Você está na página 1de 57

Guia do Estudante, Direito Económico.

AUGUSTO ARMANDO MESSARIAMBA

DIREITO
ECONÓMICO
Súmula extraída dos Livros dos Professores
Doutores ANTÓNIO CARLOS DOS SANTOS,
Direito Económico, 2ª Edição, 2003 e LUÍS S.
CABRAL DE MONCADA, Direito Económico,
3ª Edição, Coimbra, 2000.

DEDICO:
À Memória do falecido meu irmão,
Jossias Armando Messariamba (alusivo a
celebração do 8º Ano após o eterno
descanso);
Dedico à Deus, à minha Mãe, Maria
Matinane, ao meu pai, Armando
Messariamba e a mulher que me faz o
Homem que sou hoje, Joana Miguel Saice.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 1
Guia do Estudante, Direito Económico.

Copyright

Este manual é propriedade da Universidade Mussa Bin Bique – Delegação de Cabo


Delgado, Faculdade de Direito, sendo que todos os direitos para o seu uso, por
estudantes e docentes, lhe estão reservados. É proibido fazer cópias ou usar este
material sem autorização prévia da UMBB.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 2
Guia do Estudante, Direito Económico.

DELEGAÇÃO DE PEMBA

1. OBJECTIVOS
1. A disciplina do Direito Económico será leccionada com o objectivo de fazer tomar
consciência aos estudantes sobre a sua importância na vida económica do homem,
na sociedade em geral e no seu relacionamento económico com o Estado e outros
homens;
2. Proporcionar conhecimento amplo e avançado do direito económico contemporâneo;
3. Dar a conhecer aos estudantes sobre o papel do Estado na economia do pais e a
sua dupla missão (produtora e reguladora);
4. Transmitir aos estudantes o problema da interligação entre o direito e a economia na
sua qualidade de ciências sociais e os respectivos actores.
5. O curso permite, assim, dotar profissionais com actuação em direito público ou
privado de instrumental técnico-jurídico e económico para resolver problemas
contenciosos e desempenhar actuação consultiva junto a empresas, investidores e
reguladores e agentes públicos em geral.

2. ASSUNTOS

CAPÍTULO I. DIREITO ECONÓMICO. NOÇÃO, OBJECTO DE ESTUDO E


CARACTERÍSTICAS
1.1. Noção do Direito Económico;
1.2. Relação entre a Economia e o Direito;
1.3. Origem e desenvolvimento do Direito Económico como uma disciplina jurídica
autónoma;
1.4. Autonomia do Direito Económico;
1.5. Objecto de estudo e natureza jurídica do Direito Económico
1.6. O Direito Económico como ramo de Direito;
1.7. O Direito Económico e outros ramos de Direito;
1.8. Características do Direito económico.

CAPÍTULO II. FONTES DO DIREITO ECONÓMICO


2.1. Noção de fontes de direito;

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 3
Guia do Estudante, Direito Económico.

2.2. Fontes Internas ou Nacionais;


2.3. Fontes Externas ou Internacionais;
2.4. Fontes de origem privada ou mista;
2.5. O problema dos princípios gerais de Direito como fonte de Direito Económico.

CAPÍTULO III. A CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA


3.1. Noção da Constituição e Constituição Económica;
3.2. Classificação e tipos de Constituição Económica;
3.2.1. Funções da Constituição Económica;
3.3. Constituição Económica e a Ordem Jurídica Económica;
3.4. Constituição Económica na história das constituições (generalidades);
3.5. A Constituição Económica na história das constituições moçambicanas (de
1975,1990 e 2004);
3.6. A localização da Constituição Económica no texto da Constituição da República
de Moçambique de 2004 (CRM/2004);
3.7. Sistema Económica, Regimes, Formas e Políticas económicas;
3.8. Os direitos e deveres fundamentais com incidência na ordem económica:
Os direitos dos trabalhadores;
3.8.1. Os direitos, liberdades e garantias e direitos e deveres económicos;
3.8.2. Factores de ordem económica e social que justificam a crescente importância da
protecção jurídica do consumidor;
3.8.3. Principais eixos da protecção dos consumidores.

CAPÍTULO IV. A ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA


4.1. Sectores de propriedade dos meios de produção:
A. O Sector Público;
B. Sector Privado;
C. O Sector Cooperativo e Social;
4.2. Do Estado produtor ao Estado regulador.

CAPÍTULO V. O ESTADO COMO REGULADOR DA ECONOMIA


5.1. A regulação pública da economia;
5.2. Âmbito da regulação da economia;
5.3. Tipos de regulação da economia;
5.4. Procedimentos de regulação (unilaterais e negociadas)

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 4
Guia do Estudante, Direito Económico.

CAPÍTULO VI. O ESTADO COMO PRODUTOR DE BENS E SERVIÇOS


6.1. A intervenção do Estado na gestão da empresa privada;
6.2. A Empresa Pública e Empresa Estatal:
A. Empresa Pública;
B. Empresa Estatal;
6.3. As Sociedades de Capitais Públicas e de Economia Mista;
6.4. Quadro geral das principais Empresas e Sociedades moçambicanas.

CAPÍTULO VII. DIREITO ECONÓMICO E PLANEAMENTO


7.1. Noção, elaboração e execução do Plano;
7.2. Natureza jurídica do plano;
7.3. As medidas e os meios de implementação do plano;
7.4. Os auxílios do Estado. Tipos de auxílios;
7.5. O planeamento democrático e a democratização do planeamento.

CAPÍTULO VIII. AS NACIONALIZAÇÕES


8.1. Conceito de nacionalização e expropriação (diferenças) e o seu objecto;
8.2. Regime jurídico das nacionalizações;
a) Os limites constitucionais às nacionalizações
b) Formas e processo das nacionalizações;
c) As indemnizações por nacionalizações;
d) O destino das empresas nacionalizadas.

CAPÍTULO IX. AS PRIVATIZAÇÕES


9.1. Conceito de privatização;
9.2. Fundamentos/causas das privatizações;
9.3. Regime jurídico das privatizações;
9.4. Objectivos actuais das privatizações;
9.5. Os direitos especiais do Estado nas empresas privatizadas;
9.6. O fundo de privatizações;
9.7. Outras leis importantes sobre as privatizações.

CAPÍTULO X. OS CONTRATOS ECONÓMICOS


10.1. Noção de contrato económico;
10.2. Natureza jurídica dos contratos económicos;
Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –
Faculdade de Direito, 2012. Page 5
Guia do Estudante, Direito Económico.

10.3. Modalidades dos contratos económicos:


a) Os contratos-programa;
b) Os contratos de desenvolvimento geral;
c) Os contratos fiscais;
d) Outros contratos económicos.

CAPÍTULO XI. O FOMENTO ECONÓMICO


11.1. Meios principais do fomento económico (benefícios fiscais, subsídios, emissão de
obrigações)

CAPÍTULO XII. DIREITO ECONÓMICO E INVESTIMENTO NACIONAL E


ESTRANGEIRO
12.1. Conceito de investimento estrangeiro;
12.2. Os limites ao investimento estrangeiro;
12.3. As garantias do investidor estrangeiro;

3. METODOLOGIA

Abordagem baseada em aulas teóricas, discussão interactiva de casos práticos e análise


de cenários e perspectivas de mudanças no Direito.

4. METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO
 Seminários em grupos;
 2 Trabalhos (1 individual e 1 em grupo);
 2 Testes individuais;
 Exame Final;
 Exame de recorrência (se for necessário)

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 6
Guia do Estudante, Direito Económico.

5. BIBLIOGRAFIA
1. FRANCO, António L. de Sousa. As Privatizações e o sector empresarial do Estado.
AAFDL. 1991;
2. FRANCO, António L. de Sousa. Direito da Economia, Vol. I.
3. LAUBADÈRE, André de. Direito Público Económico, Coimbra, 1985;
4. Luís Morais - Privatização de empresas públicas as opções de venda.Lisboa.1990;
5. MONCADA, Luís S. Cabral de, Direito Económico, 3ª Ed. Coimbra. 2000;
6. SANTOS, António Carlos, at. al. Direito Económico, Coimbra, 1998;
7. VAZ, Manuel Afonso. Direito Económico, A ordem económica portuguesa. Coimbra
Editora. 1990, 2ª Ed..

6. LEGISLAÇÃO
1. Constituições de 1975, 1990 e 2004
2. VAZQUEZ, Sérgio. Colectânea de Legislação Económica de Moçambique:
i. Lei nº 15/1991, de 03 de Agosto, LEI ACERCA DAS PRIVATIZAÇÕES, outras leis
importantes nesta matéria, são:
 Decreto nº 28/1991, de 21 de Novembro – regulamenta
detalhadamente o quadro legal, critérios e modalidades de privatizações das
empresas, estabelecimentos, instalações e participações financeiras do Estado;
 Lei nº 17/1993, de 14 de Outubro – clarifica a aquisição
de capital por parte de gestores, técnicos e trabalhadores;
 Decreto nº 19/1993, de 14 de Setembro – visa criar
condições para regular a situação jurídica de empresas, prática necessária ao
processo de reestruturação do sector empresarial do Estado;
 Decreto nº 15/2001, de 10 de Abril – define as linhas
gerais da política de reestruturação do sector empresarial com participações do
Estado.
ii. Lei nº 05/1976, Nacionalizações de prédios dos estrangeiros; Lei nº 16/1975, de 13
de Fevereiro, Nacionalizações por abandono e Lei nº 19/1977, Nacionalizações das
empresas onde o Estado tem acções.
3.Lei nº 22/2009, de 28 de Setembro, aprova Lei dos Consumidores;
4. Lei nº 23/2009, de 08 de Setembro, aprova Lei das Cooperativas;
5. Decreto-lei nº 16/1975, debruça-se sobre a intervenção do Estado na gestão de
Empresas Privadas;
6. Lei nº 2/81, de 10 de Setembro – Lei das empresas estatais;

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 7
Guia do Estudante, Direito Económico.

7. Lei nº 17/91, de 3 de Agosto – Lei das empresas públicas;


8. Lei nº 3/93, de 24 de Junho – Lei de investimentos;
9. Decreto nº 4/2006, de 12 de Abril – Aprova o Código da Propriedade Industrial;
10. Lei nº 02/1997, de 18 de Fevereiro, aprova o Quadro Jurídico-Legal para
Implementação das Autarquias Locais;
11. Decreto nº 46/2001, de 21 de Dezembro, cria Instituto de Gestão de Participações
do Estado (IGEPE)

CAPÍTULO I. DIREITO ECONÓMICO. NOÇÃO, OBJECTO DE ESTUDO E


CARACTERÍSTICAS
1.1. Noção do Direito Económico
Direito Económico é o estudo da ordenação ou regulação jurídica específica da
organização e direcção da actividade económica pelos poderes públicos e/ou pelos
poderes privados, quando dotados de capacidades de editar ou contribuir para a edição
de regras com carácter geral, vinculativas dos agentes económicos.

- Qual é a diferença entre Direito Económico e Direito da Economia?


R/. Direito da Economia como o direito aplicável a todas as matérias que entram
na noção de economia, ou seja, o Direito da Economia congrega então todas as partes
do direito público e privado que dizem respeito a economia; portanto, o Direito
Económico seria ordenação ou regulação jurídica específica da organização e direcção
da actividade económica, isso quer dizer, o Direito da Economia é mais abrangente do
que o Direito Económico, por isso, o Direito Económico está dentro do Direito da
Economia.

1.2. Relação entre a Economia e o Direito


Todos os fenómenos e relações sociais são totais, os económicos e jurídicos,
apenas duas facetas, sem dúvida, muito relevantes que os fenómenos sociais
comportam.
São facetas conexas e interdependentes, mas dotados, porém, de relativa
autonomia entre si, o que legitima o seu estudo segundo ópticas e metodologias
distintas.
Deste modo, mesmo questões que, aos olhos do senso comum são mais
marcadamente económicos como, por exemplo, as ligadas ao circuito económico

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 8
Guia do Estudante, Direito Económico.

(produção, circulação, distribuição, consumo) são providas de importantes dimensões


jurídicas (disciplina jurídica da força de trabalho, regime jurídico de tributação, direitos
dos consumidores, etc.).
Por outro lado, a produção das normas jurídicas, a sua aplicação, bem como a
resolução de litígios por meio de processos e decisões judiciais, aspectos
predominantemente tidos por jurídicos, contêm, eles também, inequívocas dimensões
económicas.

1.3. Origem e desenvolvimento do Direito Económico como uma disciplina


jurídica autónoma
ALEMANHA
A sistematização doutrinal e científica do Direito Económico como disciplina
jurídica autónoma tomou corpo primeiramente na Alemanha, sob a Constituição de
Weimar, e foi a primeira constituição a inserir a vida económica de forma específica e
desenvolvida como objecto da lei fundamental, isto nas décadas 20 e 30.
Desde então e, particularmente após o fim do Nazismo, o interesse pelo Direito
Económico neste país não cessou de crescer.

