Você está na página 1de 14

OF/AMOBITEC N.

73/2023

São Paulo, 21 de novembro de 2023.

Ref.: Projeto de Lei n. 7944/23 – Estado do Amazonas

Ao
Excelentíssimo Deputado,

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (“AMOBITEC”), entidade


representante das empresas que prestam serviços tecnológicos relacionados à
mobilidade de pessoas ou bens, como aplicativos de delivery e intermediação de
viagens de transporte individual privado de mobilidade urbana, vem,
respeitosamente, à Vossa Excelência, EXPOR POSICIONAMENTO sobre o Projeto
de Lei 944/2023, em andamento nesta Casa, e PROPOR SUGESTÃO DE
ALTERAÇÃO. Ainda, colocar-se aberta ao diálogo com as autoridades para, juntos,
construir soluções que ofereçam cada vez mais segurança aos parceiros e usuários.

Aproveitamos o ensejo para renovar nossos protestos da mais alta estima e


consideração e desde já agradecemos a Vossa consideração.

Atenciosamente,

André Alencar Porto


Diretor-Executivo

A Sua Excelência o Senhor


Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas
Av. Mário Ypiranga Monteiro, 3950 – Parque 10 de Novembro, Manaus/AM
CEP: 69050-030
Prezado Senhor Deputado,

Em que pesem os louváveis propósitos apresentados por meio do Projeto de


Lei n. 944/23, que visa em última análise contribuir para uma melhor segurança dos
usuários passageiros, as medidas pretendidas pelo PL não se mostram adequadas
e tampouco juridicamente permitidas ao fim almejado, conforme passaremos a
demonstrar.

1. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O PL 944/23

Em suma, o PL determina que (i) as empresas devem notificar à autoridade


policial e ao Ministério Público toda denúncia relativa à crime contra a dignidade
sexual formalizada contra motoristas cadastrados nas plataformas, sendo que, para
tanto, devem ser observadas as definições de crime contra a dignidade sexual
previstas no Código Penal; (ii) as notificações devem ter natureza sigilosa; conter,
no mínimo, os dados de identificação do motorista, a exposição do fato e
circunstâncias que resultaram na denúncia; e devem ser enviadas em até 48 horas
do recebimento da denúncia; (iii) antes de autorizar a adesão de motoristas, as
empresas devem proceder junto ao órgão de segurança pública estadual à consulta
quanto ao registro de denúncias por crimes contra a dignidade sexual em face do
motorista. Por fim, o PL determina que, em caso de descumprimento, poderá ser
aplicada penalidade de advertência e multa de até R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

Muito embora a iniciativa do PL seja louvável - pelo que a Amobitec parabeniza


a Assembleia Legislativa do Amazonas - há de se considerar todos os aspectos
jurídicos e operacionais da proposta, que podem torná-la ineficiente e até
contraproducente, como será melhor explorado na presente Nota Técnica.

2. DO VÍCIO FORMAL

Em primeiro lugar, cumpre ressaltar que o Projeto de Lei possui um vício de


inconstitucionalidade formal evidente, dado que não é competência do Estado
legislar sobre a atividade do serviço de transporte remunerado privado individual de
passageiros e o PL versa tão e somente sobre eventuais casos de assédio
ocorridos durante a prestação do serviço de transporte remunerado privado
individual de passageiros.

Nesse sentido, de acordo com a Constituição Federal de 1988, legislar sobre


trânsito e transporte, direito civil e processual são competências exclusivas da
União:
“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,


marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; [...]

IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; [...]

XI - trânsito e transporte;” (grifamos)"

Em complemento à determinação constitucional, a Lei nº 12.587/12, também


conhecida como Política Nacional de Mobilidade Urbana ("PNMU"), determina em
seu art. 11-A que compete exclusivamente aos Municípios e ao Distrito Federal
regulamentar e fiscalizar o serviço de transporte remunerado privado individual de
passageiros.

