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DIREITO COLETIVO
Hellen Moreira1
ABSTRACT: The present article intends to examine, in the scope of the alexyana theory, the
treatment that the new Code of Civil Procedure gave to the examination of the weighting in
case of collision of norms. It seeks to demonstrate the problem arising from a possible legal
uncertainty caused by the insertion of paragraph 2 in article 489 of CPC / 2015 without the
clear setting of criteria for the use of the technique by the legislator. Furthermore, aspects
1
Mestranda em Proteção dos Direitos Fundamentais da Universidade de Itaúna.
inherent to the positivity of the weighting technique are dealt with by presenting contrary
arguments, with concern focused on the parameters set by the Superior Court of Justice for the
application of the weighting technique provided for in article 489, § 2, of CPC / 15 in judgment
of RESp 1,765,579 / SP. In order to carry out the research, deductive approaches were used,
through bibliographic, comparative and monographic research.
KEYWORDS: New Civil Procedure Code. Weighting Parameter. Weighting Technique. §2,
of art. 489 of the NCPC.
Introdução
A eleição tem um motivo claro, está em acordo com a primazia do direito constitucional
ao importar uma técnica utilizado para solucionar a colisão entre normas, passo emblemático
em relação ao sistema processual anterior e representa um alinhamento com o nosso atual
ordenamento, muitas vezes marcado pelo abuso de fundamentações obtusas, vazias,
herméticas. Contra tal estado de coisas, o CPC/15 traz a técnica da ponderação, explicitamente
prevista no §2º do seu art. 489, que fala, in verbis: “No caso de colisão entre normas, o juiz
deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que
autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a
conclusão. ” (BRASIL, 2015).
Por fim, foram revisadas as questões relativas à fundamentação das decisões judiciais
– em especial o art. 489 do Código de Processo Civil –, as teorias que inspiraram a questão da
colisão de normas, a técnica da ponderação positivada no CPC/15 e seus argumentos e contra-
argumentos. A necessidade de se estabelecer limites para a aplicação da técnica de ponderação
recebeu especial atenção tendo como foco os parâmetros fixados pelo Superior Tribunal de
Justiça para aplicação da técnica da ponderação prevista no artigo 489, § 2º do CPC/15 no
julgamento do RESp1.765.579/SP. Para a efetivação do princípio da segurança jurídica, um
dos norteadores do processo foi a Constituição Federal.
Já os princípios possuem uma dimensão não encontrada nas regras, qual seja a
dimensão do peso. No caso de choque entre princípios, o intérprete/aplicador deve considerar
a força relativa de cada um dos princípios envolvidos. Não obstante essa mensuração da força
relativa de cada princípio não ser exata – sujeitando-se, portanto, a controvérsia –, o peso é
uma dimensão integrante do conceito de princípio, de forma que é importante perguntar qual o
peso ele tem ou o quanto ele é importante (DWORKIN, 2002).
Como as regras não possuem a dimensão do peso, no caso de conflito entre normas
desta espécie, uma delas deve ser declarada inválida. Mas a decisão sobre qual regra é válida e
qual precisa ser abandona ou reformulada, deve basear-se no próprio sistema jurídico que elas
integram. Um sistema jurídico pode regular tais conflitos por critérios variados: precedência à
regra promulgada pela autoridade de grau superior, à regra promulgada mais recentemente, à
regra mais específica, etc. (DWORKIN, 2002)
Assim também entende Robert Alexy, que norma é um gênero que se subdivide em
duas espécies: os princípios e as regras. Tal entendimento é o mais difundido na doutrina
moderna, tendo Robert Alexy como principal expoente. A diferenciação entre princípios e
regras é de importância não só para a compreensão do presente estudo, mas da dogmática dos
direitos fundamentais como um todo, em especial na visão alexyana. Essa distinção é tão
relevante que, embora muitas outras distinções de cunho teórico estrutural possam ser
indicadas, Alexy observa que
[...] para a teoria dos direitos fundamentais, a mais importante é a distinção entre
regras e princípios. Essa constitui a base da fundamentação jus fundamental e é uma
chave para a solução de problemas centrais da dogmática dos direitos fundamentais.