FRANÇA
Outro pólo de desenvolvimento do Direito Económico foi na França, sobre tudo
depois da IIa Guerra Mundial.
O Direito Económico na França foi considerado durante largos anos como um
direito público, isto é, como direito da intervenção económica do Estado e a organização
administrativa da economia, só mais tarde veio a sofrer influência do direito privado.

PAÍSES ANGLO-SAXÓNICOS
Diversamente, nos Países Anglo-Saxónicos, não ocorreu semelhante
desenvolvimento de uma disciplina autónoma de Direito Económico, continuando esta
área a ser enquadrado em distintas disciplinas, mais ou menos tradicionais: Public
Corporations (Corporações Públicas), Regulatory Agencies (Agências Regulamentares),
Mercatile Law (Direito Comercial), etc.

PORTUGAL
Quanto a Portugal, foram relativamente tardias as primeiras abordagens
doutrinais do Direito Económico. Só depois de 1974 é que se verificou um movimento

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 9
Guia do Estudante, Direito Económico.

generalizado de interesse pela disciplina, que se traduziu principalmente na sua


introdução nos planos curriculares das licenciaturas em Direito e Economia.

MOÇAMBIQUE
A disciplina de Direito Económico tem começado igualmente a afirmar-se em
Moçambique e outros países africanas de língua oficial portuguesa (PALOP),
começou nas décadas 80 e 90 sob influência da doutrina portuguesa.

1.4. Autonomia do Direito Económico


O Direito Económico ainda não é autónomo, mas caminha a passos largos para
o efeito “o Direito Económico está meio a caminho para sua autonomia”, porém, existem
três (3) fundamentos que ditam a possível autonomia do Direito Económico:
i. Economia Liberal, surgiram formas específicas de regulação pública da
economia, dando origem a um conjunto de normas, princípios e instituições que regem
a organização e a direcção da actividade económica nas suas diversas manifestações
(produção, circulação, distribuição, consumo), impondo limites, condicionando ou
incentivando os agentes económicos ou mesmo alterando, de um ponto de vista
estrutural, algumas tendências que resultam do livre funcionamento do mercado.

ii. Multiplicação e complexificação dos agentes económicos, as próprias


entidades privadas passaram a produzir normas por delegação pública ou no âmbito da
sua esfera de autonomia ou ainda resultantes da negociação ou concertação com os
poderes públicos, possibilitando assim um especial desenvolvimento do Direito
Económico.

iii. Crescente complexidade das relações entre o sistema económico e os


sistemas jurídico e político, descobre-se que o sistema económico é também uma
questão de poder em relação à qual os sistemas políticos e jurídicos não podem ficar
indiferentes, mormente quando o Estado se configura como Estado de Direito e como
Estado Democrático. Surgem assim questões como as de controle ou subordinação do
poder económico ao poder político ou do estabelecimento de uma democracia
económica – Constituição Económica.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 10
Guia do Estudante, Direito Económico.

1.5. Objecto e natureza jurídica do Direito Económico


a) Objecto do estudo do Direito Económico
A partir da definição do Direito Económico como o estudo da ordenação ou
regulação jurídica específica da organização e direcção da actividade económica pelos
poderes públicos e/ou pelos poderes privados, quando dotados de capacidades de editar
ou contribuir para a edição de regras com caractér geral, vinculativas dos agentes
económicos, podemos retirar o seu objecto de estudo que é a organização e direcção
da actividade económica pelos poderes públicos e/ou pelos poderes privados.

b) Natureza jurídica do Direito Económico


O Direito Económico apresenta numa primeira fase, a natureza
predominantemente do Direito Público, direito aplicável às intervenções do Estado nas
relações económicas e aos órgãos desta intervenção e, numa segunda fase, o Direito
Económico, surge como Direito Privado, regulamentando juridicamente as relações
económicas entre os particulares segundo uma ideologia da política económica
adoptada.
No entanto, o Direito Económico é um Direito Híbrido ou Misto porque congrega
a parte pública e privada simultaneamente.

1.6. O Direito Económico como ramo de Direito


Muito embora no Direito Económico não se encontrem algumas das clássicas
manifestações externas dos ramos de Direito (codificação, autonomia processual,
magistratura específica), isto não impede que se possa falar dele como um novo ramo
de Direito em formação.
O Direito Económico tem vindo a construir-se a partir de reavaliação de certos
núcleos temáticos oriundos de outros ramos de Direito (ex. Relações entre economia e
constituição, intervenção económica do Estado, bens produtivos, etc.) e da consolidação
de novas realidades para as quais os ramos existentes se mostram insuficientes ou
inadequados (ex. Empresa, concorrência, concertação social, etc.).

1.7. O Direito Económico e outros ramos de Direito


A definição das fronteiras do Direito Económico relativamente a outros ramos de
Direito levanta naturalmente algumas dificuldades.
 Primeiro, porque se trata de um novo ramo do Direito que, ao surgir; ocupa,
ao menos parcialmente espaços de ramos de Direito já existentes, como o Direito

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 11
Guia do Estudante, Direito Económico.

Comercial, o Direito Administrativo ou mesmo o Direito Constitucional, retomando,


as vezes, matérias já tratadas no âmbito daqueles, embora o faça normalmente numa
perspectiva diferente.

 Depois, porque alguns dos domínios jurídicos tendencial ou parcialmente


abrangidos pelo Direito Económico se foram eles próprios especializados e
autonomizando a partir do momento em que se tornou mais densa e complexa a
regulação que lhes diz respeito, como é o caso do Direito Agrário, Direito das
Empresas, Direito do Consumo, Direito Bancário, Direito da Informação ou ainda
Direito do Ambiente.

1.8. Características do Direito Económico


a) Direito recente, porque só se manifesta a partir do momento em que o Estado
toma a seu cargo a economia (1914), em Moçambique particularmente a partir de 1975;
b) Direito fluído, não é um direito rígido, estático nem estável, modifica-se
rapidamente de acordo com a política existente.
c) Direito não codificado, é um direito disperso;
d) Direito misto ou híbrido, é público (parte constitucional, o Estado dotado de iuris
imperii – poder soberano) e privado (contratos económicos de financiamento, ex.
Contrato leasing);
e) Variação e heterogeneidade das suas fontes, com o crescente aparecimento
da fontes não estaduais e com a emergência mesmo dentro do direito estadual de
figuras jurídicas novas, como a lei do plano;
f) Declínio da imperatividade e coercibilidade das suas normas, com recurso
crescente de incentivos, em detrimento das medidas de repressão;
g) Crise da generalidade da norma e crescente importância de consumo;
h) Necessidade de recurso frequente a estudos pluridisciplinares;
i) Crescente autonomização científica e pedagógica de sub-ramos de Direito
Económico;
j) A amplitude do âmbito das fontes tradicionais (com inclusão de leis-medida,
leis-plano, actos-incentivos, etc.) e o relativo declínio da sua importância, derivado do
peso que assumem as novas fontes (acordos de concertação social, códigos de conduta,
contrato-tipo, etc.);
k) Uma certa privatização das suas fontes, que se manifesta não só na
importância da auto-regulação pelas próprias entidades privadas, mas também na

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 12
Guia do Estudante, Direito Económico.

negociação das fontes públicas, tanto no processo da sua elaboração, como no


momento da sua aplicação.

Ficha de Trabalho

Leia atentamente as questões que se seguem e responda com clareza, objectividade e


sempre que necessário indique justificadamente a base legal que ostenta a sua
resposta.
1. Quais são os elementos que devem conter na definição do Direito Económico?

2. Direito Económico não tem algumas características clássicas (codificação,


autonomia processual, magistratura específica), porquê o Direito Económico é
considerado um novo ramo do Direito em formação?

3. Qual é a diferença entre o Direito da Economia e o Direito Económico?

4. Qual é a relação entre a Economia e o Direito. Demostre esta relação dando


exemplos concretos.

5. Debruce-se da origem e de Desenvolvimento do Direito Económico como uma


disciplina autónoma. Justifique porquê nos países Anglo-Saxónicos, o Direito Económico
não foi considerado disciplina autónoma?

6. Justifique porquê o Direito Económico tem uma meia caminhada para a sua
autonomização.

7. Qual é o objecto do estudo do Direito Económico e justifique a sua resposta.

8. Qual é a natureza do Direito Económico e porquê?

9. Porquê na definição das fronteiras do Direito Económico relativamente a outros


ramos de Direito levanta naturalmente algumas dificuldades?
10. Quais são as características que se manifestam no Direito Económico?

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 13
Guia do Estudante, Direito Económico.

CAPÍTULO II. FONTES DE DIREITO ECONÓMICO

2.1. Noção de fontes de direito


Existem vários sentidos na definição de fontes de direito (Obras de Introdução ao
Estudo de Direito de Professores Inocêncio Galvão Telles, Mário B. Chorão, Isabel
Rocha, João Castro Mendes), mas o sentido que mais nos interessa é o sentido técnico
jurídico, que define fonte de direito como modos de formação (Lei) e revelação das
normas jurídicas (costume, jurisprudência e doutrina). São consideradas fontes de
Direito Económico, as seguintes:
 Fontes internas ou nacionais;
 Fontes externas ou internacionais;
 Fontes de origem mista ou privada.

2.2. Fontes internas ou nacionais


i) A Constituição da República, ela contém um conjunto extenso de preceitos
basilares que se referem directamente à economia e que constitui a essência da
Constituição Económica (do título IV, artigos 96º e seguintes da CRM/2004);

ii) Os actos normativos (Leis da Assembleia da República e Decretos-Leis do


Conselho de Ministros), artigo 143º da CRM/2004, estes regem, directa ou
indirectamente aspectos da ordem económica. Trata-se de Leis-directriz (como a Lei
Plano) e Leis-medida (aplicáveis a um circuito restrito de pessoas ou a um número
limitado de casos);

iii) Regulamentos do Governo (quer sob forma de decreto, quer quando


determinados por lei regulamentar; quer no caso de regulamentos autónomos – artigo
143/4 da CRM/2004, resoluções, etc.). Os regulamentos constituem, ainda hoje, uma
significativa fonte de Direito Económico, o que corresponde a uma antiga tradição,
podendo dizer-se que a intervenção económica do Estado se processou muitas vezes
através de regulamentos. (esta é a fonte mais importante do Direito Económico);

iv) Os avisos do Banco de Moçambique, obrigatórios para as restantes bancas,


artigo 143º/5 da CRM/2004;

2.3. Fontes externas ou internacionais (artigos 17º e 18º da CRM/2004)

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 14
Guia do Estudante, Direito Económico.

i) As convenções internacionais a que Moçambique esteja vinculado em


matéria económica;
ii) Os tratados provenientes das comunidades ou direito comunitário, os seus
regulamentos que contêm normas de carácter geral, obrigatórias, directamente
aplicáveis em todos Estados membros e as directivas que contêm normas de carácter
geral que vinculam os Estados membros, deixando-lhes, contudo, a liberdade de escolha
quanto aos meios e à forma - são fontes mediatas.

2.4. Fontes de origem mista ou privada


i) Fontes de origem mistas
As decisões, os acordos ou pareceres emanados dos organismos de
concertação económica e social (como o Conselho Económico e Social). São várias as
formas contratuais estabelecidas entre o Estado e os particulares. Refere-se ainda a
importância dos contratos-programa e de outras formas de contratação económica
entre entes públicos e privados.

ii) Fontes de origem privadas


Avultam a regulamentação das actividades económicas pelas associações
profissionais, nomeadamente através de decisões internas ou de códigos de conduta,
particularmente difundidos entre nós na esfera financeira; os usos da actividade
económica internos ou internacionais e, designadamente, as práticas negociais, que se
traduzem em contratos-tipo ou contratos de adesão sucessivamente reutilizados em
determinados ramos da actividade económica, as decisões vinculativas dos grupos de
sociedades, etc.

iii) As decisões jurisprudenciais e administrativas


As decisões emanadas dos tribunais (judiciais comuns, administrativos, fiscais,
aduaneiros, laborais, etc) revestem um papel muito importante como sinais para a
orientação dos agentes económicos.
Neste contexto, é justo salientar, no plano nacional e comunitário, a importância,
quase decisiva, da jurisprudência económica do Tribunal Supremo, do Tribunal
Administrativo e as decisões da administração económica.

2.5. O problema dos princípios gerais do direito (PGD) como fontes de Direito
Económico

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 15
Guia do Estudante, Direito Económico.