"Art. 11-A. Compete exclusivamente aos Municípios e ao Distrito


Federal regulamentar e fiscalizar o serviço de transporte remunerado
privado individual de passageiros previsto no inciso X do art. 4º desta
Lei no âmbito dos seus territórios."

Em consonância ao determinado pela PNMU, o Supremo Tribunal Federal


detalhou, quando do julgamento do RE 1.054.110 e da ADPF 449, que no exercício
de sua competência para a regulamentação e fiscalização do transporte privado
individual de passageiros, os municípios e o Distrito Federal não podem contrariar
os parâmetros fixados pelo legislador federal. Assim, os municípios só podem
legislar sobre os pontos já estabelecidos na PNMU, quais sejam, cobrança de
tributos, contratação de seguro, inscrição do motorista como contribuinte individual
do INSS, exigência de CNH, requisitos de idade veicular, manutenção da CRLV e
apresentação de certidão negativa de antecedentes criminais. Assim, não há
competência municipal - muito menos estadual - para legislar sobre obrigações às
empresas intermediadoras em casos de denúncias relacionadas à crimes contra a
dignidade sexual.

3. SOBRE AS ATIVIDADES DESEMPENHADAS PELAS EMPRESAS

Como já mencionado, embora a proposta do PL seja nobre, há uma série de


aspectos que devem ser considerados em proposições sobre temas tão sensíveis,
como a segurança de passageiros e motoristas e eventuais casos de crimes contra
a dignidade sexual. Considerando que o PL versa exclusivamente sobre crimes
contra a dignidade sexual que possam ter ocorrido durante a prestação do serviço
de transporte remunerado privado individual de passageiros (uma vez que está
considerando a denúncia à motoristas cadastrados na plataforma e as plataformas
só poderiam ter ciência dessas denúncias caso os crimes tivessem ocorrido durante
a prestação do serviço), é importante esclarecer pontos sobre o funcionamento da
atividade e o papel desempenhado pelas empresas intermediadoras do serviço.

O transporte privado individual de passageiros é uma atividade econômica,


que deve ser desempenhada pela iniciativa privada, o que é corroborado tanto
pelo artigo 173 da Constituição Federal1, como pela própria PNMU, já mencionada,
que define o serviço como uma atividade privada, de acordo com a própria
nomenclatura que define o serviço (transporte remunerado privado individual de
passageiros).

Sendo esta uma atividade privada, devem prevalecer sobre ela os princípios
da livre iniciativa e da livre concorrência, resguardados pelo artigo 170 da
Constituição Federal, de modo que qualquer interferência do Poder Público não
deve, sob nenhuma hipótese, ferir a liberdade de negócio da empresa ou o seu
caráter essencialmente privado.

As empresas que realizam a intermediação do serviço são empresas de


tecnologia. O papel delas consiste justamente no desenvolvimento e
disponibilização da tecnologia que permite a conexão entre as duas pontas do
serviço - motoristas parceiros e usuários finais.

No bojo da atividade privada que desempenham, as empresas podem


estabelecer códigos de conduta para o serviço que intermedeiam. A Uber, por
exemplo, deixa claro em seu Código de Comunidade Uber2 que não tolera qualquer
tipo de discriminação, agressão ou má conduta sexual, bem como a 99, que declara
em seu Guia da Comunidade3 que “Não compactua com assédio moral e sexual e
discriminação. A nossa comunidade igualmente não tolera qualquer forma de
violência física, agressões verbais e intimidações”. Nesses casos, novamente no
âmbito da relação privada que possuem com os motoristas parceiros e usuários, as
empresas podem desativar tanto motoristas parceiros, quanto usuários, a fim de
estabelecer mais segurança para o desenvolvimento da plataforma.

