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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REVERENDO ASHBEL GREEN

SIMONTON

JESSÉ CALIXTO OLIVEIRA ALVES

CONDUZINDO A IGREJA SEGUNDO A ORAÇÃO PARADIGMÁTICA DE JESUS

RIO DE JANEIRO

2017

JESSÉ CALIXTO OLIVEIRA ALVES

CONDUZINDO A IGREJA SEGUNDO A ORAÇÃO PARADIGMÁTICA DE JESUS


Monografia apresentada ao Seminário
Teológico Presbiteriano Reverendo Ashbel
Green Simonton, como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em Teologia.

ORIENTADOR: Prof. Ms. Sergio Kitagawa

RIO DE JANEIRO

2017

A Alves, Jessé Calixto Oliveira


Conduzindo a igreja segundo a oração paradigmática de Jesus / Jessé
Calixto Oliveira Alves. Rio de Janeiro, 2017.
52 f.
Orientador: Prof. Ms. Sergio Kitagawa.
Monografia (Graduação) - Seminário Teológico Presbiteriano
Reverendo Ashbel Green Simonton
CCD217

JESSÉ CALIXTO OLIVEIRA ALVES

CONDUZINDO A IGREJA SEGUNDO A ORAÇÃO PARADIGMÁTICA DE JESUS

Monografia apresentada ao Seminário


Teológico Presbiteriano Rev. Ashbel Green
Simonton, como requisito parcial à conclusão
do curso de Bacharel em Teologia.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Ms. Jackson Willian Marques Fonseca - Presidente


Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo Ashbel Green Simonton

Prof. Ms. Sérgio Tuguio Ladeira Kitagawa – Orientador


Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo Ashbel Green Simonton

Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo Ashbel Green Simonton


Presbitério Oeste do Rio de Janeiro
RIO DE JANEIRO

2017
DEDICATÓRIA

À minha esposa Amanda, pelo constante


incentivo e apoio e as minhas filhas,
Gabrielle e Karine.

AGRADECIMENTO

Ao Deus Pai Todo Poderoso, criador de todas as coisas, ao Deus Filho, Jesus Cristo meu
Salvador e ao Deus Espírito Santomeu consolador. Digno de receber a nossa adoração por ter
me concedido força para concluir este trabalho.Sem Ele nada disso seria possível.

A minha amada esposa Amanda Gonçalves, pela paciência, compreensão e incentivo,


principalmente nas horas mais difíceis.
A minha mãe Ester; minha avó Nilza; e as minhas filhas Gabrielle e Karine que sempre me
incentivaram e contribuíram preponderantemente ao longo desta caminhada.

A Segunda Igreja Presbiterianade Anchieta, a SAF desta igreja, ao Presbitério Oeste do Rio
de Janeiro (PORJ), e a Primeira Igreja Presbiteriana do Parque Anchieta por me apoiarem
financeiramente. ao longo desses cinco anos.

Aos irmãos, Nelson Santiago, Paulo Fernando, Roberto Alves, Elias Chaves, Carlos
Castorino, por me ajudarem financeiramente com recursos pessoais.

Aos irmãos Robson Dias, Marcos Escolares e Brian Kibuuka por me ajudarem em momentos
muito difíceis.

Ao meu tutor, Rev. Jeferson Queiroz pelo apoio pastoral, pela amizade e incentivo.

Aos professores do Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo Ashbel Green Simonton,


pela formação.

Ao Prof. Ms. Sergio Kitagawa, pela orientação, paciência e significativa contribuição em


minha formação.

A todos os funcionários do Seminário, em especial ao Marcos, Rossana e Eliane.

RESUMO

Este trabalho, aborda a Oração do Pai Nosso. Ela será apresentada como modelo
paradigmático para conduzir a igreja, na relação vertical e horizontal, ou seja, na relação com
Deus e com o próximo. A partir dos princípios contido no ensino de Jesus aos seus discípulos.

No primeiro capítulo, aborda-se a temática da oração na concepção bíblica, analisando no


Antigo e Novo Testamento a etimologia do termo oração e algumas de suas características.
Em seguida, uma análise das versões da oração do Pai Nosso.

No segundo capítulo, apresentamos como a oração do Pai Nosso pode ser aplicada na
primeira esfera do relacionamento. Ou seja, na comunhão com Deus. Ela aponta para a busca
de uma maior intimidade com Deus, que, por conseguinte resultará na sua glorificação e no
cumprimento de sua vontade.

Por fim, no terceiro capítulo, a oração do Pai Nosso é apresentada na esfera da relação
horizontal. Em outras palavras, na relação com o próximo. Como ela pode ser aplicada neste
contexto. Deste modo, a oração do Pai Nosso conduz a igreja para o amor fraternal, para o
perdão como essencialmente necessário a vida comunitária e a vigilância contra as tentações
malignas que podem prejudicar a comunhão na congregação.

Palavras-Chaves: Oração, Modelo, Igreja, Relacionamento.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................9

2. VOCABULÁRIO DA ORAÇÃO E O PAI NOSSO...................................................12

2.1 O VOCABULÁRIO VETEROTESTAMENTÁRIO DA ORAÇÃO.......................12

2.1.1 O VERBO ‘ORAR’..........................................................................................12

2.1.2 O SUBSTANTIVO ‘ORAÇÃO’........................................................................13

2.1.3 A EXPRESSÃO “ORAÇÃO E SÚPLICA”.......................................................14

2.1.4 ORAÇÃO DE LOUVOR..................................................................................15

2.1.5 A ‘PETIÇÃO’...................................................................................................16
2.2 ORAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO...............................................................16

2.2.1 O TERMO ‘ORAÇÃO’.....................................................................................17

2.3 A ANÁLISE DA ORAÇÃO DO PAI NOSSO......................................................17

2.3.1 AS VERSÕES DE MATEUS E LUCAS..........................................................18

3. O RELACIONAMENTO VERTICAL........................................................................22

3.1 UM GUIA PARA IGREJA...................................................................................23

3.2 A INTIMIDADE COM DEUS: “PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS” (MT 6.9;
LC 11.2)...................................................................................................................23

3.3 A BUSCA PELA GLORIFICAÇÃO DE DEUS “SANTIFICADO SEJA O TEU


NOME” (MT 6.9 LC 11.2).........................................................................................26

3.3.1 O “NOME” DE DEUS......................................................................................26

3.3.2 A SANTIDADE DE DEUS...............................................................................27

3.4 SUBMISSA A VONTADE DO PAI “VENHA O TEU REINO” (MT 6.10; LC 11.2)
.................................................................................................................................28

4. O RELACIONAMENTO HORIZONTAL..................................................................33

4.1 ORAÇÃO COMUNITÁRIA.................................................................................34

4.2 ORAÇÃO DE AMOR.........................................................................................35

4.3 ORAÇÃO DE RELACIONAMENTO PRÁTICO.................................................36

4.4 O PERDÃO. “E PERDOA-NOS AS NOSSAS DIVIDAS, ASSIM COMO NÓS


TEMOS PERDOADO AOS NOSSOS DEVEDORES; ...” (MT 6.12; LC 11.4)........38

4.4.1. CONCEITO DE PERDÃO..............................................................................38

4.4.2 A NECESSIDADE DO PERDÃO....................................................................39

4.4.3 PERDÃO E COMUNHÃO...............................................................................39

4.4.4 PERDÃO E RECONHECIMENTO.................................................................40

4.4.5 PERDÃO E SAÚDE........................................................................................40

4.5 PEDINDO PROTEÇÃO PARA COMUNIDADE “E NÃO NOS DEIXE CAIR EM


TENTAÇÃO; MAS LIVRA-NOS DO MAL”...............................................................42

4.5.1 AS FONTES DAS TENTAÇÕES....................................................................42


4.5.2 VIGILÂNCIA COMUNITÁRIA CONTRA A TENTAÇÃO.................................44

4.5.3 TENTAÇÕES MALIGNAS QUE COMPROMETEM A COMUNIDADE.........45

4.5.4 PLURALIZAÇÃO............................................................................................46

4.5.5 PRIVATIZAÇÃO.............................................................................................47

4.5.6 SECULARIZAÇÃO.........................................................................................49

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................50

REFERÊNCIAS...........................................................................................................52
9

1. INTRODUÇÃO
Diante do cenário religioso atual, marcado por inúmeras confusões teológicas e práticas das
comunidades evangélicas, a presente pesquisa visa apresentar princípios contidos na oração
do Pai Nosso como paradigma na condução da igreja, conduzindo-a corretamente na maneira
de se relacionar com Deus e o próximo. Quanto à relação com Deus, buscar desenvolver
íntima comunhão, almejar a consumação de seu reino, desejar que sua vontade seja feita na
terra como é feita no céu. E em relação à comunhão com o próximo, expressar o amor cristão,
exercer o perdão sempre que houver necessidades de reatar a comunhão e cuidar para que o
mal não atinja a congregação.
A oração é essencialmente uma comunicação pessoal estabelecida com Deus mediante Jesus
Cristo. No entanto, este trabalho consiste numa abordagem específica dos elementos basilares
da comunhão vertical e horizontal. Em outras palavras, o trabalho não desenvolve a oração
em seu aspecto comunicativo de comunhão. Mas a partir da oração ensinada por Jesus,
abordou a oração como paradigma na condução da igreja em seu relacionamento com Deus e
o próximo, em uma abordagem bíblica e reformada, sob a ótica da teologia Sistemático-
Pastoral.
A oração do Pai Nosso é o modelo por excelência. Ela foi ensinada por Jesus aos discípulos
como a maneira correta de se relacionarem com Deus. E atualmente ela pode ser usada como
modelo para conduzir a igreja numa relação vertical e horizontal, pois, em sua estrutura
literário-teológica ela traz aspectos que permitem essa aplicação. A exemplo dos Dez
Mandamentos, a primeira parte traz ensinamentos referentes a Deus e a segunda parte refere-
se à relação com o próximo.

Por que aplicar a oração do Pai Nosso como um modelo eclesiástico? Primeiro, por serem
palavras diretas de Jesus, por conseguinte um modelo seguro e confiável. Segundo, por ser um
caminho que conduz à essência da vida cristã; o amor a Deus e ao próximo. A igreja no
primeiro século já usava a oração do Pai Nosso como padrão de ensino. Deste modo, voltar
aplica-la não seria uma invenção atual.

Atualmente há muitos modelos de trabalho para se trabalhar com a comunidade. No entanto, é


preciso investir em modelos bíblicos, como a oração do Pai Nosso. A igreja não achará fora
das Escrituras um modelo eficiente que conduza à comunhão com Deus e o outro. A Escritura
é a única regra de fé e prática. Somente ela pode oferecer um caminho seguro à comunidade
cristã em todas as épocas.
10

O tema é relevante pela proposta apresentada. A oração do Pai Nosso é apresentada como um
caminho seguro para o desenvolvimento maduro na relação com Deus e com os homens.
Devemos lutar para que nossas comunidades locais não busquem relacionar-se com Deus sem
nenhuma referência bíblica para não cometerem equívocos. Como por exemplo, ensinar seus
membros a determinarem suas “bênçãos”, querendo fazer prevalecer suas vontades. E quanto
ao relacionamento com o próximo, evitar que sejam guiados a viver uma filosofia utilitarista.
Assim sendo, é importante que se tenha um referencial escriturístico, como os princípios
extraídos do Pai Nosso, para que de maneira correta a congregação possa edificar seu
relacionamento com Deus e o próximo. De modo que saibam que na relação com Deus em
primeiro lugar esteja a sua vontade. E na relação com próximo, o amor e a disposição, sempre
que necessário, reestabelecer a comunhão através do perdão.

Durante o preparo da pesquisa foram priorizadas fontes que pudessem trazer contribuições
relevantes. A pesquisa procurou trabalhar com obras clássicas e contemporâneas. Buscando
reunir diversos autores de diferentes linhas de pensamento, a fim de obter opiniões que
conduzissem ao resultado obtido. Os dados levantados foram de livros, artigos, e fonte digital.
Contou-se com livros da biblioteca do Seminário Simonton, e alguns livros particulares.

O presente trabalho procurará responder a seguinte questão: Como a oração paradigmática de


Jesus é basilar para o pastoreio da igreja hoje? Em decorrência desta questão, propõem-se a
seguinte hipótese: Através de princípios que apontam para um correto relacionamento com
Deus e o próximo.

O primeiro capítulo é dividido em duas partes. A primeira parte aborda o vocabulário da


oração. Analisando, os principais termos do Antigo e Novo Testamento. A segunda parte
apresenta uma análise textual das versões da oração do Pai Nosso. Ou seja, uma comparação
entre a versão de Mateus e Lucas.

O segundo capítulo consiste na apresentação do aspecto vertical da oração do Pai Nosso. Isto
é, a forma de dirigir se a Deus. Assim, aborda-se três princípios norteadores aplicáveis a
igreja para a relação com Deus. O primeiro elemento é a busca pela intimidade com Deus.
Buscar desenvolver uma relação baseada no amor, como os filhos amam seus pais. Por
seguinte desenvolver uma relação servil, onde a igreja serve a Deus. O segundo elemento é o
desejo pela glorificação de seu nome. Levando a igreja viver em santidade para esse
propósito. E o terceiro é a completa submissão a sua vontade. Guiando a igreja na
11

concretização cada vez mais evidente do reino de Deus. Esses três aspectos são destacados na
primeira parte da oração do Pai Nosso para balizar a condução da igreja na relação com Deus.

