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TRÂNSITO

Acidente de trânsito
"Acidente é qualquer acontecimento inesperado, casual, fortuito, por ação ou omissão,
imperícia, imprudência, negligência, caso fortuito ou Forma maior, e foge ao curso normal, do
qual advêm danos à pessoa e/ou ao patrimônio*. Essa definição, feliz em seu detalhamento,
auxilia-nos a entender o acidente como algo inesperado, anormal, composto pelo elemento da
casualidade e da presença de algo que não se previa, ou não se imaginava. Bem esclarece
Aragão", autor da definição acima: "se um condutor atropela volitivamente com o propósito de
lhe causar a morte, esta ação não se enquadra no conceito de acidente, mas sim como ato
delituoso"
Nessa esteira, continua-se com a lição de Aragão:

Acidente de trânsito (sic) é acontecimento involuntário, inevitável e


imprevisível, ou inevitável, mas previsível, ou seja, imprevisível, mas evitável,
do qual participa, pelo menos um veículo em movimento, pedestres e
obstáculos fixos, isoladamente ou em conjunto (sic), ocorrido em via
terrestre, e resultando danos ao patrimônio, lesões físicas ou morte.
O acidente de trânsito é evento inesperado, mas que possui o ele mento da previsibilidade. Essa
definição traz consigo uma das preocupações que Serve de princípio para todos os que trafegam
nas vias terrestres. o dever de cuidado. Muito embora um acidente de trânsito seja inevitável, é
previsível que no curso normal das vias os veículos e pedestres concorram por espaço, e que
haverá a possibilidade do encontro de fluxos que se cruzam, de encontro com obstáculos ou
outros elementos viários.

Elementos da responsabilidade civil


O art. 186 do Código Civil é a base legal fundamental para a extração dos elementos necessários
e peculiares à responsabilidade:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Assim, os pressupostos gerais da responsabilidade civil, consoante Stolzee Pamplona"', são:
a. A conduta humana (positiva ou negativa);
b. O dano ou prejuízo;
c. O nexo de causalidade.

Conduta humana
A conduta humana, elemento primário de todo ato ilícito, é aquela que provoca o dano (o
prejuízo), guiada pela vontade do agente, que atenta para um bem jurídico protegido. Não há
que se falar em responsabilidade civil sem determinado comportamento humano contrário à
ordem jurídica. A voluntariedade é o elemento nuclear da conduta humana,
"resulta exatamente da liberdade de escolha do agente imputável, com discernimento
necessário para ter consciência daquilo que faz", ou seja, na sua capacidade de
autodeterminação.

Dano
Para a existência da obrigação de reparar, é imprescindível que exista a conduta do agente, a
vítima e o prejuízo, ou seja, um dano. A obrigação de reparar, na responsabilidade civil, tem
natureza patrimonial, assim, o que se visa é o restabelecimento do equilíbrio de dois
patrimônios.

Nexo de causalidade
Segundo Serpa Lopes, "uma das condições essenciais à responsabilidade civil é a presença de
um nexo causal entre o fato ilícito e o dano por ele produzido". Discute o autor, que a definição
desse nexo causal, desse liame entre o fato ilícito e o dano, reveste-se de grande dificuldade de
ordem prática, "quando os elementos causais, os fatores de produção do prejuízo se multiplicam
no tempo e no espaço".
O estudo da causalidade busca ligar o resultado danoso ao agente do ato ilícito, para que se
possa concluir pela responsabilidade jurídica deste último. Neste ponto, o que se busca é o liame
entre a conduta do agente e o dano, posto que só se pode responsabilizar a pessoa cujo
comportamento deu causa para um dano, leia-se também prejuízo.
O estudo da causalidade compreende várias teorias, cuja limitação deste trabalho não permite
discutir. No Brasil, a doutrina tende a acolher a teoria da causalidade adequada. Esta consiste
em admitir a causa como um fator antecedente ou adequado à produção de um resultado.
Assim, nem todas as condições serão adequadas à produção da causa, mas somente aquela
condição que for mais conveniente ou adequada à produção da causa.