O que as empresas não podem fazer - não só pela restrição da relação


contratual privada que mantém com os motoristas, mas pelo caráter privado da
1
De acordo com o art. 173 da Constituição Federal a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida
quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo. Assim, cabe à iniciativa privada
explorar as atividades que não sejam de atuação direta do Estado.
2
Disponível em
https://www.uber.com/br/pt-br/deliver/basics/tips-for-success/uber-community-guidelines/#:~:text=O%
20C%C3%B3digo%20da%20Comunidade%20Uber,todos%20e%20sigam%20a%20lei.
3
Disponível em https://99app.com/guiadacomunidade99/
atividade em si - é realizar qualquer tipo de ingerência indevida sobre motoristas
parceiros ou usuários ou, muito menos (e o que seria ainda mais grave) realizar
qualquer tipo de julgamento sobre o que ocorre durante a prestação do serviço.
Infelizmente, é o que o PL parece pressupor.

Ao determinar que as empresas devem notificar autoridades policiais e o


Ministério Público em casos de denúncia, o PL pressupõe que caberá à empresa
realizar o julgamento e a definição sobre se o caso relatado constitui ou não um
crime contra a dignidade sexual. Esse cenário é gravíssimo - não só por
desconsiderar a vontade da eventual vítima, o que será melhor explorado abaixo -
mas por conceder à iniciativa privada a prerrogativa de definir o que é crime contra a
dignidade sexual, algo que cabe somente ao poder judiciário. Na prática, determinar
que as empresas encaminhem eventuais denúncias pode gerar o efeito contrário ao
desejado pelo texto, causando ainda maior insegurança tanto para motoristas, como
para usuários - e citamos as duas pontas porque, embora o PL desconsidere
completamente a possibilidade de assédio contra motoristas, esta é também uma
possibilidade, não só pela existência de motoristas mulheres, mas porque assédios,
infelizmente, podem ocorrer contra qualquer pessoa, sem distinção.

Confiar às empresas a definição do que é crime contra a dignidade sexual


cria uma situação extremamente delicada, concedendo à iniciativa privada uma
prerrogativa que não lhe cabe. Vale destacar que esse tipo de crime demanda
extrema sensibilidade, uma vez que trata, como o próprio nome diz, da dignidade da
pessoa humana. A iniciativa privada não possui capacidade, competência ou
discernimento para ser responsável pela definição do que é crime contra a
dignidade sexual e ser responsável por uma denúncia ou notificação que não é de
sua esfera. Esta prerrogativa não lhe cabe.

Considerando que a justificativa do PL menciona casos de estupro nos


"contextos das plataformas", é válido ainda ressaltar que de acordo com pesquisa
realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública4, somente em 2022, mais de
18 milhões de mulheres sofreram alguma forma de violência. A mesma pesquisa
demonstra que o assédio pode ocorrer em qualquer lugar ou situação - das
entrevistadas, cerca de 54% relataram que o episódio mais grave de agressão do
último ano aconteceu dentro de casa, cerca de 17% citaram a rua, cerca de 5%
citaram o ambiente de trabalho e cerca de 4% bares ou baladas.

4
Disponível em
https://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/visivel-e-invisivel-a-vitimizacao-de-mulheres-no-bras
il-4a-edicao/. Acesso em 25 ago 2023
Isso demonstra que tanto nas viagens intermediadas pelas empresas, como
no local de partida ou de destino dessas viagens, podem ocorrer situações de
assédio - assim como podem ocorrer em qualquer outro modal de transporte, local
ou circunstância - o que só evidencia o fato de que transferir a responsabilidade de
"julgamento" para as empresas e a obrigatoriedade de reporte às autoridades
policiais pode representar um equívoco. E disto decorre também a assimetria
regulatória prevista pelo PL. Determinar que somente as empresas intermediadoras
do transporte remunerado privado individual de passageiros realizem as notificações
cria uma obrigação extra a essas empresas (e novamente, desarrazoada) que não é
criada para empresas de outros modais de transporte, como táxis e ônibus. Como é
de conhecimento geral e também foi demonstrado pela pesquisa, os assédios em
transportes privados representam uma parcela pequena dos possíveis assédios no
país, demonstrando a desarrazoabilidade da proposta e a consequente
desproporcionalidade do PL para com outros meios de transporte.

