Este documento resume um inquérito policial sobre um acidente automobilístico envolvendo três veículos que resultou em uma vítima fatal. A perícia concluiu que o motorista falecido tinha 2,58 gramas de álcool por litro de sangue e estava em estado de embriaguez no momento do acidente. As testemunhas e provas apontam que o carro dirigido pela vítima saiu da pista contrária e colidiu frontalmente com o caminhão. O motorista do caminhão não teve qualquer culpa no acidente.
Este documento resume um inquérito policial sobre um acidente automobilístico envolvendo três veículos que resultou em uma vítima fatal. A perícia concluiu que o motorista falecido tinha 2,58 gramas de álcool por litro de sangue e estava em estado de embriaguez no momento do acidente. As testemunhas e provas apontam que o carro dirigido pela vítima saiu da pista contrária e colidiu frontalmente com o caminhão. O motorista do caminhão não teve qualquer culpa no acidente.
Este documento resume um inquérito policial sobre um acidente automobilístico envolvendo três veículos que resultou em uma vítima fatal. A perícia concluiu que o motorista falecido tinha 2,58 gramas de álcool por litro de sangue e estava em estado de embriaguez no momento do acidente. As testemunhas e provas apontam que o carro dirigido pela vítima saiu da pista contrária e colidiu frontalmente com o caminhão. O motorista do caminhão não teve qualquer culpa no acidente.
Assunto: art. 28, CPP. Tratam os presentes autos de um Inquérito Policial instaurado na Delegacia de Polícia da cidade de Dias D’Á vila, para apurar um fato ocorrido no dia 18 de dezembro do ano de 1995, aproximadamente à s 20h20min, no Km 25 da rodovia estadual BA-093, naquele município baiano. O fato consubstanciou-se em um acidente automobilístico envolvendo três veículos, com uma vítima fatal. Indo os autos à apreciaçã o da ilustre Promotora de Justiça, esta, em fundamentado parecer, requereu o arquivamento dos autos, alegando “conduta exclusiva da vítima”, entendimento do qual discordou o eminente Magistrado, que encaminhou a peça informativa para a aná lise do Procurador-Geral de Justiça. Vejamos, inicialmente, os fatos coligidos pela autoridade policial: como se verifica pela aná lise do procedimento investigató rio, o desastre ocorreu quando o motorista do fusca, inexplicavelmente, ao transpor uma ponte, invadiu a pista contrá ria, vindo a chocar-se com o caminhã o acima identificado; atrá s deste veículo trafegava um outro que, apó s o choque, nã o conseguindo frear a tempo, colidiu com a parte traseira do caminhã o. As testemunhas ouvidas afirmaram: “que a batida tinha sido de frente e o fusca tinha saído de sua mã o de direçã o; (...) que no dia do acidente nã o estava chovendo, o local estava escuro, a pista nã o tinha buracos e nã o havia nenhuma substâ ncia derrapante ali.” (fls. 32). “(...) o fusca, de cor vermelha, de placa nã o anotada, estava atravessado no meio da pista (...) que no dia do evento delituoso nã o chovia, o local estava escuro, a pista asfá ltica tem poucos buracos mas nã o havia nenhuma substâ ncia derrapante ali.” (fls. 31). O motorista do segundo caminhã o envolvido no acidente (e nã o o que se chocou contra o fusca), esclareceu que viajava no sentido Catu/Salvador e à sua frente trafegava o caminhã o pilotado pelo indiciado, quando, inesperadamente, este veículo parou, sendo inevitá vel a batida entre os dois caminhõ es, ainda que sem gravidade; ademais, disse que “ouviu comentá rio de que o motorista deste (a vítima fatal) se encontrava sob efeito alcoó lico, pois o mesmo tem o costume de ingerir bebida alcoó lica.” (fls. 05). Observa-se que os dois caminhõ es vinham um atrá s do outro, na mã o de direçã o