Discussão – responsabilidade civil nos acidentes de trânsito


A construção doutrinária do instituto da responsabilidade civil prevê que, para sua aplicação,
três elementos sejam preenchidos - a conduta humana do agente, a existência do dano e o nexo
de causalidade. Caso um desses elementos não seja preenchido, pode-se afirmar que existe uma
excludente de culpabilidade, uma quebra do nexo causal, que inibe a exigibilidade da
responsabilidade civil.

Competências dos agentes públicos


A Constituição Federal trata da segurança pública no art. 144:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - policia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Guarda Municipal e agente de trânsito


Conforme o art. 144, § 8° da Constituição Federal:

Art. 144, § 8° Os Municípios poderão constituir guardas municipais


destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
dispuser a lei.
Art. 24 Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos
Municípios, no âmbito de sua circunscrição.

VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas


administrativas cabíveis, por infrações de circulação, estacionamentos e
parada previstas neste Código, no exercício regular do Poder de Polícia de
Transita.

Locais desfeitos
Importante tópico a ser discutido relaciona-se ao art. 1° da Lei n° 5.970, de 11 de maio de 1973,
que exclui da aplicação do disposto nos arts. 6° (inciso 1), 164 e 169, do Código de Processo
Penal, nos casos de acidente de trânsito, e dá outras providências

Art. 1° Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que


primeiro tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente
de exame do Local, a Imediata remoção das pessoas que tenham sofrido
lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via
pública e prejudicarem o tráfego.

Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policial


lavrará boletim da ocorrência, nele consignando o fato, as testemunhas que
presenciaram e todas as demais circunstâncias necessárias ao
esclarecimento da verdade.

A previsão legal justifica-se para preservar a incolumidade das pessoas diante da possibilidade
de ocorrer outro acidente. Porém, como um dos objetivos deste trabalho é discutir aspectos
próprios dos acidentes de trânsito, vale ressaltar que essa medida prejudica a produção de
provas, seja pela autoridade requisitante ou pelas partes. Buscando mitigar o efeito do
desfazimento do local, uma adulteração permitida legalmente, o parágrafo único do art. 1° da
Lei n° 5.970/1973 prevê que a autoridade ou agente policial que fizer a alteração do local, com
o fim de socorrer as vítimas ou para evitar novos acidentes, deve lavrar boletim de ocorrência
consignando as testemunhas e as demais circunstâncias para o esclarecimento da verdade.
Os peritos criminais que atenderem a locais desfeitos ou alterados intencionalmente devem
respeitar o art. 169, parágrafo único do
CPP:

Art. 169, parágrafo único. Os peritos, registrarão no laudo, as alterações do


estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas
alterações na dinâmica dos fatos.

Perícia não realizada


A avaliação da necessidade da perícia do local de acidente de trânsito é feita pela autoridade
requisitante. Essa análise pode resultar em erros quando por falta de elementos, ou por ter sido
o local desfeito, ou por falta de peritos criminais na região, e ante a dificuldade em designar
perito ad boc, a autoridade policial dispensa a requisição da perícia oficial.

Classificação de veículos
Os veículos ou unidades veiculares devem ser posicionados, identificados e descritos quanto as
suas condições. No registro dos dados relacionados aos veículos cabe aqui uma descrição das
partes constituintes dos automóveis, que para fins periciais deve ser descrita com linguagem
genérica, apenas para localizar sedes de impacto e outros vestígios.
Automóvel: veículo automotor destinado ao transporte de passageiros, com capacidade para
até oito pessoas, excluindo-se o condutor. Sede de impacto é região de contato e avaria
localizada no veículo e decor rentes de colisão. A identificação das regiões ou sedes de impacto
nos veículos deve ser feita considerando o gráfico abaixo, no qual as siglas representam o
seguinte:
AAD - ângulo anterior direito
APD - ângulo posterior direito
APE - ângulo posterior esquerdo
AAE - angulo anterior esquerdo
TAD - lateral anterior direita
IMD - lateral mediana direita
L.PD - lateral posterior direita
LAE - lateral anterior esquerda
T.ME - lateral mediana esquerda
LPE- lateral posterior esquerda
PAE - porção anterior esquerda
PAM - porção anterior mediana
PAD - porção anterior direita
PPE - porção posterior esquerda.
PPM - porção posterior mediana
PPD - porção posterior direita

