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TRABALHO DA DISCIPLINA – ATT0018 FORMAÇÃO DO TEATRO BRASILEIRO –

2022.1
Profa. Elza de Andrade e Prof.Leidson Ferraz.

ALUNO: MARCELO A. C PRATES


MATRÍCULA: 20212415007

2º PERÍODO DO CURSO DE ESTÉTICA E TEORIA DO TEATRO

TEMA ABORDADO: TEATRALIDADES NEGRA NO BRASIL


Não é possível falar de história do Brasil sem falar de cultura negra e de seu
impacto no jeito cotidiano do brasileiro. Lamentavelmente, as narrativas
majoritárias de representação do Brasil tem sido impactadas pelo pensamento
e pelas práticas coloniais, pelo escravismo, o racismo e a discriminação.

Segundo dados do IBGE, cerca de 55% da população brasileira é formada por


negros (pretos e pardos), contudo, nos quase quatrocentos anos de
escravidão, os negros aqui escravizados foram submetidos a um longo tempo
de sofrimento e perdas que não se esgotou com a abolição. A liberdade não foi
concedida, mas conquistada. A história da população negra é sobretudo uma
história de resistência. E assim, também de resistência foi e ainda é feito o
teatro negro no país.

O teatro brasileiro deu os seus primeiros passos no século XIX, com


espetáculos compostos de atores negros e indígenas, em um período histórico
em que não havia prestígio para o exercício da atuação. Desde então, o teatro
nacional tem percorrido um longo caminho em busca de sua identidade, uma
vez que os padrões preferencialmente adotados foram os eurocêntricos.

Produzir um teatro que reflita o ponto de vista da negritude diante da


hegemonia estética, que ainda considera a brancura como um cânone de
beleza, exige um entendimento multidisciplinar da história brasileira.
Numerosas foram as formas de resistência de grupos e coletivos na luta pela
manutenção da identidade negra na cena. A partir dos anos 1940, iniciativas
como as do Teatro Experimental do Negro (TEN – 1944 –61), de Abdias do
Nascimento (1914–2011), do Teatro Profissional do Negro (TEPRON – 1970–
85), de Ubirajara Fidalgo (1949–1986), do Teatro Popular Brasileiro (TPB –
1950–75), de Solano Trindade (1908–1974), e também do Teatro Folclórico
Brasileiro (1949–57), de Haroldo Costa (1930–), que contribuiu para a difusão
das danças populares brasileiras no exterior, realizando várias temporadas na
Europa, se estabeleceram, capacitando artistas e fazendo crítica social e
política em cena, driblando assim as assimetrias de um horizonte desigual.
Alguns dos dramaturgos integrantes desses grupos, escreviam para as demais
companhias, outros atuavam, outros coreografavam ou dirigiram, tudo para
produzir um teatro cuja estética desse conta das temáticas afro, do jongo, do
coco, dos maracatus, dos lundus – havia muito trabalho criativo a fazer. Vale
lembrar que nessa época, brasileiros e brasileiras estavam diante do mito da
democracia racial e de seu ideal falacioso da miscigenação integradora,
disseminados pelo governo militar brasileiro.

Alguns atores e atrizes negros também construíram as suas trajetórias em


meio às contrariedades da profissão: Benjamim de Oliveira (1870–1954), o
primeiro palhaço negro do país; Grande Otelo (1915–1993), ator, notável no
teatro de revista e no cinema, comediante, cantor e compositor; Ruth de Souza
(1921–2019), primeira artista nascida no país a ser indicada a um prêmio
internacional de cinema na categoria de Melhor Atriz no Festival de Veneza de
1954, por seu trabalho em Sinhá Moça; Aguinaldo de Camargo (1918–1952),
um dos fundadores do TEN ao lado de Abdias do Nascimento; Léa Garcia
(1933–), atriz indicada como Melhor Atriz no Festival de Cannes, na França, de
1957, por sua atuação no filme Orfeu negro, entre outros. Em diferentes
períodos da história, essas personalidades enfrentaram dilemas de constituição
e manutenção das suas propostas estéticas e de sua sobrevivência e exercício
de cidadania diante do racismo estrutural e institucional brasileiros, vigentes até
o presente momento, com a diferença de que hoje temos políticas públicas e
equipamentos capazes de problematizar de maneira questionadora tais atos.

