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L Í NG U A P O RT U G UE S A

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

SUMÁRIO
1. Compreensão e Interpretação de Textos...................................................................... 03

2. Reconhecimento de Tipos e Gêneros Textuais.............................................................. 07

3. Domínio da Ortografia Oficial........................................................................................ 12

4. Domínio dos Mecanismos de Coesão Textual............................................................... 22

5. Domínio da Estrutura Morfossintática do Período....................................................... 36

6. Reescritura de Frases e Parágrafos do Texto................................................................ 66

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COMPREENSÃO E
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
DEFINIÇÃO DE TEXTO
A palavra texto, sem sombra de dúvida, é familiar a qualquer pessoa e aparece frequente-
mente no linguajar cotidiano, mas o texto não é simplesmente um aglomerado de frases.
De acordo com Infante (1998, p. 90),

“A palavra texto provém do latim textum, que significa ‘tecido, entrelaçamento’. Há, por-
tanto, uma razão etimológica para nunca esquecermos que o texto resulta de uma ação de
tecer, de entrelaçar unidades e partes a fim de formar um todo inter-relacionado. Daí po-
dermos falar em textura ou tessitura de um texto: é a rede de relações que garantem sua
coesão, sua unidade.”

É importante ressaltar que todo texto contém um pronunciamento dentro de um debate de


escala mais ampla, como observam Fiorin e Savioli (2007, p. 13):

“Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o produziu.
De uma forma ou outra, constrói-se um texto para, através dele, marcar uma posição ou participar
de um debate de escala mais ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma simples
notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem sempre uma intenção por trás”.

Portanto, num texto, o significado de uma parte depende de sua relação com as outras
partes, tornando-se uma estrutura construída de tal modo que as frases não têm significado autô-
nomo, pois o seu sentido depende da correlação que elas possuem com as demais frases.

Não podemos esquecer que existem textos verbais e não verbais, consistindo aqueles dos
textos escritos ou orais, e estes dos textos visuais, constituídos por ícones e/ou símbolos.

1.1 COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DE GÊNEROS VARIADOS

Interpretar um texto consiste em analisar o que está escrito, ou seja, coletar dados sobre o
texto. Para interpretar um texto devemos abstrair tanto as ideias explícitas quanto as implícitas
nele contidas. Como afirmado anteriormente, não existe texto desprovido de contexto e de várias
implicações, que podem ser políticas, filosóficas, sociológicas, acadêmicas, entre outras.

Bechara (2006) lista a forma como devemos analisar um texto:

• Ler duas vezes o texto. A primeira para tomar contato com o assunto; a segunda para ob-
servar como o texto está articulado; desenvolvido.
• Observar que um parágrafo em relação ao outro pode indicar uma continuação ou uma con-
clusão, ou, ainda, uma falsa oposição.
• Sublinhar, em cada parágrafo, a ideia mais importante (tópico frasal).

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• Ler com muito cuidado os enunciados das questões para entender direito a intenção do que
foi pedido.
• Sublinhar palavras como: erro, incorreto, correto, etc., para não se confundir no momento
de responder a questão.
• Escrever, ao lado de cada parágrafo, ou de cada estrofe, a ideia mais importante contida ne-
les.
• Não levar em consideração o que o autor quis dizer, mas sim o que ele disse; escreveu.
• Se o enunciado mencionar tema ou ideia principal, deve-se examinar com atenção a intro-
dução e/ou a conclusão.
• Se o enunciado mencionar argumentação, deve-se preocupar com o desenvolvimento.
• Tomar cuidado com os vocábulos relatores (os que remetem a outros vocábulos do texto:
pronomes relativos, pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc.)

Três erros comuns na interpretação de textos, e que podem levar a uma escolha errada no
momento da interpretação, são a extrapolação, redução e contradição.
Bechara (2006) define esses erros capitais na análise de um texto da seguinte forma:
Extrapolação: consiste em “fugir do texto”. Ocorre quando se interpreta o que não está
escrito, não se atendo ao que está relatado.
Redução: Consiste em valorizar uma parte do texto em detrimento da sua totalidade. Dei-
xa-se de considerar o texto como um todo para ater-se somente a uma parte dele.
Contradição: Consiste em se entender o contrário do que está escrito.
Observe que as provas de concurso estão cada dia mais complexas na interpretação, assim, para se
obter um bom resultado, não basta somente interpretar o texto, mas sim demonstrar o conheci-
mento do candidato a respeito do assunto, levando em consideração as atualidades, pois todos os
textos de concursos são, de algum modo, ligados às atualidades. O texto é o ponto de partida, mas
deve-se avaliar o contexto e a atualidade.

VAMOS EXEMPLIFICAR POR MEIO DE UMA QUESTÃO DE PROVA.


1 As diferenças de classes vão ser estabelecidas em dois
níveis polares: classe privilegiada e classe não privilegiada.
Nessa dicotomia, um leitor crítico vai perceber que se trata de
4 um corte epistemológico, na medida em que fica óbvio que
classificar por extremos não reflete a complexidade de classes
da sociedade brasileira, apesar de indicar os picos. Em cada um
7 dos polos, outras diferenças se fazem presentes, mas
preferimos alçar a dicotomia maior que tanto habita o mundo
das estatísticas quanto, e principalmente, o mundo do
10 imaginário social. Estudos a respeito de riqueza e pobreza ora
dão quitação a classes pela forma quantitativa da ordem do
ganho econômico, ora pelo grau de consumo na sociedade
13 capitalista, ora pela forma de apresentação em vestuário, ora
pela violência de quem não tem mais nada a perder e assim por
diante. O imaginário, em sua organização dinâmica e com sua
16 capacidade de produzir imagens simbólicas e estereótipos,
maneja representações que possibilitam pôr ordem no caos.
O imaginário, acionado pela imaginação individual, é
19 pluriespacial e, na interação social, constrói a memória, a
história museológica. Mesmo que possamos pensar que
estereótipos são resultado de matrizes, a cultura é dinâmica,
22 porquanto símbolos e estereótipos são olhados e
ressignificados em determinado instante social.
Dina Maria Martins Ferreira. Não pense, veja. São
Paulo: Fapesp&Annablume, p. 62 (com adaptações).

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COM BASE NA ORGANIZAÇÃO DAS IDEIAS E NOS ASPECTOS GRAMATICAIS DO


TEXTO, JULGUE OS ITENS QUE SE SEGUEM.

Questão de prova: Subentende-se da argumentação do texto que “os picos” (l. 6) corres-
pondem aos mais salientes indicadores de classes — a privilegiada e a não privilegiada —,
referidos no texto também como “extremos” (l. 5) e “polos” (l. 7).
Comentário: Antes de passarmos à análise da questão propriamente dita, é importante res-
saltar que o texto em questão é um bom exemplo da necessidade de o candidato possuir uma
boa “bagagem de leitura” da atualidade, de tal forma que possa interpretar o texto no contex-
to em que está inserido. Essa observação aplica-se à interpretação de textos em geral, como
ressaltamos anteriormente. Com relação à questão em análise, embora o texto afirme que
classificar por extremos não reflete a complexidade de classes da sociedade brasileira, os
“picos” referidos na linha 6 são os “extremos” das classes sociais, os quais funcionam como
“polos” (l. 7) opostos: a classe privilegiada e a não privilegiada. A alternativa, portanto, está
CERTA.

A vida humana como valor jurídico


1 Vivemos sob a égide de uma Constituição que
orienta o Estado no sentido da dignidade da pessoa humana,
tendo como normas a promoção do bem comum, a garantia
4 da integridade física e moral do cidadão e a proteção
incondicional do direito à vida. Essa proteção é de tal forma
solene que o atentado a essa integridade eleva-se à condição
7 de ato de lesa-humanidade: um atentado contra todos os
homens.
Afirma-se que a Constituição do Brasil protege a
10 vida e que tudo aquilo que soa diferente é contrário ao
Direito e por isso não pode realizar-se. Todavia, dizer que a
vida depende da proteção da Carta Maior é superfetação
13 porque a vida está acima das normas e compõe todos os
artigos, parágrafos, incisos e alíneas de todas as
constituintes.
16 A cada dia que passa, a consciência atual,
despertada e aturdida pela insensibilidade e pela indiferença
do mundo tecnicista, começa a se reencontrar com a mais
19 lógica de suas normas: a tutela da vida. Essa consciência de
que a vida humana necessita de uma imperiosa proteção vai
criando uma série de regras que se ajustam mais e mais com
22 cada agressão sofrida, não apenas no sentido de se criar
dispositivos legais, mas como maneira de estabelecer formas
mais fraternas de convivência. Este, sim, seria o melhor
25 caminho.
Tudo isso vai sedimentando a idéia de que a vida de
todo ser humano é ornada de especial dignidade, o que deve
28 ser colocado de forma clara em defesa da proteção das
necessidades e da sobrevivência de cada um. Esses direitos
fundamentais e irrecusáveis da pessoa humana devem ser
31 definidos por um conjunto de normas que possibilitem que
cada um tenha condições de desenvolver suas aptidões e suas
possibilidades.

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CONSIDERANDO AS IDEIAS E A ESTRUTURA DO TEXTO ACIMA, JULGUE OS ITENS DE


1 A 5.

1 O texto defende que a sociedade brasileira, apesar de vítima da violência do contexto tecnológico
atual, tem por valor superafetado a proteção do direito à vida, garantido constitucionalmente.
2 Entre os pilares que sustentam a Carta Magna brasileira — a dignidade da pessoa, o respeito ao
cidadão, a garantia da sua integridade, o fortalecimento do bem comum e o resguardo do direito à
vida —, sobreleva-se este último, pela qualidade de incondicional.
3 É redundante afirmar que a Constituição do Brasil dá especial ênfase à defesa à existência no país,
uma vez que a vida sobreleva-se a constituições sociais e está pressuposta em vários dispositivos
legais.
4 O texto argumenta que é universal e incontestável a consciência de que urge o estabelecimento de
formas mais fraternas de convivência no mundo atual.
5 O texto estrutura-se de forma dissertativa, com léxico predominantemente denotativo, apesar de
haver palavras empregadas em sentido conotativo, a exemplo de “soa” (l.10) e “ornada” (l.27).

Comentário: Conforme temos observado nas últimas provas, a prova de conhecimentos básicos a-
presenta questões de ordem linguística e de interpretação utilizando um mesmo texto como base.
Embora se trate de uma prova do ano de 2004, é interessante observar as mudanças ocorridas e o
grau de dificuldade cada vez maior constante nas provas de concursos.
Vamos analisar somente o item 3, para exemplificar, pois é uma típica questão de interpretação de
texto, que necessita uma reflexão sobre o texto como um todo, levando-se também em consideração
os aspectos externos a ele (atualidades). A Constituição brasileira visa, acima de tudo, garantir prote-
ção incondicional ao direito à vida ou à existência, e pode-se considerar redundante (superafetação –
l. 12) tal afirmação. A vida sobreleva-se (está acima – linha 13) a constituições sociais (normas – l.
13), porém ela não está pressuposta em vários dispositivos legais (a parte do enunciado legal em que
se prevê o efeito de sua incidência), mas sim compõe todos os artigos, parágrafos, incisos e alíneas
de todas as constituintes (referente à constituição ou que tem a missão de elaborar a constituição).
Dessa forma, o item está ERRADO.

DICAS PARA UMA BOA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS:

a) tenha uma boa noção de História e dos fatos ocorridos nos últimos anos (atualidades);
b) tenha concentração na leitura do texto;
c) o texto é a fonte primária e principal; se ele contrariar as atualidades, siga o texto;
d) tenha em mente que todo entendimento de texto é, de alguma forma, limitado, pois nin-
guém domina todas as áreas do conhecimento;
e) preste atenção a todos os detalhes. Muitas vezes, uma única palavra constante na questão
pode fazer a diferença entre ela ser considerada certa ou errada em relação ao conteúdo do
texto.

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RECONHECIMENTO DE TIPOS E
GÊNEROS TEXTUAIS
Considerando-se que um texto, em geral, apresenta características mistas, a delimitação de
seus traços específicos torna-se muito complexa. Assim, o importante, na redação textual, é que
haja uma ideia em torno da qual se possa considerar um núcleo, os dados que apoiam essa afirma-
ção e a relação entre ambos. Basicamente, existem três tipos de texto: descritivo, narrativo e dis-
sertativo.

TEXTO DESCRITIVO
Segundo Platão e Fiorin (2007, p. 297), “o texto descritivo relata as características de uma pes-
soa, de um objeto ou de uma situação qualquer, inscritos num certo momento estático do tempo”.

CARACTERÍSTICAS:

a) os enunciados relatam ocorrências simultâneas;


b) não existe um enunciado que possa ser considerado cronologicamente anterior ao outro;
c) ainda que se fale de ações, não devem indicar nenhuma transformação de estado;
d) quando invertemos a sequência dos enunciados, não trocamos nenhuma informação, não
há alteração cronológica. Visto que os textos descritivos não encerram sequência de ações no
tempo, pode haver várias ações em um mesmo momento.

VEJA OS SEGUINTES EXEMPLOS DE TEXTO DESCRITIVO:


Literário

Calisto Elói, naquele tempo, orçava por quarenta e quatro anos. Não era desajeitado de sua pes-
soa. Tinha poucas carnes e compleição, como dizem, afidalgada. A sensível e dissimétrica saliência
do abdômen devia-se ao uso destemperado da carne de porcos e outros alimentos intumescentes.
Pés e mãos justificavam a raça que as gerações vieram adelgaçando de carnes. Tinha o na-
riz algum tanto estragado das invasões do rapé e torceduras do lenço de algodão vermelho. A dila-
tação das ventas e o escarlate das cartilagens não eram assim mesmo coisa de repulsão.
(Camilo Castelo Branco, A queda dum anjo)

Não Literário

Com a finalidade de compensar as possíveis irregularidades do piso, o seu refrigerador pos-


sui, na parte inferior dianteira, dois pés nivelados para um perfeito apoio no chão.

TEXTO NARRATIVO
Para Platão e Fiorin (2007, p. 289), “o texto narrativo é aquele que relata as mudanças pro-
gressivas de estado que vão ocorrendo com as pessoas e as coisas através do tempo”. Assim, “os
episódios e os relatos estão organizados numa disposição tal que entre eles sempre existe uma
relação de anterioridade ou posterioridade”.

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A narração consiste no relato de um fato real ou imaginário. É como se acabássemos de ler


um livro ou assistíssemos a um filme e contássemos a história, sem emitir nossa opinião. Esse tipo
de texto compõe-se de exposição, enredo e desfecho, e seus elementos centrais são as persona-
gens, as ações e as ideias.

VEJA UM EXEMPLO DE TEXTO NARRATIVO:


Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empe-
nhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, ma-
nicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou
de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso,
Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os
Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência, matou-a com seis
tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
(Manuel Bandeira, Tragédia brasileira)

TIPOS DE DISCURSOS DE TEXTOS NARRATIVOS


Direto: reproduz-se a fala real da personagem.
Ex.: Disse Pedro: “Vou trabalhar”.
Indireto: O narrador fala pela personagem.
Ex.: Pedro disse que vai trabalhar.
Indireto livre: é a mistura dos dois. Não se sabe se quem falou foi o narrador ou a personagem.
Ex.: O menino andava pela sala irritado e zangado. Eu não gosto disso! E parecia que ninguém lhe
dava atenção.

TEXTO DISSERTATIVO
Segundo Platão e Fiorin (2007, p. 298-9), “dissertação é o tipo de texto que analisa e inter-
preta dados da realidade por meio de conceitos abstratos”. Dessa forma, “a referência ao mundo
real se faz através de conceitos amplos, de modelos genéricos, muitas vezes abstraídos do tempo e
do espaço”. Podemos citar como exemplo de texto dissertativo mais típico o discurso da ciência e
da filosofia, pois, nele, as referências ao mundo concreto só ocorrem como recursos de argumenta-
ção, para ilustrar leis ou teorias gerais.
VEJA UM EXEMPLO DE TEXTO DISSERTATIVO:

As condições de bem-estar e de comodidade nos grandes centros urbanos como São Paulo são reco-
nhecidamente precárias por causa, sobretudo, da densa concentração de habitantes num espaço que
não foi planejado para alojá-los. Com isso, praticamente todos os polos da estrutura urbana ficam
afetados: o trânsito é lento; os transportes coletivos, insuficientes; os estabelecimentos de prestação
de serviços, ineficazes.

(Platão e Fiorin, 2007, p. 300)

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Quanto à formulação, o texto dissertativo pode ser expositivo e argumentativo.

EXPOSITIVO

Consiste numa apresentação, explicação, sem o propósito de convencer o leitor. Não há


intenção expressa de criar debate, pela contestação de posições contrárias à do autor.

EXEMPLO:

Desde 2008, quando foram anunciadas as primeiras descobertas na região do pré-sal brasileiro, o
setor aguarda por definições regulatórias e estudos técnicos que vão determinar como e quando a
área será explorada. O ritmo de avanço da extração no Brasil, portanto, reflete ainda um panorama
antigo. Naquele ano, o Brasil tinha 11,4 bilhões de barris em reservas provadas, segundo a ANP. No
fim de 2010, o volume havia crescido para 14 bilhões de barris, avanço de 23%.

(Revista Análise Energia, 2012, p. 33.)

ARGUMENTATIVO
Consiste numa opinião que tenta convencer o leitor de que a razão está do lado de quem
escreveu o texto. Para isso, lança-se mão de um raciocínio lógico, coerente, baseado na evidência
das provas. Esse tipo de texto não somente lança ideias, mas defende um ponto de vista, ou, pelo
menos, o explica bem. É importante ressaltar que a dissertação argumentativa é o tipo de texto
normalmente mais utilizado pelos examinadores nas provas de interpretação.

VEJA UM EXEMPLO DE TEXTO AGUMENTATIVO CONSTANTE NA PROVA DO


MPU/2012, PARA O CARGO DE ANALISTA PROCESSUAL:

Nós, seres humanos, somos seres sociais: vivemos


nosso cotidiano em contínua imbricação com o ser de outros.
Isso, em geral, admitimos sem reservas. Ao mesmo tempo,
4 seres humanos, somos indivíduos: vivemos nosso ser cotidiano
como um contínuo devir de experiências individuais
intransferíveis. Isso admitimos como algo indubitável. Ser
7 social e ser individual parecem condições contraditórias da
existência. De fato, boa parte da história política, econômica e
cultural da humanidade, particularmente durante os últimos
10 duzentos anos no ocidente, tem a ver com esse dilema. Assim,
distintas teorias políticas e econômicas, fundadas em diferentes
ideologias do humano, enfatizam um aspecto ou outro dessa
13 dualidade, seja reclamando uma subordinação dos interesses
individuais aos interesses sociais, ou, ao contrário, afastando o
ser humano da unidade de sua experiência cotidiana. Além
16 disso, cada uma das ideologias em que se fundamentam essas
teorias políticas e econômicas constitui uma visão dos
fenômenos sociais e individuais que pretende firmar-se em uma
19 descrição verdadeira da natureza biológica, psicológica ou
espiritual do humano.

Humberto Maturana. Biologia do fenômeno social: a ontologia da realidade.


Miriam Graciano (Trad.). Belo Horizonte: UFMG, 2002, p. 195 (com adaptações).

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Comentário: Observe que o autor do texto tece sua argumentação utilizando fatos históricos (“De
fato, boa parte da história política, econômica e cultural da humanidade, particularmente durante
os últimos duzentos anos no ocidente (...)” – linhas 8-10) e as atualidades, analisando, brevemente,
a condição do ser humano enquanto ser social e, ao mesmo tempo, individual.

PRODUÇÃO TEXTUAL NA MODALIDADE DISSERTAÇÃO


A elaboração de um texto dissertativo constitui um processo que vai desde a análise do tema pro-
posto até a revisão do produto da dissertação.
Conforme mencionado anteriormente, os dois tipos mais frequentes de dissertação são os textos
expositivos e argumentativos. O primeiro é um relato dos fatos e dados sem existência de tese; já
no segundo modelo a tese é necessária.

O texto dissertativo possui as seguintes características:

a) é um texto temático, pois trata de análises que evoluem a partir de um raciocínio lógico;
b) mostra mudanças de situação. É importante observar que a ordenação obedece às relações
lógicas e não cronológicas;
c) o tempo verbal por excelência é o presente.

Segundo Infante (1998) existe uma forma já consagrada para a organização do texto dissertativo.
Consiste em estruturarmos o material de que dispomos em três momentos principais: a introdu-
ção, o desenvolvimento e a conclusão.