Classificação geral dos veículos:


Quanto à tração: automotor; elétrico; de propulsão humana; de tração humana; de tração
animal; reboque ou semirreboque;
Nota: A diferença entre reboque e semirreboque:
• Reboque: corresponde a veículo sem propulsão própria, sendo este destinado a ser engatado
atrás de um veículo automotor, como uma caminhonete que transporta um trailer, que se apoia,
quando desengatado, sobre seus próprios pneumáticos;
• Semirreboque: é um veículo sem propulsão própria, com um ou mais eixos, que se apoia na
sua unidade tratora ou é a ela ligado por meio de articulação, como carroceria de carga de
caminhão trator, que se sustenta, quando desengatado, sobre seus próprios pneumáticos e
sobre suporte hidráulico.

Quanto à espécie:
A - de passageiros: automóvel, bicicleta, bonde, charretes, ciclomotor, motoneta, motocicleta,
triciclo, quadriciclo, micro-ônibus, reboque, semirreboque, Ônibus.
Nota: A diferença entre motocicleta, motoneta e ciclomotor:
• Motocicleta: veículo de duas rodas em que o condutor pilota montado;
• Motoneta: veículo de duas rodas em que o condutor pilota sentado. Ex.: Honda Bizz;
• Ciclomotor: diferencia-se pela sua cilindrada, que não pode ser acima de 50 cm', e pela sua
velocidade, que não pode exceder a 50 km/h.
B - de carga: carroça, caminhão, caminhonete, carro-de-mão, moto-neta, motocicleta, triciclo,
quadriciclo, reboque ou semirreboque.
Nota: A diferença entre charrete e carroça:
• Charrete: de tração animal, destinado a transporte de passageiros, somente;
• Carroça: de tração animal, destinado ao transporte de carga.
C - misto: caminhonete, camioneta, utilitários e outros.
Nota: A diferença entre caminhonete e camioneta:
• Caminhonete: possui compartimento de carga separado do espaço destinado ao transporte
de passageiros (cabine). Ex.: S10 da GM;
• Camioneta: veículo que se particulariza por transportar carga e passageiros em um mesmo
compartimento. Ex. Kombi da VW.
Outra importante observação está relacionada às caminhonetes.
Segundo o CTB, os veículos do tipo caminhonete com carga acima de 3700 kg adquirem o status
de caminhões, ou seja, seu condutor deve ser habilitado.com CNH letra C, e o mais importante
ainda é que, na condi-são de caminhão, as regras de circulação para essas caminhonetes devem
ser as mesmas dos caminhões.
D - De competição: veículos equipados e caracterizados para a
disputa automobilística.
E - De tração: caminhão-trator, trator de esteira, trator misto, e trator de rodas.
E - Especial: aqueles que sofreram modificações em seu modelo
de fábrica.
G - De coleção: veículo com 20 anos ou mais com as mesmas características de fábrica.

Quanto à categoria:
A - Oficial: placas de identificação com letras pretas e fundo branco;
B - Particular: placas de identificação com letras pretas e fundo cinza;
C - De aluguel: placas de identificação com letras pretas e fundo
vermelho;
D - De aprendizagem: placas de identificação com letras vermelhas
em fundo branco.
E - Representações diplomáticas.

