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Palavras-Chave
Resumo
Introdução
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ciência, que popularmente é vista como deslocada dos estudos filosóficos, tende a ser
restabelecida.
O que se conhece atualmente por planeta Vênus era chamado de estrela
matutina ou vespertina na Grécia antiga e, segundo o relato do historiador e biógrafo
dos filósofos antigos Diógenes Laércio, registrado na obra Vidas e Doutrinas dos
Filósofos Ilustres, Parmênides de Eleia foi o primeiro a identificar a estrela matutina e a
estrela vespertina como o mesmo objeto. “Parmênides estava no apogeu na 69 ª Olimpíada.
Acreditava-se que ele foi o primeiro a afirmar que a estrela matutina e a estrela
vespertina são a mesma.” (Diógenes Laércio, Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres,
IX, cap. 3, p. 257).
Os babilônicos já possuíam essa informação séculos antes, visto que a Tábua de
Vênus de Amisaduca, escrita no império do rei Amisaduca (1646-1626 a.C), relatava a
visibilidade desse astro antes do Sol nascer e depois do mesmo se pôr em um período de
21 anos. O astro era identificado como a deusa da fertilidade, Ishtar.
Atualmente, conhecemos como Vênus a deusa romana do amor e da beleza. O
nome foi escolhido e relacionado ao planeta homônimo, conforme a tradição, por ser
este o mais brilhante (e com isso o mais belo) entre os errantes (como eram conhecidos
os planetas nesse período, aster planetes - astros errantes). Esse objeto celeste é
chamado até os dias de hoje, nos países que têm o grego como idioma oficial, pelo
nome da deusa grega correspondente a Vênus: Afrodite. Ou seja: o nome Afrodite foi
dado ao planeta antes do advento romano que, ao se “apropriar” da cultura e religião
helênicas, traduziu o nome de vários deuses do grego para o latim.
Desenvolvimento
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que tange à deusa inominada que aparece nos fragmentos de Sexto Empírico – no trecho
que ficou determinado como o proêmio do poema – e à deusa Afrodite, a única
divindade que não pode ser confundida com um elemento, pois seu nome não significa a
força que a deusa rege, como no caso de Eros, Diké, Moira e outros deuses/elementos
que aparecem no poema.
O filósofo talvez fosse também um médico mas, com a possibilidade de
Parmênides ter praticado astronomia observacional, vislumbra-se também a
possibilidade de a relevante descoberta do planeta Afrodite (Vênus) ter sido feita por
ele. No entanto, conforme frisado no tópico anterior, é provável que tenha antes obtido
informações com babilônicos que chamavam esse astro de Ishtar, deusa que, diante do
sincretismo religioso, vem a ser Astarte para os fenícios, sendo citada nos textos
bíblicos de I Reis (18:19) e Juízes (2:13). Segundo a tradição, a famosa Afrodite, deusa
do amor e da beleza dos helenos, teria sua origem nesta divindade. Entretanto, quer
tenha sido Parmênides o primeiro a reconhecer na estrela da manhã e na estrela da tarde
o planeta Vênus, quer não, a questão continua sendo importante no interior de sua
filosofia. Parmênides observa de forma rigorosa a dinâmica de objetos aparentemente
diferentes e em lugares diversos, afirmando que ambos constituem na verdade o mesmo
objeto e evidenciando, assim, o quanto os sentidos podem enganar aqueles que não são
tão criteriosos ao lidar com as impressões sensoriais que possuem. Pode-se verificar se
Parmênides tinha conhecimento prévio dessa informação astronômica como Diógenes
Laércio nos atesta (Diógenes Laércio, Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, p. 258);
no entanto, mais importante é constatar como essa descoberta influenciou, e o quanto o
influenciou, a sua concepção metafísica em relação ao uno e ao inanimado.
Vê-se, assim, o quanto a deusa Afrodite, vinculada ao planeta Vênus,
desempenha uma função significativa no poema. Não obstante, Parmênides parecia
dominar dados astronômicos raramente reportados naquela época, como é o caso de a
luz da Lua ser apenas o reflexo do Sol. Alguns comentadores, inclusive, destacam que o
primeiro registro descrevendo este fenômeno realmente pertence ao poema atribuído ao
eleata.
Então, conectar a parte cosmogônica e de traços mitológicos mais nítidos do
início do poema (ao menos na forma com que ele é regularmente estabelecido até os
dias atuais) com as teorias ontológicas do meio do poema e com a cosmologia do fim do
texto é imprescindível para entender melhor o filósofo em questão.
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Para atingir este objetivo, é fundamental que se parta de algumas hipóteses
preliminares. Quanto à identidade da Deusa, por exemplo, Karl Popper (POPPER, 1989,
p. 80) alega a improbabilidade de ela ser anônima. Tal defesa se evidencia como uma
hipótese coerente pois, assim como afirma Fernando Santoro (SANTORO, 2018, p.
165), na tradição helênica, passando por Hesíodo e por Empédocles, Afrodite é a deusa
que coordena o movimento das estrelas e é responsável pela geração da vida. Não a
esmo, ela faria as revelações astronômicas em um contexto no qual a sexualidade está
muito presente nos últimos fragmentos. Com isso, se analisadas as partes relacionadas à
Afrodite no poema (contando com os dois duvidosos fragmentos de Hipólito de Roma,
que designou duas passagens como sendo de Parmênides), poder-se-ia dissertar que o
filósofo eleata considerado seu autor teria aludido outras vezes à figura dessa deusa de
maneira mais evidente. Por outro lado, deve-se levar em conta também que a deusa
oculta atua de modo muito determinante no proêmio e que, entretanto, não é citada.
