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CRIMES DE TRÂNSITO
SÃO PAULO
2015
SUMÁRIO
BREVE HISTÓRICO..................................................................................................................2
CONCEITUAÇÃO......................................................................................................................4
DISPOSIÇÕES GERAIS.............................................................................................................6
CRIMES EM ESPÉCIE.............................................................................................................12
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................39
ANEXOS...................................................................................................................................40
BREVE HISTÓRICO
Foi no ano de 1897, após a Revolução Industrial (1760-1830) que foi criado o
motor a combustão interna possibilitando a fabricação do automóvel, que o primeiro
carro chegou ao Brasil, importado da França. A grande inovação tecnológica pertencia
ao ativista José do Patrocínio. Conta-se que, em certo dia, José do Patrocínio emprestou
seu veículo para o poeta Olavo Bilac que, no Rio de Janeiro, mais especificamente na
Barra da Tijuca, provocou o primeiro acidente de trânsito no Brasil, pois perdeu o
controle do automóvel, haja vista que não possuía habilidade para conduzi-lo e acabou
colidindo com uma árvore.
A chegada de veículos automotores ao Brasil, fez com que o Poder Público e o
Automóvel Clube do Brasil unissem esforços para tornar o trânsito mais seguro, criando
regras de circulação para proteger pedestres e motoristas. Neste contexto, autoridades
municipais de São Paulo e Rio de Janeiro, objetivando disciplinar o trânsito de veículos,
criaram, em 1903, a concessão das primeiras licenças para dirigir. Posteriormente, em
1906, adotou-se no país, o exame obrigatório para habilitar motoristas na condução de
veículos automotores.
Após a morte de Getúlio Vargas, em 1954, e a assunção de Juscelino
Kubitscheck, o automóvel, antes reduzido à elite, tornou-se artigo de consumo da classe
média, promovendo progresso e desenvolvimento social. Neste período, multiplicaram-
se as estradas e as avenidas, no intuito de acomodar um número cada vez maior de
veículos.
Em razão do crescente número de automóveis trafegando nas vias públicas,
foram introduzidas regras na sociedade para organizar o fluxo, pois várias pessoas
passaram a dividir o mesmo espaço de circulação, tornando o trânsito mais perigoso. As
viagens estavam se tornando cada vez mais rápidas, aumentando o número de acidentes.
No Brasil, o primeiro decreto a regulamentar o trânsito e as relações dele
advindas foi o Decreto número 8.324 de 1910, que tratou especificamente sobre os
serviços de transporte por automóveis.
Todavia, o primeiro Código Nacional de Trânsito foi instituído pelo Decreto Lei
n. 2.994, em 28 de janeiro de 1941, e disciplinava a circulação de veículos automotores
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de qualquer natureza, nas vias terrestres, abertas à circulação pública, em qualquer
ponto do território nacional.
Esse Código teve pouca duração, apenas oito meses, sendo revogado pelo
Decreto Lei n. 3.651, de 25 de setembro de 1941, que lhe deu nova redação criando o
CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito), subordinado ao Ministério da Justiça, e
os CRT (Conselhos Regionais de Trânsito) nas capitais dos Estados.
O Segundo Código Nacional de Trânsito (Decreto-Lei n. 3.651/41) teve vigência
por mais de 20 anos e foi revogado em 1966, pela Lei n. 5.108/66, composta de 131
artigos. A nova lei vigorou por 31 anos até a aprovação do atual CTB (Código de
Trânsito Brasileiro), Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997.
O Código de Trânsito Brasileiro é um código de Paz. Traz um capítulo dedicado
ao cidadão, um à condução de escolares, um sobre os crimes de trânsito e um exclusivo
para pedestres e veículos não motorizados. Diretamente o Código de Trânsito atinge
toda a população com o intuito de proteger e proporcionar maior segurança, fluidez,
eficiência e conforto. Seu foco principal é nos elementos do trânsito – o homem, o
veículo e a via.
