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Políticas Sociais

e Questões
Contemporâneas
Material Teórico
Políticas Sociais e Problemas Transversais II

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Mauricio Vlamir Ferreira

Revisão Técnica:
Prof. Me. Priscila Beralda Moreira de Oliveira
a

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Políticas Sociais e Problemas
Transversais II

• A Questão do Preconceito Étnico-Racial Existente no País;


• As Políticas Sociais Brasileiras na Atualidade em
Relação à Igualdade Étnico-Racial;
• As Demandas Globais e Nacionais em Torno de Questões Relativas
à Diversidade Étnico-Racial na Contemporaneidade.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Explicar de que forma o colonialismo construiu uma cultura de
preconceito e contribuiu para a exclusão socioeconômica principalmente
de índios e negros, denunciando um sistema que deixou marcas de
intolerância na sociedade brasileira até os nossos dias.
· Identificar quais as ações do Estado brasileiro sobre as comunidades
indígenas.
· Evidenciar a exclusão social e a falta de igualdade e de oportunidades
historicamente latentes na sociedade brasileira.
· Elucidar de que forma se trata atualmente a questão do preconceito
racial e da xenofobia no mundo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais II

Contextualização
A questão étnico-racial brasileira é abrangente, vivemos em um cotidiano
sociopolítico de avanços, mas também de ameaças a importantes conquistas já
realizadas em torno do assunto.

Essa cultura do desprezo da classe dominante vem do secular pensamento


colonialista de exploração de negros, índios e até dos imigrantes que lutaram para
a construção da sociedade brasileira como é hoje.

A Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão criado durante o regime militar


e presente até hoje no Estado brasileiro, nunca teve o comando de um indígena.
Estudos para identificar as tribos, regularizar e demarcar os espaços indígenas,
além do monitoramento e fiscalização desses territórios, o contato e a proteção dos
povos são funções básicas desse órgão. Ou seja, até hoje os índios não conseguem
dirigir uma entidade que os representa, apesar de obterem avanços em demarcações
de novos parques indígenas, como as terras cedidas para a implantação do Parque
Raposa Serra do Sol no Estado de Roraima.

Antes da década de 1980, o Estado brasileiro se omitia em relação à formulação


de políticas que contemplassem o acesso a oportunidades e serviços à comunidade
negra no país. A Constituição de 1988 foi um marco em relação às garantias
de direitos na questão do respeito à igualdade racial, assim como também foi
importante para garantir mudanças sociais como um todo no Brasil.

Em 1996, o Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH I) foi lançado


com o compromisso do Governo Federal em assumir o combate ao preconceito e
à desigualdade racial.

Lançado em 2002, o PNHD II levou o Estado brasileiro a reconhecer o tráfico


e a escravidão dos negros como crimes contra a humanidade, além do fato das
questões de exclusão social e de falta de oportunidades iguais, bem como a ausência
de políticas públicas elaboradas pelos governos, terem como consequência a
realização de ações compensatórias, que passaram a promover um novo patamar
de igualdade e inclusão social para a comunidade negra a partir de então.

A conferência de Durban, realizada em 2001, foi um marco nas questões que


tratam o racismo, a escravidão e a intolerância como crimes históricos contra a
humanidade; porém, em questões práticas, não há uma ação unificada, uma vez
que muitos países ainda travam guerras que, por sua vez, sempre criam situações
de conflitos étnicos-raciais e de exclusão social.

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A Questão do Preconceito
Étnico-Racial Existente no País
A questão étnico-racial brasileira é abrangente, vivemos em um cotidiano
sociopolítico de avanços, mas também de ameaças a importantes conquistas já
realizadas em torno do assunto.

A tecnologia da informação e a democratização do acesso aos meios de


informação nos auxiliam a enxergar o racismo de uma forma mais explícita, sendo
que por muito tempo se negava que no Brasil existisse tal atitude.