Perícia direta levantamento de local


A distinção entre perícia direta, perícia indireta e reprodução simulada deve-se ao fato de como
se deu o levantamento do local. A perícia direta está ligada à contemporaneidade entre o
acidente e o levantamento do local. Na perícia direta, o local foi preservado e isolado a contento,
os veículos não foram removidos da posição de repouso original.
A perícia indireta e a reprodução simulada serão abordadas nos capítulos seguintes.
Dos termos gerais
O levantamento de dados e a coleta de vestígios de um local de acidente de trânsito são de suma
importância para o perfeito entendimento das condições em que ocorreu um acidente. O
levantamento de local de acidente de trânsito para posterior redação do laudo pericial efetuado
por perito, é instrumento imprescindível nos processos judiciais envolvendo ocorrências dessa
natureza, uma vez que do trabalho inicial de levantamento é que resultará a definição da causa
determinante para um acidente e a sugestão de uma dinâmica provável para o ocorrido.
Conceitos
Os conceitos deste manual procuram acompanhar rigorosamente o
Código de Trânsito Brasileiro - Lei n° 9.503, de 23 de setembro de 1997
Trânsito: é a utilização das vias (trajetos definidos) por pessoas, veículos e animais, isolados ou
em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de
carga ou descarga.
Tráfego: é o movimento de pedestres, veículos e animais sobre vias terrestres, considerando-se
cada unidade individual.
Via: superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo pista, calçada,
acostamento, estacionamentos laterais, ilha e canteiro central. São vias terrestres urbanas ou
rurais as ruas, as avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias,
que tenham seu uso regulamentado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre elas.

Pista: corresponde à parte da via normalmente utilizada para a circulação de veículos, possuindo
elementos separadores (linha de bordo nas rodovias, por exemplo) ou por diferença de nível em
relação às calçadas, canteiros ou ilhas (meio-fio, por exemplo). Sendo chamada de pista de
rolamento ou leito carroçável da via.
Faixa de trânsito: cada um dos leitos carroçáveis de uma pista de rolamento.
Unidade de tráfego: são assim considerados todos os veículos auto-motores (caminhões,
automóveis, motocicletas, ônibus), os de tração animal (carroças), os de tração ou propulsão
humana (bicicletas), pedestres, animais de porte arrebanhados ou montados.
Acidente de trânsito: é qualquer embate no qual se ache envolvida uma ou mais unidade de
tráfego, no qual pelo menos uma das unidades deve estar em movimento no momento do
ocorrido, sendo que tal embate deve ter ocorrido em via terrestre, resultando em morte, lesões
ou danos materiais.

Colisão
A colisão entre veículos normalmente envolve dois ou mais veículos, estando incluso nesta
modalidade de tipo de colisão aquele em que se envolve ciclista sobre a bicicleta.
Os acidentes envolvendo ciclistas devem ser tratados como colisão entre veículos caso o
condutor da bicicleta esteja montado na bicicleta. Caso o ciclista esteja apenas empurrando a
bicicleta, o acidente deve ser tratado como atropelamento.
As colisões entre os veículos V2
podem ser frontais, frontal versus lateral, traseira e excêntrica.
Colisão veículo
Choque Mecânico
(colisão veículo versus obstáculo fixo)
Envolve pelo menos um veículo e um obstáculo fixo, como poste, árvore, muro, parede ou
guarda-corpo.

Classificação das vias


Vias urbanas
Via de trânsito rápido: é aquela que não possui cruzamentos diretos, nem passagem direta para
pedestres. O acesso é feito por pistas paralelas, as quais consentem a entrada na via já com uma
velocidade compatível a da via, regulada no máximo em 80 km/h.
Via arterial: é aquela que faz a ligação entre as regiões da cidade, com cruzamento com vias
secundárias, normalmente controladas por semáforo. A velocidade máxima permitida é de 60
km/h.
Via coletora: é localizada nos perímetros urbanos e permite o acesso a vias de maior porte. O
limite de velocidade é de 40 km/h.
Via local: os seus cruzamentos, em geral, não possuem semáforos, e normalmente se localizam
nos bairros nos setores residenciais. Os veículos devem desenvolver velocidade máxima de 30
km/h.

Vias rurais
Rodovias: vias rurais pavimentadas.
Velocidade máxima permitida:
• 110 km/h para automóveis, camionetas e motocicletas.
o 90 km/h para ônibus e micro-ônibus.
o 80 km/h para os demais veículos.
Estradas: vias rurais não pavimentadas.
Velocidade máxima permitida: 60 km/h.