Introdução: É o ponto de partida do texto. Deve apresentar de maneira clara o assunto a ser trata-
do e também delimitar questões referentes ao assunto que será abordado.
Ao redigir a introdução, procure utilizar recursos que chamem a atenção do leitor: formular uma
tese, que deverá ser discutida e provada pelo texto; lançar uma afirmação surpreendente, que o
corpo do texto tratará de justificar ou refutar; propor uma pergunta, cuja resposta será dada no
desenvolvimento e explicitada na conclusão.

Desenvolvimento: É a parte do texto na qual as ideias, conceitos, informações, argumentos de que


você dispõe serão desenvolvidos, de forma organizada e criteriosa.
O conteúdo do desenvolvimento pode ser organizado de diferentes maneiras, de acordo com as
propostas do texto e as informações disponíveis. Desenvolva o texto de forma gradual e progressi-
va, ampliando e desdobrando o que já foi colocado na introdução de forma sucinta, e apresente
sua argumentação – se for um texto dissertativo argumentativo.

Conclusão: É a parte final do texto, um resumo forte e sucinto de tudo aquilo que já foi dito. Além
de retomar e condensar o conteúdo anterior, a conclusão deve expor claramente uma avaliação
final do assunto.

DICAS PARA A ELABORAÇÃO DE DISSERTAÇÕES:


a) comece a escrever a partir da primeira linha e respeite as margens traçadas em sua folha de
prova;
b) não repita várias vezes a mesma palavra. Tal erro indica pobreza vocabular e problemas de
coesão;
c) de preferência, escreva de forma impessoal, ou seja, na terceira pessoa;
d) não converse com o leitor. A referência a um interlocutor direto na dissertação constitui vio-
lação ao princípio da impessoalidade e objetividade no texto. Procure não utilizar o você;

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e) não fuja do tema, pois isso pode ocasionar a eliminação do candidato. Por menor que seja seu
conhecimento sobre o tema, ele deve ser abordado;
f) A utilização de citações dá credibilidade e consistência ao texto, porém, elas devem ser ade-
quadas ao contexto. As citações podem ser diretas (entre aspas) ou indiretas (utilizar suas pró-
prias palavras);
g) a ilustração (dados, exemplos, citações) é um dos recursos argumentativos mais importantes,
porém, deve ser utilizado com cautela. Não polua o texto com ilustrações, procurando dar credi-
bilidade a ele. Além disso, não invente dados, pois os exemplos devem ser dados de domínio
público, não particular;
h) fuja das conclusões vagas, genéricas ou apelativas. Se o texto for argumentativo, o ponto de
vista do autor deve ficar evidente na conclusão, sempre baseado na argumentação precedente.

Não existe forma melhor de preparar-se para um concurso do que estudar as últimas provas de
redação discursiva das bancas dos concursos anteriores. Para uma melhor compreensão, faremos
um recorte do que foi cobrado em algumas provas dos últimos anos.

João denunciou ao promotor de justiça do Ministério Público do seu estado a suspeita de des-
vios financeiros em hospital da periferia da sua cidade. Nos primeiros meses do ano, a fim de
receber medicamento receitado após consulta médica naquela unidade de saúde, João dirigia-
se à farmácia hospitalar desse hospital e sempre obtinha a dose recomendada. Mas, nos últi-
mos dois meses, ele não conseguiu mais receber a dose prescrita, pois o funcionário que o a-
tendeu informou que o estoque do medicamento indicado
havia se esgotado. Não se conformando com a situação, João retornou àquela farmácia em dias
diferentes, solicitando a dose recomendada, e a justificativa do funcionário repetiu-se. Após
João ter narrado essa situação ao referido promotor, este elaborou um relatório referente ao ca-
so em tela.

Considerando essa situação hipotética, discorra sobre os direitos constitucionais violados nesse
caso. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:

▪ os princípios do direito administrativo que podem ser evocados na defesa do referido cidadão;
▪ os poderes que o Ministério Público exerce na defesa do cidadão, nesse caso;
▪ os fundamentos, dispostos nas Leis Complementares n.º 75/1993 e n.º 8.625/1993, aplicáveis
pelo Ministério Público à situação.

Decreto n.º 5.707, de 23/2/2006, instituiu a política e as diretrizes para o desenvolvimento de


pessoal da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. As finalidades dessa
política são a melhoria da eficiência, da eficácia e da qualidade dos serviços públicos presta-
dos ao cidadão, bem como o desenvolvimento permanente do servidor público e a adequação
das competências requeridas dos servidores aos objetivos das instituições, tendo como refe-
rência o Plano Plurianual, a divulgação e o gerenciamento das ações de capacitação e a racio-
nalização e efetividade dos gastos com capacitação.

Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca da importância do mapeamento de competências em uma organização pública para a im-
plantação da referida política. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspec-
tos:

▪ principais métodos e técnicas para a realização do mapeamento de competências;

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▪ encadeamento dos passos ao se realizar esse mapeamento;


▪ aplicação dos resultados do mapeamento.

Reclamar dos governos é uma constante nas sociedades contemporâneas, especialmente nos
países democráticos. Tal comportamento revela uma qualidade: a cobrança contínua do poder
público e dos governantes pode aperfeiçoar o exercício da cidadania. Mas nem sempre a popu-
lação tem o conhecimento e os instrumentos necessários para atuar corretamente na função de
controlador. Recentemente, os brasileiros obtiveram a ferramenta que permite uma ação fisca-
lizadora inteligente e responsável, a Lei de Acesso à Informação, que poderá mudar de forma
profunda as relações entre Estado e sociedade no Brasil.

Fernando Abrucio. In: Época, 15/6/2012 (com adaptações).

Considerando o texto acima como meramente motivador, redija um texto dissertativo a-


cerca do acesso à informação no Brasil. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguin-
tes aspectos:
▪ condições que restringem o acesso à informação no Brasil; [valor: 4,50 pontos]
▪ benefícios da Lei n.º 12.527/2011 para a transparência das ações do Estado. [valor: 5,00 pontos]

Comentário: Observe que há uma constante nas provas dissertativas: o comando “aborde, necessa-
riamente, os seguintes aspectos”, o qual aparece nos três exemplos. A banca, quando solicita a
abordagem dos aspectos, procura não somente o domínio do conteúdo, mas também a qualidade
da estrutura textual. Leve em consideração que cada aspecto deve ser organizado em um parágrafo
específico, não abordando no mesmo parágrafo mais de um assunto, e não confundindo o que está
sendo abordado. Também se certifique que o seu texto seja coeso, observando as regras para a
coesão textual que serão abordadas no item 4, Domínio dos mecanismos de coesão textual.
Exercício:

Pratique tendo como base as três questões apresentadas acima. Redija os textos solicitados e lembre-
se, quando de trata da redação de textos, tenha em mente que “a prática traz a perfeição”. Só se a-
prende a redigir um bom texto praticando através da escrita.

DOMÍNIO DA
ORTOGRAFIA OFICIAL
Ortografia (do grego ortho = correto; grafia = escrita) é a parte da gramática que trata da es-
crita correta das palavras, segundo os padrões da língua culta. Na Língua Portuguesa, alguns fatores
dificultam essa escrita. Os dois principais itens que acarretam essa dificuldade relacionam-se, pri-
meiro, à possibilidade de alguns fonemas admitirem grafias diferentes e, segundo, à etimologia,
isto é, à origem das palavras. Ainda há a incorreção gráfica provocada pela pronúncia errada.

A ortografia oficial da Língua Portuguesa é composta dos sistemas ortográficos fonético, eti-
mológico e misto, como podemos verificar no quadro:

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FONÉTICO ETIMOLÓGICO MISTO


Consiste na exata e fiel figuração Representa as palavras de acor- Resultante da fusão dos
dos sons, escrevendo as palavras tal do com a grafia de origem, re- dois primeiros.
e qual se pronunciam. produzindo todas as letras do
étimo.
Exemplos: cristo, pressentir, inalar, Exemplos: hoje, humano, hilá- Exemplos: esgoto, igreja,
escrever rio sete, tratar

Embora listemos a seguir algumas dicas práticas referentes à ortografia oficial da Língua Por-
tuguesa, a melhor forma de se aprender a correta grafia de um vocábulo é a retenção da sua ima-
gem, o que ocorre por meio da leitura e da escrita.

Não podemos esquecer que, de acordo com o Novo Acordo Ortográfico, o alfabeto da língua
portuguesa passou a ter oficialmente 26 letras, com a inclusão das letras k, w e y.

EMPREGO DAS LETRAS


A) Uso do C ou Ç
Usa-se C ou Ç nos seguintes casos:

• após um ditongo: afeição, coice, foice, eleição.


• nomes derivados do verbo TER: abster – abstenção / deter – detenção / reter – retenção.
• nomes relacionados com palavras cujo radical termina em T: executar – execução / marte – mar-
ciano / infrator – infração.
• nos vocábulos de origem árabe: cetim / açucena / açúcar.
• nos vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, Juçara, cachaça, cacique.
• nos sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, car-
niça, caniço, esperança, carapuça, dentuço.

B) Uso do G
Usa-se a letra G nos seguintes casos:

• nas terminações AGEM, IGEM, UGEM, EGE e OGE: garagem, vertigem, ferrugem, bege, foge.
• nas terminações ÁGIO, ÉGIO, ÍGIO, ÓGIO, ÚGIO: sufrágio, sortilégio, vestígio, relógio, refúgio.
• nos verbos terminados em GER e GIR: eleger, dirigir.
• depois da letra R (com poucas exceções): emergir, surgir.
• depois da letra A, quando não seja radical terminado com J: ágil, agente.

C) Uso do J
Usa-se a letra J nos seguintes casos:

• nas palavras derivadas de outras palavras terminadas em JA: franja, gorjeta, laranjeira, lojista.
• antes do ditongo EI, com algumas exceções: jeito, sujeito, sujeira. Algumas exceções: bagageiro,
estrangeiro, ligeiro, mensageiro, passageiro.
• todas as formas dos verbos terminados em JAR: arranjar – arranjei / enferrujar - enferrujei / viajar
– viajei.
• nas palavras de origem latina: jeito, majestade, hoje.
• nas palavras de origem árabe, africana ou exótica: alforje, jiboia, manjerona. Atenção: a palavra
SERGIPE é uma exceção.
• nas palavras terminadas com AJE: laje, ultraje.

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D) Uso do S
Usa-se S nos seguintes casos:

• nos sufixos ês, esa, esia e isa, quando o radical é substantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárqui-
cos: freguês, freguesia, poetisa, baronesa, princesa.
• nos sufixos gregos ase, ese, ise e ose: catequese, morfose.
• nas formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quis, quiseste.
• nos nomes derivados de verbos com radicais terminados em d: aludir – alusão / decidir – decisão /
empreender – empresa / difundir – difusão.
• nos diminutivos cujos radicais terminam com s: Luís – Luisinho / Rosa – Rosinha / lápis – lapisi-
nho.
• após ditongos: coisa, pausa, pouso.
• em verbos derivados de nomes cujo radical termine com s: análise – analisar / pesquisa – pesquisar.
• nos grupos IST e UST: misto, justo, custo.
• verbos cujos radicais terminam em D, ND, RG, RT, CORR, PEL e SET: aludir – alusão / repreen-
der – repreensão / imergir – imersão / reverter – reversão / recorrer – recurso / impelir – impulso /
consentir – consenso.
• adjetivos terminados em OSO e OSA: bondoso, generoso, piedoso, maravilhosa, gostosa.

E) Uso do SS
Usa-se SS nos seguintes casos:

• verbos cujos radicais terminem em GRED, CED, MET e PRIM: progredir – progresso / interceder
– intercessão / prometer – promessa / reprimir – repressão.
• quando o prefixo termina com vogal e se junta com palavra iniciada por s: a + simétrico – assimé-
trico / re + surgir – ressurgir.
• no pretérito perfeito do subjuntivo: ficasse, falasse.

F) Uso do X
Usa-se a letra X nos seguintes casos:

• depois de ditongo, de EM, BRU, ME e PU: queixa, deixa, enxada, enxoval, bruxa, mexer, puxar.
Observação: a palavra capucho é exceção.
Atenção: Se a palavra primitiva se escrever com CH, este é mantido: encher (vem da palavra cheio),
encharcar (vem da palavra charco), enchumaçar (vem da palavra chumaço).
• nas palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi, muxoxo, xucro.
• nas palavras de origem inglesa (sh) e espanhola (j): xampu, lagartixa.

G) Uso do Z
Usa-se a letra Z:

• nos sufixos EZ e EZA em substantivos abstratos derivados de adjetivos: rapidez, sensatez, esperte-
za, pobreza.
• no sufixo IZAR, quando a palavra primitiva não se escreve com S: atual – atualizar / concreto –
concretizar / ironia – ironizar.
• como consoante de ligação se o radical não terminar com S: café + al – cafezal / pé + zinho – pezi-
nho.

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SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS

• semântica é o estudo da significação das palavras.

• Significante e significado

Significante é a parte física da palavra (os fonemas e as letras).

Significado é o sentido da palavra que provoca na mente do ouvinte ou do leitor uma ima-
gem ou uma ideia.

• Sinônimos e antônimos

Sinônimos são palavras que têm um sentido geral comum, porém distinguem por particulari-
dades e se empregam em situações diferentes.
Ex.: Adversário – antagonista / Transformação – metamorfose

Antônimos são palavras de significação oposta.


Ex.: Riqueza – pobreza / Bom – mau

• Homônimos e parônimos

Homônimos são palavras diferentes no sentido, mas que têm a mesma pronúncia. Dividem-
se em homônimos perfeitos e homônimos imperfeitos.

• Homônimos perfeitos são palavras diferentes no sentido, mas idênticas na escrita e na pronún-
cia.
Ex.: Homem são. (adj.) / São João. (subst.) / São várias as causas. (verbo)

• Homônimos imperfeitos, que se dividem em:

Homônimos homógrafos, quando têm a mesma escrita e a mesma pronúncia, exceto a aber-
tura da vogal.
Ex.: Almoço (substantivo) / Almoço (verbo)

Homônimos homófonos, quando têm a mesma pronúncia, mas escrita diferente.


Ex.: Cessão / Seção / Sessão

• Denotação e conotação

• Denotação é o emprego da palavra em seu sentido próprio (usada quando se quiser dar caráter
técnico ou científico ao texto).

• Conotação é o uso da palavra em sentido figurado, dando ao texto várias interpretações (esse
recurso é muito utilizado em textos literários). Exemplos:

Construí um muro de pedra. (denotação)


Ela possui um coração de pedra. (conotação)

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PARTICULARIDADES GRAMATICAIS

A seguir apresentamos algumas das palavras da Língua Portuguesa que apresentam dificul-
dade quanto ao seu emprego no que se refere à grafia correta.

A GRAFIA DOS PORQUÊS

PORQUÊ
• Substantivo
Ex.: Não sei o porquê de tanta alegria.

POR QUE
• usado em perguntas diretas.
Ex.: E tu, por que resolveste aderir à greve?

• usado em perguntas indiretas.


Ex.: Não entendemos por que (motivo) os bancos não abrirão hoje.

• quando puder ser substituído por “pelo qual, pelos quais, pela qual, pelas quais, por qual, por
quais”.
Ex.: São profundas as crises por que passamos.
POR QUÊ
• em fim de frase.
Ex.: Não recorreram ao advogado, por quê?

PORQUE
• introduz explicação, indicação de causa.
Ex.: Todos foram embora porque já estava tarde.

Observe as seguintes propostas de reformulação da frase “Por que uma melodia român-
tica pode disparar sensações tão agradáveis?”
I – Perguntamo-nos sobre o porquê de uma melodia romântica poder provocar sensações tão
agradáveis.
II – Perguntamo-nos porque uma canção romântica pode desferir sensações tão agradáveis.
III – Perguntamo-nos por que motivo uma música romântica pode suscitar sensações tão a-
gradáveis?
Quais mantêm o sentido e a correção?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III.
e) Apenas II e III.

Observe as frases.
I – Não foste à palestra _____ o assunto não interessava?
II – Eis _____ nós fomos aprovados.
III – A reportagem revela _____ os hospitais são tão caros.

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IV – São inimagináveis as dificuldades _____ passamos.


Completa correta e respectivamente as frases acima a opção
a) por que – porque – porque – por que.
b) por que – por que – por que – porque.

c) porque – por que – por que – por que.


d) porque – porque – porque – por que.
e) por que – por que – por que – por que.

Gabarito: 1)a 2)a

MAL E MAU
• mal é antônimo de bem. Pode ser advérbio, substantivo, ou conjunção temporal.
Ex.: Ele estava passando mal. (advérbio)
O bem sempre vence o mal. (substantivo)
Mal cheguei, ela saiu. (conjunção temporal)

• mau é antônimo de bom. É adjetivo.


Ex.: Ele é um mau aluno.

ONDE E AONDE

• onde: indica lugar (o lugar onde se está); refere-se a verbos que exprimem estados, permanência.
Ex.: Onde fica o hospital mais próximo?

• aonde: indica ideia de movimento. Equivale a para onde.


Ex.: Aonde você vai com tanta pressa?

SENÃO E SENÃO

• senão: equivale a caso contrário, a não ser, em orações adverbiais condicionais.


Ex.: Não fazia nada, senão criticar.

• se não: equivale a se por acaso não, em orações adverbiais condicionais.


Ex.: Se não estudarmos muito, não seremos aprovados no concurso.

TAMPOUCO E TÃO POUCO

• tampouco: é um advérbio; equivale a também não.


Ex.: Não foi trabalhar, tampouco apresentou justificativa.

• tão pouco: é um advérbio de intensidade.


Ex.: Estudei tão pouco esta semana.

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TRÁS, ATRÁS E TRAZ

• trás e atrás: são advérbios de lugar.


Ex.: Atrás daquela colina há um pequeno vilarejo.
• traz: do verbo trazer.
Ex.: Ele sempre traz presentes quando vem nos visitar.

HÁ E A

• há: do verbo haver. Utiliza-se no tempo passado. Para saber se o seu emprego está correto, subs-
titua-o pelo verbo fazer.
Ex.: Há (faz) cinco anos que não o vejo.

• A: Usa-se para exprimir distância ou tempo futuro.


Ex.: Daqui a três anos estarei formado.
Minha escola fica a quinhentos metros de casa.

MAS E MAIS

• mas: é uma conjunção coordenativa adversativa. Equivale a contudo, porém, todavia.


Ex.: Consegui ser aprovado na escola, mas minhas notas ficaram pouco acima da média.

• mais: é um pronome ou advérbio de intensidade. Seu antônimo é menos.


Ex.: Ele era o aluno mais dedicado da turma.

USO DO HÍFEN

Observe no quadro abaixo as regras vigentes para a utilização do hífen:

PREFIXOS OU REGRAS EXEMPLOS OBSERVAÇÕES


FALSOS PRE-
FIXOS

Vogais iguais Usa-se o hífen anti-ibérico, auto- Mas os prefixos co, pro, pre, re
quando o prefixo e organização, contra- se juntam ao segundo elemento,
o segundo ele- almirante, infra-axilar, micro- ainda que este inicie pelas vogais
mento juntam-se ondas, neo-ortodoxo, sobre- o ou e: coocupar, coorganizar,
com a mesma elevação, anti-inflamatório. coautor, coirmão, cooperar,
vogal. preenchimento, preexistir, pre-
estabelecer, proeminente, pro-
por reeducação, reeleição, rees-
crita.

Vogais diferen- Não se usa o hífen autoescola, autoajuda, auto-


tes quando os ele- afirmação, semiaberto, semi-
mentos se unem árido, semiobscuridade, con-
com vogais dife- traordem, contraindicação,
rentes. extraoficial, neoexpressionis-
ta, intraocular, semiaberto,
semiárido.

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Consoantes Usa-se o hífen se a inter-racial, super-revista,


iguais consoante do final hiper-raquítico, sub-
do prefixo for brigadeiro.
igual à do início do
segundo elemen-
to.

Se o segundo Não há hífen antirreligioso, minissaia, Porém, conforme a regra anteri-


elemento co- quando o segundo ultrassecreto, ultrassom. or, com prefixos hiper, inter,
meça com s, r. elemento começa super, deve-se manter o hífen:
com s ou r; nesse hiper-realista, inter-racial, super-
caso, duplicam-se racional, super-resistente.
as consoantes.

Se o segundo Usa-se o hífen: se circum-murado, circum-


elemento co- o primeiro ele- navegação, pan-hispânico,
meça com h, m, mento, terminado pan-africano, pan-americano.
n, ou com vo- em m ou n, unir-se
gais. com as vogais ou
consoantes h, m
ou n.

Ex, sota, soto, Usa-se hífen com ex-almirante, ex-presidente, Escreva, porém, sobrepor.
vice os prefixos: ex, sota-piloto, soto-pôr, vice-
sota, soto, vice. almirante, vice-rei.