correta. O indiciado, ao ser interrogado na Delegacia de Polícia, defendeu-se dizendo que o fusca, desgovernado, “tomou a contramã o de sua direçã o, vindo a colidir de frente com o caminhã o em que se encontrava o interrogado”, afirmando, ainda, em consonâ ncia com os testemunhos já transcritos, “que o local se encontrava iluminado, nã o tinha nenhuma substâ ncia derrapante na pista asfá ltica, bem como buracos nela.” (fls. 07). O Relató rio de Acidente de Trâ nsito elaborado pela Companhia de Polícia Rodoviá ria Militar Estadual, atesta as seguintes características do local onde ocorreu o desastre: pista asfá ltica reta e seca, com sinalizaçã o e visibilidade regulares e tempo bom; ademais, nã o havia fumaça, poeira, animais na pista ou qualquer outra circunstâ ncia eventual que pudesse vir a atrapalhar o trá fego normal (cfr. Fls. 20). Vejamos, agora, a prova pericial: Com efeito, o exame laboratorial realizado no sangue coletado do ofendido acusou 2,58 gramas de á lcool etílico por litro de sangue ou 2,39 ml/l (transformando-se uma medida n’outra). Com tal concentraçã o sangü ínea do á lcool etílico, é induvidoso que o ofendido nã o tinha nenhuma condiçã o física de dirigir um veículo, ainda mais em uma rodovia estadual com tamanho movimento; nã o olvidamos que para tal conclusã o nã o basta apenas o volume de á lcool ingerido, posto que, outros fatores também, influenciam na constataçã o da embriaguez, tais como “a constituiçã o física, a idade, o sexo, predisposiçã o neuromental, quantidade de alimentos no estô mago, etc.” (Dicioná rio de Medicina Legal, de Manif e Elias Zacharias, 2ª. Ed., 1991). Atentos a este dado e lendo o Laudo de Exame Cadavérico, observamos que a vítima pesava 45 quilos e media 1,68 cm, ou seja, tinha compleiçã o física pequena e possuía 46 anos de idade; ademais, o estô mago estava vazio. Assim, atesta-se que os fatores determinantes da ebriedade (ao lado da altíssima concentraçã o etílica) nã o favoreciam ao ofendido, ou seja, a par do elevado consumo de á lcool (como veremos a seguir), fatores outros (indicados pela medicina legal) ensejam a conclusã o que o ofendido, para a sua infelicidade, dirigia o seu carro em estado de embriaguez. Com efeito, o Professor Fernando Manuel de Oliveira de Sá , mestre da Faculdade de Medicina de Coimbra, citado por José da Silva Loureiro Neto, colocando-se, como ele pró prio afirmou, em uma posiçã o de benevolência, traçou um esquema, no qual considera que “a influência alcoó lica existe como regra” quando o resultado laboratorial for de 2,0 a 3,0 g/l (cfr. Embriaguez Delituosa, Saraiva, 1990, p.22). Estudando o fenô meno, o mestre da Medicina Legal brasileira, o Professor Almeida Jú nior, afirma: “Entre os vá rios ó rgã os da economia humana, é o cérebro um dos que, em proporçã o com a sua massa, mais á lcool recebem. “Fisiologicamente, atua o á lcool como um anestésico, isto é, como substâ ncia que exerça açã o depressiva, em sentido descendente, sobre o sistema nervoso central.” E, conclui o mestre da Universidade de Sã o Paulo: “Qualquer que seja a dose ingerida, o á lcool, como perturbador, que é, dos fenô menos oxidativos celulares, tem sempre açã o deprimente sobre os centros superiores do sistema nervoso.” (in Liçõ es de Medicina Legal, 1961, p. 473). Para Valdir Sznick, a “influência da embriaguez tolda a visã o, atrapalha a percepçã o e retarda os reflexos, com conseqü ências bastante graves.” (Delitos de Trâ nsito, 4ª. Ed., p. 163). Tais consideraçõ es servem para mostrar, ao lado dos depoimentos acima transcritos, que a vítima nã o poderia estar, em absoluto, em estado de sobriedade satisfatoriamente admitido para dirigir, posto que, ingeriu bebida alcoó lica em exagero, além