No conjunto das fontes do Direito Económico não constam os Princípios Gerais do


Direito, mesmo porque os princípios existentes neste Direito ainda não configuram seus
princípios gerais. De resto, os princípios gerais do direito tendem a desaparecer neste
Direito.
A título de exemplo, o princípio geral de direito de que a violação da norma,
directa ou indirectamente, cuja aplicação cabe a determinados órgãos do Estado tende a
ser substituído, em muitos casos, pela “coercibilidade económica”.
NOTA: Portanto, os princípios gerais do direito não são fontes do Direito
Económico

Ficha de Trabalho

Leia atentamente as questões que se seguem e responda com clareza, objectividade e


sempre que necessário indique justificadamente a base legal que ostenta a sua
resposta.
1. Quais são as fontes de Direito Económico? Indique a fonte mais importante no
Direito Económico e justifique a sua escolha.
2. Podemos considerar os Princípios Gerais do Direito como sendo fonte de Direito
Económico? Argumente.

CAPÍTULO III. CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA

3.1. Noção da Constituição e Constituição Económica


a) Noção da Constituição
Constituição, segundo o constitucionalista moçambicano, AMÉRICO SIMANGO,
“é um documento estruturador do poder político”. Exerce uma função organizativa
porque estabelece os órgãos do Estado, seus fins, funções e competências;
regulamenta a titularidade e as formas de exercício e controle do poder; declara os

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 16
Guia do Estudante, Direito Económico.

direitos individuais dos cidadãos e prevê os sistemas de garantias e especialmente de


fiscalização do cumprimento das suas disposições.

b) Noção da Constituição Económica


Constituição Económica, segundo ANTÓNIO CARLOS DOS SANTOS, “é o
conjunto de normas e princípios constitucionais relativo às actividades económicas”.

3.2. Classificação da Constituição Económica


a) Quanto à estrutura:
i. Constituição Económica Formal
Formalmente, a constituição económica é parte económica da constituição do
Estado onde está contido o ordenamento essencial da actividade económica,
desenvolvida pelos indivíduos, pelas pessoas colectivas ou pelo Estado.
Esse ordenamento é basicamente constituído pelas liberdades, direitos, deveres e
responsabilidades destas entidades no exercício daquela actividade.
Neste sentido, a Constituição Económica é conformadora das restantes normas
da ordem jurídica da economia, conformação essa que é feita através de normas
estatutárias ou de garantia das características básicas de um sistema que se pretende
proteger (ex. Garantis do sector privado) e, de normas directivas ou programáticas
onde se apontam as suas principais linhas de evolução (como incumbe o Estado de
promover o aumento do bem-estar social e económico).

ii. Constituição Económica Material


Materialmente, a Constituição Económica é um núcleo essencial e normas
jurídicas que rege o sistema e os princípios básicos das instituições económicas, quer
constem ou não do texto constitucional.
NOTA: É esse sentido que nos interessa porque permite a integração de um
conjunto de leis que são fundamentais na definição da ordem jus-económica, tais como
as leis de concorrência ou as leis que regulam a actividade específica de determinados
sectores económicos.

b) Quanto à formação jurídica:


i. Constituição Económica Explícita
É aquela que se traduz na formalização de um conjunto de princípios e normas
que tendem a caracterizar o sistema económico na globalidade, com objectivos de

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 17
Guia do Estudante, Direito Económico.

orientação dos seus agentes, de enquadramento das instituições da economia e


definição dos fins e programas de evolução do sistema económico.

ii. Constituição Económica Implícita


É uma ordem jurídica da economia, que incorpora sempre uma constituição
económica, de cujos princípios essenciais decorre, ou com os quais deverá ser
minimamente coerente, mas não explicitamente.

c) Quanto ao conteúdo:
i. Constituição Económica Capitalista
A Constituição Económica Capitalista que por sua vez pode ser liberal,
intervencionista e dirigista, caracterizadas pela liberdade de iniciativa privada,
liberdade de imprensa, liberdade de trabalho e liberdade de consumo, caracterizadas
pela liberdade de iniciativa privada, liberdade de imprensa, liberdade de trabalho e
liberdade de consumo, baseada pelo princípio de propriedade privada, tendo o mercado
como a instituição instrumental de regulação da economia e com uma abstenção total do
Estado.

ii. Constituição Económica Socialista


A Constituição Económica Socialista pode ser centralizada e autogestionária
que se caracterizam pela iniciativa pública, apropriação colectiva dos meios de
produção, plano central e imperativo e gestão imperativa da economia.

iii. Constituição Económica Mista


Que congrega a Constituição Económica Capitalista e Socialista ao mesmo
tempo.

d) Quanto ao enquadramento político:


i. Constituição Económica de Regime Democrático
Regula o poder do povo nas actividades económicas (liberdade de expressão,
liberdade de consumo, liberdade de comércio, liberdade de empresa, etc.)

ii. A Constituição Económica de Regime Autocrático

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 18
Guia do Estudante, Direito Económico.

A Constituição Económica de Regime Autocrático pode ser autoritário e


totalitário, pois, regulam o poder de um determinado grupo de pessoas – a minoria (Rei
e a sua família real) em detrimento da maioria.

e) Quanto ao modo de regulação do sistema ou função:


i. A Constituição Económica Estatutária
Tem a função de garantir a ordem económica existente.

ii. A Constituição Económica Programática


Estabelece um programa político-económico visando reformar a ordem
económica existente.

3.2.2. Funções da Constituição Económica


São funções da Constituição Económica:
 Garantia dos direitos, liberdades e garantias do domínio económico;
 Delimitação dos poderes do Estado, das entidades menores e dos grupos sociais no
domínio económico;
 Delimitação dos objectivos socioeconómicos a prosseguir pelo Estado ou por outras
entidades;
 Definição dos elementos jurídicos do sistema económico e do regime económico,
bem como os princípios gerais da ordem jurídica económica;
 Formulação de tarefas económicas gerais do Estado e de critérios jurídicos para
selecção dos objectivos da política económica;
 Definição de modelos de reformas estruturais (reforma fiscal, descentralização, etc);
 Formulação de um processo de evolução histórica que visa a construção de novos
sistemas económicos.

3.3. Constituição Económica e Ordem Jurídica da Economia


Ordem Jurídica da Economia é o conjunto de normas e princípios jurídicos
relativos a economia, emanadas pelo legislador ordinário, isto é, a maioria parlamentar e
ao executivo de cada momento.
A Constituição Económica é pois necessariamente menos ampla do que a ordem
jurídica económica visto que não inclui todas as suas normas e princípios, mas apenas
normas e princípios básicos.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 19
Guia do Estudante, Direito Económico.

Exemplo: A Constituição atribui direitos aos consumidores, mas é ao legislador


ordinário que compete estabelecer as garantias desses direitos.
Apesar de prevalência das normas constitucionais relativamente às da restante
ordem jurídica da económica, há uma margem de liberdade que qualquer constituição
deixa ao legislador ordinário, no uso da qual este poderá fazer evoluir e variar a ordem
jurídica da economia. Essa liberdade tem os seus limites, mais ou menos apertados, os
quais dependem do tipo de constituição económica.

3.4. A Constituição Económica na história das Constituições (generalidade)


"O problema da Constituição Económica como problema jurídico específico,
acompanha o desenvolvimento da regulação pública das economias de mercado,
na passagem do capitalismo concorrencional ao capitalismo organizado".
1º. As Constituições Liberais
A relativa ausência de normas económicas nas constituições liberais do século
XIX, não significa a inexistência de uma constituição económica.
Primeiro, a Constituição Económica tinha normas com incidência, directa ou
indirecta, na ordem económica (ex. Direito de propriedade e a liberdade de comércio e
indústria);
Segundo, a relativa ignorância de outros aspectos da vida económica revela a
auto-demissão do Estado, em geral, de uma intervenção correctiva na economia.
Em suma: a constituição económica era implícita, desorganizada e o Estado era
“Guarda nocturno” o que quer dizer o mercado era definido pelo povo, o Estado só
ajudava na implementação dessas regras.

2º. A Constituição de Weimar


Foi a Constituição de Weimar (Alemã) de 1919 a primeira a introduzir uma
secção especialmente dedicada ao enquadramento da vida económica, embora outras
constituições anteriores – como a mexicana (1917) e a Soviética (1918) – contivessem
já uma ordem económica explícita.

3º. Constituições que foram inspirados na de Weimar


A Constituição de Weimar inspirou constituições posteriores – como a espanhola
(1931), a portuguesa (1933) e a brasileira (1934). Depois da 2ª Guerra Mundial,
surgiram a constituição francesa (1946) e a italiana (1947).

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 20
Guia do Estudante, Direito Económico.

A ordem constitucional da economia passa, assim, a servir, não só para garantir o


livre funcionamento do mercado, mas também para anunciar formas de hetero-
regulação necessárias ao seu equilíbrio. Consagra direitos dos trabalhadores, dos
consumidores, ao ambiente e impõe obrigações ao Estado relativas à sua efectivação.
Garantindo os direitos fundamentais dos agentes económicos contra o Estado ou,
contra quem a eles atentar e, as restantes condições necessárias ao funcionamento do
mercado, a Constituição Económica enuncia igualmente os poderes e faculdades que o
Estado pode usar para modelar o sistema económico.

3.5. A Constituição Económica na história das Constituições Moçambicanas


a) Constituição da República Popular de Moçambique (CRPM/1975)
Aprovada na sequência da independência em 25 de Junho de 1975, o texto
originário desta constituição caracterizava-se em matéria da organização económica,
principalmente, pelo facto de garantir as transformações revolucionárias ao nível
económico.
Em Moçambique verificou-se um êxodo de portugueses e de alguns indianos no
período entre transição e pós-independência, que foi acompanhado por uma
“sabotagem” da economia de Moçambique, que pode ser caracterizada pelo
esvaziamento das contas bancárias, fraudes na importação de mercadorias e
exportações ilegais de bens (carros, tractores, maquinarias, etc.).
Na mesma altura, empresas portuguesas procederam ao repatriamento do activo
e dos saldos existentes, criando assim um rombo na economia de Moçambique.
Assim a CRPM/1975 consagra expressamente:
 O Sistema Socialista (artigos 4º/5, 6º, 10º, 11º, 13º e 22º), através da
apropriação colectiva dos principais meios de produção, solos e recursos naturais
(artigo 8º);
 Garante as nacionalizações, proibindo-se as privatizações;
 Prescreve a realização de reforma agrária (artigo 9º);
 Prevê a predominância da propriedade social;
 Atribui ao sector público e ao sector cooperativo particular importância (artigo 10º,
in fine e artigo 11º).

Assim, a CRPM/1975 foi uma Constituição Económica


 Quanto à estrutura: material;
 Quanto à forma jurídica: explícita;

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 21
Guia do Estudante, Direito Económico.

 Quanto ao conteúdo: socialista centralizada;


 Quanto ao enquadramento político: de regime democrático popular;
 Quanto ao modo de regulação do sistema ou função: programático.

b) A Constituição da República de Moçambique de 1990 (CRM/1990)


Depois de uma fase económica centralmente planificada, em 1985 dão-se os
primeiros passos para a sua liberalização, o que leva a uma transição.
Visando reverter as tendências negativas do crescimento económico através de
um reajustamento estrutural em 1987 é introduzido o Programa de Reabilitação
Económica (PRE) e em 1990 o Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES).
O Programa de Ajustamento Estrutural é um pacote que envolve o livre comércio,
a desregulamentação e a privatização.
A revisão constitucional de 1990 procedeu a várias alterações importantes:
 Uma certa neutralização ideológica de vários preceitos constitucionais com
esbatimento de normas programáticas de índole socialista (artigo 41º/1);
 Uma relativa flexibilização do sistema, mediante a atenuação da intervenção
pública na economia (artigo 49º/2, 41º/1 e 2, 42º e 43º);
 Maior consideração conferida à iniciativa privada (Economia do Mercado), vide
último parágrafo do preâmbulo da CRM/1990;
 Emerge um processo de descentralização política e administrativa (artigo 4º);
 Permite eleições multipartidárias (artigo 77º e 73º/2); a liberdade de imprensa
(artigo 74º/1) e o direito a greve (artigo 91º/1).

