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II— PRELIMINARMENTE

II. 1 - DA SUPERVENIENTE DETERMINAÇÃO DE SUSPENSÃO DO FEITO

A parte ré, em homenagem aos princípios da celeridade e economia


processual, se vale da presente manifestação, também, para requerer a suspensão do feito, em
virtude de recente decisão proferida pelo egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

Isso porque, analisando a inicial do presente processo, observa-se, sem


nenhuma dificuldade, que a causa de pedir apresentada pela parte autora, visando justificar seus
pedidos iniciais, está diretamente relacionada à qualidade da água do Rio Doce após o rompimento
da barragem de Fundão, ocorrido em 05/11/2015.

Desta forma, convém ressaltar que foi admitido o efeito suspensivo da


liminar, nos autos do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas de n° 1.0105.16.000562-
2/001 (numeração única 0124879-52.2017.8.13.0000), suscitado pela ora recorrente perante o
egrégio TJMG. A decisão da douta 2a Seção daquela colenda Corte, proferida pelo eminente
Desembargador Relator Amauri Pinto Ferreira (doc. em anexo) estabelece a "suspensão de todas
as Ações cominatórias e indenizatórias em decorrência do rompimento da barraqem de
Fundão que estejam em trâmite perante os Juizados Especiais inteqrantes do Tribunal de
Justiça de Minas Gerais e que questionem ou apresentem entre seus arqumentos a
diiv1da/insequrança acerca da qualidade da áqua fornecida pelo sistema público de
distribuição que não tenham sido julqadas ou g, Ia sentenciadas, estejam em fase recursal,
excepcionando aqueles em que a sentença tenha transitado em julgado, até ulterior decisão
A ser proferida no presente incidente, determinando a comunicação do presente decisum aos
Juizes que componham os Juizados Especiais e suas respectivas Turmas Recursais
inteqrantes do Tribunal de Justiça de Minas Gerais" (grifou-se). Por essa razão, impõe-se seja
determinada a imediata SUSPENSÃO do presente processo, sob pena de desrespeito a tal decisum.

Registre-se, inclusive, que o egrégio TJMG, através do ofício n°2.151/2017,


já procedeu, via malote digital, a comunicação da DIJESP - Diretoria de Suporte aos Juizados
Especiais, acerca da referida decisão liminar. Para tanto, confira-se:
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Posto isto, a parte ré, Samarco Mineração S.A., requer a Vossa Excelência,
também, seja determinada a imediata SUSPENSÃO do feito, até ulterior deliberação da 2 Seção
do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, nos autos do IRDR de n°
1.0105.16.000562-2/001 (numeração única O 124879-52.2017.8.13.0000).

II. 2 DA INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL PELA COMPLEXIDADE DA


-

PROVA DA NECESSIDADE DE PROVA PERICIAL


-

Antes de qualquer outra análise acerca da questão controvertida nestes


autos, necessário ressaltar que, diante das alegações da parte autora, o presente feito não poderá
ser devidamente instruído e julgado por este douto Juízo, face a patente incompetência deste digno
Juizado Especial em razão da complexidade da causa e da perícia que deve ser realizada para o
correte deslinde da questão.

Ora, de uma simples análise da inicial, percebe-se que a causa de pedir da


parte autora, ou seja, o fato que motivou que buscasse a prestação jurisdicional, está
consubstanciada na suposta falta de potabilidade da água do Rio Doce, fundamentando sua
alegação em Laudos e reportagens que demonstrariam, inclusive, a presença de metais pesados
que a tornariam imprópria para o consumo.

Nesse sentido, para que a parte ré possa ter acesso a todos os meios de
defesa existentes, é inequívoca a necessidade de realização de Perícia na água do Rio Doce, na
parte em que este passa pela cidade, posto que, somente através de tal meio de prova, será possível
verificar se ela está, de fato, imprópria para ser captada, tratada e disponibilizada para o consumo,
não só da parte autora, mas da população local.
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Afinal, independentemente do respeito que se tem dos órgãos que


produziram os Laudos mencionados pela parte autora, se tratam de provas unilaterais de altíssima
complexidade, que, ademais, contrariam inúmeros outros Laudos com conclusões em sentido
diametralmente oposto, vários deles portadores de fé-pública, pois produzidos por órgãos estatais.

Diante disso, além de desaconselhável, é legalmente vedada, a tramitação


do presente processo no âmbito do Juizado Especial termos do art. 30 c/c art. 51, II, ambos da Lei
n0 9.099/95.
Ora, in casu, a parte ré, Samarco S.A., necessita provar que, ao contrário
do alegado na inicial, a água do Rio Doce no local, não está imprópria para ser tratada e
disponibilizada para o consumo, prova essa complexa e incompatível com o procedimento previsto
pela Lei n° 9.099/95, diante da necessidade de demonstrar que não existe concentração de metais
pesados acima dos limites legalmente permitidos, o que só pode ser devidamente demonstrado
através de Perícia Química.

Nesse sentido, o Fórum Permanente dos Juizes Coordenadores dos


Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil-FCJP criou o Enunciado n° 54, que estabelece o
conceito da expressão 'menor complexidade' na fixação da competência:

"Enunciado 54 - A menor complexidade da causa, para a fixação da


competência, é aferida pelo objeto da prova e não em face do direito material."

Isso porque, como é do conhecimento de todos, o art. 20, da Lei 9.099/95,


estabelece uma forma de instrução dos processos conduzida pelos princípios da economia
processual, oralidade, informalidade e simplicidade, impondo limitações que tornam incompatível o
processamento da presente demanda neste Juízo, data venha.

O mestre Humberto Theodoro Júnior, sobre o tema, ensina que:

Se não for possível solucionar a lide à base de simples esclarecimentos de


técnico em audiência, a causa deverá ser considerada complexa. O feito será
encerrado no âmbito do Juizado Especial, sem julqamento de mérito, e as
partes serão remetidas à justiça comum. Isto porque os Juizados Especiais por
mandamento constitucional, são destinados apenas a compor as 'causas cíveis de
menor complexidade" (CF, art. 98. inc. 1)." (Curso de Direito Processual Civil -

volume III. São Paulo: Forense, 17 3 edição, p. 491, grifou-se)


.
.
Exatamente por isso que a presente demanda escapa da competência deste
digno Juizado Especial; por não ser "possível solucionar a lide à base de simples
esclarecimentos de técnico em audiência", diante da fundamental alegação da inicial, de que a
água do Rio Doce na cidade, está imprópria para o consumo, sem condições de potabilidade e
apresentando concentrações de metais pesados acima do legalmente permitido.

