

“Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se
5 ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação”,
escreveu Vergílio Ferreira. Essa língua, portuguesa, nossa, teve sempre o gosto salgado e o cheiro
da maresia. Dos primórdios da portugalidade, com as costas voltadas para Castela, só havia um
caminho: o mar. E esse mar, vizinho, desconhecido, foi sendo um mar experimentado, de riquezas,
de desgraças e desilusões – mas sempre presente.
10 “A representação do mar na literatura é tão antiga quanto a própria literatura”, afirma ao SOL
José Cândido Martins, professor de Literatura no Centro Regional de Braga da Universidade
Católica. Já os poetas trovadorescos, dos séculos XII a XIV, se referiam a um mar “conotado com o
perigo ou com a representação simbólica do homem amado ou distante”. Martim Codax, um dos
expoentes desta literatura galaico-portuguesa, compunha a canção de amigo: “Ondas do Mar de
15 Vigo/, se vistes meu amigo! E ai Deus, se verrá cedo!/ Ondas do mar levado,/ se vistes meu
amado!/ E ai Deus, se verrá cedo!”. […]
Avançando sempre mais, os portugueses redefinem o mundo, traçam-lhe rotas, agigantam-no
mas também o domam. E a literatura reflete isso, com Os Lusíadas como seu expoente máximo.
Porque a epopeia de Camões celebra uma viagem histórica, contra o tempo – a descoberta do
20 caminho marítimo para a Índia, com todos os perigos que houve que enfrentar, desde o medo do
desconhecido aos fenómenos naturais, da fome à doença, até à morte, nesse cemitério de
portugueses que era o mar. […]
Na transição do século XIX para o XX, será a Mensagem, de Fernando Pessoa, a celebrar
novamente as aventuras marítimas, porque mar e Portugal não podem ser separados – “Ó mar
25 salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal!/ Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/
Quantos filhos em vão rezaram!”. Segundo Cândido Martins, o poeta traçou “uma imagem que
sublinha os custos, as perdas. Mas, influenciado por Camões, fala do Mostrengo, que se verga à
vontade do rei D. João II e do povo português”. Já Raul Brandão, n’Os Pescadores, retrata um mar
realista, de todos os dias, “com pescadores que morrem no mar na luta pela sobrevivência diária”,
30 sem fins de riqueza ou fama, que nascem e morrem anónimos e esquecíveis.
in Tabu, n.° 216, 22 de outubro de 2010 (adaptado e com supressões)
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
1. Associa cada elemento da coluna A ao elemento da coluna B que lhe corresponde, de
acordo com o sentido do texto.

Coluna A Coluna B
1. O mar representa o desconhecido, os perigos e
as doenças que os portugueses tiveram de a. Camões
enfrentar na descoberta do caminho marítimo b. D. João II
para a Índia.
c. Fernando Pessoa
2. O mar é retratado com realismo, focando-se a
vida quotidiana dos pescadores anónimos, a sua d. José Cândido
labuta e morte no mar. Martins
3. O mar representa o perigo, a distância e a e. Martim Codax
ausência do ser amado. f. Raul Brandão
4. O mar representa o sacrifício da nação g. Vergílio Ferreira
portuguesa e a sua temeridade.

2. Relê o terceiro parágrafo do texto e indica a que se refere o pronome “isso” (l. 18).

3. Seleciona, em cada item (3.1. a 3.5.), a opção que permite obter a afirmação adequada
ao sentido do texto.

3.1. Ao dizer “Da minha língua vê-se o mar.” (l. 4) Vergílio Ferreira utiliza…
a. uma personificação.
b. uma metáfora.
c. uma antítese.

3.2. Ao referir-se ao mar (ll. 4-5), Vergílio Ferreira salienta…


a. o som emitido pelas ondas do mar ao embaterem na costa portuguesa.
b. o desassossego que o rumor do mar lhe provoca.
c. a influência exercida pelo mar na cultura portuguesa.

3.3. Depois de citar Vergílio Ferreira, Ana Cristina Câmara…


a. emite a sua opinião, discordando do escritor.
b. transmite o seu ponto de vista, complementando a citação.
c. revela-se imparcial e objetiva.

3.4. Na expressão “A representação do mar na literatura é tão antiga quanto a própria


literatura” (l. 10) estabelece-se uma relação de…
a. contraste.
b. causa.
c. comparação.

3.5. A palavra “esquecíveis” (l. 30) pode ser substituída por…


a. que podem ser lembrados.
b. que não devem ser esquecidos.
c. que podem ser esquecidos.
d.
Parte B

Lê atentamente o texto. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado.