O terceiro capítulo deste trabalho, apresenta o aspecto horizontal. Ou seja, ensinos extraídos
da oração que podem regular a relação entre os homens. Deste modo, também são três ensinos
abordados. O primeiro enfatiza o amor fraterno. Mostrando que a própria oração objetiva um
amor pratico na comunidade. O segundo elemento desta abordagem é o perdão. O perdão é
um exercício muito importante para vida comunitária da igreja. E o último elemento
apresentado neste capitulo é a diligencia contra a tentações deste mundo. Pois, há várias
formas de tentações que sobre vem à igreja para prejudicar a comunhão da mesma.

Em suma, a presente monografia se propõe a apresentar a oração do Pai Nosso como uma
opção de modelo estratégico no desenvolvimento da igreja. Estratégia fundamentada em
princípios ensinado pelo Senhor Jesus a seus discípulos. Oferecendo, assim, para a igreja de
nossos dias uma aplicação da maneira correta de relacionar se com Deus e o próximo.
12

2. VOCABULÁRIO DA ORAÇÃO E O PAI NOSSO

A Bíblia apresenta, tanto no Antigo como no Novo Testamento, um rico vocabulário para se
referir à comunicação entre Deus e o ser humano. Parte desse vocabulário guarda relações
com a Oração do Pai Nosso. O objetivo deste capítulo é apresentar a teologia bíblica da
oração a partir da análise vocabular, e apresentar uma análise principalmente da oração do Pai
Nosso em Mateus e Lucas.

A primeira parte do capítulo é dedicada à análise do vocabulário veterotestamentário da


oração. A começar pelo verbo “orar”, o substantivo “oração”, a expressão “oração e súplica”,
os tipos de oração (“oração de louvor”, “petição”), a oração não ouvida e o lugar dedicado à
oração, esta pesquisa procura elucidar as bases formais, vocabulares e teológicas a partir das
quais a análise da oração do Pai-Nosso será construída.

A segunda parte do capítulo é dedicada à análise da oração no Novo Testamento. Observa-se


as continuidades e descontinuidades com a concepção de oração do Antigo Testamento.

A terceira parte deste capítulo é dedicada à análise do vocabulário do Pai-Nosso, tanto no


evangelho de Mateus, quanto no evangelho de Lucas. O caráter modelar da oração do Pai-
Nosso e a sua relação com os Dez Mandamentos também são analisados, com ênfase nos
conceitos de verticalidade e horizontalidade, que serão utilizados nos capítulos que seguem.

2.1 O VOCABULÁRIO VETEROTESTAMENTÁRIO DA ORAÇÃO

A Bíblia apresenta a oração como meio de interação com Deus. O Antigo Testamento
apresenta súplicas, intercessões, ações de graças e orações de forma espontânea, seja em nível
individual, seja no nível coletivo. Procurar-se-á, no que segue, tratar das crenças e
pressupostos "mínimos" subjacentes à prática da oração na Bíblia. Para tanto, serão analisados
os vocábulos hebraicos utilizados no Antigo Testamento para se referir à oração.

2.1.1 O VERBO ‘ORAR’

O verbo hebraico que trata da oração no Antigo Testamento é athar. Este termo significa;
suplicar; fazer uma oração ou pedido sincero, pedir, implorar. Ele ocorre cerca de 20 vezes.
Uma dessas ocorrências está no texto de Gênesis 25.21, onde está escrito: “Isaque orou ao
13

SENHOR por sua mulher, porque ela era estéril; e o SENHOR lhe ouviu as orações, e
Rebeca, sua mulher, concebeu”.1

O verbo athar também é utilizado para a oração de contrição, ocorrendo no episódio em que
Manassés faz a oração de contrição durante seu cativeiro na Babilônia (2 Crônicas 33.12-13).
Manassés, o governante, dirige sua oração a Deus em favor de si e do seu povo, assumindo
suas responsabilidades diante de YHWH e pedindo misericórdia a Deus pelas suas más-ações
prévias.

Além disso, athar também está relacionado em outras ocorrências ao sacrifício feito por
alguém para Deus, em favor de alguma causa. Na passagem de 2 Samuel 24.15 Davi instruído
pelo profeta Gade, oferece sacrifícios a Deus para que a praga em Israel cessasse. Sendo
assim, o verbo athar tem um sentido de suplicar a Deus, ou implorar pela sua misericórdia. O
verbo é aplicado tanto em relação a um pedido feito em favor de si ou de outro, no contexto
da intercessão. (ALLEN, 1998, p.1192-93)

Observa-se, portanto, que o relacionamento com Deus, seja nas necessidades, seja nas
aflições, se dá pela oração. A oração é uma ação religiosa, sagrada, uma ação em direção a
Deus por uma causa. Seja em questões domésticas (Isaque, no exemplo acima), seja nas
cívicas (Manassés e Davi), orar é o ponto de contato entre quem suplica, sua condição e o
Deus a quem o suplicante confia a causa.

2.1.2 O SUBSTANTIVO ‘ORAÇÃO’

O Antigo Testamento possui um conjunto de palavras para designar a oração, sejam


substantivos, adjetivos ou verbos. A palavra hebraica mais comum para se referir à oração é o
substantivo tephillar. Ela é encontrada 76 vezes no Antigo Testamento, sendo 32 vezes nos
Salmos. Os Salmos 17, 86, 90, 102, 142 apresentam o termo tephillar no seu cabeçalho,
indicando assim o gênero literário dessas canções em forma de súplica (ALLEN, 1998,
p.1218-19).

O termo tephillar também aparece no texto de 2 Samuel 7.27: “Pois tu, ó SENHOR dos
Exércitos, Deus de Israel, fizeste ao teu servo esta revelação, dizendo: Edificar-te-ei casa. Por
isso, o teu servo se animou para fazer-te esta oração”. Aqui, Davi fala com Deus motivado
pela revelação que recebeu por meio do profeta Natã. A instrução profética dirige o alvo do
oráculo a clamar a Deus, tomando a iniciativa de se aproximar de YHWH. Portanto, tephillar

1 Todas as citações bíblicas são provenientes da versão de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada
(ARA).
14

é um vocábulo relacionado à reação diante da Palavra de Deus enunciada, que conduz à


resposta humana – e tal resposta é a oração.

Além desta passagem, o vocábulo também surge em 2 Reis 20.5, texto que contém a oração
feita pelo rei Ezequias após o profeta Isaías dizer que o rei morreria. O contexto, análogo ao
mencionado acima, é também a resposta ao oráculo profético, mas agora em um sentido
negativo. Ezequias, diante do anúncio de que morreria em breve, orou ao Senhor. Deus ouviu
a oração e enviou o profeta para dizer que ele teria mais quinze anos de vida. Portanto,
tephillar é um termo alusivo também à comunicação feita com Deus visando o objetivo de
obter uma resposta urgente e derradeira. Tal comunicação pode se caracterizar por outros
elementos motivadores, a saber: a oração de louvor, em que há uma comunicação com Deus a
partir do motivo específico do reconhecimento de suas obras; ou a oração de ação de graças,
feita por ocasião ao cumprimento de um voto (Ver: Salmo 116).

2.1.3 A EXPRESSÃO “ORAÇÃO E SÚPLICA”

A palavra tephillar não é exclusiva para designar a oração no Antigo Testamento. Um


segundo termo, tahanun, cuja tradução básica é “súplica”, “misericórdia”, também é muito
comum. Tal termo ocorre 24 vezes no Antigo Testamento, e tem relações com outros termos
que utilizam a mesma raiz e/ou campo semântico, como: hin (ser gracioso”, “ser piedoso”,
“implorar”), hen (favor, graça), ) ‫“םם‬l‫“חּננ‬livremente”), hin) “graça”, termo que ocorre apenas em
Jó 41.4),hannun) “gracioso”(,hanina) “favor”) ethinna(“súplica”). (YAMAUCHI, 1998,
p.494)

A palavratephillar geralmente vem acompanhada do termotehinar. O uso desses dois termos


juntos pode ser utilizado para qualificar a oração, ou então para indicar vocábulos sinônimos,
em uma estrutura de reforço semântico mediante a repetição da mesma ideia em duas palavras
diferentes.

Quando a palavra “súplica” qualifica a oração, ela enfatiza a comunicação estabelecida e é


indicativa da intensidade do pedido por misericórdia. Em Daniel 9.3, está escrito assim:
“Voltei o rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de
saco e cinza”. Aqui, destaca-se o caráter urgente dos rogos de Daniel, feitos e situação
adversa.

Quando a palavra “súplica” é sinônima da palavra “oração”, tal denota uma estrutura literária
conhecida como “paralelismo sinonímico”, muito usada no livro dos Salmos. Exemplo disto é
o Salmo 86.6: “Escuta, SENHOR, a minha oração e atende à voz das minhas súplicas”.
15

Então, tanto na primeira possibilidade, quanto na segunda, pode ser claramente percebido que
o sentido da expressão “oração e súplica” é denotativo da tentativa de implorar o favor do
Senhor. A oração é uma comunicação cujo interlocutor é Deus, e nem sempre a oração
envolve algum pedido. Mas no caso da súplica, tal é essencialmente um pedido feito com
intensidade.

2.1.4 ORAÇÃO DE LOUVOR

A partir do vocabulário bíblico relacionado ao “louvor”, o termo mais recorrente é o verbo


yãdâ, que significa “confessar”, “louvar”, “dar graças” e “agradecer”. O uso mais comum
desse verbo nas Escrituras é no sentido de expressar ou a proclamar publicamente os atributos
e as obras de Deus. O anúncio das obras de YHWH em um sentido positivo é a ideia essencial
do verbo “louvar”. Ou seja, o verbo yãdâ é utilizado para declarar quem Deus é e o que ele
faz em favor de quem ele abençoa. Sendo assim, yãdâ é uma palavra-chave para comunicar os
feitos do Senhor e a reação diante de suas obras em favor de quem ora. (ALEXANDER, 1998,
p.596)

Há uma relação entre o louvor e a oração: é possível que “louvar” seja uma forma de
especificar o tipo de oração realizada, destacando assim o conteúdo elogioso da oração. A
oração de louvor é feita em reconhecimento daquilo que Deus é ou fez, e quem ora dá graças
a Deus diante de alguma graça ou favor recebido. Essas declarações de reconhecimento são
comumente encontradas nos livros de Salmos. O Salmo 89.5, por exemplo, afirma: “Celebrem
os céus as tuas maravilhas, ó Senhor, e, na assembleia dos santos, a tua fidelidade”. Além
deste verso, há salmos inteiros de louvor, como o 105, 106 ou 145 (ALEXANDER, 1998,
p.597).

Em 1 Crônicas 29.13 há outro exemplo de oração de louvor. Nesta oração feita por Davi está
escrito: “Agora, pois, ó nosso Deus, graças de damos e louvamos o teu glorioso nome”. No
contexto desta oração o rei Davi está diante de toda a congregação de Israel e publicamente
reconhece e declara aos atributos as obras de Deus. E juntamente com todos, agradece
(ALEXANDER, 1998, p.597).

A oração de louvor, portanto, é aquela que declara os atributos de Deus e reconhece suas
obras, com gratidão no coração. Em outras palavras, louvar a Deus é falar com o Senhor de
forma elogiosa, laudatória.
16

2.1.5 A ‘PETIÇÃO’

O termo hebraico que trata da petição no Antigo Testamento é bã´û. Este termo significa:
“pedido”, “petição”. Na liturgia judaica, o termo significa “orar”. O número de ocorrências do
termo é incerto, mas é evidente que bã´u é uma palavra chave no livro de Daniel (ISBELL,
1998, p.1672-73).

A palavra bã´û apresenta também a ideia de “procurar o favor divino” ou “pedir a um rei”.
Esta ideia aparece claramente no capítulo 6 de Daniel. O contexto da passagem diz respeito à
conspiração dos inimigos de Daniel que, na tentativa de matá-lo, aconselharam o rei a
decretar que ninguém podia fazer qualquer pedido a quem quer que seja, a não ser ao próprio
rei. Tudo isso fora feito para ter um pretexto para acusar Daniel perante o soberano (Daniel
6.13): “Então, responderam e disseram ao rei: Esse Daniel, que é dos exilados de Judá, não
faz caso de ti, ó rei, nem do interdito que assinaste; antes, três vezes por dia, faz a sua oração”
(ISBELL, 1998, p.1672-73).

Enfim, o próprio termo “petição” é derivada da ação de fazer um pedido, a saber: um pedido
direcionado a Deus.

2.2 ORAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

As orações do Novo Testamento são direcionadas para o desenvolvimento no discipulado, no


seguimento de Cristo, não meramente para o conforto na vida. A oração neotestamentária
também está menos relacionada à felicidade do que à santidade. Um exemplo simples está em
Filipenses 1.9-11:

E assim oro, com o fim de que o nosso amor seja mais abundante em
reconhecimento e todo discernimentopara que vós aproveis as coisas essenciais, para
que sejais puros e inculpáveis para o dia de Cristo,cheios de fruto de justiça, o que é
através de Jesus Cristo para glória e louvor de Deus.

Paulo, no texto, orienta que os filipenses cresçam em amor, em sabedoria, em maturidade e


em piedade, sendo “cheios do fruto de justiça”. Atos 4.23-31 ainda ensina que, diante da
perseguição, em vez de orar pela sua própria proteção, os discípulos oram para que possam
continuar testemunhando efetivamente. Sendo assim, é imprescindível analisar algumas
orações do Novo Testamento e utilizar essas orações como base e fundamento da análise do
17

Pai Nosso. A preocupação da oração não é o próprio bem: é o louvor, a glória e o


cumprimento do propósito de Deus na vida de quem ora.