Tais alegações não são verdadeiras, data venha, e o processo deve estar
em ambiente no qual a prova complexa possa ser produzida por quaisquer das partes, pois, como
se verá mais adiante, o descabimento da inversão do ônus da prova, no presente caso, devolverá,
a parte autora, a obrigação processual de comprovar os fatos alegados na inicial, quanto as
condições e qualidade da água.

Da mesma forma, somente a prova pericial judicial, na qual se faça uma


análise química da água, coletada em variados pontos nos quais o rio corta a cidade, poderá
demostrar, com segurança, sua qualidade, potabilidade e a inexistência dos tais metais pesados em
limites superiores ao permitido na Portaria MS 2.914/2011, que regular a qualidade da água no
Brasil.

Como se vê, a própria inicial, a parte autora assume estar se baseando em


reportagens.

Ora, se é assim, e assim o é, o processo deve estar num ambiente no qual


seja possível averiguar a água e os elementos científicos que comprovem que a mesma atende
os padrões de potabilidade exigidos para o saudável consumo humano.

Por isso, não sendo permitida a produção da prova pericial complexa no


âmbito do Juizado Especial, que é a única verdadeiramente hábil a fornecer elementos
imprescindíveis à correta instrução do feito, estar-se-á eivando de nulidade todo o processo, por
violação aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, protegidos pelo art. 50,
LV, da CF/88.

Com base nestes motivos, então, a incompetência deste digno Juízo deve
ser reconhecida!
Sendo assim, diante da patente necessidade de realização de prova técnica
de grande complexidade no presente caso, requer, a Ré, com fundamento no art. 30, caput, da Lei
9.099/95 c/c artigo 98, 1, da CF, seja acolhida a preliminar de incompetência absoluta deste douto
Juizado Especial para o julgamento da presente demanda, julgando extinto o processo, sem
julgamento de mérito.
.
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11.3 - DO CASO DE INDEFERIMENTO DA INICIAL - DA INÉPCIA

Importante destacar que o NCPC, nos artigos 319, III e IV, e 330, 1, e
parágrafo 10, inciso 1, determina os requisitos essenciais da petição inicial, e da necessidade do seu
indeferimento, in verbis:

"Art. 319 A petição inicial indicará:


-

(...)
III o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
-

IV o pedido com as suas especificações;"


-

"Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:


- for inepta;
(...)
Parágrafo 11. Considera-se inepta a petição inicial quando:
- lhe faltar pedido ou causa de pedir;"

No presente caso, a causa de pedir foi exposta de forma genérica, omissa e


propositalmente incompleta, impedindo que a parte ré, ora contestante, enfrente determinadas
questões da maneira mais efetiva à sua defesa.

Na inicial, a parte autora, após passados meses do rompimento da barragem,


alega que o evento acarretou a suspensão da captação de água. E, por conseguinte, alega que o
dano moral teria ocorrido, especificamente, por conta da situação à qual foi submetida.

Logo, a inicial deveria ter revelado o período real e exato de tempo no qual a
parte autora ficou sem abastecimento de água, pois, além de ser sabido que entre a interrupção e
a normalização da distribuição de água em Governador Valadares/MG, decorreram somente 05
(cinco) dias, tem-se que a parte ré, ora contestante, tem o direito de poder aquilatar, por exemplo,
quanto tempo a caixa d'água da residência da parte autora, estando cheia, suportaria sem qualquer
abastecimento e se tal prazo é compatível com a suspensão e retorno do abastecimento de água
na cidade.
A inicial é confusa e incompleta, ficando a parte ré impossibilitada e tolhida
em seu direito de defesa, pois a parte autora, em aparente má-fé, e nenhuma observância ao dever
de cooperação, faz alegações genéricas que não permitem o rebate específico e fundamentado do
que foi alegado, desconsiderando a necessidade da peça de ingresso permitir a identificação dos
"fatos e os fundamentos jurídicos (isto é, a causa petendi) que nada mais significam, que a
descrição clara e precisa do acontecimento que foi a razão de ser da demanda e a
categorização jurídica desse mesmo acontecimento" (CALMON DE PASSOS, Comentários ao
CPC. 6 Ed.. Forense, vol. III, p. 201/202).

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.
Na espécie, a causa de pedir que se relaciona ao período e alegadas
privações de água, e aos transtornos causados por esse fato, não foi clara, nem precisamente
exposta na inicial, mas, pelo contrário, o foi de forma incompleta e apenas genérica, sem as
especificidades que tornariam possível afastar as alegações deduzidas, caracterizando, então,
prejuízo ao exercício da ampla defesa, cuja única solução possível é o indeferimento, por sua
inépcia.

Sendo assim, em síntese, a inicial é inepta por deduzir causa de pedir


apenas genérica, sem permitir o conhecimento claro e preciso daquilo que poderia ser objeto de
impugnação pela defesa.

Esse entendimento há muito, está consolidado, desde os tempos do


saudoso Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, in verbis:

"INDEFERIMENTO DA EXORDIAL - AUSÊNCIA DE DOCUMENTO OBRIGATÓRIO -

INÉPCIA CONFIGURADA.
- Sendo a juntada do documento indispensável um dever processual do autor, se
desatendido tal mandamento, deve ser indeferida a inicial.
- Se a petição inicial não permite o conhecimento claro e preciso da causa de pedir e
não proporciona, por sua confusa narração dos fatos, uma lóqica conclusão daquilo
g!e pretende consequjr o autor, deve ela ser indeferida." (TAMG Apelação Cível
-

2.0000.00.385777-6/000, Relator(a): Des.(a) Beatriz Pinheiro Caíres, julgamento em


27/02/2003, publicação da súmula em 26/03/2003, grifou-se)

Desta feita, verifica-se ofensa ao principio constitucional da ampla defesa,


pois, da forma em que está, a inicial não traz elementos que permitem que a parte ré possa afastar
diversos fundamentos do pedido de dano moral.

Portanto, a Samarco Mineração S.A. requer, desde já, a extinção do


processo, sem resolução do mérito, nos termos do artigo 319. incisos III e IV, c/c o artigo 330, inciso
1, e parágrafo 10, inciso 1, do NCPC.