de que outros aspectos orgâ nicos favoreciam à embriaguez. Esta constataçã o explica, certamente, o fato de que o motorista do caminhã o foi colhido, na parte dianteira, pelo veículo conduzido pelo morto; estava ele em sua mã o de direçã o e, de repente, quando transpunha uma ponte, deparou-se com o fusca, sendo inevitá vel o choque e, ainda mais, o resultado letal. A esta conclusã o também chegou a autoridade policial que, no seu relató rio, disse: “Ouvidas as pessoas envolvidas no fato e testemunhas circunstanciais, chegamos à conclusã o, alicerçada também em laudos periciais, de que o motorista do veículo Volkswagen, saíra da sua mã o de direçã o normal e colidiu frontalmente com o caminhã o aqui mencionado, uma vez que se encontrava alcoolizado, com o teor de 2,58 g/l de á lcool etílico na corrente sangü ínea e, conforme o croqui produzido pelo preposto da polícia rodoviá ria presente ao local do acidente, aquele veículo colidira frontalmente com o caminhã o, apó s sair do seu trajeto normal. “Evidências inequívocas, nos levam à compreensã o de que o motorista (o indiciado) (...), nã o fora o causador do episó dio sinistro (...).” (fls. 35/36). Razã o tem o Delegado de Polícia: o croqui traçado à s fls. 22 (naquele mesmo Relató rio acima mencionado) indica que o veículo conduzido pela vítima saiu de sua trajetó ria e colidiu de frente com o caminhã o; explicando-o, disse o policial: “Segundo o que foi observado no local do sinistro, supõ e-se que: o V-1 (o fusca) quando trafegava pela rodovia, Km e trecho já citados, sem causas definidas, saiu de sua mã o de direçã o, colidindo frontalmente com o V-2 (caminhã o), que trafegava em sentido oposto.” (fls. 22v). Culpa stricto sensu, como se sabe, revela-se sempre numa conduta negligente, imperita ou imprudente (art. 18, II, do Có digo Penal); as três condutas induvidosamente indicam uma deficiência na aferiçã o de determinada situaçã o por parte do sujeito ativo, sendo que a negligência induz uma omissã o do agente, havendo culpa in non faciendo, in omittendo, ao passo que na imprudência e na imperícia há uma atividade sem a necessá ria cautela, seja do ponto de vista da açã o cotidiana ou leiga (na imprudência), seja do ponto de vista técnico-profissional (na imperícia). De ver-se que dois elementos fundamentais para a configuraçã o de um fato típico culposo nã o se fizeram presentes, quais sejam a inobservâ ncia do cuidado objetivo e a previsibilidade objetiva. A previsibilidade objetiva nã o existiu, pois nã o havia nenhuma “possibilidade de antevisã o do resultado” (Damá sio), considerando-se o estado da pista asfá ltica e as demais condiçõ es de dirigibilidade (que eram normais); o mesmo se diga quanto à inobservâ ncia do cuidado objetivo, pois o motorista do caminhã o, em nenhum instante, faltou com o dever de diligência pró prio de sua profissã o: estava e manteve-se em sua mã o de direçã o, quando foi surpreendido pela infelicidade da conduta da vítima. Nã o houve, no caso sob aná lise, nem negligência, nem imprudência ou imperícia por parte do indiciado, pois este agiu com a precauçã o exigível naquele momento, nã o faltando-lhe a observâ ncia do cuidado exigido na espécie, tampouco violou-se o dever de cautela. Este dever de cautela revela-se na preocupaçã o normal que o agente deve ter com possíveis resultados danosos de sua açã o (ou omissã o), facilmente indicados pela experiência diá ria, furtando-se de realizar determinados comportamentos que possam ensejar efeitos lesivos, ou fazê-los com níveis suficientes de segurança. Acrescente-se que naquela circunstâ ncia, o indiciado, pela sua experiência cotidiana, nã o tinha razã o suficiente para suspeitar de que algo lesivo poderia