A ideia de preconceito racial sempre foi abordada de forma velada, com uma
cultura de desprezo, tabu, por muitas vezes forjada no cunho da exploração do
trabalho, da exploração sexual e no desrespeito de uma elite branca sobre as outras
etnias formadas no país.

Essa cultura do desprezo da classe dominante vem do secular pensamento


colonialista de exploração de negros, índios e até de imigrantes que lutaram para a
construção da sociedade brasileira como é hoje.

Cada etnia colaborou de forma importante para os nossos hábitos e costumes


atuais, onde se define a nossa identidade cultural.

Essa identidade, a duras penas, foi trazida pelos escravos africanos, desde seu
aprisionamento nas regiões em guerras e conflitos na África, mas também escondida
nas matas das florestas e repassadas ao homem branco seja nos traços da língua
tupi-guarani, que influenciou nossos hábitos alimentares, de higiene – como o fato
de gostarmos de tomar banho diariamente –, seja também com a tradição oriental
do hábito de se comer arroz com o feijão ou com a feijoada da comunidade negra.

Uma cultura tão única e rica por muitas vezes ofuscada por atos de agressão
física, verbal e moral e que em casos extremos leva inocentes à prisão.

Como surge esse preconceito na civilização brasileira?

O preconceito surge com a descoberta do Brasil, a partir do contato dos


colonizadores portugueses com os índios – chamados de negros da terra –, pensado
primeiramente pelos colonizadores para servir aos seus conquistadores, tendo
muito pouca coisa em troca.

Os índios foram primeiramente considerados povos pagãos pela igreja católica,


que tentou cristianizar tribos inteiras. O despudor do uso de roupas é trocado pela
vergonha e a necessidade de se vestir, imposta pelos brancos colonizadores. O
trabalho e a exploração da terra, das matas e a dizimação de índios em guerras,
doenças, até então inexistentes em solo brasileiro, trazidas pelos brancos, faz
com que os índios se afastem com o tempo dos colonizadores. Assim, as nações
indígenas cada vez mais foram se distanciando e se afastando das cidades erguidas,
encolhendo-se em distantes locais do Brasil.

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Porém, no século XX, o desenvolvimentismo, a expansão rural, além da ganância


pelos minérios contidos na floresta voltam a rondar e ameaçar as tribos indígenas.
Os índios são vítimas dos novos colonialistas, representantes da elite latifundiária,
que oprimem, matam os índios e destroem a floresta para dar lugar a imensos
campos de lavoura de soja e pecuária.

Na década de 1970, o Estado brasileiro expande os planos desenvolvimentistas,


encampa o desenvolvimento industrial de Manaus, capital do Amazonas, e leva obras
de construção de estradas que cortam a Amazônia brasileira, além de incentivar a
colonização do Centro-Norte do Brasil com o deslocamento das famílias de origem
europeia para essa região.

Aos índios, restam os últimos refúgios em parques nacionais delimitados ou a


integração e o aculturamento total para a vida urbana. Uma difícil integração com
novos hábitos.

Muitos índios são levados ao vício do álcool e das


drogas e outros, não conseguindo se adaptar à nova
realidade, acabam por tirar a sua própria vida. Se não
for assim, morrem lutando contra latifundiários donos
das terras que um dia foram da população indígena.

Até hoje os índios não conseguem dirigir a entidade que os representa, no caso, a
Fundação Nacional do Índio (FUNAI), apesar de obterem avanços em demarcações
de novos parques indígenas, como as terras cedidas para a implantação do Parque
Raposa Serra do Sol no Estado de Roraima.

Apesar de a Constituição de 1988 garantir direitos específicos à comunidade


indígena – como a saúde, a educação, o direito à terra e a preservação de sua
cultura –, muito preconceito e descaso público são vivenciados pelos indígenas até
os dias atuais.

Nos centros urbanos, fatos como o assassinato em 1997 do Índio Galdino , que
dormia em um ponto de ônibus em Brasília-DF, por dois jovens de classe média, ou
ainda o assassinato do agente de saúde indígena Clodiode , fato que deixou mais
seis índios feridos, com total descaso do governo do Mato Grosso do Sul em junho
de 2016, infelizmente fazem com que o desrespeito e o preconceito sejam parte
da contemporaneidade e da realidade vivida pelos índios no Brasil.