Sempre que há a quebra de alguma das regras contidas neste Código de Paz,
surgem questões jurídicas que, somadas ao clamor social e à atual apelação midiática,
tornam a aplicação do Direito Penal ligado ao trânsito cada vez mais complexa.
É importante ressaltar que uma grande inovação do novo código foi apresentar
um capítulo específico sobre os crimes de trânsito, que não existia no Código de 1966.
Para se aplicar sanções penais às infrações cometidas no trânsito, recorria-se ao Código
Penal e à Lei de Contravenções Penais.
De ver-se, então, que as infrações cometidas em veículos automotores em via
pública ou particular, não tinham previsão na Lei 5.108 de 1966, devendo-se aplicar aos
casos concretos outras leis penais.
Sendo assim, de grande importância para a sociedade e para os próprios
operadores do direito, foi a criação do novo diploma legal, pois além de ser voltado para
o cidadão e ter um caráter educativo, inseriu um capítulo destinado aos tipos penais, o
capítulo XIX que trata dos crimes de trânsito.
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CONCEITUAÇÃO
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DISPOSIÇÕES GERAIS
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Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras
penalidades. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
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reprimenda corporal, que restou estabelecida também no seu patamar
mínimo. Recurso provido, nos termos do voto do relator” (STJ, REsp.
1286511 – MG, 5ª T., rel. Gilson Dipp, 17.04.2012, v.u.)
Tal previsão visa a meu ver a segurança jurídica da decisão, haja vista que,
poderia o réu ou indiciado, requerer a segunda via da CNH, caso não fosse a decisão
comunicada ao órgão competente para a fiscalização e emissão de tais documentos,
conforme artigo 12 da Lei 9.503/97.
Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o
juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo
automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº
11.705, de 2008)
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de
trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave
dano patrimonial a terceiros;
II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
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III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria
diferente da do veículo;
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o
transporte de passageiros ou de carga;
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou
características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os
limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;
VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a
pedestres.
Este dispositivo traz hipótese de agravantes genéricas aplicáveis tão somente aos
crimes de trânsito previstos na Lei 9.503/97.
Segundo NUCCI (2014): “Agravantes são circunstâncias legais, que volteiam o
crime, sem fazer parte do tipo penal incriminador, servindo ao juiz para elevar a pena do
acusado.”
Nucci ainda entende que a previsão contida no inciso I de tal dispositivo só deve
ser aplicada aos delitos de dano previstos no CTB, não se aplicando aos demais, pois
são delitos de perigo e, portanto, geraria o bis in idem, assim afirmando:
[...]o perigo já serviu para a tipificação da infração penal, não podendo ser
utilizada, novamente, para agravar a pena. Porém, se o autor de homicídio
culposo (ou lesões culposas), além de atingir a vítima, colocar em risco duas
ou mais pessoas, bem como provocar a probabilidade de dano patrimonial a
terceiros, incidiria a agravante prevista neste inciso.
O artigo 299 e artigo 300 da Lei foram vetados. Aquele trazia a previsão da não
aplicação da atenuante para réu menor de 21 anos à época do fato e maior de 70 anos
quando da prolação da sentença.
O último tratava do perdão judicial assim dispondo: “Nas hipóteses de homicídio
culposo e lesão corporal culposa, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem, exclusivamente, o cônjuge ou companheiro,
ascendente, descendente, irmão ou afim em linha reta do condutor do veículo.”
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Não obstante a existência de discussão sobre o tema, o que prevalece é que se
aplica o perdão judicial aos autores de crime de trânsito, observando-se as normas
contidas no Código Penal, pois é diploma de aplicação subsidiária à lei de trânsito.
