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gestão empresarial

comunicação e expressão

Visão geral da noção de texto –


conceito e tipologia: descrição
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comunicação e expressão
Visão geral da noção
de texto – conceito e
tipologia: descrição

Objetivos da Unidade de aprendizagem


Ao final da aula, o aluno deverá ser capaz de compreender
o que é texto, conhecer as diferenças entre narração, des-
crição e dissertação e ser capaz de elaborar uma descrição.

Competências
Compreensão do conceito de texto e do que seja descre-
ver. Ampliação do repertório.

Habilidades
Associação dos conceitos de textualidade. Reconheci-
mento dos gêneros narração, descrição, dissertação.
Elaboração de uma descrição.
Apresentação
Descrever é uma habilidade necessária a qualquer pro-
fissional que utilize de algum modo a palavra. Pode-se
dizer, sem medo de exagerar, que a necessidade de des-
crever bem aparece diariamente na vida profissional.
Esta aula fornece uma introdução ao assunto, mostra os
aspectos mais importantes e propõe exercícios que per-
mitam avaliar o domínio dessas características do texto
descritivo.

Para Começar
É muito comum nos referirmos à palavra texto em várias
situações, afinal ela é bastante conhecida de todos. Está
presente no cotidiano em muitas atividades e não ape-
nas na escola. Mas o que realmente sabemos a respeito
do texto? Veja a seguir.

Bananas abóboras lixa loira avental imponderável circunspecto


abandono colorido imprescindível impetuosidade paráfrase co-
ronel.

Não se pode considerar, por exemplo, uma sequência


desordenada de palavras como um texto.

O banco fechou suas portas às cinco da tarde. Árvores são parte


integrante das praças e as cidades estão sempre bonitas, quando
limpas.

Um aglomerado de frases sem sentido também não


pode ser denominado como texto.
Dessa forma, duas considerações podem ser feitas:

→→ Não basta sequenciar palavras ou frases para que


o texto se constitua;
→→ Todo texto traz em si um contexto mais amplo. Em outras palavras,
nenhum texto é uma peça isolada, nem seu autor o dono da verdade.

A palavra texto provém do latim textum, que significa “tecido, entrelaça-


mento”. Há, portanto, uma razão etimológica que não devemos esquecer
de que texto resulta de um trabalho, a ação de tecer, entrelaçar unidades
e partes a fim de formar um todo.
Assim, podemos falar também em textura ou tessitura de um texto,
que é a rede de relações internas que garantem sua coesão, sua unidade.
O produtor de textos escritos executa um trabalho que pressupõe qua-
tro princípios: a repetição, a progressão, a não contradição e a relação.
A repetição é o princípio segundo o qual um texto coerente produz
retomadas de elementos (palavras, frases e sequências). Tais retomadas
são feitas por meio de pronomes e pelas terminações verbais que os indi-
cam ou por sinônimos. É preciso cuidado ao utilizar a repetição da mesma
palavra, pois o texto pode perder o ritmo ou ficar cansativo.

Triste história
Há palavras que ninguém emprega. Apenas se encontram nos dicionários como velhas
caducas num asilo. Às vezes uma que outra se escapa e vem luzir-se desdentadamente,
em público, nalguma oração de paraninfo. Pobres velhinhas... Pobre velhinho!
— Mário Quintana, Triste História

O autor utiliza várias formas de retomar e não repetir o termo “palavras”.


Ora utiliza o pronome (elas) oculto, ora as adjetiva (velhas caducas, pobres
velhinhas), ora se vale de expressões (uma que outra). A repetição, dessa
forma, enriquece o texto.
A progressão, em um texto coerente, ocorre por meio de novas infor-
mações que são adicionadas ao que já foi dito. Serve para complementar
a repetição, que garante a retomada de elementos passados, sem que o
texto se limite a repetições indefinidas.