Um outro fator de lutas por garantias de direitos é o enfrentamento dos índios com
questões ligadas a obras de infraestrutura que podem ameaçar todo o ecossistema
vigente próximo às tribos indígenas localizadas na floresta amazônica.
É o caso das usinas hidroelétricas, que podem desviar o curso de rios e formar
represas, interferindo na vida de animais e plantas locais, ao mesmo tempo em que
novas cidades e vilas construídas no entorno dessas obras acabam por aproximar
obrigatoriamente as tribos indígenas com a civilização.

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A cultura indígena é uma das raízes da civilização brasileira contemporânea, sua
culinária, dança, música entre outras tradições fazem parte de uma rica influência
na cultura nacional, devendo seu legado ser preservado e respeitado por toda a
sociedade brasileira.

Figura 1 - Tribo indígena no Parque Nacional do Xingú


Fonte: Wikimedia Commons

Tabela 4 - Pardos (Englobados nesta parcela – pardos –, os contingentes designados como amarelos nos
censos brasileiros, representados principalmente pelos nipo‐brasileiros e índios, não alcançam 5% dos totais)
CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA SEGUNDO A COR (em Milhares)
Ano Brancos Pretos Pardos * Totais:
1872 3.854 (38%) 1.976 (20%) 4.262 (42%) 9.930
1890 6.302 (44%0 2.098 (15%0 5.934 (41%) 14.333
1940 26.206 (63%) 6.644 (15%) 8.760 (21%) 41.236
1950 32.027 (62%) 5.692 (11%) 13.786 (26%) 51.922
1990 81.407 (55%) 7.264 (5%) 57.822 (39%) 147.306
Fontes: IBGE, Conselho Nacional de Estatística (Laboratório de Estatística) (1961); e Anuário Estatístico do Brasil (1993).”

A tabela acima identifica o predomínio e a expansão da população autode-


nominada branca no Brasil. A predominância dessa população frente às outras
tem como definidos aspectos relacionados à facilidade de acesso a direitos básicos
como educação, saúde, alimentação, melhores empregos, entre outros fatores de
melhor inserção socioeconômica no país.
Esse aspecto não é tão divulgado na sociedade, uma vez que não é interessante
a classe dominante branca identificar que existe uma melhor oportunidade de
ascensão social para um determinado setor étnico-racial, que representa a elite
herdeira dos senhores do Brasil-Colônia – elite essa, que séculos antes, trouxe os
escravos negros comprados como simples mercadoria, um objeto ou animal.
Pessoas capturadas eram separadas de sua família, reféns de conflitos tribais,
oriundas da África Ocidental em condições subumanas em viagens precárias nos
navios do tráfico escravagista de grandes lucros para o comércio português. Os
chamados navios negreiros atravessavam o Oceano Atlântico lotado de escravos,
que quando muito doentes eram jogados ao mar como um objeto sem valor.