11.4 DA AUSÊNCIA DE DOCUMENTO INDISPENSÁVEL À PROPOSITURA E


-

PROSSEGUIMENTO DA PRESENTE AÇÃO DA ILEGITIMIDADE ATIVA DA AUTORA


-

O fornecimento de água tratada qualifica-se como serviço público


concedido pelo ente estatal à uma empresa, com quem o usuário estabelecerá relação jurídica
específica.
.
.
Logo, constata-se que a relação jurídica existente entre tais partes, na
espécie, decorre do abastecimento de água entre a concessionária de serviço público que a fornece
ao usuário.

Sendo assim, considerando o objeto da presente demanda, é forçoso


concluir que, para alguém pretender o recebimento de água mineral para seu uso pessoal, em
virtude de uma suposta má qualidade da água fornecida pela concessionária de serviço público, que
alegadamente impediria o consumo, no caso, o SAAE/GV, é necessário, antes de se adentrar na
análise da existência ou não de potabilidade da água, que a parte autora comprove ter relação
jurídica com o SAAE/GV, representada pelas contas de água de sua residência, contemporâneas a
todo o período dos fatos narrados à inicial, especialmente novembro de 2015.

Nesses termos, inclusive, brilhantemente decidiu o eminente Juiz do 10


Juizado Especial Cível da Comarca de Colatina/ES, Dr. Bruno Siqueira de Oliveira, ao julgar caso
semelhante, processo n° 0009735-60.2016.8.08.0014:

"...quando o que está em jogo, como sucede in casu, é


a alegação de que derivam danos morais da interrupção forçada de serviço
essencial contratado, a prova da existência do contrato entabulado entre a
parte autora - suposta vítima da interrupção dos serviços - e a Autarquia
Municipal Sanear, avulta como documento indispensável à propositura da
demanda, na linha do que dispõe o art. 320 do CPC. (...)
Nessa toada, afigura-se 'indispensável' - subsumindo-
se ao disposto no art. 320, CPC - todo e qualquer documento que, por se ligar
diretamente ao próprio objeto do processo, for capaz de demonstrar os fatos
essenciais da causa de pedir e, por sua ausência, induzir a que não tenham
ocorrido, sobretudo quando os demais meios de prova jurídica e moralmente
admitidos (máxime as chamadas 'provas orais') se revelarem inadequadas ou
frágeis, diante do contexto fático controvertido.
Precisamente nesse sentido, cito o magnífico
precedente do Colendo Superior Tribunal de Justiça, exarado no julgamento
do REsp n. 1.262.132/SP, de relatoria de Sua Excelência o Mm. Luis Felipe
Salomão, in verbis:

"DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR. JUNTADA DE


DOCUMENTOS EM GRAU DE APELAÇÃO. EXCEPCIONALIDADE.
DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA AÇÃO OU
FUNDAMENTAIS/SUBSTANCIAIS À DEFESA. NÃO CABIMENTO.
INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 283,396 E 397 DO CPC. DOCUMENTO
APÓCRIFO. FORÇA PROBANTE LIMITADA. ART. 368 DO CPC. AÇÃO
.
.
1

DE RESPONSABILIDADE POR FATO DO SERVIÇO E DO PRODUTO.


SERVIÇO DE BLOQUEIO E MONITORAMENTO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR, ROUBO. ACIONAMENTO DO SISTEMA DE BLOQUEIO.
MONITORAMENTO VIA SATÉLITE. ALCANCE DO SERVIÇO
CONTRATADO. CLÁUSULA CONTRATUAL. AMBIGUIDADE.
INTERPRETAÇÃO FAVORÁVEL AO ADERENTE/CONSUMIDOR. ART.
423 DO CÓDIGO CIVIL E ARTS. 60 , INCISO III, E 54, § 4°, DO CDC.
CLÁUSULAS CONTRATUAIS QUE DEVEM SER SEMANTICAMENTE
CLARAS AO INTÉRPRETE. CONSUMIDOR. HIPOSSUFICIÊCIA
INF OR MAC lO NA L.
1. Os documentos indispensáveis à propositura da ação (CPC, art.
283) ou os fundamentais/substanciais à defesa devem ser
apresentados juntamente com a petição inicial ou contestação (CPC,
art. 396), não se admitindo, nesse caso, a juntada tardia com a
interposição de recurso de apelação, não sendo o caso também de
documento novo ou destinado a fazer prova de fatos ocorridos depois
dos articulados (CPC. art. 397).
2. Indispensáveis à propositura da ação ou fundamentais/essenciais à
defesa são os documentos que dizem respeito às condições da ação
ou a pressupostos processuais, bem como os que se vinculam
diretamente ao próprio objeto da demanda, como é o caso do contrato
para as ações que visam discutir exatamente a existência ou extensão
da relação 'uridica estabelecida entre as partes.
E ... ]
(REsp 1.262.13215P, Rei. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 18/11/2015, DJE 03/02/2016)

Em demanda cuja causa petendi pressupõe a


existência, no domicilio da parte autora, de contratação de serviço de
fornecimento de água encanada - o qual, na linha do que afirma a inicial,
haveria sido interrompido em prejuízo do demandante durante parte do mês
de novembro de 2015— apenas a juntada da conta de áqua, em nome da parte
autora e referente ao mês de ocorrência dos fatos (novembro de 2015), é capaz
de fazer inicio de prova quanto ao aleqado prejuízo, não se revelando
adequadas ou suficientes para tal fim, quaisquer espécies de prova oral (em
especial testemunhas ou tomadas de depoimento pessoal), já que as provas
da preexistência da contratação e da utilização do serviço no fatidico mês.
basta a juntada da respectiva fatura, medida absolutamente segura do ponto
de vista probatório, mais simples, célere e económica que quaisquer outras
.
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j
C)

diligências e cuja ausência - por se ligar diretamente ao objeto da demanda


(para usarmos a judiciosa expressão de lavra de Sua Excelência o Mm. Luis
Felipe Salomão) inviabiliza a própria validade ou regularidade na constituição
do feito, afetando indelevelmente a legitimidade ativa ad causam e impondo,
por conseguinte (na hipótese de não vir a ser emendada tempestivamente a
peça de ingresso), a extinção do processo sem resolução de seu mérito.

