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Bernardo José Mendes Malheiro 10ª nº3

Escola E. B. 2, 3 /S de Alcains Teste de avaliação

Português 10.º ano

GRUPO I

Leia, atentamente, os textos abaixo apresentados e responda de forma completa e


devidamente estruturada.

PARTE A

1 Nem uũ falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido,
que poermos logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei
de Castela sobr'ela; e per que modo poinha em si guarda o Meestre, e as gentes
que dentro eram, por nom receber dano de seus ẽmigos; e o esforço e fouteza que
5 contra eles mostravom, em quanto assi esteve cercada.
Onde sabee que como o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei de
Castela, e esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de
recolherem pera a cidade os mais mantiimentos que haver podessem, assi de pam
10 e carnes, come quaes quer outras cousas.
E iam-se muitos aas liziras em barcas e batees, depois que Santarem esteve
por Castela, e dali tragiam muitos gaados mortos que salgavom em tinas, e outras
cousas de que fezerom grande açalmamento; e colherom-se dentro aa cidade
muitos lavradores com as molheres e filhos, e cousas que tiinham; e doutras
15 pessoas da comarca d'arredor, aqueles a que prougue de o fazer; e deles passarom
o Tejo com seus gaados e bestas e o que levar poderom, e se forom contra
Setuval, e pera Palmela; outros ficarom na cidade e nom quiserom dali partir; e
taes i houve que poserom todo o seu1, e ficarom nas vilas que por Castela
tomarom voz. (…)
20 E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda
dos muros pelos fidalgos e cidadãos honrados; aos quaes derom certas quadrilhas
e beesteiros e homẽes d'armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada
quadrilha havia uũ sino pera repicar quando tal cousa vissem 2, e como cada uũ
25 ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente corriam pera ela; por quanto
aas vezes os que tiinham cárrego das torres viinham espaçar pela cidade, e
leixavom-nas encomendadas a homeẽs de que muito fiavom; outras vezes nom
ficavom em elas senom as atalaias; mas como davom aa campãa, logo os muros
eram cheos, e muita gente fora.(…)
30 E nom embargando todo isto, o Meestre que sobre toodos tinha especial
cuidado da guarda e da governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono,
requeria per muitas vezes de noite os muros e torres com tochas acesas ante si,
bem acompanhado de muitos que sempre consigo levava. (…)
As outras cousas que perteenciam ao regimento da cidade, todas eram postas
35 em boa e igual ordenança; i nom havia nenuu que com outro levantasse arroido
nem lhe empecesse per talentosos excessos mas todos usavom d’amigavel
concordia , acompanhada de proveito comuu.
Ó que formosa cousa era de veer! Uu tam alto e poderoso senhor como el-
Rei de Castela, com tanta multidom de gentes assi per mar come per terra, postas
em tam grande e boa ordenança, teer cercada tam nobre cidade!
Fernão Lopes, Crónica de D.João I

1
1. No excerto apresentado, o povo lisboeta prepara-se para para um longo cerco, imposto pelo

rei de Castela. Identifique, nos dois primeiros parágrafos, uma metáfora e dois adjetivos que

caracterizem as forças castelhanas, explicitando a sua expressividade.

O cerco de Lisboa é caracterizado na crónica de D.João I como “grande e poderoso”, estes


dois adjetivos realçam a grandiosidade e impunência do exército de Castela. No segundo
parágrafo está presente uma metáfora, “come quaes quer outras cousas” , esta metafora signifa
que tal era aflição das pessoas dentro da cidade que não se importavam de comer o que quer
que seja.
2. Aponte duas características do Mestre, tendo em conta as suas atitudes e o modo como se

relaciona com «toodos».

O Mestre está dedicado a proteger a todo o custo a cidade, e para que todos sofram o menos
possível. O mestre está dedicado de tal forma que pouco dorme, tal é o seu esforlo. Também
podemos perceber o espírito de liderança e coragem do Mestre, pois ele encarregou-se do
cargo mais difícil desde o primeiro momento, o cargo de líder da cidade durante o cerco.

3. Na narrativa do cronista, as personagens têm um papel ativo e decisivo, determinando o curso

dos acontecimentos. Prove a afirmação feita com base neste texto.