2.2.1 O TERMO ‘ORAÇÃO’

No Novo Testamento, os termos gregos mais comuns que tratam da oração são:
proseuchomai e proseuché. O verbo proseuchomai ocorre 85 vezes no Novo Testamento. O
seu significado é “orar”, “rogar”. Quanto ao substantivo proseuché, este ocorre 37 vezes, e
significa “oração”. Estes termos são equivalentes aos principais termos para oração no Antigo
Testamento. (SCHONWEISS, 1998, p.1447-48)

O substantivo proseuché aparece no texto de Mateus 21.21-22:

Respondeu Jesus dizendo para eles: amém, eu digo para vós, se tiverdes fé e não
hesitardes, não apenas fareis o que foi feito à figueira, mas também a esse monte
direis: ergue-te e lança-te para o mar, e acontecerá, e tudo quanto puderdes pedir em
oração, crendo, recebereis.

O texto apresenta uma relação entre a oração e os obstáculos da vida. A fé é indicada como o
instrumento para a oração: orar é ato de confiança em Deus. E o resultado da oração feita com
fé é a mudança do panorama natural. O Deus Criador modifica, segundo Jesus, a ordem e a
condição daquilo que foi criado quando a oração de alguém é feita consoante à sua vontade.

Por outro lado, a passagem paralela em Marcos 11.23-24 apresenta o verbo proseuchomai:

[...] porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e
lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim
será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que
recebestes, e será assim convosco”.

A partir deste texto, vê-se que a oração é um ato, uma ação de quem ora em relação ao Deus
que ouve a oração (SCHONWEISS, 1998, p.1447-48).

2.3 A ANÁLISE DA ORAÇÃO DO PAI NOSSO

Os discípulos de Jesus, nos evangelhos, pediram ao Senhor que ele os ensinasse a orar como
João Batista ensinara aos seus discípulos (Lucas 11.1). O resultado do pedido dos discípulos
foi a oração do Pai-Nosso. Tal oração pode ser encontrada tanto em Lucas 11.2-4, quanto em
Mateus 6.9-15.
18

A diferente extensão e vocabulário entre as versões da Oração do Senhor em Mateus e Lucas


consiste um obstáculo inicial à pesquisa dos sentidos da oração do Pai-Nosso. O caráter
modelar de tal oração, bem como sua divisão que perpassa as dimensões da vida cristã (tanto
na relação com Deus quanto na relação com o próximo) demonstram a necessidade de
investigação do seu vocabulário, estrutura e aplicações. No que segue, tratar-se-á, portanto, da
apresentação das versões da oração do Pai-Nosso, a argumentação em torno de sua condição
modelar e a relação entre tal oração e o Decálogo.

2.3.1 AS VERSÕES DE MATEUS E LUCAS

A oração do Pai nosso tem duas versões, uma em Mateus 6.9-15, e a outra em Lucas 11.2-4,
sendo a versão de Lucas menor que a de Mateus. Veja a comparação:

Petição Mateus 6.9-15 Lucas 11.2-4

Invocação Pai nosso que estás nos céus; Pai

1ª petição santificado seja o teu nome; santificado seja o teu nome;

2ª petição venha o teu reino; venha o teu reino.

3ª petição faça-se a tua vontade, assim na


terra como no céu;

4ª petição o pão nosso de cada dia dá-nos o pão nosso cotidiano dá-nos de dia
hoje; em dia;

5ª petição e perdoa-nos as nossa dividas, perdoa-nos os nossos pecados, pois


assim como nós temos perdoado também nós perdoamos a todos os
aos nossos devedores; que nos deve;

6ª petição e não nos deixe cair em tentação; e não nos deixe cair e tentação.

7ª petição mas livra-nos do mal

Doxologia [pois teu é o reino, o poder e a


glória para sempre. Amém]!

Explicação Porque, se perdoardes aos homens


as suas ofensas, também vosso Pai
celeste vos perdoará; se, porém,
não perdoardes aos homens [as
suas ofensas], tampouco vosso Pai
vos perdoará as vossas ofensas.
19

A invocação de ambas as versões é a mesma no tocante à relação entre Deus e o orante. Em


ambas, Deus é chamado de Pai. A versão de Mateus pressupõe que tal oração seja coletiva,
uma vez que Deus é chamado de “Pai nosso”. A alteridade de Deus também é destacada
através da menção do lugar de proveniência de Deus, os céus, em consonância com a
expressão “reino dos céus” que Mateus traz de forma recorrente em seu evangelho (Mateus
3.2; 4.17; 5.3,10,19-20; 7.21; 8.11; 10.7; 11.11-12; 13.11,24,31,33,44-45,47,52; 16.19;
18.1,3-4,23; 19.12,14,23; 20.1; 22.2; 23.13; 25.1).

Em relação a 1ª e 2ª petições, as redações são idênticas (“santificado seja o teu nome”/”venha


teu reino”). Porém, a 3ª petição presente em Mateus (“faça-se a tua vontade, assim na terra
como no céu”) continua vinculando a oração do Pai-Nosso em Mateus ao tema mais geral do
evangelho: a manifestação do reino dos céus na comunidade dos cristãos, a Igreja.

A 4ª petição do evangelho de Mateus é semelhante à petição do evangelho de Lucas. Em


Mateus, porém, usa-se a expressão “pão nosso de cada dia dá-nos hoje”, enquanto Lucas usa a
expressão mais elaborada “o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia”. O sentido de ambos é
análogo; porém, Lucas está enfatizando a recorrência da doação de pão feita por Deus, em
contraste com Mateus, cuja petição é pelo pão do dia em que a oração é feita.

Outra diferença entre as orações encontra-se na 5ª petição. Mateus diz “dívidas” e


“devedores”. Lucas, por sua vez, fala de “pecados” e “todos os que nos devem”. O destaque
às dívidas e devedores de Mateus cultiva mais uma relação com o contexto do evangelho:

23 Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com
os seus servos. 24 E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil
talentos. 25 Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse
vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. 26
Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te
pagarei. 27 E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e
perdoou-lhe a dívida. 28 Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus
conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me
o que me deves. 29 Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê
paciente comigo, e te pagarei. 30 Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou
na prisão, até que saldasse a dívida. 31 Vendo os seus companheiros o que se havia
passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera.
32 Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela
dívida toda porque me suplicaste; 33 não devias tu, igualmente, compadecer-te do
teu conservo, como também eu me compadeci de ti? 34 E, indignando-se, o seu
senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. 35 Assim
também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.
(Mateus 18.23-35)
20

A questão do perdão das dívidas em Mateus, e a necessidade de perdão, é central na relação


intracomunitária, tendo destaque no capítulo 18. Em Lucas, o pedido pelo perdão dos pecados
lança a oração na questão da oração não-respondida, tratada acima, e consonante com a
teologia da oração no Antigo e Novo Testamento.

Os acréscimos de Mateus, seja na invocação, seja na terceira petição, seja na doxologia, são
todos contextuais e dão coesão entre a oração e a mensagem do evangelho. Destaca-se, ainda,
em Mateus, o final da sétima petição e a explicação da 5ª petição, nos versos 14 e 15, como
contribuições significativas que harmonizam essa oração com a teologia mateana (MARTÍN,
2001, p. 20).

Logo, os questionamentos que podem surgir a partir das distinções entre as versões da oração
do Pai-Nosso assumem significativa relevância. Teria Jesus ensinado mais de uma vez a
oração do Pai-Nosso? Sendo assim, Jesus teria ensinado de formas diferentes a oração? Teria
Mateus ou Lucas se utilizado da redação um do outro? Ou ambos usaram uma terceira fonte?
O mais provável é que Jesus tenha ensinado uma única vez a oração, ou mais de uma vez? As
versões de tal oração se ajustam aos propósitos redacionais de cada evangelista, sem que o
sentido mais geral da oração seja modificado?

As diferenças entre os textos também fazem surgir a pergunta a respeito de qual texto seria o
mais antigo. O texto de Mateus está em conformidade com as fórmulas judaicas de oração.
Porém, Lucas apresenta um texto mais breve, o que o adequa à regra hermenêutica de que o
texto curto deve ser preferível ao texto mais longo. Uma terceira possibilidade, pode ser que
tanto Mateus, quanto Lucas, usaram de maneira distinta, uma fonte comum (MARTÍN, 2001,
p. 20-21). Independente de tal questão, é fato que, em termos gerais, é possível explicar
satisfatoriamente as diferenças entre os textos. A discussão sobre a composição da oração do
Pai-Nosso foi objeto da atenção de León Dufour, Bonnard, Ramos, Maggioni, Schurman,
Jeremias e Lambrecht. Afirma Martín: Além do fato que em Mateus encontramos uma
tradução do texto original (X. León-Dufour, P. Bonnard, Lagrange), é mais provável que
“Lucas nos transmita a versão mais original, e Mateus permitiu-se ampliá-la, com a finalidade
de esclarece-la” (F. F. Ramos); que Lucas conserva o teor primitivo, enquanto Mateus
explicita seu sentido, imprimindo um caráter mais litúrgico, de acordo com as orações
judaicas (B. Maggioni); que ambos representam a formula antiga e original, Lucas quanto à
amplitude, e Mateus à formulação do conteúdo (H. Schurman,J.Jeremias); que Lucas usa de
maior respeito em relação ao original, quanto a sua extensão, e Mateus (nas partes que tem em
21

comum com Lucas) o é quanto ao vocabulário original (J. Lambrecht). (apud, MARTÍN,
2001, p. 21)

Segundo D. A. Carson (2011, p. 207), é importante considerar também, os cenários históricos


da oração. O cenário de Mateus não é tão específico da perspectiva histórica como o de
Lucas. Ou seja, a explicação razoável para as diferenças nas redações é que Jesus, ensinou
esse tipo de oração durante seu ministério itinerante, mais de uma vez. O registro de Mateus
se daria em uma determinada ocasião, e o de Lucas em uma ocasião distinta. Sendo assim,
afirma BROWN, os contextos de enunciação da oração seriam distintos: “Mateus no Sermão
da Montanha, e Lucas como resposta de Jesus ao pedido dos discípulos, feito depois de eles O
terem visto em oração [...]” (BROWN, 1998, p.1452).

Ainda que tenham sido feitas diversas propostas para explicar as diferenças existentes entre as
redações de Mateus e Lucas, “poucos duvidam que a oração seja, de alguma forma, autêntica”
(CARSON, 2011, p. 207).

É importante saber também que a oração que Jesus ensinou, é para ser usada como modelo,
para nortear as demais orações. Embora, não haja problemas em repetir palavra por palavra
como muitos cristãos fazem, desde que estejam conscientes que seu valor não está na
repetição das palavras, e sim, nos princípios apresentados nela (AZEVEDO, 2009, p.17).
Desde do século II com o Didaquê a igreja usa esta oração como paradigma para ensinar
sobre o tema. A Oração do Senhor é a oração mestra. Nela se encontra de forma condensada
todos os princípios contidos nas demais orações bíblicas. E todo pensamento que deve ser
dirigido a Deus. (PIERATT, 1999, p.9-10)

Observa-se ainda há alguma semelhança entre a Oração do Senhor e os Dez Mandamentos.


Ambos são constituídos de duas partes: a primeiro referente a Deus e a segunda referente ao
homem. Os quatro primeiros mandamentos tratam da unicidade, do nome e da glória de Deus.
Os outros seis mandamentos tratam do homem e seu comportamento moral. Assim como na
oração, os três primeiros pedidos visam, o nome, seu reino e sua vontade. E os últimos
pedidos visam, a necessidade do sustento, perdão, proteção do homem. É interessante
perceber este vínculo, pois, confirmam a prioridade e a centralidade de Deus. (PIERATT,
1999, p.55) Observa-se, portanto, que além de estar em harmonia com a tradição bíblica, a
oração do Pai nosso molda-se entre a relação com Deus (vertical) e a relação com outros seres
humanos (horizontal). O que será tratado no que segue nesta pesquisa visa elucidar como o
22

Pai Nosso pode contribuir com esses dois níveis de relacionamentos da tradição bíblica até o
decálogo.

3. O RELACIONAMENTO VERTICAL

No capítulo anterior, foi apresentado o vocabulário da oração tanto no Antigo como no Novo
testamento, e uma análise das diferenças nas redações de Mateus e Lucas ao registrarem a
Oração do Senhor. Neste capítulo, será apresentada uma abordagem mais especifica da
Oração do Senhor, quanto ao aspecto relacional com Deus. E no capítulo posterior, quanto ao
aspecto relacional com o próximo. Com o fim de fazer da Oração do Senhor, o modelo e a
base do relacionamento da igreja com Deus, a abordagem da oração foi feita da seguinte
maneira:

A primeira parte do capítulo é dedicada a mostrar que tipo de relacionamento a igreja deve
desenvolver com Deus a partir do ensino de Jesus na invocação da oração: “busca pela
intimidade com Deus”, (Pai nosso que estás nos céus). A segunda parte do capítulo é dedicada
23

a mostrar a finalidade da igreja no relacionamento com Deus: “a busca pela glorificação de


Deus” (santificado seja teu nome). A terceira parte deste capítulo é dedicada a mostrar que na
construção da comunhão com Deus a igreja precisa estar completamente em submissão a sua
vontade, (venha o teu reino). Assim, nesta parte do trabalho o autor apresenta um caminho
para o desenvolvimento da comunhão com Deus.

3.1 UM GUIA PARA IGREJA

A Oração do Senhor foi ensinada por Jesus aos discípulos, provavelmente, como uma maneira
correta de se relacionarem com Deus. Este ensino é pertinente aos dias atuais. Pois, é preciso
manter a igreja no caminho correto da comunhão intima e pessoal com ele. Para isso, a
exemplo da igreja no século II (WAINWRIGHT, 2012, p.217)2, a liderança pode e deve usar
a Oração do Senhor, como parâmetro nesta comunhão. Além disso, a Oração do Senhor é um
referencial, também, para balizar e estimular o relacionamento com próximo (assunto do
próximo capítulo).