Nenhum homem é uma ilha


Nenhum homem é uma ilha, porque por mais solitário que ele seja, sempre terá al-
guém ao seu lado, dando aquela força. O homem nunca poderia ser uma ilha, pois
está sempre procurando novas coisas, novas emoções, sempre se envolvendo com
gente nova, por mais desconhecido que seja. Mesmo que a pessoa fosse muito soli-
tária, nunca poderia ser comparada a uma ilha. Na verdade, nem mesmo a ilha está
sempre solitária. Por mais feia e sombria que seja, sempre terá algo por perto: as aves,
as pedras, as árvores, a água do mar, os peixes... Por isso e por muitas outras coisas,
um homem não pode ser ilha, porque ele acima de tudo é um ser humano e por ele

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ser um ser humano sempre terá alguém o amando ou o querendo bem, por mais longe
que esteja ou por mais feio e sombrio que ele seja.
— Aluno de ensino médio. Disponível em: http://www.fotolog.com.br/flores_
msg/16792230. Acesso em abril de 2010

Após colocar o tema, o autor utiliza palavras e expressões que introduzem


novos fatos e conceitos para, com isso, fazer o texto avançar. Note que
progressão e repetição ocorrem simultaneamente: o surgimento de novas
informações é acompanhado pela retomada ao tema.
A não contradição é o princípio que impede que elementos contradi-
tórios façam parte do texto para que a coerência seja mantida. Contradi-
ções podem destruir o texto, quando tomam como verdadeiro aquilo que
já foi considerado como falso. Colocar em um mesmo texto frases como
“O país atravessa um momento difícil” e “O país não atravessa um perío-
do difícil” só faria sentido se o escritor pretendesse enfatizar que, apesar
das dificuldades, o país ainda tivesse perspectivas ou se quisesse negar a
existência daquela dificuldade. Veja um texto contraditório:

[...] mas foi a Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, que realizou as
experiências mais aterradoras. Só que as cobaias eram seres humanos. Prisioneiros
de guerra, principalmente judeus, foram submetidos a todos os tipos de crueldades.
— O Estado de S. Paulo, 3 out 1991 Disponível em: https://aplicweb.feevale.br/site/
files/documentos/doc/16220.doc. Acesso em março de 2010

A notícia diz que as experiências foram aterradoras porque as cobaias


eram seres humanos. Porém ao utilizar a expressão só que, destrói o
vínculo lógico da causa.
É preciso muito cuidado ao produzir um texto para não criar uma con-
tradição e destruir a argumentação do texto.
A relação precisa estar presente para que o texto seja coerente, ou seja,
fatos e conceitos devem estar relacionados. Não basta listar os elemen-
tos que se vai utilizar. É necessário que haja um encadeamento entre as
ideias, e que elas se aproximem, fortalecendo umas às outras.

O espírito democrático da criança não conhece hierarquia: ele sofre da mesma forma
diante da fadiga do trabalhador, da fome de um camarada, da miséria de um burro
de carga, do suplício de uma galinha sendo degolada. O cachorro e o pássaro são
seus próximos, a borboleta e a flor seus iguais. Ela descobre um irmão numa pedra ou
numa concha. Ela se dessolidariza de nós em seu orgulho de novo-rico; ignora que só
o homem possui alma.
Nós não respeitamos a criança porque ela tem muitas horas de vida pela frente.

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Enquanto nossos passos tornam-se passados, nossos gestos interesseiros, nossa
percepção e nossos sentimentos empobrecem, a criança corre, salta, olha em sua vol-
ta, se maravilha e interroga em pura gratuidade. Ela desperdiça suas lágrimas e pro-
digaliza seu riso generosamente. [...]
— Blog da creche São Vicente de Paulo – Disponível: http://crechesvpvotorantim.blo-
gspot.com/2010/04/o-direito-da-crianca-ao-respeito.html. Acesso em agosto de 2010.

Perceba que o texto começa com o tema “espírito democrático da crian-


ça”. Veja que há um avanço ao acrescentar outras ideias, mas todas pro-
curam se relacionar com a intenção de fortalecer o tema. Ao dizer, por
exemplo, que “o cachorro e o pássaro são seus próximos”, mostra, com
outras palavras, que a liberdade desses animais é a mesma da liberdade
da democracia; ao se irmanar com a pedra e concha, reforça o espírito
democrático da igualdade. Como vê, todo o texto se relaciona.

Atenção
A natureza do texto supõe alguns conceitos. Supõe ainda:
estrutura, assunto, espaço, tempo, figuras, relações entre
diferentes textos, contexto...