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CRIMES EM ESPÉCIE
Por sua vez, age com imperícia o indivíduo que não tem capacidade,
conhecimento ou habilitação para o exercício de determinada atividade. Renato Marcão
(2015, p.54), citando mais uma vez E. Magalhães Noronha traz o seguinte conceito:
[...]Toda arte, toda profissão tem princípios e normas que devem ser
conhecidos pelos que a elas se dedicam. É mister que estes tenham
consciência do grau de seus conhecimentos, de sua aptidão profissional, a
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fim de não irem além do ponto até onde podem chegar. Se o fizerem,
cônscios de sua incapacidade ou ignorantes dela, violam a lei e respondem
pelas consequências
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O §2°, por sua vez, traz as hipóteses em que o homicídio culposo na direção de
veículo automotor é qualificado e descreve quatro hipóteses a seguir enumeradas:
1) Conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão
da influência de álcool;
2) Conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão
de ter ingerido substância psicoativa que determine dependência;
3) Participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística, não
autorizada pela autoridade competente; ou
4) Participa de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente.
Necessário ressaltar que substância psicoativa não é necessariamente as drogas,
cuja lei 11.343/06 visa combater, mas qualquer substância que determine dependência
física ou psíquica.(MARCÃO, 2015)
Uma discussão que surge é se na hipótese de motorista embriagado provocar a
morte de alguém, aplica-se o artigo 306 e o artigo 302 em concurso, ou, se o artigo 302
absorve o artigo 306?
A doutrina e jurisprudência tem sedimentado o entendimento de que o crime de
homicídio culposo absorve o de embriaguez ao volante, haja vista que aquele é crime de
dano, enquanto este é de perigo, socorrendo-se do princípio da consunção.
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RECURSO ESPECIAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 DA LEI
N. 9.503/1997) E HOMICÍDIO CULPOSO NO TRÂNSITO (ART. 302 DA
LEI N. 9.503/1997). PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. INCIDÊNCIA.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A violação da norma que regula o fato
de menor gravidade, relacionada, em termos, à proibição de um ato que
conduza ao fato mais grave, esgota-se concretamente no resultado desse
último. 2. O crime de embriaguez (art. 306 da Lei n. 9.503/1997) ao volante
é antefato impunível do crime de homicídio culposo no trânsito (art. 302 da
Lei n. 9.503/1997), porquanto a conduta antecedente está de tal forma
vinculada à subsequente que não há como separar sua avaliação (ambos
integram o mesmo conteúdo de injusto). Precedentes. 3. Recurso especial
provido, a fim de que seja o réu absolvido do crime descrito no art. 306 da
Lei n. 9.503/1997. (STJ REsp 1481023 DF 2014/0236198-4, Relator:
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 07/05/2015, T6
- SEXTA TURMA)
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Outra importante discussão que surge é o possível conflito existente entre o §2°
do art. 302 e o disposto nos §§ do artigo 308, pois ambos descrevem a mesma conduta,
contudo, a pena deste último é bem superior à prevista para o homicídio culposo
qualificado.
Como tais dispositivos foram alterados recentemente, ou seja, em 2014, ainda
não dá para se afirmar o posicionamento dos tribunais superiores, todavia, a doutrina
tem firmado o entendimento de que se aplica o §2° do artigo 302, pois se trata de crime
de dano, enquanto o do artigo 308 é crime de perigo, aplicando-se a mesma solução
dada pela jurisprudência em relação ao crime de embriaguez ao volante.
Ainda, considerando que as penas aplicadas aos delitos previstos nos §§ do
artigo 308 são bem superiores àquela prevista no artigo 302, Renato Marcão, citando a
lição de Luiz Flavio Gomes, assevera o seguinte: “juridicamente falando, sempre se
aplica a norma mais favorável ao réu, ou seja, deve incidir a pena mais branda – in
dubio pro libertate”(MARCÃO, 2015, p.27).
Nucci (2014), também adepto do entendimento de que deve prevalecer a
aplicação do disposto no §2° do art. 302 e, de modo bem crítico ao legislador assim
assevera:
Vê-se que o legislador andou mal ao prever a mesma conduta em tipos penais
diferentes e, o pior, com penas totalmente desproporcionais. Destarte, temos de concluir
pela inaplicabilidade dos §§ do artigo 308, no aguardo do posicionamento dos tribunais
superiores.