Quanto ao aspecto jurídico, nos termos da Lei nº 11.340/06, também


conhecida como Lei Maria da Penha, a política pública que visa coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado
de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de
ações não-governamentais. Novamente, evidenciando que a iniciativa privada não
deve ter qualquer atribuição neste contexto.

A regulamentação evidencia o fato de que a proteção da mulher e a luta


contra a violência passam por obrigações estatais. Qualquer transferência desta
responsabilidade, seja para empresas, seja para autônomos, pode representar um
risco relevante, pois nem todos têm o discernimento e treinamento necessários para
lidar com este tipo de situação.

É ainda necessário destacar que os crimes contra a dignidade sexual


envolvem, como o próprio nome diz, a dignidade da pessoa humana, um
fundamento da nossa Constituição Federal. Assim, é primordial que todas as ações
tomadas busquem, em primeiro lugar, não retirar ainda mais a dignidade de
eventuais vítimas, respeitando sua vontade. Nem sempre é vontade da vítima
realizar a denúncia ou ter sua intimidade exposta a quem quer que seja (e, mesmo
que a confidencialidade dos dados seja mantida, isto não garante que a vítima não
terá sua intimidade exposta - pois pode ser exposta, por exemplo, às autoridades
policiais e ao Ministério Público). Ainda, o direito à não exposição de seu passado é
assegurado ao próprio condenado pelo crime sexual, por meio do instituto da
reabilitação que apaga dos registros processuais públicos a condenação - qual o
sentido de não manter este direito à vítima?5 Se nem mesmo o Estado pode violar
esta determinação de vontade da vítima, muito menos pode a iniciativa privada
fazê-lo.

Assim, a proposta do PL é contrária às determinações legais sobre a


segurança da mulher e de vulneráveis (transferindo a responsabilidade Estatal para
particulares) e representa um risco para mulheres e motoristas parceiros na prática.

4. DA CONSULTA AOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA ANTES DE


"ADESÃO" DE MOTORISTAS

O artigo 3º parágrafo único do PL determina que as empresas devem, antes


de realizar a adesão dos motoristas, proceder junto ao órgão de segurança pública
estadual, à consulta quanto ao registro de denúncias por crimes contra a dignidade
sexual em face do motorista. Embora o próprio texto do PL não dê mais detalhes
sobre o tema, a justificativa do Projeto menciona que a consulta permitirá
sensibilização da opinião pública, funcionando como um fator dissuasório e
elemento inibidor para potenciais infratores.

Considerando essas disposições, é fundamental esclarecer que esta


verificação já acontece. A Uber checa os antecedentes criminais de todos os seus
motoristas parceiros, o que inclui a verificação de crimes contra a dignidade sexual.
Caso o motorista tenha cometido quaisquer dos crimes checados na verificação,
seu cadastro não é autorizado. Essas informações podem ser facilmente
verificadas inclusive no sítio eletrônico da empresa6 e são de conhecimento geral.
Assim, ao contrário do que pressupõe a justificativa do PL, não basta ter um carro
próprio ou comprovado aluguel para ser habilitado - há uma série de requisitos que
são checados pelas empresas, em consonância com os outros diversos aspectos de
segurança por elas implementados e já mencionados no item 3.

5. DAS AÇÕES TOMADAS PELAS EMPRESAS

Como demonstrado, a proteção aos vulneráveis e o apoio às vítimas de


violência são prerrogativas estatais, que não podem ser transferidas para
particulares, sob pena de prejuízo às próprias vítimas. Porém, isso não exime as

5
Nesse sentido e mais detalhes disponíveis no artigo publicado pelas delegadas de polícia Fernanda
Moretzsohn e Patricia Burin. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2022-mai-06/questao-genero-acao-penal-crimes-sexuais-autonomia-vitima
#:~:text=Na%20atual%20reda%C3%A7%C3%A3o%2C%20trazida%20pela,havendo%20elementos%
20suficientes%2C%20a%20den%C3%BAncia. Acesso em 19.10.23.
6
Disponível em: https://www.uber.com/pt-BR/newsroom/seguranca-como-prioridade/
empresas de tomarem atitudes - novamente, em sua seara privada e particular -
visando aumentar a segurança de mulheres usuárias e pessoas em eventual
situação de vulnerabilidade, sejam elas motoristas parceiras ou passageiras.

