Você está na página 1de 48

ESCOLA PAULISTA DA MAGISTRATURA

7° CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”


ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL PENAL

Felipe Augusto de Melo Proença

CRIMES DE TRÂNSITO

SÃO PAULO
2015
SUMÁRIO

BREVE HISTÓRICO..................................................................................................................2

CONCEITUAÇÃO......................................................................................................................4

DISPOSIÇÕES GERAIS.............................................................................................................6

CRIMES EM ESPÉCIE.............................................................................................................12

BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................39

ANEXOS...................................................................................................................................40
BREVE HISTÓRICO

Foi no ano de 1897, após a Revolução Industrial (1760-1830) que foi criado o
motor a combustão interna possibilitando a fabricação do automóvel, que o primeiro
carro chegou ao Brasil, importado da França. A grande inovação tecnológica pertencia
ao ativista José do Patrocínio. Conta-se que, em certo dia, José do Patrocínio emprestou
seu veículo para o poeta Olavo Bilac que, no Rio de Janeiro, mais especificamente na
Barra da Tijuca, provocou o primeiro acidente de trânsito no Brasil, pois perdeu o
controle do automóvel, haja vista que não possuía habilidade para conduzi-lo e acabou
colidindo com uma árvore.
A chegada de veículos automotores ao Brasil, fez com que o Poder Público e o
Automóvel Clube do Brasil unissem esforços para tornar o trânsito mais seguro, criando
regras de circulação para proteger pedestres e motoristas. Neste contexto, autoridades
municipais de São Paulo e Rio de Janeiro, objetivando disciplinar o trânsito de veículos,
criaram, em 1903, a concessão das primeiras licenças para dirigir. Posteriormente, em
1906, adotou-se no país, o exame obrigatório para habilitar motoristas na condução de
veículos automotores.
Após a morte de Getúlio Vargas, em 1954, e a assunção de Juscelino
Kubitscheck, o automóvel, antes reduzido à elite, tornou-se artigo de consumo da classe
média, promovendo progresso e desenvolvimento social. Neste período, multiplicaram-
se as estradas e as avenidas, no intuito de acomodar um número cada vez maior de
veículos.
Em razão do crescente número de automóveis trafegando nas vias públicas,
foram introduzidas regras na sociedade para organizar o fluxo, pois várias pessoas
passaram a dividir o mesmo espaço de circulação, tornando o trânsito mais perigoso. As
viagens estavam se tornando cada vez mais rápidas, aumentando o número de acidentes.
No Brasil, o primeiro decreto a regulamentar o trânsito e as relações dele
advindas foi o Decreto número 8.324 de 1910, que tratou especificamente sobre os
serviços de transporte por automóveis.
Todavia, o primeiro Código Nacional de Trânsito foi instituído pelo Decreto Lei
n. 2.994, em 28 de janeiro de 1941, e disciplinava a circulação de veículos automotores

2
de qualquer natureza, nas vias terrestres, abertas à circulação pública, em qualquer
ponto do território nacional.
Esse Código teve pouca duração, apenas oito meses, sendo revogado pelo
Decreto Lei n. 3.651, de 25 de setembro de 1941, que lhe deu nova redação criando o
CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito), subordinado ao Ministério da Justiça, e
os CRT (Conselhos Regionais de Trânsito) nas capitais dos Estados.
O Segundo Código Nacional de Trânsito (Decreto-Lei n. 3.651/41) teve vigência
por mais de 20 anos e foi revogado em 1966, pela Lei n. 5.108/66, composta de 131
artigos. A nova lei vigorou por 31 anos até a aprovação do atual CTB (Código de
Trânsito Brasileiro), Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997.
O Código de Trânsito Brasileiro é um código de Paz. Traz um capítulo dedicado
ao cidadão, um à condução de escolares, um sobre os crimes de trânsito e um exclusivo
para pedestres e veículos não motorizados. Diretamente o Código de Trânsito atinge
toda a população com o intuito de proteger e proporcionar maior segurança, fluidez,
eficiência e conforto. Seu foco principal é nos elementos do trânsito – o homem, o
veículo e a via.
Sempre que há a quebra de alguma das regras contidas neste Código de Paz,
surgem questões jurídicas que, somadas ao clamor social e à atual apelação midiática,
tornam a aplicação do Direito Penal ligado ao trânsito cada vez mais complexa.
É importante ressaltar que uma grande inovação do novo código foi apresentar
um capítulo específico sobre os crimes de trânsito, que não existia no Código de 1966.
Para se aplicar sanções penais às infrações cometidas no trânsito, recorria-se ao Código
Penal e à Lei de Contravenções Penais.
De ver-se, então, que as infrações cometidas em veículos automotores em via
pública ou particular, não tinham previsão na Lei 5.108 de 1966, devendo-se aplicar aos
casos concretos outras leis penais.
Sendo assim, de grande importância para a sociedade e para os próprios
operadores do direito, foi a criação do novo diploma legal, pois além de ser voltado para
o cidadão e ter um caráter educativo, inseriu um capítulo destinado aos tipos penais, o
capítulo XIX que trata dos crimes de trânsito.

3
CONCEITUAÇÃO

Inicialmente, não poderíamos deixar de mencionar, até mesmo por tratar-se do


tema do presente trabalho, o conceito de crimes de trânsito que, para Nucci (2014) é
assim definido:

[...]É a denominação dada aos delitos cometidos na direção de veículos


automotores, desde que sejam de perigo – abstrato ou concreto – bem como
de dano, desde que o elemento subjetivo constitua culpa. Não se admite a
nomenclatura de crime de trânsito para o crime de dano, cometido com dolo.

Dessa forma, compreendemos que os crimes de trânsito são todos aqueles


cometidos na condução de veículos automotores, haja vista que, se o veículo estiver
estacionado não há que se falar em crime de trânsito - não obstante alguns entendam
que o fato de estar ao volante já caracterizaria, por exemplo, o delito de embriaguez (art.
306) - e não só isso, se for crime de dano (artigos 302 e 303), o elemento subjetivo não
pode ser dolo, somente culpa ou, se de perigo, abstrato ou concreto.
No anexo das definições e conceitos, parte integrante da Lei 9.503/97 há a
definição de trânsito como movimentação e imobilização de veículos, pessoas e animais
nas vias terrestres.
Por outro lado, mais abrangente, o §1º do referido artigo define trânsito como
sendo a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos,
conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operações de
carga ou descarga.
Essa definição legal apresenta-se semelhante com a concepção do regulamento
(Decreto 62.127) do antigo normativo de trânsito, o revogado Código Nacional de
Trânsito (Lei n. 5.108/66), que previa a definição do trânsito (anexo I) com a mesma
conceituação, mas com a inclusão da expressão - públicas - quando mencionava
utilização das vias públicas, que não mais se apresenta no nosso atual Código de
Trânsito Brasileiro.
Não podemos olvidar de expor no presente estudo as definições dadas pelo
próprio Código de Trânsito Brasileiro aos termos que compõem os tipos penais trazidos
pela Lei.
4
Inicialmente uma definição importante e recorrente na maioria dos tipos penais é
a definição de veículo automotor, que para o Código de Trânsito é: “todo veículo a
motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para
o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados
para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a
uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico).” (Anexo I).
Importante se faz a menção ao aparelho geralmente utilizado para aferição do
teor alcoólico no ar alveolar denominado etilômetro pela Lei.
Por fim, outro conceito necessário para a compreensão do tema, é o conceito de
via, cuja lei define assim: “superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais,
compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central.” (Anexo I)

5
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos


neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo
Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei 9.099, de 26 de
setembro de 1995, no que couber.
§ 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos
arts. 74, 76 e 88 da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente
estiver: (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 2008)
I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição
automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705, de
2008)
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50
km/h (cinqüenta quilômetros por hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
§ 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito
policial para a investigação da infração penal. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

Do presente dispositivo é importante ressaltar que prevê a aplicação subsidiária


do Código Penal e de Processo Penal, bem como a Lei 9.099/95, de forma que, se não
houver previsão na Lei de Trânsito, deve se socorrer aos diplomas legais mencionados.
Ainda, insta salientar que o §1° do art. 291, excetua as hipóteses em que,
tratando-se de lesão corporal culposa decorrente de crime de trânsito, a lei não considera
como crime de menor potencial ofensivo, e o faz com base na maior gravidade da
conduta.
O §2°, por sua vez, exige a instauração de inquérito policial se o crime é
cometido em uma das hipóteses do §1°, ocasião em que não basta lavrar o termo
circunstanciado, pois nessas condições o crime será de ação penal pública
incondicionada.

6
Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras
penalidades. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

Inadmissível condicionar-se a duração da pena de suspensão de habilitação


para dirigir veículos, prevista na Lei 9.503/97, à submissão e aprovação do
agente em novo exame para obtenção de CNH, pois seu direito de dirigir não
foi cassado, mas apenas suspenso. (TACRIM-SP, Ap. 1415423-7, 9ª C., rel.
Nelson Calandra, 06.10.2004, v.u.)

Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou


a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.
§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a
entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a
Carteira de Habilitação.
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por
efeito de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.

Neste dispositivo o legislador visa delimitar o período mínimo e máximo da


penalidade restritiva de direito consistente na suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor.
O magistrado não pode aplicar suspensão maior que 5 (cinco) anos e tem como
patamar mínimo a duração de 2 (dois) meses. Ainda, quando da dosimetria da pena,
deve ser adotado igual critério para a aplicação da suspensão aqui tratada. Nesse sentido
é o entendimento da jurisprudência.

“A fixação da pena restritiva de direitos prevista no art. 302 do CTB [com


redação anterior à Lei 12.971/2014] – suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor – deve ser
fundamentada em dados concretos, em eventuais circunstâncias
desfavoráveis do art. 59 do Código Penal – que não a própria gravidade do
delito – e demais circunstâncias a ela relativas. Diante do reconhecimento
da inexistência de condições desfavoráveis ao réu, a suspensão da
habilitação para dirigir deve ser fixada em seu mínimo legal, seguindo a

7
reprimenda corporal, que restou estabelecida também no seu patamar
mínimo. Recurso provido, nos termos do voto do relator” (STJ, REsp.
1286511 – MG, 5ª T., rel. Gilson Dipp, 17.04.2012, v.u.)

“A divergência jurisprudencial restou devidamente comprovada na hipótese,


visto que a pena de suspensão de habilitação para dirigir veículo automotor
deve guardar proporcionalidade com a pena privativa de liberdade. Recurso
parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido tão somente para reduzir,
de forma proporcional, a pena de suspensão de habilitação para dirigir
veículo automotor” (STJ, REsp. 898.866 – PR, 5ª T., rel. Laurita Vaz,
28.06.2007, v.u.)

Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo


necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de
ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da
autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da
habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou
da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido
estrito, sem efeito suspensivo.

Este dispositivo legal garante ao magistrado, mesmo que de ofício, a decretação


da suspensão da permissão ou habilitação, bem como, se o caso, a proibição da sua
obtenção. E ainda, tal decisão pode ser proferida até mesmo na fase de investigação,
devendo, por obviedade, fundamentar a decisão e desde que necessário para garantir-se
a ordem pública.
Sem prejuízo pode o Ministério Público requerer e a Autoridade Policial
representar para que o magistrado decida acerca de tal medida de natureza cautelar.
Segundo o parágrafo único do dispositivo em análise, o inconformismo com a
decisão, seja de indeferimento do requerimento do Ministério Público ou decretação da
medida cautelar, é atacado com o recurso em sentido estrito, contudo, sem efeito
suspensivo.

Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a


permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao
8
Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em que o
indiciado ou réu for domiciliado ou residente.

Tal previsão visa a meu ver a segurança jurídica da decisão, haja vista que,
poderia o réu ou indiciado, requerer a segunda via da CNH, caso não fosse a decisão
comunicada ao órgão competente para a fiscalização e emissão de tais documentos,
conforme artigo 12 da Lei 9.503/97.

Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o
juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo
automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº
11.705, de 2008)

Hipótese de reincidência específica na qual o juiz fica obrigado, na prática de


novo crime de trânsito pelo réu, a suspender a permissão ou habilitação para dirigir
veículo automotor, ainda que o tipo penal não preveja tal penalidade.
Deve-se, contudo, ser observado as regras da reincidência contidas no Código
Penal (art. 63, cc. Art. 64, I).

Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante


depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base
no disposto no §1° do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material
resultante do crime.
§ 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo
demonstrado no processo.
§ 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal.
§ 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será descontado.

Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de
trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave
dano patrimonial a terceiros;
II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
9
III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria
diferente da do veículo;
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o
transporte de passageiros ou de carga;
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou
características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os
limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;
VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a
pedestres.

Este dispositivo traz hipótese de agravantes genéricas aplicáveis tão somente aos
crimes de trânsito previstos na Lei 9.503/97.
Segundo NUCCI (2014): “Agravantes são circunstâncias legais, que volteiam o
crime, sem fazer parte do tipo penal incriminador, servindo ao juiz para elevar a pena do
acusado.”
Nucci ainda entende que a previsão contida no inciso I de tal dispositivo só deve
ser aplicada aos delitos de dano previstos no CTB, não se aplicando aos demais, pois
são delitos de perigo e, portanto, geraria o bis in idem, assim afirmando:

[...]o perigo já serviu para a tipificação da infração penal, não podendo ser
utilizada, novamente, para agravar a pena. Porém, se o autor de homicídio
culposo (ou lesões culposas), além de atingir a vítima, colocar em risco duas
ou mais pessoas, bem como provocar a probabilidade de dano patrimonial a
terceiros, incidiria a agravante prevista neste inciso.

O artigo 299 e artigo 300 da Lei foram vetados. Aquele trazia a previsão da não
aplicação da atenuante para réu menor de 21 anos à época do fato e maior de 70 anos
quando da prolação da sentença.
O último tratava do perdão judicial assim dispondo: “Nas hipóteses de homicídio
culposo e lesão corporal culposa, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem, exclusivamente, o cônjuge ou companheiro,
ascendente, descendente, irmão ou afim em linha reta do condutor do veículo.”

10
Não obstante a existência de discussão sobre o tema, o que prevalece é que se
aplica o perdão judicial aos autores de crime de trânsito, observando-se as normas
contidas no Código Penal, pois é diploma de aplicação subsidiária à lei de trânsito.

Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que


resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar
pronto e integral socorro àquela.

11
CRIMES EM ESPÉCIE

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:


Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: (Incluído pela Lei nº 12.971, de
2014) (Vigência)
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; (Incluído pela
Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; (Incluído pela Lei nº 12.971,
de 2014) (Vigência)
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
vítima do acidente; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de
transporte de passageiros. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
§ 2o Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada
em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou
ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não
autorizada pela autoridade competente: (Incluído pela Lei nº 12.971, de
2014) (Vigência)
Penas - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Incluído pela Lei nº
12.971, de 2014) (Vigência)

O dispositivo em análise trata do homicídio praticado na condução de veículo


automotor, cujo elemento subjetivo do tipo é a culpa, a qual por sua vez, pode ocorrer
por imprudência, imperícia ou negligência do motorista.
Classifica-se como crime culposo, material e de dano, dessa forma, necessário se
faz a prova pericial para a comprovação da materialidade do delito a teor do disposto no
artigo 158 do CPP.
12
A imprudência resta caracterizada pela ausência de cautela exigida de qualquer
homem médio nas diversas situações que se lhe apresenta.

Caracteriza o crime culposo, por imprudência, o fato de o agente proceder


sem a necessária cautela, deixando de empregar as precauções indicadas
pela experiência como capazes de prevenir possíveis resultados lesivos
(TJMG, ApCrim 1.0183.04.066889-3/001, 5ª CCrim, rel. Des. Antônio
Armando dos Anjos, j. 3-7-2007)

A negligência, por sua vez, nos dizeres de E. Magalhães Noronha (apud


MARCÃO, 2015, p.51/52):

É a negligência inação, inércia e passividade. Decorre de inatividade


material (corpórea) ou subjetiva (psíquica). Reduz-se a uma conduta ou
comportamento negativo. Negligente é quem, podendo e devendo agir de
determinado modo, por indolência ou preguiça mental não age ou se
comporta de modo diverso; é quem não observa normas de conduta que
obrigam à atenção e perspicácia no agir ou atuar, é, em suma, quem omite
essas cautelas. Tal omissão não deve necessariamente ser voluntária, no
sentido de que imprescindivelmente há de ser omitida diligência ou
perspicácia com advertência psicológica, mas é suficiente a ausência de
poderes ativos quando se tem a obrigação de usá-los.

A negligência é a ausência de uma precaução que dá causa ao resultado.


Assim, para que se configure o crime culposo, devem estar presentes os
requisitos da conduta voluntária, realizada com quebra de um dever objetivo
de cuidado, consistente na negligência, do resultado involuntário, do nexo
causal entre a conduta e o resultado, da tipicidade e a da previsibilidade
(TJCE, ApCrim 2000.06886-0, rel. Des. José Eduardo M. de Almeida, j. 30-
10-2001, Revista Jurídica n.291, p.151)

Por sua vez, age com imperícia o indivíduo que não tem capacidade,
conhecimento ou habilitação para o exercício de determinada atividade. Renato Marcão
(2015, p.54), citando mais uma vez E. Magalhães Noronha traz o seguinte conceito:

[...]Toda arte, toda profissão tem princípios e normas que devem ser
conhecidos pelos que a elas se dedicam. É mister que estes tenham
consciência do grau de seus conhecimentos, de sua aptidão profissional, a
13
fim de não irem além do ponto até onde podem chegar. Se o fizerem,
cônscios de sua incapacidade ou ignorantes dela, violam a lei e respondem
pelas consequências

Da jurisprudência extrai-se a exemplificação das três modalidades de culpa,


caracterizando crime de trânsito:

Age com culpa nas modalidades de imprudência, quem trafega em alta


velocidade; com negligência quando não reduz a velocidade mesmo após
perceber a presença da vítima; e com imperícia quando, percebendo a vítima
de idade avançada a aproximadamente 50m, não é capaz de realizar
manobra no sentido de evitar o acidente (TJRS, ApCrim 70001801695, 3ª
CCrim, rel. Des. Reinaldo José Rammé, j. 8-3-2001, Revista Jurídica n. 283,
p. 155)

O §1° elenca causas de aumento de pena aplicáveis ao caput do dispositivo


legal. Incidindo uma hipótese de causa de aumento prevista neste parágrafo primeiro do
artigo 302, a qual coincida com as agravantes genéricas previstas no artigo 298 da Lei
de Trânsito, deve prevalecer a causa de aumento específico, não podendo o magistrado
aplicar as agravantes genéricas sob pena de incorrer em bis in idem.
Ainda, no âmbito das causas de aumento de pena, importante trazer à colação o
seguinte julgado que trata da causa de aumento prevista no inciso IV:

A majorante do art. 302, parágrafo único, inciso IV, do Código de Trânsito


Brasileiro, exige que se trate de motorista profissional, que esteja no
exercício de seu mister e conduzindo veículo de transporte de passageiros,
mas não refere à necessidade de estar transportando clientes no momento da
colisão e não distingue entre veículos de grande ou pequeno porte (STJ,
REsp 1.358.214/RS, 5ª T., rel. Min. Campos Marques, j.9-4-2013, DJe de 15-
4-2013)

Ou seja, não necessariamente o motorista profissional deverá estar transportando


passageiros no momento do acidente, todavia, não prescinde do exercício da profissão,
pois, se, a despeito de atuar como motorista profissional, estiver em férias com a
família, por exemplo, responderá pelo fato, contudo, sem incorrer na causa de aumento
em questão.

14
O §2°, por sua vez, traz as hipóteses em que o homicídio culposo na direção de
veículo automotor é qualificado e descreve quatro hipóteses a seguir enumeradas:
1) Conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão
da influência de álcool;
2) Conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão
de ter ingerido substância psicoativa que determine dependência;
3) Participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística, não
autorizada pela autoridade competente; ou
4) Participa de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente.
Necessário ressaltar que substância psicoativa não é necessariamente as drogas,
cuja lei 11.343/06 visa combater, mas qualquer substância que determine dependência
física ou psíquica.(MARCÃO, 2015)
Uma discussão que surge é se na hipótese de motorista embriagado provocar a
morte de alguém, aplica-se o artigo 306 e o artigo 302 em concurso, ou, se o artigo 302
absorve o artigo 306?
A doutrina e jurisprudência tem sedimentado o entendimento de que o crime de
homicídio culposo absorve o de embriaguez ao volante, haja vista que aquele é crime de
dano, enquanto este é de perigo, socorrendo-se do princípio da consunção.

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÂNSITO. HOMICIDIO CULPOSO E


EMBRIAGUÊS AO VOLANTE. (ARTIGOS 302 e 306, DA LEI 9.503/97).
CONDENAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCIPIO DA CONSUNÇÃO.
PRECEDENTES DO STJ. RECONHECIMENTO DE OFICIO.
INCONFORMISMO DEFENSIVO. PENA. SUBSTITUIÇÃO DA
REPRIMENDA POR RESTRITIVAS DE DIREITO. POSSIBILIDADE.
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. PROVIMENTO DO
APELO. Conforme precedentes do STJ, "O crime de embriaguez (art. 306
da Lei n. 9.503/1997) ao volante é antefato impunível do crime de
homicídio culposo no trânsito (art. 302 da Lei n. 9.503/1997), porquanto a
conduta antecedente está de tal forma vinculada à subsequente que não há
como separar sua avaliação (ambos integram o mesmo conteúdo de
injusto). Precedentes." (REsp 1481023/DF, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 07/05/2015, DJe
08/05/2015). Preenchendo o acusado os requisitos previstos no artigo 44 do
Código Penal, a substituição é medida que se impõe. (TJPB -
ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº 00010076020138150751, Câmara
Especializada Criminal, Relator DES JOAO BENEDITO DA SILVA , j. em
13-10-2015) (TJ-PB - APL: 00010076020138150751 0001007-
60.2013.815.0751, Relator: DES JOAO BENEDITO DA SILVA, Data de
Julgamento: 13/10/2015, CRIMINAL)

15
RECURSO ESPECIAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 DA LEI
N. 9.503/1997) E HOMICÍDIO CULPOSO NO TRÂNSITO (ART. 302 DA
LEI N. 9.503/1997). PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. INCIDÊNCIA.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A violação da norma que regula o fato
de menor gravidade, relacionada, em termos, à proibição de um ato que
conduza ao fato mais grave, esgota-se concretamente no resultado desse
último. 2. O crime de embriaguez (art. 306 da Lei n. 9.503/1997) ao volante
é antefato impunível do crime de homicídio culposo no trânsito (art. 302 da
Lei n. 9.503/1997), porquanto a conduta antecedente está de tal forma
vinculada à subsequente que não há como separar sua avaliação (ambos
integram o mesmo conteúdo de injusto). Precedentes. 3. Recurso especial
provido, a fim de que seja o réu absolvido do crime descrito no art. 306 da
Lei n. 9.503/1997. (STJ REsp 1481023 DF 2014/0236198-4, Relator:
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 07/05/2015, T6
- SEXTA TURMA)

Ainda, no mesmo julgado:


No entendimento de Fernando Fukassawa (Crimes de Trânsito, 3. ed., São
Paulo: APMP, 2015, p. 202) – o qual entendo pertinente para elucidar o
caso –, nessas hipóteses ocorre o "fenômeno da lesão jurídica progressiva:
abstratamente pune-se o comportamento de perigo para a coletividade
(contra a incolumidade pública) e concretamente pune-se o comportamento
de dano para um ou mais indivíduos (contra a incolumidade individual). Não
há, propriamente, objetividade jurídica 'diversa', mas, sim uma proteção ou
tutela linear dos bens jurídicos, feita de maneira gradual: protegendo os
interesses de todas as pessoas na generalidade, obviamente também se
estará protegendo os interesses individuais. O crime de perigo é
abstratamente punido exatamente para coibir o crime de dano; ocorrendo
este, absorverá aquele".[...]
Considero acertado o pensamento de considerar o crime de embriaguez (art.
306 da Lei n. 9.503⁄1997) ao volante um antefato impunível do crime de
homicídio culposo no trânsito (art. 302 da Lei n. 9.503⁄1997), porquanto, à
luz das teorias lançadas, a conduta antecedente está de tal forma vinculada à
subsequente, que não há como separar sua avaliação, "o que implica a
conclusão de que ambas integram o mesmo conteúdo de injusto" (op. cit., p.
516).[...]
Acerca das espécies de crimes tratados nos autos, Juarez Tavares ainda
arremata, de forma bastante elucidativa, ao dizer que "nos crimes culposos,
a produção de um resultado mais grave absorverá o delito antecedente, que
decorra da própria violação da norma de cuidado (relação de antefato). Por
exemplo, o delito de homicídio culposo no trânsito (art. 302, CTB)
absorverá o de embriaguez ao volante (art. 306, CTB)" (op. cit., p. 517,
destaquei).

Renato Marcão (2015), ao tratar do tema, dispõe o seguinte:

Quando duas normas penais incriminadoras descrevem diferentes graus de


violação a um mesmo bem jurídico, o conflito aparente de normas deve ser
resolvido levando-se em conta a relação de primariedade e de
subsidiariedade entre elas. Na hipótese, a norma subsidiária é absorvida
pela norma primária, reguladora de fato mais grave. (p.32)

16
Outra importante discussão que surge é o possível conflito existente entre o §2°
do art. 302 e o disposto nos §§ do artigo 308, pois ambos descrevem a mesma conduta,
contudo, a pena deste último é bem superior à prevista para o homicídio culposo
qualificado.
Como tais dispositivos foram alterados recentemente, ou seja, em 2014, ainda
não dá para se afirmar o posicionamento dos tribunais superiores, todavia, a doutrina
tem firmado o entendimento de que se aplica o §2° do artigo 302, pois se trata de crime
de dano, enquanto o do artigo 308 é crime de perigo, aplicando-se a mesma solução
dada pela jurisprudência em relação ao crime de embriaguez ao volante.
Ainda, considerando que as penas aplicadas aos delitos previstos nos §§ do
artigo 308 são bem superiores àquela prevista no artigo 302, Renato Marcão, citando a
lição de Luiz Flavio Gomes, assevera o seguinte: “juridicamente falando, sempre se
aplica a norma mais favorável ao réu, ou seja, deve incidir a pena mais branda – in
dubio pro libertate”(MARCÃO, 2015, p.27).
Nucci (2014), também adepto do entendimento de que deve prevalecer a
aplicação do disposto no §2° do art. 302 e, de modo bem crítico ao legislador assim
assevera:

O conflito é evidente: quem pratica homicídio culposo em “racha” recebe a


pena de reclusão de dois a quatro anos; quem pratica “racha”, que termina
em morte culposa, recebe a pena de reclusão de cinco a dez anos. Seria uma
pilhéria, não fosse uma lei. Aliás, a mesmíssima lei, editada e publicada na
mesma data.[...]O conflito aparente de normas deve ser solucionado da
seguinte maneira: a) o crime de dano sempre absorve o de perigo; foi assim,
é assim e continuará sendo desse modo. Logo, quem atinge o plus (morte de
alguém), incide na figura do homicídio culposo qualificado; b) o delito de
perigo, com resultado danoso qualificador (morte), com pena superior,
jamais poderá ser aplicado, pois a figura típica central e básica do caput do
art. 308 é de perigo, que sempre cede à figura típica central e básica do
caput do art. 302, que é de dano, contendo qualificadora idêntica ao caput
do art. 308; c) aplica-se a consunção: homicídio qualificado pelo “racha”
absorve o “racha”, que leva à morte; d) aplica-se, ainda, o princípio
constitucional da proporcionalidade, associado ao princípio constitucional
da prevalência do interesse do réu: se há duas penas (art. 302, §2°, e art.
308, §2°), editadas pela mesma lei, na mesma data, para os mesmos fatos,
aplica-se a mais benéfica, que é a do art. 302, §2°. Quanto à figura do art.
17
308, §1°, o erro é igualmente lamentável. O crime de perigo, com resultado
lesão grave, se aplicado, atingiria pena mais grave (reclusão, de três a seis
anos) do que o próprio homicídio culposo, cometido durante “racha”
(reclusão, de dois a quatro anos). Pelo princípio da proporcionalidade, é
visivelmente inconstitucional e inaplicável o art. 308, §1°, desta Lei. Diante
disso, quem praticar “racha” (crime de perigo) e lesionar alguém, responde
pela figura do art. 303 (lesão culposa).

Vê-se que o legislador andou mal ao prever a mesma conduta em tipos penais
diferentes e, o pior, com penas totalmente desproporcionais. Destarte, temos de concluir
pela inaplicabilidade dos §§ do artigo 308, no aguardo do posicionamento dos tribunais
superiores.

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:


Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer
qualquer das hipóteses do § 1o do art. 302. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de
2014) (Vigência)

O dispositivo em análise trata da lesão corporal culposa na condução de veículo


automotor, cujo elemento subjetivo do tipo é a culpa, a qual por sua vez, pode ocorrer
por imprudência, imperícia ou negligência do motorista, elementos já tratados
anteriormente.
Classifica-se como crime culposo, material e de dano, dessa forma, necessário se
faz a prova pericial para a comprovação da materialidade do delito a teor do disposto no
artigo 158 do CPP. Todavia, permite-se a realização de laudo pericial indireto na vítima.
Nesse sentido:

Nas lesões corporais, o exame de corpo de delito indireto, baseado em ficha


clínica de internação hospitalar do ofendido, constitui subsídio mais que
suficiente, sendo perfeitamente válido para se atestar a materialidade do
crime (TACrimSP, Ap. 1.341.943/2, 4ª Câm., rel. Juiz João Morenghi, j. 11-
2-2003, RJTACrim 64/136).

18
O parágrafo único do dispositivo faz referência às hipóteses de causa de
aumento de pena previstas para o homicídio culposo e que são aplicáveis ao delito em
questão, portanto, a respeito de tal tema, vale o que dissemos anteriormente.
Em regra, o crime em análise é de ação penal pública condicionada à
representação do ofendido, exceto nas hipóteses em que o agente estiver: a) sob a
influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine
dependência; b) participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição
automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente; e c) transitando em velocidade
superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora),
ou seja, o disposto no §1° do artigo 291 do CTB, quando então a ação penal será pública
incondicionada.

Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar


imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar
de solicitar auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir
elemento de crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo,
ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte
instantânea ou com ferimentos leves.

O elemento subjetivo deste tipo penal diferentemente dos anteriores é o dolo,


bem como é de perigo e não de dano. Importante ressaltar que é crime próprio na
medida em que somente o condutor envolvido no acidente é que pode praticá-lo.
E se um terceiro não envolvido no acidente deixa de prestar socorro podendo
fazê-lo? A resposta é simples, responderá este terceiro pelo crime de omissão de socorro
previsto no artigo 135 do Código Penal.

Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à


responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

19
Nucci (2014) ao tratar do delito em questão assevera que tal dispositivo fere o
princípio de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo, haja vista que
qualquer agente ao cometer um crime pode furtar-se à aplicação da lei.
Corroborando o entendimento de Guilherme Nucci, podemos citar três Tribunais
que consideraram inconstitucional este tipo penal, vejamos:

“Incidente de inconstitucionalidade (CF, art. 97; CPC, arts. 480 a 482).


Código de Trânsito Brasileiro, art. 305 – fuga à responsabilidade penal e
civil. Tipo penal que viola o princípio do art. 5°, LXIII – garantia de não
autoincriminação. Extensão da garantia a qualquer pessoa, e não
exclusivamente ao preso ou acusado, segundo orientação do STF. Imposição
do tipo penal que acarreta a autoincriminação, prevendo sanção restritiva da
liberdade, inclusive para a responsabilidade civil. Inconstitucionalidade
reconhecida. Incidente acolhido. É inconstitucional, por violar o art. 5°,
LXIII, da Constituição Federal, o tipo penal previsto no art. 305 do Código
de Trânsito Brasileiro.” (TJSP – Órgão Especial, Arguição de
Inconstitucionalidade 990.10.159020-4, rel. Boris Kauffmann, j.14.07.2010,
m.v.)

“Incidente de inconstitucionalidade – Reserva de Plenário – Art. 305, do


Código de Trânsito Brasileiro – Incompatibilidade com o direito fundamental
ao silêncio – Inconstitucionalidade declarada.” (TJMG – Corte Superior,
Incidente de Inconstitucionalidade 1.0000.07.456021-0, rel. Sérgio Resende,
11.06.2008, m.v.)

“Não se pode conceber a premissa de que, pelo simples fato de estar na


condução de um veículo, o motorista que se envolve em um acidente de
trânsito tenha que aguardar a chegada da autoridade competente para
averiguação de eventual responsabilidade civil ou penal porquanto
reconhecer tal norma como aplicável, seria impor ao condutor a obrigação de
produzir prova contra si, hipótese vedada pela Constituição Federal por
ofender o preceito da ampla defesa (CF/88, art. 5°, LV), além de incorrer em
malferição ao direito ao silêncio (CF, art. 5°, LXIII). [...]Desse modo,
afigura-se inviável vislumbrar outra responsabilidade penal a ser imputada ao
motorista que se evade do local em que estivera envolvido em acidente de
trânsito com vítima que não a omissão de socorro, situação com disposição
específica no CTB (art. 304).[...]” (TJSC – Arguição de Inconstitucionalidade

20
2009.026222-9/0001.00, Órgão Especial, rel. Salete Silva Sommariva,
01.06.2011, m.v.)

Renato Marcão (2015) ainda cita outros autores que entendem da mesma forma
que Guilherme Nucci, como Damásio E. de Jesus e Luiz Flavio Gomes, contudo, o
autor diverge da opinião de tais doutrinadores e assevera:

A permanência do agente no local do acidente não determina que o mesmo


preste qualquer tipo de informação, a quem quer que seja, capaz de constituir
prova contra si mesmo; autoincriminar-se, contrariando o que está assegurado
na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art.8°, II, g), até porque,
sob a vigência do art. 5°, LXIII, da Constituição Federal, subsiste o direito de
permanecer calado; persiste a garantia ao silêncio constitucional, do que
decorre inexorável a possibilidade de, mantendo-se honradamente no local,
deixar de prestar informações que envolvam matéria de prova a ser produzida
em regular investigação, ou, num âmbito mais limitado, deixar de colaborar
com informações que possam contrariar seu interesse, nada nobre, de furtar-
se à responsabilidade penal ou civil pelo mal que causou a terceiro inocente.
(p.163)

Na mesma linha de Renato Marcão, é o entendimento da 5ª Turma do STJ:


HABEAS CORPUS. PENAL. ART. 305 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO.
PRINCÍPIO DONEMO TENETUR SE DETEGERE. VIOLAÇÃO.
INEXISTÊNCIA. ORDEM DENEGADA. 1. O art. 305 do Código de
Trânsito, que tipifica a conduta do condutor de veículo que foge do local do
acidente, para se furtar à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser
atribuída, nãoviola a garantia da não auto-incriminação, que assegura que
ninguém pode ser obrigado por meio de fraude ou coação, física e moral, a
produzir prova contra si mesmo. 2. Ordem denegada. (STJ HC 137.340 - SC,
Relatora: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 20/09/2011, T5 -
QUINTA TURMA)

Extraímos o seguinte trecho do voto da Eminente Ministra Relatora:


“Em que pesem os esforços do Impetrante, como bem asseverou o parecer da
Douta Subprocuradoria-Geral da República, "não há qualquer traço
de inconstitucionalidade, pois o legislador, por intermédio da norma penal
do artigo 305, do Código de Trânsito, não buscou a auto incriminação do
condutor que permanece no local do acidente, pois este não está obrigado a
21
produzir prova contra si, mas apenas sua colaboração com a administração
da justiça, não sendo impelido a qualquer manifestação, podendo
permanecer em silêncio, se assim o quiser" (fl. 117).
Com efeito, a tipificação da conduta do motorista que foge do local do
acidente, para se furtar à responsabilidade penal ou civil que lhe possa
ser atribuída não viola a garantia da não auto incriminação, que assegura que
ninguém pode ser obrigado por meio de fraude ou coação, física e moral, a
produzir prova contra si mesmo.
O cerne do princípio do nemo tenetur se detegere reside em assegurar ao réu
a possibilidade de permanecer em silêncio, de não falar a verdade,
confessar ou participar da produção de uma prova incriminatória ou
apresentar prova contra ele, o que não se confunde com a penalização do
condutor que se afasta do local do acidente.”

Destarte, a questão ainda não está pacificada e depende de posicionamento do


STF.

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em


razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência: (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela
Lei nº 12.760, de 2012)
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue
ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar;
ou (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros
meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. (Redação
dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de
alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste
artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
22
O crime sub examine é de perigo abstrato, não se exigindo a demonstração da
potencialidade lesiva da conduta, posição pacificada na jurisprudência dos tribunais
superiores, senão vejamos:

DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores da 2ª Câmara Criminal do


Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em
negar provimento ao recurso e, de ofício, reduzir a pena. EMENTA:
APELAÇÃO CRIME Nº 1.308.801-6, DA 1ª VARA DE DELITOS DE
TRÂNSITO DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE CURITIBA.APELANTE: CLEBERSON CARLOS
PASTUCHEN JUNIOR APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DO PARANÁ RELATOR: DES. ROBERTO DE VICENTE RELATOR
CONVOCADO: JUIZ DE DIREITO SUBST. EM 2º GRAU, DR.MARCEL
GUIMARÃES ROTOLI DE MACEDO.APELAÇÃO CRIMINAL. DIREITO
PENAL.CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO.IMPUTAÇÃO: DIRIGIR
VEÍCULO AUTOMOTOR SOB INFLUÊNCIA DE ÁLCOOL.
MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. ADEQUAÇÃO
TÍPICA.ALTERAÇÃO DA REDAÇÃO DO ART. 306 DA LEI 9.503/97, PELA
LEI 12.760/12. NOVA ELEMENTAR TÍPICA. CONDUTA DO RÉU QUE
TIPIFICOU O DELITO EM COMENTO.NÃO CONFIGURAÇÃO DE
DESCRIMINALIZAÇÃO DA CONDUTA DE CONDUZIR VEÍCULO COM A
CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL POR LITRO DE AR ALVEOLAR
SUPERIOR A TRÊS MILIGRAMAS PELA LEI 12.720/2012.CRIME DE
MERA CONDUTA. PERIGO ABSTRATO. INEXIGÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DA EFETIVA POTENCIALIDADE LESIVA DA
CONDUTA. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
COMPROVAÇÃO DE CONCENTRAÇÃO ALCÓOLICA SUPERIOR À
PERMITIDA POR LEI MEDIANTE TESTE DO BAFÔMETRO
(ETILÔMETRO). DISPENSA DE PROVA ACERCA DA CONDUTA
TEMERÁRIA DO AGENTE. DOSIMETRIA REVISADA DE OFÍCIO.
SENTENÇA, NO MAIS, MANTIDA.RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.RELATÓRIO: (TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1308801-6 -
Curitiba - Rel.: Marcel Guimarães Rotoli de Macedo - Unânime - - J.
03.09.2015) (TJ-PR - APL: 13088016 PR 1308801-6 (Acórdão), Relator:
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo, Data de Julgamento: 03/09/2015, 2ª
Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 1657 28/09/2015)(destaquei)

RECURSO ESPECIAL Nº 1.497.371 - RJ (2014/0311948-1) RELATOR :


MINISTRO FELIX FISCHER RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO RECORRIDO : VICTOR MAGNO
FAIDIGA FLOSI ADVOGADOS : NELSON WILIANS FRATONI
RODRIGUES ANA PAULA FERNANDES NOGUEIRA DA CRUZ E OUTRO
(S) DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto pelo MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, com fulcro no art. 105,
inciso III, a, da Constituição da República, em face de v. acórdão proferido
pelo eg. Tribunal de Justiça daquele Estado, ementado nos seguintes termos:
"HABEAS CORPUS PROCESSUAL PENAL TRANCAMENTO DE AÇÃO
PENAL EMBRIAGUEZ AO VOLANTE EPISÓDIO OCORRIDO NA RUA
GENERAL POLIDORO, ALTURA DO Nº 308, BOTAFOGO, COMARCA DA
CAPITAL - PRÉVIA INSTAURAÇÃO DE AÇÃO PENAL, EM FACE DE
RESULTADO DE EXAME DE ALCOOLEMIA, POR MEIO DE
ETILÔMETRO, A QUE SE SUBMETEU O PACIENTE A PARTIR DO
QUAL SE ESTABELECEU A PRESENÇA DE ÍNDICE DE
CONCENTRAÇÃO ALCOÓLICA SUPERIOR AO PERMITIDO PELA
23
NORMA LEGAL, NO CASO, CERCA DE 0,38 MG POR LITRO DE AR
EXPELIDO ALEGAÇÃO DEFENSIVA DE ATIPICIDADE PENAL DA
CONDUTA, POR FORÇA DA AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO IMPUTATIVA
DE ATUAR ANORMAL OU DESVIADO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR EM VIA PÚBLICA, EM CONJUGAÇÃO ÀQUELA
CONSTATAÇÃO PERICIAL, GERANDO FALTA DE JUSTA CAUSA E
INÉPCIA DA VESTIBULAR A PARTIR DO RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA, EM SE TRATANDO DE DELITO DE PERIGO CONCRETO,
OU SEJA, A EXIGIR A COMPROVAÇÃO DE QUE O AGENTE ESTIVESSE
DIRIGINDO O SEU VEÍCULO DE FORMA PERIGOSA À SEGURANÇA
VIÁRIA E À INCOLUMIDADE PÚBLICA INFORMAÇÕES PRESTADAS,
DANDO CONTA DA FIDEDIGNIDADE DO RELATO IMPETRACIONAL
PROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO MANDAMENTAL CRIME DE PERIGO
CONCRETO, POIS, EM SE TRATANDO DA SEGURANÇA VIÁRIA E DA
INCOLUMIDADE PÚBLICA OS INTERESSES PENALMENTE
TUTELADOS, NECESSÁRIO SE TORNA PARA SE ESTABELECER A
ADEQUAÇÃO TÍPICA COR- RESPONDENTE QUE O AGENTE
PRATIQUE ATO OBJETIVO QUE CRIE O RISCO CONCRETO DE LESÃO
ÀQUELES BENS JURÍDICOS PROTEGIDOS, SEM O QUE SUBSISTIRÁ
APENAS A INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA SUBJACENTE (ART. 165 DO
C.T.B.), ATÉ PORQUE, SE ASSIM NÃO O FOSSE, HAVERIA EXPLÍCITA
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LESIVIDADE OU DA OFENSIVIDADE, O
QUAL DIFERENCIA A MERA TIPICIDADE FORMAL, DAQUELA QUE
CONGREGA ESTA À TIPICIDADE MATERIAL SISTEMÁTICA
NORMATIVA QUE ESTABELECE UMA NATURAL GRADAÇÃO ENTRE
INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS E PENAIS, DE MODO A CRISTALIZAR
QUE ESTAS, ENQUANTO ULTIMA RATIO, ESTEJAM PRESENTES EM
CONTRAPONTO EVENTUAL À ASSIDUIDADE DE CONFIGURAÇÃO
DAQUELAS, E O QUE RESTARIA VIOLADO CASO SE PUDESSE
RECONHECER O DELITO INSERTO NO ART. 306 DO C.T.B. COMO
SENDO DE PERIGO ABSTRATO, JÁ QUE, EM ANÁLISE
CONFRONTATIVA COM ELE, A INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA DO ART.
165 DO MESMO ESTATUTO EXIGIRIA À SUA CONFIGURAÇÃO UM
ATUAR MUITO MAIS COMPLEXO E ESTRUTURADO DO QUE A
CONDUTA PENALIZADA, O QUE ILUSTRARIA UM REMATADO
ABSURDO IMPOSSIBILIDADE DE SE ADMITIR QUE A SIMPLES
ALTERAÇÃO REDACIONAL DO COMPORTAMENTO PENALMENTE
TIPIFICADO, NUM ESFORÇO PARA ALCANÇAR UM ESPECTRO
REPRESSIVO MAIS AMPLO E ABRANGENTE, POSSA MODIFICAR A
NATUREZA INTRÍNSECA DA CONDUTA REPROVÁVEL,
TRANSFORMANDO-A DE PERIGO CONCRETO EM PERIGO ABSTRATO,
APENAS PORQUE ESTA TERIA SIDO A MENS LEGISLATORIS,
DESPREZANDO AS INAFASTÁVEIS CARACTERÍSTICAS DO BEM
JURÍDICO PENALMENTE TUTELADO, SEM PREJUÍZO DE SE
DESTACAR AS EVIDENTES E PERSONALÍSSIMAS PECULIARIDADES
DOS EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS SOBRE OS
DIFERENTES INDIVÍDUOS, DE MODO QUE O MERO
ESTABELECIMENTO DE PADRÕES NUMERICAMENTE AFERÍVEIS
PARA DEFINIR UM ESTADO OU UMA CONDIÇÃO FÍSICA DO AGENTE
SE MOSTRA INSUFICIENTE, INADEQUADO E ANACRÔNICO, PORQUE
MOLDADO POR INACEITÁVEL PRESUNÇÃO LEGAL DE CARÁTER
ABSOLUTO DECRETAÇÃO DA INÉPCIA DA EXORDIAL, COM O
CONSEQUENTE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL, POR ATIPICIDADE
PENAL DA CONDUTA IMPUTADA CONSTRANGIMENTO ILEGAL
INDICADO E CARACTERIZADO -- CONCESSÃO DA ORDEM" (fls. 46-
48). Depreende-se dos autos que o Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro ofereceu denúncia contra o recorrido, imputando-lhe a prática do
crime previsto no artigo 306, § 1º, inciso I, do Código de Brasileiro de
Trânsito - CBT. O recorrido impetrou habeas corpus para o trancamento da
24
ação penal n. 0165164-24.2014.8.19.0001, contra ele instaurada, sob à
imputação da prática de embriaguez ao volante de automóvel com
concentração de álcool por litro de sangue igual a 0,38 miligrama, conforme
teste de etilômetro (bafômetro). Em segundo grau, a eg. Corte de origem
concedeu a ordem para decretar o trancamento da ação penal por inépcia da
exordial. Daí o presente recurso especial no qual sustenta o Parquet, em
suas razões, negativa de vigência aos artigos 306, caput, c/c 1º, do CBT, 41 e
395, I e III, do Código de Processo Penal. Aduz, em síntese, que "para
configuração do tipo penal descrito no artigo 306 do CTB e o
aperfeiçoamento da conduta criminosa que o agente conduza o veículo
automotor de forma anormal ou com a sua capacidade psicomotora
alterada, bastando para a configuração da figura típica que esteja à direção
do automóvel e seja constatado que ingerira álcool, diante da positivação da
concentração igual ou superior a seis decigramas de álcool por litro de
sangue (ou concentração de álcool igual ou superior a três décimos de
miligrama por litro de ar expelido pelos pulmões)" (fl. 124). Contrarrazões
ás fls. 135-159. Admitido o recurso na origem, subiram os autos a esta eg.
Corte. O nobre Ministério Público Federal, em parecer de fls. 181-187,
opinou pelo provimento do recurso especial. É o relatório. Decido. A
jurisprudência dessa eg. Corte pacificou o entendimento no sentido de que
o crime tipificado no artigo 306 da Lei n. 9.503/97 é de perigo abstrato, não
exigindo a demonstração de potencialidade lesiva da conduta. Configura-
se, portanto, com a simples condução de automóvel, em via pública, com a
concentração de álcool igual ou superior a 6 decigramas por litro de sangue.
In casu, conforme informação presente nos autos, o recorrido foi submetido
ao teste etilômetro, que constatou a concentração de 0,38 miligrama de
álcool por litro de ar expelido, quantidade essa suficiente para a
configuração do crime de embriaguez ao volante. Nesse sentido, os seguintes
precedentes deste eg. STJ: "RECURSO ESPECIAL. EMBRIAGUEZ AO
VOLANTE. ART. 306 DA LEI N. 9503/97 - CÓDIGO BRASILEIRO DE
TRÂNSITO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. CRIME DE PERIGO
ABSTRATO. DESNECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE
POTENCIALIDADE LESIVA NA CONDUTA. CONCENTRAÇÃO DE
ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE IGUAL OU SUPERIOR A 6
DECIGRAMAS. EXAME DE SANGUE. FATO TÍPICO. PRESENTE JUSTA
CAUSA. PROVIMENTO. 1 - Conforme reiterada jurisprudência desta Corte,
o crime do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro é de perigo abstrato e
dispensa a demonstração de potencialidade lesiva na conduta, configurando-
se pela condução de veículo automotor em estado de embriaguez. 2 -
Considerando que o recorrido foi submetido a exame de sangue (Exame
Toxicológico Dosagem Alcoolica n. 760/2012) e que a denúncia traz indícios
concretos de que o paciente foi flagrado dirigindo veículo automotor com
concentração de álcool igual a 1,6 g/l por litro de sangue - valor esse
superior ao que a lei permite -, há justa causa para a persecução penal do
crime de embriaguez ao volante. 3 - Recurso especial conhecido e
provido"(REsp 1.467.980/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
DJe de 17/11/2014)."[...] EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ARTIGO 306 DO
CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO). AUSÊNCIA DE
POTENCIALIDADE LESIVA DA CONDUTA DO ACUSADO.
DESNECESSIDADE. CRIME DE PERIGO ABSTRATO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 1. O crime do artigo
306 do Código de Trânsito Brasileiro é de perigo abstrato, dispensando-se a
demonstração da efetiva potencialidade lesiva da conduta daquele que
conduz veículo em via pública com a concentração de álcool por litro de
sangue maior do que a admitida pelo tipo penal. Precedentes. 2. Na
hipótese dos autos, de acordo com a denúncia ofertada pelo Ministério
Público e com a sentença condenatória, o paciente conduzia veículo
automotor em via pública com a concentração de álcool por litro de sangue
superior a 6 decigramas, pelo que se mostra incabível o pleito de absolvição
25
formulado na inicial. [...] 2. Habeas corpus não conhecido. Ordem
concedida de ofício apenas para reduzir a pena imposta ao paciente para 1
(um) ano de detenção, a ser cumprido no regime inicial semiaberto, e
pagamento de 30 (trinta) dias-multa" (HC 302.545/DF, Quinta Turma, Rel.
Min. Jorge Mussi, DJe de 14/10/2014). E do c. Pretório Excelso: "Recurso
ordinário em habeas corpus. Embriaguez ao volante (art. 306 da Lei nº
9.503/97). Alegada inconstitucionalidade do tipo por ser referir a crime de
perigo abstrato. Não ocorrência. Perigo concreto. Desnecessidade. Ausência
de constrangimento ilegal. Recurso não provido. 1. A jurisprudência é
pacífica no sentido de reconhecer a aplicabilidade do art. 306 do Código de
Trânsito Brasileiro delito de embriaguez ao volante , não prosperando a
alegação de que o mencionado dispositivo, por se referir a crime de perigo
abstrato, não é aceito pelo ordenamento jurídico brasileiro. 2. Esta Suprema
Corte entende que, com o advento da Lei nº 11.705/08, inseriu-se a
quantidade mínima exigível de álcool no sangue para se configurar o crime
de embriaguez ao volante e se excluiu a necessidade de exposição de dano
potencial, sendo certo que a comprovação da mencionada quantidade de
álcool no sangue pode ser feita pela utilização do teste do bafômetro ou pelo
exame de sangue, o que ocorreu na hipótese dos autos. 3. Recurso não
provido."(RHC 110258/DF, Primeira Turma, Rel. Min. Dias Toffoli, Dje
23/05/2012)."HABEAS CORPUS. PENAL. DELITO DE EMBRIAGUEZ AO
VOLANTE. ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO.
ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO REFERIDO TIPO
PENAL POR TRATAR-SE DE CRIME DE PERIGO ABSTRATO.
IMPROCEDÊNCIA. ORDEM DENEGADA. I - A objetividade jurídica do
delito tipificado na mencionada norma transcende a mera proteção da
incolumidade pessoal, para alcançar também a tutela da proteção de todo
corpo social, asseguradas ambas pelo incremento dos níveis de segurança
nas vias públicas. II - Mostra-se irrelevante, nesse contexto, indagar se o
comportamento do agente atingiu, ou não, concretamente, o bem jurídico
tutelado pela norma, porque a hipótese é de crime de perigo abstrato, para
o qual não importa o resultado. Precedente. III No tipo penal sob análise,
basta que se comprove que o acusado conduzia veículo automotor, na via
pública, apresentando concentração de álcool no sangue igual ou superior a
6 decigramas por litro para que esteja caracterizado o perigo ao bem
jurídico tutelado e, portanto, configurado o crime. IV Por opção legislativa,
não se faz necessária a prova do risco potencial de dano causado pela
conduta do agente que dirige embriagado, inexistindo qualquer
inconstitucionalidade em tal previsão legal. V Ordem denegada." (HC
109.269/MG, Segunda Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowisk, Dje
10/10/2011). Ante o exposto, tendo em vista que o v. acórdão recorrido está
em confronto com o entendimento deste eg. STJ, com base no art. 557, § 1º-
A, do CPC c/c art. 3º do CPP, dou provimento ao recurso especial, para que
seja dado regular prosseguimento a ação penal. P. e I. Brasília, 07 de abril
de 2015. Ministro Felix Fischer Relator (STJ REsp 1497371 RJ
2014/0311948-1, Relator: Ministro FELIX FISCHER. P. 13/04/2015)
(destaquei)

Em relação ao delito em tela, importante trazer o debate acerca da alteração


legislativa operada em 2012 que, segundo a jurisprudência, o legislador recrudesceu a
hipótese legal, devendo se aplicar a lei anterior para os fatos praticados na vigência da
redação dada pela alteração legislativa de 2008. Ademais, para a configuração da
conduta prevista no artigo 306, quando da vigência da Lei 11.705/08, exigia-se prova
pericial, pois compunha elemento do tipo, o que não é mais previsto na nova redação.

26
HABEAS CORPUS Nº 308.899 - SP (2014/0295331-3) RELATOR :
MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ IMPETRANTE : HERACLITO
ANTONIO MOSSIN E OUTRO ADVOGADO : HERACLITO ANTONIO
MOSSIN E OUTRO (S) IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : ANDRE LUIS CARDOSO DE
MATOS DECISÃO ANDRE LUIS CARDOSO DE MATOS estaria sofrendo
coação ilegal em seu direito de locomoção, em decorrência de acórdão
proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, denegatório do
HC n. 2134867-08.2014.8.26.0000. O ora paciente foi denunciado pela
suposta prática do delito previsto no art. 306, caput, da Lei n. 9.503/97. A
denúncia foi recebida pelo Juízo da 4ª Vara Criminal da Comarca de
Ribeirão Preto, em 12/8/2014, oportunidade em que foi designada audiência
de instrução (fl. 55). Irresignada, a defesa impetrou habeas corpus perante o
Tribunal de origem, no qual requereu o trancamento da ação penal. A ordem
foi denegada pela 3ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo (fls. 57-59). Nesta Corte, os impetrantes sustentam a
ocorrência de constrangimento ilegal, ao argumento de que, como o suposto
delito foi praticado em 28/9/2012, anteriormente à alteração do Código de
Trânsito Brasileiro, operada em 20/12/2012, para comprovação da
materialidade delitiva era imprescindível a realização exame de sangue ou
de teste de etilômetro, o que não ocorreu no caso. Aduzem que falta justa
causa para a ação penal, pois não foi cumprida exigência prevista na
legislação vigente à época do delito para configuração da materialidade
delitiva. Requerem, liminarmente, a suspensão da ação penal n. 0016035-
21.2013.8.26.0506 até o julgamento final do writ, mormente porque a
audiência de instrução e julgamento foi designada para o dia 26/11/2014. No
mérito, pugnam pela "concessão da ordem para que haja o trancamento da
ação penal" (fl. 8). Decido. Dúvidas não há de que o deferimento da liminar
é medida excepcional, cabível apenas em hipóteses de flagrante ilegalidade e
em que evidenciados o fumus boni juris e o periculum in mora. No caso, ao
menos em um juízo perfunctório, verifico que o pedido formulado reveste-se
de plausibilidade jurídica, sendo o caso de deferir-se a medida de urgência.
A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso
Especial Representativo de Controvérsia n. 1.111.566/DF, afirmou que,
para a configuração do delito tipificado no artigo 306 do Código de
Trânsito Brasileiro, anteriormente à alteração operada pela Lei n. 12.760,
de 20/12/2012, é imprescindível a aferição da concentração de álcool no
sangue, que poderá ser realizada por teste de etilômetro ou exame de
sangue. Nesse sentido, ainda: PENAL. HABEAS CORPUS. EMBRIAGUEZ
AO VOLANTE. ART. 306 DA LEI N.º 9.503/97. 1. EXORDIAL
ACUSATÓRIA. REJEIÇÃO. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
JULGADO. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
INVIABILIDADE. VIA INADEQUADA. 2. DOSAGEM ALCÓOLICA.
AFERIÇÃO. LEI N.º 11.705/08. 3. FATO ANTERIOR À ALTERAÇÃO
NORMATIVA CRISTALIZADA NA LEI N.º 12.760/12. 4. SUJEIÇÃO AO
BAFÔMETRO. AUSÊNCIA. EXAME DE SANGUE. INEXISTÊNCIA.
ÍNDICE APURADO DIANTE DOS SINAIS CLÍNICOS E MANIFESTAÇÕES
FÍSICAS E PSÍQUICAS DO AVALIADO. IMPOSSIBILIDADE.
TIPICIDADE. INOCORRÊNCIA. 5. RESP N.º 1.111.566/DF.
PRECEDENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. RECONHECIMENTO. 6.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO. 1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do
habeas corpus, em prestígio ao âmbito de cognição da garantia
constitucional e em louvor à lógica do sistema recursal. In casu, foi
impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso especial. 2.
Com a redação conferida ao artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro

27
pela Lei n.º 11.705/08, tornou-se imperioso, para o reconhecimento de
tipicidade do comportamento de embriaguez ao volante, a aferição da
concentração de álcool no sangue. 3. A Lei n.º n.º 12.760/12 modificou a
norma mencionada, a fim de dispor ser despicienda a avaliação realizada
para atestar a gradação alcóolica, acrescentando ser viável a verificação da
embriaguez mediante vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova
em direito admitidos, observado o direito à contraprova, de modo a
corroborar a alteração da capacidade psicomotora. 4. Contudo, no caso em
apreço, praticado o delito com a redação primeva da legislação e ausente a
sujeição a etilômetro ou a exame sanguíneo, torna-se inviável a
responsabilização criminal, visto a impossibilidade de se aferir a existência
da concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis)
decigramas por uma análise na qual se atenha unicamente aos sinais
clínicos e às manifestações físicas e psíquicas do avaliado. 5. Entendimento
consolidado pela colenda Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça,
no seio do REsp n.º 1.111.566/DF, representativo de controvérsia, nos
moldes do art. 543-C do Código de Processo Civil. 6. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de reconhecer a ausência de
justa causa e trancar o Processo n.º 138/2009, da Vara Criminal da
Comarca de Diamantino/MT. (HC n. 246.553/MT, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, 6ªT., DJe 17/10/2013) Sobre o tema, destaco
o seguinte excerto doutrinário, em que se afasta a possibilidade de
incidência da novel legislação aos casos ocorridos sob a vigência da
redação anterior do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro: A Lei 11.705,
de 19 de junho de 2008, deu redação mais branda ao artigo 306 do CTB,
pois nele incluiu elementar que resultou em obstáculo à persecução penal
(concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6
decigramas), daí sua retroatividade para alcançar fatos praticados antes de
sua vigência. Ao contrário, a Lei 12.760, de 20 de dezembro de 2012,
retirou a elementar anteriormente grafada no artigo 306, consistente na
quantificação da dosagem alcoólica por litro de sangue, e com isso ampliou
consideravelmente a possibilidade de se impor punição. Não bastasse,
antes, só se perfazia o crime do artigo 306 do CTB quando a condução do
veículo automotor se verificasse na via pública, sendo certo que tal
elementar também foi retirada pela Lei 12.760, o que terminou por aumentar
ainda mais a possibilidade de configuração do crime em testilha. Disso
resulta que a atual redação do artigo 306 do CTB é mais severa em relação
à anterior, e por isso a regulamentação que dele decorre não retroage para
alcançar fatos praticados antes de sua vigência, conforme determina o
artigo 5º, XL, da Constituição Federal. Por igual razão, para a prova dos
crimes praticados antes da Lei 12.760 continua a ser indispensável exame
pericial, porquanto imprescindível prova técnica que demonstre a
concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6
decigramas, conforme entendimento predominante no STJ: REsp 1.111.566-
DF, 3ª Seção, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, rel. p/ o acórdão Min.
Adilson Vieira Macabu, j. 28-3-2012, DJe de 4-9-2012. (MARCÃO, Renato.
Irretroatividade do atual artigo 306. http://www.conjur.com.br/2013-jan-
23/renato-marcao-lei-seca-nao-apli ca-casos-anteriores-edição) À vista do
exposto, defiro a liminar para suspender o andamento da Ação Penal n.
0016035-21.2013.8.26.0506, em trâmite na 4ª Vara Criminal da Comarca de
Ribeirão Preto, até o julgamento final deste writ. Solicitem-se informações
ao juízo de primeiro grau, encarecendo o envio de elementos indispensáveis
à análise do alegado na impetração. Após, abra-se vista dos autos ao
Ministério Público Federal, para parecer. Publique-se. Intimem-se. Brasília,
06 de novembro de 2014. MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ Relator
(STJ , Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ)(destaquei)

RECURSO ESPECIAL Nº 1.484.397 - RS (2014/0245998-9) RELATOR :


MINISTRO LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR
28
CONVOCADO DO TJ/PE) RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL RECORRIDO : DOUGLAS BOFF
JUSTO ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO, com fundamento no art. 105, III, alínea a, da
Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul. Consta nos autos que o recorrente foi
condenado, em primeiro grau, à pena definitiva de 07 (sete) meses de
detenção, ao pagamento de sanção pecuniária de quinze dias-multa, e à
suspensão da CNH pelo prazo de 03 (três) meses, substituindo a sanção
detentiva por prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas
pelo prazo de 07 (sete) meses, como incurso nas sanções do art. 306, caput,
da Lei nº 9.503/97. Apresentado recurso de apelação, o Tribunal de origem,
por maioria, decidiu pelo seu provimento, para absolver o recorrido, com
fundamento no artigo 386, III, do Código de Processo Penal (e-STJ fls.
195/212). Foram opostos embargos de declaração pelo recorrente, os quais
não foram acolhidos (e-STJ fls. 225/229). Em recurso especial o recorrente
alegou afronta ao artigo 306 da Lei n. 9.503/1997 e da contrariedade aos
artigos 386, inciso III e VII, do Código de Processo Penal e 1º da Lei n.
12.760/12 Contrarrazões apresentadas às e-STJ fls. 283/291. O recurso foi
admitido às e-STJ fls. 300/308. Instado a se manifestar, o Ministério Público
Federal opinou pelo provimento do recurso especial (e-STJ fls. 338/343). É o
relatório. Decido Conforme se observa dos autos, o Tribunal a quo absolveu
o recorrido por entender que não ficou comprovada a alteração da sua
capacidade psicomotora, elemento exigido pela Lei n. 12.760/2012. Aduz que
o fato de o bafômetro apontar teor alcoólico superior a 6 decigramas de
álcool por litro de sangue, não pode mais determinar, por si só, que o
acusado esteja alterado, pois seriam necessárias outras provas. Nesse caso,
entende que a nova redação ao artigo 306, dada pela Lei n. 12.760/2012, é
benéfica e deve retroagir para alcançar os fatos ocorridos anteriormente a
ela. Contudo, não é esse o sentido na nova norma. A referida lei adentrou o
ordenamento jurídico para ampliar os meios de prova para a aferição da
embriaguez, possibilitando que essa possa ser demonstrada, por qualquer
meio de prova lícita, não mais somente pelo bafômetro. Por ser uma lei
mais gravosa, não deve retroagir. No caso, o teste de etilômetro feito pelo
recorrido apontou mais de 6 (seis) decigramas de álcool por litro de sangue,
o que ultrapassa a concentração mínima permitida pela lei na época dos
fatos. De acordo com reiterada jurisprudência desta Corte, o crime do art.
306 do Código de Trânsito Brasileiro é de perigo abstrato e dispensa a
demonstração de potencialidade lesiva na conduta, configurando-se pela
condução de veículo automotor em estado de embriaguez. Nesse sentido:
PROCESSUAL PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ESPECIAL, ORDINÁRIO OU DE REVISÃO CRIMINAL. NÃO
CABIMENTO. ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE.
INOCORRÊNCIA. CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL NO SANGUE.
POTENCIAL LESIVO. DESNECESSIDADE. 1. Ressalvada pessoal
compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de Justiça ser
inadequado o writ em substituição a recursos especial e ordinário, ou de
revisão criminal, admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a
constatação de ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia. 2.
Sendo a calibração do etilômetro atestada pelo órgão competente, sua
confiabilidade é presumida até prova em contrário. O simples decurso do
tempo não faz presumir a incorreção da calibração do aparelho e em
verdade rever o valor probatório dessa prova técnica é questão que refoge
aos limites do habeas corpus. 3. Diante das significativas alterações
legislativas acerca da matéria, deve o julgador deve formar sua convicção
observando a redação do art. 306 do CTB vigente à época dos fatos. 4.
Tendo o delito sido praticado após as alterações procedidas pela Lei nº
29
11.705/08 e antes do advento da Lei nº 12.760/12, a simples conduta de
dirigir veículo automotor em via pública, estando com concentração de
álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas de álcool
por litro, configura o delito previsto no art. 306 do CTB, o que torna
desnecessária qualquer discussão acerca da alteração das funções
psicomotoras do paciente. Precedentes. 5. Habeas corpus não conhecido.
(HC 299.886/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Sexta Turma, DJe
03/10/2014) HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA.
SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ESPECIAL CABÍVEL.
IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA
CARTA MAGNA. NÃO CONHECIMENTO. 1. Com o intuito de homenagear
o sistema criado pelo Poder Constituinte Originário para a impugnação das
decisões judiciais, necessária a racionalização da utilização do habeas
corpus, o qual não deve ser admitido para contestar decisão contra a qual
exista previsão de recurso específico no ordenamento jurídico. 2. Tendo em
vista que a impetração aponta como ato coator acórdão proferido por
ocasião do julgamento de apelação criminal, contra o qual seria cabível a
interposição do recurso especial, depara-se com flagrante utilização
inadequada da via eleita, circunstância que impede o seu conhecimento. 3. O
constrangimento apontado na inicial será analisado, a fim de que se
verifique a existência de flagrante ilegalidade que justifique a atuação de
ofício por este Superior Tribunal de Justiça. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE
(ARTIGO 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO). AFERIÇÃO
POR ETILÔMETRO. DISPOSIÇÕES DO CONTRAN.
DESCONFORMIDADE. AFERIÇÃO E CALIBRAÇÃO. INSTITUTOS
DISTINTOS. AUSÊNCIA DE DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA.
NECESSIDADE DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 1. O teste de alcoolemia realizado no
paciente não é suficiente para comprovar que o equipamento utilizado para
medir a concentração de álcool no seu corpo não atenderia às disposições
da Resolução 206/2006 do CONTRAN, que determina a aferição anual do
etilômetro pelo INMETRO. 2. A calibração do etilômetro não se confunde
com a sua aferição, razão pela qual a data constante do teste de alcoolemia
não significa, por si só, inobservância à referida resolução. 3. O rito do
habeas corpus pressupõe prova pré-constituída do direito alegado, devendo
a parte demonstrar, de maneira inequívoca, por meio de documentos que
evidenciem a pretensão aduzida, a existência do aventado constrangimento
ilegal suportado pelo paciente. 4. Ademais, esta colenda Quinta Turma já
decidiu que a análise da última aferição do etilômetro é matéria que
demanda o exame do conjunto fático-probatório, providência que é inviável
na via eleita. Precedente. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE
ALTERAÇÕES NAS FUNÇÕES PSICOMOTORAS DO ACUSADO.
DESNECESSIDADE. CRIME DE PERIGO ABSTRATO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 1. O crime do artigo
306 do Código de Trânsito Brasileiro é de perigo abstrato, dispensando-se a
demonstração da efetiva potencialidade lesiva da conduta daquele que
conduz veículo em via pública com a concentração de álcool por litro de
sangue maior do que a admitida pelo tipo penal. Precedentes. 2. Na hipótese
dos autos, de acordo com a denúncia ofertada pelo Ministério Público e com
a sentença condenatória, o paciente conduzia veículo automotor em via
pública com a concentração de álcool por litro de sangue superior a 6
decigramas, pelo que se mostra incabível o pleito de absolvição formulado
na inicial. 3. Habeas corpus não conhecido. (HC 276.846/RS, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, Quinta Turma, DJe 26/03/2014) Grifei Sendo assim,
conforme prova dos autos, inconteste que o recorrido dirigia com nível
alcóolico acima do permitido, fato que configura a delito previsto no artigo
306 do CTB. Ante o exposto, com fulcro no art. 557, § 1º-A, do Código de
Processo Civil, dou provimento ao recurso especial para restabelecer a
sentença condenatória. Publique-se. Intime-se. Brasília (DF), 30 de abril de
30
2015. MINISTRO LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE) Relator(STJ , Relator:
Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/PE)(destaquei)

Ainda, assevera Renato Marcão (2015, p.174):

Antes da Lei n.12.760, de 20 de dezembro de 2012, o crime de embriaguez


ao volante só se configurava se a condução de veículo automotor ocorresse
na via pública. A atual redação do art. 306 abandonou tal critério, pois não
contém referida elementar, de maneira que restará configurado o crime ainda
que a condução do veículo, nas condições indicadas, seja verificada em
qualquer local público (não necessariamente via pública) ou no interior de
propriedade privada (chácara, sítio ou fazenda, por exemplo), o que
representa considerável ampliação no alcance da regra punitiva.

Todavia, o autor, não obstante o tipo penal restar configurado mesmo se a


condução se der em via privada, pontua que deve estar presente não só a tipicidade
formal, como também a material, exemplificando:

De ver, entretanto, que, nada obstante se tenha por demonstrada a tipicidade


formal, a condução de veículo no interior de propriedade privada, nas
condições do art. 306 do CTB, nem sempre justificará imputação de natureza
penal, cumprindo que se analise, caso a caso, a possibilidade, ou não, de
lesividade, indicativa da tipicidade material, pois a absoluta ausência desta
impede a persecução. [...]imagine-se hipótese em que o agente, estando em
sua fazenda, onde nenhuma outra pessoa reside, e sem pretender dela sair,
após ingerir alguma quantidade de cerveja, com a intenção única de conferir
as condições das cercas da propriedade, se coloca a conduzir seu veículo
automotor nos limites do imóvel rural, trafegando somente nas pastagens, e,
em algum momento, por sentir-se mal, para o carro e telefona em busca de
socorro médico, que é rapidamente prestado, quando então é constatado que
se encontrava embriagado. (p.175/176)

Para a prova do tipo penal em questão o legislador ampliou as possibilidades,


prevendo no §1 e §2 as formas possíveis de se constatar que o motorista está com a
capacidade psicomotora alterada.
Renato Marcão (2015, p.183/184) neste ponto assim preleciona:

31
[...]A ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA SERÁ
PRESUMIDA E RESTARÁ PROVADA PARA FINS PENAIS SE,
INDEPENDENTEMENTE DE QUALQUER CONDUÇÃO ANORMAL
OU APARÊNCIA DO AGENTE, FOR CONSTATADA EM EXAME DE
DOSAGEM CONCENTRAÇÃO IGUAL OU SUPERIOR A 6
DECIGRAMAS DE ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE, OU IGUAL OU
SUPERIOR A 0,3 MILIGRAMA DE ÁLCOOL POR LITRO DE AR
ALVEOLAR.[...] AINDA QUE O INVESTIGADO NÃO SE SUBMETA A
QUALQUER TIPO DE TESTE DE ALCOOLEMIA OU TOXICOLÓGICO,
A ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA PODERÁ SER
DEMONSTRADA, PARA FINS PENAIS, MEDIANTE GRAVAÇÃO DE
IMAGEM EM VÍDEO, EXAME CLÍNICO (VISUALMENTE FEITO POR
EXPERT E DEPOIS DOCUMENTADO), PROVA TESTEMUNHAL OU
QUALQUER OUTRO MEIO DE PROVA LÍCITA.

Importante no tema de provas do tipo penal em questão é importante destacar


que o CONTRAN editou a Resolução 432 de 23.01.2013 (anexa), regulamentando o
assunto.

Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a


habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código:
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional
de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar,
no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.

Este dispositivo legal tem como objeto jurídico tutelado a Administração da


Justiça e visa dar efetividade às decisões administrativas e judiciárias de forma que,
aplicada a penalidade de suspensão ou proibição de se obter a CNH ou permissão para
dirigir veículo automotor, fica o motorista impedido de conduzir veículo sob pena de
incorrer na conduta descrita.
Ainda, responde pelo crime em questão se, aplicada a penalidade prevista no
artigo 293 do CTB, não entregar a habilitação no prazo de quarenta e oito horas
conforme previsto no §1° daquele dispositivo legal.

32
Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de
corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade
competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada: (Redação
dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
§ 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de natureza
grave, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu
o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis)
anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº
12.971, de 2014) (Vigência)
§ 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias
demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a
pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das
outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de
2014) (Vigência)

Importante frisar que o crime em questão é de concurso de agentes, pois não há


como participar sozinho de disputa ou competição. E Marcão (2015, p.210) assevera:

Quem apenas organiza ou promove a corrida, disputa ou competição


automobilística não autorizada, sem se colocar na condução de qualquer
veículo automotor e dela fazer parte diretamente, responde como partícipe do
crime, por força do disposto no art. 29 do Código Penal.

E segue (p.211): “[...]a participação consiste em dirigir veículo automotor, em


via pública, estando envolvido em corrida, disputa ou competição automobilística não
autorizada pela autoridade competente, de molde a resultar dano potencial à
incolumidade pública ou privada em razão da atuação de um ou mais dentre os
participantes.”

33
Os parágrafos do tipo penal em questão envolvem a hipótese de crime
preterdoloso, ou seja, dolo no antecedente (“racha”) e culpa no consequente (lesões
corporais grave e/ou morte).
Questão que se discute na doutrina é se os §§ do artigo em epígrafe são
aplicáveis ou não, mormente diante do fato de que as mesmas condutas estão descritas
no art. 302, §2° (homicídio culposo na direção de veículo automotor qualificado pelo
“racha”) e art. 303 (lesão corporal culposa na direção de veículo automotor).
Vale o que foi dito quando tratamos do artigo 302 ao qual faço remissão,
asseverando que a doutrina majoritária pende pela inaplicabilidade dos dispositivos em
questão.
Não se olvide ser possível o reconhecimento do dolo eventual na prática de
homicídio decorrente de “racha”, a jurisprudência tem aceitado tal posicionamento com
base na análise das circunstâncias do fato e não da mente do autor, vejamos:

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME


DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. "RACHA"
AUTOMOBILÍSTICO. HOMICÍDIO DOLOSO. DOLO EVENTUAL.
NOVA VALORAÇÃO DE ELEMENTOS FÁTICO-JURÍDICOS, E NÃO
REAPRECIAÇÃO DE MATERIAL PROBATÓRIO. DENEGAÇÃO. 1. A
questão de direito, objeto de controvérsia neste writ, consiste na eventual
análise de material fático-probatório pelo Superior Tribunal de Justiça, o que
eventualmente repercutirá na configuração do dolo eventual ou da culpa
consciente relacionada à conduta do paciente no evento fatal relacionado à
infração de trânsito que gerou a morte dos cinco ocupantes do veículo
atingido. 2. O Superior Tribunal de Justiça, ao dar provimento ao recurso
especial interposto pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais,
atribuiu nova valoração dos elementos fático-jurídicos existentes nos autos,
qualificando-os como homicídio doloso, razão pela qual não procedeu ao
revolvimento de material probatório para divergir da conclusão alcançada
pelo Tribunal de Justiça. 3. O dolo eventual compreende a hipótese em que o
sujeito não quer diretamente a realização do tipo penal, mas a aceita como
possível ou provável (assume o risco da produção do resultado, na redação do
art. 18, I, in fine, do CP). 4. Das várias teorias que buscam justificar o dolo
eventual, sobressai a teoria do consentimento (ou da assunção), consoante a
qual o dolo exige que o agente consinta em causar o resultado, além de
considerá-lo como possível. 5. A questão central diz respeito à distinção
entre dolo eventual e culpa consciente que, como se sabe, apresentam
34
aspecto comum: a previsão do resultado ilícito. No caso concreto, a
narração contida na denúncia dá conta de que o paciente e o co-réu
conduziam seus respectivos veículos, realizando aquilo que
coloquialmente se denominou "pega" ou "racha", em alta velocidade,
em plena rodovia, atingindo um terceiro veículo (onde estavam as
vítimas). 6. Para configuração do dolo eventual não é necessário o
consentimento explícito do agente, nem sua consciência reflexiva em
relação às circunstâncias do evento. Faz-se imprescindível que o dolo
eventual se extraia das circunstâncias do evento, e não da mente do
autor, eis que não se exige uma declaração expressa do agente. 7. O dolo
eventual não poderia ser descartado ou julgado inadmissível na fase do
iudicium accusationis. Não houve julgamento contrário à orientação contida
na Súmula 07, do STJ, eis que apenas se procedeu à revaloração dos
elementos admitidos pelo acórdão da Corte local, tratando-se de quaestio
juris, e não de quaestio facti. 8. Habeas corpus denegado. – destaquei - (STF -
HC: 91159 MG , Relator: ELLEN GRACIE, Data de Julgamento:
02/09/2008, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-202 DIVULG 23-10-
2008 PUBLIC 24-10-2008 EMENT VOL-02338-02 PP-00281)

EMENTA RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. DOLO EVENTUAL.
CULPA CONSCIENTE. PRONÚNCIA. TRIBUNAL DO JÚRI. 1.
Admissível, em crimes de homicídio na direção de veículo automotor, o
reconhecimento do dolo eventual, a depender das circunstâncias
concretas da conduta. Precedentes. 2. Mesmo em crimes de trânsito, definir
se os fatos, as provas e as circunstâncias do caso autorizam a condenação do
paciente por homicídio doloso ou se, em realidade, trata-se de hipótese de
homicídio culposo ou mesmo de inocorrência de crime é questão que cabe ao
Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. 3. Não cabe na pronúncia analisar
e valorar profundamente as provas, pena inclusive de influenciar de forma
indevida os jurados, de todo suficiente a indicação, fundamentada, da
existência de provas da materialidade e autoria de crime de competência do
Tribunal do Júri. 4. Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega
provimento. – destaquei - (STF - RHC: 116950 ES , Relator: Min. ROSA
WEBER, Data de Julgamento: 03/12/2013, Primeira Turma, Data de
Publicação: DJe-031 DIVULG 13-02-2014 PUBLIC 14-02-2014)

35
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão
para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de
dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Trata-se de norma penal em branco, haja vista que para a perfeita compreensão
das elementares do tipo necessita de outro dispositivo legal, que no caso estão previstas
no próprio Código de Trânsito Brasileiro no capítulo XIV que trata da habilitação (arts.
140 a 160).
Importante frisar que o crime não se configura com a mera condução de veículo
automotor, em via pública, sem a permissão ou habilitação, pois necessário que a
condução gere perigo de dano por se tratar de crime de perigo concreto.

HABEAS CORPUS. DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR SEM


HABILITAÇÃO. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PERIGO CONCRETO.
INEXISTÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA. 1. O trancamento da ação penal
por ausência de justa causa, medida de exceção que é, somente pode ter
lugar, quando o motivo legal invocado mostrar-se na luz da evidência,
primus ictus oculi. 2. Tratando a denúncia de fato penalmente atípico, à falta
de perigo de dano a pessoa, resultado de que depende a caracterização do
delito tipificado no artigo 309 da Lei nº 9.503/97, mostra-se de rigor o
trancamento da ação penal. 3. Ordem concedida. (STJ HC 28500 SP
2003/0083354-2, Relator: Ministro HAMILTON CARVALHIDO, Data de
Julgamento: 30/05/2006, T6 - SEXTA TURMA)

Renato Marcão (2015, p.228) ainda traz a questão do exame médico vencido, se
configuraria o crime em tela ou não, respondendo negativamente e fundamentando com
o seguinte julgado:

“Se o bem jurídico tutelado pela norma é a incolumidade pública, para que
exista o crime é necessário que o condutor do veículo não possua Permissão
para Dirigir ou Habilitação, o que não inclui o condutor que, embora
habilitado, esteja com a Carteira de Habilitação vencida. Não se pode
equiparar a situação do condutor que deixou de renovar o exame médico com

36
a daquele que sequer prestou exames para obter a habilitação.” (STJ, REsp
1.188.333/SC, 5ª T., rel. Min. Gilson Dipp, j.16-12-2010, DJ de 1-2-2011)

Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa


não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda,
a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em
condições de conduzi-lo com segurança:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

O crime tratado no presente artigo é de perigo abstrato sendo desnecessária a


demonstração da periculosidade lesiva da conduta. Nesse sentido:

O delito previsto no art. 310 do Código de Trânsito Brasileiro é de perigo


abstrato, sendo desnecessária, para o regular prosseguimento da ação penal,
a demonstração da potencialidade lesiva da conduta do agente. Precedentes.
(STJ, RHC 41.450/MG, 5ªT., rel. Ministra Regina Helena Costa, j.25-3-2014,
DJe de 31-3-2014)

Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas


proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de
passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração
de pessoas, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Trata-se de crime de perigo concreto, pois o dispositivo legal traz como


elementar a necessidade de demonstração do perigo de dano gerado.
A respeito deste artigo, importante frisar que o termo velocidade incompatível
não deve ser confundido com velocidade excessiva necessariamente, pois a velocidade
incompatível depende da análise dar circunstâncias do fato, podendo apresentar-se
incompatível porém não excessiva para a via transitável.

“Velocidade ‘inadequada’ ou ‘incompatível’ com o local e o momento não se


confunde obrigatoriamente com velocidade ‘excessiva’, ‘elevada’,
‘exagerada’, ‘exorbitante’, vez que a inadequação entre velocidade e
circunstâncias é dado eminentemente relativo, indicado pelas particularidades

37
de cada acontecimento e revelado pela impossibilidade de satisfatório
domínio da máquina, diante de previsíveis vicissitudes do trânsito”
(TACrimSP, Ap. 1.310.665/0, 7ªCâm., re. Juiz Corrêa de Moraes, j.12-9-
2002, RJTACrim 62/37)

Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com


vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial
ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o
agente policial, o perito, ou juiz:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados,
quando da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais
se refere.

Este tipo penal objetiva tutelar a Administração da Justiça, tendo como objeto
material do delito a inovação artificiosa que pode recair sobre lugar, coisa ou pessoa.
Importante elementar do tipo a ser observada, é que o acidente automobilístico
envolva vítima, caso contrário não se enquadra neste crime.

38
BIBLIOGRAFIA

FRANZ, Cristiane Maria; SEBERINO, José Roberto Vieira. A história do trânsito e


sua evolução. 2012. 24 f. Monografia (Pós-Graduação Latu Sensu, em Gestão,
Educação e Direito de Trânsito), Joinville, 2012, p. 13 et. Seq.

HONORATO, Cássio Mattos. Sanções do Código de Trânsito: Análise das


Penalidades e das Medidas Administrativas cominadas na Lei n. 9.503/97.
Campinas: Millenium, 2004.

MARCÃO, Renato. Crimes de Trânsito: anotações e interpretação jurisprudencial


da parte criminal da Lei n. 9.503, de 23-9-1997. 5. Ed., São Paulo: Saraiva, 2015.

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais comentadas. 8 ed., vol. 2, Rio
de Janeiro: Forense, 2014 - digital.

http://www.transitobr.com.br

39
ANEXOS

REDAÇÃO FINAL PROJETO DE LEI Nº 5.568-A DE 2013

Altera dispositivos da Lei nº 9.503, de 23 de


setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro,
para dispor sobre crimes cometidos na direção de
veículos automotores. O CONGRESSO
NACIONAL decreta:

Art. 1º Esta Lei altera a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -


Código de Trânsito Brasileiro, para dispor sobre crimes cometidos na direção de
veículos automotores.

Art. 2º O art. 291 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de


Trânsito Brasileiro, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 3º e 4º:
“Art. 291. .............................. ...................................................
§ 3º Nos casos previstos no § 2º do art. 302, no § 2º do art. 303 e nos §§ 1º e 2º do art.
308, aplica-se a substituição prevista no inciso I do art. 44 do Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 - Código Penal, quando aplicada pena privativa de liberdade
não superior a quatro anos, atendidas as demais condições previstas nos incisos II e
III.
§ 4º O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes previstas no art. 59 do Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, dando especial atenção à
culpabilidade do agente e às circunstâncias e consequências do crime.”(NR)

Art. 3º O § 2º do art. 302 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -


Código de Trânsito Brasileiro, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 302. .............................. ..................................................
§ 2º Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência: Penas - reclusão, de quatro a oito anos, e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”(NR)
40
Art. 4º O art. 303 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de
Trânsito Brasileiro, passa a vigorar acrescido do seguinte § 2º, renumerando-se o atual
parágrafo único para § 1º:
“Art. 303. .............................. § 1º ....................................
§ 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, sem
prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com
capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal
de natureza grave ou gravíssima.”(NR)

Art. 5º O caput do art. 308 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -


Código de Trânsito Brasileiro, passa a vigorar com a seguinte alteração:
“Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida,
disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de
perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente,
gerando situação de risco à incolumidade pública ou
privada: ..............................................”(NR)

Art. 6º Esta Lei entra em vigor após decorridos cento e vinte dias de sua
publicação oficial.

Sala das Sessões, em 23 de setembro de 2015.

41
RESOLUÇÃO Nº 432, DE 23 DE JANEIRO DE 2013.

Dispõe sobre os procedimentos a serem adotados


pelas autoridades de trânsito e seus agentes na
fiscalização do consumo de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependência,
para aplicação do disposto nos arts. 165, 276, 277 e
306 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 –
Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

O CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO, no uso das atribuições


que lhe confere o art. 12, inciso I, da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que
institui o Código de Trânsito Brasileiro, e nos termos do disposto no Decreto nº 4.711,
de 29 de maio de 2003, que trata da coordenação do Sistema Nacional de Trânsito.
CONSIDERANDO a nova redação dos art. 165, 276, 277 e 302, da Lei
nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, dada pela Lei nº 12.760, de 20 de dezembro de
2012;
CONSIDERANDO o estudo da Associação Brasileira de Medicina de
Tráfego, ABRAMET, acerca dos procedimentos médicos para fiscalização do consumo
de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência pelos
condutores; e
CONSIDERANDO o disposto nos processos nºs 80001.005410/2006-70,
80001.002634/2006-20 e 80000.000042/2013-11;
RESOLVE,
Art. 1º Definir os procedimentos a serem adotados pelas autoridades de
trânsito e seus agentes na fiscalização do consumo de álcool ou de outra substância
psicoativa que determine dependência, para aplicação do disposto nos arts. 165, 276,
277 e 306 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro
(CTB).
Art. 2º A fiscalização do consumo, pelos condutores de veículos
automotores, de bebidas alcoólicas e de outras substâncias psicoativas que determinem
dependência deve ser procedimento operacional rotineiro dos órgãos de trânsito.
Art. 3º A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão
da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência

42
dar-se-á por meio de, pelo menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados
no condutor de veículo automotor:
I – exame de sangue;
II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo
órgão ou entidade de trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de
consumo de outras substâncias psicoativas que determinem dependência;
III – teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar
alveolar (etilômetro);
IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade
psicomotora do condutor.
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser
utilizados prova testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em
direito admitido.
§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do
teste com etilômetro.
§ 3° Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade
psicomotora na forma do art. 5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste
de etilômetro e houver encaminhamento do condutor para a realização do exame de
sangue ou exame clínico, não será necessário aguardar o resultado desses exames para
fins de autuação administrativa.

DO TESTE DE ETILÔMETRO

Art. 4º O etilômetro deve atender aos seguintes requisitos:


I – ter seu modelo aprovado pelo INMETRO;
II – ser aprovado na verificação metrológica inicial, eventual, em serviço
e anual realizadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia –
INMETRO ou por órgão da Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade -
RBMLQ;
Parágrafo único. Do resultado do etilômetro (medição realizada) deverá
ser descontada margem de tolerância, que será o erro máximo admissível, conforme
legislação metrológica, de acordo com a “Tabela de Valores Referenciais para
Etilômetro” constante no Anexo I.
43
DOS SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA

Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão ser


verificados por:
I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou
II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais de
alteração da capacidade psicomotora nos termos do Anexo II.
§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo
agente da Autoridade de Trânsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas
um conjunto de sinais que comprovem a situação do condutor.
§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata o
inciso II deverão ser descritos no auto de infração ou em termo específico que contenha
as informações mínimas indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de
infração.

DA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA

Art. 6º A infração prevista no art. 165 do CTB será caracterizada por:


I – exame de sangue que apresente qualquer concentração de álcool por
litro de sangue;
II – teste de etilômetro com medição realizada igual ou superior a 0,05
miligrama de álcool por litro de ar alveolar expirado (0,05 mg/L), descontado o erro
máximo admissível nos termos da “Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro”
constante no Anexo I;
III – sinais de alteração da capacidade psicomotora obtidos na forma do
art. 5º.
Parágrafo único. Serão aplicadas as penalidades e medidas
administrativas previstas no art. 165 do CTB ao condutor que recusar a se submeter a
qualquer um dos procedimentos previstos no art. 3º, sem prejuízo da incidência do
crime previsto no art. 306 do CTB caso o condutor apresente os sinais de alteração da
capacidade psicomotora.

44
DO CRIME

Art. 7º O crime previsto no art. 306 do CTB será caracterizado por


qualquer um dos procedimentos abaixo:
I – exame de sangue que apresente resultado igual ou superior a 6 (seis)
decigramas de álcool por litro de sangue (6 dg/L);
II - teste de etilômetro com medição realizada igual ou superior a 0,34
miligrama de álcool por litro de ar alveolar expirado (0,34 mg/L), descontado o erro
máximo admissível nos termos da “Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro”
constante no Anexo I;
III – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo
órgão ou entidade de trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de
consumo de outras substâncias psicoativas que determinem dependência;
IV – sinais de alteração da capacidade psicomotora obtido na forma do
art. 5º.
§ 1º A ocorrência do crime de que trata o caput não elide a aplicação do
disposto no art. 165 do CTB.
§ 2º Configurado o crime de que trata este artigo, o condutor e
testemunhas, se houver, serão encaminhados à Polícia Judiciária, devendo ser
acompanhados dos elementos probatórios.

DO AUTO DE INFRAÇÃO

Art. 8º Além das exigências estabelecidas em regulamentação específica,


o auto de infração lavrado em decorrência da infração prevista no art. 165 do CTB
deverá conter:
I – no caso de encaminhamento do condutor para exame de sangue,
exame clínico ou exame em laboratório especializado, a referência a esse procedimento;
II – no caso do art. 5º, os sinais de alteração da capacidade psicomotora
de que trata o Anexo II ou a referência ao preenchimento do termo específico de que
trata o § 2º do art. 5º;

45
III – no caso de teste de etilômetro, a marca, modelo e nº de série do
aparelho, nº do teste, a medição realizada, o valor considerado e o limite regulamentado
em mg/L;
IV – conforme o caso, a identificação da (s) testemunha (s), se houve
fotos, vídeos ou outro meio de prova complementar, se houve recusa do condutor, entre
outras informações disponíveis.
§ 1º Os documentos gerados e o resultado dos exames de que trata o
inciso I deverão ser anexados ao auto de infração.
§ 2º No caso do teste de etilômetro, para preenchimento do campo “Valor
Considerado” do auto de infração, deve-se observar as margens de erro admissíveis, nos
termos da “Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro” constante no Anexo I.

DAS MEDIDAS ADMINISTRATIVAS

Art. 9° O veículo será retido até a apresentação de condutor habilitado,


que também será submetido à fiscalização.
Parágrafo único. Caso não se apresente condutor habilitado ou o agente
verifique que ele não está em condições de dirigir, o veículo será recolhido ao depósito
do órgão ou entidade responsável pela fiscalização, mediante recibo.
Art. 10. O documento de habilitação será recolhido pelo agente, mediante
recibo, e ficará sob custódia do órgão ou entidade de trânsito responsável pela autuação
até que o condutor comprove que não está com a capacidade psicomotora alterada, nos
termos desta Resolução.
§ 1º Caso o condutor não compareça ao órgão ou entidade de trânsito
responsável pela autuação no prazo de 5 (cinco) dias da data do cometimento da
infração, o documento será encaminhado ao órgão executivo de trânsito responsável
pelo seu registro, onde o condutor deverá buscar seu documento.
§ 2º A informação de que trata o § 1º deverá constar no recibo de
recolhimento do documento de habilitação.

DISPOSIÇÕES GERAIS

46
Art. 11. É obrigatória a realização do exame de alcoolemia para as
vítimas fatais de acidentes de trânsito.
Art. 12. Ficam convalidados os atos praticados na vigência da
Deliberação CONTRAN nº 133, de 21 de dezembro de 2012, com o reconhecimento da
margem de tolerância de que trata o art. 1º da Deliberação CONTRAN referida no
caput (0,10 mg/L) como limite regulamentar.
Art. 13. Ficam revogadas as Resoluções CONTRAN nº 109, de 21 de
Novembro de 1999, e nº 206, de 20 de outubro de 2006, e a Deliberação CONTRAN nº
133, de 21 de dezembro de 2012.
Art. 14. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Morvam Cotrim Duarte


Presidente em Exercício

Jerry Adriane Dias Rodrigues


Ministério da Justiça

Guiovaldo Nunes Laport Filho


Ministério da Defesa

Rone Evaldo Barbosa


Ministério dos Transportes

Luiz Otávio Maciel Miranda


Ministério da Saúde

José Antônio Silvério


Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

Paulo Cesar de Macedo


Ministério do Meio Ambiente

João Alencar Oliveira Júnior


Ministério das Cidades

47

Você também pode gostar