A CRM/1990 era:
 Quanto à estrutura: material;
 Quanto à forma jurídica: explícita (artigos 35º e seguintes);
 Quanto ao conteúdo: capitalista intervencionista (artigo 41º/1);
 Quanto ao enquadramento político: de regime democrático e de justiça social
(artigos 1º, 2º e 6º, alínea c));
 Quanto ao modo de regulação do sistema ou função: programático.

c) A Constituição da República de Moçambique de 2004 (CRM/2004)


Actualmente a CRM/2004 consagra um modelo de economia de mercado,
impondo ou permitindo a regulamentação pública de alguns aspectos do seu

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 22
Guia do Estudante, Direito Económico.

funcionamento, salvaguardando os direitos próprios dos trabalhadores e dos


consumidores enquanto limites ao poder económico privado ou público.
Esse modelo de equilíbrio entre a economia de mercado e o interesse público e
social projecta-se em vários preceitos da constituição.
Para garantir “a garantia económica e social”, artigo 3º, verifica-se na
CRM/2004:
 A subordinação do poder económico ao poder político (artigo 101º);
 A pluralidade de sectores de actividade económica e de formas de iniciativas,
pública, privada e cooperativa (artigo 97º alínea d) e 99º);
 A planificação democrática da economia e a intervenção democrática dos
trabalhadores (artigo 112º conjugado com artigo 84º);
 Paralelamente, defende-se a propriedade privada (artigo
97º alínea d) e 99º/3);
 Estabelece a liberdade de imprensa (artigo 48º/1), favorece a concorrência, define-se
a posição central do sector privado e permite-se as reprivatizações (artigo 83º/1, 97º
alínea d), 99º/3 e 107º);
 Atribui-se ao Estado incumbência em matéria de ostentação e controlo da actividade
económica e de distribuição de rendimentos (artigos 101º e 112º/2);
 Estipula-se a segurança do emprego e o direito a greve (artigos 112º/1, 84º e 87º);
 Concede-se o direito a informação ao consumidor (artigo 92º/1);
 Proíbe-se a publicidade enganosa (artigo 92º/2);
 Protege-se a qualidade ambiental (artigo 90º/1), etc.....

Características da CRM/2004:
 Quanto à estrutura: material;
 Quanto à forma jurídica: explícita (artigos 96º e seguintes);
 Quanto ao conteúdo: capitalista intervencionista (artigos 99º e 101º);
 Quanto ao enquadramento político: de regime democrático e de justiça social
(artigos 1º, 2º, 3º, 28º, 73º e 214º)
 Quanto ao modo de regulação do sistema ou função: programático (artigos 101º/1,
102º, 105º/2 e 106º).

3.6. A localização da Constituição Económica no texto constitucional de 2004

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 23
Guia do Estudante, Direito Económico.

Os artigos que compõem a Constituição Económica distribuem-se por diferentes


partes do texto constitucional. Assim, acompanhado a sistematização da CRM/2004,
pode-se dizer que fazem parte da Constituição Económica:
a) Alguns princípios fundamentais, artigo 11º alínea d);
b) No Capítulo V do Título III, encontramos os direitos e deveres económicos,
sociais e culturais dos cidadãos, incluindo os direitos e liberdades dos
trabalhadores os direitos e liberdades dos trabalhadores (artigos 84º à 87º), o
direito ao ambiente (artigo 90º), direito dos consumidores (artigo 92º), etc;
c) No Título IV, encontramos a Organização Económica, Social, Financeira e
Fiscal (artigos 96º e seguintes):
 Capítulo I. Princípios Gerais (artigos 96º à 100º);
 Capítulo II. Organização Económica (artigos 101º à 111º);
 Capítulo III. Organização Social (artigos 112º à 118º);
 Capítulo IV. Organização Financeira e Fiscal (artigos 128º à 132º)
d) E no Título V refere-se à Organização do Poder Político, as normas que
permitem aferir a distribuição de competências para definição da política económica
pelos órgãos de soberania e, nos limites materiais de revisão (artigo 292º), as alíneas
que dizem respeito à organização económica.

3.7. Sistema Económico


a) Noção do Sistema Económico
Sistema Económico é a forma típica e global de organização e funcionamento da
economia, baseados em princípios fundamentais que regem economias com estruturas
diferentes, ou seja, é a estrutura de enquadramento da constituição económica (uma
definição nova).

b) Sistema Económico e Política Económica


Política Económica é a aplicação de certas medidas tendentes a regulação da
economia no caminho apropriado ou desejado, ora, é conjunto de acções praticados pelo
Governo para condicionar, conduzir e definir as balizas do sistema económico (vide
artigos 96º e 97º da CRM/2004)
A regulação da política económica é efectuada em sectores, ora vejamos:
 A política agrária, artigo 103º da CRM/2004;
 As políticas comerciais e industriais, artigos 104º e 92º da CRM/2004;
 A política familiar, artigo 105º/2 da CRM/2004;

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 24
Guia do Estudante, Direito Económico.

 A política de produção de pequena escala, artigo 106º da CRM/2004;


 As políticas monetárias e financeiras, artigos 12º e seguintes da CRM/2004.

c) Sistema Económico e Regime Económico


Regime Económico é a forma diversa de como o poder político se articula com a
realidade económica.
O termo regime é visto em várias acepções como:
 Forma política do poder;
 Formas de poderes sociais (sindicatos patronais, dos trabalhadores, etc.);
 Os próprios poderes económicos (princípio de subordinação do sistema económico
ao poder político).
Existem três (3) regimes económicos, a destacar:
1. Regime económico abstencionista, existe uma liberdade económica dos
sujeitos, liberdade esta que é concedida pelo Estado aos agentes económicos;
2. Regime económico intervencionista, o Estado intervêm para corrigir e defender,
não para dirigir (intervêm através da elaboração de normas e de produção de leis de
mercado);
3. Regime económico dirigista, o Estado procura dirigir a economia, sem suprir as
instituições de economia de mercado (o Estado é que detêm maior parte dos meios de
produção) ex. Alemanha (Nazismo), Portugal (Corporativismo).

d) Sistema Económico e Forma Económica


Forma Económica é a qualificação de um sistema económico, que designa os
modos típicos de formação de um determinado sistema, diferenciados com vários
critérios:
 Forma e unidade da produção;
 Técnicas de produção;
 Organização dos sujeitos económicos;
 Modo de coordenação;
 Relação entre o Estado e a actividade económica.

e) Tipos de Sistemas Económicos


Existem dois (2) tipos de sistemas económicos, a saber:
1. Sistemas económicos concretos:
i. Sistema comunitário primitivo

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 25
Guia do Estudante, Direito Económico.

 Havia o uso de instrumentos mais rudimentares;


 Não havia propriedade dos meios de produção;
 Não havia diferenciação social e nem divisão de classes;
 Só foram introduzidas no neolíticos novas técnicas agrícolas;
 As actividades básicas nesses tempos foram: agricultura e artesanato.

ii. Sistema Grego-Romano ou Esclavagista


 Desenvolvimento da agricultura e artesanato;
 Intensificação da escravatura e consequente acumulação da riqueza por parte dos
donos dos escravos;
 Começou-se a se assistir a construção de diques, canais de irrigação, estradas,
pontes e fortificações;
 Desenvolve-se a arte e letra;
 Surge o desejo de ocupar mais terras para a prática da agricultura.

iii. Sistema feudal


 Senhor feudal tinha elevadas porções de terras, é ele que tinha o direito de vender e
de comprar produtos luxuosos;
 A agricultura era a actividade económica dominante;
 Não havia mercado, pois, os bens só tinham valor de uso.

2. Sistemas económicos abstractos:


i. Sistema de economia de mercado (capitalista)
 Assenta-se no princípio da propriedade privada, no princípio da liberdade económica e
no espírito de lucro;
 Baseado no mecanismo de mercado (jogo da lei da procura e oferta);
 Tem como objectivo principal alcançar o máximo possível do lucro;
 Não está sujeito a orientação nem controlo estatal (princípio da liberdade individual dos
agentes económicos);
 Apesar de existirem políticas governamentais, o centro de decisão, em princípio, é a
empresa privada;
 As empresas, agindo individualmente, integram com os consumidores no mercado,
onde vigoram preços livres, artigo 97º da CRM/2004;

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 26
Guia do Estudante, Direito Económico.

 A satisfação das necessidades da sociedade é conseguida unicamente pela busca de


cada um por si só de satisfazer as suas próprias necessidades.

ii. Sistema de economia planificada (socialista)


 Caracterizada pela apropriação pública dos meios de produção;
 Existe uma tendência de desaparecimento da propriedade e da iniciativa privada, pela
gestão administrativa da economia e pela subordinação da actividade económica ao
plano;
 A satisfação de necessidades é um fim em si, pois, o objectivo de lucro não existe
(o Estado satisfaz as necessidades da colectividade e não individual);
 Este sistema económico é predominante no leste europeu (CUBA, VIETNAM,
MONGÓLIA) e, nos últimos anos entrou em crise resultante das contradições
inerentes ao próprio sistema.

3.8. Os direitos e deveres fundamentais com incidência na ordem económica


 Direitos, liberdades e garantias e direitos e deveres económicos
Na CRM/2004 os direitos fundamentais são reconhecidos, ora como direitos,
liberdades e garantias (capítulo III, artigos 56º-72º), ora como, direitos e deveres
económicos (capítulo IV, artigos 82º-95º).
DIFERENÇAS:
Na 1ª categoria (direitos, liberdades e garantias) incluem a maioria dos direitos
que definem a posição jurídica do indivíduo (pessoa, cidadão ou trabalhador) face ao
Estado, delimitando negativamente a sua esfera de interferência.
Na 2ª categoria (direitos e garantias económicas) encontramos sobretudo,
ainda que não exclusivamente, os direitos de indivíduos ou organizações, as prestações
positivas por parte do Estado.
Entre os direitos, liberdades e garantias, incluem-se alguns dos direitos dos
trabalhadores (como segurança no emprego) e, entre os direitos e deveres económicos
e sociais, para além dos restantes direitos dos trabalhadores, o direito de propriedade,
direito de iniciativa privada, os direitos dos consumidores e o direito ao ambiente na
medida em que é relevante para o desenvolvimento da actividade económica.

 O direito dos trabalhadores

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 27
Guia do Estudante, Direito Económico.

A CRM/2004 não define trabalhador mas tendo em conta a sua natureza, define-
se trabalhador por conta de outrem e seus principais destinatários é essa concepção
concretizada pela Lei nº 23/2007, de 01 de Agosto, Lei de Trabalho.
Os direitos dos trabalhadores são reconhecidos em sede de direitos e liberdades
fundamentais e de direitos e deveres económicos. Alguns direitos são atribuídos
directamente ao trabalhador individual, enquanto outros o são atribuídos às suas
organizações.

a) A segurança no emprego
Entre os direitos, liberdades e garantias encontramos o direito à segurança no
emprego e a proibição do despedimento sem justa causa (artigo 85º/2 e 3 da
CRM/2004) que visam limitar a plena disponibilidade sobre as relações de trabalho por
parte da entidade patronal. Por esse motivo a garantia deste direito dos trabalhadores
implica restrições ao direito de livre iniciativa privada, pública ou cooperativo. A
CRM/2004 acolhe o modelo de estabilidade do emprego no lugar do modelo de
mobilidade.

b) Os direitos das organizações dos trabalhadores


Ainda entre os direitos, liberdades e garantias encontram-se os direitos
atribuídos às organizações representativos dos trabalhadores: liberdade sindical
(artigo 86º/1 da CRM/2004), direito à greve e proibição de lock-out (artigo 87º da
CRM/2004).

c) Direito ao trabalho
Por último, no campo dos direitos, económicos e sociais, a CRM/2004 garante o
direito ao trabalho (artigo 84º).
Este deve ser entendido como um direito a uma prestação positiva por parte do
Estado, consistindo no desenvolvimento de políticas que assegurem o máximo de
emprego possível e a igualdade de oportunidades e de formação específica e genérica e
não um direito subjectivo a um concreto posto de trabalho.
A CRM/2004 consagra ainda um conjunto de direitos aos trabalhadores relativos à
retribuição e segurança no emprego bem como direito de descanso semanal direito
de descanso semanal, férias e reforma nos termos legais, vide artigo 85º.
 Os direitos dos consumidores

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 28
Guia do Estudante, Direito Económico.

A defesa no consumidor assenta uma consagração constitucional contida no


artigo 92º da CRM/2004 que insere os direitos dos consumidores no plano dos direitos
e deveres fundamentais dos cidadãos em matéria económica.
Mas antes, não podemos escusar de apresentarmos as noções de
consumidores e fornecedores, podemos ver no Glossário da Lei nº 22/2009, de 28
de Setembro, Lei de Defesa dos Consumidores.

“CONSUMIDOR – Todo aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados


serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados ao uso não profissional, ou tarefa,
por pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade económica que vise a
obtenção de benefícios”;

“FORNECEDOR – Todas as pessoas singulares ou colectivas, públicas ou


privadas com carácter profissional (incluindo profissionais liberais), que habitualmente
desenvolvem actividades de produção, fabrico, importação, construção, distribuição ou
comercialização de bens ou serviços a consumidores, mediante a cobrança de um
preço”.
Assim, constituem direitos dos consumidores legalmente, artigo 92º da CRM/2004
conjugado com artigo 5º da Lei de defesa dos consumidores, os seguintes:
a) Direito à qualidade de bens e serviços;
b) Direito à protecção da vida, saúde e da segurança física;
c) Direito a formação e à educação para o consumo;
d) Direito a informação para o consumo;
e) Direito de protecção dos interesses económicos;
f) Direito de prevenção e à reparação dos danos patrimoniais ou não patrimoniais
que resultem da ofensa de interesses ou direitos individuais homogéneos, colectivos ou
difusos;
g) Direito a protecção jurídica e uma justiça acessível e pronta;
h) Direito de participação, por via representativa, na definição legal ou administrativa
dos seus direitos e interesses;
i) Direito de protecção contra a publicidade enganosa e abusiva.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 29
Guia do Estudante, Direito Económico.