Dentre as associadas da Amobitec, a Uber, por exemplo, possui uma série de


iniciativas que visam garantir tanta segurança quanto possível na prestação do
serviço por ela intermediado. Dentre as iniciativas, destacam-se:

a) U-Check - verificação de parceiros: Antes de realizarem a primeira


viagem na Uber todos os motoristas passam por diferentes
modalidades de verificações que ajudam a confirmar a sua identidade,
como a checagem de apontamentos criminais e a verificação com dos
documentos de acordo com bases de dados oficiais do Governo
Federal;

b) U-Elas - ferramenta que permite que motoristas parceiras mulheres e


pessoas não binárias que dirigem com a Uber possam escolher viajar
apenas com usuárias mulheres;

c) Fomento à presença de mais mulheres como motoristas parceiras,


aumentando os incentivos de ganhos e fornecendo bônus para
indicações de motoristas parceiras mulheres em situações pontuais e
específicas;

d) Campanhas e comunicações educativas contra o assédio e


discriminação;

e) Compromisso com o combate à violência contra a mulher: a Uber


apoia uma série de iniciativas no combate à violência contra a mulher.
Em 2023, patrocinou o 17º Encontro Anual do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, com mesas de discussão sobre a violência de
gênero no Brasil; e apoiou a pesquisa “Visível e Invisível: a
Vitimização de Mulheres no Brasil”, com dados inéditos sobre
diferentes formas de violência sofridas pelas brasileiras.

f) U-Código - Código de verificação de viagens: ferramenta de


checagem via código, que consiste em uma senha que é mostrada no
aplicativo do usuário e precisa ser fornecida por ele ao motorista para
que este último possa iniciar a viagem no aplicativo – confirmando
assim que tanto um quanto o outro estão na viagem correta;
g) U-Filtro - Detecção de mensagens inapropriadas: mensagens
enviadas no bate-papo do aplicativo que possam ser consideradas
ofensivas ou que ameacem a integridade de uma pessoa entram
automaticamente em um processo que pode levar à desativação
permanente da conta;

h) Registro de todas as viagens: Na Uber, todas as viagens são


registradas por GPS e o usuário pode ver sua rota e localização do
carro em tempo real durante todo o trajeto;

i) U-Acompanha - Compartilhamento de viagens: Tanto motoristas,


quanto usuários, podem compartilhar a viagem em tempo real com
quem desejarem. A ferramenta é acionada por meio da Central de
Segurança, identificada por um escudo sobre o mapa da viagem no
aplicativo. Além disso, os usuários também podem cadastrar Contatos
de Confiança para compartilhamento automático durante cada viagem;

j) Suporte Psicológico: Em parceria com o MeToo Brasil7, organização


dedicada ao acolhimento de sobreviventes de abuso sexual, temos um
canal de suporte psicológico8 para acolher vítimas de violência sexual
e condutas discriminatórias;

k) U-Help - Ligar para a Polícia: Usuários e motoristas podem ligar


diretamente do aplicativo para autoridades9 que operam pelo número
190 em caso de emergência ou situação de risco. O recurso pode ser
usado por meio da Central de Segurança, identificada por um escudo
sobre o mapa da viagem no app. Ao pressionar este botão, além de
efetuar a ligação, o usuário será informado de sua localização atual e
informações do veículo em viagem. No Estado do Amazonas,
inclusive, esse recurso está em fase de integração com o serviço 190
para que os operadores do serviço de emergência recebam
automaticamente a localização em tempo real e os dados da viagem
em que foi originada a chamada. A mesma integração também já foi
feita nos Estados do Maranhão e Rio de Janeiro, e está em curso no
Pará. A Uber mantém conversas com as autoridades competentes

7
https://www.metoobrasil.org.br/artigos/metoo-brasil-expande-canal-de-suporte-psicologico-com-a-uber-para-casos-como-racis
mo-e-lgbtifobia
8
https://www.metoobrasil.org.br/artigos/metoo-brasil-expande-canal-de-suporte-psicologico-com-a-uber-para-casos-como-racis
mo-e-lgbtifobia
9
https://www.uber.com/pt-BR/newsroom/uber-lanca-ferramenta-que-concentra-recursos-de-seguranca-para-usuarios/
para expansão do recurso para as demais unidades da Federação.