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais II

Quando os sobreviventes chegavam aos portos brasileiros, eram besuntados de


banha e vendidos aos seus donos, senhores de engenho e donos de fazendas,
isso ocorreu até o século XIX. A utilização da mão-de-obra escrava era feita em
condições de exploração total do trabalho dos negros.
A forma de punição dos escravos negros consistia em dolorosa tortura, realizada
por capatazes, homens de confiança dos senhores das fazendas. Os negros que
tentassem fugir das fazendas, quando capturados, eram torturados no limite e
muitos, não aguentando o sacrifício, eram mortos na frente de outros escravos
como fator de tenebroso exemplo.
Muitos escravos não tinham mais a ligação familiar e no Brasil constituíam novas
famílias. Também tinham que aprender a nova língua. O que os unia a partir de
então eram os laços culturais e religiosos, onde o sincretismo com as tradições
coloniais católicas oportunizava uma ligação dos negros com as suas crenças nas
divindades africanas.
Os negros que tiveram a sorte de escapar da opressão das fazendas formavam
em regiões afastadas os quilombos, onde se organizavam em sociedades livres
e comunais. O quilombo mais famoso foi o de Palmares, localizado na Serra da
Barriga em Alagoas, comandado por Zumbi e destruído em 1694.
Embora tenha oportunizado a liberdade, a abolição da escravatura, em 13 de
maio de 1888, trouxe um grande problema social para os agora ex-escravos.
Anteriormente fixados nas senzalas das grandes fazendas, os negros agora eram
abandonados pelos seus antigos donos à própria sorte, sem direito a nenhuma
compensação financeira ou reparação de qualquer ordem pelo Estado brasileiro.
Em pouco tempo, essa população começou a acampar em terrenos baldios e a
tentar sobreviver com uma pequena agricultura de subsistência.

Figura 2 - Comunidades Quilombolas


Fonte: Wikimedia Commons

Muitos, desalojados inclusive dessas terras, percorreram os caminhos para as


cidades, subsistindo em locais periféricos sem a mínima condição de infraestrutura,
acabando por resistir e conseguir pequenos trabalhos para sua sobrevivência e,
posteriormente, empregando-se e fazendo parte da mão de obra assalariada das

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indústrias, que aos poucos acabaram por substituir a agricultura como a principal
atividade econômica no Brasil.

A cultura musical, culinária e religiosa da comunidade negra foram contribuições


importantes para a sua integração na sociedade brasileira até os dias atuais. Porém,
no início do século XX, rodas de samba e capoeira, assim como as manifestações
religiosas afro-brasileiras eram proibidas e sua desobediência era punida com prisão.

Somente após a Constituição de 1946 os cultos e as religiões afro-brasileiros


– como a Umbanda, o Candomblé e a Quimbanda – puderam ser permitidas e
legalizadas. Apesar da legalização da livre organização dessas religiões, após os
anos 1990 muitas igrejas evangélicas neopentecostais utilizaram, e ainda utilizam,
o discurso da intolerância no sentido de incitar o preconceito, o ódio e a violência,
em demonstração clara de desrespeito à liberdade da organização cultural religiosa
afro-brasileira.

A desigualdade socioeconômica, porém, é até os nossos dias atuais a herança


negativa imposta pelo Estado brasileiro à população negra afrodescendente
brasileira. Essa desigualdade social gera consequências desastrosas para uma
população reprimida nas periferias da grande cidade.

A força coercitiva da polícia do Estado brasileiro, somada à justiça organizada


pela maioria branca e elitista do país, trabalha para ampliar o número de negros
presos no lotado e degradante sistema prisional brasileiro. O extermínio de crianças
e jovens negras no Brasil também contribui para a desigualdade de condições de
existência dadas à população negra.

Figura 3 - Imagem de repressão policial aos negros no Brasil


Fonte: iStock/Getty Imagens

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Gráfico 1- Taxa de homicídios de negros e não negros no Brasil – 2004 a 2014


38,0 19,0

Taxa de homicídios de Não Negros


37,0
Taxa de homicídios de Negros 18,0
36,0

35,0 17,0

34,0
16,0
33,0
15,0
32,0

31,0 14,0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Negros Não Negros


Fonte: Adaptado de IBGE/Diretoria de Pesquisas

A imagem acima identifica um crescimento do aumento da taxa de homicídio


muito maior em relação à população negra do que em relação a outras populações,
evidenciando um Estado repressor e nitidamente excludente, onde o extermínio
dessa população no Brasil é uma triste realidade.

A constatação atual é de que o preconceito no Brasil deve ser uma questão


levada a sério e tem o dever de ser encarado com políticas públicas inclusivas
efetivas, que possam proporcionar as garantias de direito necessárias para que
haja a prevalência da justiça social, onde as pessoas tenham o mesmo direito às
oportunidades, às condições de inclusão socioeconômicas e de serem respeitadas
pela sua condição de cidadãs, independentes de sua raça ou origem.