Questões de Reflexão
em sala de aula.

1. Quais são os factores de ordem económica e social que justificam a


crescente importância da protecção jurídica do consumidor?
2. Quais são os eixos de protecção dos consumidores?
(DEBATES)

Ficha de Trabalho

Leia atentamente as questões que se seguem e responda com clareza, objectividade e


sempre que necessário indique justificadamente a base legal que ostenta a sua
resposta.

1. Quais são os traços característicos de distinção entre constituição económica e


ordem jurídica económica?

2. A Constituição Económica como conjunto de normas e princípios que regulam a


actividade económica é muito importante na organização económica de um país.
Apresente as funções da Constituição Económica.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 30
Guia do Estudante, Direito Económico.

3. Demonstre as diferenciações que existe na classificação da constituição


económica.

4. A Constituição Económica na história das constituições moçambicanas começou


a sua análise em 1975. Faça o estudo completo, classificando a CRM/2004 e sempre
justifique legalmente a sua escolha.

5. Segundo dos SANTOS, António Carlos. Direito Económico (2001‫׃‬33), "O


problema da Constituição Económica como problema jurídico específico,
acompanha o desenvolvimento da regulação pública das economias de mercado,
na passagem do capitalismo concorrencional ao capitalismo organizado". Que
matéria de Direito Económica se trata? Justifique exaustivamente a sua resposta.

6. Qual é a relação que existe entre Sistema, Política, Regime e Forma económicas?

7. Quais são os tipos de Sistemas Económicos que conheces? Apresente a


diferenciação.

8. Quais são as diferenças entre direitos, liberdades e garantias e direitos e


garantias económicas? Apresente exemplos concretos e sempre ilustrando a base legal.

CAPÍTULO IV. ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA


A garantia da existência de três sectores de titularidade dos meios de produção –
público, privado e cooperativo – artigo 99º da CRM/2004; pois, esses são os
principais sectores de propriedade dos meios de produção.

4.1. Sectores de propriedade dos meios de produção


A. Sector Público
O sector público tem que ser entendido no âmbito das incumbências gerais do
Estado em matéria económica e social e articulado com as outras formas de regulação
constitucionalmente previstas.
De acordo com o artigo 99º/2 da CRM/2004, o sector público é constituído pelos
meios de produção cujas propriedades e gestão pertencem ao Estado ou outras
entidades públicas. Assim sendo, fazem parte do sector público os meios de produção
públicos geridos directamente pela Administração Pública (ex. Sob forma de serviços
públicos económicos) ou por outras entidades públicas que poderão assumir a forma de
institutos públicos, empresas públicas, sociedades de capitais públicas ou sociedades de

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 31
Guia do Estudante, Direito Económico.

capitais mistos quando maioritariamente controlados pelo Estado e desde que este tenha
também a maioria dos órgãos de gestão.
Através do sector público, o Estado produz bens e serviços, ora em
concorrência com as empresas privadas ou cooperativas (ex. TPB,TPN,TPM), ora em
monopólio natural ou legalmente protegido (ex.EDM).

B. Sector Privado
Embora o modelo constitucional tenha como base uma economia mista, na prática
é no sector privado que se concentra a actividade económica. Essa actividade
organiza-se e desenvolve-se livremente de acordo com os objectivos que lhes são
inerentes, sujeitando-se aos condicionalismos e às restrições constitucional ou
legalmente previstas, já referidas a propósito da liberdade da iniciativa privada.
A CRM/2004 garantiu desde a sua versão inicial (1975), a existência de um sector
privado, o qual é hoje constituído por bens e unidades de produção cuja propriedade ou
gestão pertençam a pessoas singulares ou colectivas privadas (artigo 99º/3).
O sector privado abrangem todos os meios de produção que sejam propriedade
de entidades privadas, excepto se forem geridos por cooperativas em obediência aos
princípios cooperativos, pertencem também ao sector privado todos os meios de
produção que sejam propriedades públicas mas cuja gestão tenha sido por via de
contrato ou não, entregue a entidades privadas. Podem ser bens de domínio público ou
de empresas públicas cuja gestão tenha sido concedida a entidades privadas ou
simplesmente empresas de capital misto em que o Estado não tenha nomeado a maioria
dos gestores, tendo a isso direito, além de todas as restantes onde o Estado seja
maioritário.

C. Sector Cooperativo (Lei nº 23/2009, de 08 de Setembro)


Quanto ao terceiro sector – sector cooperativo e social – ele possui também a
sua filosofia em matéria de objectivos, combinando os económicos e os sociais que
reflectem na sua organização.
O sector cooperativo e social compreende os meios de produção geridos por
cooperativas de acordo com os princípios cooperativos (independentemente de forma de
propriedade, que tanto pode ser pública, privada ou cooperativo); os meios de produção
comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais; os meios de produção e de
exploração colectiva por trabalhadores e; os meios de produção geridos por pessoas

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 32
Guia do Estudante, Direito Económico.

colectivas sem carácter lucrativa e com objectivos de solidariedade social segundo o


artigo 99º/4 da CRM/2004.

Questões de Reflexão
em sala de aula.

i. Qual é a origem do movimento cooperativo a nível geral? E a nível de


Moçambique?
ii. Quais as características das cooperativas?
iii. Quais os princípios das cooperativas?

4.2. Do Estado produtor ao Estado regulador


A CRM/2004 no seu artigo 101º atribui ao Estado diferentes funções na
organização do processo económico, é possível agrupá-las de modo aproximado em
dois (2) grandes tipos:
1. Aqueles em que o Estado aparece como empresário – Estado produtor de bens
e serviços. Nesta função o Estado tem como objectivos, a redistribuição do
rendimento, por exemplo, tanto pode ser obtida através da produção directa pelo Estado
de bens ou serviços a preços mais baixos que os mercados, como meio de subsídios a
outros produtores ou aos consumidores ou pela fixação de preços máximos;

2. Aquela em que cabe regular (condicionar, fiscalizar ou planear e promover) as


actividades económicas de terceiros – Estado regulador, os quais, sendo na sua maior
parte agentes económicos privados, podem também ser cooperativos ou mesmo público.
Nesta função o Estado tem como objectivos, possibilitar e condicionar positiva
(incentivos) ou negativamente (proibição) a actividade económica de terceiros na
qualidade de agente exterior ao mercado. O Estado usa mecanismos de natureza
política legal, ou, em certas circunstâncias meios contratuais.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 33
Guia do Estudante, Direito Económico.

 Regulação de natureza geral:


a) Competências genéricas
A CRM/2004 mantém um vasto conjunto de tarefas de regulação pública em
matéria de organização económica.
Em primeiro lugar, ao Estado são atribuídos, no artigo 88º da CRM/2004, as
tarefas necessárias à efectivação dos direitos fundamentais, em especial daqueles
que constituem direitos a acções positivas por parte do Estado: proteger o consumidor
(artigo 92º), proteger os recursos naturais e o equilíbrio ecológico em matéria de políticas
energéticas (artigo 90º), direito ao trabalho (artigo 84º), etc.
Em segundo lugar, estão reservados para o Estado algumas tarefas em matéria
de orientação e controlo da actividade económica, nomeadamente, a de assegurar a
plena utilização dos recursos e zelar pela eficiência do sector público, assegurar a
concorrência entre empresas e reprimir abusos do poder económico.
Por último, em matéria de competências gerais, proceder à promoção da
solidariedade principalmente através da distribuição de rendimentos: proporcionar o
aumento do bem-estar social e económico e melhoria da qualidade de vida em especial
das classes mais desfavorecidas.
b) A defesa da concorrência
O mercado é o principal instrumento de coordenação da economia. A sua
importância deriva não só de o plano ter apenas funções de enquadramento, como ainda
de a CRM/2004 lhe reconhecer expressamente esse papel essencial ao encarregar o
Estado de assegurar uma equilibrada concorrência entre empresas e contrair formas de
organização monopolistas, ou seja, de garantir um efectivo funcionamento do mercado,
nas suas componentes necessárias.

c) O planeamento
Uma das formas de orientação do mercado é o plano e a CRM/2004 prevê a
elaboração pelo Governo de planos de desenvolvimento económico e social como meio
de assegurar algum controlo e orientação do poder económico pelo poder político e
permitir a democratização do sistema económico, através da participação dos vários
agentes económicos organizados, vide artigos 128º e 129º.

 A regulação de natureza sectorial


a) A política agrícola

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 34
Guia do Estudante, Direito Económico.

No campo da política agrícola, o actual texto constitucional, CRM/2004, deixou,


por um lado, de se referir à “reforma agrária” e, por outro lado, de sublinhar uma
preferência tão clara pelos pequenos agricultores, artigo 103º.

b) As políticas comercial e industrial


Consagradas nos artigos 104 e 92º da CRM/2004 numa clara preocupação de
equilíbrio sistemático à título do exemplo, o Estado garantir os direitos dos
consumidores, etc.

c) As políticas monetárias e financeiras


Artigos 126º e seguintes, todos da CRM/2004.

d) Política orçamental
Artigos 130º e seguintes todos da CRM/2004.

 Os órgãos de definição da política económica


A Política Económica do Estado é dirigida à construção das bases fundamentais
de desenvolvimento, à melhoria das condições de vida do povo, ao reforço da soberania
do Estado e à consolidação da unidade nacional, através da participação dos cidadãos,
bem como utilização eficiente dos recursos humanos e materiais, vide artigo 96º/1 da
CRM/2004.

a) O Governo
É ao Governo que compete em grande medida a definição da política económica,
como de condução da política geral do país (vide artigo 204º/1, alíneas e) e f) da
CRM/2004).

b) A Assembleia da República
Embora que o Governo seja competente na definição da política económica,
dependem de aprovação da Assembleia da República. Os artigos 179º e seguintes da
CRM/2004, definem as matérias da competência da Assembleia da República,
destacam-se; a apreciação do programa do Governo (artigo 179º/2, alínea j));
aprovação das grandes opções do plano e do orçamento (artigo 179º/2, alínea l) e m));
a concessão da autorização ao Governo para contrair e conceder empréstimos e realizar
outras operações de crédito que não seja dívidas flutuantes, definindo as respectivas

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 35
Guia do Estudante, Direito Económico.

condições gerais e estabelecendo o limite máximo dos avales e conceder em cada ano
pelo Governo (artigo 179º/2, alínea p))

c) As Autarquias Locais (Municípios)


A definição da política económica específica para os municípios (autarquias
locais) é da competência dos órgãos autárquicos aprovam designadamente o plano
económico, o orçamento municipal e as suas respectivas contas (artigo 8º da CRM/2004
em conjugação com o artigo 7º/3 da Lei nº 02/1997, de 18 de Fevereiro, Lei das
Autarquias Locais).

Ficha de Trabalho

Leia atentamente as questões que se seguem e responda com clareza, objectividade e


sempre que necessário indique justificadamente a base legal que ostenta a sua
resposta.
1. A organização económica e social da República de Moçambique visam a
satisfação das necessidades essenciais da população e a promoção do bem-estar
social e um dos princípios fundamentais é a coexistência do sector público, do
sector privado e do sector cooperativo e social, porquê?
2. Quais são os vastos conjuntos de tarefas de regulação pública em matéria de
organização económica que a CRM prevê?
3. O que é política económica? Quais são os órgãos que fazem esta política?

CAPÍTULO V. O ESTADO COMO REGULADOR DA ECONOMIA

5.1. Noção de regulação pública da economia


A regulação pública da economia consiste no conjunto de medidas legislativas,
administrativas e convencionadas, através das quais o Estado, por si ou por delegação,

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 36
Guia do Estudante, Direito Económico.

determina, controla ou influencia o comportamento dos agentes económicos, tendo em


vista evitar efeitos desses comportamentos que sejam lesivos de interesses socialmente
legítimos, e orientá-los em direcções socialmente desejáveis.
Na sua sequência, o conceito de regulação pública da economia implica alteração do
comportamentos dos agentes económicos (produtores e distribuidores) em relação ao
que seriam se esses comportamentos obedecessem apenas às leis do mercado ou a
formas de auto-regulação.