Pré, pós, pró Usa-se hífen com pré-escolar, pré-nupcial, pós- Se os prefixos não forem autô-
os prefixos pré, graduação, pós-tônico, pós- nomos, não haverá hífen: prede-
pós, pró (tônicos e cirúrgico, pró-reitor, pós- terminado, pressupor, pospor,
acentuados com auricular. proativo, propor.
autonomia).

O prefixo ter- Usa-se o hífen anti-herói, inter-hemisférico, As grafias consagradas serão


mina em vogal quando o prefixo sub-humano, anti- mantidas: reidratar, desumano,
ou r e b e o termina em r, b ou hemorrágico, bio-histórico, inábil, reabituar, reabilitar, rea-
segundo ele- vogais e o segun- super-homem, giga-hertz, ver. Se houver perda do som da
mento se inicia do elemento co- poli-hidratação, geo-história. vogal final, prefere-se não usar
com h. meça com h. hífen e eliminar o h: cloridrato
(cloro+hidrato), clorídrico (clo-
ro+hídrico).

Sufixos de ori- Usa-se o hífen Anajá-mirim, Ceará-mirim,


gem tupi com sufixo de capim-açu, andá-açu, amoré-
origem tupi, guaçu.
quando a pronún-
cia exige

3.2 EMPREGO DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA


São considerados acentos:
(´) → agudo
(^) → circunflexo
(`) → grave

Os acentos agudo e circunflexo servem para indicar a sílaba tônica (mais forte) dos vocábu-
los, a abertura ou não da vogal, a flexão de número (singular/plural) do verbo e a diferença entre

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palavras homônimas (que têm a mesma pronúncia e/ou a mesma grafia). O acento grave serve para
indicar a fusão entre duas vogais (crase). Quanto à posição da sílaba tônica, veja a tabela a seguir:

PROPAROXÍTONA PAROXÍTONA OXÍTONA


pú bli co
tran qui lo
ca ri jó

A tabela abaixo apresenta as regras para acentuação das palavras, já de acordo com a nova
ortografia. As colunas em negrito indicam as regras que foram alteradas.

TIPO DE PALAVRA QUANDO EXEMPLOS OBSERVAÇÕES


OU SÍLABA ACENTUAR
Proparoxítonas Sempre sílaba, pássaro,
vítima, român-
tico.
Paroxítonas Se terminadas album, árduos, Observe: 1) Palavras terminadas em
em: R, X, N, L, automóvel, ENS não levam acento: hifens, polens.
I, IS, UM, UNS, benção, bíceps, 2) Não usa-se acento nos prefixos
US, PS, Ã, ÃS, cárie, fácil, paroxítonos que terminam em R nem
ÃO, ÃOS; di- fênix, látex, nos que terminam em I: inter-helênico,
tongo oral, se- órfãs, órfãos, super-homem, anti-herói, semi-
guido ou não de pólen, revólver. internato.
S.
Oxítonas Se terminadas avô, avós, Observe: palavras terminadas em I, IS,
em: A, AS, E, igarapé, para- U, US não levam acento: tatu, Morum-
ES, O, OS, EM, béns, refém, bi, abacaxi.
ENS. vatapá.
Monossílabos tônicos Terminados em mês, pás, pé, Atente para os acentos nos verbos com
(são oxítonas também) A, AS, E, ES, mês, pó, pôs, formas oxítonas: adorá-lo, debatê-lo,
O,OS. vá. etc.

Í e Ú em palavras oxí- Í e Ú levam saída, saúde, Atenção: Segundo o novo acordo orto-
tonas e paroxítonas acento se estive- miúdo, aí, gráfico, nas paroxítonas o i e u não
rem sozinhos na Araújo, Esaú, serão mais acentuados se vierem de-
sílaba (hiato) Luís, Itaú, pois de um ditongo: baiuca, bocaiuva,
feiura. Porém, se, nas oxítonas, mesmo
baús, Piauí com ditongo, o i e u estiverem no final,
haverá acento: tuiuiú, Piauí, teiú.
Ditongos abertos em ÉIS, ÉU(S), papéis, herói,
palavras oxítonas ÓI(S) heróis, troféu,
céu, mói (mo-
er)
Verbos ter e vir, bem Na terceira pes- eles têm, eles
como seus derivados. soa do plural do vêm
presente do
indicativo
Derivados de ter e vir Na terceira pes- ele obtém,
soa do singular detém, man-
leva acento tém; eles ob-
agudo; na tercei- têm, detêm,
ra pessoa do
plural do presen- mantêm
te levam circun-
flexo

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Í e Ú em palavras oxí- Í e Ú levam saída, saúde, 1. Se o i e u forem seguidos de s, a


tonas e paroxítonas acento se estive- miúdo, aí, regra se mantém: balaústre, egoísmo,
rem sozinhos na Araújo, Esaú, baús, jacuís. 2. Não se acentuam i e u
sílaba (hiato) Luís, Itaú, se depois vier 'nh': rainha, tainha, mo-
inho. 3. Esta regra é nova: nas paroxí-
baús, Piauí tonas, o i e u não serão mais acentua-
dos se vierem depois de um ditongo:
baiuca, bocaiuva, feiura, saiinha (saia
pequena), cheiinho (cheio). 4. Mas, se,
nas oxítonas, mesmo com ditongo, o i
e u estiverem no final, haverá acento:
tuiuiú, Piauí, teiú.
Ditongos abertos em NUNCA ideia, colmeia, Esta regra desapareceu (para palavras
palavras paroxítonas boia paroxítonas). Escreve-se agora: ideia,
colmeia, celuloide, boia. Observe: há
casos em que a palavra se enquadrará
em outra regra de acentuação. Por
exemplo: contêiner, Méier, destróier
serão acentuados porque terminam em
R.
Verbos arguir e redar- arguir e redar- Esta regra desapareceu. Os verbos
guir (agora sem trema) guir usavam arguir e redarguir perderam o acento
acento agudo em agudo em várias formas (rizotônicas):
algumas pessoas eu arguo (fale: ar-gú-o, mas não acen-
do indicativo, do tue); ele argui (fale: ar-gúi), mas não
subjuntivo e do acentue.
imperativo afir-
mativo.
Verbos terminados em aguar enxaguar, Esta regra sofreu alteração. Observe:
guar, quar e quir averiguar, apa- Quando o verbo admitir duas pronún-
ziguar, delin- cias diferentes, usando a ou i tônicos,
quir, obliquar aí acentuamos estas vogais: eu águo,
usavam acento
agudo em algu- eles águam e enxáguam a roupa (a
mas pessoas do tônico); eu delínquo, eles delínquem (í
indicativo, do tônico). Se a tônica, na pronúncia, cair
subjuntivo e do sobre o u, ele não será acentuado: Eu
imperativo afir- averiguo (diga averi-gú-o, mas não
mativo. acentue) o caso.
ôo, êe NUNCA vôo, zôo Esta regra desapareceu. Agora se es-
creve: zoo, perdoo veem, magoo, voo.
Acento diferencial Em alguns ver- Esta regra desapareceu, exceto para os
bos. verbos: PODER (diferença entre pas-
sado e presente. Ele não pôde ir ontem,
mas pode ir hoje. PÔR (diferença com
a preposição por): Vamos por um ca-
minho novo, então vamos pôr casacos;
TER e VIR e seus compostos (ver
acima). Observe: 1) Perdem o acento
as palavras compostas com o verbo
PARAR: Para-raios, para-choque. 2)
FÔRMA (de bolo): O acento será op-
cional; se possível, deve-se evitá-lo:
Eis aqui a forma para pudim, cuja
forma de pagamento é parcelada.

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DOMÍNIO DOS MECANISMOS


DE COESÃO TEXTUAL
De acordo com Antônio Suárez Abreu (2006, p. 13),

“Um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas pelo encadeamen-
to semântico delas, criando, assim, uma trama semântica a que damos o nome de textualida-
de. O encadeamento semântico que produz a textualidade chama-se coesão. Podemos definir
a coesão, mais especificamente, dizendo que se trata de uma maneira de recuperar, em uma
sentença B, um termo presente em uma sentença A”.
A coesão é a ligação entre as partes mínimas do texto, está inserida na microestrutura do tex-
to. Esse elemento é fundamental tanto na interpretação quando na redação de textos. Um tex-
to coeso é um texto no qual as ideias não se contradizem, e a sequência do desenvolvimento
do tema abordado observa uma sequência lógica.
Palavras como preposições, conjunções e pronomes possuem a função de criar um sistema de
relações, referências e retomadas no interior de um texto, garantindo unidade entre as diver-
sas partes que o compõem. Essa relação de elementos no texto recebe o nome de coesão tex-
tual.
Com relação à análise de provas, coesão textual é a ligação entre as partes do texto, sempre
levando em conta que um bom texto deve prezar pela coesão entre orações, períodos e, prin-
cipalmente, parágrafos.

4.1 EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E REPETIÇÃO,


DE CONECTORES E OUTROS ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL
Referenciação
Haliday e Hasan (1973) definem a referência como um movimento de recuperação de elementos,
que estão tanto dentro quanto fora do texto. Para separar esses dois tipos de referência, os autores
denominaram exóforas as referências situacionais e endóforas as textuais. Veja o esquema abaixo
(adaptado de Fávero e Koch, 2002):

Exófora
Na exófora, a remissão é feita a algum elemento da situação comunicativa, ou seja, o refe-
rente está fora da superfície textual. Acrescentamos aqui a noção de dêixis à referência situacional
(exofórica).

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Podemos definir dêixis como a coesão em que um termo com significado se refere a outro
também com significado. Assim, A dêixis designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões
dêiticas) que têm como função "apontar" para o contexto situacional (exófora) de uma dada intera-
ção.
Segundo Melo, a raiz etimológica do vocábulo dêixis remete à noção de indicação. Dêixis
significa, na tradição greco-latina, “apontar”, “indicar”, “demonstrar”; mas, na Linguística contem-
porânea, faz referência à função dos pronomes pessoais e demonstrativos, tempos verbais e outras
categorias gramaticais que relacionam enunciados aos aspectos de tempo, espaço e pessoa na e-
nunciação, isto é, dêixis é a localização e identificação de pessoas, objetos, eventos, processos e
atividades sobre as quais falamos ou a que nos referimos no momento da interação verbal.
Podemos tratar a dêixis como o modo mais óbvio de efetivação do elo entre a produção
linguística dos falantes e os contextos situacionais em que tal produção ocorre. Ela permite marcar
no enunciado as circunstâncias de sua enunciação por meio de cinco categorias: lugar, pessoa,
tempo, discurso e dinâmica social.
Por exemplo, veja um bilhete no qual está escrita a seguinte frase: Eu quero que você vá
hoje à minha escola. Observe que o termo “hoje” perde o sentido se não houver, no bilhete, uma
data referencial de quando ele foi escrito. O pronome “eu” também deve estar explícito no contex-
to, caso contrário ninguém sabe a quem se refere.
Veja mais um exemplo de dêixis: O que você quer que eu faça com uma cadeira assim?
Certamente a cadeira está em péssimo estado e a palavra “assim” indica (= aponta) isso.

PRONOMES DEMONSTRATIVOS EM FUNÇÃO DÊITICA OU EXOFÓRICA


Veja alguns exemplos em que o uso dos pronomes demonstrativos se faz mediante a fun-
ção dêitica (espcial), por quem fala no momento em que fala. Assim:

a) Esta mesa está quebrada. (= Esta mesa [aqui perto de mim que falo, primeira pessoa do discurso]
está quebrada.)

b) Passe-me esse copo, por favor! (= Passe-me esse copo [que está aí perto de você a quem falo,
segunda pessoa do discurso], por favor).

c) Isso é seu? Refiro-me a esse belo relógio que está em seu pulso.

d) Isto é meu! Estou falando deste relógio que está em meu pulso.

Endófora
A endófora é dividida em: anáfora e catáfora.

Anáfora: expressão que retoma uma ideia anteriormente expressa. A anáfora, assim como a catá-
fora, remete sempre a algo que esteja dentro dos limites do texto. Observe:
O garoto acordou sobressaltado. Ele não conseguia lembrar-se do que tinha acontecido.
Nesse exemplo, o pronome “Ele” retoma uma expressão já citada anteriormente – “o garoto” –,
portanto trata-se de uma retomada por anáfora.

Sandra e Helena, apesar de serem gêmeas, são muito diferentes. Por exemplo, esta é cal-
ma, e aquela é explosiva.
Nesse exemplo, “esta” retoma o nome próprio “Sandra”, e “aquela” retoma o nome pró-
prio “Helena”. “Este” e “aquele” são chamados anafóricos.

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Observe que os termos anafóricos são bem mais comuns nos textos que os catafóricos. Essa é, inclu-
sive, a regra para produção de textos. Dê preferência ao uso dos anafóricos por indicarem mais clare-
za nos textos. É melhor dizer e depois retomar do que fazer uma referência genérica e, só depois,
expor o termo com significado.

Platão e Fiorin (2007, p. 282) observam que “Quando um elemento anafórico está empre-
gado num contexto tal que pode referir-se a dois termos antecedentes distintos, isso provoca am-
biguidade e constitui uma ruptura de coesão”. Por isso, “é importante tomar cuidado para que o
leitor perceba claramente a que termo se refere o elemento anafórico”.
Nesse sentido, veja o exemplo a seguir: O PT entrou em desacordo com o PMDB por causa de sua
proposta de aumento de salário. No caso, sua pode estar se referindo à proposta do PT ou à do
PMDB.

Catáfora: pronome ou expressão nominal que antecipa uma expressão presente em porção poste-
rior do texto. A remissão catafórica realiza-se, preferencialmente, através de pronomes demonstra-
tivos ou indefinidos neutros, ou de nomes genéricos, mas também por meio das demais espécies
de pronomes, de advérbios e de numerais. Observe:

Só quero isto: ser aprovado no concurso! No exemplo, o pronome “isto” só pode ser recuperado se
identificarmos o termo aprovado, que aparece na porção posterior à estrutura.

O incêndio destruiu tudo: casas, móveis, plantações.

O pronome indefinido “tudo” antecipa os substantivos que virão a seguir: casas, móveis, plantações,
os quais irão esclarecer a frase.

PRONOMES DEMONSTRATIVOS EM FUNÇÃO ENDOFÓRICA OU TEXTUAL


1. Por meio da anáfora (isto é, ao que precede) estabelece-se uma relação coesiva de referência
que nos permite interpretar um item ou toda uma ideia anteriormente expressa no texto, por e-
xemplo, pelos pronomes demonstrativos essa, esse, isso, como a seguir:

a) Vi uma saia linda na loja. Pena que essa roupa era muito cara. (Essa roupa = uma saia)
b) João foi preso como estelionatário. Esse cara nunca me enganou! (Esse cara = João)
c) Tivemos hoje uma aula sobre o uso da anáfora. Isso já foi estudado no semestre anterior. (Isso =
anáfora)

2. Um elemento de referência é catafórico quando sua interpretação depender de algo que se se-
guir no texto; aqui, ele será representado pelos pronomes demonstrativos esta, este e isto. Exem-
plos:

a) Estas foram as últimas palavras do meu professor: estude muito, pois somente a dedicação aos
estudos fará com que você obtenha o resultado que espera.
b) Quando saí de casa, meu pai me disse isto: respeite os outros, pois somente assim você será
respeitado.
c) Este foi o anúncio do Ministro da Economia: “A inflação vai se manter nos patamares previstos.”

Vejamos a seguir algumas questões de concursos que abordam os elementos de referenci-


ação:

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

Inovar é recriar de modo a agregar valor e incrementar


a eficiência, a produtividade e a competitividade nos processos
gerenciais e nos produtos e serviços das organizações. Ou seja,
4 é o fermento do crescimento econômico e social de um país.
Para isso, é preciso criatividade, capacidade de inventar e
coragem para sair dos esquemas tradicionais. Inovador é o
7 indivíduo que procura respostas originais e pertinentes em
situações com as quais ele se defronta. É preciso uma atitude
de abertura para as coisas novas, pois a novidade é catastrófica
10 para os mais céticos. Pode-se dizer que o caminho da inovação
é um percurso de difícil travessia para a maioria das
instituições. Inovar significa transformar os pontos frágeis de
13 um empreendimento em uma realidade duradoura e lucrativa.
A inovação estimula a comercialização de produtos ou serviços
e também permite avanços importantes para toda a sociedade.
16 Porém, a inovação é verdadeira somente quando está
fundamentada no conhecimento. A capacidade de inovação
depende da pesquisa, da geração de conhecimento.
19 É necessário investir em pesquisa para devolver resultados
satisfatórios à sociedade. No entanto, os resultados desse tipo
de investimento não são necessariamente recursos financeiros
22 ou valores econômicos, podem ser também a qualidade de vida
com justiça social.

Luís Afonso Bermúdez. O fermento tecnológico. In: Darcy.


Revista de jornalismo científico e cultural da Universidade de
Brasília, novembro e dezembro de 2009, p. 37 (com adaptações).

Questão de prova: Subentende-se da argumentação do texto que o pronome demonstrativo,


no trecho “desse tipo de investimento” (l.20-21), refere-se à ideia de “fermento do crescimento
econômico e social de um país” (l.4).
Comentário: O pronome demonstrativo “desse” (l.20) refere-se à palavra “pesquisa” (l.19) e
não à ideia de “fermento do crescimento econômico e social de um país”, que está vinculada à
palavra “inovar” (l. 1). A alternativa, portanto, está ERRADA.

1 A demanda por transporte aéreo doméstico de


passageiros cresceu 7,65% em setembro deste ano em relação
ao mês de setembro de 2011. Trata-se do maior nível de
4 demanda para o mês de setembro desde o início da série de
medições, em 2000. De janeiro a setembro de 2012, a demanda
acumulada apresentou crescimento de 7,30% e a oferta
7 ampliou-se em 5,52% em relação ao mesmo período de 2011.
Entretanto, a oferta (assentos-quilômetros oferecidos – ASK),
no mês de setembro, apresentou queda de 2,13%, após oito
10 anos consecutivos de crescimento, sendo essa a primeira
redução de oferta para o mês de setembro desde 2003.

25
L Í NG U A P O RT U G UE S A

Questão de prova: O pronome “essa” (l.10) está empregado em referência à informação


“queda de 2,13%” (l.9).
Comentário: A alternativa está CERTA. O pronome demonstrativo “essa” refere-se, efetiva-
mente, à “queda de 2,13%”.

SUBSTITUIÇÃO
A coesão por substituição consiste na colocação de um item em lugar de outro(s) elemen-
to(s) do texto, ou até mesmo de uma oração inteira.
Veja o exemplo:
Ela comprou um sapato. Eu também quero comprar um.
Ela comprou um sapato novo e eu também.
Observe que ocorre uma redifinição, ou seja, não há identidade entre o item de referência
e o item pressuposto. O que existe, na verdade, é uma nova definição nos termos: um, também.
Compare com outro exemplo:
Comprei um sapato preto, mas Maria preferiu um marrom.
O termo “preto” é o adjunto adnominal de sapato. Ele é, então, o modificador do substan-
tivo.
Todavia, esse termo é silenciado e, em seu lugar, faz-se presente a porção especificativa
“marrom”. Logo, trata-se de uma redefinição do referente.

Substituição por Sinonímia


São elementos de substituição que guardam traços semânticos comuns com o referente.
Veja o exemplo:
Vi uma garotinha correndo em minha direção segurando uma espécie de embrulho. Quan-
do se aproximou, a menina me deu um abraço e deixou o pacote caído no chão.
• “Menina” substitui “uma garotinha”
• “Pacote” substitui “uma espécie de embrulho”

Sinonímia por hiperonímia


Substituição pelo nome de um grupo ao qual o referente pertença (troca por um elemento
mais amplo). Veja o exemplo:
Era notória a enorme antipatia que Tom Jobim nutria por Manuel Bandeira. O que sequer
imaginávamos é o que o poeta teria feito ao músico, para que a situação chegasse a esse nível.
• “Poeta” é hiperônimo de “Manuel Bandeira”.
• “Músico” é hiperônimo de “Tom Jobim”.

Sinonímia por hiponímia


Substituição por um elemento do grupo designado pelo referente (troca por um elemento
mais restrito). Veja o exemplo:
O boxeador desceu do carro afirmando que não falaria de religião. Desde que Mike Tyson
se converteu ao islamismo, o esporte tem ficado em segundo plano nas coletivas de imprensa.
• “Mike Tyson” é hipônimo de “Boxeador”.
• “Islamismo” é hipônimo de “Religião”.