Ausente nos autos referido elemento, incide na espécie


o disposto no art. 321 do CPC, impondo-se a intimação da parte autora para
que, no prazo de 15 (quinze) dias, complemente a peça de ingresso com a
juntada do documento de que depende sua admissão, sob pena de sobrevir a
solução terminativa já mencionada.

(...)

Passado o prazo, neste e em diversos outros feitos


(que, repito, se alinham entre os 20.000 subitamente ajuizados desde o
desastre ambiental), deparo-me com alegações as mais variadas, deduzidas
no intuito de justificar o descumprimento da ordem de juntada de início de
prova documental, indispensável à configuração de plausibilidade minima da
narrativa fática e, assim, formalidade inerente à própria propositura da ação.
Desde alegações da parte autora no sentido de que vive em união estável com
a pessoa em nome da qual a conta de água é emitida até - para minha
incredulidade - afirmações autorais dando conta de que não utiliza serviço da
Sanear, mas bombeia áqua diretamente do leito do Rio Doce (quando a causa
de pedir é justamente a interrupção do serviço de fornecimento!), nada,
absolutamente, comprovado por sequer um mínimo lastro documental".

Assim se a parte autora não comprovou sua condição de consumidora ou


usuária da água distribuída pelo SAAE/GV, não está minimamente provada sua legitimidade para
pleitear qualquer direito decorrente de eventual falha na prestação deste serviço.

Neste sentido, é o entendimento jurisprudencial, inclusive, do egrégio


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, senão confira-se:

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"APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - PARALISAÇÃO TEMPORÁRIA NO
ABASTECIMENO DE ÁGUA DANO MORAL TOMADOR DO SERVIÇO RELAÇÃO
- - -

JURÍDICA COM A FORNECEDORA DO SERVIÇO DE ÁGUA - ILEGITIMIDADE


ATIVA - DESÍDIA DA FORNECEDORA NÃO COMPROVADA- DANOS MORAIS -

AUSÊNCIA.
1. Sem a mínima prova da existência de alquma relação jurídica entre o requerente
e a fornecedora do serviço de áqua, inviável o pedido de indenização por dano
moral, tendo vista a ausência de ileqitimidade ativa e interesse processual da
parte autora. 2. Verificando-se que a fornecedora de serviço de água diligenciou para
reparar o defeito em sua adutora, bem como procedeu ao fornecimento de água pela
via paliativa de caminhões-pipa, resta descaracterizada a desídia alegada na inicial,
mormente quando a parte autora não produz qualquer prova dos danos morais."
(TJMG Apelação Cível 10024.13.028420-1/001, Relator(a): Des(a) Oliveira Firmo, 7
-

CÂMARA CÍVEL, julgamento em 30/08/2016, publicação da súmula em 06/09/2016,


grifou-se)
"AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - CADÁVER ENCONTRADO EM RESERVATÓRIO DE
ÁGUA QUE ABASTECE A CIDADE ILEGITIMIDADE ATIVA
- - COMPROVAÇÃO DA
QUALIDADE DE USUÁRIA DO SERVIÇO PRESTADO INOCORRÊNCIA "IN CASU.-

Constatando-se que a pessoa a quem se atribui a responsabilidade civil não é a mesma


que praticou os fatos narrados na exordial, ou seja, que inexiste correlação entre os
pólos da relação jurídica material e da processual, é o caso de reconhecer-se a
ilegitimidade passiva ad causam, extinguindo-se o processo, sem julgamento do
mérito." (TJMG Apelação Cível 1.0611.14.001295-0/001, Relator(a): Des.(a) Belizário
-

de Lacerda, 7a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/04/0016, publicação da súmula em


26/04/2016, grifou-se).
"AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - FALHA NO ABASTECIMENTO DE ÁGUA - AUSÊNCIA
DE PROVA DE QUE O AUTOR RESIDIA NO LOCAL DOS FATOS NARRADOS -

ILEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA - RECURSO PROVIDO PARA ACOLHER A


PRELIMINAR.
1. Ação de indenização por danos morais, decorrente da falha no abastecimento de
água ocorrida nos bairros Suely e Vida Nova, em Vespasiano/MG.
2. Fatura de âqua em nome de terceiro (seu qenitor). Ausência de prova de que o
autor residia em alqum dos locais noticiados na inicial.
3. Falece leqitimidade ativa ao postulante quando não é possível verificar a
existência de relação entre ele eo réu, tampouco a repercussão do evento narrado
em sua esfera iuridica.

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4. Recurso provido, para acolher a preliminar de ilegitimidade ad


causam." (TJMG Apelação Cível 1.0024.12.038233-8/001, Relator(a): Des.(a) Áurea
-

Brasil, 5a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/02/2014, publicação da súmula em


11/03/2014, grifou-se).

"PROCESSUAL CIVIL - RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DE


CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO - FORNECIMENTO DE ÁGUA
CONTAMINADA POR CADÁVER EM DECOMPOSIÇÃO - NECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DO DOMICILIO E RESIDÊNCIA DO AUTOR EMENDA DA INICIAL -

- INOCORRÊNCIA ILEGITIMIDADE ATIVA CONSTATADA.


-

Se a petição inicial não possui os requisitos dos artigos 282 e 283, do CPC, ou
apresenta defeitos e irregularidades que dificultem a resolução do mérito, o juiz deverá
determinar que o autor a emende ou a complete, no prazo de 10 dias, a teor do que
prevê o art. 284, sob pena de indeferimento da inicial (parágrafo único)."
(TJMG Apelação Cível 1.0611.14.002418-7/001, Relator(a): Des.(a) Renato Dresch,
-

4a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/10/2015, publicação da súmula em 28/10/2015,


grifou-se).
No presente caso, a situação é idêntica às dos precedentes acima, pois,
tanto neles, quanto aqui, a parte autora não comprovou sua relação jurídica com a empresa local
de fornecimento de água, durante todo o período reclamado na inicial, deixando de demonstrar,
assim, ter sido afetada pelo evento.

Dai se observa que a efetiva demonstração da existência concreta de


relação jurídica com a empresa fornecedora local, através das contas de água contemporâneas ao
fato alegado na inicial, é prova documental essencial à propositura e prosseguimento da ação, sem
a qual não se atesta a legitimidade ativa para o exercício da busca da prestação jurisdicional.