vir a acontecer. Referindo-se a este dever de cuidado, Bacigalupo ensina que “infringe el deber de cuidado el que no emplea el cuidado que sus capacidades y su conocimiento de la situació n le hubieran permitido.” (Manual de Derecho Penal, Colombia, 1996, p. 215). O jurista lusitano Eduardo Correia, Professor Catedrá tico da Faculdade de Direito de Coimbra, explica “que o dever, cuja violaçã o a negligência supõ e, consiste antes de tudo em o agente nã o ter usado aquela diligência exigida segundo as circunstâ ncias concretas para evitar o evento. “Estes deveres podem estar particularmente ligados pelo uso e pelas normas jurídicas ao exercício de um certo ofício, profissã o ou actividade. Podem assim ter uma origem legal autó noma (quando derivam de certas normas ou regulamentos que visam prevenir perigos) ou derivar dos usos e da experiência comum.” (cfr. Direito Criminal, Coimbra, 1971, p. 425). De dizer-se, de mais a mais, que nos delitos culposos, a culpa é intrinsecamente ligada ao tipo; o fato típico culposo só se perfaz quando o evento foi causado por uma conduta culposa do agente, id est, quando alguém agiu de forma imperita, negligente ou imprudente, o que nã o foi o caso (apesar de falarmos apenas em culpa, lembramos que, com Welzel, tanto a culpa quanto o dolo transferiram-se para o tipo legal de crime, passando este a ser verdadeiro tipo doloso e tipo culposo de crime). Vejamos, a propó sito, a jurisprudência: “Nos delitos culposos, a culpa se insere na pró pria descriçã o típica. Assim, quando demonstrada a sua inexistência, torna-se inadmissível a açã o penal.” (TJSP - Pleno - Sindicâ ncia - Rel. Maércio Sampaio - RT 393/218). “Nos delitos culposos, o elemento subjetivo está imanente ao tipo. Assim, a açã o antijurídica só se enquadra na definiçã o legal do delito quando, além de ser antecedente material do resultado, o tenha causado por culpa.” (TACRIM-SP - AC - Rel. Toledo Assumpçã o - RT 398/291). “A prova nã o permite vislumbre-se culpa do motorista que tripulando sua moto em velocidade baixa é surpreendido pela vítima que inicia a travessia sem observar o fluxo de veículos. A circunstâ ncia de nã o estar habilitado para conduzir motocicleta nã o configura culpa por si só , imprescindível que ao conduzir o veículo o fizesse perigosamente sem observar as regras de trâ nsito. Negado provimento” (TJRS – 3ª C. – AP 70023449283 – rel. Elba Aparecida Nicolli Bastos – j. 24.07.2008 – DJU 29.08.2008). Por outro lado, como já foi dito, a essência da culpa é a previsibilidade; assim, “Tratando-se de fato imprevisível, acontecimento, aliá s, que também envolveu perigosamente o pró prio agente, é de se o encarar como fatalidade, que nã o pode autorizar a incriminaçã o legal.” (TAPR - AC - Rel. Mattos Guedes - RT 536/385). “Somente se há de reconhecer o crime culposo quando a conduta voluntá ria ligada ao evento, necessariamente, produzir um resultado danoso nã o previsto, mas previsível.” (TACRIM-SP - AC - Rel. Manoel Pedro - RT 386/248). Nã o tendo sido, sequer, previsível o evento, conclui-se pela exclusiva culpa da vítima, o que elide por completo evento delituoso a punir, considerando-se que aquela já faleceu: “Manifesta a ausência de culpa na eclosã o do evento lesivo impõ e-se o trancamento da açã o penal. Assim, é de se interromper a persecutio criminis contra quem, dirigindo em sua mã o de direçã o e em baixa velocidade, colhe ciclista que, na contramã o, se arremessa contra seu veículo.” (TACRIM-SP - HC - Rel. Ricardo Couto - JUTACRIM 18/61). “TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL – EMENTA: TRAVESSIA IMPRUDENTE DE VIA DE TRÂ NSITO - CONFIGURAÇÃ O DE CULPA EXCLUSIVA. O pedestre que deseja atravessar via urbana provida