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

Repetição
A repetição, na coesão textual, está ligada à coesão lexical, que pode ser garantida através
de diferentes processos.

Repetição: por não ser possível a sua substituição, a repetição da mesma unidade lexical ao longo
do texto pode revelar-se necessária para a coesão do texto. Veja o exemplo a seguir, extraído da
obra Capitães de Areia, de Jorge Amado:

“Professor riu. Assim passaram a manhã, Professor fazendo a cara dos que vinham pela rua,
Pedro Bala recolhendo as pratas ou os níqueis que jogavam.”
Nesse exemplo, a repetição do nome Professor é necessária para evitar a ambiguidade.
A repetição pode ser evitada, quando necessário, através da substituição lexical, que já foi
abordada. Como já foi mencionado anteriormente, no que tange à redação de textos visando à prova
descritiva, a repetição desnecessária de palavras pode ser compreendida pela banca examinadora
como pobreza de vocabulário.

CONECTORES
A coesão textual por conectores, ou coesão interfrásica, utiliza mecanismos de sequencializa-
ção que marcam diversos tipos de interdependência entre as frases que ocorrem num texto. Basicamente, a
conexão interfrásica é assegurada pelos conectores, que podem ser conjunções (ex.1) ou advérbios conecti-
vos (ex.2). Veja os exemplos:

(1) Parto para uma longa viagem, quando acabar este trabalho.
(2) Estou disposta a abdicar do feriado. Agora, não me peçam que trabalhe 12 horas por dia.

O uso correto dos conectores permite uma maior coesão textual e facilita a compreensão global do
texto. Os conectores podem ser: conjunções, locuções conjuncionais, advérbios, locuções adverbiais, preposi-
ções, locuções prepositivas, expressões adjetivas ou orações completas. Veja o quadro abaixo:

TIPO DE CONEXÃO /
CONECTORES
FUNÇÃO DA CONEXÃO

e, além disso, além do mais, e ainda, e até, também, igualmente, do mesmo modo, não só
Adição ...como também, não só ... como ainda, bem como, assim como, por um lado ... por outro,
nem...nem, de novo, incluindo...
Certeza com certeza, decerto, naturalmente, é evidente que, certamente, sem dúvida que,...
mas, porém, todavia, contudo, no entanto, doutro modo, ao contrário, pelo contrário,
Oposição / contraste
contrariamente, não obstante, por outro lado...
apesar de, ainda que, embora, mesmo que, por mais que, se bem que, ainda assim, mes-
Concessão
mo assim...
pois, portanto, por conseguinte, assim, logo, enfim, concluindo, em conclusão, em síntese,
Conclusão / síntese /
consequentemente, em consequência, por outras palavras, ou seja, em resumo, em suma,
resumo
ou melhor...
com efeito, efetivamente, na verdade, de fato, sem dúvida, de certo, deste modo, na
Confirmação
verdade, ora, aliás, sendo assim, veja-se, assim...
quer isto dizer, isto (não) significa que, por outras palavras, isto é, por exemplo, ou seja, é
Explicitação /
o caso de, nomeadamente, em particular, a saber, entre outros, especificamente, ou
particularização
melhor, assim, ressalte-se, saliente-se, importa salientar, é importante frisar ...

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

Na minha opinião, a meu ver, em meu entender, no meu ponto de vista, parece-me que,
Opinião
creio que, penso que, para mim, ...
Dúvida talvez, provavelmente, é provável que, possivelmente, é possível, porventura...
fosse...fosse, ou, ou então, ou ...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, alternativamente,
Alternativa
em alternativa, senão ...
como, conforme, também, tanto...quanto, tal como, assim como, tão como, pela mesma
Comparação
razão, do mesmo modo, de forma idêntica, igualmente, ...
por tudo isto, de modo que, de tal forma que, de sorte que, daí que, tanto...que, é por isso
Consequência que...

pois, pois que, visto que, já que, porque, dado que, uma vez que, por causa de, posto que,
Causa
em virtude de, devido a, graças a ...
Fim / intenção com o intuito de, para (que), a fim de, com o fim de, com o objetivo de, de forma a ...
se, caso, a menos que, salvo se, exceto se, a não ser que, desde que, supondo que, admi-
Hipótese / Condição
tindo que ...
em primeiro lugar, num primeiro momento, antes de, em segundo lugar, em seguida,
seguidamente, então, durante, ao mesmo tempo, quando, simultaneamente, depois de,
Sequência temporal /
após, até que, enquanto, entretanto, logo que, no fim de, por fim, finalmente, acima,
espacial.
abaixo, atrás, ao lado, à direita, à esquerda, ao centro, adiante, diante, em cima, em baixo,
no meio, naquele lugar, detrás, por trás (de), próximo de sob, sobre...

Coesão por elipse


Ocorre quando um ou mais elementos do texto são omitidos em algum dos contextos em
que deveria ocorrer.
-Maria vai comprar o carro?
- Vai!
Houve a omissão dos termos Maria (sujeito) e comprar o sapato (predicado verbal), todavia
essa não prejudicou nem a correção gramatical nem a clareza do texto.
A elipse consiste na omissão de uma expressão recuperável pelo contexto, evitando assim a sua
repetição. Veja os exemplos abaixo:

Luís foi à ópera, onde [ ] encontrou os amigos.


A final da Copa do Brasil foi muito bem disputada, ao contrário do que aconteceu na [ ] anterior.
Nos exemplos apresentados, os lugares onde as palavras foram omitidas estão assinalados pelos si-
nais [ ] que representam elipses. No primeiro exemplo, a palavra omitida é o pronome pessoal ele ou
o nome próprio Luís; enquanto no segundo, elidiu-se a palavra final.

VEJA A SEGUIR ALGUNS EXEMPLOS DE PROVAS DE CONCURSOS REFERENTES AOS


ELEMENTOS DE COESÃO TEXTUAL:

Em geral, quando falamos de violência, pensamos em


uso da força, com vistas à exclusão de grupos ou indivíduos
de uma dada situação de poder. Essa violência pode ou não
4 encontrar resistência na violência dos excluídos. Como quer
que seja, nos dois casos estão em jogo os princípios
axiológicos que permitem arbitrar o que é legal ou ilegal,
7 legítimo ou ilegítimo, na interação entre os humanos. O ponto
central é a noção de abuso de poder, de invasão
desestruturante de uma ordem desejável, posta no horizonte

28
L Í NG U A P O RT U G UE S A

10 ético da cultura.
O fato histórico do alheamento de indivíduos ou
grupos humanos em relação a outros não é novo na dinâmica
13 social. Desqualificar moralmente o outro significa não vê-lo
como um agente autônomo e criador potencial de normas
éticas ou como um parceiro na obediência a leis partilhadas
16 e consentidas ou, por fim, como alguém que deve ser
respeitado em sua integridade física e moral.
No estado de alheamento, o agente da violência não
19 tem consciência da qualidade violenta de seus atos. Se o
possível objeto da violência nada tem a oferecer-lhe, então
não conta como pessoa humana e pouco importa o que venha
22 a sofrer. Ao contrário da crueldade inspirada na rivalidade
ameaçadora, real ou imaginária, a indiferença anula quase
totalmente o outro em sua humanidade.

Jurandir Freire. A ética democrática e seus inimigos.


In: O desafio ético, p. 77-80 (com adaptações).

Questão de prova (item 3) As expressões “o outro” (l.13), “-lo” (l.13) e “alguém” (l.16) estabele-
cem uma cadeia coesiva, designando o mesmo referente.
Comentário: A alternativa está CERTA, pois as expressões referidas na questão designam o mesmo
referente.

(...) Pode-se dizer que o caminho da inovação é um percurso de difícil travessia para a maioria das
instituições. Inovar significa transformar os pontos frágeis de
um empreendimento em uma realidade duradoura e lucrativa. (...)
Questão de prova O período sintático iniciado por “Inovar significa” (l.12) estabelece, com o perío-
do anterior, relação semântica que admite ser explicitada pela expressão Por conseguinte, escreven-
do-se: Por conseguinte, inovar significa (...).
Comentário: “Por conseguinte” é um conector que indica conclusão, síntese, resumo, o que não se
aplica ao caso acima. O período iniciado por “inovar” não conclui o período anterior, mas sim apre-
senta uma definição do que significa “inovar”. A alternativa, portanto, está ERRADA.

1 Nós, seres humanos, somos seres sociais: vivemos


nosso cotidiano em contínua imbricação com o ser de outros.
Isso, em geral, admitimos sem reservas. Ao mesmo tempo,
4 seres humanos, somos indivíduos: vivemos nosso ser cotidiano
como um contínuo devir de experiências individuais
intransferíveis. Isso admitimos como algo indubitável. Ser
7 social e ser individual parecem condições contraditórias da
existência. De fato, boa parte da história política, econômica e
cultural da humanidade, particularmente durante os últimos
10 duzentos anos no ocidente, tem a ver com esse dilema. Assim,
distintas teorias políticas e econômicas, fundadas em diferentes
ideologias do humano, enfatizam um aspecto ou outro dessa
13 dualidade, seja reclamando uma subordinação dos interesses
individuais aos interesses sociais, ou, ao contrário, afastando o
ser humano da unidade de sua experiência cotidiana. Além

29
L Í NG U A P O RT U G UE S A

16 disso, cada uma das ideologias em que se fundamentam essas


teorias políticas e econômicas constitui uma visão dos
fenômenos sociais e individuais que pretende firmar-se em uma
19 descrição verdadeira da natureza biológica, psicológica ou
espiritual do humano.

Humberto Maturana. Biologia do fenômeno social: a


ontologia da realidade. Miriam Graciano (Trad.). Belo
Horizonte: UFMG, 2002, p. 195 (com adaptações).

Questão de prova: Depreende-se do texto que as “condições contraditórias” mencionadas na linha 7


decorrem da dificuldade que o ser humano tem em admitir que suas experiências são intransferíveis
porque surgem de “um contínuo devir” (l.5).
O substantivo “devir” significa “série de mudanças concretas pelas quais passa um ser”, e o adjetivo
“contínuo” significa “movimento ininterrupto”, assim, a ideia transmitida pelo texto é que os seres
humanos vivem o seu cotidiano como um movimento ininterrupto de experiências individuais in-
transferíveis. As “condições contraditórias” mencionadas na linha 7 referem-se ao fato de os seres
humanos serem ao mesmo tempo sociais e individuais. A alternativa, portanto, está ERRADA.

Questão de prova: Nas relações de coesão do texto, as expressões “esse dilema” (l.10) e “dessa
dualidade” (l.12-13) remetem à condição do ser humano: unitário em “sua experiência cotidiana”
(l.15), mas imbricado “com o ser de outros” (l.2).
Comentário: O “dilema” a que se refere o texto é a “dualidade” de ser social (= o ser dos outros) e
individual (= unitário) ao mesmo tempo. A alternativa está CERTA.

(...) Nessa dicotomia, um leitor crítico vai perceber que se trata de um corte epistemológico, na me-
dida em que fica óbvio que classificar por extremos não reflete a complexidade de classes da socie-
dade brasileira, apesar de indicar os picos.

Questão de prova: Na linha 4, para se evitar a repetição de “que”, seria adequado substituir o trecho
“que classificar” (l.4-5) por ao classificar, preservando-se tanto a coerência textual quanto a correção
gramatical do texto.
Comentário: A substituição dos trechos indicados na questão não lhes confere o mesmo significado
semântico. Tanto a coerência textual quanto a correção gramatical do texto são prejudicadas na subs-
tituição sugerida. Observe: “(...) na medida em que fica óbvio ao classificar por extremos (...)”. A
alternativa, portanto, está ERRADA.

(...) Para a maioria das pessoas, os assaltantes, assassinos e traficantes que possam ser encontrados
em uma rua escura da cidade são o cerne do problema criminal. Mas os danos que tais criminosos
causam são minúsculos quando comparados com os de criminosos respeitáveis, que vestem colari-
nho
branco e trabalham para as organizações mais poderosas. (...)

Questão de prova: Sem prejuízo para a coerência textual e a correção gramatical,


o trecho “Mas os danos (...) minúsculos”, que inicia o segundo período do texto, poderia ser substitu-
ído por: Embora os danos causados por esses criminosos sejam ínfimos (...).
Comentário: A substituição do conector “mas” pelo conector “embora” altera o significado do texto,
interferindo na coerência textual. Da forma exposta no texto, depreende-se que os danos causados
pelos criminosos não causam tanto prejuízo quanto os dos criminosos que vestem colarinho branco.
Na substituição sugerida, o período fica incompleto, pois necessita de uma conclusão requerida pelo
raciocínio introduzido por “embora”. A alternativa, portanto, está ERRADA.

30
L Í NG U A P O RT U G UE S A

EMPREGO/CORRELAÇÃO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS


Verbo é a palavra que indica ação, movimento, fenômenos da natureza, estado e mudança
de estado. Os verbos flexionam-se em número (singular e plural), pessoa (primeira, segunda e ter-
ceira), modo (indicativo, subjuntivo e imperativo; formas nominais: gerúndio, infinitivo e particípio),
tempo (presente, passado e futuro) e apresenta voz (ativa e passiva).
De acordo com a vogal temática, os verbos estão agrupados em três conjugações:

1ª conjugação – ar: cantar, estudar, trabalhar


2ª conjugação – er: beber, comer, estabelecer
3ª conjugação – ir: abrir, ir, vir

Observação: O verbo pôr e seus derivados (repor, depor, dispor, compor, impor) perten-
cem a 2ª conjugação devido à sua origem latina poer.
Elementos Estruturais do Verbo: As formas verbais apresentam três elementos em sua
estrutura: Radical, Vogal Temática e Tema.
Radical: elemento mórfico que concentra o significado essencial do verbo. Observe as for-
mas verbais dos verbos cantar, beber e abrir. Flexionando esses verbos, nota-se que há uma parte
que não muda, e que nela está o significado real do verbo.

cant é o radical do verbo cantar;


beb é o radical do verbo beber;
abr é o radical do verbo abrir.

Vogal Temática: é o elemento mórfico que designa a qual conjugação pertence o verbo. Há
três vogais temáticas: 1ª conjugação: a; 2ª conjugação: e; 3ª conjugação: i.
Tema: é o elemento constituído pelo radical mais a vogal temática: cantar: -cant (radical) +
a (vogal temática) = tema. Se não houver a vogal temática, o tema será apenas o radical: cantei =
cant ei.
Desinências: são elementos que se juntam ao radical, ou ao tema, para indicar as flexões
de modo e tempo, desinências modo temporais e número pessoa, desinências número pessoais.

Cantávamos
Cant = radical
a = vogal temática
va = desinência modo temporal
mos = desinência número pessoal

Flexões Verbais: Flexão de número e de pessoa: o verbo varia para indicar o número e a pessoa.

- eu canto – 1ª pessoa do singular


- tu cantas – 2ª pessoa do singular
- ele canta – 3ª pessoa do singular
- nós cantamos – 1ª pessoa do plural
- vós cantais – 2ª pessoa do plural
- eles cantam – 3ª pessoa do plural

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

CORRELAÇÃO DE TEMPOS E MODOS


Modos
Três são os modos: indicativo, subjuntivo e imperativo. Normalmente, o indicativo exprime
certeza e é o modo típico das orações coordenadas e principais; o subjuntivo exprime incerteza,
dúvida, possibilidade, algo hipotético e é mais comum nas subordinadas; por fim, o imperativo ex-
prime ordem, solicitação, súplica.
Há construções que permitem tanto um modo como outro, algo que dependerá do com-
prometimento do usuário e suas intenções:

Só deixe entrar os que pagaram o ingresso.


(indicativo: há certeza do fato, trabalha-se o fato de forma convicta, direta)
Só deixe entrar os que pagarem o ingresso.
(subjuntivo: projeta-se a possibilidade, trabalha-se o hipotético, não há certeza)

O indicativo expressa ação real (no passado, no presente ou no futuro), enquanto o subjun-
tivo expressa incerteza, dúvida, possibilidade ou hipótese. Além dessa regra geral, deve-se lembrar
que, em períodos subordinados, o subjuntivo é característico das orações subordinativas (não da
oração principal).

Nas subordinadas, o subjuntivo:


• É obrigatório, na oração final e na concessiva.
Ex.: Gritei para que pudesse me ouvir.
Embora esteja cansado, se recusa a parar de estudar.
• Ocorre na oração causal que se inicia com a conjunção “como”.
Ex.: Como quisesse saber a verdade, tornou a perguntar.
• Ocorre na oração condicional (ver construções hipotéticas, a seguir)
Ex.: Se tivesse tempo, estudaria.
• Ocorre na oração temporal que remete ao futuro.
Ex.: Quando tiver saudades, voltará.

 Modo Indicativo:

o Pretérito perfeito - presente do indicativo do auxiliar + particípio do VP (Tenho fa-


lado)

o Pretérito mais-que-perfeito - pretérito imperfeito do indicativo do auxiliar + parti-


cípio do VP (Tinha falado)

o Futuro do presente - futuro do presente do indicativo do auxiliar + particípio do VP


(Terei falado)

o Futuro do pretérito - futuro do pretérito indicativo do auxiliar + particípio do VP


(Teria falado)

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

 Modo Subjuntivo:

o Pretérito perfeito - presente do subjuntivo do auxiliar + particípio do VP (Tenha fa-


lado)

o Pretérito mais que perfeito - imperfeito do subjuntivo do auxiliar + particípio do VP


(Tivesse falado)

o Futuro composto - futuro do subjuntivo do auxiliar + particípio do VP (Tiver falado)

 Formas Nominais:

o Infinitivo composto - infinitivo pessoal ou impessoal do auxiliar + particípio do VP


(Ter falado / Teres falado)

o Gerúndio composto - gerúndio do auxiliar + particípio do VP (Tendo falado)

OBSERVAÇÕES:
 O modo subjuntivo apresenta três pretéritos, sendo o imperfeito na forma simples e o per-
feito e o mais que perfeito nas formas compostas.

 Não há presente composto nem pretérito imperfeito composto.

Tempos

 Presente do indicativo - indica um fato real situado no momento ou época em que se fala.

 Presente do subjuntivo - indica um fato provável, duvidoso ou hipotético situado no mo-


mento ou época em que se fala.
 Pretérito perfeito do indicativo - indica um fato real cuja ação foi iniciada e concluída no
passado.
 Pretérito imperfeito do indicativo - indica um fato real cuja ação foi iniciada no passado,
mas não foi concluída ou era uma ação costumeira no passado.
 Pretérito imperfeito do subjuntivo - indica um fato provável, duvidoso ou hipotético cuja
ação foi iniciada, mas não concluída no passado.
 Pretérito mais que perfeito do indicativo - indica um fato real cuja ação é anterior a outra
ação já passada.
 Futuro do presente do indicativo - indica um fato real situado em momento ou época vin-
doura.
 Futuro do pretérito do indicativo - indica um fato possível, hipotético, situado num momen-
to futuro, mas ligado a um momento passado.
 Futuro do subjuntivo - indica um fato provável, duvidoso, hipotético, situado num momen-
to ou época futura.

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Alguns verbos da Língua Portuguesa apresentam problemas de conjugação. A seguir temos


uma lista, seguida de comentários sobre essas dificuldades de conjugação.

• Precaver-se (defectivo e pronominal) - presente do indicativo - precavemo-nos, precaveis-


vos - pretérito perfeito indicativo - precavi-me, precaveste-te...
 Remir (defectivo) - presente do indicativo - remimos, remis - pretérito perfeito indicativo -
remi, remiste...

 Requerer (irregular) - presente do indicativo - requeiro, requeres... - pretérito perfeito indi-


cativo - requeri, requereste, requereu... (derivado do querer, diferindo dele na 1ª pessoa
do singular do presente do indicativo e no pretérito perfeito do indicativo e derivados, sen-
do regular)

 Prover: Prover (irregular) - presente do indicativo - provejo, provês, provê, provemos, pro-
vedes, proveem - pretérito perfeito indicativo - provi, proveste, proveu...

 Reaver: este verbo só é conjugado nas pessoas em que o verbo haver apresenta apenas a
letra V. Assim, no presente do indicativo temos só reavemos, (havemos), vós reaveis (ha-
veis). Pretérito perfeito indicativo - reouve, reouveste, reouve... (verbo derivado do haver,
mas só é conjugado nas formas verbais com a letra v)

 Valer (irregular) - presente do indicativo - valho, vales, vale... - pretérito perfeito indicativo
- vali, valeste, valeu...

EMPREGO DOS VERBOS NAS ORAÇÕES COORDENADAS

As orações coordenadas, em princípio, devem manter o mesmo tempo e modo verbais,


principalmente se essas orações, coordenadas entre si, são subordinadas a uma outra.