Consideradas as diferenças que distinguem os textos, é possível classificá-


-los de diversas maneiras. Assim, encontramos textos: poéticos, literários,
científicos, políticos, religiosos, jurídicos, didáticos e vários outros.
Nesta aula e na próxima, trataremos de uma classificação bastante útil
para a leitura e para a produção de texto, que é sua divisão em: descri-
tivos, narrativos e dissertativos. É preciso lembrar que dificilmente esses
gêneros se apresentam em estado puro. É comum encontrar narração e
descrição dentro de uma dissertação, descrições em narrações e assim
por diante.
Por vezes acontece de a descrição conter muito significado em poucas
palavras.
Leia os textos a seguir:

No 1
Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me di-
vertia. O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, mobilidade brusca
e caretas de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor; [...] o Maurílio, ner-
voso, insofrido, fortíssimo na tabuada: cinco vezes dois, noves fora, vezes sete?... lá
estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos no rosto

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moreno, marcado por uma pinta na testa; o Negrão, de ventas acesas, lábios inquie-
tos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz de ficar sentado três
minutos, sempre à mesa do professor e sempre enxotado, debulhando um risinho de
pouca-vergonha [...]
— Raul Pompeia, O Ateneu

Este texto, predominantemente descritivo, tem como característica prin-


cipal apresentar a imagem de pessoas em seus traços mais marcantes
e típicos, captados por meio dos sentidos. Tal caracterização obedece a
uma delimitação espacial.

No 2
Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era
levantar-se e conduzi-los ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os
meninos. Estranhou a ausência deles. Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um
desastre, mas Baleia não atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem
percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno
coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar
pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na
esteira, por baixo do caritó onde Sinhá Vitória guardava o cachimbo.
— Graciliano Ramos, Vidas Secas

Este segundo texto, de caráter narrativo, constitui uma sequência tempo-


ral de ações desencadeadas por personagens envolvidas em uma trama
normalmente esclarecida ao final.

No 3
[...] Todo especialista em marketing e em propaganda sabe que a cor é fundamental
na apresentação e na aceitação do produto e, mais ainda, que isto é também condi-
cionado ao sexo, idade ou extrato sociocultural do comprador visado. Um produto que
se destina, principalmente, ao mercado feminino deverá ter, por exemplo, embalagem
em que predominem cores “femininas”, isto é, que lembrem suavidade e delicadeza; já
naquele que busque despertar no homem o desejo de comprar as cores serão “mas-
culinas”, traduzindo agressividade e força. O efeito psicológico das cores pode, neste
campo, ter grandes implicações. Não nos esqueçamos da pouca receptividade que,
inicialmente, tiveram as geladeiras pintadas de vermelho, uma cor “quente”, pois as
donas de casa não acreditavam que gelassem tão bem como as brancas...
— Roberto Verdussen, Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho

Este último, dissertativo, consiste na exposição lógica de ideias. Comporta


um tema principal, argumentos e contra-argumentos. Ao final, o leitor é

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conduzido a uma conclusão. Sua principal característica é a argumentati-
vidade.
Como vocês podem verificar, os três exemplos apresentam característi-
cas bem marcantes, que caracterizam cada um dos gêneros comentados.

Dicas
Narrar x descrever x dissertar
A narração é marcada pela temporalidade; a descrição, pela
espacialidade; e a dissertação, pela racionalidade.

Agora vamos nos aprofundar nas características da Descrição.

Fundamentos
Descrever é caracterizar uma cena, um estado, um momento vivido ou
sonhado através de nossa percepção sensorial e de nossa imaginação
criadora. A visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar – nossos cinco
sentidos – constituem os alicerces da descrição. (AMARAL, Patrocínio &
SEVERINO, Antonio, 1999, p. 17)
Descrição é o tipo de texto em que se relatam as características de
uma pessoa, de um objeto ou de uma situação qualquer, inscritos num
certo momento estático do tempo. [...] Como os fatos reproduzidos numa
descrição são todos simultâneos, nesse tipo de texto não existe obvia-
mente relação de anterioridade ou posterioridade entre os seus enuncia-
dos. (FIORIN & SAVIOLI, 2009, p. 298)
Descrever é um processo no qual se empregam os sentidos para cap-
tar uma realidade e reprocessá-la num teto. Para a elaboração de texto
final, concorrem a sua habilidade linguística [...] e as finalidades a que ele
se propõe: informar ao leitor, convencê-lo, transmitir-lhe impressões ou
comunicar-lhe emoções. (SCIPIONE, 2006, p. 136)
Observando os conceitos comentados, é possível estabelecer que a
descrição é um texto, literário ou não, em que se caracterizam seres, coi-
sas e paisagens.
Alguns itens podem ser verificados em relação à descrição:

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1. O que descrever
Conforme já vimos, a descrição tem base sensorial. Assim, é possível des-
crever o que vemos (e que está próximo), o que imaginamos (conhece-
mos, mas não está próximo no momento da descrição) ou o que criamos
com a imaginação (qualquer ser imaginado).
Observe os três textos descritivos a seguir e perceba a sensação que
cada um desperta em você.

Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão


têm uma velha ferrugem e o trinco se oculta num lugar que só a mão filial conhece. O
jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas palmas, tinhorões
e samambaias que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.
É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se
pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tra-
dicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho
encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as
mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como
em prece, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram mo-
ças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem
mudamente [...]
— Vinicius de Morais, A casa materna

Prédio talvez um pouco antigo, porém limpo; desde o portão da chácara pressentia-se
logo que ali habitava gente fina e de gosto bem-educado [...] bolhas de vidro de várias
cores com pedestal de ferro fosco, e lampiões de três globos que surgiam de peque-
ninos grupos de palmeiras sem tronco, e banco de madeira rústica, e tamboretes de
faiança azul-nanquim, alcançava-se uma vistosa escadaria de granito, cujo patamar
guarneciam duas grandes águias de bronze polido, com as asas em meio descanso,
espalmando as nodosas garras sobre colunatas de pedra branca. Na sala de entrada,
por entre muitos objetos de arte, notava-se, mesmo de passagem, meia dúzia de telas
originais, umas em cavaletes, outras suspensas contra a parede por grossos cordéis de
seda frouxa; e, afastando o soberbo reposteiro de redes verdes que havia na porta do
fundo, penetrava-se imediatamente no principal salão da casa.
— Aluísio Azevedo, O Homem

De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’água que se dirige para o nor-
te, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se
rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma
serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majes-
tosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o
pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés

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do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as
de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas:
escravo submisso, sofre o látego do senhor [...] Aí o Paquequer lança-se rápido sobre o
seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso
pelas pontas do rochedo e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira.
— José de Alencar, O Guarani

2. Como descrever
Observando os textos, vemos que é possível escolher um entre os aspec-
tos a seguir, para efetuar a descrição ou mesmo a associação de dois e até
três aspectos. São eles:

→→ Pormenorização: detalhamento das características daquilo que que-


remos descrever (Aluísio de Azevedo);
→→ Dinamização: captação dos movimentos dos objetos e seres (José de
Alencar);
→→ Impressão: interpretação subjetiva dos elementos observados (Vini-
cius de Morais)

É possível, em uma descrição, utilizarmos todos os órgãos dos sentidos,


alguns deles ou apenas um. O importante, e que define a descrição, é que
os sentidos são utilizados.

Papo Técnico
A descrição compreende algumas fases: enumeração de
elementos, levantamento sensorial, comparação, imagi-
nação criadora. Leva em conta, ainda, um sujeito e suas
perspectivas.

3. Elementos predominantes na descrição


Caso utilizarmos os sentidos, visão, audição, gustação, olfato e tato, as
sensações são os elementos predominantes na descrição. Como a des-
crição está ligada à experiência sensorial física e percepção subjetiva, é
natural que os órgãos dos sentidos sejam utilizados em parte ou na sua
totalidade. As descrições relacionadas aos órgãos dos sentidos (mais vi-
suais, mais táteis...) são marcadas por certa objetividade, e aquelas que
transmitem tristeza, dor, amor, fome, cansaço, são o veículo da subjetivi-
dade. E há as descrições que misturam sensações:

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Os sons se sacodem, berram, lutam, arrebentam no ar sonoro dos ventos, vaias, kla-
xons, aços estrepitosos. Dentro dos sons movem-se cores, vivas, ardentes, pulando,
dançando, desfilando sob o verde das árvores, em face do azul da baía no mundo
dourado. Dentro dos sons e das cores, movem-se os cheiros, cheiro de negro, cheiro
mulato, cheiro branco, cheiro de todos os matizes, de todas as excitações e de todas as
náuseas. Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais, suaves, lúbri-
cos, meigos, alucinantes. Tatos, sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre,
de mendubim, de castanhas, de bananas, de laranja, de bocas e de mucosa.
— Graça Aranha, A Viagem Maravilhosa

Como você sabe, o som não é uma propriedade das cores ou dos cheiros.
Mas no texto de Graça Aranha, os cinco sentidos se misturam, se fundem
com a intenção de provocar uma sensação de completude.
Veja, no esquema a seguir, a ligação entre sujeito, base sensorial e cria-
tividade.