De forma similar, a 99 conta com 50 ferramentas que resguardam a


segurança de seus passageiros e motoristas parceiros, destacando-se:

a) 99 Mulher
i) Recurso que permite que as motoristas parceiras optem por
receber apenas chamadas de passageiras, permitindo que as
condutoras se sintam mais seguras, principalmente, durante a
noite.
ii) Atuação por meio de verificações, feitas por Inteligência
Artificial, exigindo o reconhecimento facial da motorista parceira,
comparando com as informações recebidas no cadastro e
fazendo uma checagem de documentos e dados antes de dar
acesso à funcionalidade. Caso um passageiro homem peça
uma corrida usando um ID feminino, a condutora tem a opção
de denunciar o usuário e recusar a corrida, sem punições.

b) Utilização de Inteligência Artificial:


i) IA Pítia: identifica passageiras mulheres em situação de maior
risco de assédio (viagens à noite, mais longas, bares e casas
noturnas, por exemplo) e envia a elas somente motoristas
mulheres ou os condutores mais bem avaliados.
ii) IA Atena: compartilha mensagens preventivas, de
conscientização e dicas de como agir ao profissional indicado
para atender ao chamado.
iii) IA Artemis: rastreia automaticamente denúncias de assédio
deixadas nos comentários ao fim das corridas. Em caso de
vários reportes de assédio através de comentários, o motorista
pode ser bloqueado

c) Reconhecimento Facial do Motorista


i) Tecnologia de reconhecimento facial em tempo real para
realizar checagens periódicas com todos os motoristas
parceiros antes deles se conectarem no aplicativo.

d) Avaliação de Conduta na Plataforma


i) A 99 acompanha frequentemente a avaliação de qualidade dos
condutores e promove as medidas cabíveis para cada situação,
que podem incluir o bloqueio do perfil do motorista parceiro em
caso de avaliações negativas ou comportamentos que violem
os Termos de Uso do aplicativo.

e) Câmeras de Segurança
i) A empresa disponibiliza aos motoristas, que assim desejarem,
câmeras embarcadas nos carros e conectadas à sua Central de
Segurança, uma equipe de profissionais especializados,
disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. As câmeras
possuem um botão de emergência para casos de necessidade.

Como é possível perceber, a última das iniciativas mencionadas pela Uber,


qual seja, botão de ligar para a polícia, é totalmente condizente tanto com as
prerrogativas constitucionais de defesa da mulher e de pessoas em situação de
vulnerabilidade, quanto com as atividades desempenhadas por cada ente nesta
atuação de defesa - ou seja, concedendo ao particular a prerrogativa de acionar o
Estado caso perceba ou vivencie alguma situação de risco. Este mesmo botão
pode ser utilizado em situações como as abarcadas pelo Projeto de Lei, o que não
só estaria em conformidade com as competências de cada ente, como seria mais
seguro para todos os envolvidos na plataforma.

6. SUGESTÃO DE EMENDA

PROJETO DE LEI Nº. 944/ 2023

OBRIGA as empresas intermediadoras de


prestadoras de transporte individual privado de
passageirosmobilidade urbana a notificar à
autoridade policial e ao Ministério Público
quando solicitado e necessário, toda denúncia
formalizada pelo passageiro contra motorista
cadastrado em sua plataforma, pela prática de
crime contra a dignidade sexual de
passageiros.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO AMAZONAS


DECRETA:

Art. 1º Ficam as empresas intermediadoras de prestadoras de transporte individual privado


de passageiros mobilidade urbana, que operam no estado do Amazonas, obrigadas a
notificar à autoridade policial e ao Ministério Público quando solicitado formalmente, toda
denúncia realizada formalizada contra motorista cadastrado em sua plataforma, pela prática
de crime contra a dignidade sexual de passageiros.