Ex.: Estude e aprenda.

Embora esteja atento e faça anotações, não acompanha o raciocínio do professor.

• Logicamente, se entre as orações coordenadas estiver implícita uma sequência de ações,


os tempos verbais deverão revelá-la. Ex.: “Sofreu um acidente, mas virá trabalhar.” (O acidente
aconteceu em um momento anterior à vinda para o trabalho).
• Em período composto com oração coordenada sindética explicativa, é comum que o ver-
bo da oração coordenada assindética se encontre no imperativo. Ex.: Não saia, que quero falar con-
tigo.

VEJA OS EXEMPLOS ABAIXO DE QUESTÕES DE CONCURSOS QUE ABORDAM O EM-


PREGO/CORRELAÇÃO DE TEMPOS VERBAIS.

Inovar é recriar de modo a agregar valor e incrementar a eficiência, a produtividade e a competitivi-


dade nos processos gerenciais e nos produtos e serviços das organizações. Ou seja, é o fermento do
crescimento econômico e social de um país. (...)
Item 3 A forma verbal “é” (l.4) está flexionada no singular porque, na oração em que ocorre, suben-
tende-se “Inovar” (l.1) como sujeito.

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Comentário: A alternativa está CERTA. Se o sujeito da frase estivesse explícito, a frase ficaria da
seguinte forma: “Inovar é o fermento do crescimento econômico e social de um país”.

(...) O particularismo das diferenças produz exclusão social e simbólica, dificultando os sentimentos
de pertencimento e interdependência social, necessários para a efetiva institucionalização do univer-
salismo na esfera pública. (...)
Questão de prova: As relações entre as ideias do texto mostram que a forma verbal “dificultando”
(l.10) está ligada a “diferenças” (l.9); por isso, seriam respeitadas as relações entre os argumentos
dessa estrutura, como também a correção gramatical, caso se tornasse explícita essa relação, por
meio da substituição dessa forma verbal por e dificultam.
Comentário: O verbo “dificultar”, na frase em questão, está no gerúndio. Ao ser alterada a forma
verbal para o presente do indicativo, o verbo deve ser flexionado de acordo com o núcleo do sujeito,
“o particularismo” (3ª pessoa do singular). Dessa forma, a substituição sugerida no texto está incorre-
ta, pois deveria ser “e dificulta”. A alternativa está ERRADA.

Cada vez que sai a lista das melhores empresas para se trabalhar, as pessoas se perguntam o que elas
têm de diferente. (...)
Questão de prova: Textualmente, a expressão “Cada vez” (l.1) corresponde a Todas as vezes, mas,
para que essa substituição seja gramaticalmente aceitável, é necessário empregar o verbo seguinte no
plural: saem.
Comentário: O verbo “sair” refere-se ao termo “lista das melhores empresas para se trabalhar”, que
está no singular. Assim, o verbo não deve ser empregado no plural, mas no singular, como já consta
no texto. A alternativa está ERRADA.

Questão de prova: Na linha 2, para manter a coerência textual e a concordância verbal, a supressão
do pronome “elas” exigiria também a supressão do sinal de acento em “têm”.
Comentário: Mesmo que houvesse a supressão do pronome “elas”, o verbo continuaria flexionado
na 3ª pessoa do plural, pois se refere às “melhores empresas”. A alternativa está ERRADA.

(...) Os Estados Unidos da América cresceram a uma taxa superior a 3% em 12 meses, mas a maioria
dos analistas aposta que a economia americana perderá força no segundo semestre. (...)
Questão de prova: Se o verbo da oração “mas a maioria dos analistas aposta” (l.6) estivesse flexio-
nado no plural — apostam —, o período estaria incorreto, visto que, de acordo com a prescrição
gramatical, a concordância verbal, em estrutura dessa natureza, deve ser feita com o termo “maioria”.
Comentário: Quando o sujeito é representado por expressões partitivas, representadas por “a maio-
ria de, a maior parte de, a metade de, uma porção de, entre outras”, o verbo tanto pode concordar
com o núcleo dessas expressões quanto com o substantivo que a segue. Assim, o verbo “apostar”
poderia estar flexionado no plural, para concordar com “analistas”, e o período estaria correto. A
alternativa está ERRADA.

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DOMÍNIO DA ESTRUTURA
MORFOSSINTÁTICA DO PERÍODO

5.1 RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO

Orações coordenadas são as que mantêm entre si relação de independência. Observe o


seguinte exemplo:

Passeamos pela praia, / tomamos banho de mar, / brincamos.


1ª oração: Passeamos pela praia
2ª oração: tomamos banho de mar
3ª oração: brincamos

As três orações que compõem esse período têm sentido próprio e não mantêm entre si
nenhuma dependência sintática: elas são independentes. Há entre elas, é claro, uma relação de
sentido, mas, uma não depende da outra sintaticamente.
As orações independentes de um período são chamadas de orações coordenadas (OC), e o
período formado só de orações coordenadas é chamado de período composto por coordenação.
Quanto à classificação das orações coordenadas, temos dois tipos: Coordenadas Assindéti-
cas e Coordenadas Sindéticas.

Coordenadas Assindéticas
São orações coordenadas entre si e que não são ligadas através de nenhum conectivo. Es-
tão apenas justapostas.
Ex.: Os torcedores gritaram, / sofreram, / vibraram.

Coordenadas Sindéticas
Ao contrário da anterior, são orações coordenadas entre si, mas que são ligadas através de
uma conjunção coordenativa.
Ex.: A mulher saiu da casa / e entrou no carro.
Esse caráter vai trazer para esse tipo de oração uma classificação:
As orações coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos: aditivas, adversativas,
alternativas, conclusivas e explicativas.
Vejamos exemplos de cada uma delas:

Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: e, nem, não só… mas também, não só… como, assim…
como.
-Não só cantei como também dancei.
- Nem comprei o protetor solar, nem fui à praia.
- Comprei o protetor solar e fui à praia.

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Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: mas, contudo, todavia, entretanto, porém, no en-
tanto, ainda, assim, senão.
- Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
- Ainda que a noite acabasse, nós continuaríamos dançando.
- Não comprei o protetor solar, mas mesmo assim fui à praia.

Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: ou… ou; ora…ora; quer…quer; seja…seja.


- Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
- Ora sei que carreira seguir, ora penso em várias carreiras diferentes.
- Quer eu durma quer eu fique acordado, ficarei no quarto.

Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: logo, portanto, por fim, por conseguinte, consequen-
temente.
- Passei no concurso, portanto irei comemorar.
-Conclui o meu projeto, logo posso descansar.
- Tomou muito sol, consequentemente ficou adoentada.

Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: isto é, ou seja, a saber, na verdade, pois.


- Só passei na prova porque me esforcei por muito tempo.
- Só fiquei triste por você não ter viajado comigo.
- Não fui à praia, pois queria descansar durante o Domingo.

PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO


No período composto por subordinação sempre aparecem dois tipos de oração: oração
principal e oração subordinada.

O período:
Todos esperam sua volta.

É um período simples, pois apresenta uma única oração. Nele podemos identificar:
Todos (suj.) esperam (v.t.dir.) sua volta. (obj. direto)
Se transformarmos o período simples acima em um período composto, teremos:

Todos esperam que você volte.


1ª oração: Todos esperam
2ª oração: que você volte

Nesse período, a 1ª oração apresenta o sujeito todos e o verbo transitivo direto esperam,
mas não apresenta o objeto direto de esperam. Por isso, a 2ª oração é que tem de funcionar como
objeto direto do verbo da 1ª oração.

Verificamos, então, que:

I. a 1ª oração não exerce, no período acima, nenhuma função sintática. Por esse motivo ela é
chamada de oração principal.
II. a 2ª oração depende da 1ª, serve de termo (objeto direto) da 1ª e completa-lhe o sentido.
Por esse motivo, a 2ª oração é chamada de oração subordinada.

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Resumindo:

Oração principal: é um tipo de oração que no período não exerce nenhuma função sintáti-
ca e tem associada a si uma oração subordinada.

Oração subordinada: é toda oração que se associa a uma oração principal e exerce uma
função sintática (sujeito, objeto, adjunto adverbial etc.) em relação à oração principal.

As orações subordinadas classificam-se, de acordo com seu valor ou função, em:

Orações subordinadas substantivas


São aquelas orações subordinadas que exercem as seguintes funções: sujeito, objeto direto,
objeto indireto, complemento nominal, predicado nominal e aposto, exemplos:
Insinuou nada saber.
Pediu que se fizesse silêncio
As orações subordinadas substantivas podem ser de seis espécies:

1ª. Subjetivas: são aquelas que exercem a função de sujeito em relação à outra oração.
Importa estudar continuamente.
Sabe-se que a situação econômica ainda vai ficar pior.
Convém que não saias de casa.

Para encontrar o sujeito de uma oração, deve-se interrogar o verbo da oração:


Importa o quê? O que se sabe? O que convém?

2ª. Objetivas diretas: são aquelas que exercem a função de objeto direto de outra oração.

- Informamos que os bancos abrirão mais tarde hoje.


- Ele não sabia como responder a pergunta.
- Responda se já fez a tarefa pedida.
- Olha como tudo terminou bem!
- Penso que eles voltarão amanhã.
- Temo que ele saia ferido.
- Pedi que saíssem da sala.
- Vi-o correr.

Observa-se que o objeto direto é identificado da seguinte maneira: quem confia, confia em
alguma coisa; quem sabe, sabe de alguma coisa; quem espera, espera alguma coisa; e assim por
diante.
As locuções “tenho medo”, “estou com esperança” e “sou de opinião” ou “ele é de opinião”
têm força transitiva direta, isto é, são equivalentes a verbos transitivos diretos: temer, esperar,
opinar. Se estas expressões vierem acompanhadas de preposição de antes da conjunção que, as
orações já não serão objetivas diretas, mas completivas nominais:

- Tenho medo de que ele não consiga terminar o trabalho a tempo.


- Estou com esperança de que meu time ganhe o jogo.
- Estou com receio de que ela se atrase.

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3ª. Objetivas indiretas: são aquelas que exercem a função de objeto indireto de outra oração, isto
é, ligam-se à oração principal mediante preposição. Exemplos:

- Preciso rever todas as evidências.


- Ele não gostou das insinuações.
- O acidente obstou a que chegássemos mais cedo.
- O funcionário obedeceu a todos que lhe são superiores.

A identificação do objeto indireto é realizada da seguinte forma: quem precisa, precisa de


alguma coisa; quem gosta, gosta de alguma gosta; quem obedece, obedece a alguma coisa; e assim
por diante.

4ª. Completivas nominais: são aquelas que completam o sentido de um substantivo, adjetivo ou
advérbio.

Exemplos:
- Ele tinha esquecido de que sua proposta não agradara.
- Eles estavam esperançosos de que tudo se resolveria.
- A opinião de que Ana desistirá do concurso é conclusão precipitada.

Assim como alguns verbos exigem objeto que lhes complete o sentido, há algumas palavras
que necessitam de outras que lhes completem o sentido. Assim, pode-se à semelhança dos verbos,
perguntar: Acordo de quê? Esperançoso de quê? Opinião de quê? (ou sobre o quê?) Medo de quê? A
reposta a estas perguntas constitui o complemento nominal.

5ª. Predicativas: são aquelas que funcionam como predicativo do sujeito.

Exemplos:
- O bom é que eles não desconfiam nunca.
- O mal é você ficar de braços cruzados.
- O certo é que Ricardo não se casará.
- A falácia é que para ficar rico é preciso ficar pobre.

Não se deve confundir oração predicativa com oração subjetiva.

Exemplos:
- É certo que o Barcelona não ganhará do Real Madrid = subjetiva.
A oração grifada funciona como sujeito

- O certo é que o Barcelona não ganhará do Real Madrid = predicativa


A oração grifada funciona como predicativo do sujeito.

6ª. Apositivas: são aquelas que funcionam como aposto.

Exemplos:
- Sua instrução foi única: estudar muito.
- Pedi-lhe um favor: que me chamasse às seis horas.
O aposto é uma forma de adjunto adnominal, que é constituído de uma palavra ou expres-
são em aposição, exemplificando um ou vários termos expressos na oração. Note-se nos exemplos
que estudar sempre explica a frase inicial, determina qual foi sua instrução; qual foi o favor pedido.

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Orações subordinadas adjetivas


A oração que modifica um substantivo de outra oração é denominada oração subordinada
adjetiva. Em geral, tais orações são introduzidas por pronome relativo.

Exemplo:
- O garoto que era triste tornou-se um garoto alegre.

As orações subordinadas adjetivas exercem a função sintática de adjunto adnominal de um


termo da oração principal.
As orações subordinadas adjetivas são de duas espécies: explicativas e restritivas.
As explicativas são aquelas que indicam qualidade inerente ao substantivo a que se referem. Justa-
põem-se a um substantivo já plenamente definido pelo contexto. Além disso, as orações adjetivas
explicativas podem ser eliminadas sem prejuízo do sentido. Têm função meramente estilística.
Exemplos:
- O inverno suíço de 1987, que foi muito rigoroso, matou 100 pessoas.
- O homem, que é um ser racional, tem perdido suas características mais preciosas.
- O lírio, que é branco, já não é símbolo de candura.

As orações adjetivas explicativas são menos comuns que as restritivas.


As orações adjetivas restritivas delimitam o sentido do substantivo antecedente. São indispensáveis
ao sentido total da oração.

Exemplos:
Todo aluno que é estudioso é digno de aprovação.
- Todo político que é honesto é capaz de causar revoluções administrativas.
- Não acredito no médico do qual me falaste há pouco.
- O professor cujas orientações não são diretivas tem conseguido resultados assus- ta-
dores nos últimos tempos.

Orações subordinadas adverbiais


Um terceiro tipo de orações subordinadas são as adverbiais, isto é, aquelas que equivalem
a advérbios em relação a outra oração.
Os adjuntos adverbiais são termos acessórios das orações; são determinantes. Os determi-
nantes adverbiais acrescentam “ao predicado o esclarecimento de lugar, tempo, modo etc.”
Exemplos
Almoçarei ao meio-dia.
Chegaram aqui as embarcações.
Ontem choveu.
Aquela mulher caminha com dificuldade.
Tu te exprimes muito bem.
São, portanto, os adjuntos adverbiais expressões que acrescentam circunstâncias aos fatos
expressos.
Recorde-se também que as orações reduzidas às vezes indicam circunstâncias que caracte-
rizam e restringem o sentido do verbo:

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Exemplos
Não te emprestarei dinheiro para gastares com futilidades. (adverbial final reduzida de infi-
nitivo)
Chegando ao cinema, comprei os ingressos. (subordinada adverbial temporal reduzida de
gerúndio)
Terminada a aula, voltei pra casa. (subordinada adverbial temporal reduzida departicípio)
As orações subordinadas adverbiais são dos seguintes tipos: causais, comparativas, conse-
cutivas, concessivas, condicionais, conformativas, finais, proporcionais e temporais.

1ª. Causais: são aquelas que modificam a oração principal apresentando uma circunstância de cau-
sa, isto é, respondem à pergunta "por quê?" feita à oração principal.
Exemplos:
Daniela saiu porque precisava.
Luísa não saiu porque estava frio.
Luís deixou o trabalho porquanto sua saúde era precária.
São conjunções causais: porque, que, porquanto, visto que, por isso que, como, visto como,
uma vez que, já que, pois que.
2ª. Comparativas: são aquelas que correspondem ao segundo termo de uma comparação.

Exemplos:
- Marisa é tão boa vendedora quanto Teresa
- "A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro."

São conjunções comparativas: como, mais do que, assim como, bem como, que nem (co-
mo), tanto quanto.

3ª. Consecutivas: são aquelas que são introduzidas por um termo intensivo que vem em seguida à
oração principal, acrescentando-lhe ideias e explicações, ou completando-a, ou tirando uma con-
clusão.
Exemplos:
- O Plano de Estabilização Econômica foi tão cercado de flores de todos os lados que não
percebemos suas consequências menos interessantes.
- Onde estás, Luciana, que não te vejo!
- José bebia tanto que morreu afogado no seu próprio vômito.
- Faça seu trabalho de tal modo que não venha a lastimar-se do resultado que dele possa
advir.

São conjunções consecutivas: (tanto) que, (tão) que, (de tal forma) que.

4ª. Concessivas: são aquelas que se caracterizam pela ideia de concessão que transmitem à oração
principal.

Exemplos:
- Ainda que faça frio, o jogo se realizará.
- Ela foi ao parque, embora estivesse chovendo.

São conjunções concessivas: embora, posto que, se bem que, ainda que, sempre que, desde
que, conquanto, mesmo que, por pouco que, por muito que.

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5ª. Condicionais: são aquelas que se caracterizam por transmitir ideias de condição à oração prin-
cipal.

Exemplos:
- Se o filme for ruim, sairei do cinema.
- Caso tivesse realizado as obras necessárias, não teria perdido a eleição.

São conjunções condicionais: se, salvo se, senão, caso, desde que, exceto se, contanto que,
a menos que, sem que, uma vez que, sempre que.

6ª. Conformativas: são aquelas que indicam o modo como ocorreu a ação expressa na oração prin-
cipal.

Exemplos:
- Conforme os últimos acontecimentos, o Oriente Médio corre risco de uma guerra generali-
zada.
- Escrevi um memorando, segundo o estilo oficial estabelece.

São conjunções conformativas: de modo que, assim como, bem como, de maneira que, de sorte
que, de forma que, do mesmo modo que, segundo conforme.
7ª. Finais: são aquelas que indicam o fim ou finalidade à oração principal.

Exemplos:
- É preciso que haja políticos de concepções liberais extremadas para que os conservadores
não reduzam os homens a títeres.
- Acenei-lhe para que silenciasse.

São conjunções subordinativas finais: para que, a fim de que.

8ª. Proporcionais: são aquelas que transmitem ideia de proporcionalidade à ideia principal.

Exemplos:
- À proporção que o tempo passa, a agonia recrudesce.
- O barulho de algazarra aumenta à medida que se aproxima das crianças.

São conjunções subordinativas proporcionais: à medida que, à proporção que, ao passo


que.

9ª. Temporais: são aquelas que indicam relação de tempo naquilo que se refere à ação expressa
pela oração principal.

Exemplos:
- Enquanto ouço música, recupero o equilíbrio emocional.
- Cada vez que eu penso, te sinto, te vejo...

São conjunções subordinadas temporais: quando, enquanto, agora que, logo que, desde
que, assim que, tanto que, apenas, antes que, até que, sempre que, depois que, cada vez que.

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ORAÇÕES REDUZIDAS
São denominadas orações reduzidas aquelas que apresentam o verbo numa das formas
nominais, ou seja, infinitivo, gerúndio e particípio.
As orações reduzidas de formas nominais podem, em geral, ser desenvolvidas em orações
subordinadas. Essas orações são classificadas como as desenvolvidas correspondentes.
As orações reduzidas não são introduzidas por conectivo.
No caso de se fazer uso de locução verbal, o auxiliar indica se se trata de oração reduzida
ou não.

Na frase:
Tendo de ausentar-se, declarou vacante seu cargo.

Temos aqui uma oração reduzida de gerúndio. Portanto, é condição para que a oração seja
reduzida que o auxiliar se encontre representado por uma forma nominal.

EXEMPLOS DE ORAÇÕES REDUZIDAS DE INFINITIVO:


Substantivas subjetivas: são aquelas que exercem a função de sujeito do verbo de outra
oração.

Exemplos:
- Não convém agires assim
- É certo ter ocorrido uma disputa de desinteressados.
- Urge partires imediatamente.
Substantivas objetivas diretas: são aquelas que exercem a função de objeto direto.

Exemplos:
- Ordenou saírem todos logo.
- Respondeu estarem fechadas as matrículas.
- Peça-lhes fazer silêncio.

Substantivas objetivas indiretas: são aquelas que funcionam como objeto indireto da oração prin-
cipal.

Exemplo:
- Aconselho-te a sair imediatamente.

Substantivas predicativas: são aquelas que funcionam como adjetivo da oração principal.

Exemplos:
- O importante é não se deixar corromper pela desonestidade.
- Seu desejo era adquirir um automóvel.

Substantivas completivas nominais: são aquelas que funcionam como complemento de um nome
da oração principal.
Exemplos:
- Maria estava disposta a sair da casa.
- Tinha o desejo de espalhar os fatos verdadeiros.

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Substantivas apositivas: são aquelas que funcionam como aposto da oração principal.

Exemplos:
- Fez uma proposta a sua companheira: viajarem para a praia, no fim do ano.
- Recomendou-lhe dois procedimentos: ler e refletir exaustivamente a obra de José de Alen-
car.