Importante! Importante!

Para uma maior compreensão sobre os graves problemas sociais do mundo e do meio
ambiente, recomendamos que você assista os vídeos: “O povo brasileiro” partes 1, 2 e 3.
O vídeo elaborado por Darcy Ribeiro traz a origem dos povos indígenas, portugueses e
africanos, que criaram a raiz da atual população brasileira. Os links desses vídeos podem
ser encontrados no material complementar para atividades de aprofundamento.

As Políticas Sociais Brasileiras na Atualidade


em Relação à Igualdade Étnico-Racial
O Brasil, como país de regulação social tardia, tem demonstrado que muitos
privilégios da elite ainda se mantêm, criando um sistema ainda excludente,
com limitação de acesso às oportunidades e com dificuldades de crescimento e
desenvolvimento econômico e social.

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Os movimentos organizados pela luta contra o racismo e por mudanças contra
o preconceito começaram a emergir na década de 1980. Antes disso, o Estado
brasileiro se omitia em relação à formulação de políticas que contemplassem o
acesso a oportunidades e aos serviços à comunidade negra no país. A mobilização
social da militância negra se organizou nos movimentos feministas e também na
comunidade acadêmica, além de mobilizações no campo da saúde pública, com
reivindicações específicas para a saúde da população negra.

A Constituição de 1988 foi um marco em relação às garantias de direitos na


questão do respeito à igualdade racial, assim como também foi importante para
garantir mudanças sociais como um todo no Brasil. Na nova constituição, e também
a partir da Lei 7716 de 1989, o racismo passou a ser criminalizado, assim como as
comunidades dos quilombos passaram a ter direito a posse da terra. Nesse período,
um grande símbolo dos novos tempos de luta e organização da comunidade negra
foi a criação da Fundação Cultural Palmares, fortalecendo a identidade negra na
cultura nacional.

Essa luta trouxe um grande reconhecimento e a aproximação política das


reivindicações dos negros com o Estado brasileiro, abrindo novas perspectivas
na organização civil e na construção de uma nova relação de afirmação positiva
e reivindicações de formulação de estratégias de combate às diferenças sociais,
estabelecendo um novo patamar de reivindicações e de diálogo da comunidade
negra com o Governo Federal.

Como símbolo dessa mobilização e luta, a Marcha Zumbi de Palmares contra


o Racismo pela Cidadania e Pela vida, em 1995, surgiu como um importante
momento de identificação na luta pela liberdade, que definiu o dia 20 de novembro
como o dia da Consciência Negra e Luta Contra a Desigualdade Racial.

Figura 4 - Secretária da Igualdade Racial Matilde Ribeiro


Fonte: Wikimedia Commons

As importantes consequências desse ato foram a entrega por representantes da


comunidade negra, ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, do documento
Programa de Superação do Racismo e da Desigualdade Racial, que apresentou

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um panorama da desigualdade racial e do racismo, com reivindicações de políticas


afirmativas em temas principais divididos em: educação, saúde, trabalho, terra,
religião, violência, informação, cultura e comunicação.

Consequentemente após a entrega desse documento, formou-se um grupo


de trabalho formado por líderes da sociedade civil e do movimento negro e
representantes dos ministérios do Governo Federal, para que se pudesse aproximar
as questões elencadas pela comunidade negra junto às políticas do Estado brasileiro.

Em 1996, o Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH I) foi lançado


com o compromisso do Governo Federal em assumir o combate ao preconceito e à
desigualdade racial. O PNDH I definiu metas e estratégias de ações de curto, médio
e longo prazos em relação à promoção da igualdade, sendo elencadas importantes
ações do Estado a partir daquele momento, tais como:
·· Apoios a grupos de trabalho e à criação de conselhos;
·· Inclusão do quesito cor em todos e quaisquer sistemas de informação e
registro sobre a população negra e de brancos para dados públicos;
·· Estímulo à presença dos grupos étnicos que compõem a população
brasileira em propagandas institucionais do Governo Federal;
·· Apoio às ações da iniciativa privada que realizem “discriminação positiva”;
·· Formulação de políticas compensatórias que promovam social e economi-
camente a comunidade negra, alteração do conteúdo de livros didáticos,
bem como a ampliação do acesso de entidades da comunidade negra aos
diferentes setores do governo.