Na primeira parte da Oração do Senhor, encontra-se os três aspectos essenciais da comunhão


com Deus; o conceito correto de sua pessoa (Deus é Pai); a submissão ao seu
governo/autoridade/domínio; e sua glorificação (a santidade de seu nome). O Deus
apresentado nesta oração é transcendente e justo. Mas que se relaciona como pai com aqueles
que o buscam humildemente em oração. Ele está no céu, no lugar mais elevado, acima de tudo
e de todos, pois é Santo e perfeito. Mas dá acesso para uma relação intima e pessoal com ele,
por meio de Jesus Cristo.

Deus Pai dispensa sua graça sobre aquele que se aproximam dele com humildade,
demostrando confiar em seu amor. Confiança expressa ao suplicar seu governo e sua vontade
na condução da vida. Sendo assim, Deus no Pai nosso, é um Deus de relacionamento e não
um ser indiferente ou impessoal para com os homens.

3.2 A INTIMIDADE COM DEUS: “PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS” (MT 6.9; LC
11.2)

A frase “Pai Nosso, que estás nos céus”, é encontrada somente em Mateus. Porque em Lucas
encontra-se apenas a palavra “Pai”. Alguns estudiosos (exegetas) apresentam algumas

2Dicionário teológico do Novo Testamento / editor Daniel G. Reid; tradução MárcioL. Redondo, Fabiano
Medeiros, — Sáo Paulo: Vida Nova, 2012.
24

suposições para essa diferença nos textos, como a possibilidade de Jesus ter ensinado mais de
uma vez, recitando de formas diferentes, ou que Mateus tivesse ampliado a oração, uma vez
que não era uma formula fixa (MÁRTIN, 2001, p.20). Essas, e outras propostas, são tentativas
de esclarecer, não apenas essa frase, mas todas as diferenças nesse texto. Entretanto, numa
perspectiva teológica o foco está sobre o ensino de Jesus contido na oração.

Então, ao comparar as duas versões, pode se deduzir que a ênfase do ensino recai sobre a
paternidade de Deus. Pois, a primeira lição de Jesus nesta oração é invocar a Deus chamando
de Pai. “O convite a chamar Deus de ‘Pai’ mostra que o Deus a quem oramos é pessoal e em
certo sentido tão próximo como um membro da família” (PIERATT, 1999, p.67). Logo, este
ensino permite desenvolver um relacionamento de confiança, pessoal e íntimo com Deus.
Assim, a instrução de Jesus, consiste na maneira de como se aproximar de Deus.

Sendo assim, “podemos nos aproximar com confiante amor, certos de que ele está atento ao
nosso clamor” (MAIA, 2001, p.17). Achegar-se amorosamente a Deus com a certeza que
como Pai ele nos atenderá, é um consolo, e uma motivação para continuar a orar. E crescer
cada vez mais em comunhão com ele. Assim, este ensino de Jesus consiste em trazer o
relacionamento com Deus para um nível mais íntimo. Onde o amor e a confiança nele, sejam
a maior expressão desta relação.

O termo “Pai, fala por si mesmo, de amor, quando se refere a Deus, fala de seu amor infinito
para conosco, por ele demostrado ao entregar seu Filho único para a salvação do mundo [...]”
(MARTÍN, 2001, p.47).

A imagem do relacionamento pai-filho já tinha sido usada antes na relação entre Deus e
Israel, como registra Êxodo 4.22: “Dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é meu filho meu
primogênito.” E Isaias 63.16: “Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e
Israel não nos reconhece; tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor é o teu nome desde a
antiguidade.”, etc. (DAVID W. PAO, ECKHARD J. SCHNABEL, 2014, p.404) O povo de
Israel, tinha consciência da paternidade de Deus. E mesmo assim, não usavam esse termo a
Deus. Para eles era um designativo tão familiar e íntimo que nenhum judeu ousava chama-lo
assim. (MAIA, 2001, p.18-19)

Israel usava outros designativos para se referirem a Deus; Deus Todo-Poderoso, o Altíssimo,
o Senhor do Exército, o Eu Sou, o Rei da Glória, Rocha Minha, Meu Pastor, etc., (BOYER,
1983, p.429) Mas nenhum desses títulos expressavam a intimidade na relação como o título
25

“Pai”. Por isso, pode-se dizer que Jesus, ao ensinar a invocar a Deus como Pai, estava
mostrando a possibilidade desta aproximação.

As Escrituras neotestamentárias mostram que essa ideia foi absorvida pela igreja. A
concepção está presente nas saudações do apóstolo Paulo: “graça e paz, da parte de Deus,
nosso Pai, [...]” (II Co 1.2: Ef 1.2: Fp 1.2: Cl 1.2: II Ts 1.1); “[...], mas por Jesus Cristo e por
Deus Pai, [...]” (Gl 1.1: I Ts 1.1: II Ts 1.2). E na saudação da primeira carta do apóstolo
Pedro: “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, [...]” (I Pe 1.2).

Mas, segundo Morris (2003, p.297), foi por meio do apóstolo João que a igreja começou a
chamar Deus de Pai de maneira tão marcante. Embora, outros escritores usam o termo “Pai”,
é João que se prende ao conceito da paternidade de Deus. Das 137 vezes que o termo Pai
aparece no Novo Testamento, João usa 122 vezes nos seus escritos. Deste modo, foi por meio
do discipulo amado que a igreja começa a colocar em pratica o ensino de Jesus.

E quanto a parte “[...] estas nos céus!”, na versão de Mateus, segundo Carson “pode ser uma
formulação mateana” (CARSON, 2010 p.209). Pelo fato de haver, “vinte ocorrências da
designação em Mateus, uma em Mc [11.25] e nenhuma em Lucas” (CARSON, 2010 p.209).
No entanto, o interessante é o ensinamento por trás deste registro.

O uso da palavra “céu”, em algumas circunstâncias servia para ensinar ou lembrar da


transcendência e soberania de Deus (CARSON, 2010 p.209). Consequentemente, este ensino
pressupõe a maneira santa e reverente que se deve ter ao se aproximar de Deus. Porque, sua
paternidade não faz dele um igual a nós. Ele é Pai e Senhor sobre todas as coisas. “Deus é, a
um só tempo, o próximo e o distante, o imanente e o transcendente” (MÁRTIN, 2001, p.59).

Assim, a relação com Deus pode ser íntima, e ao mesmo tempo deve ser respeitosa. A não
compreensão disso pode prejudicar o crescimento da comunhão com o Pai. Certamente Jesus
sabia da necessidade de tal entendimento para os discípulos e para a igreja.

Portanto, a igreja deve ser conduzida a buscar um relacionamento íntimo com Deus, e ao
mesmo tempo, reverencia-lo como seu Senhor. Pois, como diz o salmista “A intimidade do
Senhor é para os que o temem, [...]” (Salmos 25.14). Além disso, ter Deus como um pai
significa estar debaixo de seus cuidados e proteção. Em outras palavras, ter Deus como Pai é
estar seguro e assistidos em todos os momentos.
26

3.3 A BUSCA PELA GLORIFICAÇÃO DE DEUS “SANTIFICADO SEJA O TEU NOME”


(MT 6.9 LC 11.2).

Após aproximar se intimamente de Deus, surge o desejo de glorificar seu nome. De acordo
com a resposta da pergunta noventa e oito do Breve Catecismo de Westminster: a “Oração é
um oferecimento dos nossos desejos a Deus, [...]”. Ao relacionarmos esta definição com o
primeiro pedido da Oração do Senhor, pode-se deduzir que o ensino de Jesus a igreja é para
que ela deseje a santificação do nome de Deus.

Então, para que se possa conduzir a igreja nesta direção, é preciso compreender o que
significa este ensino de Jesus. Mas antes de analisarmos o significado desse ensino, vamos
considerar em primeiro lugar que este pedido é o primeiro de três, todos relacionados
exclusivamente a Deus. Provavelmente, para mostrar que Deus tem a primazia sobre os
demais desejos que a igreja, possa declarar em oração. O Pai celestial deve estar sempre em
primeiro lugar. A procura pela glória do Pai, dever ser a prioridade para seus filhos. Por isso,
é a primeira petição ensinada por Jesus nesta oração.

3.3.1 O “NOME” DE DEUS

No entendimento de alguns povos antigos o nome representava a própria pessoa. Ou seja, o


nome era mais que a identificação de alguém, o nome era a expressão do caráter, da
personalidade e as virtudes positivas ou negativas da pessoa. Entre estes povos estava Israel.
(AZEVEDO, 2009, p.36)

Além disso, “A glória e o nome são duas palavras frequentemente associadas no Antigo
Testamento. A manifestação do nome divino significava a presença eficiente de Deus no
mundo” (MARTÍN, 2001, p.67). Por exemplo, o Salmo 29.2 diz: “Tributai ao Senhor a glória
devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade.”; o Salmo72. 18-19: “Bendito
seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só ele opera prodígios. Bendito para sempre seja
seu glorioso nome, e da sua glória se encha toda a terra. Amém e amém!”.

Esta ideia estava presente na época neotestamentária. Assim, ao ensina-los orarem desta
forma, “santificado seja o teu nome”, Jesus estava orientando-os a buscar a glória de Deus.
(MARTÍN, 2001, p.63-64) “O nome de Deus, portanto, se refere a tudo o que Deus é e a tudo
o que revelou acerca de si mesmo” (AZEVEDO, 2009, p.36).
27

3.3.2 A SANTIDADE DE DEUS

Esta petição “santificado seja teu nome”, não significa santificar a Deus, ou torná-lo mais
santo, pois isto não seria possível, mas um comprometimento do suplicante com um
testemunho digno da santidade de Deus. Observando o Breve Catecismo, encontra-se a
seguinte declaração na resposta à pergunta 101: “Na primeira petição, que é: “Santificado seja
o teu nome”, pedimos que Deus nos habilite, a nós e aos outros, a glorificá-lo em tudo aquilo
em que se dá a conhecer; e que disponha tudo para a sua própria glória”. Esta mesma ideia
pode ser encontrada no teólogo Willian Hendriksen.

Para Hendriksen (2001, p.461), santificar o nome de Deus “significa ter reverencia por ele,
por isso, reverenciar a Deus, honrá-lo, glorifica-lo e exalta-lo”. De modo semelhante Azevedo
(2009, p.37) define dizendo: “Santificar o nome de Deus significa que seu nome deve ser
reverenciado, honrado, glorificado e exaltado”. Por essas definições apresentadas, percebe-se
que a referida petição não consiste em pedir que Deus santifique seu próprio nome. Mas na
maneira como a igreja possa verdadeiramente adorá-lo.

A igreja deve santificar o Nome do Senhor através da própria santificação, e do testemunho


perante ao mundo. A santificação da igreja se dá através do comprometimento com a prática
da palavra de Deus como diz o apostolo João: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a
verdade” (Jo 17.17). A pratica da palavra é descrita como exercício espiritual: ouvir, obedecer
a palavra, orar, jejuar, evitar o mal e sua aparência. Essas são atitudes de quem busca a
santificação do nome do Pai.

E não faz sentido pensar o contrário quanto a esta petição. D. A Carson diz que,

“orar para que o ‘nome’ de Deus seja ‘santificado’ [...] não é o mesmo que orar para
que Deus se torne santo, mas para que ele seja tratado como santo [...], que o nome
dele não seja desprezado [...] por meio dos pensamentos e da conduta dos que foram
criados à imagem dele. (CARSON, 2010 p.209)

Porque, “O ‘nome’ de Deus é um reflexo de quem ele é [...]. O ‘nome’ de Deus é Deus
mesmo como ele é e como se revelou, assim, seu nome já é santo” (CARSON, 2010 p.209).
Deus é santo por natureza. E o santificador.

Portanto, em certo sentido, a responsabilidade pela santificação do Pai está sobre a igreja. Em
outras palavras: “Santificar o nome é reconhecer a Deus como criador do mundo e Senhor da
28

história, reconhece-lo e acatá-lo como o único Senhor soberano, [...]” (MARTÍN, 2001, p.80)
Por isso, Deus, pelas Escrituras manda ser santo como ele é Santo. Porque ao viver de acordo
com seus preceitos, e ao desenvolver suas virtudes, torna-se reconhecida sua obra no mundo e
nisto seu nome é glorificado. E com o reconhecimento de sua glória, surge o anseio pela vinda
de seu reino.