A palavra mágica

Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém. Se às vezes guerreava, com
palavras azedas para cá e para lá, era apenas com os fundos da própria consciência. Viúvo,
sem filhos, dono de umas leiras 1 herdadas, o que mais parecia inquietá-lo era a maneira de
alijar 2 bem depressa o dinheiro das rendas. Semeava tão facilmente as economias, que
5 ninguém via naquilo um sintoma de pena ou de justiça – mesmo da velha –, mas apenas
um desejo urgente de comodidade. Dar aliviava. Pregavam-lhe que o Paulino ia logo de
casa dele derretê-lo em vinho, que o Carmelo não comprava nada livros ou cadernos ao
filho que andava na instrução primária. Silvestre encolhia os ombros, não tinha nada com
isso. As moedas rolavam-lhe para dentro da algibeira e com o mesmo impulso fatal
10 rolavam para fora, deixando-lhe, no sítio, a paz.
Ora um domingo, o Silvestre ensarilhou-se, sem querer, numa disputa colérica com o
Ramos da Loja. Fora o caso que ao falar-se, no correr da conversa, em trabalhadores e
salários, Silvestre deixou cair que, no seu entender, dada a carestia da vida, o trabalho de
um homem de enxada não era de forma alguma bem pago. Mas disse-o sem um desejo de
15 discórdia, facilmente, abertamente, com a mesma fatalidade clara de quem inspira e
expira. Todavia o Ramos, ferido de espora 3 , atacou de cabeça baixa:
– Que autoridade tem você para falar? Quem lhe encomendou o sermão?
– Homem! – clamava o Silvestre, de mão pacífica no ar. – Calma aí, se faz favor. Falei
por falar.
20 – E a dar-lhe. Burro sou eu em ligar-lhe importância. Sabe lá você o que é a vida, sabe
lá nada. Não tem filhos em casa, não tem quebreiras de cabeça 4 . Assim, também eu.
– Faço o que posso – desabafou o outro.
– E eu a ligar-lhe. Realmente você é um pobre-diabo, Silvestre. Quem é parvo é quem o
ouve. Você é um bom, afinal. Anda no mundo por ver andar os outros. Quem é você,
25 Silvestre amigo? Um inócuo 5, no fim de contas. Um inócuo é o que você é.
Silvestre já se dispusera a ouvir tudo com resignação. Mas, à palavra “inócuo”,
estranha ao seu ouvido montanhês, tremeu. E à cautela, não o codilhassem por parvo 6,
disse:
– Inoque será você.
30 Também o Ramos não via o fundo ao significado de “inócuo”. Topara por acaso a
palavra, num diálogo aceso de folhetim, e gostara logo dela, por aquele sabor redondo a
moca grossa de ferro, cravada de puas 7 . Dois homens que assistiam ao barulho partiram
logo dali, com o vocábulo ainda quente da refrega, a comunicá-lo à freguesia:
– Chamou-lhe tudo, o patife. Só porque o pobre entendia que a jorna 8 de um homem é
35 fraca. Que era um paz-de-alma. E um inoque.
– Que é isso de inoque?
– Coisa boa não é.
Queria ele dizer na sua que Silvestre não trabalhava, que era um lombeiro 9, um vadio.
40
Como nesse dia, que era domingo, Paulino entrara em casa com a bebedeira do seu
descanso, a mulher praguejou, como estava previsto, e cobriu o homem de insultos como
não estava inteiramente previsto:
– Seu bêbedo ordinário. Seu inoque reles.
Quando a palavra caiu da boca da mulher, vinha já tinta de carrascão 10.
E desde aí, inoque significou, como é de ver, vadio e bêbedo.

FERREIRA, Vergílio - «A palavra mágica»,

in Contos. 9.ª ed. Lisboa: Bertrand Editora, 1999.

Vocabulário:
1- leiras – faixa de terreno para cultivo
2- alijar – desfazer-se de…
3- espora - peça de metal com ponta, que se prende no calcanhar do cavaleiro, para incitar o
cavalo
4- quebreiras de cabeça– cuidado; preocupação
5- inócuo - inofensivo
6- codilhassem por parvo – tomassem por parvo
7- puas – pontas aguçadas
8- jorna – salário
9- lombeiro – preguiçoso
10- carrascão – de cor carregada como o vinho com o mesmo nome

Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

4. Indica duas características do protagonista presentes no primeiro parágrafo. Justifica a tua


resposta recorrendo a expressões do texto.

5. A dado momento, alguém defende Silvestre por causa da discussão com o Ramos da loja.
Transcreve uma passagem do texto que comprove esta afirmação.

6. Explica, por palavras tuas, as frases: «Também o Ramos não via o fundo ao significado
de “inócuo”. Topara por acaso a palavra, num diálogo aceso de folhetim, e gostara logo
dela, por aquele sabor redondo a moca grossa de ferro, cravada de puas.» (linhas 30 a
32).

7. Identifica o recurso expressivo em «Todavia o Ramos, ferido de espora, atacou de cabeça


baixa» (linha 16).

7.1 Refere o efeito de sentido conseguido pelo uso desse recurso expressivo.

8. Caracteriza o espaço social.


GRUPO II

1. Indica as classes e subclasses a que pertencem as palavras sublinhadas em:


“Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém.”

2. Reescreve a frase, substituindo as expressões que desempenham a função de


complemento direto pelos pronomes pessoais.
a) Ele dirá a palavra mágica.
b) Quando vir o Silvestre, digo-te.
c) Ajudarias o Silvestre, se pudesses?
d) O Silvestre vai dar dinheiro aos pobres.

