Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
3 Analogia e valoração
A analogia jurídica tem de assentar num juízo valorativo, não só porque a escolha entre o que é
considerado essencial e o que é tido por acidental no caso omisso e no caso previsto exige um juízo
valorativo, mas também porque a ponderação sobre as características essenciais do caso omisso e do
caso previsto são suficientemente próximas para que os casos possam ser considerados análogos é
igualmente valorativo.
3.4 Analogia e ratio legis
A identidade de razões que integra a noção de analogia fornecida pelo art. 10º/2 CC leva a concluir que a
consequência jurídica que é atribuída ao caso previsto deve ser igualmente adequada ao caso omisso.
Só há analogia se a consequência jurídica que decorre da regra que regula o caso previsto for adequada
ao caso omisso, pelo que os casos não são análogos se a mesma consequência não foi adequada a
ambos. O caso omisso só é análogo ao caso previsto quando os princípios que orientam a regulação do
caso previsto puderem ser transpostos para a solução do caso omisso.
3.5 Analogia e interpretação
a) A distinção entre a interpretação e a analogia não levanta problemas, atendendo à diferença entre a
interpretação da fonte e a aplicação analógica da regra. A interpretação destina-se a extrair a regra da
fonte; a aplicação analógica consiste em aplicar a regra que foi obtida através da interpretação a um caso
que ela não prevê.
A interpretação da fonte pressupõe a subsunção de casos a essa fonte, o que requer que estes casos
sejam análogos ao caso típico nela previsto. Convém esclarecer, no entanto, que a analogia que se utiliza
na integração de lacunas não é a analogia entre um caso concreto e um caso típico, mas a analogia entre
um caso típico e um caso omisso.
b) Mais difícil pode ser traçar a distinção entre a interpretação extensiva da fonte e a aplicação analógica
da regra. No entanto, é possível proceder a essa distinção nos seguintes termos: mesmo com a
interpretação extensiva da fonte imposta pelos elementos não literais da interpretação, a fonte não
abrange o caso omisso; portanto, este caso só pode ser resolvido através da aplicação analógica da regra
inferida da fonte. A interpretação extensiva da fonte possibilita a construção de uma regra para além do
significado literal dessa fonte; esta regra tem, como todas as regras, um âmbito de aplicação; a aplicação
analógica da regra que foi inferida da fonte reporta-se a um caso que está fora desse âmbito, ou seja, é
utilizada para integrar a lacuna. Portanto, a analogia que se utiliza para integrar a lacuna começa onde
acaba a interpretação extensiva.
3.6 Modalidades da analogia
a) O princípio formal e o princípio material que orientam uma determinada solução jurídica podem estar
consagrados numa única regra ou ser inferidos de uma pluralidade de regras jurídicas. Isto significa que
há duas formas de descobrir esses princípios, que são habitualmente designadas por analogia legis e
analogia iuris: a analogia legis é aquela em que se utiliza, na procura dos princípios orientadores de um
regime jurídico, apenas a regra jurídica que regula um caso análogo; a analogia iuris é aquela que se
utiliza, na busca desses princípios, uma pluralidade de regras jurídicas. Portanto, a analogia legis
pressupõe o seguinte: