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ILMO (A) SR (A).

PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DEFESA DE AUTUAÇÃO DO


DEMUTRAN (OU AUTARQUIA EQUIVALENTE) - CIDADE/UF
Auto de Infração de nº ________
DEFESA PRÉVIA
NOME COMPLETO, brasileiro (a), estado civil, profissã o, residente e domiciliado na (nome
rua/avenida), nº _______, bairro _______, cidade ________, CEP: ________, fone (DDD) __________,
inscrito no CPF sob o nº _______________, RG sob o nº _______________ e CNH nº __________ (juntar
có pia – doc. 01), INCONFORMADO (A), data vênia, com a autuaçã o do veículo _____________,
placa __________, de sua propriedade (juntar có pia CRLV, doc. 02), materializada pelo o Auto
de Infraçã o de Trâ nsito (AIT) de nº __________ (juntar có pia - doc. 03), lavrado no dia ____/
_____ / _______, à s ________ hora, na Rua/Av. ________________________, altura do nº ______, bairro
________________, desta cidade, vem, respeitosamente, perante Vossa Senhoria, no prazo legal,
apresentar a vertente DEFESA:
I – DOS FATOS
1. O (A) requerente estacionou seu carro no local e data constantes da autuaçã o, à s ________
horas. Efetuou previamente o pagamento do ticket/cartã o de estacionamento Zona Azul
para _______ hora (s) (juntar có pia do ticket - doc. 04). Em seguida dirigiu-se até
_______________, para (tipo de atividade), achando que esse tempo seria suficiente (juntar
có pia comprovante - doc. 05).
2. Acontece que alguns imprevistos tornaram-no insuficiente, de forma que foi extrapolado
em ______ hora (s).
3. De volta ao seu veículo, deparou-se com a 2ª via do citado AIT no para-brisas de seu
carro, fazendo constar a infraçã o de “estacionamento em desacordo com a regulamentaçã o,
tipificada no art. 181, inciso XVII, do Có digo de Trâ nsito Brasileiro (doc. 03).
II – DO DIREITO
1. Desde o advento do Có digo Civil de 1917[1], os entes federados – Uniã o, Estados e
Municípios - estã o autorizados a exigir remuneraçã o pelo uso privado de bens pú blicos,
razã o pela qual aos municípios é permitido cobrar pelo estacionamento de veículos
automotores privados nas ruas das cidades previamente delimitadas, porque elas sã o bens
pú blicos municipais. Também nã o deixa de ser mais uma fonte de receita pú blica local.
2. Com o aumento substancial da quantidade de veículos automotores de propriedade
privada circulando pelas vias pú blicas das cidades, principalmente naquelas com mais de
50 mil habitantes, encontrar vagas para estacioná -los tornou-se um problema sério para
seus proprietá rios, principalmente para aqueles que chegam mais tarde e precisam
estacionar por pouco tempo nas proximidades dos centros comerciais. Vã o ter dificuldade
para encontrar vagas, porque os que chegaram mais cedo e nã o precisam sair logo, a
exemplo dos lojistas que nã o dispõ e de estacionamento pró prio, vã o mantê-las ocupadas.
3. Para administrar esse problema, os municípios têm criado estacionamentos rotativos,
também chamados de zona azul. Sua base legal está art. 24 do Có digo de Trâ nsito
Brasileiro, in verbis:
Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de
sua circunscrição:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas
atribuições;
II - planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais,
e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas;
III - implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de
controle viário;
IV - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre os acidentes de trânsito e suas causas;
V - estabelecer, em conjunto com os órgãos de polícia ostensiva de trânsito, as diretrizes para
o policiamento ostensivo de trânsito;
VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis,
por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício
regular do Poder de Polícia de Trânsito;
VI - executar a fiscalização de trânsito em vias terrestres, edificações de uso público e
edificações privadas de uso coletivo, autuar e aplicar as medidas administrativas
cabíveis e as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de
circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício regular do poder
de polícia de trânsito, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar,
exercendo iguais atribuições no âmbito de edificações privadas de uso coletivo, somente para
infrações de uso de vagas reservadas em estacionamentos; (Redação dada pela Lei nº 13.281,
de 2016) (Vigência)
VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação,
estacionamento e parada previstas neste Código, notificando os infratores e arrecadando as
multas que aplicar;
VIII - fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis relativas
a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e
arrecadar as multas que aplicar;
IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as penalidades e
arrecadando as multas nele previstas;
X - implantar, manter e operar sistema de estacionamento rotativo pago nas vias;
XI - arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos e objetos, e escolta de
veículos de cargas superdimensionadas ou perigosas;
XII - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar medidas de segurança relativas aos
serviços de remoção de veículos, escolta e transporte de carga indivisível;
XIII - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de
arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à
unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de veículos e de
prontuários dos condutores de uma para outra unidade da Federação;
XIV - implantar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de
Trânsito;
XV - promover e participar de projetos e programas de educação e segurança de trânsito de
acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN;
XVI - planejar e implantar medidas para redução da circulação de veículos e reorientação do
tráfego, com o objetivo de diminuir a emissão global de poluentes;
XVII - registrar e licenciar, na forma da legislação, ciclomotores, veículos de tração e
propulsão humana e de tração animal, fiscalizando, autuando, aplicando penalidades e
arrecadando multas decorrentes de infrações;
XVII - registrar e licenciar, na forma da legislação, veículos de tração e propulsão humana e
de tração animal, fiscalizando, autuando, aplicando penalidades e arrecadando multas
decorrentes de infrações; (Redação dada pela Lei nº 13.154, de 2015)
XVIII - conceder autorização para conduzir veículos de propulsão humana e de tração
animal;
XIX - articular-se com os demais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito no Estado, sob
coordenação do respectivo CETRAN;
XX - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos automotores
ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações
específicas de órgão ambiental local, quando solicitado;
XXI - vistoriar veículos que necessitem de autorização especial para transitar e estabelecer os
requisitos técnicos a serem observados para a circulação desses veículos.
§ 1º As competências relativas a órgão ou entidade municipal serão exercidas no Distrito
Federal por seu órgão ou entidade executivos de trânsito.
§ 2º Para exercer as competências estabelecidas neste artigo, os Municípios deverão integrar-
se ao Sistema Nacional de Trânsito, conforme previsto no art. 333 deste Código. (Grifei)
4. Com base nessa norma, este município editou Lei Municipal criando o DEMUTRAN (ou
autarquia municipal, se for o caso) e dando outras providências. Dentre as atribuiçõ es
deste ó rgã o, está a de cumprir e fazer cumprir a legislação e normas de trânsito, de acordo
com o Código de Trânsito no âmbito das respectivas atribuições.
5. No caso, a infraçã o atribuída ao (à ) requerente foi aquela tipificado no art. 181, XIII, do
Có digo de Trâ nsito Brasileiro (CTB), in verbis:
Art. 181. Estacionar o veículo:
(...)
XVII - em desacordo com as condições regulamentadas especificamente pela sinalização
(placa - Estacionamento Regulamentado): (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Infração - grave; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Penalidade - multa;
Medida administrativa - remoção do veículo;
7. Assim sendo, a multa aplicada passou a ter natureza de infraçã o de trâ nsito, inclusive
com pontuaçã o na CNH, definida em lei municipal; o (a) autuado (a), infrator de trâ nsito.
8. Acontece que somente a Uniã o tem competência para legislar sobre trâ nsito
(competência privativa), nos termos do art. 22, XI, da Constituiçã o Federal. No má ximo
pode haver delegaçã o para os Estados, mediante Lei complementar (pará grafo ú nico),
jamais para os Municípios, in verbis:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
XI - trânsito e transporte;
(...)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.
9. Portanto, a multa proveniente de estacionamento rotativo ou zona azul irregular nã o
pode ser considerada infraçã o de trâ nsito, porque a lei que a autoriza padece de
inconstitucionalidade. Esse é o entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal,
confirmado no seguinte julgado:
É pacífico nesta Corte o entendimento de que o trânsito é matéria cuja competência
legislativa é atribuída, privativamente, à União, conforme reza o art. 22, XI, da CF.
Precedentes: ADI 2.064, Rel. Maurício Correia e ADI 2.37-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence. A
instituição da forma parcelada de pagamento da multa aplicada pela prática de infração de
trânsito integra o conjunto de temas enfeixados pelo art. 22, XI, da CF. Precedentes: ADI 2.432
(medida cautelar, Rel. Min. Nelson Jobim, Dj de 21-9-01; Mérito, Rel. Min. Eros Graus,
julgamento em 9—3-05. Informativo 379) e ADI 3.196, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 22-4-
05[2].
10. Nada impede que os Municípios editem lei que institua e autorize aplicaçã o e cobrança
de multa pelo estacionamento em zona azul “em desacordo com as condiçõ es
regulamentadas especificamente pela sinalizaçã o”. No entanto, essa penalidade terá
natureza puramente administrativa. Logo, ela deve ser regida pelos princípios do direito
administrativo, e nã o pelo Có digo de Trâ nsito.
11. Em sendo as vias pú blicas bens de uso comum do povo, significa que elas devem estar à
disposiçã o de todos. Por isso, no momento em que uma pessoa estaciona seu carro na via
pú blica, está privando as demais de estacionarem naquele mesmo local, justificando a
cobrança da taxa pelo uso regular, ou da multa pelo uso irregular. Esse é o princípio bá sico
que justifica a cobrança[3].
12. Dessa forma, a multa em testilha é inconstitucional, e como tal, nula de pleno direito.
III. PEDIDO
Isto posto, é a presente para requerer a Vossa Senhoria que seja declarada nula a multa
lavrada através do Auto de Infraçã o de Trâ nsito de nº _________, datado do dia _____ / _____ /
_______, em face do veículo __________, placa ________, por estar em desconformidade com a
Constituiçã o Federal.
N. Termos,
P. Deferimento.
Cidade, _____ de _________ de 20_____.
_______________________________
Assinatura
[1] Art. 68. O uso comum dos bens pú blicos pode ser gratuito, ou retribuído, conforme as
leis da Uniã o, dos Estados, ou dos Municípios, a cuja administraçã o pertencerem. ” No atual
Có digo Civil (Lei 10.406/2002), essa autorizaçã o está no art. 103.
[2] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. A Constituiçã o e o Supremo. 2 ed. Brasília: Supremo
Tribunal Federal, 2009, p. 409.
[3] GRISA JÚ NIOR, Cesar Jackson. A inconstitucionalidade da aplicaçã o de multa de trâ nsito
a infrator de lei municipal que regulamenta estacionamento rotativo. Disponível em:
www.agu.gov.br/page/download/index/id/680284. Acesso em: 23.09.2018.

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