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Boa tarde!

Sou Maria Filipe Alberto, Licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa, 3º Ano.


Tema de debate: O papel da redes sociais na variação e mudanças linguística de
Moçambique.
Moçambique é um país lusófono e tem uma diversidade linguística composta
por mais de vinte Línguas Bantu que concorrem com o português como língua
oficial. Há desvio à norma-padrão causado pelo contacto e interferência das Línguas
Bantu. A pesquisa visa (a) explicar as particularidades do papel da rede social na
variação e mudança linguística em Moçambique.
Porém, falar implica seguir uma ou outra variedade linguística, cuja opção
depende do papel social representado pelo usuário da língua em cada uma de suas
diversas situações de interacção quotidiana. Entretanto, há forças interferindo
decisivamente nessa escolha, agindo em favor de uma ou outra forma de falar: as
redes de interacção.
Vivemos inseridos em redes sociais. Ligamo-nos às pessoas por meio de uma
rede invisível e maleável que nos conecta a outras pessoas dos nossos círculos
sociais, profissionais e familiares.

Redes sociais
Blake (2003) afirmam que, ao engajarem-se em grupos, as pessoas criam uma
estrutura significativa para a resolução dos problemas que surgem em seu quotidiano.
Como bem observa Boaventura (1993, p.34), “os problemas diários mudam, assim
como as pessoas”. Embora possam relacionar-se localmente com mais intensidade,
conhecendo quase todos os membros de uma comunidade e esses, conhecendo-se
também, os indivíduos movimentam-se, engajam-se em diferentes empreendimentos e
em variadas comunidades, nas quais processos simbólicos e relações identitárias
diversas têm lugar. Há ligação entre redes e práticas sociais na variação e mudança
linguística.
No prefácio à segunda edição do trabalho pioneiro de Giron (1980) sobre redes
sociais e variação linguística, “Language and Social Networks” (Língua e Redes
Sociais), Peter Trudgill observa que a proposta articula um estudo laboviano em
dialetologia social a um estudo socioantropológico e psicossocial da língua, na esteira
de Gumperz. Estudos de rede social não são método exclusivo à análise linguística.
As redes sociais são ancoradas nos indivíduos. Batisti (1993) afirma que, por
essa razão, geralmente interessam as análises das redes, cujos laços estabelecem-se
entre pessoas que interagem directamente, o que limita a um número entre 20 e 50 o
total de participantes da rede analisada. Ainda, distinguem-se laços fortes dos fracos:
opõem-se, respectivamente, laços “que conectam amigos e parentes, àqueles que
conectam conhecidos” (Evans, 2004, p.550).

A interacção por meio das redes sociais em Moçambique


Conquanto os relacionamentos locais sejam mais frequentes e o conhecimento
entre membros de uma mesma comunidade de fala seja mútuo, as pessoas movem-se,
aderem a diferentes movimentos, engajam-se a variados empreendimentos, inserem-
se em outros grupos, adentram outras sociedades nas quais as relações identitárias têm
lugar. Ou seja, há um sensível e tenaz vínculo entre as relações sociais e variação e
mudança linguística.
Há três conceitos-chave em Sociolinguística, no âmbito interação-variação-
mudança: comunidades de fala, redes sociais de interacção e comunidades de prática,
com todos abarcando a interacção. Interessa-me, neste trabalho, a noção de Redes
Sociais, definida por Evans (2004) como “um conjunto de vínculos de todos os tipos
entre os indivíduos em um grupo”.
Estudos das Redes Sociais de interacção, termo traduzido do inglês Social
Networks, apresentam uma abordagem complementar sobre as questões da variação e
da mudança linguística, visto que as concebem como resultado da interacção entre
falantes inseridos em determinados contextos sociais e situacionais, factores essenciais
que não podem ser descartados na medição e mensuração da variação/mudança, bem
como secundarizam a importância de variáveis linguísticas e sociais
descontextualizadas, favorecendo a aproximação das análises à dimensão do
quotidiano, fugindo, com isso, de generalizações universais.

Variação linguística e contexto social


Como bem observa Castells (1999), contexto é um conceito teórico e, como tal,
é relacional: sua concepção e tratamento dependem de outras noções teóricas. Na linha
de investigação laboviana, contexto social não deve ser entendido do ponto de vista
fenomenológico: não emerge da interacção pela fala, não é efémero. Deve ser tomado
para além dos actos localizados.
Na sociolinguística conforme Labov (1972, 1994, 2001), contexto social é
anterior à fala, aos enunciados; é global e duradouro e, como conjunto de condições
sociais e históricas, funciona como sistema de referência explicativo dos usos
individuais da linguagem. Assim sendo, colectividades como classes sociais,
comunidades, redes sociais, bem como características colectivas dos agentes (sexo,
idade, profissão, escolaridade) são unidades de análise relevantes.
Em Weinreich, Labov e Herzog (1968), há uma afirmação explícita a esse
respeito, quando os autores sintetizam o problema do encaixamento para uma teoria da
variação e mudança linguística: “Na explicação da mudança linguística, é possível
alegar que os factores sociais pesam sobre o sistema linguístico como um todo[...]
Assim, a tarefa do linguista não é tanto demonstrar a motivação social de uma mudança
quanto determinar o grau de correlação social que existe e mostrar como ela pesa
sobre o sistema linguístico abstracto.” (Weinreich, Labov e Herzog, 1968 [2006],
p.123)
Milroy e Milroy (1985) explicam que tanto laços fortes quanto fracos conectam
indivíduos em rede. Laços fortes tendem a se concentrar em grupos particulares e são,
frequentemente, ligações multiplexas, isto é, unem indivíduos por mais de um tipo de
relacionamento (colegas de trabalho e, também, vizinhos). Laços fracos tendem a
conectar indivíduos entre grupos. Por essa razão, são candidatos naturais à difusão da
inovação: laços fortes reforçariam o falar local; laços fracos propagariam a mudança.

Rede social como contexto de mudança


No estudo que fornece subsídios à presente reflexão, sobre a palatalização
variável das oclusivas alveolares, de Battisti, Dornelles Filho, Lucas e Bovo (2007), a
análise da rede social foi realizada concomitantemente a uma análise de regra variável
nos moldes labovianos. Isso quer dizer que os 48 membros da rede social analisada
foram também os 48 informantes de cujas entrevistas foram levantados os 26 600
contextos de palatalização considerados na análise.
Como já afirmamos anteriormente, a regra aplica-se a uma frequência de
30% na comunidade de António Prado e é condicionada, em termos linguísticos, por
vogal fonológica ou subjacente /i/ e consoante-alvo da regra desvozeada, isto é, /t/. O
condicionamento social é bastante forte em Antônio Prado, desempenhado por jovens e
habitantes de zona urbana. À primeira vista, pelo resultado dos jovens, a mudança
estaria em progresso na comunidade.

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