5.2. Âmbito da regulação


A regulação pode ter diferentes amplitudes de um ponto de vista territorial ou
material:
a) De um ponto de vista territorial ou geográfico, o seu âmbito pode ser mundial,
regional, nacional ou local. Por exemplo, a actividade de uma empresa moçambicana do
sector têxtil pode ser simultaneamente regulada por normas de vocação mundial (OMC),
regional (SADC) e nacional (direito económico que lhe seja aplicável) ou local (no caso
de haver um programa especial para a desenvolvimento da área do país onde a
empresa se situe). Uma das principais e mais importantes características da regulação
pública é a interpenetração, a hierarquização e a dependência entre os níveis de
regulação. Por exemplo, a actividade da empresa moçambicana de têxteis será afectada
por regulação pública. Podem ser:
i. a nível local – ex. através de um programa de criação de emprego e de apoio através
de incentivos fiscais locais;
ii. a nível nacional – ex. através de planos de apoio ao sector têxtil;
iii. a nível regional da África Austral – ex. através do estabelecimento de acordos
preferenciais no âmbito da SADC;
iv. a nível mundial – por vias das grandes linhas orientadoras negociadas no âmbito da
OMC.

b) De um ponto de vista material, a regulação pública dirige-se ao conjunto da


economia (por exemplo, através do plano, das normas de concorrência, das normas de
defesa do consumidor ou do ambiente); a um sector (ex. os transportes, as
telecomunicações, os têxteis, etc); a um tipo de empresas (ex. pequenas e médias
empresas) ou a uma actividade específica (ex. a exportação, a agricultura).

5.3. Tipos de regulação da economia

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 37
Guia do Estudante, Direito Económico.

Em função dos seus objectivos, as medidas de regulação pública podem ser


agrupadas em duas categorias básicas:
a) A primeira compreende as que visam restringir a liberdade de iniciativa
económica, em qualquer das suas componentes: acesso, organização ou exercício da
actividade económica, esta forma de regulação é tradicionalmente designado por polícia
económica e opera através de medidas de carácter preventivo e repressivo. No primeiro
caso (preventivo) trata-se por exemplo, de proibir-se ou condicionar-se o exercício de
certas actividades económicas (ex. através da proibição de instalação de bombas de
gasolina ou de vendas de bebidas alcoólicas junto a escolas) e, no segundo caso
(repressivo) têm práticas ilícitas tipifica-se em vista a repressão de práticas ilícitas
tipificadas na lei. Esta regulação significa sempre que os destinatários das normas
assumem deveres. Como grandes exemplos deste tipo de regulação, temos o regime de
acesso, licenciamento e exercício de uma actividade, particularmente no que respeita à
matéria de concorrência e preços.

b) A segunda categoria compreende as medidas que contêm indicações,


incentivos, apoios ou auxílios aos agentes económicos, para que assumam
determinados comportamentos favoráveis ao desenvolvimento de políticas públicas,
nomeadamente económicas e sociais. Os planos de desenvolvimento e os diversos tipos
de auxílios concedidos pelo Estado às empresas enquadram-se nesta categoria. Daí
advêm ónus ou faculdades para os seus destinatários.

5.4. Procedimentos de regulação


a) Procedimentos unilaterais
Trata-se de medidas imperativas, de natureza legislativa e/ou administrativa, de
âmbito geral ou individual, limitadoras da liberdade dos agentes económicos ou dando-
lhes algumas vantagens condicionadas a determinados comportamentos.
Ex. Actos administrativos de carácter preventivo (licenças), actos repressivos
(aplicação de sanções de natureza civil, administrativa ou penal), actos de controlo
(inspecções) e incentivos condicionados a determinados comportamentos dos
agentes económicos (ex. dar emprego a deficientes ou dar primeiros empregos)
quando a lei confere à Administração o poder discricionário para proceder a esse
julgamento.
O plano económico e social, embora negociado na sua elaboração e execução, é
originariamente, um procedimento unilateral de orientação e enquadramento.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 38
Guia do Estudante, Direito Económico.

b) Procedimentos negociados
Trata-se da crescente privatização dos instrumentos de regulação económica da
Administração complementando ou substituindo os actos administrativos unilaterais por
acordos de incitação ou de colaboração com os destinatários da regulação.

Pesquisa Científica

TRABALHO INDIVIDUAL DE PESQUISA CIENTÍFICA


Tema. Capítulo VI. O Estado como produtor de bens e serviços
6.1. Intervenção do Estado na Gestão da Empresa Privada (Ver o Decreto nº
16/1975**)
6.2. A Empresa Pública e Empresa Estatal
A. Empresa Pública (vide a Lei nº 17/1991, de 03 de Agosto**)
 Noção da empresa pública;
 Personalidade jurídica da empresa pública;
 Autonomia administrativa da empresa pública;
 Autonomia financeira da empresa pública;
 Autonomia patrimonial da empresa pública;
 Criação e extinção da empresa pública;
 Órgãos da empresa pública;
 A intervenção do governo na empresa pública;
 Regime de tutela e superintendência na empresa pública;
 A gestão económica da empresa pública;
 O direito aplicável às empresas públicas.
B. Empresa Estatal (vide a Lei nº 02/1981, de 10 de Setembro**)
 Noção da empresa estatal;
 Transição de empresa estatal para empresa pública.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 39
Guia do Estudante, Direito Económico.

6.3. As Sociedades de Capitais Públicas e de Economia Mista (ver o Decreto nº


46/2001, de 21 de Dezembro**)
6.4. Quadro Geral das principais Empresas e Sociedades Moçambicanas.

*Abaixo estão descritas um conjunto de empresas e sociedades moçambicanas, faça a


correspondência adequada.
Tipos de empresas/sociedades Designação
1. Participação do Estado em
Empresa Privada
2. Empresas Estatais

3. Empresas Públicas

4. Empresas Privadas com


participação de Empresas Públicas
5. Sociedade Anónimas de Capital
Pública
Transportes Públicos de Nampula (TPN);FACIM,RM,Delta de Zambeze (15%); TDM;
LAM; Campo edificado de Pande e Temane (30%); Empresa Nacional de
Hidrocarbonetos; INTERMACANO; MCEL (26%); MOZAL (3.85%); Transportes Públicos
de Maputo (TPM);Porto de Pesca da Beira; TVM; MEDICOM; PETROMOC; Hidráulica de
Choque; Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos; Empresa Nacional de
Hidrocarbonetos; Companhia Moçambicana de Gasodutos; Empresa Moçambicana de
Dragagem; CFM; Aeroportos de Moçambique; Empresa Nacional dos Correios de
Moçambique; Transportes Públicos da Beira (TPB); HCB (92.5%).

NB. O trabalho deve conter: capa, índice, introdução, desenvolvimento, conclusão e


bibliografia. Deve utilizar a letra 12, Times New Roman. Os estudantes irão fazer a
apresentação do trabalho, usando o método expositivo-explicativo.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 40
Guia do Estudante, Direito Económico.

Ficha de Trabalho

Leia atentamente as questões que se seguem e responda com clareza, objectividade e


sempre que necessário indique justificadamente a base legal que ostenta a sua
resposta.
1. Demonstre os traços distintivos entre Empresa Pública e Empresa Estatal.
2. “Não é aplicável a extinção de uma empresa pública pelas regras aplicáveis à
dissolução e liquidação das sociedades nem pelos estatutos de falência e insolvência”.
Justifique a afirmação.
3. Duma forma justifica, explique como o governo moçambicano intervém na
Electricidade de Moçambique, uma vez que ela tem personalidade jurídica, autonomia
administrativa, financeira e patrimonial.
4. Indique e explique os princípios da gestão das empresas públicas.
5. Segundo o Economista, Professor Doutor José Mosca, “as Empresas Estatais nos
últimos anos tendem a transitarem para empresa pública”. Argumente.
6. Qual é a diferença entre sociedades de capitais públicas e sociedades de
economia mista?

CAPÍTULO VII. DIREITO ECONÓMICO E PLANEAMENTO


7.1. Noção, elaboração e execução do plano
a) Noção do plano
O Plano é um acto jurídico que se situa entre os pólos da (tradicional) acepção da
generalidade e abstracção da norma (legal ou regulamentar) e os actos de conteúdo
concreto, que definem ou criam situações jurídicas individuais (para o Estado, para os
particulares e para ambos).
Pode haver diversos tipos de actos-planos ou actos programa de que se
destacam os principais:

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 41
Guia do Estudante, Direito Económico.

 Os orçamentos do Estado e outras entidades públicas (é o mais antigo exemplo


plano);
 Os planos técnicos, são: planos de urbanização e planos directores; programas
de obras públicas; plano de ordenação do território, etc.
 O plano económico e social é um acto jurídico que define e hierarquiza
objectivos a prosseguir no domínio económico-social durante um determinado período
de tempo, estabelecendo acções destinadas a prossegui-los e pode definir os
mecanismos necessários à sua implementação.

b) Elaboração do plano económico


Convém saber sucessivamente quais os órgãos que participam na elaboração do
plano, pois, as fases da sua elaboração coincidem com as de elaboração das leis,
excepto a fase de vocatio legis que não existe nos planos:
A. Os órgãos especializados
 O comissário-geral do plano;
 As comissões especializadas (comissões de modernização);
 O conselho do plano;
 O conselho central de planificação.

B. A participação dos órgãos gerais do Estado na elaboração do plano


 O Governo (Conselho de Ministros), com destaque ao Ministério das Finanças;
 Os órgãos técnicos (organismos da contabilidade nacional, direcção da previsão);
 Um órgão consultivo: Conselho Económico e Social;
 A Assembleia da República.

c) A execução do plano
O problema e o regime jurídico da execução do plano são naturalmente
dominados pelo carácter indicativo e não obrigatório do plano. Este carácter leva à
ausência de sanções por falta de execução do plano. Mas, à falta de sanções, existem
meios de execução, mais ou menos eficazes, entre os quais (1) os meios de execução
no sector público relativamente aos investimentos do próprio Estado das Empresas
Públicas e no (2) sector privado relativamente aos investimentos das empresas
privadas.

7.2. Natureza Jurídica do plano

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 42
Guia do Estudante, Direito Económico.

O plano apresenta-se sob forma de um volumoso documento publicado no jornal


oficial em “anexo” a uma lei que se reduz a um artigo único e tem por único objectivo
aprová-lo, mas esta apresentação não diz nada sobre a natureza jurídica do plano. Pois,
o problema da natureza jurídica do plano até hoje é discutida, mas segundo a doutrina
dominante tipifica o plano como um acto jurídico “sui generis” apontando-lhe uma
juridicidade directa e imediata relativamente ao Estado e meramente indirecta, através
das obrigações impostas ao Estado, para as entidades independentes do Estado.

7.3. As medidas e meios de implementação de planos (e das políticas gerais do


Estado)
I. Sector Privado
 As medidas coercivas;
 Os estímulos psicológicos;
 Os processos de incitamento (concessão de benefícios ou vantagens).

II. Sector Público


a) Aspectos de ordem administrativa:
 Empresas Públicas, o Governo exerce um controlo efectivo e através delas
influência a economia no seu todo.
 Papel das Autarquias Locais, coordenação, nem sempre fácil com o poder central;
b) Aspectos orçamentais:
 Orçamentos anual e sectorial.

7.4. Os auxílios do Estado. Tipos de auxílios


A Administração moçambicana contou, durante muito tempo com diversos
organismos especiais, constituídos durante o “Estado Novo”, dotados de autonomia, cuja
função específica era o fomento económico para a política de ajudas ao
desenvolvimento económico, foi o caso entre outros, do Fundo de Fomento da
Indústria, do Fundo de Fomento à Exportação, do Fundo de Fomento Florestal e
Agrícola, do Fundo de Fomento de Melhoramento Agrícola, do Fundo de Fomento
dos Têxteis, do Fundo de Fomento de Habitação, etc.

7.5. O planeamento democrático e a democratização no planeamento


O planeamento é o conjunto de documentos onde se definem as grandes metas
macroeconómicas e de desenvolvimento económico-social, bem como as linhas gerais

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 43
Guia do Estudante, Direito Económico.

de orientação da acção do Estado e de coordenação entre as políticas económicas, que


se programam as medidas de auxílios às actividades económicas para o período a que
corresponde a sua execução.

O planeamento democrático da economia permaneceu, porém, como um dos


princípios fundamentais da organização económica (artigo 96º e 101º da CRM/2004).
Este princípio remete-nos para sistema de planeamento e a sua orgânica (política,
técnica e participativa). A qualificação do sistema de planeamento como democrático
implica, desde logo, a atribuição à Assembleia da República da competência para a
aprovação das grandes opções dos planos que o Governo desenvolve por decreto-lei
(artigo 128º, 179º/2, alíneas j), l), m e artigo 198º todos da CRM/2004). Uma outra
expressão desse princípio é a intervenção no processo de planeamento de órgãos de
participação, nomeadamente, o Conselho Económico e Social (artigo 96º e seguintes
da CRM/2004).