§ 1º. A solicitação formal da autoridade policial e do Ministério público deverá conter os


dados pessoais identificáveis do usuário e fundamentos legais cabíveis e a respectiva
referência do procedimento investigativo em questão.

§ 2º. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, entende-se por transporte individual privado de
passageiros mobilidade urbana aquele o serviço remunerado de transporte de passageiro
ou mercadoria, não aberto ao público, para a realização de viagens individualizadas ou
compartilhadas solicitadas exclusivamente por usuários previamente cadastrados em
aplicativos ou outras plataformas de comunicação em rede.

Art. 2º Para a caracterização dos crimes contra a dignidade sexual, deverão ser observadas
as definições estabelecidas no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal).

Art. 3º A notificação compulsória de que trata esta Lei:

I – tem natureza sigilosa;

II – conterá, no mínimo, os dados de identificação do motorista e a exposição do fato e


circunstâncias que resultaram na denúncia; e

III – será enviada em até quarenta e oito horas 5 (cinco) dias à autoridade policial e ao
Ministério Público após a solicitação formal, a contar da denúncia na plataforma, para as
providências cabíveis e para fins estatísticos; e

IV – Necessariamente observará a Lei n.° 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados) e


demais legislações cabíveis no que diz respeito ao compartilhamento de dados, entrega de
informação e documentos.

Parágrafo único. As empresas de que trata esta Lei, antes autorizar a adesão de motoristas
em suas plataformas, deverão proceder junto ao órgão de segurança pública estadual, à
consulta quanto ao registro de denúncias por crimes contra a dignidade sexual em face do
motorista.

Art. 4º Em caso de descumprimento do que preceitua esta Lei, incorrerão as empresas nas
seguintes penalidades:
I – advertência; e
II – multa de R$ 1.000 (mil) reais até R$ 15.000 (quinze mil) reais, graduada de acordo com
a gravidade da infração e a capacidade econômica do infrator.
§ 1º Os valores da multa descrita no inciso II do caput deste artigo serão dobrados em caso
de reincidência, entendendo-se como rei ncidência o cometimento da mesma infração em
período inferior a 2 (dois) anos.

§ 2º Os valores da multa prevista no inciso II do caput deste artigo serão destinados ao


Fundo Estadual do Consumidor – FUNDECON, instituído pela Lei nº 2.288 de 31 de junho
de 1994.

Art. 5º O Poder Executivo poderá regulamentar a presente Lei, para fins de assegurar a sua
devida execução.

Art. 6º Essa Lei entra em vigor no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados da data de
sua publicação

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta apresentada pela Exmo. Sra. Deputada Alessandra Campêlo é de


extrema valia, uma vez que procura assegurar a segurança aos que estejam em
situação de risco ao longo de corridas intermediadas por aplicativo.

No entanto, como restou demonstrado, certos pontos da proposta são


inaplicáveis, tanto por questões práticas e fáticas, que impedem que sejam
executados; quanto por questões jurídicas e constitucionais, que fazem com que os
dispositivos propostos violem princípios já consagrados no ordenamento jurídico
brasileiro.

Assim, a Amobitec gostaria de ressaltar os pontos já expostos na Nota,


solicitando a modificação da matéria. Além disso, considerando a relevância
exposta, a Associação coloca-se à disposição do Poder Público para uma discussão
construtiva sobre o tema, de modo a aprimorar e contribuir para o tema da
segurança, que é prioridade de suas associadas.

De qualquer forma, coloca-se à disposição da Assembleia Legislativa do


Amazonas para aprofundar o assunto, se necessário.

Com os elevados votos de estima e consideração,


André Alencar Porto | Diretor Executivo – Amobitec

diretoriaexecutiva@amobitec.org | 61 98105-0055

Você também pode gostar