de passagem subterrâ nea somente pode fazê-lo por meio desta, conforme dispõ em os arts. 69 e 70 do CTB. Assim, restando demonstrada a culpa do autor, que imprudentemente e negligentemente cruzou via de fluxo de trá fego intenso, quando deveria tê-lo feito por meio de passagem destinada a esse fim, violando um dever seu de cuidado que lhe era exigível, configura-se a culpa exclusiva, emergindo a responsabilidade civil de ressarcimento dos prejuízos decorrentes.” (20050110326175APC, Rel. Des. OTÁ VIO AUGUSTO. Data do Julgamento: 06/06/2007). Um outro aspecto a ser abordado, especialmente porque se trata de crime culposo envolvendo acidente de veículo, é o chamado princípio da confiança (Vertrauensgrundsatz), criaçã o da jurisprudência alemã , segundo o qual os motoristas têm que contar com que os demais também tenham um comportamento correto, uns com os outros, atentando-se todos para as mais comezinhas regras de segurança. Tal princípio é explicado por Assis Toledo, nos seguintes termos: “Seria absurdo que o direito impusesse aos destinatá rios de suas normas comportar-se de modo desconfiado em relaçã o ao semelhante, todos desconfiando de todos. Assim, admite- se que cada um comporte-se como se os demais se conduzissem corretamente. (...) Para a determinaçã o em concreto da conduta correta de um, nã o se pode, portanto, deixar de considerar aquilo que seria lícito, nas circunstâ ncias, esperar-se de outrem, ou melhor, da pró pria vítima.” (Princípios Bá sicos de Direito Penal, Saraiva, 5ª. Ed., p. 302). Na doutrina, ainda, temos para conferir a respeito do princípio da confiança os seguintes autores: Jú lio Fabrini Mirabete, Manual de Direito Penal, Volume 1, Parte Geral, p. 141, Editora Atlas, 7ª. Ediçã o. Joã o Mestieri, Teoria Elementar do Direito Criminal, Ediçã o do Autor, Rio de Janeiro, 1990, pá gs. 245/246. Este autor cita como fonte de pesquisa do assunto o livro de Welzel, “El nuevo Sistema del Derecho Penal, p. 72, Barcelona, 1965. Heitor Costa Junior, Teoria dos Delitos Culposos, Lumen Juris, 1988, p. 61. Juarez Tavares, Direito Penal da Negligência, Editora Revista dos Tribunais, 1985, pá gs. 148/151. Este autor, por sua vez, cita Johannes Wessels, “Direito Penal” (traduçã o em português), Sergio Antonio Fabris Editor, 1975, p. 150. Luiz Regis Prado, Curso de Direito Penal Brasileiro, Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 193. Afrâ nio Silva Jardim, Direito Processual Penal, Editora Forense, 7ª. Ediçã o, p. 389. Este preceito é majoritariamente adotado por nossos Tribunais, como vê-se pelos julgados a seguir escritos: “Embora, em termos absolutos, tudo o que nã o seja fisicamente impossível é previsível, no que respeita ao trâ nsito a previsibilidade há de ser temperada pelo princípio da confiança recíproca em razã o do qual cada um dos envolvidos no trá fego tem o direito de esperar que os demais se atenham à s regras e cautelas que de todos sã o exigidas. Assim, nã o há condenar motorista que ante conduta disparatada da vítima, colhe-a em inevitá veis condiçõ es de atropelamento.” (TACRIM-SP - AC - Rel. Dínio Garcia - JUTACRIM 30/330). “Em matéria de circulaçã o de veículos, como fundamental deve ser tido o princípio de confiança, segundo o qual o usuá rio do caminho tem direito a contar que os demais usuá rios se comportem igualmente de maneira correta, a menos que as circunstâ ncias particulares sejam de tal natureza que lhes permitam reconhecer que nã o é assim.” (TACRIM-SP - AC - Rel. Geraldo Pinheiro - JUTACRIM 56/375). “Nã o é possível exigir de um motorista que se acautele contra o que nã o é previsível. Em matéria de trâ nsito em vigência o princípio da confiança, em razã o do qual cada um dos envolvidos