Os personagens nesta crónica são toda população da cidade e o Mestre. Neste texto
percebemos como eram distribuídas as tarefas de guarda da cidade, sendo todos os homens
indispensáveis para que ela ficasse segura. Ou seja, todos tinham um papel ativo para o bom
funcionamento da cidade. O mestre e os que o acompanhava, tinham o papel decisivo, eram
eles quem davam as ordens.

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PARTE B

Non chegou, madre, o meu amigo,


e hoj'ést'o prazo saído(1);
     ai, madre, moiro d'amor!

Non chegou, madre o meu amado


e hoj'ést'o prazo passado!
     ai, madre, moiro d'amor!

E hoj'ést'o prazo saído!


Por que mentiu o desmentido(2)?
     ai, madre, moiro d'amor!

E hoj'ést'o prazo passado!


Por que mentiu o perjurado(3)?
     ai, madre, moiro d'amor!

Por que mentiu o desmentido


pesa-mi, pois per si é falido(4).
     ai, madre, moiro d'amor!

Por que mentiu o perjurado


pesa-mi, pois mentiu a seu grado(5).
     ai, madre, moiro d'amor.
D. Dinis
Glossário
1. e hoj'ést'o prazo saído – e hoje termina o 4.pesa-mi, pois per si é falido - pois por sua
vontade falhou;
prazo
2. desmentido -mentiroso 5. grado – vontade.

3. perjurado -falso

4. Apresente, fundamentando com expressões do texto, o motivo que originou o


estado de espírito do sujeito lírico.
5. Caracterize a relação entre mãe e filha.
6. Esta composição poética trata-se de uma cantiga de amigo. Demonstre-o.

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GRUPO II

1 Pelos vales do Sousa e do Tâmega, a Rota do Românico veio resgatar da dispersão igrejas,
mosteiros, pontes, mitos, lendas. Partimos à descoberta deste território onde a Idade Média é
projeto de futuro.
Há uma confusão bastante generalizada por estas terras onde a Rota do Românico (RR) se
5 estende, tão generalizada que já é contada à laia de anedota. Quem chega vem com ideias
distintas: as mulheres pensam que vêm a uma “rota romântica”; os homens a uma “rota romana”.
Na verdade, nem uns nem outros sairão completamente defraudados deste território que se
aninha (e se eleva) junto aos rios Tâmega, Sousa e um pouco do Douro: há ruínas romanas e
10 atmosfera romântica q.b.. Contudo, é a arte românica que se impõe como fio condutor nesta
região que, a espaços, pode ser vista como um museu a céu aberto da história dos alvores da
nacionalidade.
Afinal, foi daqui, de Entre-Douro-e-Minho, que houve Portugal, ainda o século XII não ia a
meio — e a arte românica atingia o seu período áureo por essa Europa fora. Por isso não
15 surpreende que a história desses tempos, em que o Condado Portucalense se emancipava e o novo
país ganhava forma, se leia nas pedras românicas que o povoaram de mosteiros, igrejas, castelos e
fortalezas — e de mitos e lendas.
E que mito mais duradouro terá Portugal do que o do bravo Afonso Henriques que contra
tudo e todos (bem sabemos a história da mãe, D. Teresa) fundou um país? Contudo, antes de se
20 tornar no conquistador de países, Afonso Henriques terá sido um miúdo raquítico, curado por
intervenção divina e “mediação” do seu fiel aio, Egas Moniz. Essa é uma das lendas inscritas
neste território e o Mosteiro de Santa Maria de Cárquere (Resende) é a sua testemunha muda.
(…)
A maior intervenção aconteceu no século XX, quando a Direcção-Geral dos Edifícios e
25 Monumentos Nacionais decidiu restituir a pureza românica aos monumentos românicos que,
claro, não haviam ficado imunes ao passar dos séculos e das modas arquitectónica. Na verdade,
diz José Augusto, o que sobrou dessa reconstrução foi o portal principal da igreja, sempre a
ocidente nos templos românicos, que foi paradigma para outros da região: saliente na fachada,
aumenta a profundidade e monumentalidade.
30 Todavia, numa região rendilhada de rios, serras e vales acolhedores a natureza é inescapável
e com ela podem vir emoções fortes — o rio Paiva é palco reconhecido de rafting e canyoning,
mas a canoagem e o hidrospeed são também opções; as serras podem ser caminhos de todo o
terreno e aí o Marão é uma vertigem.
Mais tranquilos são os percursos pedestres que atravessam a zona, proporcionando um outro
35 modo de descobrir o património pelos caminhos menos percorridos — de gravuras rupestres a
sepulturas medievais, de menires à miríade de igrejas e ermidas, dos mosteiros a calçadas e casas
romanas, de moinhos a aldeias tradicionais — e deixar a natureza tranquila tomar conta do mundo
visto de incontáveis miradouros ou na margem dos rios (e se de repente nos depararmos com uma
40 ilha dos Amores não é uma miragem, é a confluência dos rios Paiva e Douro).(…)
Se neste território nem tudo é românico, não levamos a mal que seja um pretexto para o
descobrir. E, de caminho, vislumbrar como a Idade Média se pode tornar uma porta para o seu
amanhã.
A Rota do Românico leva-nos por rios e vales de terras medievais.