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O parágrafo único do dispositivo faz referência às hipóteses de causa de
aumento de pena previstas para o homicídio culposo e que são aplicáveis ao delito em
questão, portanto, a respeito de tal tema, vale o que dissemos anteriormente.
Em regra, o crime em análise é de ação penal pública condicionada à
representação do ofendido, exceto nas hipóteses em que o agente estiver: a) sob a
influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine
dependência; b) participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição
automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente; e c) transitando em velocidade
superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora),
ou seja, o disposto no §1° do artigo 291 do CTB, quando então a ação penal será pública
incondicionada.
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Nucci (2014) ao tratar do delito em questão assevera que tal dispositivo fere o
princípio de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo, haja vista que
qualquer agente ao cometer um crime pode furtar-se à aplicação da lei.
Corroborando o entendimento de Guilherme Nucci, podemos citar três Tribunais
que consideraram inconstitucional este tipo penal, vejamos:
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2009.026222-9/0001.00, Órgão Especial, rel. Salete Silva Sommariva,
01.06.2011, m.v.)
Renato Marcão (2015) ainda cita outros autores que entendem da mesma forma
que Guilherme Nucci, como Damásio E. de Jesus e Luiz Flavio Gomes, contudo, o
autor diverge da opinião de tais doutrinadores e assevera:
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HABEAS CORPUS Nº 308.899 - SP (2014/0295331-3) RELATOR :
MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ IMPETRANTE : HERACLITO
ANTONIO MOSSIN E OUTRO ADVOGADO : HERACLITO ANTONIO
MOSSIN E OUTRO (S) IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : ANDRE LUIS CARDOSO DE
MATOS DECISÃO ANDRE LUIS CARDOSO DE MATOS estaria sofrendo
coação ilegal em seu direito de locomoção, em decorrência de acórdão
proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, denegatório do
HC n. 2134867-08.2014.8.26.0000. O ora paciente foi denunciado pela
suposta prática do delito previsto no art. 306, caput, da Lei n. 9.503/97. A
denúncia foi recebida pelo Juízo da 4ª Vara Criminal da Comarca de
Ribeirão Preto, em 12/8/2014, oportunidade em que foi designada audiência
de instrução (fl. 55). Irresignada, a defesa impetrou habeas corpus perante o
Tribunal de origem, no qual requereu o trancamento da ação penal. A ordem
foi denegada pela 3ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo (fls. 57-59). Nesta Corte, os impetrantes sustentam a
ocorrência de constrangimento ilegal, ao argumento de que, como o suposto
delito foi praticado em 28/9/2012, anteriormente à alteração do Código de
Trânsito Brasileiro, operada em 20/12/2012, para comprovação da
materialidade delitiva era imprescindível a realização exame de sangue ou
de teste de etilômetro, o que não ocorreu no caso. Aduzem que falta justa
causa para a ação penal, pois não foi cumprida exigência prevista na
legislação vigente à época do delito para configuração da materialidade
delitiva. Requerem, liminarmente, a suspensão da ação penal n. 0016035-
21.2013.8.26.0506 até o julgamento final do writ, mormente porque a
audiência de instrução e julgamento foi designada para o dia 26/11/2014. No
mérito, pugnam pela "concessão da ordem para que haja o trancamento da
ação penal" (fl. 8). Decido. Dúvidas não há de que o deferimento da liminar
é medida excepcional, cabível apenas em hipóteses de flagrante ilegalidade e
em que evidenciados o fumus boni juris e o periculum in mora. No caso, ao
menos em um juízo perfunctório, verifico que o pedido formulado reveste-se
de plausibilidade jurídica, sendo o caso de deferir-se a medida de urgência.
A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso
Especial Representativo de Controvérsia n. 1.111.566/DF, afirmou que,
para a configuração do delito tipificado no artigo 306 do Código de
Trânsito Brasileiro, anteriormente à alteração operada pela Lei n. 12.760,
de 20/12/2012, é imprescindível a aferição da concentração de álcool no
sangue, que poderá ser realizada por teste de etilômetro ou exame de
sangue. Nesse sentido, ainda: PENAL. HABEAS CORPUS. EMBRIAGUEZ
AO VOLANTE. ART. 306 DA LEI N.º 9.503/97. 1. EXORDIAL
ACUSATÓRIA. REJEIÇÃO. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
JULGADO. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
INVIABILIDADE. VIA INADEQUADA. 2. DOSAGEM ALCÓOLICA.