Sem ela, não pode existir uma teoria adequada dos limites, nem uma teoria satisfatória
da colisão e tampouco uma teoria suficiente acerca do papel que exercem os direitos
fundamentais no sistema jurídico. [...] A distinção entre regras e princípios constitui,
ademais, o marco de uma teoria normativo-material dos direitos fundamentais e, com
isso, um ponto de partida para responder à pergunta acerca da possibilidade e os
limites da racionalidade no âmbito dos direitos fundamentais. Por tudo isso, a
distinção entre regras e princípios é um dos pilares do edifício da teoria dos direitos
fundamentais.2 (ALEXY, 2002, p. 81-82)
Neste momento há que se encontrar uma solução, pois dado que o ordenamento jurídico
guarda a característica da coerência, deve ser aplicado sistematicamente, tendo-se em vista
todas as normas nele contidas. A solução será – uma vez que cada uma dessas situações requer
a utilização de uma técnica específica – antes de abordar a técnica da ponderação para os casos
de colisão de princípios, será́ superficialmente estudado o conflito entre as regras e o seu
respectivo método de resolução.
No que diz respeito ao conflito entre regras, Alexy (2015) ensina que a única solução é
a introdução de uma cláusula de exceção ou da declaração de invalidade de pelo menos uma
das regras.
Um conflito entre regras somente pode ser solucionado se se introduz, em uma das
regras, uma cláusula de exceção que elimine o conflito, ou se pelo menos uma das
regras for declarada inválida. Um exemplo para um conflito entre regras que pode ser
resolvido por meio da introdução de uma cláusula de exceção é aquele entre a
proibição de sair da sala de aula antes que o sinal toque e o dever de deixar a sala se
soar o alarme de incêndio. Se o sinal ainda não tiver sido tocado, mas o alarme de
incêndio tiver soado, essas regras conduzem a juízos concretos de dever-se
contraditórios entre si. Esse conflito deve ser solucionado por meio da inclusão, na
primeira regra, de uma cláusula de exceção para o caso do alarme de incêndio. Se
esse tipo de solução não for possível, pelo menos uma das regras tem que ser
declarada inválida e, com isso, extirpada do ordenamento jurídico. (ALEXY, 2015,
p.92)
Assim, quanto à resolução do conflito de duas regras, declarar-se-á que uma delas é
inválida, com base nos critérios de resolução de antinomias3, ou se verificará uma cláusula de
exceção. Ao resolver uma colisão entre princípios, julgar-se-á que no caso concreto, diante de
suas respectivas e particulares circunstâncias, o princípio X deve preponderar sobre o princípio
2
Tradução livre.
“A antinomia representa o conflito entre duas normas, entre dois princípios, entre uma norma e um princípio geral de direito em sua aplicação prática a um caso particular. A
antinomia é um fenômeno muito comum entre nós ante a incrível multiplicação de leis. É um problema que se situa ao nível da estrutura do sistema jurídico (criado pelo
jurista), que, submetido ao princípio da não-contradição, deverá ser coerente. A coerência lógica do sistema é exigência fundamental, como já dissemos, do princípio da
unidade do sistema jurídico”.
.(DINIZ, 2005, p. 15.)
Y, sem que com isso Y seja excluído do ordenamento, tampouco lhe seja imposta uma cláusula
de exceção, mas concedida uma precedência condicionada ao princípio oposto. Frise-se, que,
como alertado pelo autor, tal precedência do princípio X sobre o princípio Y é condicionada,
de modo que, diante dos elementos que circundaram o caso, a resposta foi no sentido de
conceder maior peso a X. Todavia, perante circunstâncias diversas, pode ser viável um
resultado contrário (cf. ALEXY, 2002)
A precedência que um dos princípios terá́ em face do outro princípios colidente será́
definida pela técnica da ponderação. Em outras palavras, a colisão será́ resolvida pelo
sopesamento dos valores de cada princípios no caso em concreto. A técnica da ponderação de
princípios possui três fases distintas, de modo que o intérprete formulará os fundamentos e,
somente então, fará o devido sopesamento de valores ou interesses para obter o princípios
adequado ao caso concreto.