Adverbiais: são aquelas que funcionam como adjunto adverbial da oração principal.

Exemplos:
- Chegou para poder colaborar. (final)
- Alegraram-se ao receberem os campeões. (temporal)
- Não obstante ser ainda jovem, conquistou posições invejáveis. (concessivas)
- Não poderá voltar ao trabalho sem me avisar com antecedência. (condicional)
- Não compareceu por se encontrar doente. (causal)
- É alegre de fazer inveja. (consecutiva)

Adjetivas: são aquelas que funcionam como adjetivo da oração principal.

Exemplos:
- O aluno não era de deixar de ler suas redações.

EXEMPLOS DE ORAÇÕES REDUZIDAS DE GERÚNDIO:

Subordinadas adjetivas: Parei um instante e vi o professor admoestando o garoto.

Adverbiais:
- Retornando de férias, volte ao trabalho. (temporal)
- João Batista, ainda trajando à moda antiga, apresentava-lhe galhardamente.
(concessiva)
- Querendo, você conseguirá obter resultados positivos nos exames. (condicional)
- Desconfiando de suas palavras, dispensei-o. (causal)
- Xavier, ilustre comerciante, enriqueceu-se vendendo carros. (modal ou conformativa)

EXEMPLOS DE ORAÇÕES REDUZIDAS DE PARTICÍPIO:


Subordinada adjetiva:
As notícias apresentadas pelo Canal X são superficiais.

Adverbiais:
- Terminada a aula, os alunos retiraram-se da classe. (temporal)
- Reconhecido seu direito, teriam tido outro comportamento. (condicional)
- Acossado pela política, não se entregou. (concessiva)
- Quebradas as pernas, não pôde correr. (causal)

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5.3 EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO


Há certos recursos da linguagem ‒ pausa, melodia, entonação e, até mesmo, silêncio ‒ que
só estão presentes na oralidade. Na linguagem escrita, para substituir tais recursos, usamos os si-
nais de pontuação.
Estes são também usados para destacar palavras, expressões ou orações e esclarecer o
sentido de frases, a fim de dissipar qualquer tipo de ambiguidade.
Apesar de muitas vezes indicarem pausas, os sinais de pontuação têm, preponderantemen-
te, uma justificativa sintática ou semântica. Os sinais de pontuação podem ser classificados em dois
grupos. Observe que esta distinção não é rigorosa, pois outras classificações podem ser utilizadas,
já que os sinais de pontuação indicam, ao mesmo tempo, a pausa e a melodia.
O primeiro grupo compreende, fundamentalmente, os sinais que se destinam a marcar as
pausas: o ponto ( . ), o ponto e vírgula ( ; ) e a vírgula ( , ).

O segundo grupo compreende os sinais cuja função essencial é marcar a melodia, a entoa-
ção: os dois-pontos ( : ), o ponto de interrogação ( ? ), o ponto de exclamação ( ! ), o travessão ( ‒ ),
o parênteses ( ( ) ), entre outros.
USO DO PONTO
Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o término de uma frase declarativa de um
período simples ou composto.
- Desejo-lhe uma feliz viagem.
- A casa, quase sempre fechada, parecia abandonada, no entanto tudo no seu
interior era conservado com primor.

O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas, por exemplo: fev. = fevereiro,
hab. = habitante, rod. = rodovia.
O ponto que é empregado para encerrar um texto escrito recebe o nome de ponto final.

USO DO PONTO E VÍRGULA


Como o nome indica, este sinal serve de intermediário entre o ponto e a vírgula, podendo
aproximar-se mais daquele ou mais desta, dependendo dos valores pausais e melódicos que repre-
senta o texto. No primeiro caso, equivale a uma espécie de ponto reduzido; no segundo, equivale a
uma vírgula alongada.
Geralmente, emprega-se o ponto e vírgula para:

a) separar orações coordenadas que tenham certo sentido ou aquelas que já apresentam separa-
ção por vírgula:
Criança, foi uma garota sapeca; moça, era inteligente e alegre; agora, mulher madura, tor-
nou-se uma doidivanas.

b) separar vários itens de uma enumeração:


Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções, e coexistência de instituições públicas e privadas
de ensino;
IV - gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais;

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USO DA VÍRGULA
De todos os sinais de pontuação, a vírgula, normalmente, é o que apresenta maior grau de
dificuldade na sua utilização correta.
A vírgula marca uma pausa de pequena duração. Emprega-se não somente para separar
elementos de uma oração, mas também orações de um só período.
Emprega-se a vírgula nos seguintes casos:

a) para separar os elementos mencionados numa relação:

- A nossa empresa está contratando engenheiros, economistas, analistas de


sistemas e secretárias.
- O apartamento tem três quartos, sala de visitas, sala de jantar, área de serviço e dois
banheiros.

Mesmo que o e venha repetido antes de cada um dos elementos da enumeração, a vírgula
deve ser empregada:

- Rodrigo estava nervoso. Andava pelos cantos, e gesticulava, e falava em voz alta, e ria, e
roía as unhas.

b) para isolar o vocativo:

- Cristina, desligue já esse telefone!


- Por favor, Ricardo, venha até o meu gabinete.
c) para isolar o aposto:

- Dona Sílvia, aquela mexeriqueira do quarto andar, ficou presa no elevador.


- Rafael, o gênio da pintura italiana, nasceu em Urbino.

d) para isolar palavras e expressões explicativas (a saber, por exemplo, isto é, ou melhor, aliás,
além disso, etc.):

- Gastamos R$ 5.000,00 na reforma do apartamento, isto é, tudo o que tínhamos economi-


zado durante anos.
- Eles viajaram para a América do Norte, aliás, para o Canadá.
e) para isolar o adjunto adverbial antecipado:

- Lá no sertão, as noites são escuras e perigosas.


- Ontem à noite, fomos todos jantar fora.

f) para isolar elementos repetidos:

- O palácio, o palácio está destruído.


- Estão todos cansados, cansados de dar dó!

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g) para isolar, nas datas, o nome do lugar:

- São Paulo, 22 de maio de 1995.


- Roma, 13 de dezembro de 1995.

h) para isolar os adjuntos adverbiais:


- A multidão foi, aos poucos, avançando para o palácio.
- Os candidatos serão atendidos, das sete às onze, pelo próprio gerente.
i) para isolar as orações coordenadas, exceto as introduzidas pela conjunção e:

- Ele já enganou várias pessoas, logo não é digno de confiança.


- Você pode usar o meu carro, mas tome muito cuidado ao dirigir.
- Não compareci ao trabalho ontem, pois estava doente.

j) para indicar a elipse de um elemento da oração:

- Foi um grande escândalo. Às vezes gritava; outras, estrebuchava como um animal.


- Não se sabe ao certo. Paulo diz que ela se suicidou, a irmã, que foi um acidente.

k) para separar o paralelismo de provérbios:

- Ladrão de tostão, ladrão de milhão.


- Ouvir cantar o galo, sem saber onde.

l) após a saudação em correspondência (social e comercial):

- Com muito amor,


- Respeitosamente,

m) para isolar as orações adjetivas explicativas:


- Marina, que é uma criatura maldosa, "puxou o tapete" de Juliana lá no trabalho.
- Vidas Secas, que é um romance contemporâneo, foi escrito por Graciliano Ramos.

n) para isolar orações intercaladas:


- Não lhe posso garantir nada, respondi secamente.
- O filme, disse ele, é fantástico.

USO DOS DOIS PONTOS


Os dois pontos servem para marcar, na escrita, uma sensível suspensão da voz na melodia
de uma frase não concluída. Dessa forma, são empregados em:

a) uma enumeração:
... Rubião recordou a sua entrada no escritório do Camacho, o modo porque falou: e daí
tornou atrás, ao próprio ato. Estirado no gabinete, evocou a cena: o menino, o carro, os cavalos, o
grito, o salto que deu, levado de um ímpeto irresistível...
(Machado de Assis)

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b) uma citação:
Visto que ela nada declarasse, o marido indagou:
- Afinal, o que houve?

c) um esclarecimento:
Joana conseguira enfim realizar seu desejo maior: seduzir Pedro. Não porque o amasse,
mas para magoar Lucila.

Observe que os dois pontos são também usados na introdução de exemplos, notas ou obser-
vações.
Parônimos são vocábulos diferentes na significação e parecidos na forma. Exemplos: ratifi-
car/retificar, censo/senso, descriminar/discriminar etc.
Nota: A preposição per, considerada arcaica, somente é usada na frase de per si (= cada um
por sua vez, isoladamente).
Observação: Na linguagem coloquial pode-se aplicar o grau diminutivo a alguns advérbios:
cedinho, longinho, melhorzinho, pouquinho etc.

USO DO PONTO DE INTERROGAÇÃO


O ponto de interrogação é empregado para indicar uma pergunta direta, ainda que esta
não exija resposta:

O criado pediu licença para entrar:


- O senhor não precisa de mim?
- Não obrigado. A que horas janta-se?
- Às cinco, se o senhor não der outra ordem.
- Bem.
- O senhor sai a passeio depois do jantar? de carro ou a cavalo?
- Não.
(José de Alencar)

USO DO PONTO DE EXCLAMAÇÃO

Ponto de Exclamação:
O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de qualquer enunciado com ento-
nação exclamativa, que normalmente exprime admiração, surpresa, assombro, indignação etc.

- Viva o meu príncipe! Sim, senhor... Eis aqui um comedouro muito compreensível e muito
repousante, Jacinto!
- Então janta, homem!
(Eça de Queiroz)
O ponto de exclamação é também usado com interjeições e locuções interjetivas:

Oh!
Valha-me Deus!

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(...)
3 Isso, em geral, admitimos sem reservas. Ao mesmo tempo,
4 seres humanos, somos indivíduos: vivemos nosso ser cotidiano
5 como um contínuo devir de experiências individuais
6 intransferíveis. (...)
Questão de prova: Na linha 4, o sinal de dois-pontos tem a função de introduzir
uma explicação para as orações anteriores; por isso, em seu lugar, poderia ser escrito por-
que, sem prejuízo para a correção gramatical do texto ou para sua coerência.
Comentário: Efetivamente, os dois-pontos poderiam ser substituídos por “porque”, pois in-
troduzem uma explicação para o que foi dito anteriormente: “Ao mesmo tempo, seres hu-
manos, somos indivíduos porque vivemos nosso ser cotidiano como um contínuo devir de
experiências individuais.” A alternativa está CERTA.

1 A característica central da modernidade, não seria


2 demais repetir, é a institucionalização do universalismo — e
3 seu duplo, a igualdade — como princípio organizador da esfera
4 pública. (...)
Questão de prova: De acordo com as normas de pontuação, seria correto empregar, nas li-
nhas 2 e 3, vírgulas no lugar dos travessões; entretanto, nesse caso, a leitura e a compreen-
são do trecho poderiam ser prejudicadas, dada a existência da vírgula empregada após “du-
plo”, no interior do trecho destacado entre travessões.
Comentário: Observe o período com a alteração feita, caso os travessões fossem substituí-
dos por vírgula: “A característica central da modernidade, não seria demais repetir, é a ins-
titucionalização do universalismo, e seu duplo, a igualdade, como princípio organizador da
esfera pública”. A alteração feita modifica o sentido da frase, dando a entender que a igual-
dade é o duplo da institucionalização do universalismo. Assim, a alternativa está CERTA.

(...)
11 Como tentativas de acompanhar essa velocidade
12 vertiginosa que marca o processo de constituição da sociedade
13 hipermoderna, surge a flexibilidade do mundo do trabalho e a
14 fluidez das relações interpessoais. (...)
Questão de prova: A ausência de vírgula depois de “vertiginosa” (l.12) indica que a oração
iniciada por “que marca” (l.12) restringe a ideia de “velocidade vertiginosa” (l.11-12).
Comentário: As orações adjetivas restritivas delimitam o sentido do substantivo antece-
dente. São indispensáveis ao sentido total da oração. A oração iniciada por “que marca”,
restringe o substantivo velocidade, que a antecede. A alternativa está CERTA.

1 A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de


2 Aviação Civil (ANAC) aprovou, em setembro último,
3 alterações no seu regimento interno com o objetivo de fazer
4 frente aos novos desafios do setor de aviação civil, em razão de
5 sua expansão e do considerável aumento do número de
6 usuários do transporte aéreo no país nos últimos anos. (...)

Questão de prova: O segmento “em setembro último” (l.2) está empregado entre
vírgulas por constituir expressão adverbial intercalada entre termos da oração de que faz
parte.
Comentário: O segmento “em setembro” exerce efetivamente a função, nessa oração, de
expressão adverbial, motivo pelo qual aparece entre vírgulas. A alternativa está CERTA.

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

5.4 CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL

Concordância verbal
É o processo pelo qual o verbo altera suas desinências para se adequar morfossintatica-
mente ao sujeito. Em alguns casos, porém, a relação de concordância se estabelece entre verbo e
predicativo, verbo e aposto, verbo e adjunto adnominal, verbo e complemento nominal.

Regra geral: O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa, especificamente com o núcleo.

Exemplos: O cigarro deve ser evitado.


O desperdício de água pode ser eliminado.
Vocês não conhecem seus direitos?

Concordância do verbo com sujeito simples:


a) Quando o sujeito for representado por um substantivo coletivo, o verbo ficará no singu-
lar.

- A torcida invadiu o campo e agrediu os jogadores.

Quando o sujeito coletivo estiver acompanhado de adjunto ou distante do verbo, admite-se


o verbo no plural.

- O grupo de grevistas gritava (ou gritavam) palavras de ordem.

b) Quando o sujeito for representado por nomes próprios de lugar ou título de obra:

- O verbo ficará no plural, se o nome estiver precedido de artigo no plural.

- Os Estados Unidos estão enfrentando uma grave crise econômica.

- O verbo ficará no singular, se o nome não estiver precedido de artigo ou se o artigo estiver
no singular.

- O Amazonas nasce em território peruano.

c) Quando o sujeito for um pronome de tratamento, o verbo ficará na 3ª pessoa.

- Vossa Senhoria está doente?


- Vossas Excelências pediram calma?

d) Quando o sujeito for representado pelo pronome relativo que, o verbo concordará com
o antecedente do pronome.

- Hoje é você que preparará a janta.

e) Quando o sujeito for representado pelo pronome relativo quem, o verbo poderá ficar na
3ª pessoa do singular ou concordar com a pessoa do antecedente do pronome.

- Fui eu quem falou.


- Fomos nós quem falou.

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

f) Quando o sujeito for o pronome relativo da expressão um dos que, o verbo ficará no plu-
ral (mais comum) ou no singular (mais raro).

- Uma das pessoas que desconfiavam (ou desconfiava) de mim era Maria.

g) Quando o sujeito for um pronome interrogativo ou indefinido singular seguido das ex-
pressões de nós, de vós, dentre nós, dentre vós, o verbo ficará na 3ª pessoa do singular.

- Qual de nós apitará o jogo amanhã?

h) Quando o sujeito for expressão partitiva ‒ parte de, uma porção de, a maioria de, grande
parte de, a maior parte de ‒ seguida de um substantivo no plural, o verbo ficará no singular ou no
plural.

- A maioria dos trabalhadores preferiu (ou preferiram) férias coletivas.

i) Quando o sujeito contiver uma expressão que denota quantidade aproximada ‒ cerca de,
perto de, mais de, menos de ‒ o verbo concordará com o numeral que o acompanha.

- Cerca de duas mil pessoas assistiram ao show.


- Mais de uma pessoa foi atropelada pelo carro desgovernado.

- Se a expressão mais de um estiver associada a verbos com ideia de reciprocidade, o verbo


ficará no plural.

- Mais de um atleta agrediram-se.

j) Verbos dar / bater / soar indicando horas: Concordará com o sujeito.

- O relógio deu duas horas.


- O sino da igreja bateu três horas.

OUTROS CASOS DE CONCORDÂNCIA VERBAL COM SUJEITO SIMPLES

• Verbo + pronome se:


— Quando o se é pronome apassivador o verbo concorda com o sujeito.
(Encontraram-se erros no texto. [= erros foram encontrados no texto])
— Quando o se é índice de indeterminação do sujeito o verbo fica na 3a pessoa do singular.
(Não se discorda de opiniões tão bem fundamentadas.)

• Expressão partitiva + nome no plural


Verbo no singular ou no plural. (A maior parte dos competidores discordou/ discordaram do regu-
lamento.)

• Expressões numéricas aproximativas


O verbo concorda com o numeral. (Mais de dez carros foram danificados no acidente.)

51
L Í NG U A P O RT U G UE S A

• Pronomes que e quem:


— que o ver- bo concorda com o antecedente desse pronome. (Ninguém conhece os
caminhos que levam à felicidade.)
— quem o verbo concorda com o antecedente ou fica na 3ª pessoa do singular.
(Foram as crianças quem descobriram/descobriu toda a verdade.)

• Expressão "um dos + [palavra no plural] + que"


Verbo no singular ou plural. (Você não é um dos alunos que pensa / pensam assim.)

Concordância verbal com sujeito composto


A concordância do verbo com o sujeito composto é determinada por três fatores:
— o posicionamento do sujeito na estrutura da frase;
— os diferentes tipos de palavras que podem formar o sujeito;
— o tipo de palavra que liga os núcleos.

Sujeito composto posicionado antes do verbo


Verbo no plural. (A chuva fria e o vento forte atrapalharam a festa.)
Particularidades dessa regra:

a) Quando os núcleos do sujeito são sinônimos (ou aproximadamente sinônimos), o verbo pode
ficar no singular ou no plural. Assim:

A paz e a tranqüilidade dominava a imensa catedral.


dominavam
núcleos sinônimos
b) Quando os núcleos do sujeito formam uma enumeração gradativa, o verbo pode ficar no singu-
lar ou no plural. Por exemplo:

Um olhar, um sorriso, um gesto amigo conforta con- uma alma angustiada.


fortam
núcleos em gradação

c) Quando os núcleos estão seguidos por palavra de valor resumitivo no singular


(tudo, nada, ninguém ou alguém), o verbo fica, necessariamente, no singular. Veja:

palavra resumitiva

A ameaça, o terror, a agressão, nada o amedrontaria.

sujeito composto verbo no singular

d) Quando o sujeito apresenta a expressão "um e outro", o verbo pode ficar no singular ou no plu-
ral. Por exemplo:

Um e outro deputado denunciou os desvios de verbas


denunciaram

Sujeito composto posicionado depois do verbo


Verbo no plural ou concordando com o primeiro núcleo.

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

- (Atrapalharam/Atrapalhou a festa a chuva fria e o vento forte.)

Compõem a paisagem do quadro uma montanha e um lago cristalino.

verbo no plural sujeito composto depois do verbo

1º núcleo

Compõe a paisagem do quadro uma montanha e um lago cristalino.

sujeito composto depois do verbo

Sujeito composto de pessoas gramaticais diferentes:


- Com 1ª pessoa (eu/nós) — verbo na 1ª pessoa do plural. (Ela, tu e eu iremos.)
- Sem 1ª pessoa — verbo na 2ª ou na 3ª pessoa do plural. (Ela e tu ireis/irão.)

Núcleos do sujeito ligados por ou/nem


Se houver ideia de exclusão, verbo no singular; se não houver, verbo no plural.

Exemplos:
- A Itália ou a Holanda vencerá a próxima copa do mundo.
- A chuva ou o frio o fariam desistir da viagem.
- Nem você nem aquele pintor medíocre se casará com ela.
- Nem você nem meu amigo sabem a verdade.

CONCORDÂNCIA NOMINAL

Concordância nominal é a concordância de nomes entre si. A que vai nos interessar particularmen-
te é a concordância do adjetivo com o substantivo.

PRINCIPAIS CASOS

Primeiro caso:
Preste atenção a este exemplo:

Comprei abacate e melão maduro (ou maduros).


Conclusão: Quando o adjetivo modifica dois ou mais substantivos do mesmo número (abacate e
melão estão no singular), o adjetivo pode concordar com o substantivo mais próximo (melão) ou ir
para o plural, concordando com os dois substantivos.
Essa opção de concordância também se dá quando os substantivos são de gênero e número dife-
rentes.
Ex.:
Comprei abacate e maçãs madura (ou maduros).
Comprei abacates e maçã madura (ou maduros).
Comprei uvas e maçã madura (ou maduras).

53
L Í NG U A P O RT U G UE S A

Segundo caso:
Preste atenção nestes exemplos:
Comprei abacate e maçã estragados.
Comprei maçã e abacate estragado.
Comprei abacate e maçã estragada.

Conclusão: Quando o adjetivo modifica dois ou mais substantivos do mesmo número, mas de gêne-
ros diferentes (abacate é masculino; maçã é feminino), o adjetivo vai para o masculino plural ou
concorda com o mais próximo.