AFERIÇÃO. LEI N.º 11.705/08. 3. FATO ANTERIOR À ALTERAÇÃO
NORMATIVA CRISTALIZADA NA LEI N.º 12.760/12. 4. SUJEIÇÃO AO
BAFÔMETRO. AUSÊNCIA. EXAME DE SANGUE. INEXISTÊNCIA.
ÍNDICE APURADO DIANTE DOS SINAIS CLÍNICOS E MANIFESTAÇÕES
FÍSICAS E PSÍQUICAS DO AVALIADO. IMPOSSIBILIDADE.
TIPICIDADE. INOCORRÊNCIA. 5. RESP N.º 1.111.566/DF.
PRECEDENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. RECONHECIMENTO. 6.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO. 1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do
habeas corpus, em prestígio ao âmbito de cognição da garantia
constitucional e em louvor à lógica do sistema recursal. In casu, foi
impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso especial. 2.
Com a redação conferida ao artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro
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pela Lei n.º 11.705/08, tornou-se imperioso, para o reconhecimento de
tipicidade do comportamento de embriaguez ao volante, a aferição da
concentração de álcool no sangue. 3. A Lei n.º n.º 12.760/12 modificou a
norma mencionada, a fim de dispor ser despicienda a avaliação realizada
para atestar a gradação alcóolica, acrescentando ser viável a verificação da
embriaguez mediante vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova
em direito admitidos, observado o direito à contraprova, de modo a
corroborar a alteração da capacidade psicomotora. 4. Contudo, no caso em
apreço, praticado o delito com a redação primeva da legislação e ausente a
sujeição a etilômetro ou a exame sanguíneo, torna-se inviável a
responsabilização criminal, visto a impossibilidade de se aferir a existência
da concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis)
decigramas por uma análise na qual se atenha unicamente aos sinais
clínicos e às manifestações físicas e psíquicas do avaliado. 5. Entendimento
consolidado pela colenda Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça,
no seio do REsp n.º 1.111.566/DF, representativo de controvérsia, nos
moldes do art. 543-C do Código de Processo Civil. 6. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de reconhecer a ausência de
justa causa e trancar o Processo n.º 138/2009, da Vara Criminal da
Comarca de Diamantino/MT. (HC n. 246.553/MT, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, 6ªT., DJe 17/10/2013) Sobre o tema, destaco
o seguinte excerto doutrinário, em que se afasta a possibilidade de
incidência da novel legislação aos casos ocorridos sob a vigência da
redação anterior do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro: A Lei 11.705,
de 19 de junho de 2008, deu redação mais branda ao artigo 306 do CTB,
pois nele incluiu elementar que resultou em obstáculo à persecução penal
(concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6
decigramas), daí sua retroatividade para alcançar fatos praticados antes de
sua vigência. Ao contrário, a Lei 12.760, de 20 de dezembro de 2012,
retirou a elementar anteriormente grafada no artigo 306, consistente na
quantificação da dosagem alcoólica por litro de sangue, e com isso ampliou
consideravelmente a possibilidade de se impor punição. Não bastasse,
antes, só se perfazia o crime do artigo 306 do CTB quando a condução do
veículo automotor se verificasse na via pública, sendo certo que tal
elementar também foi retirada pela Lei 12.760, o que terminou por aumentar
ainda mais a possibilidade de configuração do crime em testilha. Disso
resulta que a atual redação do artigo 306 do CTB é mais severa em relação
à anterior, e por isso a regulamentação que dele decorre não retroage para
alcançar fatos praticados antes de sua vigência, conforme determina o
artigo 5º, XL, da Constituição Federal. Por igual razão, para a prova dos
crimes praticados antes da Lei 12.760 continua a ser indispensável exame
pericial, porquanto imprescindível prova técnica que demonstre a
concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6
decigramas, conforme entendimento predominante no STJ: REsp 1.111.566-
DF, 3ª Seção, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, rel. p/ o acórdão Min.