3. Justifica a colocação dos pronomes pessoais átonos nas frases:


a) Nunca a tinha tido com ninguém.
b) Quem lho encomendou?

4. Transforma as duas frases simples numa complexa, utilizando o pronome


relativo “que”. Faz as alterações necessárias.
a) Eu entreguei um livro ao meu professor. O meu professor leu o livro.

5. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões sublinhadas


em:
a) “Burro sou eu em ligar-lhe importância.”;
b) “Mas, à palavra «inócuo», estranha ao seu ouvido montanhês, tremeu.”.

GRUPO III

Sim,
conheço a força das palavras
menos que nada.
menos que pétalas pisadas
num salão de baile
e no entanto
se eu chamasse
quem dentre os homens me ouviria
sem palavras?

Carlos de Oliveira

Elabora um comentário, bem estruturado, a este poema, onde relaciones o tema


nele abordado com o excerto transcrito do conto “A palavra mágica”, de Vergílio Ferreira.

Não te esqueças de fazer uma breve apreciação fundamentada sobre a ideia


principal expressa no poema de Carlos de Oliveira.

Dá um título ao teu comentário e utiliza 140 a 180 palavras. Respeita as três fases
na elaboração de um texto escrito.
Teste de Português- 9.º B

Proposta de correção

Grupo I

Parte A

1.
1. a.;
2. f.;
3. e.;
4. c.

2. O pronome “isso” refere-se a “Avançando sempre mais, os portugueses redefinem o mundo,


traçam-lhe rotas, agigantam-no, mas também o domam.” (ll. 17-18).

3.1. b.;
3.2. c.;
3.3. b.;
3.4. c.;
3.5. c.

Parte B

4. No primeiro parágrafo, o protagonista revela-se pacífico, pois “nunca tinha tido uma pega com
ninguém”, e generoso, “Dar aliviava”.

5. A dado momento, um dos homens que assistiram à discussão defende Silvestre: “– Chamou-lhe
tudo, o patife. Só porque o pobre entendia que a jorna 7 de um homem é fraca”.

6. A expressão significa que o Ramos também não sabia bem o significado da palavra “inócuo”,
utilizou-a porque a leu num folhetim e gostou da sua sonoridade.

7. O recurso de estilo usado é a metáfora.

7.1 Esta metáfora realça que o Ramos se sentiu atingido com a opinião de Silvestre, que considerava
que os trabalhadores rurais eram explorados; fica assim implícito que o Ramos seria um dos
exploradores. Reagindo à acusação, o Ramos ripostou fazendo acusações a Silvestre.

8. O espaço social deste conto caracteriza-se por um ambiente rural, marcado pela ignorância e pela
agressividade entre as pessoas. Sugere-se uma população dividida entre os que têm algumas posses
e os que têm dificuldades, trabalhadores rurais explorados. Há ainda a referência ao consumo de
vinho como uma forma de lazer.
Grupo II

1.
Nunca – advérbio de predicado/ tempo
Tinha-verbo auxiliar (dos tempos compostos)
Tido – verbo principal transitivo direto e indireto
Pega- nome comum
Com - preposição
Ninguém-pronome indefinido

2.
a) Ele di-la-á.
b) Quando o vir, digo-te.
c) Ajudá-lo-ias, se pudesses?
a) O Silvestre vai dá-lo aos pobres.

3.
a) O pronome surge antes do verbo pois a frase é introduzida pelo advérbio “nunca”, a
conferir uma ideia de negação.
b) O pronome surge antes do verbo por a frase ser interrogativa.

4. Eu entreguei um livro ao meu professor que o leu.

5.
a) Predicativo do sujeito
b) Modificador apositivo do nome

Grupo III

A magia das palavras

Tanto no conto “A palavra mágica”, de Vergílio Ferreira, como no poema de Carlos Oliveira,
ambos do meu agrado, o tema principal é a importância das palavras, a sua força e o poder que
podem conter.
No conto acima referido, Silvestre acaba por se ver envolvido numa confusão, porque o
Ramos utiliza uma palavra, cujo significado desconhece, para o ofender. A dada altura, a palavra
“inócuo”, que apenas significa “inofensivo”, acaba por adquirir sentidos completamente opostos e
consegue ter o poder “mágico” de colocar os habitantes de uma aldeia uns contra os outros.
No poema apresentado, o sujeito poético começa por assumir que as palavras têm
poder/valor, acabando por reconhecer que, afinal, são imprescindíveis para a comunicação. O poema
assenta, assim, no valor das palavras (“conheço a força das palavras”) e no seu carácter
imprescindível (“quem dentre os homens me ouviria/sem palavras?”). Cada um pode transformá-las
no que quiser.
Concluindo, ambos os textos referem que, por um lado, no quotidiano não se valoriza a palavra,
uma vez que, muitas vezes, desconhecemos o poder que elas encerram (“Mas, à palavra “inócuo”,
estranha ao seu ouvido montanhês, tremeu.”); por outro lado, elas podem ter um efeito
“mágico”, tanto pela positiva, como pela negativa (“E desde aí, inoque significou, como é de ver,
vadio e bêbedo.”).

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