Você está na página 1de 14

Nélia João Baptista

O PAPEL DO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO NO PROCESSO DE


CONTROLO E FISCALIZAÇÃO DOS ACTOS ADMINISTRATIVO

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distancia

Quelimane, Junho de 2020


Nélia João Baptista

O PAPEL DO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO NO PROCESSO DE


CONTROLO E FISCALIZAÇÃO DOS ACTOS ADMINISTRATIVO

Trabalho de Investigação, da
Disciplina de Contencioso
Administrativo e Tributário, do 3°
ano, como requisito parcial para a
obtenção de grau de Licenciatura em
Direito

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distancia

Quelimane, Junho de 2020

ii
Índice

Introdução ..................................................................................................................... 1

Objectivo Geral ............................................................................................................. 2

Objectivos específicos .................................................................................................. 2

Metodologia .................................................................................................................. 3

1. O papel do tribunal administrativo no processo de controlo e fiscalização dos actos


administrativos .............................................................................................................. 4

1.1. Breve Historial ................................................................................................... 4

1.2. Competências do Tribunal Administrativo ........................................................ 5

1.3. Estrutura do Tribunal Administrativo ................................................................ 5

1.4. Funcionamento do Tribunal Administrativo...................................................... 6

1.5. Finalidade da Fiscalização dos Actos Administrativos ..................................... 6

1.7. Controlo e fiscalização da conta geral do Estado .............................................. 8

2. Considerações finais ............................................................................................ 10

3. Referências bibliográficas ................................................................................... 11


Introdução
O presente trabalho de pesquisa vincula- se ao tema “O Papel do Tribunal administrativo
no processo de controlo e fiscalização dos actos administrativo”. Ora, sabe – se que o
tribunal administrativo é uma instituição pública cujo o objectivo é meramente garantir a
Justiça Administrativa, Fiscal e Aduaneira ao cidadão, bem como o controlo da boa gestão
e da utilização dos dinheiros públicos, portanto para o cumprimento desta missão torna –
se imprescindível adoptar mecanismos de controlo e fiscalização mais eficazes e
eficientes.

As democracias pressupõem a existência de entidades que controlam a legalidade da


acção administrativa do Estado. Uma dessas entidades, no ordenamento jurídico
moçambicano, é o Tribunal Administrativo (TA), de que se espera rectidão e um papel
incisivo no combate à corrupção e promoção da integridade pública. Mas, afinal, o TA é
o primeiro a infringir a lei, pois faz a gestão dos fundos do erário público que lhe são
alocados de forma danosa, violando por conseguinte o quadro legal vigente das Finanças
Públicas.

1
Objectivo Geral

Compreender o Papel do Tribunal administrativo no processo de controlo e fiscalização


dos actos administrativo

Objectivos específicos

• Apresentar breve historial sobre o Tribunal Administrativo em Moçambique;


• Descrever as competências do tribunal administrativo;
• Debruçar sobre a finalidade do controlo e fiscalização dos actos administrativos

2
Metodologia

Visto que a pesquisa é de caráter exploratório e de suma importância para o sucesso do


objetivo final, adotou-se a revisão de literatura, relacionada com o objeto de estudo,
caracterizado por uma pesquisa bibliográfica documental ou de fontes secundárias.
Marconi e Lakatos (2002 p. 58) comentam que:
1
“... as fontes secundárias possibilitam não só resolver os problemas já
conhecidos, mas também explorar novas áreas onde os problemas
ainda não se caracterizam suficientemente. Assim, a pesquisa
bibliográfica propicia a investigação de determinado assunto sob um
novo enfoque ou abordagem.”

No presente estudo, adotou-se como principais fontes de pesquisa: livros, trabalhos


acadêmicos, artigos científicos, regulamentos e avulsos, bem como consultas à internet,
cujo aporte técnico direcionou a operacionalização do conhecimento.

1
Lakatos e Marconi (2002). Metodologia do Trabalho Científico.7ª Edição. Atlas

3
1. O PAPEL DO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO NO PROCESSO DE
CONTROLO E FISCALIZAÇÃO DOS ACTOS ADMINISTRATIVOS
1.1.Breve Historial
De acordo com Caetano (2001), a menção de um “Tribunal Administrativo” aparece pela,
primeira vez, na história da justiça administrativa de Moçambique, na Segunda Carta
Orgânica das Colónias Portuguesas aprovada pelo Decreto de 1 de Dezembro de 1869,
reformando a Administração Pública. Nessa altura chamava-se Conselho de Província.

Segundo Medauar (1998), no dia 4 de Outubro de 1926 criou-se um tribunal privativo de


contencioso, denominado Tribunal Administrativo, Fiscal e de Contas.

Segundo Coelho (2002), em 15 de Novembro de 1933, o Decreto-Lei n.º 23.229,


conhecido como Reforma Administrativa Ultramarina (RAU), reconhece a existência de
Tribunais Administrativos a par do Conselho Superior das Colónias. A Reforma
Administrativa Ultramarina consagra o princípio da independência destes tribunais face
ao Poder Executivo. No que se refere às competências, a Reforma Administrativa
Ultramarina distribui-as pelas Secções do Contencioso Administrativo, Contencioso
Fiscal e Aduaneiro, Contas e Consultas.