Um importante destaque do governo brasileiro neste período foi a sua participa-


ção na Conferência de Durban na África do Sul, assumindo compromisso impor-
tante como país apoiador dos compromissos globais na luta contra a discriminação
e no combate ao racismo e à intolerância.

Lançado em 2002, o PNHD II levou o Estado brasileiro a reconhecer o tráfico e


a escravidão dos negros como crimes contra a humanidade. Reconheceu também
as questões de exclusão social e de falta de oportunidades iguais, bem como a
ausência de políticas públicas elaboradas pelos governos terem como consequência
a realização de ações compensatórias, que passariam a promover um novo patamar
de igualdade e inclusão social para a comunidade negra a partir de então.

A partir de 2003, os governos Lula e Dilma, além de abraçarem o grupo de


trabalho interministerial, demonstraram valorizar as questões da promoção da
igualdade racial, desencadeado esse processo na criação da Secretaria Especial de
Promoção da Igualdade Racial, que em 2008 foi elevada ao status de Ministério.

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A missão principal desse órgão governamental é o de criar uma política nacional
de promoção da igualdade racial e desenvolver ações conjuntas a outros ministérios
que gerem oportunidades de acesso à comunidade negra em todas as ações do
Governo Federal.

As ações desenvolvidas desencadearam na primeira e segunda Conferência


Nacional de Promoção da Igualdade Racial, ambas as conferências resultaram
na construção do Plano Nacional da Promoção da Igualdade Racial, tornando
concretas as ações para a população negra, indígena, quilombola e cigana, entre
outros segmentos étnicos dentro da população brasileira, contemplando a sua
inclusão e a igualdade de direitos.

A universalidade e o acesso a todos os níveis de educação através da promoção


de políticas positivas para a comunidade negra, indígena, entre outros grupos
étnicos, são também formas importantes de garantir o lugar desses grupos na
educação desde a infância até o meio acadêmico universitário, englobando os três
níveis principais da educação no país.

Essas ações estão contempladas na Lei 10.639, que inclui no currículo oficial da
Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira,
o Prouni (Programa Universidade Para Todos) e o apoio às ações afirmativas nas
universidades públicas.

É importante destacar também que o sistema de cotas em concursos públicos


e acesso às universidades públicas e privadas não é uma lei, porém faz parte
das políticas adotadas para possibilitar condições de acesso a esse segmento
populacional no Brasil.

No campo da saúde, assim como na educação, as políticas se destacam para a


atenção a problemas específicos da população negra, tanto em relação ao respeito
no atendimento, como no que tange a doenças específicas – por exemplo, em
relação à identificação da anemia falciforme, diagnosticada em muitos casos em
crianças da comunidade negra.

Importante! Importante!

Para uma maior compreensão sobre os graves problemas sociais do mundo e do meio
ambiente, recomendamos que você assista ao vídeo História da Resistência Negra no
Brasil, um documentário de José Carlos Asbeg. O vídeo traz um relato da organização do
movimento negro no Brasil. O link desse pode ser encontrado no material complementar
para atividades de aprofundamento.

