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comunicação e expressão
Competências
Compreensão do conceito de texto e do que seja descre-
ver. Ampliação do repertório.
Habilidades
Associação dos conceitos de textualidade. Reconheci-
mento dos gêneros narração, descrição, dissertação.
Elaboração de uma descrição.
Apresentação
Descrever é uma habilidade necessária a qualquer pro-
fissional que utilize de algum modo a palavra. Pode-se
dizer, sem medo de exagerar, que a necessidade de des-
crever bem aparece diariamente na vida profissional.
Esta aula fornece uma introdução ao assunto, mostra os
aspectos mais importantes e propõe exercícios que per-
mitam avaliar o domínio dessas características do texto
descritivo.
Para Começar
É muito comum nos referirmos à palavra texto em várias
situações, afinal ela é bastante conhecida de todos. Está
presente no cotidiano em muitas atividades e não ape-
nas na escola. Mas o que realmente sabemos a respeito
do texto? Veja a seguir.
Triste história
Há palavras que ninguém emprega. Apenas se encontram nos dicionários como velhas
caducas num asilo. Às vezes uma que outra se escapa e vem luzir-se desdentadamente,
em público, nalguma oração de paraninfo. Pobres velhinhas... Pobre velhinho!
— Mário Quintana, Triste História
Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 4
ser um ser humano sempre terá alguém o amando ou o querendo bem, por mais longe
que esteja ou por mais feio e sombrio que ele seja.
— Aluno de ensino médio. Disponível em: http://www.fotolog.com.br/flores_
msg/16792230. Acesso em abril de 2010
[...] mas foi a Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, que realizou as
experiências mais aterradoras. Só que as cobaias eram seres humanos. Prisioneiros
de guerra, principalmente judeus, foram submetidos a todos os tipos de crueldades.
— O Estado de S. Paulo, 3 out 1991 Disponível em: https://aplicweb.feevale.br/site/
files/documentos/doc/16220.doc. Acesso em março de 2010
O espírito democrático da criança não conhece hierarquia: ele sofre da mesma forma
diante da fadiga do trabalhador, da fome de um camarada, da miséria de um burro
de carga, do suplício de uma galinha sendo degolada. O cachorro e o pássaro são
seus próximos, a borboleta e a flor seus iguais. Ela descobre um irmão numa pedra ou
numa concha. Ela se dessolidariza de nós em seu orgulho de novo-rico; ignora que só
o homem possui alma.
Nós não respeitamos a criança porque ela tem muitas horas de vida pela frente.
Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 5
Enquanto nossos passos tornam-se passados, nossos gestos interesseiros, nossa
percepção e nossos sentimentos empobrecem, a criança corre, salta, olha em sua vol-
ta, se maravilha e interroga em pura gratuidade. Ela desperdiça suas lágrimas e pro-
digaliza seu riso generosamente. [...]
— Blog da creche São Vicente de Paulo – Disponível: http://crechesvpvotorantim.blo-
gspot.com/2010/04/o-direito-da-crianca-ao-respeito.html. Acesso em agosto de 2010.
Atenção
A natureza do texto supõe alguns conceitos. Supõe ainda:
estrutura, assunto, espaço, tempo, figuras, relações entre
diferentes textos, contexto...
No 1
Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me di-
vertia. O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, mobilidade brusca
e caretas de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor; [...] o Maurílio, ner-
voso, insofrido, fortíssimo na tabuada: cinco vezes dois, noves fora, vezes sete?... lá
estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos no rosto
Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 6
moreno, marcado por uma pinta na testa; o Negrão, de ventas acesas, lábios inquie-
tos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz de ficar sentado três
minutos, sempre à mesa do professor e sempre enxotado, debulhando um risinho de
pouca-vergonha [...]
— Raul Pompeia, O Ateneu
No 2
Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era
levantar-se e conduzi-los ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os
meninos. Estranhou a ausência deles. Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um
desastre, mas Baleia não atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem
percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno
coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar
pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na
esteira, por baixo do caritó onde Sinhá Vitória guardava o cachimbo.
— Graciliano Ramos, Vidas Secas
No 3
[...] Todo especialista em marketing e em propaganda sabe que a cor é fundamental
na apresentação e na aceitação do produto e, mais ainda, que isto é também condi-
cionado ao sexo, idade ou extrato sociocultural do comprador visado. Um produto que
se destina, principalmente, ao mercado feminino deverá ter, por exemplo, embalagem
em que predominem cores “femininas”, isto é, que lembrem suavidade e delicadeza; já
naquele que busque despertar no homem o desejo de comprar as cores serão “mas-
culinas”, traduzindo agressividade e força. O efeito psicológico das cores pode, neste
campo, ter grandes implicações. Não nos esqueçamos da pouca receptividade que,
inicialmente, tiveram as geladeiras pintadas de vermelho, uma cor “quente”, pois as
donas de casa não acreditavam que gelassem tão bem como as brancas...