3.4 SUBMISSA A VONTADE DO PAI “VENHA O TEU REINO” (MT 6.10; LC 11.2)

São nos evangelhos sinóticos que a expressão “reino de Deus” recebe maior atenção. Das 144
ocorrências em todo Novo Testamento, 111 são só nos Sinóticos. Em Mateus aparece 52
vezes; em Marcos 16; em Lucas 43; em João 5; 2 no Apocalipse. Na literatura paulina ocorre
19 vezes; incluindo (5) seu discurso em Atos, e 7 ocorrências são em outros textos do Novo
Testamento. Consequentemente, é a concepção de reino de Deus nos sinóticos que tem
recebido maior atenção. (ZABATIERO, 2000, p.2035)

Em Mateus encontra-se a forma reino dos céus enquanto Marcos e Lucas reino de Deus. Com
isso alguns intérpretes tentam encontrar alguma diferença de sentido nas formas. Mas as
diferenças nas formas devem-se à peculiaridade linguístico-teológicas sendo reino dos céus a
forma comum ao judaísmo, e expressão sem sentido na cultura grega não semítica. No
entanto, outras posições são defendidas. (ZABATIERO, 2000, p.2035)

Semelhantemente, Leon Morris (2003, p.154) diz que Mateus usa a expressão reino dos céus
por ser a “maneira tipicamente judaica de evitar o uso do nome de Deus”. Afirma ainda, que
Mateus usa outras expressões como: o reino; teu reino; reino de seu Pai; reino de meu Pai.
Além de fazer alusão ao “trono de Deus”, indicando sua soberania. (MORRIS, 2003, p.154)

Considerando o mesmo conceito de reino de Deus do Antigo Testamento, Jesus apresenta um


aprofundamento de seu significado. No Antigo Testamento, o sentido básico de reino vem da
raiz mlk, que significa “ter ou exercer autoridade suprema sobre um povo num determinado
lugar”. Posteriormente, na literatura apocalíptica e judaica Intertestamental, soberania de Deus
é exercida apenas sobre os homens que se submetem a seu domínio, tendo um forte sentido
abstrato. (ZABATIERO, 2000, p.2035) Para Morris (2003, p.127), o “termo basileia [...] não
denota tanto um território quanto um domínio; não é uma região ou um grupo, antes Deus em
ação. Ele aponta para um Deus ativo nas pessoas”.
29

Também no ensino de Jesus, o reino de Deus tem uma ideia dinâmica. E “denota o exercício
da soberania de Deus na Sua atividade como Redentor e Juiz da humanidade, no cumprimento
das promessas messiânicas contidas no AT [...]” (ZABATIERO, 2000, p.2036). Por muito
tempo inúmeras tentativas de interpretações do reino de Deus no Novo Testamento foram
feitas para expor o sentido no ensino de Cristo. E são grandes as diferenças propostas.
Todavia, todas concordam que reino de Deus “denota, primariamente, o exercício da
soberania divina, a realização do poder real” (ZABATIERO, 2000, p.2036). As várias teorias
são divididas por categorias e classificadas por sua relação com o tempo. As categorias são as
“que vêem o Reino como uma realidade já presente; as que o vêem como futuro; e as que o
vêem parcialmente presente e parcialmente futuro” (ZABATIERO, 2000, p.2036).

Para Morris (2003, p.155), “é melhor reconhecer que as vezes Jesus falava do reino como
algo presente e outras vezes como algo futuro”. Porque, num sentido o reino chegou com
Jesus. E em outro sentido o reino ainda é futuro. (MORRIS, 2003, p.155)

Os evangelhos sinóticos apresentam dois aspectos essenciais do reino de Deus. A primeira


relação é como tempo e a segunda com a natureza. Na relação com o tempo a ideia é
escatológica, e tem a ver com a objetivação dos planos de Deus para a humanidade.
(ZABATIERO, 2000, p.2045). Desse modo,

o Reino de Deus já veio à terra, em e através de Jesus Cristo, e nela está operante até
hoje, e continuará até a ‘consumação dos séculos’, quando será plenamente
realizado; produzindo o fim desta era e iniciando a existência da nova era
isoladamente da presente. Nesse sentido, o termo “escatológico”, aplicado ao reino
de Deus, inclui as noções de “apocalíptico” e “presente”, ou, na linguagem de Ladd,
significa “cumprimento sem consumação”; ou, ainda, uma “escatologia em processo
de realização” (J. JEREMIAS apud ZABATIERO, 2000, p.2045).

“Jesus ensinou que o Reino de Deus já chegara ao mundo em sua pessoa e obra”
(ZABATIERO, 2000, p.2048). “A pregação do evangelho aos pobres, a expulsão de
demônios, a realização de milagres e, finalmente, Seu sofrimento vicário, confirmam o
anúncio da presença do Reino de Deus na Terra” (ZABATIERO, 2000, p.2048).

A natureza do Reino de Deus é Dinâmica e Teocêntrica. Dinâmica no sentido da ação real de


Deus, em exercer sua autoridade sobre os homens. (ZABATIERO, 2000, p.2049). “O Reino
de Deus é a atividade soberana de Deus em trazer a redenção, a libertação, aos homens e todas
30

as bênçãos da nova era da salvação [...]” (ZABATIERO, 2000, p.2053). “Sua realização atual
é espiritual e invisível” (BERKHOF, 2012, p.522).

Entretanto, não foi neste sentido que os judeus esperavam a promessa do reino. O Antigo
Testamento sempre apresentou Deus como o Grande Rei sobre todos os reis da terra. Seu
reino é sempiterno, contrastando com os reinos temporais dos homens. Isto porque, Israel o
reconhecia como o único Deus criador do céu e da terra. Não obstante a isso Deus fez a
promessa de um dia reinar na terra com seu povo. Esta promessa foi muito aguarda por seu
povo.

Entretanto, Israel esperava um reino temporal e político, com forças militares. Esperavam a
restauração da monarquia e que os livraria do domínio dos seus inimigos, promovendo o bem-
estar social. Dando a nação plena prosperidade material. Embora, o reino prometido
alcançasse as esferas físicas e matérias da vida humana, ele era de natureza espiritual e
transcendente.

O conceito do reino de Deus apresentado acima, no início desta sessão, é muito importante,
porque através dele, entende-se o que significa para a igreja orar “venha o teu reino”. E como
a igreja pode ser guiada para uma relação com Deus, ao expressar concretamente as
características deste reino no mundo.

Pode-se resumir o que fora apresentado até aqui da seguinte maneira:

O Reino de Deus é o Reinado de Deus, o governo triunfante de Cristo sobre todas as


coisas, visíveis e invisíveis. “O Reino de Deus significa que Deus é Rei e age na
história para trazer a história a um alvo divinamente determinado.” Falar no Reino é
apontar para a concretização do propósito de Deus em Cristo, libertando os homens
do poder de Satanás, conduzindo-os à liberdade concedida por Cristo, o Senhor.
(MAIA, 2001, p.36)

A igreja como corpo místico de Cristo, é responsável pela expansão deste reino já inaugurado
por Jesus Cristo. O Reino de Deus avança à medida que a igreja prega o evangelho. “A igreja
ora para que Cristo Reine no coração dos homens e, também, prega o Evangelho do Reino
para que os homens, pela fé concedida por Deus, experimentem o governo redentivo de
Cristo” (MAIA, 2001, p.37).

D. M. Lloyd-Jones (1899-1981) observa com acerto que “... quando oramos: ‘venha
o teu reino’, estamos orando pelo sucesso do Evangelho, em sua amplitude e poder;
estamos orando pela conversão de homens e mulheres; estamos orando para que o
31

reino de Deus tome conta [...], do mundo inteiro. ‘Venha o teu reino’ é uma oração
missionária toda-inclusiva” (apud, MAIA, 2001, p.39).

Concepção semelhante tem Carson. Para ele orar “venha o teu reino”, é orar para que
simultaneamente o governo real e salvador seja estendido agora às pessoas que se curvam a
ele em submissão e já experimentam a bênção escatológica da salvação, além de clamar pela
consumação do reino [...]. (CARSON, 2001, p.209)

Em outras palavras, é pedir “[...] que Cristo reine nos nossos corações, aqui, e apresse o
tempo da sua segunda vinda [...]; que lhe apraza exercer o reino de seu poder em todo o
mundo, do modo que melhor contribua para estes fins” (Catecismo Maior de Westminster
resp. a perg. 191).

O papel da igreja dentro do reino de Deus é tão essencial para o desenvolvimento dele, que no
curso da história, a igreja foi confundida com o reino. Na concepção de Agostinho o reino era
uma realidade presente identificada pela igreja. Ele via a igreja incorporada na igreja
organizada episcopalmente. (BERKHOF, 2012, p.522)

De certo modo o reino de Deus e a igreja invisível são idênticos. Tanto para entrar no reino,
quanto para estar na igreja invisível, é necessário o novo nascimento. “É impossível estar no
reino de Deus sem estar na igreja como corpo místico de Jesus Cristo” (BERKHOF, 2012,
p.523). No entanto é preciso fazer uma cuidadosa distinção. Pois o reino de Deus não se
resume na igreja, e a igreja não é em essência o reino. A igreja é em certo sentido uma
expressão visível do reino. Ou seja, a igreja “Constituem um reino em sua relação com Deus
em Cristo como seu Governador, e uma igreja em sua separação do mundo na devoção a
Deus, e em sua união orgânica uns com os outros” (BERKHOF, 2012, p.523).

E quanto as igrejas visíveis são

[...] manifestações do reino de Deus, nas quais grupos de cristãos procuram aplicar
os princípios do Reino em todas as esferas da vida. A igreja visível e o reino de
Deus também podem ser identificados até certo ponto. Certamente se pode dizer que
a igreja visível pertence ao Reino, faz parte do Reino e até constitui a mais
importante incorporação visível das forças do Reino. Ela compartilha o caráter da
igreja invisível (sendo ambas uma só) como meia para realização do Reino de Deus.
Como a igreja visível, o Reino também participa das imperfeições às quais o mundo
pecaminoso o expõe. Isto fica mais evidente a luz da parábola do trigo e o joio, e da
rede. (BERKHOF, 2012, p.523)
32

Portanto, como dito anteriormente, o Reino de Deus foi inaugurado pela vinda de Jesus
Cristo, e evidenciado por seu ministério redentivo. Pois, em essência o evangelho é a pessoa e
obra de Jesus Cristo (Jesus é as boas novas de grande alegria) (MÁRTIN, 2001, p.101). No
entanto, o desenvolvimento do reino até sua consumação final, pois, “Seu auge será atingido
na segunda vinda de Cristo, o que denominamos ‘parusia’ ” (MÁRTIN, 2001, p.101). Por
enquanto a igreja é responsável em efetivar os aspectos que evidenciam o domínio de Deus
sobre a terra por meio de Cristo. E nesta direção que ela deve ser guiada.

Para alcançar esse fim, a igreja deve ser totalmente submissa a vontade de Deus. Essa ideia
pode ser reforçada pela terceira petição na oração dominical: “seja feita a sua vontade assim
na terra como no céu”. Para Mártin (2001, p.101), esse pedido e o anterior (venha o teu reino)
funcionam como um paralelismo sinonímico. De acordo com tal entendimento, pode-se dizer
que são expressões correlatas.

Por isso, é importante que a igreja ore pela vinda do reino de Deus. E seja guiada a manifestar
seu aspecto temporal, onde Deus governa agora por meio de Cristo no coração dos homens.
Quanto para que Jesus Cristo volte e estabeleça definitivamente o reino, segundo a vontade do
Pai.
33

4. O RELACIONAMENTO HORIZONTAL

A Oração do Senhor como ensinada por Jesus aparece como luz, critério e alimento espiritual
na relação com Deus e com o próximo. Neste capítulo será apresentado a oração do Senhor
como base e critério para comunhão com o outro. Pois quanto à relação com Deus foi exposto
no capítulo anterior. Assim, o objetivo deste capítulo é apresentar alguns princípios extraídos
da Oração do Pai Nosso como diretrizes que apontam para comunhão fraternal.
34

Na primeira parte do capítulo, a Oração do Senhor é apresentada como uma oração


comunitária. Onde a ênfase nos pedidos não está no “eu”, mas no “nós”. Evidenciando assim,
o amor ao próximo. Elemento essencial para o relacionamento cristão.

A segunda parte do capítulo é dedicada ao caminho para restauração da comunhão. Ou seja, o


perdão. Pois, como homens sujeitos a errar uns com os outros, o perdão é exigido como
solução para os conflitos. E como expressão do amor a Deus, refletido no próximo.

A terceira parte deste capitulo é ressaltado a necessidade da vigilância e diligencia. Contra as


tentações malignas, cujas finalidades são prejudicar a comunhão dos santos. E muitas de suas
características são encontradas no estilo de vida moderno. Pois, a igreja ao ser influenciada
por um viver semelhante, pode comprometer sua vida comunitária. Diluindo a comunhão
genuinamente cristã.

4.1 ORAÇÃO COMUNITÁRIA

A oração do Senhor é uma oração contra o egoísmo e o individualismo. Jesus não ensina a
invocar “meu” Pai ou Pai “meu”, mas Pai “nosso”. Além disso, as quatro petições finais
referentes ao homem, trazem claramente a consciência de coletividade com os termos:
“nosso”, “nossas”, “nós”, “nossos” e “nos”. Deste modo, na construção da comunhão com o
próximo, o foco também deve estar no outro e não apenas em si mesmo. (PIERATT, 1999,
p.64)

Segundo Carson (2011, p.208) comentando o evangelho de Mateus; “Do começo ao fim da
oração, a referência é no plural: [...]. Em outras palavras, esse é o exemplo de oração a ser
feita em comunhão com outros discípulos (cf. 18.19), e não sozinho (cf. Jo 20.17)”.

Sob o mesmo ponto de vista, para R. C. Sproul a expressão “nosso”, não é uma prerrogativa
individual, mas “é um privilégio coletivo de todos aquele que pertence o corpo de Cristo”
(SPROUL, 2012, p.35). Sendo assim, essa é uma oração a ser praticada pela comunidade
cristã.

Então, diante do exposto, fica claro que na relação com o próximo não há espaço para o
egoísmo e o individualismo ou qualquer sentimento e atitude que exclua o outro. Mas, torna-
se necessária, uma disposição de amar ao semelhante, apresentando-o diante do Pai.
35

4.2 ORAÇÃO DE AMOR

Nesta Oração está implícito o princípio da vida cristã. Este princípio é definido pelo amor a
Deus e ao próximo. Pois, interceder pelo irmão é uma atitude amor. E ao mesmo tempo, uma
expressão de amor a Deus.

O amor fraternal está presente em todos os ensinos de Jesus. Inclusive, em seu mandamento,
como marca distinta de seus discípulos. No contexto da celebração da Páscoa, Jesus dá um
novo mandamento aos discípulos dizendo: “Novo mandamento vos dou; que vos ameis uns
aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros”. (Jo 13.34) A fim
de que o amor fosse uma característica essencial na construção da identidade dos discípulos.
Pois, no verso 35 do mesmo capítulo Jesus diz: “Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”.