Vestígios decorrentes de acidentes de trânsito


Frenagem

Vestígios no local de acidente de trânsito


Os vestígios comumente encontrados em um local de acidente são
os seguintes:
1. Marcas pneumáticas de frenagem produzidas pelos veículos que se encontram com os
pneumáticos travados.
2. Marcas pneumáticas de derrapagem produzidas quando o veículo desloca-se em processo
de rodagem, mas em curva, com deslocamento transversal - normalmente são mais largas que
os pneus e mais escuras.
3. Marcas pneumáticas de arrasto produzidas quando o veículo sofre deslocamento lateral.
4. Marcas pneumáticas de aceleração produzidas quando o veículo se desloca em processo de
aceleração rápida.
5. Marcas pneumáticas por rolamento o veículo por movimentação de terra, por impressão em
terra mole, por deposição de algum material define sua trajetória.
6. Fragmentos - peças desprendidas dos veículos quando de uma colisão.
7. Fricções, que ocorrem quando do contato de peças metálicas retira superficialmente pequena
camada da superfície pavimentada.
8. Sulcagens, quando do contato de peças metálicas retira profundamente camada da superfície
pavimentada.
9. Líquidos por derramamento de óleo, combustível e água na pista.
10. Material orgânico da impregnação de pelo, pele, sangue e ossos.
11. Região de impacto produzida pelo impacto de veículos ou corpo flácido contra objeto rígido
ou no solo.

Sítio de colisão
Dentro desse conjunto de vestígios que se pode encontrar em um local de acidente de trânsito,
obrigatoriamente devemos destacar o sítio de colisão. Consiste o sítio de colisão em área na
pista de rola-mento, ou fora dela, onde ocorreu o contato, o impacto entre dois veículos, entre
um veículo e um ou mais pedestres, ou de um veículo e obstáculo fixo ou móvel.
O sítio de colisão é um vestígio secundário, ou seja, a sua determinação é feita a partir de outros
vestígios, como área onde se constata desvio abrupto de marcas de frenagem, áreas onde se
observa superposição de marcas de frenagem, presença de marcas de fricção e sulcagens
concentradas juntamente com marca de frenagem.
Primeira fase do levantamento
Percorrido todo o local onde ocorreu o acidente, após o devido isolamento, depois da verificação
da necessidade de requisição de perícia para o local, inicia-se o levantamento fazendo um croqui
do local, que deve seguir os seguintes procedimentos:
• Anote data (com dia da semana) e hora do levantamento, preferencialmente das que são
indicadas até 24 horas: 18h30min ao invés de 06h30min da noite.
• Faça um esboço das vias, procurando ocupar a folha de levantamento de modo a abranger
todo o local. Noções de proporção são fundamentais nesses esboços.
• Posicione os veículos envolvidos no croqui conforme sua posição de repouso final, dando
nomes para os mesmos, como: V1-Corsa/
GM ou V2-Titan/Honda. Posicione o cadáver, se for o caso.
• Represente no croqui o nome das vias com suas respectivas larguras; indique o sentido de
deslocamento (bairro ou outra via) de cada via.
• Indique o sentido de deslocamento regulamentar da via com setas demonstrando se as vias
são de mão dupla ou mão única e as placas de sinalização, caso existam no local, além da
sinalização horizontal existente.
• Represente as marcas de frenagem ou de derrapagem, as marcas de fricção, de sulcagem, o
posicionamento dos fragmentos e manchas de óleo, com seus respectivos comprimentos, e
ponto de início e fim.
• Escolha dois referenciais de medida de modo que estes sejam perpendiculares entre si. Use
como referenciais de medida as guias (meio-fio) ou construções como muros ou prédios onde
se possa referenciar o local onde ocorreu o acidente. Como exemplo, nas figuras a seguir, o
meio-fio da esquerda, considerando o sentido Campo Velho - Dom Aquino, foi escolhido como
R2; o primeiro alinhamento da Rua Dom Quixote foi escolhido como R1. Havendo cadáver, meça
pela cabeça e pelos seus pés.
• Faca então as medidas necessárias para localizar os veículos, sempre em função dos
referenciais de medida adotados. No caso de veículos de médio e grande porte faça as medidas
nas angulares dos mesmos; preferencialmente use no mínimo duas angulares de cada veículo.
No caso das motocicletas, motonetas, ciclomotores e também nas bicicletas, faça as medidas
pelo eixo das rodas das mesmas.
• Indique no seu levantamento condições do tempo (seco ou chuvoso); as condições da pista
(plana ou inclinada, indicando a direção do declive); o traçado da pista (curva ou reta); os
obstáculos na via (obras sem sinalização, por exemplo); tipo de pavimentação (asfalto, concreto
ou terra); condições da pista (se bem conservada ou mal conservada); a existência de acidentes
topográficos (tais como buracos ou taludes nas laterais).
• Jamais confie plenamente em equipamentos fotográficos analógicos ou digitais, uma vez que
tanto as fotografias digitais como as comuns podem ser perdidas. A documentação do local deve
ser feita de modo que o perito não fique dependente de um dado que só poderá ser conseguido
por uma fotografia. Por-tanto, estando no local, faça a escrituração dos dados, ainda que isso
tome tempo.