A democratização do planeamento, existem três níveis de planeamento:


1º. Nível: Grandes opções (grandes orientações estratégicas) dos planos com
definição das opções globais e sectoriais, a aprovar pela Assembleia da República por
forma de lei, sob proposta do Governo;
2º. Nível: Planos anuais, aprovado pelo Governo, que contempla as medidas a
concretizar por este órgão no ano a que respeitam e a correspondente programação
financeira expressa no orçamento do Estado (artigo 130º/2 da CRM/2004).
3º. Nível: Planos a médio prazo, aprovado pelo Governo, e que contêm a
estratégia de desenvolvimento económico e social para o período de cada legislatura.

Em obediência ao princípio democrático do planeamento, a aprovação das


grandes opções pela Assembleia da República deve ser entendida como conditio sine
qua non de adopção de quaisquer planos pelo Governo. À Assembleia da República
cabe ainda apreciar os relatórios de execução dos planos (artigo 129º/2 da CRM/2004)
Como princípios orientadores do sistema de planeamento, destaca-se quanto à
elaboração dos planos, o princípio da supletividade da intervenção do Estado face ao
livre funcionamento da iniciativa privada e do mercado, o princípio da coordenação dos
planos com os instrumentos comunitários e princípio da participação social e quanto à
sua execução, os princípios de compatibilização com o orçamento e da execução
descentralizada provincial e sectorialmente (artigo 129º/3 da CRM/2004).

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 44
Guia do Estudante, Direito Económico.

O princípio da participação exprime-se na intervenção do Conselho Económico e


Social no processo de elaboração dos planos bem como na apreciação dos relatórios da
sua execução, pois, esta intervenção é de carácter consultivo, é prévia à aprovação
dos planos pelo Governo.
Os planos apesar de aprovados por instrumentos legislativos, constituem
essencialmente documentos conformadores da direcção política, económica e social
que, como tal, vinculando embora o Estado, não vinculam os agentes económicos,
todavia, no sentido de promover a adequação dos agentes económicos aos objectivos
fixados nos planos, o Estado utiliza incentivos de vária ordem, por meio de adopção de
regimes legais de ajuda às empresas e às actividades económicas, recorrendo a
procedimentos unilaterais ou negociados (contratos-programa).
Fora do âmbito do planeamento económico e social com crescente relevo na
ordem jurídica moçambicana, com a democratização dos planeamentos surgem certos
instrumentos específicos de planeamento técnico, com incidência indirecta na actividade
económica e indirecta na esfera do ambiente e da qualidade de vida e o mais importante
é a atribuição do Estado de ordenar e promover o ordenamento do território e que se
traduz em formas de planeamento territorial.
Neste domínio temos planos urbanísticos que constituem um instrumento de
programação e de coordenação de decisões administrativas individuais com incidência
na ocupação da terra (vide os artigos 109º, 110º e 111º todos da CRM/2004). Ora
existem diversas espécies de planeamento territorial, de que as mais importantes são:
 Os planos regionais de ordenação territorial (PROT), concebidos como
instrumentos de carácter programático e normativo que definem a estratégia regional e
de desenvolvimento territorial, integrando as opções estabelecidas a nível nacional e
considerando as estratégias municipais e de desenvolvimento local, constituindo o
quadro de referência para a elaboração dos planos municipais de ordenamento de
território.
 Os planos municipais de ordenamento de território (PMOT), que estabelecem
um ordenamento integral do território de um município ou parte deste, disciplinando os
usos e destinos de espaços através de planos directores municipais (PDM) e de planos
de urbanização (vide artigo 43º/3, alínea d) da Lei nº 02/1997, de 18 de Fevereiro –
Lei das Autarquias Locais).

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 45
Guia do Estudante, Direito Económico.

Ficha de Trabalho

Leia atentamente as questões que se seguem e responda com clareza, objectividade e


sempre que necessário indique justificadamente a base legal que ostenta a sua
resposta.
1. Qual é a diferença entre plano e planeamento?

2. Quais os principais tipos de planos que conheces? Indique os e explique os?

3. Porquê que os planos encontram séries dificuldades no âmbito da sua execução?

4. Qual é a natureza jurídica do plano?

5. Como podemos concluir que em Moçambique tem um planeamento democrático?


E quando há uma democratização no planeamento?

6. Fale dos auxílios do Estado.

CAPÍTULO VIII. AS NACIONALIZAÇÕES


8.1. Conceito de nacionalizações e o seu objecto
A criação de sectores públicos empresários com peso significativo nas
economias nacionais encontra-se historicamente ligada a experiência de nacionalização.
Juridicamente, a nacionalização é uma espécie de expropriação, traduzindo-se
na transferência, por acto de autoridade, de uma unidade económica (exploração,
estabelecimento, empresa) da propriedade privada para a propriedade pública. As
características da nacionalização: transferência coactiva e reveste-se de forma de lei
diferentemente com a expropriação: que é um mero acto administrativo.
A nacionalização distingue-se da expropriação propriamente dita tanto pelo seu
objecto, e seu fim, ora vejamos:
A expropriação consiste na desapropriação de qualquer bem privado (terreno,
edifício) em benefício de uma entidade pública ou mesmo privada, por uma variedade de
motivos de utilidade pública (construção de estradas, pontes, linhas férreas,
urbanização, etc). A nacionalização tem sempre por objecto unidades económicas
Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –
Faculdade de Direito, 2012. Page 46
Guia do Estudante, Direito Económico.

(explorações ou empresas agrícolas, comerciais, industriais, ect) por específicos motivos


de intervenção na estrutura do poder económico ou condução da economia. A
expropriação afecta o direito de propriedade sobre bens independentemente da
respectiva função; a nacionalização tem por objecto a propriedade dos meios de
produção, ela é um instrumento de apropriação colectiva dos meios de produção e solos.
É importante saber que os bens dos criminosos que passam para Estado não
estamos perante nacionalização nem expropriação, mas sim confisco. O confisco
configura uma “expropriação-sanção”, ou seja, a perda de bens a favor do Estado,
fundado numa conduta tipificada como criminosa. Sendo uma sanção, não lhe
corresponderá nenhuma indemnização. A CRM/2004 não contempla a figura de
confisco.
Não escusado ainda dizer que, a nacionalização em Moçambique foi no geral
num sentido restrito, excepto a nacionalização da Banca moçambicana que foi num
sentido amplo, porque houve um poder para extinguir os outros bancos e transferir seu
activo e passivo para Banco de Moçambique e teve como fim económico e social.

8.2. O regime jurídico das nacionalizações


Quanto ao regime jurídico, as duas figuras possuem regimes jurídicos em parte
não coincidentes; a expropriação é uma restrição do direito de propriedade em geral e a
nacionalização afecta simultaneamente o direito de propriedade e o direito de iniciativa
privada.
Analisar as seguintes leis:
 Lei nº 16/1975, de 13 de Fevereiro, Nacionalizações por abandono;
 Lei nº 05/1976, Nacionalizações de prédios estrangeiros;
 Lei nº 19/1977, Nacionalizações de empresas onde o Estado tem acções.

a) Os limites constitucionais à nacionalizações


No Direito moçambicano, a nacionalização é uma faculdade constitucional, sujeita
todavia a alguns limites materiais: por um lado, a nacionalização não pode ser
arbitrária, devendo ser justificada à luz do “interesse público”; por outro lado, as
nacionalizações não podem atingir tal extensão que ponham em causa a subsistência do
sector privado a economia, à luz do princípio constitucional da coexistência de
sectores de propriedade e dos direitos de iniciativa e propriedade privada (artigo
97º, alínea d) da CRM/2004).

b) Forma e processo das nacionalizações


Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –
Faculdade de Direito, 2012. Page 47
Guia do Estudante, Direito Económico.

A lei que determina os meios e as formas de intervenção e de apropriação


colectiva dos meios de produção, acrescentando que pertence à reserva relativa de
competência legislativa da Assembleia da República a matéria dos “meios e formas de
intervenção, expropriação, nacionalização dos meios de produção e solos (...)”.
Porém, todo o acto de nacionalização terá de revestir individualmente a forma de
lei ou decreto-lei autorizado.

c) Indemnizações por nacionalizações


A nacionalização ou expropriação de meios de produção confere direito de
indemnização, cabendo à lei estabelecer os respectivos critérios que não são
coincidentes com o clássico princípio da “justa indemnização”, aplicável à expropriação
propriamente dita. A lei diferenciou as indemnizações de acordo com montante a receber
por cada titular, discriminando várias classes de títulos de indemnização, vencendo juros
progressivamente menores os segmentos mais elevados dos montantes a indemnizar.
Tais critérios de indemnização foram, desde o início, contestados pelos interesses
e pelas respectivas associações de interesses, mas não são susceptíveis de censura
sob ponto de vista jurídico-constitucional.

d) O destino das empresas nacionalizadas


A nacionalização, no caso de sociedades, tanto pode abranger todo capital como
apenas uma parte dele, pelo que a situação da empresa, no que respeita ao seu lugar no
controlo dos sectores de propriedade dos meios de produção, depende de extensão do
capital nacionalizado. Normalmente, porém, o objecto das nacionalizações é a
transferência de propriedade privada para o sector público.
No caso mais corrente de nacionalização de empresa ou totalidade do seu capital,
ela passa a pertencer ao Estado. Todavia, uma vez consumada a nacionalização, nada
impede que, em lugar de ser transformada em empresa estatal, ela seja transferida
(quanto à propriedade e/ou gestão) para outras entidades públicas (autarquias locais –
Municípios, Empresas Públicas, Institutos Públicos, Associações Públicas), ou seja,
integrar noutros sectores, nomeadamente no sector cooperativo e social (entregar a
cooperativas ou colectividade de trabalhadores), ou até no sector privado (reprivatização
da sua propriedade ou gestão), este último caso só acontece quando o objecto de
nacionalização tenha sido apenas de alterar a estrutura da propriedade da empresa ou
financiar o capital privado.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 48
Guia do Estudante, Direito Económico.

Ficha de Trabalho

Leia atentamente as questões que se seguem e responda com clareza, objectividade e


sempre que necessário indique justificadamente a base legal que ostenta a sua
resposta.
1. Qual é a diferença entre nacionalização, expropriação e confisco?
2. Como que foi efectuada a nacionalização em Moçambique?
3. Qual é a natureza jurídica da expropriação e da nacionalização?
4. Porque que as indemnizações por expropriação são tidas como justas, mas por
nacionalização até hoje é discutida?
5. Regra geral as empresas nacionalizadas, passam a pertencer ao Estado. Qual
pode ser o outro destino? Justifique?
6. Quais os limites constitucionais à nacionalizações?

CAPÍTULO IX. AS PRIVATIZAÇÕES

9.1. Conceito de privatizações


Em 1989, antes, portanto da Constituição de 90 que haveria de consagrar a
abertura à economia de mercado, o Decreto 21/89 já pretendia regular o novo fenómeno
de alienação de partes do sector público a favor de privados.
O Estado produtor nas suas diferentes manifestações institucionais tem sido
objecto de compreensão do efeito dos processos de privatização. Globalmente a
privatização designa a técnica pela qual o Estado reduz ou modifica a sua intervenção
na economia em favor do sector privado. As formas de alcançar esse objectivo variam
em função das políticas públicas económicas:
- Entende-se a alienação da propriedade dos meios de produção públicas e de
cedência da sua gestão até à abertura de sectores anteriormente vedadas à iniciativa
privada, passando pela liberalização dos regimes legais da actividade económica privada
e ainda pela colaboração de entidades privadas na execução de tarefas públicas.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 49
Guia do Estudante, Direito Económico.

O termo privatização tem vindo a ser utilizado em vários sentidos, a saber:


a) Privatização (sentido estrito) é a transferência total ou parcial da propriedade de
empresas e/ou bens públicos para entidades privadas (neste caso fala-se de
reprivatização) este é o sentido que tem assumido maior importância nos últimos
anos;

b) Igualmente se emprega para designar concessão a entidades privadas, mediante


contrato, da gestão de empresas públicas ou serviços públicos (ex. a exploração de
petróleo ou a gestão de estabelecimentos de saúde);

c) Num outro sentido, menos preciso, o termo privatização é utilizado para designar
a contratação de serviços por entidades públicas a entidades privadas (contracting out
ou out sourcing ou subcontratação de serviços públicos a privados) ex. Mão-de-obra
como limpeza, os refeitórios, etc.;

d) Aparece, também, referida no âmbito das privatizações a abertura à iniciativa


privada de sectores anteriormente explorados pelo sector público em regime de
monopólio (ex. as telecomunicações, a televisão ou a distribuição de energia);

e) A privatização é ainda empregue com o significado de desregulação sempre que


o Estado alivia a carga normativa reguladora de um sector de actividade na produção ou
distribuição de um bem ou serviço (ex. o regime de preços) permitindo o livre
funcionamento das regras de mercado;

f) Finalmente, o termo privatização aparece a qualificar processo de submissão dos


serviços ou das empresas públicas a regras de gestão de natureza privada – entende-se
como privatização formal, que traduz no mero recurso pelo Estado a formas
organizacionais ou regime jurídico de direito privado, para distinguir da privatização
material, que representa a transferência para o sector privado da propriedade ou gestão
de meios de produção públicos.