Além disso, de acordo com Paulo Real (2003, p.28), a Escritura estabelece uma estreita
relação entre o amor a Deus e ao próximo. “Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus,
ame também seu irmão” (1Jo 4.21). Para ele “não se trata de dois mandamentos, mas de
apenas um com duas dimensões relacionais: comunhão com Deus e com o próximo” (REAL,
2003, p.28).

Através do amor ao próximo a igreja declara seu amor a Deus. O apostolo João diz que quem
não ama a seu irmão não pode amar a Deus (IJo 4.20). “A única forma de provar que amamos
a Deus é amar os homens, aos quais Deus ama. A única maneira de comprovar que Deus está
em nossos corações, é mostrar constantemente em nossas vidas o amor aos homens”
(BARCLAY, p.111)3.

Semelhantemente, Jerry Bridges (2010, p.51), alega que “não podemos amar verdadeiramente
a Deus sem amar uns aos outros. Reconhecer que existe alguém que não amo é dizer a Deus:
‘Não te amo bastante para amar aquela pessoa’”. Deste modo, a igreja demostra seu amor a
Deus amando uns aos outros.

Assim, o amor a Deus e ao próximo é o resumo de toda a lei, e da doutrina de Cristo. E a


essência destas relações. Se não houver amor a Deus não há amor ao outro, e sem amor pelo
outro, não há amor a Deus.

3 No arquivo em pdf não tem o ano de publicação.


36

4.3 ORAÇÃO DE RELACIONAMENTO PRÁTICO

Amar é se relacionar. Numa relação objetiva. Conforme descrito por Paulo Real (2003, p.26),
somente “a prática do amor cristão leva a relacionamentos profundos”. O amor vai buscar
desenvolver relacionamentos maduros e prático. O amor cristão não é apenas um sentimento,
ele é objetivo. Uma atitude capaz de provocar um efeito maior que belas palavras carregadas
pelo sentimento. Nesse sentido, a comunidade precisa edificar-se concretamente no amor.

Entretanto, Bridges (2010, p.57), por exemplo, explica que,

Embora essa ênfase em atos de amor seja certamente necessária, às vezes podemos
dar a impressão de que o amor não envolve emoção – sendo completamente um ato
de vontade, do deve r de alguém, independentemente de como se sinta este alguém.
Podemos promover o tipo de atitude “posso ama-lo, mas não posso gostar dele”. A
Bíblia não apoia esse conceito desequilibrado do amor.

Para Bridges quando a Bíblia descreve o amor cristão usa expressões como: “Amai-vos, de
coração, uns aos outros ardentemente (1Pe 1.22); amai-vos cordialmente uns aos outros com
amor fraternal (Rm 12.10)”, e outras expressões como: “amor fraterno e amar os irmãos”, está
caracterizando o amor como “afeto que os membros familiares têm ou devem ter uns com os
outros [...]”. Na opinião de Bridges “Todas essas passagens da Bíblia indicam que nossas
emoções estão envolvidas” (BRIDGES, 2010, p. 57).

Mas esse posicionamento de Bridges é apenas um alerta quanto ao perigo de cair em apatia.
Pois, o mesmo também diz: “Temos de por nosso amor em prática, satisfazendo a necessidade
de nosso irmão – mesmo que o preço seja muito alto para nós” (BRIDGES, 2010, p.54).

Demais, observa-se a materialização do amor presente na Oração do Senhor, na quarta


petição. Quando Jesus ensina aos discípulos a pedirem: “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”.
O termo “pão nosso”, é uma referência a toda necessidade humana, em seu aspecto material.
Ao orar desta forma demostra-se preocupações reais para com o irmão. Pelas necessidades
físicas dos irmãos conforme descrito na resposta à pergunta cento e noventa e cinco do
Catecismo Maior de Westminster:

[...] pedimos, por nós mesmos, e por outros que tanto eles como nós, dependendo da
providência de Deus, de dia em dia, no uso de meios lícitos, possamos, do seu livre e
conforme parecer bem à sua sabedoria paternal, gozar de sua porção suficiente
desses favores e de tê-los continuados e abençoados para nós em nosso santo e
confortável uso e contentamento; e que sejamos guardados de tudo quanto é
contrário ao nosso sustento e conforto temporais.
37

Sendo assim, a comunidade deve buscar suprir as necessidades uns dos outros. Não apenas
tomar conhecimento e dizer: vamos ajudar em oração. É necessário sair da subjetividade e ser
objetivo, demostrando um amor verdadeiro. O apostolo João diz:

Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa
vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, como pode
permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavras, nem de
língua, mas de fato e de verdade. (1Jo 3.16-18)

Conforme descrito por John MacArthur (2011, p.30), “O amor cristão é doação e
autossacrifício. O fato de Cristo doar sua vida pelos crentes é um exemplo perfeito da
natureza verdadeira do amor cristão [...], e nós somos chamados para esse mesmo padrão de
amor”.

Igualmente, Bridges explica que,

a aplicação de João é muito prática e direta: ele pede que compartilhemos com o
irmão em necessidade. Porém, devemos fazer isso por piedade e compaixão, não por
obrigação. Temos de por nosso amor em prática, satisfazendo a necessidade do
nosso irmão – mesmo que o preço seja muito alto para nós. (BRIDGES, 2010, p.54)

Como ilustração, em 2 Coríntios 8. 2-3, encontra-se o seguinte testemunho do apóstolo Paulo:


“No meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda
pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, [...], na
medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários”.

Assim a comunidade precisa estar ciente que o amor cristão é mais que sentimento ou afeto
uns pelos outros. É uma entrega abnegada pelo outro. Pois, muitas vezes será preciso se
colocar em segundo lugar e o outro em primeiro. A prática do amor pode ser caracterizada por
um companheirismo e pela dedicação ao outro. Cuidar do irmão em todas as esferas da vida.
Dessa maneira a comunidade ser orientada na objetividade da caridade.

Todavia, é possível que em algum momento falhemos na demonstração do amor ao irmão e


quebremos a comunhão. E se isso acontecer precisamos restaurar o relacionamento através do
perdão. Por isso outro aspecto importante do amor a aprender é a perdoar.
38

4.4 O PERDÃO. “E PERDOA-NOS AS NOSSAS DIVIDAS, ASSIM COMO NÓS TEMOS


PERDOADO AOS NOSSOS DEVEDORES; ...” (MT 6.12; LC 11.4)

Nesta parte da Oração do Senhor o tema levantado por Jesus é o perdão. O perdão está sendo
abordado nos dois níveis de relacionamento. Na relação com Deus e com o próximo. Isto,
mostra que o assunto levantado por Jesus é muito relevante para a comunidade. A fim de
compreender seu ensino e como aplica-lo, faz se necessário a princípio, entender o que é
perdão?

4.4.1. CONCEITO DE PERDÃO

No Novo Testamento o termo mais comum para perdão é aphiêmi4, aparece 142 vezes.
Ocorre 47 vezes em Mateus, 34 em Marcos e 34 também em Lucas, 14 em João. E 13 vezes
no restante do Novo Testamento. “Na maioria dos casos o Novo Testamento emprega
aphiêmi no sentido original de ‘permitir’, [...]; ‘mandar embora’, [...]; ‘divorciar’, ‘soltar’,
[...]; ‘deixar’, [...]; ‘deixar para trás’, [...]; e ‘abandonar’, [...]” (VORLÄNDER, 2000,
p.1646).

Aphiêmi é empregado pela LXX para traduzir os termos hebraicos nãsã que significa: livrar
da culpa ou do castigo. Ou, ou sãlah que significa: perdoar, desculpar. E as vezes, kippêr:
cobrir, fazer expiação. Esses termos representam o ato de Deus restaurar seu relacionamento
com o homem ao perdoar o pecado cometido. (VORLÄNDER, 2000, p.1644)

Semelhantemente, Koehnlein (2001, p.441) conceitua o perdão da seguinte maneira:

[...], o perdão aparece como o ato de Deus pondo fim a situação desastrosa criada
pelo pecado do homem, situação ofensiva para Deus e opressora para o homem. É o
ato que restabelece o homem em sua verdadeira relação com Deus, arrancando o
elemento perturbador desta relação, a saber, o pecado, a transgressão do homem.

O conceito do perdão de Deus ao homem exposto acima, deve ser aplicado no perdão a ser
dispensado ao próximo. O homem deve ter a atitude de eliminar ou superar as situações que
causaram o rompimento da relação. Assim, restaurar a comunhão, também na esfera humana.

Ainda no que tange às relações humanas, na opinião de Paulo Real (2003, p.98) “perdão é a
capacidade concedida por Deus de abrir mão da vingança e oferecer espontaneamente

4 Não é um sinal circunflexo em cima do e, mas um traço.


39

completa absolvição às pessoas que nos magoam”. “Isto significa, [...], tolerar as faltas
cometidas por nosso irmão” (REAL, 2003, p.100). Em outro momento diz: “O perdão não
significa ignorar o pecado do ofensor. Significa apenas que não desejamos mais condena-lo
por seus atos” (REAL, 2003, p.104).

4.4.2 A NECESSIDADE DO PERDÃO

Nesta petição Jesus ensina a igreja a pedir por outra necessidade essencial para a vida: o
perdão dos pecados. Ele orienta a rogar ao Pai auxílio para manterem dois tipos de
relacionamento: a relação com Deus e com o próximo. O pecado sempre implica no
rompimento da comunhão com Deus ou com o próximo. Desse modo, a igreja precisa,
constantemente orar a Deus que perdoe os pecados fatuais, e conceda graça e ânimo, para
perdoar ao próximo. (AZEVEDO, 2009, p.77)

O perdão, como supracitado, traz a ideia de restauração. Por isso, faz-se necessário na
comunidade a pratica do perdão mútuo, afim de que a comunhão rompida por qualquer
motivo que seja, venha ser reestabelecida. A restauração as vezes pode se tornar num
processo muito difícil, devido à gravidade do fato ocorrido. Mas, de acordo com o breve
catecismo Westminster, quando realizamos essa petição, não pedimos apenas que Deus
perdoe graciosamente todos os nossos pecados, mas também, que por sua graça nos habilite a
perdoar de coração ao nosso próximo. (resposta à pergunta 105). Assim sendo, através da
oração pode-se encontrar auxilio para reconciliação.

Deste modo, o perdão restaura a comunhão. Trazendo paz, tanto na vertical como a
horizontal. E “no contexto de relacionamento cristão amoroso, o perdão é, fundamental, pois é
um extraordinário instrumento de reconciliação” (REAL, 2003, p.115).

4.4.3 PERDÃO E COMUNHÃO

O relacionamento humano, muitas vezes é marcado por conflitos. Existem desentendimentos


em todas esferas da vida: no seio familiar, entre marido e mulher, pais e filhos, etc. E não é
diferente dentro da comunidade cristã. Porque o cristão, sendo homem está sujeito à atritos.
Teologicamente falando, o cristão está em processo de aperfeiçoamento à imagem de Cristo.
Por isso, muitas vezes os irmãos entram em litígios uns com os outros. E as vezes não é fácil
restaurar a comunhão fraternal.
40

Por isso, outro desafio na árdua missão de conduzir o rebanho de Deus ao relacionamento
com o próximo é o perdão. Muitas pessoas, em algum momento da vida, sentem-se culpados
por alguma coisa que fizeram, e buscam o perdão de Deus ou o perdão de outra pessoa.
Todavia, poucas pessoas conseguem perdoar quando solicitadas a isso. Perdoar exige uma
atitude de renúncia e um esforço por parte do ego ofendido. No entanto, poucas pessoas estão
dispostas a fazer tal esforço e renúncia. Consequentemente, acabam adoecendo. Tanto
emocionalmente, quanto fisicamente.

Portanto, é importante direcionar a igreja para restaurar, sempre que necessário, a comunhão
com os irmãos em Cristo. Não somente com estes, mas também com todas as pessoas se
possível. “[...], o seguidor de Jesus precisa ter como objeto de seu amor perdoador não só seus
irmãos no Senhor, mas também os homens em geral, [...]” (HENDRIKSEN, 2001, p.478).
Então, a igreja precisa desenvolver essa capacidade ou maturidade de restaurar
relacionamentos, seja em que área da vida for. Com vista a promoção da paz e manutenção da
comunhão.

4.4.4 PERDÃO E RECONHECIMENTO

Ao pedir perdão pelos pecados estão implícitos o reconhecimento e a insatisfação com ele.
Reconhecer a transgressão é o primeiro passo para fazer essa oração. E sendo todos os
homens devedores à justiça de Deus, porque, todos foram encerrados debaixo do pecado.
Todos precisam reconhecer seu pecado, e consequentemente estar insatisfeito em comete-lo.
Assim, não se conformará com o pecado. Mas sempre que o cometer, orará pedindo perdão.

4.4.5 PERDÃO E SAÚDE

Analogamente, assim como, o alimento é necessário ao corpo, o perdão é necessário à alma.


Por isso, depois de pedir o indispensável quanto ao aspecto material da vida, pede-se o que é
essencial para o bem e saúde da alma. Observe que os três primeiros pedidos são autônomos.
Mas as últimas petições estão “ligadas no grego por vários “e”, quase como se Jesus dissesse
que a vida sustentada pelo alimento não bastasse. Também precisamos do perdão do pecado e
da libertação da tentação” (CARSON, 2001, p.211).

Como supracitado, o perdão não só, restabelece a comunhão com Deus e o próximo, como
restaura o bem-estar da alma. O salmista acreditava que encontraria alivio para si no perdão
de Deus, porquanto diz: “Considera as minhas aflições e o meu sofrimento e perdoa todos os
41

meus pecados” (Sl 25.18). A aflição e o sofrimento referidos pelo salmista eram em sua alma.
Isso, esta explícito no verso anterior: “Alivia-me as tribulações do coração; [...]”.