— Roberto Verdussen, Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho
Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 7
conduzido a uma conclusão. Sua principal característica é a argumentati-
vidade.
Como vocês podem verificar, os três exemplos apresentam característi-
cas bem marcantes, que caracterizam cada um dos gêneros comentados.
Dicas
Narrar x descrever x dissertar
A narração é marcada pela temporalidade; a descrição, pela
espacialidade; e a dissertação, pela racionalidade.
Fundamentos
Descrever é caracterizar uma cena, um estado, um momento vivido ou
sonhado através de nossa percepção sensorial e de nossa imaginação
criadora. A visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar – nossos cinco
sentidos – constituem os alicerces da descrição. (AMARAL, Patrocínio &
SEVERINO, Antonio, 1999, p. 17)
Descrição é o tipo de texto em que se relatam as características de
uma pessoa, de um objeto ou de uma situação qualquer, inscritos num
certo momento estático do tempo. [...] Como os fatos reproduzidos numa
descrição são todos simultâneos, nesse tipo de texto não existe obvia-
mente relação de anterioridade ou posterioridade entre os seus enuncia-
dos. (FIORIN & SAVIOLI, 2009, p. 298)
Descrever é um processo no qual se empregam os sentidos para cap-
tar uma realidade e reprocessá-la num teto. Para a elaboração de texto
final, concorrem a sua habilidade linguística [...] e as finalidades a que ele
se propõe: informar ao leitor, convencê-lo, transmitir-lhe impressões ou
comunicar-lhe emoções. (SCIPIONE, 2006, p. 136)
Observando os conceitos comentados, é possível estabelecer que a
descrição é um texto, literário ou não, em que se caracterizam seres, coi-
sas e paisagens.
Alguns itens podem ser verificados em relação à descrição:
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1. O que descrever
Conforme já vimos, a descrição tem base sensorial. Assim, é possível des-
crever o que vemos (e que está próximo), o que imaginamos (conhece-
mos, mas não está próximo no momento da descrição) ou o que criamos
com a imaginação (qualquer ser imaginado).
Observe os três textos descritivos a seguir e perceba a sensação que
cada um desperta em você.
Prédio talvez um pouco antigo, porém limpo; desde o portão da chácara pressentia-se
logo que ali habitava gente fina e de gosto bem-educado [...] bolhas de vidro de várias
cores com pedestal de ferro fosco, e lampiões de três globos que surgiam de peque-
ninos grupos de palmeiras sem tronco, e banco de madeira rústica, e tamboretes de
faiança azul-nanquim, alcançava-se uma vistosa escadaria de granito, cujo patamar
guarneciam duas grandes águias de bronze polido, com as asas em meio descanso,
espalmando as nodosas garras sobre colunatas de pedra branca. Na sala de entrada,
por entre muitos objetos de arte, notava-se, mesmo de passagem, meia dúzia de telas
originais, umas em cavaletes, outras suspensas contra a parede por grossos cordéis de
seda frouxa; e, afastando o soberbo reposteiro de redes verdes que havia na porta do
fundo, penetrava-se imediatamente no principal salão da casa.
— Aluísio Azevedo, O Homem
De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’água que se dirige para o nor-
te, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se
rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma
serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majes-
tosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o
pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés
Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 9
do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as
de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas:
escravo submisso, sofre o látego do senhor [...] Aí o Paquequer lança-se rápido sobre o
seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso
pelas pontas do rochedo e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira.
— José de Alencar, O Guarani
2. Como descrever
Observando os textos, vemos que é possível escolher um entre os aspec-
tos a seguir, para efetuar a descrição ou mesmo a associação de dois e até
três aspectos. São eles:
Papo Técnico
A descrição compreende algumas fases: enumeração de
elementos, levantamento sensorial, comparação, imagi-
nação criadora. Leva em conta, ainda, um sujeito e suas
perspectivas.
Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 10
Os sons se sacodem, berram, lutam, arrebentam no ar sonoro dos ventos, vaias, kla-
xons, aços estrepitosos. Dentro dos sons movem-se cores, vivas, ardentes, pulando,
dançando, desfilando sob o verde das árvores, em face do azul da baía no mundo
dourado. Dentro dos sons e das cores, movem-se os cheiros, cheiro de negro, cheiro
mulato, cheiro branco, cheiro de todos os matizes, de todas as excitações e de todas as
náuseas. Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais, suaves, lúbri-
cos, meigos, alucinantes. Tatos, sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre,
de mendubim, de castanhas, de bananas, de laranja, de bocas e de mucosa.