Esse tópico tem como objetivo abordar as posições contrárias às técnicas de ponderação
trazidas no § 2.º do art. 489 do CPC/15, nessa abordagem serão discutidas a eficácia e até
mesmo inconstitucionalidade da técnica.
A técnica de ponderação foi criada pelo jurista alemão Robert Alexy. Tal técnica foi criada
para racionalizar decisões judiciais a começar do procedimento argumentativo. Tendo como
escopo a máxima da proporcionalidade. A técnica de ponderação foi criada com o objetivo de
resolver conflitos jurídicos nos quais há colisão de princípios e regras, este procedimento – da
ponderação – é composto por três etapas: a adequação, necessidade e a proporcionalidade em
sentido estrito. As duas primeiras etapas são encarregadas de elucidar as possibilidades fáticas
e a última etapa é responsável por solucionar as possibilidades jurídicas nas quais ocorra o
conflito. Essa última fase é denominada “lei do sopesamento” (ou da ponderação: “quanto
maior for o grau de não-satisfação ou de afetação de um princípio, tanto maior terá que ser a
importância da satisfação do outro” (ALEXY, 2002).
De acordo com a fala de Lênio, as normas jurídicas é um gênero e, dessa forma, abrange
princípio e regra. Lênio vislumbra inconstitucionalidade no processo porque a ponderação
somente seria possível entre princípios e não entre regras, uma vez que regras não colidem,
nem conflitam – segundo o modelo trazido por Alexy, as regras são válidas ou não. Lênio ainda
entende que os conflitos entre regras devem ser resolvidos por mecanismos próprios, um
exemplo desses mecanismos são: “a jurisdição constitucional e os critérios para solução de
antinomias jurídicas”. Assim, na visão do professor Lênio Streck, o X da questão é definir se
sobre o § 2.º do art. 489 do CPC/15 está dentro dos parâmetros da ponderação criada por Robert
Alexy.
A ponderação assim como foi criada por Robert Alexy, não é largamente empregada no
Brasil, o que vemos aqui é a ponderação “à brasileira”, o “jeitinho brasileiro”. A ponderação
realizada no Brasil atualmente, como abordada no CPC/15, apresenta uma incompatibilidade
com o previsto no art. 93, IX, da CF/88, “além de entrar em descompasso com outros
dispositivos do próprio CPC, como o art. 10, o art. 926, que determina que a jurisprudência
seja estável, íntegra e coerente, e o próprio art. 489” (STRECK, 2015). E essa inconformidade
decorre está prevista no § 2.º do art. 489 do CPC/15 que autoriza a livre escolha do juízo,
autorizando assim que o juiz em uma decisão monocrática escolha aplicar certa norma de
mesma hierarquia, sobrepondo-a a outra.
Autores conceituados como Fausto de Morais e André Trindade concordam com a visão
de Lênio Streck quanto à ponderação do § 2.º do art. 489 do CPC/15 e elaboram grande rejeição
à redação deste artigo. Estes autores entendem que a ponderação do § 2.º do art. 489 do CPC/15
produz de forma inevitável a discricionariedade. Em suas falas os dois autores entendem que
Alexy advertia que a argumentação deveria ser complementar a ponderação para que a mesma
fosse legítima, pois a fundamentação é tão importante quanto a ponderação. Fausto de Morais
e André Trindade afirmam que o abuso em torno da ponderação já ocasiona sérios problemas
para a pratica do direito.
A autora Rosa Maria Nery e o autor Nelson Nery Jr. também reconheceram os perigos
que tal técnica podem ocasionar ao direito, uma vez que essa técnica “dá margem à
interpretação de que toda e qualquer antinomia pode ser resolvida por esse meio” (NERY JR e
NERY, 2015) Concluíram que a aplicabilidade o § 2.º do art. 489 do CPC/15 se dá tão somente
às normas ligadas a princípios constitucionais e direitos fundamentais, devendo assim ser
cuidadoso a método irrestrito de sua execução.
