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Grupo I
Lê atentamente o excerto d’ Os Maias abaixo transcrito.
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
Defronte do Ramalhete os candeeiros ainda ardiam. Abriu de leve a porta. Pé ante pé,
subiu as escadas ensurdecidas pelo veludo cor de cereja. No patamar tateava, procurava a vela
– quando, através do reposteiro entreaberto, avistou uma claridade que se movia no fundo do
quarto. Nervoso, recuou, parou no recanto. O clarão chegava, crescendo; passos lentos, pesa-
5 dos, pisavam surdamente o tapete; a luz surgiu – e com ela o avô em mangas de camisa, lívido,
mudo, grande, espetral. Carlos não se moveu, sufocado; e os dois olhos do velho, vermelhos,
esgazeados, cheios de horror, caíram sobre ele, ficaram sobre ele, varando-o até às profundi-
dades da alma, lendo lá o seu segredo. Depois, sem uma palavra, com a cabeça branca a tre-
mer, Afonso atravessou o patamar, onde a luz sobre o veludo espalhava um tom de sangue – e
10 os seus passos perderam-se no interior da casa, lentos, abafados, cada vez mais sumidos, como
se fossem os derradeiros que devesse dar na vida!
Carlos entrou no quarto às escuras, tropeçou num sofá. E ali se deixou cair, com a cabeça
enterrada nos braços, sem pensar, sem sentir, vendo o velho lívido passar, repassar diante dele
como um longo fantasma, com a luz avermelhada na mão. Pouco a pouco, foi-o tomando um
15 cansaço, uma inércia, uma infinita lassidão1 da vontade, onde um desejo apenas transparecia,
se alongava – o desejo de interminavelmente repousar algures numa grande mudez e numa
grande treva… Assim escorregou ao pensamento da morte. Ela seria a perfeita cura, o asilo
seguro. Porque não iria ao seu encontro? Alguns grãos de láudano2 nessa noite e penetrava na
absoluta paz…
20 Ficou muito tempo embebendo-se nesta ideia, que lhe dava alívio e consolo, como se,
escorraçado por uma tormenta ruidosa, visse diante dos seus passos abrir-se uma porta,
donde saísse calor e silêncio. Um rumor, o chilrear de um pássaro na janela, fez-lhe sentir
o sol e o dia. Ergueu-se, despiu-se muito devagar, numa imensa moleza. E mergulhou na
cama, enterrou a cabeça no travesseiro para recair na doçura daquela inércia, que era um an-
25 tegosto da morte, e não sentir mais nas horas que lhe restavam nenhuma luz, nenhuma coisa
da Terra.
QUEIRÓS, Eça de, 2016. Os Maias. Porto: Porto Editora (Capítulo XVII, pp. 683-684) (1.ª ed.: 1888)
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
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Sequência 4. Eça de Queirós Teste 4
3. Refere dois dos traços caracterizadores de Afonso, comprovando as tuas afirmações com
elementos textuais.
4. Comenta a relevância da luz e da cor na criação da atmosfera trágica.
Grupo II
Lê atentamente o texto que segue.
feita a partir do russo (por António Pescada). não serviram para nada, e ele até já esperava
O protagonista, precisamente Oblomov, isso. Os livros, se lhe interessam, são aban-
aparece no livro deitado e assim vai perma- donados às primeiras páginas. A sala serve-
necer muito tempo, apesar das solicitações -lhe de quarto de dormir, gabinete e sala de
dos amigos que entram e saem de casa – pa-
45 receção.
15
rece uma peça de teatro. Cada amigo é uma Oblomov é a obra-prima de Ivan Gontcha-
caricatura da alta sociedade russa (especial- rov e um dos clássicos da imortal literatura
mente a burguesia mais ou menos deca- russa oitocentista [...]. É um clássico tão
dente) de finais de 1800. grande que na Rússia se chama oblomovista
20 Aos 32 anos, Oblomov não tem mulher 50 a alguém apático e excessivamente ocioso.
(uma canseira, as relações), nem pais, nem Imprescindível, da primeira à 647.ª pá-
emprego (teve uma fugaz carreira de funcio- gina.
nário público, que deixou depois de um erro ALVES, Marco, 2016. “Levanta-te e lê, não sejas Oblomov”.
– com medo de encarar o chefe, apresentou GPS (Sábado), n.º 46, 14 de janeiro de 2016 (p. 27)
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Sequência 4. Eça de Queirós Teste 4
1. Identifica o género textual em que se integra o artigo, justificando a tua resposta com referências:
a. ao objetivo do texto.
b. à organização interna do artigo.
2. Interpreta a metáfora “fogo de um fósforo” (l. 40) e respetivo valor no contexto em que é utilizada.
3. Comenta a expressividade do título, atendendo ao conteúdo do artigo.
4. Assinala como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações seguintes:
a. Na primeira frase do artigo, a utilização do complemento oblíquo “d’ Os Maias (1888)” (ll. 2-3)
constitui um mecanismo de coesão interfrásica.
b. A palavra “que” utilizada na linha 4 é uma conjunção subordinativa completiva.
c. Os três advérbios com valor de modo utilizados no primeiro parágrafo desempenham a
função sintática de modificador (do grupo verbal).
d. O antecedente do pronome pessoal utilizado em “Para piorar as coisas, o senhorio do
apartamento onde vive, em São Petersburgo, quer desalojá-lo.” (ll. 30-32) é “Oblomov” (l. 20).
e. O quinto parágrafo do texto integra uma oração subordinada adverbial comparativa e uma
oração subordinada adverbial causal.
f. A expressão “pelo criado”, usada na linha 35, desempenha a função sintática de
complemento oblíquo.
g. A utilização das passagens “O protagonista, precisamente Oblomov, aparece no livro
deitado e assim vai permanecer muito tempo [...]” (ll. 12-14) e “Oblomov vive num permanente
estado de letargia, cansaço e tédio.” (ll. 37-38) evidenciam, em termos de coerência textual, o
respeito pelo princípio da relevância.
4.1. Corrige as afirmações falsas.
Grupo III
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Sequência 4. Eça de Queirós Teste 4
Cotações do Teste 4
Questões Cotação
Total por questão Total do grupo
Grupo I (C) Conteúdo (F) Forma*
1. 12 8 20
2. 9 6 15
2.1. 12 8 20 90 pontos
3. 12 8 20
4. 9 6 15
1. 6 4 10
2. 6 4 10 65 pontos
3. 6 4 10
4./4.1. – – 35
(7 x 5 pontos)
4
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