Logo, considerando a ausência de documento indispensável que comprove


a legitimidade da parte autora, em face do pretenso direito buscado no presente processo, impõe-
se que a petição inicial também seja indeferida, caso este não seja juntado aos autos, nos termos
do art. 321, do NCPC.

Neste sentido, são os ensinamentos do Professor Nelson Nery Jr.:

"O autor pode juntar à petição inicial documentos que entende sejam importantes
para demonstrar a existência dos fatos constitutivos de seu pedido (CPC 333 1).
Há documentos, entretanto, que são indispensáveis à propositura da ação, isto
é, sem os quais o pedido não pode ser apreciado pelo mérito." (in Código de
Processo Civil Comentado - 10a ed. revista, ampliada e atualizada. Revista dos
Tribunais. São Paulo, 2007. p. 552)

12
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1
Posto isto, requer a parte ré, ora contestante, a extinção do processo, sem
resolução do mérito, nos termos do artigo 319, inciso VI, c/c o artigo 330, inciso II, do NCPC.

11.5 DA AUSÉNCIA Dos REQUISTOS DA TUTELA ANTECIPADA


-

O artigo 300 do NCPC, dispõe sobre os requisitos autorizadores da tutela


provisória de urgência, sendo eles: (i) probabilidade do direito e (ii) perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo.

Na espécie, verifica-se que a parte autora pleiteou tutela antecipada para o


fornecimento de água mineral, bem como para que seja determinado o bloqueio de valores da conta
da ré, com o objetivo de garantir a eficácia das decisões judiciais.

Todavia, in casu, não estão presentes NENHUM dos requisitos ensejadores


do deferimento da tutela antecipada, conforme será demonstrado a seguir.

A tutela antecipada é medida de execução provisória dos efeitos do pedido


final da parte autora, que alega estar sendo impedida de gozar direito que o Magistrado, na análise
inicial, entende como provável de ser concedido, ao final.

Nestes termos, a medida aqui abordada tem caráter de exceção, devendo


ser concedida parcimoniosamente, data venia.

Nesse sentido são os ensinamentos do ilustre processualista Humberto


Theodoro Junior, in verbis:

"(...) A tutela antecipatória proporciona à parte medida


provisoriamente satisfativa do próprio direito material cuja realização
constitui objeto de tutela definitiva a ser provavelmente alcançada no
provimento jurisdicional de mérito." (in Humberto Theodoro Júnior, Curso de
Direito Processual Civil, v. II, 33'edição. Forense: Rio de Janeiro, 2002, p. 526)

Na presente espécie, com a devida venha, é impossível a antecipação dos


efeitos do pedido final, porquanto o deferimento liminar do fornecimento de água mineral potável e
do pedido de bloqueio de valores, antes do desenvolvimento do rito processual ordinário, implica
em abrupta e extemporânea intervenção do Judiciário na relação processual, que só pode ser
justificada por extrema urgência, ainda mais, se tal medida for deferida sem sequer ouvir a parte ré,
trazendo, a exordial, em seu bojo, uma verdade unilateralmente estabelecida pela parte autora, que,
como já explicitado, omitiu fatos centrais da lide.

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.
O brilhante professor Nelson Nery Júnior ensina que:

"Tendo em vista que a medida foi criada em benefício apenas do autor,


com a finalidade de agilizar a entrega da prestação jurisdicional, deve ser
concedida com parcimônia, de sorte a garantir a obediência ao princípio
constitucional da igualdade de tratamento das partes." (Nelson Nery Júnior,
Código de Processo Civil Comentado, 6a edição, Revista dos Tribunais: São Paulo,
2002).

O colendo Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento do Recurso


Representativo da controvérsia n° 1.110.549/RS, em 29/10/2009, relatado pelo eminente Ministro
Sidnei Beneti, pacificou entendimento no sentido de que, "efetivamente, o sistema processual
brasileiro vem buscando soluções para os processos que repetem a mesma lide, que se
caracteriza, em verdade, como uma macro-lide, pelos efeitos processuais multitudinários que
produz", justificando, assim, a suspensão das inúmeras ações individuais, até o julgamento da tese
principal, como forma de evitar decisões conflitantes, bem como a proliferação de diversas ações
discutindo a mesma matéria de fundo (macro-lide), o que viria em prejuízo de todos os
jurisdicionados, afetando, ainda, a viabilidade da atividade judiciária, que resta comprometida nas
situações em que há o ajuizamento de milhares de processos individuais, amparados na mesma
questão de fundo, que deu origem à ação coletiva.

E assim restou ementada tal decisão:

"RECURSO REPETITIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


COLETIVA. MACRO-LIDE. CORREÇÃO DE SALDOS DE CADERNETAS DE
POUPANÇA. SUSTACÃO DE ANDAMENTO DE AÇÕES INDIVIDUAIS.
POSSIBILIDADE.
1.- Ajuizada ação coletiva atinente a macro-lide geradora de processos
multitudinârios, suspendem-se as ações individuais, no aquardo do julgamento
da ação coletiva.
2.- Entendimento que não nega vigência aos aos arts. 51, IV e § 10 , 103 e 104 do
Código de Defesa do Consumidor; 122 e 166 do Código Civil; e 21e 6° do Código de
Processo Civil, com os quais se harmoniza, atualizando-lhes a interpretação extraída
da potencialidade desses dispositivos legais ante a diretriz legal resultante do disposto
no art. 543-C do Código de Processo Civil, com a redação dada pela Lei dos Recursos
Repetitivos (Lei n. 11.672, de 8.5.2008).
3.- Recurso Especial improvido." (STJ, REsp 1110549/RS, Rei. Ministro SIDNEI
BENETI, Segunda Seção, julgado em 28/10/2009, DJe 14/12/2009, grifou-se)

14
.
.
No mesmo sentido, vem decidindo o egrégio Tribunal de Justiça do Estado
do Paraná, senão veja-se.-

"AGRAVO REGIMENTAL - DECISÃO QUE NEGA PROVIMENTO À AGRAVO DE


INSTRUMENTO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -

CONTAMINAÇÃO POR CHUMBO - AJUIZAMENTO DE AÇÃO COLETIVA


ATINENTE A MACRO-LIDE, GERADORA DE PROCESSOS MULTIDUDINÁRIOS -

SUSPENSÃO DAS AÇÕES INDIVIDUAIS - POSSIBILIDADE PRECEDENTES DO


-

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RECURSO DESPROVIDO.