Conceito
Descrever é um processo em que se capta a realidade por
meio dos sentidos; é caracterizar uma cena, um estado, um
momento vivido ou sonhado através da percepção sensorial
e da imaginação criadora.

Figura 1. Descrição. percepção

sujeito objeto
(percebedor) (percebido)

base imaginação
sensorial criadora

O esquema mostra que descrever envolve a percepção do objeto pelo su-


jeito por meio da relação entre a base sensorial [representada pelos cinco
sentidos: tato, visão, audição, olfato e visão] e a imaginação criadora.

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4. Figuras de linguagem e descrição
A utilização de figuras de linguagem serve para facilitar a caracterização
dos elementos que se quer descrever. As mais utilizadas são: metáfora
(uso de uma palavra com sentido diferente daquele que lhe é próprio),
comparação (confronto de duas ideias por meio de uma conjunção com-
parativa: como, tal qual...), prosopopeia (atribuição de características ani-
mais a seres inanimados [animação] e características humanas a seres
não humanos [personificação]), sinestesia (cruzamento de sensações fí-
sicas ou psicológicas diferentes), onomatopeia (imitação aproximada de
ruídos e sons de qualquer natureza), assim como outras figuras de lingua-
gem podem reforçar os sentidos nas descrições.
Leia novamente o texto em que José de Alencar descreve o rio Paque-
quer. Observe como é rico em metáforas, comparações, prosopopeias, si-
nestesias. E perceba como essas figuras facilitam a visualização desse rio.

De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’água que se dirige para o nor-
te, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se
rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma
serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majes-
tosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o
pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés
do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as
de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas:
escravo submisso, sofre o látego do senhor [...] Aí o Paquequer lança-se rápido sobre o
seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso
pelas pontas do rochedo e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira.
— José de Alencar, O Guarani

Uma constatação
No Brasil, em pleno século XXI, as empresas se queixam da dificuldade
de encontrar pessoas que escrevam bem. Particularmente importante é
a habilidade de redigir descrições que sejam facilmente inteligíveis, que
não desperdicem palavras e, na medida do possível, que sejam agradáveis
de ler. Por exigências de políticas de qualidade cada vez mais sofisticadas
e abrangentes e de necessidade de certificações (várias modalidades de
ISO, Green Buildings e outras validações de produtos), há uma tendência
da valorização de profissionais capazes de escrever descrições concisas e
corretas. Assim, empenhe-se.

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antena
parabólica
Até meados dos anos 70, o recrutamento de profissionais
por empresas usava a intuição como principal ferramenta.
Hoje, há parâmetros que tornam a escolha de colaborado-
res mais eficiente. Entre eles, está a descrição de cargos e
funções. Pense nessa descrição como uma fotografia instan-
tânea de um conjunto de atividades. Essa descrição precisa
comunicar de forma clara e concisa as responsabilidades
e tarefas e também indicar as qualificações fundamentais
exigidas. Se possível, deve até mostrar os atributos que sus-
tentam um desempenho de excelência.

Lembre-se
A descrição está presente em situações coti-
dianas e sua utilização é tão comum que não
nos damos conta que a estamos praticando.
É largamente empregada nas organizações:
especificação de produtos, serviços, locais,
reuniões, projetos, relatórios e em várias ou-
tras. outras instâncias...

E agora, José?
Agora que você já sabe o que é texto e conhece um pouco
do gênero “descrição”, chegou o momento de dar mais um
passo e verificar como contar um fato, um acontecimento,
um evento. Para isso você aprenderá na próxima aula, o
que é uma narração e como elaborá-la. Aprenderá também
como o fato de conhecer a estrutura da narrativa poderá
auxiliá-lo. Boa sorte!
Referências
AMARAL, E.; SEVERINO, A.; PATROCÍNIO, M. F. SCIPIONI, U. Do Texto ao Texto – Curso práti-
Português: Redação, gramática, litera- co de leitura e redação. São Paulo: Editora
tura e Interpretação de Texto. São Paulo: Scipioni, 2006.
Nova Cultural, Círculo do Livro, 1999. VERDUSSEN, R. Ergonomia: a racionalização
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para Entender o humanizada do trabalho. Rio de Janeiro:
Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti- Livros Técnicos e Científicos, 1978.
ca, 2009.

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