Esses multiartistas também ficaram marcados pelas propostas que


apresentavam, paralelas às suas atividades teatrais, como o amplo debate
pedagógico e político em torno da reivindicação da inclusão de pretos e pardos
na vida pública do país, realizando cursos de alfabetização e outras formações
para os seus integrantes, operários, donas de casa e estudantes, como os
encontros promovidos pela 1ª Reunião da Convenção Nacional do Negro, em
1945, e o 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. Cabe destacar também
a fundação do Instituto Nacional do Negro, em 1949, e a publicação, elaborada
pelo departamento de estudos e pesquisas do TEN, entre 1948 e 1950, dos
dez números do jornal Quilombo, com notícias sobre as atividades do TEN e de
outras entidades do movimento negro.

Ainda hoje, vivemos diante da escassa participação de artistas negros em


montagens nacionais, no cinema e na TV, e também de docentes negros nos
departamentos de artes das universidades. A educação étnico-racial não é uma
realidade no dia a dia do brasileiro, apesar dos dezesseis anos da promulgação
da Lei Federal 10.639, de 2003, que institui a obrigatoriedade do ensino de
história da África e do negro, acrescida com os conteúdos da 11.645, de 2008,
que traz a obrigatoriedade dos conteúdos indígenas nas instituições de ensino
e a adoção do sistema de cotas para negros e indígenas, com o objetivo de
fomentar a promoção do acesso desses povos a todos os níveis educacionais.

Por fim, nos palcos e na vida, urgem a releitura crítica da história e das
identidades, o combate aos discursos hegemônicos, à marginalização, ao
genocídio negro, à violência policial, ao desemprego e à pobreza, a busca por
melhores condições de vida, em geral, e para o devido reconhecimento da
população negra no país e a afirmação de seu importante papel histórico,
cultural e social, além da recuperação da memória e a valorização das raízes
africanas e indígenas.

O curso deu uma visão clara sobre a importância do negro do teatro brasileiro,
apesar de todas as adversidades advindas do racismo estrutural vigente no
país, e que na época era ainda mais latente. Hoje podemos contar com gente
da qualidade de um Rodrigo França, ator, diretor, escritor e produtor que
encabeça movimentos que buscam mostrar o protagonismo positivo negro e
que produz na arte, produções a cerca da figura do negro em destaque,
mostrando a potência do nosso povo que pode com certeza através das
ferramentas do teatro, e em especifico do teatro negro, ajudar a construir uma
sociedade mais justa, mais harmônica, com mais oportunidades ao povo negro.
O teatro negro é uma ferramenta antirracista e muito necessária e fiquei bem
entusiasmado que o assunto fizesse parte do currículo do curso de Formação
de Teatro Brasileiro, uma vez que vejo que a maior parte dos assuntos trazidos
nas mais diversas matérias relacionados ao teatro são de conteúdo
eurocêntrico.

Bibliografia:

Lima, Eugenio – LUDEMIR, Júlio, Dramaturgia Negra. São Paulo:2018: ISBN/FUNARTE.

MENDES, Miriam Garcia, A personagem negra no teatro brasileiro. São Paulo: Ática, 1982.

SANTOS, Joel Rufino dos. A História do Negro no Teatro Brasileiro. Rio de Janeiro: Novas
Direções, 2014.

SOBRAL, Cristiane, Teatros negros. Estéticas na cena teatral brasileira. São Paulo: 2018: Mi
Pariô Revolução, v. 1, Coleção Quadro Negro.

SEMINÁRIO TRÊS TEMPOS PARA A DRAMATURGIA NEGRA NO RS: acesso através de


https://www.youtube.com/channel/UCdCgEefxhrOE58-lRVXdGXA

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