A paz recebida pelo perdão de Deus deve ser transmitida aqueles que nos ofende. Quando há
perdão mutuo, há cura na alma, e muitas vezes, curas físicas. Porque muitas doenças físicas,
são reflexos da enfermidade da alma. Observe o Salmo 32.1-5:

Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-


aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade e em cujo espirito não
há dolo. Enquanto calei os meus pecados os meus pecados, envelheceram os meus
ossos pelos meus constantes gemidos todo dia. Porque a tua mão pesava dia e noite
sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu
pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as
minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado.

Todavia, “não significa que a enfermidade esteja sempre ligada a determinado pecado. Mas às
vezes o pecado produz sofrimento emocional ou físico, que é eliminado quando as pessoas
sabem que são perdoadas por Deus” (DAVI ATKINSON, 2000, p.195)5.

Além disso, não é só o perdão de Deus que possibilita a cura. Seja, cura emocional ou física.
Mas o perdão ao próximo também a possibilita. Entretanto, pode-se questionar e ser dito que
há ofensas pessoais ou impessoais que não se tem como perdoar, de tão graves que são. Mas
compreender que não existe ofensa maior que o pecado cometido contra Deus, ajuda no
processo de perdoar.

Stott diz isso da seguinte maneira,

Uma vez que nossos olhos foram abertos para a enormidade de nossa ofensa contra
Deus, em comparação com isso, as ofensas que os outros nos fizeram são
extremamente frívolas. Se, por sua vez, tivermos uma percepção exagerada das
ofensas cometidas pelos outros, isso prova que minimizamos as ofensas que
cometemos” (STOTT, p. 149-50; apud CARSON, 2001, p. 2012).

Portanto, ao buscar o perdão do Pai deve haver a disposição em perdoar. Uma busca sincera e
uma disposição vinda do coração. Para que possa receber a dadiva do perdão de Deus e com
gratidão no coração compartilhar essa graça com o próximo.

5 ALLMEN, Jean-Jacques Von. Vocabulário Bíblico. Tradução : Afonso Zimmermann. São Paulo: ASTE, 2001.
621 p.
42

4.5 PEDINDO PROTEÇÃO PARA COMUNIDADE “E NÃO NOS DEIXE CAIR EM


TENTAÇÃO; MAS LIVRA-NOS DO MAL”

4.5.1 AS FONTES DAS TENTAÇÕES

Segundo João Calvino, “há muitas e diversas espécies de tentação, [...]” (CALVINO, 2006,
p.130). Para ele até mesmo as “coisas que por natureza não são más, o Diabo, com sua
astúcia, torna em tentações quando são colocadas diante de nossos olhos para que nos
afastemos de Deus e o abandonemos” (CALVINO, 2006, p.130).

Mas que tipo de tentação e mal Jesus se refere nesta oração? A resposta a essa pergunta
ajudará a igreja compreender melhor o ensino de Jesus. E qual deve ser postura a ser adotada
no combate a essa tentação e o mal.

De acordo com Hermisten Maia (2001, p.80), “a palavra traduzida por “mal”, pode muito bem
ser traduzida por “maligno”, indicando, neste caso, toda a forma de mal.” Ou mesmo a
encarnação do mal na pessoa do inimigo de nossas almas, como outros autores ponderam.

Carson, também, entende que a tentação citada nesta petição é de procedência satânica, e
apresenta o seguinte argumento para mostrar como chegou a tal entendimento:

As palavras tou ponêrou (“o Maligno”) podem ser neutras (“mal”; cf. Lc 6.45; Rm
12.9; lTs 5.22) ou masculinas (“o Maligno”, referindo-se a Satanás: 13.19,38;Ef
6.16; ljo 2.13,14; 3.12; 5.19). Em alguns casos, o grego não distingue o gênero (veja
comentário sobre 5.37). No entanto, aqui a referência a Satanás é muito mais
provável por dois motivos: (1) “livra-nos” pode ser regido pela preposição ek (“de”)
ou apo (“de”), a primeira sempre introduzindo coisas das quais ser libertado, a
segunda usada principalmente para pessoas (cf. J. B. Bauer, “Libera nos a maio”
[“Livra-nos do mal”], Verbum Domini 34 [1965], p. 12-15; Zerwick, par. 89); e (2)
a primeira menção de Mateus a tentação (4.1-11) está claramente ligada ao demônio.
Assim, o modelo de oração do Senhor termina com uma petição que, embora
reconheça implicitamente nossa impotência diante do demônio que só Jesus pode
derrotar (4.1-11), delicia-se em confiar no Pai celestial para a libertação da força e
ardis do demônio.

Já Karl Barth é mais específico e define o diabo como o mal referido nesta petição. E afirma
que Lutero e Calvino, também definiram assim. (BARTH, 2003, p.67) Ele descreve o diabo
como o “[...] mal absoluto [que] se impõe à criação, sob a forma que todos conhecemos: o
pecado e a morte” (BARTH, 2003, p.67). Isso, fazendo distinção dos “males que são a causa
de sofrimento por dentro e por fora, que são talvez graves e muito indesejáveis; entretanto,
43

olhando-os de perto, são suportáveis [...]” (BARTH, 2003, p.66). Esses tipos de males de
certa forma são transformados por Deus em bem para aqueles que o amam. (BARTH, 2003,
p.66)

Então, segundo as ideias expostas acima, fica evidente que a tentação a que Jesus se refere e
pelo qual deve-se pedir a proteção do Pai, é a tentação que procede do Diabo. Que visa a
queda no pecado e a morte espiritual. E nesse sentido Deus não tenta ninguém como diz Tiago
1.13: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; por que Deus não pode ser
tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.”

Somando-se a essa linha de pensamento, o Catecismo Maior de Westminster, não só apresenta


Satanás como o tentador, como também, apresenta mais duas fontes de tentações: o mundo e a
carne. (CMW, perg.195) A carne é uma referência a adversidade da própria natureza humana,
como diz Tiago 1.14-15: “[...], cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando essa o atrai
e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado, uma vez consumado,
gera a morte”. Ou seja, com a queda a natureza humana é inclinada ao pecado.

E quanto ao mundo, é muito provável que o catecismo esteja fazendo referência ao termo
“kosmo”, “traduzido por mundo, [...] usadas no Novo Testamento para contrastar a vida a
vida dos homens separados de Deus, presos a motivos mundanos [...]” (FOULKES,1993,
p.59). Em outras palavras, mundo tem a conotação de sistema corrupto, regido pela vontade
do homem, um contraste com o céu onde é feita a vontade de Deus. Como pode ser observado
na terceira petição desta oração. “[...]; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu[...].”

Certamente, a exposição do Catecismo Maior de Westminster é autenticada pela Escrituras.


Pois, o apóstolo Paulo, também, descreve três fontes de tentações em Efésios 2.1-3, da
seguinte maneira:

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais
andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do
ar, do espírito que agora atua nos folhos da desobediência; entre os quais também
todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a
vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza, filhos da ira, como
também os demais.

Deste modo, é preciso então suplicar ao Pai proteção em três esferas. Contra o príncipe da
potestade do ar, intitulado também como Diabo e Satanás, entre outros termos correlatos.
44

Contra o mundo, ou seja, contra “o espírito da época que caracteriza a humanidade alienada
da vida de Deus [...]” (HENDRIKSEN, 1992, p.143). E contra a própria natureza humana.
Além disso, é possível observar uma relação entre as três fontes de tentações, no que diz
respeito aos seus propósitos, de levar ao pecado, e consequentemente, ao rompimento da
relação com Deus e o próximo. Logo, pode se dizer que qualquer que seja a origem deste tipo
de tentação, é maligna.

Dado o exposto acima, fica claro a que tipo de tentação Jesus se refere nesta petição. E como
a tentação pode ter três origens distintas, mas relacionadas umas com as outras. No entanto,
este trabalho não persegue o objetivo de aprofundamento em cada origem ou fonte. Mas
seguira numa abordagem em que utilizará apenas “mundo”, ou do “estilo deste mundo”, como
a tentação que pode atrapalhar ou romper com a comunhão dos Santos. Porque, Satanás e a
carne (a natureza afetada pelo pecado) são inimigos declarados. E isto é reconhecido por
qualquer cristão. Mas o mundo é um adversário sútil, sendo mais difícil detectar sua
influência. Por isso, muitas vezes subestimado.

4.5.2 VIGILÂNCIA COMUNITÁRIA CONTRA A TENTAÇÃO

A princípio é preciso relembrar que a Oração do senhor, é uma oração comunitária. E


conforme descrito por J. Jeremias (2004, p.292), a oração do Senhor, “desde o começo se
entende não só como modelo de oração correta, mas também como formulário e até mesmo
como sinal identificador, que é como a igreja passou a usá-lo no decorrer dos séculos”. Deste
modo, toda a igreja deve estar empenhada em preservar-se firme contra o maligno.

Então, com base nesta petição, será abordada a vigilância e a cautela para com as tentações
malignas, como ações fundamentais para consolidar a comunhão cristã. Pois, conforme
descrito na resposta à pergunta cento e noventa e cinco do Catecismo Maior Westminster,
nesta petição pedimos que Deus

[...] nos desperte à vigilância no seu uso, que nós e todo o seu povo sejamos
guardados, pela sua providência, de sermos tentados ao perdão, ou que, quando
tentados, sejamos poderosamente sustentados pelo Espírito, e habilitados a ficar
firmes na hora da tentação, [...].
45

Deste modo, tais atitudes fazem partes do caminho proposto na condução da igreja rumo ao
relacionamento fraternal. Pois, as consequências ao cair na tentação, podem trazer danos
irreparáveis. Não, somente danos pessoais ao faltoso, como também, a toda comunidade.

Assim sendo, cada indivíduo da comunidade são os responsáveis objetivamente em cuidar


diligentemente em se precaver para não ceder à tentação. Mas tal vigilância e cuidados devem
ser tomados não somente pensando nas consequências negativas ou nos benefícios que terá
individualmente. Mas, pensando nos efeitos que suas ações terão sobre o próximo.
Especificamente na comunidade onde estão inseridos. Logo, cada membro é responsável pela
preservação da comunhão na comunidade.

Portanto, a questão não está relacionada apenas a pecados fatuais e ordinários como:
adultério, fornicação, fofocas, intrigas, facções ou antipatias pessoas. O que sem dúvidas
prejudicam o desenvolvimento da comunhão. Entretanto, quando percebidos ou detectados,
são logo tratados, de uma maneira ou de outra.

No entanto, é o estilo de vida atual que será abordado especificamente. Como a tentação
maligna que está prejudicando a comunidade cristã. Ela nem sempre é percebível ou difícil de
tratar. Porque, muitas vezes vem travestida pela cultura. Embora, a cultura em si mesma não
represente nenhum mal, ela é apenas um meio legitimo usada de forma ilegítima pelo príncipe
deste século, ou pelo próprio ser humano afetado pela queda.

4.5.3 TENTAÇÕES MALIGNAS QUE COMPROMETEM A COMUNIDADE

A igreja certamente recebe influência externa a comunidade, pelo fato de seus membros
fazerem parte também dessa sociedade. Conforme descrito por Rubem Amorese

O tema se torna mais candente se considerarmos que fazemos parte dessa sociedade,
somos uma igreja cada vez mais contaminada pela modernidade, porque somos uma
igreja formada por pessoas modernas. E o que é pior: assim como o peixe não é
capaz de fazer uma crítica da água, justamente por viver dentro dela, nós nem nos
apercebemos que estamos nos “conformando com este século”. (AMORESE, 1995,
p.54 apud VIDAL, 2002, p.70)

Vidal, complementa esse raciocínio dizendo:

Estando no mundo, o indivíduo interage com ele. A sociedade atual é a sociedade


que está no mundo e que, em sua maioria, é influenciada por ele. Essa mesma
sociedade é que adentra as igrejas e que, muitas vezes, traz consigo a influência do
mundo vigente, sua filosofia, seu estilo! (VIDAL, 2002, p.70)
46

Portanto, a igreja pode sofrer muitas contaminações, e ser influenciadas e de diversas formas.
Mas como já mencionado, será apresentada apenas os paradigmas que caracterizam o estilo de
vida social na atualidade,seguindo a exposição de Marcelo Vidal em seu trabalho
monográfico, a respeito destes estilos de vida que podem ser conceituados como Pluralização,
Privatização e Secularização.

A princípio é necessário descrever cada parte deste “tripé”, ou seja, as principais


características deste estilo de vida atualmente. E depois, descrever como elas tem afetado a
igreja, mais especificamente a comunhão dos santos.

Conforme descrito por Vidal, o modo de vida atual tem como paradigma, ou, é sustentado por
três colunas: a pluralização, a privatização e a secularização. (VIDAL, 2002, p.56-57) “Tais
nomenclatura têm sido, quase que unanimemente, usadas pelos estudiosos, pois as mesmas,
caracterizam muito bem o momento social vivido” (VIDAL, 2002, p.57). Em outras palavras,
esses termos descrevem bem a mentalidade da sociedade na atualidade.

4.5.4 PLURALIZAÇÃO

A primeira “perna” do tripé da atualidade é a pluralização. Rubem Amorese descreve a


pluralização “como um fenômeno capaz de desencadear um processo inconsciente, por meio
da qual as pessoas têm o entendimento de sempre escolher e manifestar a sua preferência”
(AMORESE, 1998, p.48 apud VIDAL, 2002, p.57). Para ele o

grande problema é que tal filosofia se aplica a todas as coisas à sua volta. As
escolhas não são feitas tendo como parâmetro a moral e a ética, mas sim a
subjetividade do indivíduo que escolhe. A escolha visa ao atendimento da
necessidade do indivíduo, o seu bel-prazer: (VIDAL, 2002, p.57).