Considerando que em março de 2011 foi ajuizada ação civil pública atinente à
macro-lide, geradora de processos multitudinários, na qual também está sendo
pleiteada a reparação dos danos morais sofridos pelas pessoas expostas à
contaminação por chumbo, como na presente, entendo que deve ser mantida a
suspensão desta demanda individual, no aguardo do julgamento da ação
coletiva, consoante atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça." (TJPR
-
ioa Câmara Cível. Agravo 1151686-2, Rei. Desembargador Luiz Lopes, julgamento
em 30/01/2014)
"AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -

PRELIMINAR - DESERÇÃO -INOCORRÊNCIA - CONCESSÃO DOS BENEFICIOS


DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA - POLUIÇÃO AMBIENTAL -

DESCARTE INADEQUADO DPS REJEITOS PROVINDOS DA EXTRAÇÃO E


BENEFICIAMENTO DO CHUMBO E OUTROS MATERIAIS PESADOS -

AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA DISCUTINDO A MESMA QUESTÃO DE


FUNDO - SUSPENSÃO DA AÇÃO INDIVIDUAL ATÉ O JULGAMENTO DA AÇÃO
COLETIVA QUE CONTÉM MACRO-LIDE MULTIDUNINÁRIA - POSSIBILIDADE -

PRECEDENTES DO STJ - RECURSO - NEGA PROVIMENTO." (TJPR - 93 Câmara


Cível. Agravo 1153195-4, Rei. Desembargador Francisco Luiz Macedo Junior,
julgamento em 10/07/2014)

Outrossim, é fácil, facílimo, até, observar que inexiste, na espécie, (;)


probabilidade do direito, (ii) perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo e (iii) que a
concessão da tutela antecipada traz risco de posterior dificuldade de recondução das partes ao
status quo ante.

Todavia, com a devida venha, inicialmente, cumpre salientar que o laudo


técnico elaborado pela Central de Apoio Técnico do Ministério Público de Minas Gerais, citado na r.
decisão que deferiu a antecipação da tutela na presente Ação, e que motivou o ajuizamento da Ação
Civil Púbica anteriormente mencionada (processo n° 0004309-47.2016.4.01.3813), não pode, por si
só, ser considerado uma prova cabal dos fatos alegados.

15
.
.
Isto porque, além de produzido de forma unilateral, sem o crivo do
contraditório e da ampla defesa, possui presunção relativa, já que o Ministério Público, como parte,
pugna por seus interesses de autor, afastando, por conseguinte, a imparcialidade do trabalho
realizado.
Demais disto, ao contrário das suposições apresentadas pela parte autora,
restou demonstrado pela parte ré, Samarco, que, nos autos da referida ACP, foi feita uma Perícia
Judicial, na qual apurou-se "não haver anormalidade nos índices de alumínio total analisados,
item que, segundo a inicial, mostrou-se em desconformidade com os parâmetros da Portaria
n° 2914/11 do Ministério da saúde, em coleta realizada no dia 05/07/2016".

Por isso, na ACP em curso no Juízo Federal com pedido liminar IDÊNTICO
ao deduzido na presenta Ação, a liminar FOI INDEFERIDA!

Ora, isso já é suficiente para demonstrar a inexistência do dano irreparável


ou de difícil reparação, e a inexistência da probabilidade do direito, tornando, pois, impossível a
concessão da tutela provisória.

Acerca da matéria, já decidiu o egrégio TJ-MG, no seguinte sentido:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO ORDINÁRIA - COPASA -

FORNECIMENTO DE ÁGUA - SUSPENSÃO - ANTECIPAÇÃO DA TUTELA -

REQUISITOS AUSÊNCIA NÃO PROVIMENTO.


- -

- Carecendo o pedido de antecipação dos efeitos da tutela de seu pressuposto


mais intrínseco, 'id est', prova inequívoca, que, convença o julqador da
verossimilhança das aleqações, deve ser mantida a decisão que o indeferiu.
- Recurso não provido." (TJMG Agravo de Instrumento-Cv 1.0027.14.043439-
-

3/002, Relator(a): Des.(a) Vasconcelos Lins, 5a CÂMARA ClVEL, julgamento em


12/05/2016, publicação da súmula em 24/05/2016, grifou-se)

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER -

ROMPIMENTO DE BARRAGEM DA SAMARCO - POTABILIDADE DA ÁGUA


CAPTADA PELO RIO DOCE TRATAMENTO EFICAZ PELO SAAE AUSÊNCIA
- -

DE LAUDO TÉCNICO QUE COMPROVE A IMPROPRIEDADE DA ÁGUA


FORNECIDA PARA CONSUMO HUMANO PLAUSIBILIDADE DO DIREITO NÃO
-

DEMONSTRADA. Não sendo demonstrada a plausibilidade do direito, pois


ausente prova, técnica que demonstre, ainda que indiciariamente que a áqua
fornecida pelo SAAE de Governador Valadares, após ser captada do Rio Doce
e devidamente tratada, se mostra imprópria para consumo humano, não

16
.
.
merece prosperar a pretensão de fornecimento de áqua mineral na residência
do autor." (TJMG - Agravo de lnstrumento-Cv 1.0105.15.041723-3/001, Relator(a):
Des.(a) José Augusto Lourenço dos Santos, 12a CÂMARA CÍVEL, julgamento em
05/10/2016, publicação da súmula em 13/10/2016, grifou-se)

Destarte, considerando a inexistência da probabilidade do direito alegado,


bem como do risco de dano grave ou de difícil reparação, conclui-se, sem nenhuma dificuldade, que
direito algum lhe é assegurado, capaz de justificar a antecipação dos efeitos da tutela requerida.

Por todo exposto, não tendo sido preenchidos, pela parte autora, os
requisitos necessários a antecipação de tutela, requer, a parte ré, seja negada a pretensão liminar.

11.6 - DO PERIGO DE IRREVERSIBILDIADE

Outrossim, também não se afigura presente na espécie, o requisito da


reversibilidade da antecipação de tutela de urgência deferida.

Com efeito, dispõe expressamente o artigo 300, §30, do NCPC. que:

"Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado
útil do processo. ( ... )
§ 30 A tutela de urqência de natureza antecipada não será concedida quando
houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão." (grifou-se)

Ora, no caso dos autos, a parte autora requereu o fornecimento de água


mineral potável e o bloqueio de valores da conta da Samarco.