(...) a pesagem deve ser fundamentada, calcada em uma argumentação jurídica com
solidez e objetividade, para não ser arbitrária e irracional. Para tanto, deve ser bem
clara e definida a fundamentação de enunciados de preferências em relação a
determinado valor constitucional. Sem essa fundamentação, a ponderação não pode
ser utilizada, como consta expressamente do Novo CPC. (TARTUCE, 2016, p.2)
Assim, a ponderação do Código de Processo Civil deveria ser lida como um artifício
civil constitucional que deve ser aprimorado no Brasil para permitir a resolução de situações e
hipóteses fáticas complicadas. Diante da complexidade contemporânea, a subsunção de normas
e as tradicionais técnicas de interpretação se mostraram insuficientes, pelo que a técnica da
ponderação como tratada no CPC se mostra uma ferramenta adequada (TARTUCE, 2016).
No nosso ordenamento, reconhecido pela CF/88, em seu Cap. I quanto aos Direitos e
Garantias Fundamentais, aos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, atribuindo exclusivo
significado aos direitos individuais dos cidadãos, sendo assim reconhecidos como cláusulas
pétreas, incluindo-os no rol taxativo do §4º do art. 60, tendo a garantia, que jamais uma
proposta de emenda constitucional pudesse abolir tais direitos individuais seja objeto de
deliberação, nem mesmo conferir eficácia vinculante, nos termos do §1º do seu art. 5º.
Ainda há que se falar quanto as colisões que podem existir entre os direitos
fundamentais e os bens jurídicos constitucionais, sendo conhecidos como, os direitos
fundamentais de um titular de um lado e os bens jurídicos de uma comunidade de outro, o que
é muito comum de acontecer. Exemplos de tais colisões são os direitos à liberdade de opinião
e de comunicação ou a liberdade de expressão artística, contidos no art. 5º, IX da Constituição
Federal do Brasil e o direito à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da
imagem, também contidos no artigo supracitado. Para a solução destes conflitos é necessário
estabelecer uma hierarquia qual não existe, porém, essa deverá ser considerada de acordo com
cada caso.
Considerações finais
Assim, entendemos que nenhuma regra é mais importante ou superior a outra, sendo
sempre necessário uma análise criteriosa quando existe um conflito entre regras, sendo sempre
muito mais prejudicial a coletividade em detrimento ao individual, sendo que sempre haverá o
sopesamento do direito individual.
Havendo abordando de forma sucinta o tema, depreende-se que havendo divergência
entre normas fundamentais, deve-se analisar o conflito com enfoque nos direitos fundamentais,
principalmente quando a colisão envolve a dignidade da pessoa humana, uma vez que, nem
sempre a dignidade da pessoa humana deva prevalecer, assim preconizada no art. 489, § 2º,
CPC/15, ocorrendo o afastando de uma regra para a aplicação de um princípio. Nesse caso, se
a regra (resultado de princípios), confrontar-se diretamente com algum princípio, deve ser
adotada a ponderação e realizada uma análise da colisão entre regra e princípio, buscando
sempre obter Justiça.
Conforme observado, sobre a ponderação pensada por Robert Alexy, o art. 489, § 2º,
do CPC/15 não é taxativo ao dizer colisão entre princípios, mas esclarece sobre colisões entre
normas (regras e princípios). Nesse cenário, no Brasil, o conflito deve ser analisado através da
fundamentação, sempre tento o enfoque em todos os argumentos jurídicos que venham a ser
apresentados pelos interessados e proporcionando assim, o amplo debate. É importante ter em
mente o direcionamento correto quando ocorre colisão entre normas, regras ou princípios para
que o objetivo principal seja a promoção e realização concreta do direito fundamental,
construindo-se um novo paradigma de decisão judicial.
A ponderação, na forma descrita pelo art. 489, § 2º, do CPC/15, deva oxigenar todo o
ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que a complexidade das demandas que venham a
surgir e que já surgiram na atual sociedade globalizada e informatizada fez com que fosse
necessário o surgimento de um mecanismo apto a apartar os conflitos dos princípios visando a
satisfação dos anseios da vida moderna.
Referências