Andreia Marques Pereira «A Rota do Românico leva-nos por rios e vales de terras medievais». Público, suplemento,
Fugas

Glossário rafting, canyoning, canoagem e hidrospeed – modalidades


desportivas aquáticas.
à laia de: à maneira de.
menires:monumentos megalíticos constituídos por uma pedra
aninha: abriga fixada verticalmente no solo.
período áureo: época de maior prosperidade. miríade: em grande número.

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Para responder a cada um dos itens de 1. a 7., selecione a opção correta (transcreva o
número da resposta e a respetiva alínea na folha de teste).

1. O que une a região onde se encontra a Rota do Românico é


(A) o ambiente romântico.
(B) o ambiente romano.
(C) a atmosfera e o ambiente.
(D) a arte românica.

2. As mulheres, com “rota romântica”, pensam


(A) num percurso propício ao romantismo.
(B) numa rota relacionada com os Romanos.
(C) o mesmo que os homens.
(D) em arte românica.

3. Os homens, com “rota romana”, pensam


(A) num percurso propício ao romantismo.
(B) numa rota relacionada com os Romanos.
(C) o mesmo que as mulheres.
(D) em arte românica.

4. Contudo, tanto o pensamento das mulheres como o dos homens está


(A) totalmente errado.
(B) totalmente correto.
(C) parcialmente correto.
(D) completamente de acordo com a Rota do Românico.

5. Este texto é
(A) um relato de viagem.
(B) uma apreciação crítica.
(C) um artigo de divulgação científica.
(D) uma síntese.

6. A frase «Numa região rendilhada de rios, serras e vales acolhedores, a natureza é


inescapável e com ela podem vir emoções fortes» (ll. ) não apresenta
(A) enumeração.
(B) metáfora.
(C) antítese.
(D) adjetivação.

7. Identifique os processos fonológicos envolvidos na evolução dos vocábulos


recolhidos no texto:
a) “mosteiros” (l.2 ) – MONASTERIU >mosteiro.
b) “lendas” (l.2 ) – LEGENDA > lenda.
c) “mulheres” (l.6 ) – MULIERES > mulheres.

5
d) “fio” (l. 9) – MOLINU > moinho.

8. Classifique a oração sublinhada no segmento: “é a arte românica que se


impõe como fio condutor nesta região “(l.9).

9. Identifique a função sintática dos constituintes destacados “as serras


podem ser caminhos de todo o terreno e aí o Marão é uma vertigem”(ll.30-31).

10. Indique o antecedente do pronome em: “Mais tranquilos são os percursos


pedestres que atravessam a zona”(l.32).

PARTE C

Escreva um texto expositivo, com um mínimo de 120 e um máximo de 150


palavras, no qual apresente as principais características da Crónica de D.João I
quanto à linguagem e ao estilo do seu autor.

O seu texto deve incluir uma parte introdutória, uma de desenvolvimento e uma
conclusão.

COTAÇÕES

GRUP Item
O Cotação (em pontos)
I 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
16 16 8 16 16 16 16 104
II 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 56
III
Item único 40
Total 200

6
GRUPO III
“Há muitas situações em que as pessoas reagem plenamente indiferentes em
relação aos semelhantes nas situações de fragilidade e incapacidade”

Tendo em conta o comentário apresentado, num texto bem estruturado, com


um mínimo de 180 e um máximo de 200 palavras, apresente um texto de opinião sobre
a indiferença nas relações humanas, recorrendo a dois argumentos fundamentados com
os respetivos exemplos.

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