Vide a sequência a seguir, que descreve procedimento para se fazer o levantamento e desenhar
croqui de local de acidente de trânsito.
• Faça um esboço da via, anote data e hora.
• Represente a posição do cadáver e dos veículos envolvidos e dê nomes (V1, V2).
Represente o sentido, o nome e a largura das pistas.
•Represente a sinalização horizontal e vertical (placas).
• Represente os vestígios e seus respectivos comprimentos, onde se iniciam e onde terminam.
• Indique (escolha) seus referenciais (R1 e R2) de medida. Faça a5 medidas das posições de cada
veículo, pela angular no veículo VI e pelos eixos no veículo V2 (motocicleta). Importante: localize
o sítio de colisão.
Perícia indireta
A perícia indireta é uma das modalidades de perícia de responsabilidade dos órgãos públicos.
Difere a perícia indireta da direta pelo aspecto do local e dos objetos a serem periciados. Na
perícia indireta, frequentemente o local foi desfeito ou os veículos envolvidos no acidente
encontram-se fora de sua posição de repouso, sendo examinados em local diverso do local de
acidente. A autoridade também pode solicitar do perito signatário do laudo, análise de
apontamentos de boletins de ocorrência ou de levantamentos efetuados por outrem.

Locais desfeitos
Outro importante fator que interfere em um levantamento de local é o lapso temporal. Quanto
maior é o tempo entre a ocorrência dos fatos e o exame de local, menores serão as chances de
se manter os vestígios.
Portanto, perícias de locais desfeitos com grande lapso de tempo, geral-mente, resultam em
laudos meramente descritivos, a não ser que a autoridade requisitante formule quesitos
pertinentes que auxiliem e direcionem o exame do local desfeito.

Fundamentos
Os principais fatores que interferem na possibilidade de ocorrência de um acidente de trânsito
estão representados no diagrama de Venn', a seguir. Fatores como homem, meio, máquina,
fatores adversos, circunstanciais e humanos formam o conjunto das causas determinantes dos
acidentes de trânsito.
Assevera-se que as causas determinantes dos acidentes de trânsito podem ser divididas em
mediatas e imediatas. Tal divisão está relacionada com a possibilidade em se encontrar vestígios
que corroborem para a definição da causa determinante.

Causas circunstanciais e fatores humanos

Causas determinantes mediatas ou circunstanciais


A ausência de vestígios que possam ser associadas a uma dinâmica provável do acidente
prejudica a definição da causa determinante do acidente. Essas causas de difícil comprovação
são chamadas de mediatas ou circunstanciais.
Normalmente a causa circunstancial está associada a eventos como a situação física (sono,
presença de doenças relacionadas à perda de atenção, efeito de remédios) e psíquica do
condutor (desequilíbrio do estado emocional, doença neurológica), interferência feita por
terceiros, dentro ou fora do veículo, desatenção ou distração momentânea.
As causas determinantes circunstanciais são aquelas em que o perito não tem elementos de
vestígios para a sua comprovação. A subjetividade e a sua principal característica,
frequentemente associada a relatos feitos por testemunhas ou pelas partes envolvidas no
acidente, ou por fatores humanos, como será definido a seguir.