Terceiro caso:
Preste atenção a estes exemplos:
Comprei maduro abacate e melão.
Comprei estragada maçã e abacate.

Conclusão: Quando o adjetivo aparece antes dos substantivos, faz-se a concordância sempre com o
substantivo mais próximo.

Quarto caso:
Preste atenção a estes exemplos:
Ela tem ideia e pensamento fixo.
Ela tem pensamento e ideia fixa.

Conclusão: Quando o adjetivo modifica dois substantivos sinônimos ou tomados por sinônimos,
concorda sempre com o substantivo mais próximo.

Quinto caso:
Preste atenção a este exemplo:
Comprei o livro e a maçã madura.

Conclusão: Quando o adjetivo se refere apenas ao último substantivo, só com ele concorda. (Claro!
Não existe livro “maduro”.)

Sexto caso:
Preste atenção a este exemplo:
Passei dia e noite frios no Canadá.

Conclusão: Quando os substantivos são antônimos, o adjetivo vai obrigatoriamente para o


plural, concordando com o gênero que tem preferência.

Sétimo caso:
Preste atenção a estes exemplos:
O rapaz e a garota eram argentinos
Eram argentinos o rapaz e a garota.
Eram argentinos a garota e o rapaz.

Conclusão: Quando o adjetivo é predicativo (tanto do sujeito quanto do objeto), faz-se a concor-
dância normal, qualquer que seja a ordem dos termos da oração, ou seja, o masculino prevalece
sempre, quando há mistura de gêneros.

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

OUTROS CASOS
Variam normalmente:

a) MESMO E PRÓPRIO
- Ele mesmo (ou próprio) lava suas roupas.
- Ela mesma (ou própria) lava suas roupas.
- Eles mesmos (ou próprios) lavam suas roupas.
- Elas mesmas (ou próprias) lavam suas roupas.

b) EXTRA E QUITE
- Ele fez apenas uma hora extra.
- Ele fez muitas horas extras.
- Estou quite com o banco.
- Estamos quites com o banco.

c) JUNTO
Só varia quando equivale a “um com outro” (e variações).

Ex.:
- Nunca vi esses rapazes juntos. (= um com outro)
- Minhas filhas chegaram juntas na escola. (= uma com a outra)
- Do contrário, não varia:
- Nunca vi esses rapazes junto com a mãe.
- Minhas filhas chegaram junto comigo.

d) SÓ
Varia quando equivale a “sozinho”, mas não quando equivale a “somente”.

Ex.:
- As crianças ficaram sós em casa. (sozinhas)
- Só as crianças ficaram em casa. (somente)

e) LESO
Concorda com o substantivo a que se refere.

Ex.:
- Eles cometeram um crime de leso-idioma.
- Eles cometeram um crime de lesa-pátria.

f) OBRIGADO
Concorda com o substantivo a que se refere.

Ex.:
- Ele saiu dizendo muito obrigado.
- Ela saiu dizendo muito obrigada.
- Eles saíram dizendo muito obrigados.
- Elas saíram dizendo muito obrigadas.

g) ANEXO

Quando é empregado sozinho, concorda com o substantivo ao qual se refere.

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

Ex.:
- Anexo segue o recibo.
- Anexa segue a fotografia.
- Anexos seguem os recibos.
- Anexas seguem as fotografias.
- Quando é empregado antecedido da preposição “em” fica invariável.
- Em anexo segue o recibo.
- Em anexo segue a fotografia.
- Em anexo seguem os recibos.
- Em anexo, seguem as fotografias.

h) INCLUSO

Ex.:
- Já está incluso na conta o antepasto.
- Já está inclusa na conta a sobremesa.
- Já estão inclusos na conta os refrigerantes.
- Já estão inclusas na conta as bebidas.

i) NENHUM

Ex.:
- Eles não são nenhuns coitadinhos.
- Elas não são nenhumas coitadinhas.

j) CARO E BARATO
Variam apenas quando são adjetivos.

Ex.:
- A gasolina brasileira não é barata, é cara.
- As frutas importadas estão caras, e não baratas.
- Quando advérbios, não variam. Ex.:
- A gasolina brasileira custa caro , e não barato.
- As frutas importadas estão custando caro, e não barato.

k) BASTANTE
Varia normalmente, quando é adjetivo.

Ex.:
- Comam bastantes frutas, crianças!
- Vi bastantes novidades na feira.
- Quando advérbio, não varia:
- As crianças comem bastante.
- As crianças riram bastante no circo.

l) MEIO
Varia quando é adjetivo ou numeral. Nesse caso, significa “metade”.
Ex.:
- Cheguei ao meio-dia e meia (hora).
- Comprei duas meias melancias na feira.
- Quando advérbio, é invariável:

56
L Í NG U A P O RT U G UE S A

- Ela ficou meio nervosa.


- As crianças estão meio medrosas.

CASOS FINAIS
PRIMEIRO CASO: As expressões é bom, é necessário, é proibido, além de outras asseme-
lhadas, ficam invariáveis, se acompanhadas de substantivos que exprimem ideia genérica, indeter-
minada.

Ex.:
- É preciso muita paciência para dirigir no trânsito paulistano.
- É necessário folga semanal remunerada.
- Água é bom para matar a sede.
- É proibido entrada de pessoas estranhas.
- Não é permito entrada de pessoas estranhas neste local.

Havendo determinação do substantivo, o adjetivo com ele concordará:

Ex.:
- É precisa sua presença aqui.
- É necessária nossa participação ativa nessa reivindicação.
- Esta água é boa para matar a sede.
- É proibida a entrada de pessoas estranhas.
- Não é permitida a presença de estranhos neste local.

SEGUNDO CASO: Os particípios de orações reduzidas concordam normalmente com o sujeito. Só


não variam quando fazem parte de tempo composto da voz ativa; na voz passiva, o particípio varia
normalmente.

Ex.:
- Feita a denúncia, regressamos a casa.
- Dada a ordem, tratou-se de cumpri-la.
- Dados os últimos retoques, partimos.
- Elas tinham feito a denúncia, eles haviam dado a ordem.
- Foi inaugurada, na manhã de ontem, nova creche no bairro.

3 Nessa dicotomia, um leitor crítico vai perceber que se trata de


4 um corte epistemológico, na medida em que fica óbvio que
5 classificar por extremos não reflete a complexidade de classes
6 da sociedade brasileira, apesar de indicar os picos.

Questão de prova: O uso da forma verbal “se trata” (l.3), no singular, atende às
regras de concordância com o termo “um corte epistemológico” (l.4) e seriam mantidas a
coerência entre os argumentos e a correção gramatical do texto se fosse usado o termo no
plural, cortes epistemológicos, desde que o verbo fosse flexionado no plural: se tratam.

57
L Í NG U A P O RT U G UE S A

Comentário: O primeiro passo para responder corretamente essa questão é analisarmos a


transitividade do verbo “tratar” (tomada no contexto em pauta), no qual um questiona-
mento surge: trata-se de quê? Resposta: “de um corte epistemológico”.
O segundo passo é analisarmos o chamado complemento do verbo – o que nos permite a-
firmar que se trata de um objeto indireto, em virtude da presença da preposição. Dessa
forma, retomando alguns conceitos voltados para os tipos de sujeito, temos que: O sujeito
se conceitua como indeterminado em uma das ocorrências, o verbo se apresenta na tercei-
ra pessoa do singular acompanhado do “se”, sendo essa partícula concebida como índice
de indeterminação do sujeito. Dessa forma, já que se trata de um verbo transitivo indireto,
não devemos flexionar a forma verbal. Assim, o verbo não deve ser flexionado no plural.
A alternativa está ERRADA.

(...)
11 Como tentativas de acompanhar essa velocidade
12 vertiginosa que marca o processo de constituição da sociedade
13 hipermoderna, surge a flexibilidade do mundo do trabalho e a
14 fluidez das relações interpessoais. (...)

Questão de prova: A forma verbal “surge” (l.13) está flexionada no singular porque es-
tabelece relação de concordância com o conjunto das ideias que compõem a oração ante-
rior.

Comentário: A oração iniciada por surge está no singular porque o verbo “surge” estabe-
lece relação de concordância com “a flexibilidade”, que está no singular. A alternativa,
portanto, está ERRADA.

(...)
11 As razões para esse estancamento encontram-se no comportamento
12 do polo dinâmico da economia mundial, os países emergentes,
13 cujo desenvolvimento econômico começou a desacelerar —
14 ainda que a partir de taxas exuberantes de expansão.

Questão de prova:No trecho “cujo desenvolvimento econômico (...) expansão”


(l.13-14), identifica-se relação de causa e consequência entre a construção sintática desta-
cada com travessão e a oração que a antecede.

Comentário: A construção sintática destacada com travessão inicia pela conjunção con-
cessiva “ainda que”, que pode ser substituída, no trecho em análise, por “embora” ou
“mesmo que”, indicando ideia de concessão, não de causa e consequência. A alternativa,
portanto, está ERRADA.

5.5 EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE

O artigo definido feminino quando vem precedido da preposição a, funde-se com ela, e tal
fusão é representada na escrita por um acento grave sobre a vogal (à):

Vou a + a escola = Vou à escola.

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

A troca de escola por um substantivo masculino equivalente comprova a existência de pre-


posição e artigo: Vou ao (a + o) colégio.

Regras básicas para o uso da crase:

1ª) É condição essencial que o acento grave venha antes de palavra feminina.
2ª) É necessário que a palavra dependa de outra que exija a preposição a.
3ª) É necessário que a palavra admita o artigo feminino (sentido particularizado).

Usa-se crase também nos seguintes casos:

1º) Nas formas àquela, àquele, àquelas, àqueles, àquilo e derivados.


Ex.:
- Cheguei àquela (a + aquela) cidade.
- Por favor, encaminhe-se àquele (a + aquele) balcão.
- Referiu-se àqueles (a + aqueles) livros.
- Não deu importância àquilo (a + aquilo).

2º) Nas indicações de horas, desde que determinadas. Atenção: zero e meia incluem-se na
regra.
Ex.:
- Veio às 10 horas.
- Chegou à meia-noite em ponto.
- A greve iniciará à zero hora.

3º) Nas locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas: às pressas, à risca, às vezes, à noite,
à direita, à esquerda, à frente, à maneira de, à moda de, à procura de, à mercê de, à custa de, à
medida que, à proporção que, à forma de, à espera de, etc.
Ex.:
- À direita ficava a biblioteca.
- Saiu às pressas.
- Estava à espera do pai.
- O bife foi servido à moda da casa.

4º) Nas locuções que indicam meio ou instrumento e em outras nas quais a tradição linguís-
tica o exija: à bala, à chave, à mão, à tinta, à venda, à vista, à toa, à espera, etc. Com relação a essa
regra, há divergências entre os estudiosos da língua, porém, prefira o uso do acento grave.
Atenção: Neste caso não se pode usar a regra prática de substituir a por ao.
Ex.:
- Morto à bala.
- Escrito à mão.
- Pagamento à vista.
- Andava à toa.

5º) Antes dos relativos que, qual e quais, quando o a ou as puderem ser substituídos por ao
ou aos.
Ex.:
- Esta é a mulher à qual você se referiu.
(Equivalente: este é o homem ao qual você se referiu.)

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L Í NG U A P O RT U G UE S A

Mencionou as pesquisas às quais nos dedicamos. (Equivalente: mencionou os trabalhamos


aos quais nos dedicamos.)

NÃO SE USA CRASE NOS SEGUINTES CASOS:

1º) Palavras masculinas: TV a cabo, barco a remo, traje a rigor.


Exceção: Existe a crase quando se pode subentender uma palavra feminina, especialmente moda e
maneira, ou qualquer outra que determine um nome de empresa ou coisa.

Ex.:
- Salto à Luís XV (à moda de Luís XV).
- Estilo à José de Alencar (à maneira de).
- Refiro-me à UFRGS (universidade).
- Vou à Verbo Jurídico (editora)

2º) Nome de cidade: Chegou a Brasília. Iremos a Florença este ano.


Exceção: Há crase quando se atribui uma qualidade à cidade: Chegou à Brasília da corrupção. Ire-
mos à Florença das belas artes.

3º) Verbo: Rapidamente aprendeu a ler. Começou a estudar. Disposto a colaborar.

4º) Substantivos repetidos: Cara a cara, frente a frente, gota a gota, de ponta a ponta.

5º) Ela, esta e essa: Pediram a ela que saísse. / Cheguei a esta conclusão. / Dedicou o livro a essa
mulher.
6 º) Outros pronomes que não admitem artigo, como: ninguém, alguém, toda, cada, tudo, você,
alguma, qual, etc.

7 º) Formas de tratamento: Escreverei a Vossa Excelência. / Recomendamos a Vossa Senhoria... /


Pediram a Vossa Majestade...

8 º) Uma: Foi a uma festa. Exceções. Na locução à uma (ao mesmo tempo) e no caso em que uma
designa hora (Chegará à uma hora).

9º) Palavra feminina tomada em sentido genérico: Não damos ouvidos a reclamações. / Em respei-
to a morte em família, faltou ao serviço. Repare: Em respeito a falecimento, e não ao falecimento. /
Não me refiro a mulheres, mas a meninas.

Alguns casos são fáceis de identificar: se couber o indefinido uma antes da palavra femini-
na, não existirá crase. Assim: A pena pode ir de (uma) advertência a (uma) multa. / Igreja reage a
(uma) ofensa de candidato em Guarulhos. / As reportagens não estão necessariamente ligadas a
(uma) agenda. / Fraude leva a (uma) sonegação recorde. / Empresa atribui goteira a (uma) falha no
sistema de refrigeração. / Partido se rende a (uma) política de alianças.
Havendo determinação, porém, a crase é indispensável: Morte de vítima de roubo leva à
punição (ao castigo) dos ladrões. / Funcionário admite ter cedido à pressão (ao desejo) do chefe.

10 º) Substantivos no plural que fazem parte de locuções de modo: Pegaram-se a dentadas. /


Agrediram-se a bofetadas. / Progrediram a duras penas.

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11º) Nomes de mulheres célebres: Ele a comparou a Anita Garibaldi. / Preferia Julia Roberts a San-
dra Bullock.

12º) Dona e madame: Deu o dinheiro a dona Carmem . / Já se acostumou a madame Isabel.
Exceção: Há crase se o dona ou o madame estiverem particularizados: Referia-se à Dona Flor dos
dois maridos.

13º) Numerais considerados de forma indeterminada: O número de mortos chegou a cinco. / Nas-
ceu a 2 de junho. / Fez uma visita a três empresas.

14º) Distância, desde que não determinada: Ele ficou a distância. / O trem estava a distância.
Quando se define a distância, existe crase: O trem estava à distância de 300 metros da estação. /
Ele ficou à distância de dez metros dos assaltantes.

15º) Terra, quando a palavra significa terra firme: O navio estava chegando a terra. / O marinheiro
foi a terra. (Não há artigo com outras preposições: Viajou por terra. / Esteve em terra.) Nos demais
significados da palavra, usa-se a crase: Voltou à terra natal. / Os astronautas regressaram à Terra.

16º) Casa, considerada como o lugar onde se mora: Voltou a casa. / Chegou cedo a casa. (Veio de
casa, voltou para casa, sem artigo.) Se a palavra estiver determinada, existe crase: Voltou à casa
dos pais. / Faremos uma à Casa Branca.

VEJA ALGUMAS QUESTÕES DE CONCURSOS REFERENTES AO USO DA CRASE.

(...) Estudos a respeito de riqueza e pobreza ora dão quitação a classes pela forma quantita-
tiva da ordem do ganho econômico, ora pelo grau de consumo na sociedade capitalista, ora
pela forma de apresentação em vestuário, ora pela violência de quem não tem mais nada a
perder e assim por diante. O imaginário, em sua organização dinâmica e com sua capaci-
dade de produzir imagens simbólicas e estereótipos, maneja representações que possibili-
tam pôr ordem no caos. (...)

Questão de prova: Na linha 11, a ausência de sinal indicativo de crase no segmento “a


classes” indica que foi empregada apenas a preposição a, exigida pelo verbo dar, sem haver
emprego do artigo feminino.

Comentário: A palavra “classes” é um substantivo feminino tomado em sentido genérico,


portanto, não se deve empregar o artigo feminino. A preposição “a”, antes da palavra “clas-
ses” é exigida pelo verbo “dar”. A alternativa está CERTA.

(...) A ocultação, pela indústria do asbesto (amianto), dos perigos representados por seus
produtos provavelmente custou tantas vidas quanto as destruídas por todos os assassinatos
ocorridos nos Estados Unidos da América durante uma década inteira; e outros produtos pe-
rigosos, como o cigarro, também provocam, a cada ano, mais mortes do que essas.

Questão de prova: No segmento “quanto as destruídas” (l.14-15), o emprego do acento


grave é facultativo, visto que o termo “quanto” rege complemento com ou sem a preposição a.

Comentário: No segmento “quanto as destruídas” não há crase porque o “as” é um prono-


me demonstrativo que indica a repetição da palavra vidas. A alternativa está ERRADA.

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Um guia para quem quer denunciar crimes contra a natureza


1 Em parceria com a SOS Mata Atlântica, a maior
entidade ambientalista do país, a revista Veja, em sua edição
online, está oferecendo um roteiro para quem quer denunciar
4 crimes contra a natureza. São endereços, telefones e páginas na
Internet dos órgãos públicos ligados à preservação do meio
ambiente, catalogados estado por estado. Trata-se da parte
7 principal de um guia completo produzido pela SOS Mata
Atlântica, que traz ainda explicações sobre a legislação
ambiental e dados dos projetos realizados pela entidade.
Veja online, maio/2003 (com adaptações)

Questão de prova: Com base na estruturação sintática dos períodos do texto III,
assinale a opção correta.
Somente a alternativa D será analisada, por abordar o uso da crase.
(item D) O sinal indicativo de crase empregado na linha 5 é dispensável, porque “meio am-
biente” (l.5-6) é uma simples complementação do vocábulo antecedente.
Comentário: O sinal indicativo de crase utilizado neste período não é dispensável. Obser-
ve: “ligados a” + “a preservação” = “ligados à preservação”. A alternativa está ERRADA.

5.6 COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS


São pronomes átonos:

PRONOMES PESSOAIS me, te, se, o, a, lhe,


OBLÍQUOS nos, vos, os, as, lhes
PRONOMES SUBSTANTIVOS o, a, os, as (= aquele,
DEMONSTRATIVOS aquela, aqueles, aquilo,
etc.)

Em uma oração, o pronome oblíquo átono pode ocupar três posições em relação ao verbo. Essa
colocação pronominal recebe as seguintes classificações: próclise, ênclise e mesóclise.
A próclise ocorre quando o pronome está antes do verbo; já na ênclise o pronome posiciona-
se depois do verbo, enquanto que na mesóclise o pronome fica no meio do verbo. Veja a seguir as
particularidades de cada uma.

Próclise
→ pronome oblíquo átono antes do verbo.
1) Palavras com sentido negativo sempre irão atrair o pronome para junto de si.
- Não te quero aqui.
- Ninguém me faltou com o respeito.
- Nada me deixa tranquilo quando penso nela.

2) Os advérbios talvez, ontem, aqui, ali e agora atraem o pronome.


- Se falar com eles talvez se conheça a verdade.
- Ontem me disseram que não poderia frequentar o curso.

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3) Os pronomes relativos (quem, qual, que, cujo, onde, quando) pedem o uso de próclise.
- O seu irmão que me disse isso.
- A notícia à qual me referi é manchete do jornal de hoje.

4) Pronomes indefinidos (alguém, quem, algum, qualquer, cada qual, pouco, vários) atraem o pro-
nome para junto de si.
- Quem te disse isso?
- Alguém me contou.

5) Pronomes demonstrativos (isso, aquilo, aquele, aquela, esta, este, esse, essa) pedem o uso de
próclise.
- Isso me alegra muito!
- Aquilo me mostrou que não devo confiar em você.
- Esse me agrada.

6) Quando a preposição em aparece seguida de gerúndio, o uso da próclise é obrigatório.


- Em se tratando de gastronomia, a comida gaúcha é ótima!

7) As conjunções subordinativas e coordenativas (quando, se, como, porque, logo que, conforme,
mas) pedem o pronome junto de si.
- Ela sorriu logo que o viu.
- Ela partiu quando lhe contaram sobre o acidente dos pais.
- Fazia a lista de convidados, conforme me lembrava dos amigos mais próximos.

8) Em frases interrogativas.
- Quanto me cobrará pelo conserto do carro?
- Quem te buscará?

9) Em frases exclamativas ou ou optativas (que exprimem desejo).