9.2. Fundamentos das privatizações


As privatizações são um fenómeno relativamente recente, que adquiriu impulso no
final dos anos 70 e durante a década 80 do século XX, inserido num movimento de

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 50
Guia do Estudante, Direito Económico.

redução do papel do Estado na vida económica e social. Vários são os fundamentos


para explicar esse movimento, a destacar:
a) A ineficiência das empresas públicas, provocada, em parte pelo facto de a gestão
pública sacrificar objectivos económico-financeiros e comerciais aos objectivos políticos
e sociais – ex: contracção de empréstimos, redução de tarifas e preços e manutenção do
emprego;

b) A necessidade de diminuir o desequilíbrio dos orçamentos públicos, aliviando-os


dos défices de algumas empresas públicas e acrescendo-os das receitas provenientes
da venda do respectivo capital e património;

c) A intenção de promover o capitalismo popular, ou seja, a distribuição popular de


capital através da participação neste dos trabalhadores das empresas a privatizar.
d) Fundamento de óptica microeconómica, a política de privatização visaria
melhorar o funcionamento das empresas e numa óptica macroeconómica, teria em
vista restaurar em pleno os mecanismos de mercado em determinados sectores e
reduzir o peso do Estado na economia.

9.3. Regime jurídico das privatizações


É a Lei nº 15/91, de 3 de Agosto que irá definir, de forma clara, identificando as
modalidades de alienação a título oneroso de empresas, estabelecimentos, instalações,
quotas e outras formas de participação financeira do Estado. De facto, e mais
profundamente, esta lei veio regular o processo de reestruturação empresarial do Estado
(artigo 3º). Definiram-se os sectores de carácter estratégico que obrigavam à
permanência nas empresas públicas (artigo 4º) independentemente de posterior
alargamento a ser determinado por Decreto do Conselho de Ministros.

9.4. Objectivos actuais das privatizações


Os objectivos para as privatizações são de naturezas diversas: económicos,
financeiros, sociais e políticos.
a) Económicos – modernização e aumento da competitividade económica, reforço
da capacidade empresarial nacional e desenvolvimento do mercado de capitais;
b) Financeiros – diminuição dos encargos com o sector público, utilização das
receitas das privatizações para amortização da dívida pública, da dívida do sector
empresarial do Estado;

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 51
Guia do Estudante, Direito Económico.

c) Sociais – intenção de promover uma ampla participação dos trabalhadores das


próprias empresas e dos pequenos subscritores na titularidade do capital das empresas;
d) Políticos – redução do Estado na economia.

Os objectivos desta reestruturação empresarial do Estado estão contemplados no


artigo 6º da Lei nº 15/91, de 3 de Agosto.

9.5. Os direitos especiais do Estado nas empresas privatizadas


Os direitos especiais do Estado podem parecer incongruentes com a filosofia de
desregulação subjectiva à privatização da gestão e propriedade públicas. Note-se,
porém, que eles encontram-se formulados em termos muito restrito: só serão aplicáveis
a título excepcional e quando razões de interesse nacional o requeiram.
A necessidade de permitir ao Governo o acompanhamento a evolução da
estrutura accionista das empresas privatizadas, tendo em vista o reforço da respectiva
capacidade e eficiência do aparelho produtivo nacional, justificou um outro limite à
liberdade de empresa: a submissão a autorização prévia do Ministério das Finanças da
aquisição por uma só entidade de acções representativas de mais de 10% do capital,
subsequentemente à operação de privatização.

9.6. O fundo de privatizações


O produto gerado pela alienação constituirá receita de um fundo próprio a ser
criado pelo Conselho de Ministros (artigo 25º da Lei nº 15/91, de 3 de Agosto) e essas
receitas terão como destino prioritário:
a) Estimular o investimento em actividades produtivas e de prestação de serviços;
b) Criação de emprego e introdução de novas tecnologias
c) Promoção e dinamização de actividade do empresariado nacional de pequena e
média dimensão;
d) Reinvestimento no sector empresarial do Estado.
Verificamos assim que, na privatização, são aplicados regimes preferenciais e
restrições na aquisição e subscrição de capital:
a) O “capitalismo popular” – a participação dos trabalhadores no capital das
respectivas empresas (regime preferencial);
b) Os limites à concentração de capital – (restrição);
c) Os limites à participação de capital estrangeiro – (restrição);

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 52
Guia do Estudante, Direito Económico.

d) As acções privilegiadas do Estado (golden share) – (regime preferencial para o


Estado).

9.8. Outras leis importantes sobre as privatizações


No seguimento desta Lei 15/91, 3 de Agosto, são de particular importância:
- O Decreto nº 28/91, de 21 de Novembro – regulamenta, mais detalhadamente, o
quadro legal, critérios e modalidades de privatização das empresas, estabelecimentos,
instalações e participações financeiras do Estado;

- A Lei nº 17/92, de 14 de Outubro – clarifica a aquisição de capital por parte de


gestores, técnicos e trabalhadores

- O Decreto nº 19/93, de 14 de Setembro – visa criar condições para regular a situação


jurídica de empresas, prática necessária ao processo de reestruturação do sector
empresarial do Estado;

- O Decreto nº 20/93, de 14 de Setembro - estabelece um regime especial quanto a


modalidades e prazos de realização de participações do capital por parte dos gestores,
técnicos e trabalhadores nacionais;

- A Resolução nº 15/2001, de 10 de Abril – define as linhas gerais da política de


Reestruturação do Sector Empresarial com Participações do Estado.

CAPÍTULO X. CONTRATOS ECONÓMICOS

6.1. Noção de contrato económico


Os contratos económicos constituem um meio de Estado pôr em prática as suas
políticas económicas, tendo em vista assegurar a coerência dos comportamentos das
empresas com aquelas políticas.
Trata-se, segundo J. SÉRVULO CORREIA, de contratos de atribuição, que têm
por causa função atribuir uma certa vantagem ao co-contratante da Administração,
celebrados com fins de intervenção económica. E em caso de conflitos recorre-se aos
Tribunais Comuns, o que se difere de contratos administrativos que se recorre ao
Tribunal Administrativo.

6.2. Natureza jurídica dos contratos económicos

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 53
Guia do Estudante, Direito Económico.

Em regra a celebração de contratos económicos quando as empresas


interessadas preenchem requisitos previamente fixados na lei. Fica, por isso, limitado o
princípio da autonomia da vontade inerente à liberdade contratual. Acresce que a
decisão de celebrar ou não o contrato depende das sociedades administrativas
competentes para apreciar se as empresas reúnem as condições que lhes permitam
fazê-lo. Por esta razão que os designe por actos-condição visto que as empresas, em
muitos casos, se limitam a desencadear aplicação de uma medida previamente definida
na lei.
No entanto, a favor da sua natureza contratual, verifica-se que os contratos
económicos, apresentam como traço comum a aceitação pelas empresas de certas
obrigações, em contrapartida de prestações a que o Estado Estado, por seu lado, se
obriga. Estas obrigações constam de um acordo assinado livremente. É do contrato e
não da lei que resulta as obrigações das empresas; para além disso, uma vez celebrado
o contrato económico, não pode o Estado alterar ou rescindir unilateralmente o contrato,
a não ser por incumprimento da outra parte.
Trata-se de contratos que integram, assim, elementos de direito público e de
direito privado, comprovando-se aqui, claramente, a natureza mista ou híbrida do
direito económico.

6.3. Modalidades dos contratos económicos


a) Contratos-programas – visam, essencialmente, a execução do plano. Ex. Em
matéria de política ambiental;
b) Contrato de desenvolvimento geral – é o caso, por exemplo, de contratos para
o desenvolvimento do sector da exportação e de habitação;
c) Contratos fiscais – vantagens fiscais a troco de um projecto de investimento;
d) Outros contratos económicos, para além das referidas, há diversas outras
modalidades de contratos económicos mais ou menos típicos, como:
 Os “quase contratos” – constituem promessas de comportamento por parte das
empresas para obterem contratos de auxílio financeiro como os de viabilização da
empresa;
 Contratos de auxílio financeiro, que é o caso de viabilização e os acordos de
saneamento económico e financeiro;
 Factoring e leasing são contratos económicos típicos como uma lei especial;
 Fraching (franquia) é um contrato económico atípico onde o franqueador cede o
franqueado uso de tecnologia, marca, nome, insígnia, meios de produção

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 54
Guia do Estudante, Direito Económico.

mediante uma remuneração, podemos ter vários tipos de fraching, mas com
destaque a:
i. Franquia de produção;
ii. Franquia de distribuição;
iii. Franquia de serviços, etc....

CAPÍTULO XI. O FOMENTO ECONÓMICO

11.1. Meios principais do fomento económico


As medidas de estímulo consistem basicamente em prestações da
Administração Pública a favor de actividades de interesse geral desempenhados por
agentes económicos que lhes são estranhos.
Quanto aos meios principais do fomento económico elas podem ser:
e) Em função do seu sentido, assumem formas, tais como, ajudas financeiras, os
benefícios fiscais, a assistência técnica ou mesmo, em determinadas circunstâncias, a
participação pública no capital das empresas.

i. As ajudas de custos, podem ser agrupados em três (3) grandes tipos:


 As entregas directas, incluem os subsídios de exploração, a fundo perdido ou
reembolsáveis, subsídios de equipamento, subsídios para garantir o rendimento;
 As renúncias a crédito, dizem respeito às “situações em que o Estado aceita a
não remuneração de capitais públicos aplicados em empresas ou renúncia a receber
participações em lucros que lhes eram devidas ou, ainda, permite o não cumprimento de
obrigações legais põe parte dos subvencionados”.
 Nos mecanismos de crédito, incluem-se a concessão directa de empréstimos,
simples bonificação e a garantia.

ii. As subvenções fiscais, traduzem, de um ponto de vista substancial, uma


transferência de fundos através da abstenção de tribunais, elas podem ser:
 Desgravamentos fiscais, rendimentos ou parte de rendimentos não
compreendidos na incidência do imposto ou compreendidos, mas isentas;
 Reduções fiscais, somas deduzidas do rendimento bruto para se chegar ao
rendimento colectável;
 Créditos de impostos, somas subtraídas ao imposto devido;
 Desgravamentos especiais da taxa, taxa reduzida de imposto a favor de certos
grupos ou actividades.
Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –
Faculdade de Direito, 2012. Page 55
Guia do Estudante, Direito Económico.

f) Em função do procedimento utilizado na sua actividade (contrato ou acto


unilateral da administração directa ou indirecta) dos destinatários visados (por
exemplo, sector agrícola, pequenas e médias empresas, empresas exportadoras) ou
dos objectivos fixados (cumprimento de um plano, reconversão industrial,
modernização global ou sectorial, manutenção do emprego, cooperação, investigação e
desenvolvimento, substituição de importações, aumento de oferta, por exemplo, de
habitações sociais, competitividade, etc.)

CAPÍTULO XII. DIREITO ECONÓMICO E INVESTIMENTO NACIONAL E


ESTRANGEIRO

12.1. Conceito de investimento estrangeiro


O investimento estrangeiro é o conjunto de actos que têm por objecto, ou que
pode resultar, quanto a uma empresa constituída ou a constituir em Moçambique,
criação de laços económicos estáveis e duradouros, de que resulte, directa ou
indirectamente, isolada ou cumulativamente, a obtenção ou o reforço de efectivo de
decisão, se praticados por ou com a intervenção de:
 Pessoas singulares ou colectivas não residentes em Moçambique;
 Empresas moçambicanas ou estabelecimentos em Moçambique que, por via da
participação no seu capital ou por qualquer outro modo, devam considerar-se
economicamente ligadas, em primeiro ou pessoas singulares ou colectivas não
residentes.

12.2. Os limites ao investimento estrangeiro


Os limites ao investimento estrangeiro e, portanto, os fundamentos de uma recusa
de autorização, estão hoje estritamente indicados. Trata-se das actividades que estejam
ligadas ao exercício de autoridade pública; ou que possam efectar a ordem, segurança
ou saúde pública; ou se reportem à produção ou comércio de armas, munições ou
material de guerra.

12.3. As garantias do investidor estrangeiro


Finalmente, em matéria de garantias, ao investidor estrangeiro assegura-se o direito de
transferência para o exterior de dividendos e lucros, do produto da liquidação do
investimento ou de quaisquer outras importâncias que lhes sejam devidas.

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 56
Guia do Estudante, Direito Económico.

FIM DA SÚMULA

Elaborado por: Augusto Armando Messariamba, Universidade Mussa Bin Bique –


Faculdade de Direito, 2012. Page 57

Você também pode gostar