Adilson Vieira Macabu, j. 28-3-2012, DJe de 4-9-2012. (MARCÃO, Renato.
Irretroatividade do atual artigo 306. http://www.conjur.com.br/2013-jan-
23/renato-marcao-lei-seca-nao-apli ca-casos-anteriores-edição) À vista do
exposto, defiro a liminar para suspender o andamento da Ação Penal n.
0016035-21.2013.8.26.0506, em trâmite na 4ª Vara Criminal da Comarca de
Ribeirão Preto, até o julgamento final deste writ. Solicitem-se informações
ao juízo de primeiro grau, encarecendo o envio de elementos indispensáveis
à análise do alegado na impetração. Após, abra-se vista dos autos ao
Ministério Público Federal, para parecer. Publique-se. Intimem-se. Brasília,
06 de novembro de 2014. MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ Relator
(STJ , Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ)(destaquei)
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[...]A ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA SERÁ
PRESUMIDA E RESTARÁ PROVADA PARA FINS PENAIS SE,
INDEPENDENTEMENTE DE QUALQUER CONDUÇÃO ANORMAL
OU APARÊNCIA DO AGENTE, FOR CONSTATADA EM EXAME DE
DOSAGEM CONCENTRAÇÃO IGUAL OU SUPERIOR A 6
DECIGRAMAS DE ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE, OU IGUAL OU
SUPERIOR A 0,3 MILIGRAMA DE ÁLCOOL POR LITRO DE AR
ALVEOLAR.[...] AINDA QUE O INVESTIGADO NÃO SE SUBMETA A
QUALQUER TIPO DE TESTE DE ALCOOLEMIA OU TOXICOLÓGICO,
A ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA PODERÁ SER
DEMONSTRADA, PARA FINS PENAIS, MEDIANTE GRAVAÇÃO DE
IMAGEM EM VÍDEO, EXAME CLÍNICO (VISUALMENTE FEITO POR
EXPERT E DEPOIS DOCUMENTADO), PROVA TESTEMUNHAL OU
QUALQUER OUTRO MEIO DE PROVA LÍCITA.
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Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de
corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade
competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada: (Redação
dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
§ 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de natureza
grave, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu
o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis)
anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº
12.971, de 2014) (Vigência)
§ 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias
demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a
pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das
outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de
2014) (Vigência)
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Os parágrafos do tipo penal em questão envolvem a hipótese de crime
preterdoloso, ou seja, dolo no antecedente (“racha”) e culpa no consequente (lesões
corporais grave e/ou morte).
Questão que se discute na doutrina é se os §§ do artigo em epígrafe são
aplicáveis ou não, mormente diante do fato de que as mesmas condutas estão descritas
no art. 302, §2° (homicídio culposo na direção de veículo automotor qualificado pelo
“racha”) e art. 303 (lesão corporal culposa na direção de veículo automotor).
Vale o que foi dito quando tratamos do artigo 302 ao qual faço remissão,
asseverando que a doutrina majoritária pende pela inaplicabilidade dos dispositivos em
questão.
Não se olvide ser possível o reconhecimento do dolo eventual na prática de
homicídio decorrente de “racha”, a jurisprudência tem aceitado tal posicionamento com
base na análise das circunstâncias do fato e não da mente do autor, vejamos:
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Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão
para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de
dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Trata-se de norma penal em branco, haja vista que para a perfeita compreensão
das elementares do tipo necessita de outro dispositivo legal, que no caso estão previstas
no próprio Código de Trânsito Brasileiro no capítulo XIV que trata da habilitação (arts.
140 a 160).
Importante frisar que o crime não se configura com a mera condução de veículo
automotor, em via pública, sem a permissão ou habilitação, pois necessário que a
condução gere perigo de dano por se tratar de crime de perigo concreto.