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais II

As Demandas Globais e Nacionais em Torno


de Questões Relativas à Diversidade Étnico-
-Racial na Contemporaneidade
Assim como no Brasil, as questões sobre o preconceito e a desigualdade racial
começaram a ser discutidas e relacionadas como políticas públicas tardiamente.
Antes da II Guerra Mundial, a xenofobia e o preconceito ainda davam ares de
políticas segregacionistas, tanto em países totalitaristas, como a Alemanha e a Itália,
como em países considerados exemplos de democracia, como os Estados Unidos.
A intolerância a judeus, negros e asiáticos levou ao extermínio de milhões de
pessoas em crimes de guerra que jamais serão esquecidos pela humanidade.
Após o conflito, com a implantação da Organização das Nações Unidades,
a declaração Universal dos Direitos do Homem passou a ser um importante
instrumento de luta contra as diferenças sociais e também contra a discriminação
racial e social dos seres humanos.
Porém, a luta pelos direitos civis e contra a segregação racial nos Estados Unidos
continuou e até os dias atuais é motivo de levantes sociais contra o abuso das
autoridades norte-americanas.
A intolerância, o preconceito e a discriminação racial também fizeram parte
do cotidiano da sociedade da África do Sul até os anos 1990, quando o regime
do Apartheid chegou ao fim a partir de uma intensa mobilização nacional e
internacional contra as políticas de uma minoria branca colonialista e rica frente a
ampla maioria e pobre comunidade negra.
A chegada de Nelson Mandela representou uma nova esperança para um novo
país que se formava com o desafio da integração e amenização das tensões sociais
que poderiam surgir nesse novo caminho.
Atualmente a intolerância racial também vem dos conflitos entre os países árabes
e Israel, no Oriente Médio, da guerra civil na Síria e de conflitos internos em países
africanos, gerando uma massa migratória intensa para a Europa.
A intolerância e o racismo no continente europeu, com a ascensão da extrema-
direita organizada em muitos países, além de preocupar, dificulta a possibilidade
de ajuda humanitária e a convivência dessa nova massa imigrante nos países da
comunidade europeia.
Assim como no nível internacional, o Brasil tem mantido uma política intensa
de participação em relação aos problemas de enfrentamento do preconceito e
da intolerância no mundo. A organização do terrorismo e os intensivos ataques
coordenados por lutas do mundo islâmico contra o ocidente ajudam a alimentar o
ódio e o preconceito contra a comunidade muçulmana na esfera mundial. A questão
do sionismo e da intolerância israelita frente aos povos muçulmanos também é um
aspecto grave de tensão no mundo atual.

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A conferência de Durban, realizada em 2001, foi um marco nas questões que
tratam o racismo, a escravidão e a intolerância como crimes históricos contra a
humanidade; porém, em questões práticas, não há uma ação unificada, uma vez
que muitos países ainda travam guerras que por sua vez sempre criam situações de
conflitos étnicos raciais e de exclusão social.

A própria prática excludente do mundo capitalista globalizado expõe as


desigualdades sociais e criam situações de intolerância em que o poder de uma
classe dominante sobre outra de trabalhadores contribui para o aumento e a tensão
nas relações dos povos em todo o planeta.

É necessário neste novo milênio um novo pensamento de igualdade que


eleve a integração e o desenvolvimento social e coletivo, que vise a um processo
transformador do ódio secular em relações positivamente fraternas, humanas e
inclusivas, que desenhem um novo caminho para a humanidade.

Importante! Importante!

Para maior compreensão sobre os graves problemas sociais do mundo e do meio


ambiente, recomendamos que você assista ao vídeo CULTNE - Conferência Internacional
Durban 2001. O documentário traz um relato da importância da Conferência de Durban
para o mundo. O link pode ser encontrado no material complementar para atividades
de aprofundamento.

Em Síntese Importante!

A questão étnico-racial brasileira é abrangente, vivemos em um cotidiano sociopolítico


de avanços, mas também de ameaças a importantes conquistas já realizadas em torno
do assunto.
Essa cultura do desprezo da classe dominante vem do secular pensamento colonialista
de exploração de negros, índios e até dos imigrantes que lutaram para a construção da
sociedade brasileira como é hoje.
Apesar de na Constituição de 1988 a comunidade indígena garantir direitos específicos
– como a saúde, a educação, o direito a terra e a preservação de sua cultura –, muito
preconceito e descaso público é vivido pelos indígenas.
Até hoje, os índios não conseguem dirigir uma entidade oficial que os representa, apesar
de obterem avanços em demarcações de novos parques indígenas, como as terras
cedidas para a implantação do Parque Raposa Serra do Sol no Estado de Roraima.
Antes da década de 1980, o Estado brasileiro se omitia em relação à formulação de políticas
que contemplassem o acesso a oportunidades e serviços à comunidade negra no país.
A Constituição de 1988 foi um marco em relação às garantias de direitos na questão do
respeito à igualdade racial, assim como também foi importante para garantir mudanças
sociais como um todo no Brasil.