Santoro cogita que a deusa grega em questão seja a do amor e da beleza
(SANTORO, 2011, p. 84). Se corroborada esta visão, entre as citações remanescentes
haveria, portanto, mais de uma dezena de citações à Afrodite, o que explicitaria como o
planeta descoberto por Parmênides (ou pela primeira vez mencionado com um maior
rigor científico) recebeu o nome da deusa.
Ora, todos os errantes possuíam nomes de deuses. A tradição o justifica ao
assegurar que os nomes não são aleatórios, pois Marte (entre os gregos, retratando o
deus Ares) foi assim nomeado devido à cor avermelhada de sua superfície que lembrava
sangue e que, por este motivo, o vincularia ao deus da guerra. O mesmo sucede com o
planeta Júpiter (entre os gregos, equivalente ao deus Zeus) que era, a olho nu, o maior
dos errantes (antes da descoberta de Vênus) e que, por isso, teria então recebido o nome
do deus dos deuses. Da mesma maneira, Saturno (entre os gregos, reportando ao deus
Cronos), o mais lento destes corpos celestes a olho nu, recebeu o nome do deus do
tempo. Então, Vênus (que entre os gregos correspondia a Afrodite) teria sido assim
designado porque é o mais brilhante e, sendo o mais belo entre os errantes, teria seu
nome articulado ao da deusa da beleza. (BERNARDES et al, 2018, p. 3). O tratamento
que Parmênides dirige ao planeta Vênus e à deusa de seu poema convergiriam: seria
esta uma mera coincidência?
Então, um dos primeiros tópicos diz respeito à definição da deusa principal do
poema: provavelmente, se trataria de Afrodite, aquela que concebe o amor e que,
simultaneamente, orienta o mortal a deliberar sobre a melhor via. Esta é a mesma deusa
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que, ao final do poema, se revelará como regente de um corpo celeste que somente a
observação rigorosa poderia indicar se tratar de um planeta.
Conclusão
Mas esta questão do nome do planeta ter sido batizado com a descoberta feita
por Parmênides passaria de uma conjectura caso se considerasse que, no diálogo
platônico Timeu, no qual Platão exprime sua cosmologia (inclusive onde interpreta o
movimento dos astros em torno da Terra, sistema que ele acreditava obedecer ao
modelo geocêntrico), Vênus é retratado de forma diferente. Primeiramente, Platão
chama o planeta Mercúrio de “astro de Hermes”. Ele recebe então o nome do deus
mensageiro, um deus veloz, assim como o planeta é o mais veloz ao se deslocar no céu
(segundo a tradição é o motivo de este astro receber o nome desse deus). Porém, ao citar
o planeta Vênus, Platão diz “Estrela Matutina” (Platão, Timeu, 38d), mesmo que não se
trate de uma estrela “fixa” no céu, como se espera que fiquem as estrelas dentro da
delimitação do desenho relativo a cada constelação. Ele não trata Vênus como um dos
objetos que se movem, como um dos astros errantes, mas sim como uma estrela.
É preciso, portanto, explorar melhor os atributos deste planeta e sua relevância
no contexto da história da filosofia antiga. Afinal, a deusa Afrodite exerce bastante
proeminência nas obras platônicas, nas quais a mesma é muito citada e objeto de estudo
essencial nos diálogos O Banquete e Fedro. Além disso, há também a nítida
possibilidade de Platão ter cultivado um grande apreço pela filosofia parmenídea e, por
isso, em suas obras sejam apresentadas algumas inspirações. Isto ocorreria não só no
diálogo que possui o nome do mais famoso filósofo de Eleia, mas nos outros dois
diálogos citados anteriormente, nos quais a deusa Afrodite atuaria com mais destaque. A
autoridade que Platão desempenhava tanto na abordagem do poema de Parmênides
quanto na análise do que mais tarde veio a se consagrar oficialmente como o planeta
Vênus não pode ser, deste modo, negligenciada. Visto que nas obras O Banquete e
Fedro, a deusa possui papel muito relevante, além de que nas obra Parmênides, indica a
influência do filósofo de Eleia sobre o discípulo de Sócrates.
Além do mais, se considerarmos as citações de Afrodite feitas por Parmênides
(sem ignorar os fragmentos duvidosos) explícitas ou implícitas, presentes fortemente
nos fragmentos finais, reforçam que essa deusa pode ser a deusa principal e essencial
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para o poema e com isso, tendo muita importância para a filosofia deste que, tirando a
visão contemporânea sobre o que é ser astrônomo, enxergar-se-ia melhor a questão
mística nele e em outros pensadores desse período.
Bibliografia básica
PLATÃO. Mênon, Banquete, Fedro. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1962.
PLATÃO; Teeteto, Crátilo. Tradução de Carlos Alberto Nunes. 3ª. ed. rev. Belém:
EDUFPA, 2001.
PLATÃO. O Banquete, Mênon, Timeu, Crítias. 1ª Edição. São Paulo: Edipro, 2010.
POPPER, Karl. O Mundo de Parmênides. 2° Edição. São Paulo: Ed. Unesp, 2019.