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13/02/2024, 08:45 Feminismo negro e mulherismo africana: qual representa melhor a realidade de mulheres negras no Brasil?

- Mundo Negro

Feminismo negro e mulherismo africana: qual


representa melhor a realidade de mulheres
negras no Brasil?
(MN) Redação - 11 de julho de 2022

Katiúscia Ribeiro, Jaque Conceição e Aza Njeri. Foto: Arquivo Pessoal.

Por Isadora Santos

Abordagens buscam compreender o que é ser mulher preta na diáspora africana

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das mulheres da família na sua vida:
"falam de afeto por décadas"

A celebração do Julho das Pretas também traz debates importantes sobre movimentos
que representam as lutas das mulheres negras no que diz respeito às particularidades
que ser preta e ser mulher no Brasil significam.

Nesse contexto, muitas mulheres negras têm se perguntado se o feminismo negro


realmente as contempla, questionando se não seria este um desdobramento de um
feminismo pensado por mulheres brancas que está sendo criado para incluir e abranger
as vivências das mulheres negras na diáspora.

É importante destacar que há anos, pensadoras negras como Lélia González têm se
debruçado sobre os temas para entender como eles colaboram com o fortalecimento da
comunidade negra a partir de sua maneira de pensar e ver o mundo.

A psicanalista e antropóloga Jaque Conceição, fundadora do Coletivo Di Jeje, um


Centro de Pesquisa e Formação sobre Feminismo Negro, explica que não existe um
feminismo branco que se oponha ao feminismo negro. “Não é um binarismo ‘branco x
preto’, mas são lugares políticos, culturais, filosóficos e históricos diferentes que
produzem perspectivas teóricas diferentes. Esse é um marcador do que a gente pode
entender por uma ideia de um feminismo ocidental e um feminismo negro. Que não se
aplica à África”.

Mas o que é o feminismo negro?

Conceição descreve que o feminismo negro é uma teoria produzida nos EUA a partir dos
anos de 1930 e que começa a ser pensado no Brasil a partir de 1980 com Lélia González.
“É Lélia Gonzalez, a partir da antropologia, quem funda as discussões do feminismo
negro ao apontar que existe dentro dos estudos culturais e raciais do Brasil uma
categoria chamada ‘mulher negra’ e que é uma categoria conceito, porque tem
características próprias, inclusive, dentro da construção da relação social da nossa
sociedade aqui no Brasil”, explica.

As abordagens feitas por teóricas do feminismo negro contribuem com elementos que
ajudam a população a entender o processo de colonização que trouxe povos africanos
para as américas e que mantém seus descendentes até hoje em lugares subalternos. “A
contribuição do feminismo negro é a partir de uma experiência negra, que é a
experiência das mulheres negras, e hoje com os estudos de masculinidade dentro do
campo dos estudos do feminismo negro, ajuda a entender qual é o lugar histórico,
economico, político, emocional e racial das pessoas negras na sociedade americana, seja
ela qual for dentro da sua especificidade”, define a antropóloga.

Mulherismo africana: outra abordagem

O termo ‘mulherismo africana’ foi cunhado pela norte-americana Cleonora Hudson-


Weems em 1987 e tem como objetivo avaliar a realidade de mulheres negras a partir de

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critérios próprios. Aza Njeri, filósofa e doutora em literaturas africanas, afirma que
“para entender o mulherismo africana precisamos entender a afrocentricidade, que é
uma abordagem epistemológica que coloca no centro da análise dos fenômenos a
experiência da população negra”. A professora afirma que “o mulherismo africana é uma
perspectiva afrocentrada de olhar para as experiências de mulheres negras dentro de
uma luta anti-maafa (holocausto negro). É o movimento de sankofa para entender as
nossas práxis matriarcais, em primeiro lugar, mas não só, pensando sempre a
resistência, a permanência e a continuidade”.

Ao ser questionada se o mulherismo pode ser uma forma de emancipação das vivências
impostas por sociedades ocidentais e pelo colonizador, Njeri reitera que o mulherismo
africana apresenta uma noção de levante de dignidade, que não está diretamente ligado
às noções neoliberais de empoderamento e emancipação, mas que dentro dessa
perspectiva pode ser vistos desta maneira.

Para a professora, doutora em filosofia africana, Katiúscia Ribeiro, o mulherismo


africana propõe um lugar para pessoas pretas se pensarem com base em teorias
afrocêntricas. “Mulherismo africana é, em suma, uma proposta de lugar: qual lugar as
pessoas de

descendência africana devem partir para pensar suas realidades, uma vez que sua teoria
está alicerçada em bases afrocêntricas”, detalha.

“Mulherismo africana não é identidade, assim como feminismo também não é”

Com diferentes abordagens e fundamentações, o feminismo negro e o mulherismo


africana contribuem significativamente para o desenvolvimento de novas possibilidades
de experienciar o que é ser mulher negra no Brasil e que lutas, dores e alegrias
contemplam esse grupo e seus pares.

“Mulher negra é uma possibilidade de compreensão da vida social brasileira, um outro


óculos para olhar para essa realidade. A Patrícia Hill Colins, que é um dos grandes nomes
para pensar o feminismo negro nos dias de hoje, vai dizer que o feminismo negro tem
produzido ao longo da história, possibilidades de lugares seguros para que pessoas
negras, homens e mulheres, das mais diversas idades e orientações de gênero, possam
vivenciar sua experiência racial porque essa é a experiência fundante do sujeito negro
nas américas”, conclui Jaque Conceição.

Aza Njeri faz questão de ressaltar que “Mulherismo africana não é identidade, assim
como feminismo também não é”. Njeri afirma que o mulherismo é uma abordagem de
localização. “Se dizer feminista é muito limitador para o pluriverso do que é ser, mesma
coisa mulherista e mesma coisa para os ‘ismos’ e ‘istas’ que possam existir. Nós
enquanto seres humanos somos muito mais do que qualquer teoria ideológica, então
para mim enquanto teórica, se dizer mulherista não quer dizer nada. Porque você tem
que ser uma pessoa ética, uma pessoa aquilombada, uma pessoa que se nutre do
mulherismo africana, também, assim como deveria se nutrir de teorias plurais e com seu
próprio crivo crítico decidir o que é e o que não é, mas não tomar isso como identidade
porque é muito limitador”, finaliza a professora.

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Ao ser questionada sobre qual abordagem representa melhor a realidade das mulheres
negras no Brasil, a filósofa Katiúscia Ribeiro pondera: “Vai depender do ponto de vista e
localização que enxerga o mundo. Vivemos até os dias atuais sempre espelhados a partir
da cultura do outro ou mesmo a partir do desenho que fizeram de nós. Quem sabe, olhar
para frente (se) nos espelhando nas experiências (organizativas, sociais, políticas do
passado pensadas por mulheres pretas gestando possibilidades de garantir a vida do
povo preto em um momento de extrema vigília e controle) pode ser caminho possível
para nos reconstruir enquanto humanos. Nossa cultura é o nosso sistema imunológico e
nela estão contidos todos os elementos para nossa libertação, sobretudo mental”.

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