— Graça Aranha, A Viagem Maravilhosa
Como você sabe, o som não é uma propriedade das cores ou dos cheiros.
Mas no texto de Graça Aranha, os cinco sentidos se misturam, se fundem
com a intenção de provocar uma sensação de completude.
Veja, no esquema a seguir, a ligação entre sujeito, base sensorial e cria-
tividade.
Conceito
Descrever é um processo em que se capta a realidade por
meio dos sentidos; é caracterizar uma cena, um estado, um
momento vivido ou sonhado através da percepção sensorial
e da imaginação criadora.
sujeito objeto
(percebedor) (percebido)
base imaginação
sensorial criadora
Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 11
4. Figuras de linguagem e descrição
A utilização de figuras de linguagem serve para facilitar a caracterização
dos elementos que se quer descrever. As mais utilizadas são: metáfora
(uso de uma palavra com sentido diferente daquele que lhe é próprio),
comparação (confronto de duas ideias por meio de uma conjunção com-
parativa: como, tal qual...), prosopopeia (atribuição de características ani-
mais a seres inanimados [animação] e características humanas a seres
não humanos [personificação]), sinestesia (cruzamento de sensações fí-
sicas ou psicológicas diferentes), onomatopeia (imitação aproximada de
ruídos e sons de qualquer natureza), assim como outras figuras de lingua-
gem podem reforçar os sentidos nas descrições.
Leia novamente o texto em que José de Alencar descreve o rio Paque-
quer. Observe como é rico em metáforas, comparações, prosopopeias, si-
nestesias. E perceba como essas figuras facilitam a visualização desse rio.
De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’água que se dirige para o nor-
te, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se
rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma
serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majes-
tosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o
pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés
do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as
de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas:
escravo submisso, sofre o látego do senhor [...] Aí o Paquequer lança-se rápido sobre o
seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso
pelas pontas do rochedo e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira.
— José de Alencar, O Guarani
Uma constatação
No Brasil, em pleno século XXI, as empresas se queixam da dificuldade
de encontrar pessoas que escrevam bem. Particularmente importante é
a habilidade de redigir descrições que sejam facilmente inteligíveis, que
não desperdicem palavras e, na medida do possível, que sejam agradáveis
de ler. Por exigências de políticas de qualidade cada vez mais sofisticadas
e abrangentes e de necessidade de certificações (várias modalidades de
ISO, Green Buildings e outras validações de produtos), há uma tendência
da valorização de profissionais capazes de escrever descrições concisas e
corretas. Assim, empenhe-se.
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antena
parabólica
Até meados dos anos 70, o recrutamento de profissionais
por empresas usava a intuição como principal ferramenta.
Hoje, há parâmetros que tornam a escolha de colaborado-
res mais eficiente. Entre eles, está a descrição de cargos e
funções. Pense nessa descrição como uma fotografia instan-
tânea de um conjunto de atividades. Essa descrição precisa
comunicar de forma clara e concisa as responsabilidades
e tarefas e também indicar as qualificações fundamentais
exigidas. Se possível, deve até mostrar os atributos que sus-
tentam um desempenho de excelência.
Lembre-se
A descrição está presente em situações coti-
dianas e sua utilização é tão comum que não
nos damos conta que a estamos praticando.
É largamente empregada nas organizações:
especificação de produtos, serviços, locais,
reuniões, projetos, relatórios e em várias ou-
tras. outras instâncias...
E agora, José?
Agora que você já sabe o que é texto e conhece um pouco
do gênero “descrição”, chegou o momento de dar mais um
passo e verificar como contar um fato, um acontecimento,
um evento. Para isso você aprenderá na próxima aula, o
que é uma narração e como elaborá-la. Aprenderá também
como o fato de conhecer a estrutura da narrativa poderá
auxiliá-lo. Boa sorte!
Referências
AMARAL, E.; SEVERINO, A.; PATROCÍNIO, M. F. SCIPIONI, U. Do Texto ao Texto – Curso práti-
Português: Redação, gramática, litera- co de leitura e redação. São Paulo: Editora
tura e Interpretação de Texto. São Paulo: Scipioni, 2006.
Nova Cultural, Círculo do Livro, 1999. VERDUSSEN, R. Ergonomia: a racionalização
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para Entender o humanizada do trabalho. Rio de Janeiro:
Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti- Livros Técnicos e Científicos, 1978.
ca, 2009.
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