Porém, caso, ao final, seja reconhecida a improcedência destes pleitos


específicos, malgrado não conste do rol final de pedidos relativos ao mérito da demanda, o que, por
si só, já acarretaria na inépcia da inicial, é a ré que estará em risco de não ser ressarcida dos custos
decorrentes de tal situação, pois a parte autora pode não ter como solvê-los.

Ora, é a parte ré que corre risco de dano irreversível, pois, "para a


concessão da tutela de urgência, mister se faz que estejam demonstrados os pressupostos
elencados no art. 300, do novo CPC, quais sejam: a probabilidade do direito, aliada ao perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo, sendo certo que não será concedida quando
houver periqo de irreversibilidade dos efeitos da decisão" (TJMG Agravo de Instrumento-Cv
-

1.0416.16.000181-2/001, Relator(a): Des.(a) Evandro Lopes da Costa Teixeira, 17a CÂMARA


CFVEL, julgamento em 25/08/2016, publicação da súmula em 06/09/2016, grifou-se).
.
.
No mesmo sentido:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - IMISSÃO NA POSSE TUTELA DE URGÊNCIA


-

DE NATUREZA ANTECIPADA - AUSÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS RISCO -

DE IRREVERSIBILIDADE DOS EFEITOS DO PROVIMENTO - LIMINAR


INDEFERIDA.
- Segundo o art. 300, do CPC, são requisitos gerais para a concessão das tutelas
provisórias de urgência: a demonstração da probabilidade do direito e do perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo.
II No caso dos autos, não se verifica que a decisão agravada venha a causar ao
-

agravante um risco de dano grave ou de difícil reparação. Assim, mostra-se


prudente manter o indeferimento da liminar.
III- Ademais, em se tratando de tutela provisória de natureza antecipada, incide
Q .°, do mencionado art. 300, do CPC, sequndo o qual: 'a tutela de urqência
de natureza antecipada não será concedida quando houver periqo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão'." (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0148.16.002584-4/001 Relator(a): Des.(a) João Cancio, 18a CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 11/10/2016, publicação da súmula em 14/10/2016, grifou-se)

Assim, além da ausência dos requisitos legais previstos no artigo 300,


caput, do NCPC, é patente o perigo de irreversibilidade da antecipação de tutela deferida com
relação ao fornecimento de água e bloqueio de valores, pois, "a antecipação dos efeitos da tutela
em ação principal representa providência satisfativa emergencial e sumária, adotada em
caráter provisório, impondo-se o seu indeferimento quando a questão é altamente complexa
e demanda ampla dilação probatória, bem como quando o provimento antecipado é
irreversível" (TJMG Agravo de Instrumento-Cv 1.0024.11.284955-9/001, Relator(a): Des.(a) José
-

Arthur Filho, ga CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/08/2015, publicação da súmula em 01/09/2015).

III DO MÉRITO
-

111.1 - DO CORRETO ENQUADRAMENTO DA LIDE DA INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE


-

CONSUMO DA INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR À


-

ESPÉCIE - DO DESCABIMENTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - DA NÃO


APLICABILIDADE DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELA TEORIA DO RISCO INTEGRAL

Antes de mais nada, fundamental fazer o correto enquadramento da lide,


destacando que matéria presente nos autos não envolve relação de consumo, pelo que,
logicamente, o Código de Defesa do Consumidor não é aplicável ao caso, e, muito menos, é
possível, com base nele, inverter o ônus da prova.

18
.
.
A definição legal de consumidor está presente no artigo 20, do Código de
Defesa do Consumidor, que é taxativo ao definir que "consumidor é toda a pessoa física e
jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final".

Daí, é fácil perceber que, para configurar relação de consumo.


indispensável existir aquisição ou utilização, por consumidor, de serviço ou produto oferecido por
fornecedor.
E, se o Código de Defesa do Consumidor define, no artigo 20, o conceito de
consumidor, é no artigo 30, ao conceituar fornecedor', que se observa o motivo pelo qual a norma
consumerista não se aplica ao presente caso:

"Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


-

estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de


produção, montaqem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
-

§2° - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante


remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo
as decorrentes das relações de caráter trabalhista." (grifou-se)

Para Cláudio Bonatto, "a relação jurídica de consumo é o vínculo que se


estabelece entre um consumidor, destinatário final, e entes a ele equiparados, e um fornecedor
profissional, decorrente de um ato de consumo ou como reflexo de um acidente de consumo,
a qual sofre a incidência da norma jurídica específica, com o objetivo de harmonizar as interações
naturalmente desiguais da sociedade moderna de massa" (in "Questões controvertidas no Código
de Defesa do Consumidor"; Ed. Livraria do Advogado, 2a ed., 1999, p. 115, grifou-se).

No caso específico dos autos, o incidente em questão, não é e não pode


ser definido como acidente de consumo, pois não foi estabelecida uma relação de consumo entre a
parte autora e a parte ré, e tal incidente não está diretamente relacionado a algum produto ou serviço
por esta última vendido ou prestado, sendo inaplicáveis, à espécie, as normas consumeristas.

Ora, a parte ré não é fornecedora, nos termos do art. 18 do CDC. Não


produz, vende água, ou fornece água, não presta serviço que se relacione com água, e, pelo
contrário, seus produtos, sequer, são destinados às pessoas físicas.

19
.
A

Não se forma, portanto, qualquer relação de consumo entre as partes. O


rompimento da barragem não se deu no âmbito de uma relação na qual a parte autora era
consumidor e a parte ré, fornecedora de água. Dessa forma, não há vinculo de consumo entre as
partes, havendo apenas de se observar, tão somente, as regras de responsabilidade civil,
estabelecidas pelo Código Civil.