Deste modo, as decisões e escolhas são baseadas única e exclusivamente nas satisfações
pessoais do indivíduo. Sem se importar com outras pessoas. Consequentemente, a
pluralização desenvolve, no campo das relações “interpessoais o utilitarismo, onde não é o
afeto e o carinho que unem as pessoas, mas sim, o interesse e a satisfação. O contato ou a
“amizade”, será efetivada, se a mesma proporcionar algo de bom e útil” (VIDAL, 2002, p.58).
47

Assim também, quando a igreja adere esse estilo de vida. O utilitarismo a conduz para o
consumismo religioso. Deste modo, ela é afetada diretamente na comunhão de uns para com
os outros. Pois, os membros passam a se reunir, não mais para compartilharem alegrias e
tristezas, mas sim para buscar algo que os satisfaçam. (VIDAL,2002, p.71) Os membros vão a
congregação “não para servirem e adorarem a Deus, mas sim para serem servidos e, se
possível, serem bajulados” (VIDAL, 2002, p.70).

Ricardo Gondin, explica muito bem este fenômeno, da seguinte maneira:

As pessoas vão às igrejas para receberem alguma coisa de Deus e não para serem
trabalhadas em seu caráter. Vivem em busca de uma nova sensação. Onde lhes
parece mais fácil, mais magico, mais instantâneo, ali estarão. Infelizmente, observa-
se cada vez mais igrejas lotadas, cultos espalhafatosamente carismáticos, cânticos
intensamente emotivos, e cada vez menos compromissos missionários, menos
disposição de serviço ao próximo. A atitude não é a de colocar à disposição de Deus,
mas a de receber bênção (...) as pessoas só contribuem se lhes for prometido receber
cem vezes mais. Nas suas mentes não importa o bem-estar do outro, mas o que se
ganha com isso. Tudo é centrado na busca por seus interesses. Esse evangelho gera
egoístas consumidores de bênçãos religiosas, mas nunca servos de Deus.
(GONDIM, 1996, p.127 apud VIDAL, 2002, p.71)

Com isso, as “pessoas vão as igrejas para se sentirem bem e não para serem impactadas com
mensagens que exijam tomadas de decisão e de compromisso” (VIDAL, 2002, p.73). Além
disso, o amor pelo próximo é um amor interesseiro. As amizades são mantidas apenas
enquanto se servem daquilo que lhes interessa.

Portanto, “o consumismo religioso gera um comportamento frio e mecânico no organismo da


igreja, fazendo assim que os laços afetivos se tornem cada vez mais frouxos e que os homens
se tornem cada vez mais maquinas” (VIDAL, 2002, p.73-74).

4.5.5 PRIVATIZAÇÃO

A segunda “perna” do tripé da atualidade é a privatização. Este paradigma é um complemento


da pluralização. Se na pluralização o que importa é a escolha subjetiva do indivíduo, na
privatização, ninguém tem o direito de questionar essa escolha. (VIDAL, 2002, p.61) Ricardo
Gondim, por exemplo, explica que

Com o crescimento dos sistemas ideológicos, filosofias e teologias, todos ofertados


as pessoas para escolher conforme o seu próprio alvitre, nasceu o direito de optar
sem ser questionado o por quê. É a esse direito que se chama privatização. Na
intimidade de seu próprio eu, o indivíduo pode escolher o que bem entender e
ninguém tem o direito ou parâmetros para julgar a validez de suas decisões (...).
48

Assim, atualmente as opções sexuais não mais se constituem em uma questão ética,
mas de “preferência” (...). Advogando o direito de resguardar o espaço de cada um,
a pós-modernidade gerou pessoas desobrigadas eticamente, criando um caos moral,
onde não encontram mais uma ancora para avaliar suas escolhas. (GONDIM, 1996,
p.44 apud VIDAL, 2002, p.61-62)

Já Rubem Amorese, conceitua a privatização “[...] como a ruptura produzida entre as esferas
do privado e do público na vida moderna, havendo uma cristalização da importância do
privado como a única esfera da liberdade e da realização individual” (AMORESE, 1998, p.61
apud VIDAL, 2002, p.62).

Desta maneira, assim como a pluralização, a privatização também, tem afetado os


relacionamentos interpessoais. Pois, como resultado desta filosofia, as “conversas terminaram,
porque não há diálogo! Cada um tem sua posição moral ou ética fechada e arrumada. Cada
um tem o seu ponto de vista já acertado, onde discussões sobre a matéria não são bem-vindas”
(VIDAL, 2002, p.62-63).

Logo, privatização gera o individualismo. E conforme descrito por Marcelo Vidal

O crente que já experimenta as realidades do consumismo e da aglomeração, ou


seja, que vive o utilitarismo, a superficialidade e a vulnerabilidade na comunhão,
passa agora para a esfera do individualismo. (VIDAL, 2002, p.76)

O individualismo é completamente nocivo para a comunhão da igreja. Primeiro, porque


contraria o próprio princípio de comunhão, e também, o princípio do amor ao próximo, que
centraliza “tu” e não o “eu”. Em segundo lugar,

Quando o irmão se relaciona com a comunidade de forma utilitária, quando ele se


transforma num simples número no rol de membros, quando suas relações não têm
nem intimidade e nem profundidade, ele então se transforma num “crente
individualista”, independente, isolado, impertinente. Este crente, já que não convive
com ninguém, não permite que a sua esfera privada seja invadida ou, sequer, tocada!
Ele não aceita ser questionado, admoestado, e muito menos, exortado! (VIDAL,
2002, p.76-77).

De maneira semelhante, Antônio Tadeu Ayres, complementa esse raciocínio dizendo:

A igreja deixa de ser uma comunidade terapêutica, onde não se pode desfrutar da
plenitude da comunhão, na qual cada crente poderia compartilhar suas feridas e
contribuir para a cura das feridas de seu irmão. Em vez disso, ela se torna cada vez
49

mais parecida com um clube de santos, onde cada um reivindica o direito de ser
mais exclusivo do que o outro. Quando um deles é contestado ou arguido por
algumas de suas ações, retira-se para o mundo privado, repetindo: “isso não é da sua
conta”, ou outra expressão semelhante. (AYRES, 1998, p.45 apud VIDAL, 2002,
p.77)

Portanto, a privatização ou o individualismo como estilo de vida, atenta “para o término da


comunhão, já que se constitui como a negação da própria natureza social-comunitária da fé
cristã” (VIDAL, 2002, p.78)

4.5.6 SECULARIZAÇÃO

A terceira “perna” deste tripé é a secularização. “A palavra secular, geralmente é empregada


para designar aquilo que está em oposição ao que é eterno, transcendente, espiritual”
(VIDAL, 2002, p.65) E conforme descrito por Marcelo Vidal

Uma sociedade que está ligada somente a valores seculares, só verá o mundo sobre
esta visão. Assim, a secularização é, portanto, um processo por meio do qual o que é
espiritual e transcendente deixa de ter valor para a sociedade. A ideias e instituições
de caráter religioso deixam de ser consideradas. “O sagrado perde a sua
importância”. (VIDAL, 2002, p.65)

Assim, a secularização tem tirado a religiosidade da vida das pessoas. Dom Aloísio
Lorscheider, complementa esse raciocínio dizendo:

Não é que a igreja perdeu o poder de aconselhar as pessoas. Ela aconselha, mas as
pessoas não aceitam mais esses conselhos, porque não aceitam mais a
transcendência. Elas praticamente não aceitam mais Deus, que é quem nos dá
normas a partir da própria criação. Deus fez o mundo com sabedoria, mas as pessoas
deixaram de fazer esta leitura do mundo. O mundo é visto como uma razão
matemática e não mais filosófica e muito menos teológica. Essa é a tendência do
mundo hoje. (AMORESE, 1998, p.66 apud VIDAL, 2002, p.66-67)

Semelhantemente, Leonardo Boff diz que as pessoas da atualidade, entraram em rápido


processo secular, onde não dão relevância a Deus para legitimar e justificar as relações
sociais. (BOFF, 2000, p.21 apud VIDAL, 2002, p.67) Leonardo Boff, até afirma que a
“religião persiste, mas não consegue ser fonte de sentido transcendente para o conjunto da
sociedade” (BOFF, 2000, p.21 apud VIDAL, 2002, p.67).
50

Neste sentido, a secularização “[...], não deixa de ser uma forma de ateísmo. A partir do
momento que não se reconhece mais a transcendência e a influência de Deus na história
humana, está formada a secularização” (VIDAL, 2002, p.67).

Portanto, diante do que foi exposto, fica evidente que há muitas maneiras do maligno atingir a
igreja. E reconhecendo, que somos incapazes de lhe resistir por conta própria devemos pedir a
Deus que

quando tentados, sejamos poderosamente sustentados pelo Espírito, e habilitados a


ficar firmes na hora da tentação, ou, quando fracassados, sejamos levantados
novamente, recuperados da queda, e que façamos dela uso e proveito santos; que a
nossa santificação e salvação sejam aperfeiçoados do pecado, da tentação e de todo
o mal, para sempre. (CM, pergunta 195)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, frente a atual conjuntura religiosa, caracterizada por muitas confusões teológicas e
práticas das comunidades evangélicas, o presente trabalho buscou apresentar princípios
contidos na oração do Pai Nosso como paradigma na condução da igreja cristã. Sendo mais
uma maneira bíblica e adequada para balizar corretamente a congregação na maneira de se
relacionar com Deus e o próximo.

No princípio deste trabalho foi apresentado, tanto no Antigo como no Novo Testamento, um
rico vocabulário para se referir à comunicação entre Deus e o ser humano. Pois, parte desse
vocabulário guarda relações com a Oração do Pai Nosso. Assim, no primeiro capítulo o
objetivo foi apresentar a teologia bíblica da oração a partir da análise vocabular, e apresentar
uma análise principalmente da oração do Pai Nosso em Mateus e Lucas.A primeira parte do
primeiro capítulo foi dedicada à análise do vocabulário veterotestamentário da oração. Deste
modo, a pesquisa procurou elucidar as bases formais, vocabulares e teológicas a partir das
quais a análise da oração do Pai-Nosso foi construída.

Em seguida foi exposta uma abordagem mais especifica da Oração do Senhor, quanto ao
aspecto da comunhão com Deus. De maneira que,quanto a relação com Deus, deve se buscar
desenvolver intima comunhão com Deus, e almejar a consumação de seu reino, e desejar que
sua vontade seja feita na terra como é feita no céu.
51

E como referencial para o relacionamento com o próximo, o apresentou a oração do Pai nosso
como luz, critério e alimento espiritual para essa comunhão e com o próximo. Como pode ser
observado no quarto capitulo. A primeira parte do capítulo a Oração do Senhor foi
apresentada como uma oração comunitária. Onde a ênfase nos pedidos não está no “eu”, mas
o “nós”. Evidenciando assim, o amor ao próximo. Elemento essencial para o relacionamento
cristão. Em seguida abordou-se uma análise das principais características do estilo de vida
moderna. Pois, a igreja ao ser influenciada por um viver semelhante, pode comprometer sua
vida comunitária. Diluindo a comunhão genuinamente cristã.

E em relação a comunhão com o próximo, expressar o amor cristão, exercer o perdão sempre
que houver necessidades de reatar a comunhão e cuidar para o mal não atinja a congregação.

A partir do método dedutivo, o trabalho se desenvolveu até chegar nos resultados


apresentados. Deste modo, durante o preparo da pesquisa foram priorizadas fontes que
pudessem trazer contribuições relevantes. A pesquisa procurou trabalhar com obras clássicas
e contemporânea. Buscando reunir diversos autores de diferentes linhas de pensamento, a fim
de obter opiniões que conduzissem ao resultado obtido.

O presente trabalho permitiu analisar a oração do Pai Nosso como um referencial na condução
da relação com Deus e os irmãos. Mostrando-se uma maneira segura, por esta totalmente
baseada nos ensinos de Jesus Cristo. Além disso, verificou-se que; nos primórdios da igreja a
oração do Pai Nosso já havia sido usada como exemplo na educação cristã de seus membros.
Deste modo, podendo ser aplicada novamente na atualidade, pelas igrejas locais através de
sua liderança, como método didático na edificação da comunhão vertical e horizontal.

Através da pesquisa foi possível perceber o quanto é importante conduzir a igreja a uma
intimidade cada vez maior com Deus. Buscando desenvolver uma relação que não se resuma
apenas em desejos matérias ou transitórios, mas que conduza a desfrutar dos privilégios e das
responsabilidades de filhos do Deus Altíssimo. Um relacionamento, onde o que importa em
primeiro lugar é a sua vontade do Pai. E desta maneira, uma busca intensa para ele governe
plenamente toda área da vida humana. Principalmente, na comunidade Cristã.

Quanto a relação horizontal, a pesquisa apontou para o amor fraternal como a base para
comunhão a ser perseguida pela congregação. E o perdão como o caminho a ser seguido na
restauração da comunhão, caso tenha sido rompida. Também, ressalta a diligencia no cuidado
as tentações malignas com vista a preservação da comunhão cristã. Tentações que muitas
52

vezes se confundem com certos estilos de vida atual, mas que nocivos a comunidade. Pois,
tais maneiras de viver são incompatíveis com os princípios da vida cristã.

Portanto, tendo em vista os aspectos observados, faz-se necessário consolidar a comunidade


cristã por caminhos seguros como apresentados na oração ensinada por Jesus, em
conformidade com seus ensinos, para que a igreja cresça cada vez mais na comunhão vertical
e horizontal, de maneira correta. Rejeitando qualquer método pragmático que seja nocivo a
comunidade.

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