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Em 1996, o Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH I) foi lançado com
o compromisso do Governo Federal de assumir o combate ao preconceito e à
desigualdade racial.
Lançado em 2002, o PNHD II levou o Estado brasileiro a reconhecer o tráfico e a
escravidão dos negros como crimes contra a humanidade. Reconheceu também
as questões de exclusão social e de falta de oportunidades iguais, bem como a au-
sência de políticas públicas elaboradas pelos governos terem como consequência a
realização de ações compensatórias, que passariam a promover um novo patamar
de igualdade e inclusão social para a comunidade negra a partir de então
A conferência de Durban, realizada em 2001, foi um marco nas questões que tratam
o racismo, a escravidão e a intolerância como crimes históricos contra a humanidade;
porém, em questões práticas, não há uma ação unificada, uma vez que muitos países
ainda travam guerras que, por sua vez, sempre criam situações de conflitos étnicos-
-raciais e de exclusão social.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
O povo brasileiro – partes 1, 2 e 3
https://goo.gl/5tTDQ6
História da Resistência Negra no Brasil
Documentário de José Carlos Asbeg
https://goo.gl/ohFjqI
CULTNE – Conferência Internacional Durban 2001
https://goo.gl/icalqa

Leitura
O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil
Darcy Ribeiro
https://goo.gl/jO7X2K
Racismo no Brasil: tentativas de disfarce de uma violência explícita
Sylvia da Silveira Nunes
https://goo.gl/X2BKH4
Desigualdades raciais e políticas públicas: ações afirmativas no governo Lula
Márcia Lima
https://goo.gl/vZsUu9

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UNIDADE Políticas Sociais e Problemas Transversais II

Referências
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 6. ed.
São Paulo: Cortez, 2009.

FRY, Peter H. O significado da anemia falciforme no contexto da ‘política racial’


do governo brasileiro 1995-2004. Hist. cienc. Saúde Manguinhos, Rio de
Janeiro, v. 12, n. 2, maio/ago. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702005000200007

LIMA, Márcia. Desigualdades   raciais e políticas públicas: ações afirmativas no


governo Lula. Novos estud., CEBRAP, São Paulo, n. 87, jul. 2010. Disponível  em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002010000200005

NUNES, Sylvia da Silveira. Racismo no Brasil: tentativas de disfarce de uma violência


explícita. Psicol. USP, São Paulo, v. 17 n. 1, mar. 2006. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642006000100007

RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2. ed. São


Paulo: Companhia das Letras, 2004.

SADER, E. S. Pós-Neoliberalismo: As Políticas Sociais e o Estado Democrático.


São Paulo: Paz e Terra, 2010.

SILVA, M. O. S.; YAZBEK, M. C. A Política Social Brasileira no Século XXI: a


prevalência dos programas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

Outras fontes
Atlas da Violência 2016 – IPEA & FBSP. Disponível em: http://infogbucket.
s3.amazonaws.com/arquivos/2016/03/22/atlas_da_violencia_2016.pdf

FUNAI – Fundação Nacional do Índio. Disponível em: http://www.funai.gov.


br/index.php/quem-somos

Tragédia de índio Galdino, queimado vivo em Brasília, completa 15 anos

Disponível: https://goo.gl/vT8V0w

Índio é morto e 6 ficam feridos em conflito no sul de MS, afirma Funai

Disponível: https://goo.gl/DqDTvK

Guerra dos Palmares

Disponível: https://goo.gl/TZZmWd

A Rota das Abolições da Escravidão e dos Direitos Humanos

Disponível: https://goo.gl/fFkcRJ

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