Renato Marcão (2015, p.228) ainda traz a questão do exame médico vencido, se
configuraria o crime em tela ou não, respondendo negativamente e fundamentando com
o seguinte julgado:
“Se o bem jurídico tutelado pela norma é a incolumidade pública, para que
exista o crime é necessário que o condutor do veículo não possua Permissão
para Dirigir ou Habilitação, o que não inclui o condutor que, embora
habilitado, esteja com a Carteira de Habilitação vencida. Não se pode
equiparar a situação do condutor que deixou de renovar o exame médico com
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a daquele que sequer prestou exames para obter a habilitação.” (STJ, REsp
1.188.333/SC, 5ª T., rel. Min. Gilson Dipp, j.16-12-2010, DJ de 1-2-2011)
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de cada acontecimento e revelado pela impossibilidade de satisfatório
domínio da máquina, diante de previsíveis vicissitudes do trânsito”
(TACrimSP, Ap. 1.310.665/0, 7ªCâm., re. Juiz Corrêa de Moraes, j.12-9-
2002, RJTACrim 62/37)
Este tipo penal objetiva tutelar a Administração da Justiça, tendo como objeto
material do delito a inovação artificiosa que pode recair sobre lugar, coisa ou pessoa.
Importante elementar do tipo a ser observada, é que o acidente automobilístico
envolva vítima, caso contrário não se enquadra neste crime.
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BIBLIOGRAFIA
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais comentadas. 8 ed., vol. 2, Rio
de Janeiro: Forense, 2014 - digital.
http://www.transitobr.com.br
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ANEXOS
Art. 6º Esta Lei entra em vigor após decorridos cento e vinte dias de sua
publicação oficial.
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RESOLUÇÃO Nº 432, DE 23 DE JANEIRO DE 2013.
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dar-se-á por meio de, pelo menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados
no condutor de veículo automotor:
I – exame de sangue;
II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo
órgão ou entidade de trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de
consumo de outras substâncias psicoativas que determinem dependência;
III – teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar
alveolar (etilômetro);
IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade
psicomotora do condutor.
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser
utilizados prova testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em
direito admitido.
§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do
teste com etilômetro.
§ 3° Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade
psicomotora na forma do art. 5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste
de etilômetro e houver encaminhamento do condutor para a realização do exame de
sangue ou exame clínico, não será necessário aguardar o resultado desses exames para
fins de autuação administrativa.
DO TESTE DE ETILÔMETRO
DA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA
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DO CRIME
DO AUTO DE INFRAÇÃO
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III – no caso de teste de etilômetro, a marca, modelo e nº de série do
aparelho, nº do teste, a medição realizada, o valor considerado e o limite regulamentado
em mg/L;
IV – conforme o caso, a identificação da (s) testemunha (s), se houve
fotos, vídeos ou outro meio de prova complementar, se houve recusa do condutor, entre
outras informações disponíveis.
§ 1º Os documentos gerados e o resultado dos exames de que trata o
inciso I deverão ser anexados ao auto de infração.
§ 2º No caso do teste de etilômetro, para preenchimento do campo “Valor
Considerado” do auto de infração, deve-se observar as margens de erro admissíveis, nos
termos da “Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro” constante no Anexo I.
DISPOSIÇÕES GERAIS
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Art. 11. É obrigatória a realização do exame de alcoolemia para as
vítimas fatais de acidentes de trânsito.
Art. 12. Ficam convalidados os atos praticados na vigência da
Deliberação CONTRAN nº 133, de 21 de dezembro de 2012, com o reconhecimento da
margem de tolerância de que trata o art. 1º da Deliberação CONTRAN referida no
caput (0,10 mg/L) como limite regulamentar.
Art. 13. Ficam revogadas as Resoluções CONTRAN nº 109, de 21 de
Novembro de 1999, e nº 206, de 20 de outubro de 2006, e a Deliberação CONTRAN nº
133, de 21 de dezembro de 2012.
Art. 14. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
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