Fatores humanos
Os fatores humanos são de difícil comprovação; pela subjetividade de suas condições, não se
convertem em vestígios que possam ser encontrados no local de acidente de trânsito.

Causas determinantes imediatas ou diretas


São causas determinantes ou diretas aquelas em que os vestígios auxiliam na definição de uma
dinâmica provável do acidente de trânsito. Nesse caso, o encadeamento de ideias até a definição
final da causa determinante do acidente baseia-se estritamente no conjunto de vestígios
encontrados no local, avaliados conforme técnicas expostas adiante.
São causas determinantes imediatas aquelas associadas ao homem (comportamento e reação),
à máquina e ao meio, além de fatores adversos. Portanto, o primeiro passo no estudo é definir
se a causa determinante do acidente de trânsito tem fator circunstancial ou direto.

O meio
A causa determinante de um acidente de trânsito associada ao meio deve ser relacionada a
falhas do sistema viário. Tais falhas são relacionadas a aspectos construtivos que impossibilitem
o tráfego com segurança em condições normais de trafegabilidade, levando o condutor a erro
quando trafegava pela via, produzindo perda de dirigibilidade, desvio abruptos, quebra de
componentes do veículo ou tomada de direção errônea.

A máquina
O termo máquina generaliza os veículos existentes no trânsito. condutor de qualquer veículo,
antes de colocá-lo em movimento na via deve observar as suas condições de trafegabilidade,
considerando principalmente os aspectos de segurança.
As condições dos veículos quanto à manutenção de sistemas de freios, suspensão, parte elétrica,
lataria, assoalhos, excesso de carga, alterações das propriedades do veículo e cuidados com os
dispositivos de segurança ao verificações necessárias e inerentes ao condutor, sendo sua
obrigação manter o veículo em bom estado de conservação e dirigibilidade.
Quando se coloca a máquina como um dos fatores prováveis de causa de acidentes, está se
admitindo que a sua inclusão no rol desses fatores deve se a um único motivo: falha mecânica
imprevisível.

O ser humano
O Código de Trânsito Brasileiro não faz distinção de gênero ou idade
Condutores de veículos automotores, ciclistas e pedestres são relacionas dos ao fator
comportamental e de percepção e reação, de modo a serem tratados de forma única.
A análise dos fatores que influenciam na definição da causa determinante do acidente deve ser
feita de tal modo que seja contemplada avaliação de todos os agentes presentes no acidente de
trânsito.

Percepção e reação
Os fatores relacionados à percepção/reação são os seguintes: percepção/reação tardia,
ausência de reação, solução inadequada e entrada inopinada na via. Os três primeiros são
associados aos condutores dos veículos e o último, necessariamente, é associado tão-somente
ao pedestre.
• Percepção/reação tardia: a causa determinante define-se pela existência da materialização
da reação (marcas de frenagem, desvios de direção, etc.), confirmando que o condutor percebeu
o acidente iminente e reagiu produzindo ação na tentativa de evitar o acidente. No entanto,
devido ao tempo entre a percepção e a efetiva reação, não houve condições de evitar o acidente.
Conforme o tipo de colisão a percepção/reação tardia deve ser analisada, de modo a se
considerar todas as variáveis constantes da problemática de cada caso, como será exposto mais
adiante.
• Ausência de Percepção/reação: caracterizada pela ausência de vestígios que comprovem a
materialidade da reação produzida pelo condutor do veículo colidente. Ainda que o condutor
tenha reagido, mas essa reação não tenha se materializado na forma de frenagens, desvios de
direção, entre outros exemplos de reação, no leito da pista ou no próprio veículo não há
elementos para afirmar se houve ou não percepção e/ou reação.
• Solução inadequada: a percepção ocorreu, a reação efetivou-se a seguir, mas devido aos
resultados decorrentes dessa solução o acidente veio a ocorrer. O condutor em uma situação
de perigo, de iminente embate, vislumbra a colisão iminente, reage antes de ocorrer a colisão,
conforme as condições iniciais. No entanto, mesmo com essa solução, ainda assim ocorre a
colisão - não da mesma forma como ocorreria num primeiro momento.
Trata-se de causa determinante de difícil aplicabilidade; elementos de subjetividade podem
interferir na solução do problema, relacionados aos fatores de causas circunstanciais, que
devido à exiguidade de vestígios, como nesse caso, tornam a busca pela definição da causa
determinante de difícil definição.
• Entrada inopinada: é uma causa determinante de acidente atribuída aos pedestres em casos
de atropelamento, sendo que o termo inopinado significa evento inesperado, imprevisto,
repentino.
Essa distinção entre os fatores associados ao condutor e ao pedestre procede. O Código de
Trânsito Brasileiro faz diversas distinções entre o comportamento do condutor e do pedestre.
Destaca-se: a travessia de qualquer pedestre, por qualquer via, deve ser feita de tal modo, que
sejam guardadas todas as medidas de segurança.