no trá fego tem direito de esperar que os demais se atenham à s regras e cautelas que de todos sã o exigidas.” (TACRIM-SP - AC - Rel. Cunha Camargo - RT 425/349). “Apelaçã o criminal. Homicídio culposo na direçã o de veículo automotor. Absolviçã o. Nã o existem provas de ter o acusado concorrido para o crime. Conjunto probató rio confirma ausência de culpa – Se o condutor do veículo automotor, a todo momento, teve domínio de seu veículo, dirigindo-o com atençã o e cuidados indispensá veis à segurança do trâ nsito, nã o há como residir a conceituaçã o da culpa penal.” (TJ-GO – 2ª C. – AP 200701654281– rel. Prado – j. 19.07.2007 – DJE 06.08.2007). Ora, nã o havendo fato típico, inviá vel se torna o oferecimento da denú ncia, à vista dos arts. 395 e 397 do Có digo de Processo Penal, é dizer, pelo fato de que a açã o do agente nã o constituiu crime (tendo em vista a ausência de culpa), faltando, ademais, uma condiçã o da açã o, como veremos a seguir. É induvidoso, que nã o havendo crime pode e deve o Promotor de Justiça requerer o arquivamento do Inquérito Policial, por faltar-lhe uma das condiçõ es da açã o penal, qual seja, o interesse de agir, visto que, o fato apurado nã o foi delituoso e, portanto, nã o se poderia pleitear a puniçã o de alguém que nã o praticou uma açã o típica; neste caso, havendo denú ncia, esta deve ser rejeitada ou o réu absolvido sumariamente (arts. 395 e 397 do CPP); em sendo recebida, a açã o penal deve ser trancada, via Habeas Corpus. Relembra-se que os pressupostos de uma peça acusató ria, citando Tourinho Filho, a partir da liçã o de Florian, sã o “autoria conhecida, fato típico e provas mais ou menos idô neas a respeito da relaçã o da causalidade.” (in Processo Penal, Vol. I, p. 352); assim, presentes estes elementos viá vel é o início da persecutio criminis. Destarte, data venia do entendimento em contrá rio do eminente Magistrado, entendemos indiscutível nã o haver, in casu, justa causa para a açã o penal, pois inexiste lastro probató rio suficiente na respectiva peça informativa indicador de culpa do agente; este suporte probató rio é fundamental para a instauraçã o da instâ ncia. A respeito, ouçamos o insigne Afrâ nio Silva Jardim, professor da UERJ: “Desta maneira, torna-se necessá ria ao regular exercício da açã o penal a só lida demonstraçã o, prima facie, de que a acusaçã o nã o é temerá ria ou leviana, por isso que lastreada em um mínimo de prova. Este suporte probató rio mínimo se relaciona com os indícios da autoria, existência material do fato típico e alguma prova de sua antijuridicidade e culpabilidade. Somente diante de todo este conjunto probató rio é que, a nosso ver, se coloca o princípio da obrigatoriedade da açã o penal pú blica.” (Direito Processual Penal - Estudos e Pareceres, Forense, 1986, p. 96). Assim, havendo obstá culo que impede o Ministério Pú blico de atuar, nã o é obrigató ria, in casu, a propositura da respectiva açã o penal, nã o podendo se falar no princípio da obrigatoriedade, pelo qual a açã o ministerial deve ser exercida sempre que existirem “concretos indicios fá cticos de un hecho punible”, pois meras “suposiciones vagas no son suficientes para una inculpació n jurídico-penal”, como ensinam os mestres alemã es Claus Roxin, Gunther Arzt e Klaus Tiedemann (in Introducció n al Derecho Penal y ao Derecho Penal Procesal, p. 170, trad. De Luis Arroyo Zapatero e Juan-Luis Gó mez Colomer, Barcelona, Editora Ariel S/A, 1989). Sendo certo que dos presentes autos emergem, nada mais nada menos, do que “vagas suposiçõ es” para a imputaçã o de um crime, e que, pelo contrá rio, o acidente foi causado por culpa exclusiva da vítima, somos pela confirmaçã o do pedido de arquivamento. É o parecer.