Neste sentido, o TJMG, analisando, justamente, um caso de rompimento


de barragem, afastou não só a existência de relação de consumo, mas, também, a possibilidade de
inversão do ônus da prova, também requerida naquele processo, atestando que, "para que se
confiqure relação de consumo, necessário se faz que haja a aquisição ou utilização, 29r
consumidor, de produto ou serviço oferecido por fornecedor, motivo pelo qual se afiqura que
o acidente ocorrido com a barraqem de rejeitos instalada em Mineradora, não constitui causa
para aplicação do Códiqo de Defesa do Consumidor, em virtude da ausência de dano
decorrente de vicio ou defeito em produto ou serviço". concluindo, então, "não havendo falar
em inversão do ônus da prova, competindo à parte autora comprovar o dano e o nexo de
causalidade, e à parte ré a prova dos fatos que possam excluir a sua obriqação de reparação
de danos". (TJMG Agravo de Instrumento 1.0439.08.081641-6/001, Rei. Des. Duarte de Paula,
iia CÂMARA CÍVEL, julgamento em 28/05/2009, publicação da súmula em 15/06/2009, grifou-se).

Exatamente, como no presente caso.

Assim, requer seja indeferido o pedido de inversão do ônus da prova, pois,


"não havendo uma relação de consumo da qual decorreu o evento danoso que atingiu um
terceiro, este não poderá ser equiparado a um consumidor, inaplicável a inversão do ônus
da prova prevista no artigo 60 do Código de Defesa do Consumidor" (TJMG; Apelação Cível
1.0439.07.065180-7/001, Rei. Des. José Antônio Braga, 9a CÂMARA CÍVEL, julgamento em
13/03/2012, publicação da súmula em 02/04/2012).

Da mesma forma, não se pode deixar de observar que a parte autora, no


afã de tentar se utilizar de quaisquer fundamentos, se utilizou de todos, indistintamente, inclusive
aqueles de natureza coletiva, para os quais não possui a mais mínima legitimidade.

Nesses termos, impossível sejam consideradas para o deslinde do feito,


data veriia, eventuais danos de amplitude geral e coletiva, pois, aqui, se tratando de ação individual

e especifica, só interessam os fatos que alegada e concretamente podem, em tese, ter atingido a
parte autora, de forma também individual e especifica.

20
.
1
Por isso, são irrelevantes, para o presente caso, os dados gerais citados,
os números globais do evento ou a extensão total dos possíveis danos, tão desnecessariamente
mencionados na inicial.

Nesse contexto se inserem várias das justificativas que, em tese,


embasariam o pedido de indenização por danos morais formulado pela parte autora na inicial.

Dessa maneira, no presente caso, portanto, só importa a situação individual


e pontualmente considerada da parte autora, não lhe socorrendo alegações outras, além daquelas
que com ela única e especialmente se relacionem.

Por tal motivo, inclusive, é totalmente descabida a alegação de aplicação


da responsabilidade objetiva pela teoria do risco integral, eventualmente incidente em caso de dano
ambiental.
Ora, quanto às questões ambientais e de natureza geral e coletiva, a parte
ré já vem tomando todas as providências, como é fato de conhecimento público e notório, podendo
ser observado de seu site, inclusive, as inúmeras providências tomadas nesse sentido, para
recomposição da situação como um todo.

Repita-se: imediatamente após o acidente, a Samarco adotou, em


coordenação com as autoridades públicas (Defesa Civil, Prefeituras, Secretarias de Estado e órgãos
ambientais, Ministério do Meio Ambiente, Agência Nacional de Água, Ministério Público e autarquias
ambientais federais) diversas ações ao amparo emergencial e mitigação e prevenção dos impactos,
dentre estas a garantia do abastecimento local de água.

Neste sentido, destaca-se que já está em operação a Fundação Renova,


criada para a condução dos programas de reparação e recuperação socioeconômica e
socioambiental nas áreas impactadas pelo rompimento da barragem de Fundão, em novembro do
ano passado, havendo, atualmente, 41 (quarenta e um) programas, quase todos, em sua totalidade,
já em andamento.

Com sede em Belo Horizonte e escritórios em Marïana/MG, Governador


Valadares/MG e Linhares/ES, a Fundação é uma instituição de direito privado e sem fins lucrativos,
conforme previsto no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) celebrado com os
governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo, e outros entes federativos, em março deste
ano.

21
.
.
£11

A instituição é constituída de Conselho de Curadores, Diretoria Executiva,


Conselho Consultivo, Conselho Fiscal. Também foi instituído um Comitê Iriterfederativo, instância
externa e independente da Fundação, que acompanha, monitora e fiscaliza os projetos executados,
que pode contar com o trabalho de especialistas técnicos e auditorias independentes para dar
transparência à sua atuação.

A íntegra do TTAC (Termo de Transação e Ajustamento de Conduta), que


estabelece a Fundação e os seus programas podem ser acessados pelo seguinte endereço
(http://www.sama rco.com/wp-content/uloads/2O 16/O6(TTAC-Fl NAL.Ddf).

Na espécie, tem-se que a relação entre a parte autora e a parte ré é de


natureza subjetiva, ensejadora, ou não, de responsabilidade civil, a depender da apuração e
constatação se, de fato, aquela primeira chegou a sofrer efetiva lesão individual e particular em sua
esfera pessoal de direitos.

Por todo o exposto, então, não sendo aplicável o CDC, mas o Código Civil,
deve ser indeferido o pedido de inversão do ônus da prova, pois é da parte autora o dever de fazer
a prova do que alega, sendo descabida, também, a alegação de incidência da responsabilidade
objetiva pela teoria do risco integral.

111.2 DA SITUAÇÃO NO LOCAL DAS PROVIDÊNCIAS TOMADAS PELA PARTE RÉ DO


- - -

PERÍODO SEM ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA INEXISTÊNCIA DE CONTAMINAÇÃO DA


-

ÁGUA A JUSTIFICAR O RECEIO DE CONSUMO ALEGADO NA INICIAL DA INEXISTÊNCIA -

DO ALEGADO DANO MORAL

A parte ré, Samarco Mineração S.A., é uma empresa com quase 40 anos
de existência, detentora de vários prêmios e reconhecimento em diversas áreas, inclusive ambiental
(Prêmio Findes/SENAI de Meio Ambiente, Selo Ouro; 2014), que possui como um de seus valores,
o respeito às pessoas.
O rompimento da barragem do Fundão, todavia, não pode conduzir a
empresa a um julgamento sumário, que não observe a especificidade de cada caso.

A Samarco não irá se desviar de suas responsabilidades. Daí, e dentro do


Estado Democrático de Direito, ela tem a inegável possibilidade de ver apurado pelo Poder
Judiciário, em cada processo, se é caso de indenizar, a quem indenizar e quanto indenizar, nos
termos dos artigos 927 e 944, do CC.
.
.

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