Fatores adversos
A causa determinante de um acidente de trânsito pode ser associado a fatores adversos quando
puder ser também associada a casos fortuito e de força maior. Corresponderiam os fatores
adversos a um fato cujos efeitos não se poderiam evitar e prever.
A definição de causa determinante por fatores adversos (caso fortuito u força maior) deve ser
feita a partir dos vestígios presentes na pista, por ke tratar de causa determinante imediata,
sendo definida somente se Asilas as hipóteses prováveis de causa determinante relacionadas ao
meio, o homem e à máquina forem descartadas.

Causas inter-relacionadas
Considere situação onde o perito de local, no estudo do acidente de trânsito, definiu com sua
metodologia fatores que conjuntamente não Levam especificamente à causa determinante para
o homem, para a máquina, para o meio ou para os fatores adversos. A definição da causa
determinante encontra-se em uma zona intermediária entre um e outro conjunto de fatores
definidores da causa determinante. O perito nessa Situação tem elementos que possibilitam
concluir tanto por um quanto por outro conjunto de fatores.

Protagonistas e agentes
Até aqui a preocupação concentrou-se nos fatores que contribuem para a causa determinante
do acidente. Os protagonistas na ocorrência têm Lada um sua parcela de participação. Os
acidentes podem ser simples ou complexos, e o grau de participação do protagonista dependerá
da sua efetiva parcela de associação aos fatores que contribuíram para o acidente.
Segundo Irureta e Aragão, conforme a ação, os protagonistas são classificados em ativos ou
passivos, sendo ativo o que provocou a ação e passivo o que a recebeu. Quanto à relação do
protagonista com a causa determinante do acidente, sua participação pode ser direta ou
indireta.
À partir dessa explanação, considere a tabela a seguir:
Prioridade de trânsito entre os veículos
Entre os veículos, também existe prioridade de trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro define
a gradação de prioridade de trânsito da seguinte forma:
• Os veículos precedidos de batedores terão prioridade de passagem, respeitadas as demais
normas de circulação.
• Os veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento, os de polícia, os de fiscalização e
operação de trânsito e as ambulâncias, além de prioridade de trânsito, gozam de livre circulação,
estacionamento e parada, quando em serviços de urgência e devidamente identificados por
dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação vermelha intermitente.
• Quando nenhum outro meio de definição de prioridade for possível ser aplicado ao caso
concreto, ou seja, quando a via não for sinalizada com placas regulamentares de passagens,
quando as vias forem desprovidas de semáforos, quando não houver presença de agente de
trânsito, passa-se à aplicação da chamada regra da direita. Definida no CTB, no artigo 29, inciso
III, alínea c: "quando veículos transitando por fluxos que se cruzem, aproximarem de local não
sinalizado, terá preferência de passagem, nos demais casos, o que vier pela mão direita".

A regra da direita aplica-se a qualquer tipo de cruzamento, seja em forma de cruz,


entroncamento ou outras formas, tanto em cruzamentos em linha reta, como nos casos em que
os veículos efetuem derivação tanto para esquerda como à direita. Nos exemplos a seguir,
considere o veículo VI (linha cheia) com prioridade de trânsito sobre o veículo V2 (linha
tracejada).
a. Regra da direita nos entroncamentos.
b. Regra da mão direta nos entroncamentos

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