- Deus o abençoe!
- Macacos me mordam!

10) Com formas verbais proparoxítonas.


- Nós o censurávamos.

Ênclise
Sua colocação pronominal ocorre com o uso do pronome oblíquo átono depois do verbo.

Atenção: não se deve iniciar orações com pronomes oblíquos átonos.

A ênclise ocorre quando:


1) O verbo iniciar a oração.
- Diga-me o que pretendes fazer.
- Convidaram-me para a festa de aniversário.

2) O verbo estiver no infinitivo.


- Quero levar-te ao cinema.

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3) O verbo estiver no imperativo afirmativo.


- Acompanhe-me, por favor.
- Sente-se aqui.

4) O verbo estiver no gerúndio.


- Saiu deixando-nos por instantes

5) Quando houver pausa antes do verbo ou vírgula.


- Se não for muito tarde, dirijo-me à escola agora.
- Se puder, retorno-te logo após o almoço.

Mesóclise
Na mesóclise o pronome fica no meio do verbo e essa colocação pronominal ocorre nos seguintes
tempos verbais: futuro do presente ou futuro do pretérito.
Exemplos:
O concurso realizar-se-á no próximo mês.
Far-lhe-ei uma proposta de trabalho.

O Pronome Oblíquo Átono nas Locuções Verbais

• Com palavras atrativas: quando a locução vem precedida de palavra atrativa, o pronome se colo-
ca antes do verbo auxiliar ou depois do verbo principal.
Exemplo:
Não lhe quero dizer o que aconteceu.
Não quero dizer-lhe o que aconteceu.

• No início da oração ou depois de pausa: quando a locução está no início da oração, não se usa o
pronome antes do verbo auxiliar.
Exemplo:
Posso-lhe dar um excelente desconto. (início da oração)
Posso dar-lhe um excelente desconto. (início da oração)
No inverno, pode-se esquiar no lago perto da minha casa. (pausa)
No inverno, se pode esquiar no lago perto da minha casa. (pausa)

• Sem atração nem pausa: quando a locução verbal não vem precedida de palavra atrativa nem de
pausa, admite-se qualquer colocação do pronome. Exemplo: Esse relacionamento lhe pode trazer
desgostos.
Esse relacionamento pode-lhe trazer desgostos.
Esse relacionamento pode trazer-lhe desgostos.

• Verbo auxiliar no futuro do presente ou no futuro do pretérito: Nesse caso, o pronome pode vir
em mesóclise em relação a ele.
Exemplo:
Ter-nos-ia dito a verdade.

• Particípio: Nesse caso, jamais se usa pronome oblíquo átono depois do particípio.
Exemplo:
Não a haviam esperado. (correto)
Não haviam esperado-a. (errado).

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• Os pronomes oblíquos átonos combinam-se entre si em casos como estes:


me + o/a = mo/ma
te + o/a = to/ta
lhe + o/a = lho/lha
nos + o/a = no-lo/no-la
vos + o/a = vo-lo/vo-la

Exemplos:
- Próclise: Eu não vo-lo expliquei?
- Ênclise: A encomenda, entregaram-lha ontem.
- Mesóclise: Dir-vo-lo-ei logo que souber.

• Emprego de “eu e tu” / “ti e mim”


Os pronomes “eu” e “tu” só podem figurar como sujeito de uma oração. Assim, não podem
vir precedidos de preposição funcionando como complemento. Para exercer esta função, deve-se
empregar as formas “mim” e “ti”.

Exemplos:
Nunca houve brigas entre eu e ela. (errado)
Nunca houve brigas entre mim e ela. (certo)
Todas as dúvidas entre eu e tu foram sanadas. (errado)
Todas as dúvidas entre mim e ti foram sanadas. (certo)
Sem você e eu, aquele trabalho não acaba. (errado)
Sem você e mim, aquele trabalho não acaba. (certo)
Perante eu e vós, aquelas criaturas são bem mais infelizes. (errado)
Perante mim e vós, aquelas criaturas são bem mais infelizes. (certo)

Observação: Os pronomes “eu” e “tu”, no entanto, podem aparecer como sujeito de um verbo no
infinitivo, embora precedidos de preposição.
Exemplos:
Não vais sem eu mandar.
Dei o dinheiro para tu comprares o carro.
Esta regra é para eu não esquecer.

Veja a seguir questões de concurso que abordam o uso dos pronomes átonos.
(...)
8 O corte de 125 mil empregos em junho indica que a esperança
9 de gradual retomada do crescimento do mercado de trabalho no
10 curto prazo era prematura e não deverá se concretizar. (...)
Questão de prova: Na linha 10, o deslocamento do pronome “se” para
imediatamente após a forma verbal “concretizar” — não deverá concretizar-se — não pre-
judicaria a correção gramatical do texto.
Comentário: Nas locuções adverbiais (deverá concretizar), o pronome oblíquo pode ficar
proclítico ou enclítico ao verbo auxiliar ou, ainda, enclítico ao principal. Se houver palavra
que motive a próclise (não), o pronome ficará antes do auxiliar ou enclítico ao principal. Por-
tanto, estão corretas ambas as formas não deverá se concretizar e não deverá concretizar-
se. A alternativa, portanto, está CERTA.

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1 Compreende-se que a festa, representando tal paroxismo de


2 vida e rompendo de um modo tão violento com as pequenas
3 preocupações da existência cotidiana, surja ao indivíduo como outro
4 mundo, em que ele se sente amparado e transformado por forças que
5 o ultrapassam. (...)
Questão de prova: A correção gramatical do texto seria mantida caso o elemento “se” nas
linhas 1 e 4 fosse anteposto e posposto às respectivas formas verbais — Se compreende e
sente-se.
Comentário: Embora contrarie um hábito de fala brasileira, não se deve, pelo menos na es-
crita, começar uma oração com pronome oblíquo átono. Portanto, a primeira alteração suge-
rida na alternativa está incorreta (Se compreende). Quanto à segunda alteração, dita a norma
que se deve usar a próclise quando aparecer um pronome relativo (em que ele se sente ampa-
rado), portanto o pronome “se” também não pode ficar posposto nesse caso. A alternativa,
portanto, está ERRADA.

REESCRITURA DE FRASES E
PARÁGRAFOS DO TEXTO
Este item será abordado de forma geral, pois entendemos que os subitens (6.1 Substituição
de palavras ou de trechos de texto e 6.2 Retextualização de diferentes gêneros e níveis de formali-
dade.) estão intrinsicamente ligados, já que a substituição de palavras ou trechos tem tudo a ver
com a retextualização.
Figuras de estilo, figuras ou desvios de linguagem são nomes dados a alguns processos que
priorizam a palavra ou o todo para tornar o texto mais rico e expressivo ou buscar um novo signifi-
cado, possibilitando uma reescritura correta de textos.

FIGURAS DE PALAVRAS

Compare estes exemplos:


- Achamos a chave da casa. (sentido próprio, usual, literal)
- Achamos a chave do problema. (sentido figurado, ocasional)

No segundo exemplo, a palavra chave sofreu um desvio na sua significação própria, toman-
do um sentido diferente do que o usual. Semelhantes desvios de significação a que são submetidas
as palavras, quando se deseja atingir um efeito expressivo, denominam-se figuras de palavras.

São as seguintes as figuras de palavras:

Metáfora
A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e
transportá-la para um novo campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação im-
plícita, de uma similaridade existente entre as duas.
Veja os exemplos:

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- Buscava o coração do Brasil.


Ora, o Brasil não possui o órgão biológico em questão. Portanto, coração significa aí o cen-
tro vital, a essência, o âmago do país.
- “Meu verso é sangue.” (Manuel Bandeira)
Ao associar verso a sangue, Manuel Bandeira estabeleceu uma analogia entre essas duas
palavras, vendo nelas uma relação de semelhança. Todos os significados que a palavra sangue su-
gere ao leitor passam também para a palavra verso.

A METÁFORA POSSUI ALGUMAS VARIAÇÕES:


Personificação - Atribuição de ações, qualidades ou sentimentos próprios do ser humano a seres
inanimados.
Ex.:
- Uma noite alegre.
A noite em si é neutra no que toca a sentimentos. Somos nós que podemos lhe atribuir
emoções.
O vento rugia, expressando sua fúria.
Comparam-se aqui os sons do vento aos rugidos de uma fera, bem como a sua intensidade
à expressão de um sentimento humano ou animal, a fúria.
Hipérbole - É o exagero puro e simples.

Ele era louco por seu time.


Com isso, quer se dizer que ele gostava demasiadamente, amava seu time, a ponto de per-
der a razão.

Depois que o namoro terminou, derramei rios de lágrimas.


Por mais que alguém chore, não formará sequer um riacho...

Símbolo - É a metáfora que acontece quando o nome de um ser ou coisa concreta assume
um valor convencional e abstrato.

A cruz pode enfrentar a espada.


Não se trata, naturalmente, de usar o crucifixo como arma. O que se quer transmitir é que a
religião cristã, simbolizada pela cruz, pode enfrentar a violência, simbolizada pela espada.

Sinestesia
É a figura em que se fundam as sensações visuais com auditivas, gustativas, olfativas, táteis.
A figura dos sentidos.

- O doce sabor da vingança.


A vingança não tem sabor, pois é uma abstração.
- Queria pintar o quarto com uma cor quente.
Por estar associada ao fogo, a cor transmite a sensação de calor. Por isso, pode ser chama-
da de "cor quente".

Catacrese
É uma variedade de metáfora natural da língua, de emprego corrente, que serve para suprir
a inexistência de um nome específico para determinada coisa.

Nariz do avião, pé da mesa, boca da noite, dente de alho, embarcar no trem, etc.

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Metonímia
Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas
algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação mútua. Tal substituição
fundamenta-se numa relação objetiva, real, realizando-se de inúmeros modos:

- o continente pelo conteúdo e vice-versa: Antes de sair, tomamos um copo (o conteúdo de um


copo) de suco.
- a causa pelo efeito e vice-versa: Ganho a vida com o suor do meu rosto. (o suor é o efeito ou re-
sultado e está sendo usado no lugar da causa, ou seja, o “trabalho”).
- o lugar de origem ou de produção pelo produto: Comprei uma garrafa do legítimo porto (o vinho
da cidade do Porto).
- o autor pela obra: Ele gosta de ler Machado de Assis. (a obra de Machado de Assis).
- o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não devemos contar com o seu coração (sentimento, sen-
sibilidade).
- o símbolo pela coisa simbolizada: A coroa (o poder) foi disputada pelos revolucionários.
- a matéria pelo produto e vice-versa: Lento, o bronze (o sino) soa.
- o inventor pelo invento: Edson (a energia elétrica) ilumina o mundo.
- a coisa pelo lugar: Vou à delegacia (ao edifício da delegacia).
- o instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo (guloso, glutão).

Sinédoque
Ocorre sinédoque quando há substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou
redução do sentido usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos sinédoque nos se-
guintes casos:

- o todo pela parte e vice-versa: “A cidade inteira (o povo) viu assombrada, de queixo caído, o
pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (parte das patas) de seu cavalo.” (J. Cândido de
Carvalho)
- o singular pelo plural e vice-versa: O carioca (todos os cariocas) é descontraído.
- o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum): Para os artistas ele foi um mece-
nas (protetor).

Antonomásia
Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou
fato que a distingue.
Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome, cuja
origem é um aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome próprio.

Exemplos:
- Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) / O poeta dos escravos (= Castro Alves)

Figuras de construção
As figuras de construção ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade ao sig-
nificado. Assim, a lógica da frase é substituída pela maior expressividade que se dá ao sentido.

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SÃO AS MAIS IMPORTANTES FIGURAS DE CONSTRUÇÃO:


Elipse
Consiste na omissão de um termo da frase, o qual, no entanto, pode ser facilmente identifi-
cado, tanto por elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto pelo contexto.

Exemplos:
- A cada um o que é seu. (Deve se dar a cada um o que é seu.)
- Pedro estava atrasado. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ele, Pedro, preferiu ir
direto para o trabalho, pois estava atrasado.)

Pleonasmo
Consiste no emprego de palavras redundantes para reforçar uma ideia. Exemplos: Ela vive
uma vida feliz.

Observação: Devem ser evitados os pleonasmos viciosos, que não têm valor de reforço, sendo antes
fruto do desconhecimento do sentido das palavras, como por exemplo, as construções “descer para
baixo”, “protagonista principal”, “sair para fora”, etc.

Polissíndeto / Assíndeto
Para estudarmos essas duas figuras de construção, é necessário recordar um conceito estu-
dado em sintaxe sobre período composto. No período composto por coordenação, podemos ter
orações sindéticas ouassindéticas. A oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo)
é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assindética.
Recordado esse conceito, podemos definir as duas figuras de construção:
• Polissíndeto
É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos.

Exemplo:
“Trabalha, e teima, e sofre, e lima, e sua!” (Olavo Bilac)

•Assíndeto
É uma figura caracterizada pela ausência, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando
no uso de orações coordenadas assindéticas.

Exemplo:
“Luciana, inquieta, subia à janela da cozinha, (e) sondava os arredores, (e)
bradava com desespero, até ouvia duas notas estridentes, (e) localizava o
fugitivo, (e) saía de casa como (...).” (Graciliano Ramos)

Inversão ou Hipérbato
Consiste em alterar a ordem normal dos termos ou orações com o fim de lhes dar desta-
que.

Exemplo: “Justo ela diz que é, mas eu não acho não.” (Carlos Drummond de
Andrade)
Observação: o termo que desejamos realçar é colocado, em geral, no início
da frase.

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Anacoluto
Consiste na mudança da construção sintática no meio da frase, ficando alguns termos des-
ligados do resto do período.

Exemplo:
Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.

Silepse
A silepse é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto, mas sim
com a ideia que ele representa. É uma concordância anormal, psicológica, espiritual, latente, por-
que se faz com um termo oculto, facilmente subentendido. Há três tipos de silepse: de gênero,
número e pessoa.

• Silepse de Gênero
Os gêneros são masculino e feminino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância
se faz com a ideia que o termo comporta.

Exemplo:
A bonita Porto Alegre sofreu mais uma vez com o frio intenso.
Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Alegre, que grama-
ticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a cidade de Porto
Velho).

• Silepse de Número
Os números são singular e plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da oração
não concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas com a ideia que nele está contida.

Exemplo:
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.

Note que no exemplos acima, o verbo gritavam não concorda gramaticalmente com o su-
jeito das oração (povo, que se encontra no singular), mas com a ideia de pluralidade que nele está
contida.

• Silepse de Pessoa
Três são as pessoas gramaticais: a primeira, a segunda e a terceira. A silepse de pessoa o-
corre quando há um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não concorda com o sujeito
da oração, mas sim com a pessoa que está inscrita no sujeito.

Exemplo:
Os professores temos orgulho de nosso trabalho.

Observe que o verbo temos não concorda gramaticalmente com os seu sujeitos (professo-
res que está na terceira pessoa), mas com a ideia que nele está contida (nós, os professores).

Onomatopeia
Consiste no aproveitamento de palavras cuja pronúncia imita o som ou a voz natural dos
seres. É um recurso fonêmico ou melódico que a língua proporciona ao escritor.

Exemplo:

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“Vozes veladas, veludosas vozes,


volúpias dos violões, vozes veladas,
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.” (Cruz e Sousa)

As onomatopeias podem resultar da aliteração (repetição de fonemas nas palavras de uma


frase ou de um verso) e da repetição (repetição de palavras ou orações para enfatizar a afirmação
ou sugerir insistência, progressão).

Zeugma
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a omissão de um termo já mencio-
nado anteriormente.
Exemplo:
Ele gosta de matemática; eu, de português.

Paranomásia
São palavras com sons semelhantes, mas de significados diferentes, vulgarmente chamada
de trocadilho.
Exemplo:
A queda do político eminente era iminente.
Neologismo
É a criação de palavras novas.

Exemplo:
O projeto foi considerado imexível.

FIGURAS DE PENSAMENTO
São processos estilísticos que se realizam na esfera do pensamento, no âmbito da frase.
Nelas intervêm fortemente a emoção, o sentimento, a paixão. Eis as principais figuras de pensa-
mento:

Antítese
Ocorre antítese quando há aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.

Exemplo:
“Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fa-
zem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal.” (Rui Barbosa).

Apóstrofe
Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma pessoa ou algo, real ou imaginário, que
pode estar presente ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é utilizada para dar
ênfase à expressão.

Exemplo:
“Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?” (Castro Alves).

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Eufemismo
Ocorre quando, no lugar das palavras próprias, são empregadas outras com a finalidade de
atenuar ou evitar a expressão direta de uma ideia desagradável ou grosseira.

Exemplo:
“E pela paz derradeira (morte) que enfim vai nos redimir Deus lhe pague”.
(Chico Buarque).

Gradação
Ocorre quando se organiza uma sequência de palavras ou frases que exprimem a intensifi-
cação progressiva de uma ideia.

Exemplo: “
Aqui… além… mais longe por onde eu movo o passo.” (Castro Alves).

Hipérbole
Ocorre hipérbole quando há exagero de uma ideia, a fim de proporcionar uma imagem
emocionante e de impacto. Consiste em aumentar uma expressão a fim de impressionar o interlo-
cutor.

Exemplo:
“Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac).

Ironia
Consiste em dizer o contrário do que pensamos, mas dando a entender o tom irônico, ge-
ralmente, com a intenção de obter uma reação do leitor, ouvinte ou interlocutor. A ironia estabele-
ce um contraste entre o que se pensa e o que fala ou escreve.

Exemplo:
Veja que “belo” serviço você fez! (A ideia de beleza é desmentida pela ênfase dada à
palavra “belo”, indicando que a intenção da pessoa é o contrário da expressa.
Paradoxo
Consiste no encontro de ideias que se opõem; ideias opostas. Paradoxo é a reunião de idei-
as contraditórias e aparentemente irreconciliáveis, num só pensamento, o que nos leva a expressar
uma verdade com aparência de mentira.

Exemplo:
“Amor é fogo que arde sem se ver, / é ferida que dói, e não se sente,
É um contentamento descontente, / É dor que desatina sem doer.” (Camões)

Personificação ou Prosopopeia ou Animismo


É uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados.
Exemplos:
- O céu está mostrando sua face mais bela.
- O cão mostrou grande sisudez.

Reticência
Consiste em suspender o pensamento, deixando-o meio velado.
Exemplo:
“De todas, porém, a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se digo.”
(Machado de Assis)

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Retificação
Como a própria palavra indica, consiste em retificar uma afirmação anterior.
Exemplo:
O policial, aliás uma policial muito prestativa, não sabia como solucionar o caso.

VÍCIOS DE LINGUAGEM
Ao contrário das figuras de linguagem, que representam realce e beleza às mensagens emi-
tidas, os vícios de linguagem são palavras ou construções que vão de encontro às normas gramati-
cais. Os vícios de linguagem costumam ocorrer por descuido, ou ainda por desconhecimento das
regras por parte do emissor. Veja, a seguir, os principais vícios de linguagem:

Pleonasmo Vicioso ou Redundância


Diferentemente do pleonasmo tradicional, tem-se pleonasmo vicioso quando há repetição
desnecessária de uma informação na frase.
Exemplo:
Entrei para dentro de casa quando começou a anoitecer.

Barbarismo
É o desvio da norma que ocorre nos seguintes níveis:

• Pronúncia

a) Silabada: erro na pronúncia do acento tônico.


Exemplo:
Solicitei à cliente sua rúbrica. (rubrica)

b) Cacoépia: erro na pronúncia dos fonemas.


Exemplo:
Estou com pobremas a resolver. (problemas)

c) Cacografia: erro na grafia ou na flexão de uma palavra.


Exemplo:
Eu advinhei quem ganharia o concurso. (adivinhei)
O policial deteu aquele homem. (deteve)
• Morfologia
Exemplo:
Se eu ir aí, vou me atrasar. (for)

• Semântica
Exemplo:
Ele comprimentou seu vizinho ao sair de casa. (cumprimentou)
• Estrangeirismos
Considera-se barbarismo o emprego desnecessário de palavras estrangeiras, ou seja, quando já
existe palavra ou expressão correspondente na língua.
Exemplo:
Após o trabalho, vou tomar um drink. (drinque)

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Solecismo
É o desvio de sintaxe, podendo ocorrer nos seguintes níveis:
• Concordância
Exemplo:
Haviam muitos alunos naquela sala. (Havia)

• Regência
Exemplo:
Eu assisti o filme ontem. (ao)
• Colocação
Exemplo:
Trabalhei tanto que não aguento-me em pé. (não me aguento em pé)

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MINISTÉRIO PÚBLICO
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS

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