Segundo Justen (2000), a Constituição de 25 de Junho de 1975, alterada em 13 de Agosto


de 1978, não menciona formalmente a existência do Tribunal Administrativo ou de uma
jurisdição administrativa. No entanto, o Tribunal Administrativo, Fiscal e de Contas,
herdado da organização judiciária colonial, sempre existiu. Este foi extinto formalmente
ao abrigo do artigo 44 da Lei 5/ 92, de 6 de Maio (“É extinto o Tribunal Administrativo,
Fiscal e de Contas de Moçambique”), o que supõe que ele funcionava, pelo menos
teoricamente.

De acordo com Melo (2003), a Constituição de 30 de Novembro de 1990, consagra a


existência, na ordem jurídica moçambicana, do Tribunal Administrativo, atribuindo a
este, como competências, em termos gerais, o controlo da legalidade dos actos
administrativo e a fiscalização da legalidade das despesas públicas. Compete ainda ao
Tribunal Administrativo o exercício da jurisdição fiscal e aduaneira, em instância única
ou em segunda instância.

No entender de Ferraz (2003), a lei fundamental de 16 de Novembro de 2004, no seu


artigo 223 reafirma a existência do Tribunal Administrativo e suas competências no mapa
jurídico moçambicano.

4
Segundo Di Pietro (2003), as atribuições e competências do Tribunal Administrativo O
Tribunal Administrativo é o órgão superior da hierarquia dos tribunais administrativos,
fiscais e aduaneiros, conforme o artigo 228 da Constituição da República.

1.2. Competências do Tribunal Administrativo

Como estabelece o artigo 230, da Constituição da República de 2004, conjugado com o


artigo 4 da Lei n.º 25/2009, são competências do Tribunal Administrativo, as seguintes:

• Julgar as acções que tenham por objecto litígios emergentes das relações jurídicas
administrativas;

• Julgar os recursos contenciosos interpostos das decisões dos órgãos do Estado, dos
respectivos titulares e agentes;

• Conhecer dos recursos interpostos das decisões proferidas pelos tribunais


administrativos, fiscais e aduaneiros;

• Emitir o Relatório e o Parecer sobre a Conta Geral do Estado;

• Fiscalizar, previamente, a legalidade e a cobertura orçamental dos actos e contratos


sujeitos à jurisdição do Tribunal Administrativo;

• Fiscalizar, sucessiva e concomitantemente os dinheiros públicos;

• Fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros obtidos no estrangeiro, nomeadamente


através de empréstimos, subsídios, avales e donativos.

•O controlo da legalidade dos actos administrativos e da aplicação das normas


regulamentares emitidas pela Administração Pública, que não sejam da competência dos
tribunais fiscais e aduaneiros;

• A fiscalização da legalidade das despesas públicas e a respectiva efectivação da


responsabilidade por infracção financeira;

1.3.Estrutura do Tribunal Administrativo

De acordo com o artigo 18 da Lei n.º 25/2009, o Tribunal Administrativo está estruturado
em três Secções, a saber:

• Primeira Secção - Área do Contencioso Administrativo;

• Segunda Secção - Área do Contencioso Fiscal e Aduaneiro

5
• Terceira Secção - Área da fiscalização das receitas e despesas públicas.

A Terceira Secção compreende:

A primeira subsecção - área do visto;

A segunda subsecção - área da fiscalização das receitas e das despesas públicas.

1.4.Funcionamento do Tribunal Administrativo

Ao abrigo do artigo 25 da Lei n.º 25/2009, o Tribunal Administrativo funciona em


plenário, por secções e por subsecções. O Tribunal Administrativo só pode funcionar em
plenário com a presença de metade mais um dos juízes conselheiros em efectividade de
funções.

1.5.Finalidade da Fiscalização dos Actos Administrativos

Conceder o Visto dos actos ou contratos praticados ou celebrados pela Administração


Pública que não efermem de irregularidades;

Proceder a Anotação aos actos ou contratos praticados ou celebrados pela Administração


Pública, nos termos da lei;

Certificar as Contas de Gerência ou processos de Auditoria tidas como livres de quaisquer


vício;

Recusar o Visto nos actos ou contratos que estejam quinados de vícios;

Julgar os processos de Contas de Gerência e de Auditorias e efectivar a responsabilização


financeira aos gestores que tenham cometido alguma infracção;

Conceder Quitação aos gestores considerados livres de qualquer responsabilidade


financeira.

Para Gasparine (2002) no âmbito da fiscalização prévia, através do Visto, verificara


conformidade com as leis em vigor e o cabimento orçamental dos seguintes actos
praticados por órgãos e soberania ou seus Titulares, pelo Primeiro-Ministro e por
membros do Conselho de Ministros:

• Os contratos, de qualquer natureza, celebrados por entidades sujeitas à jurisdição


do Tribunal;
• As minutas dos contratos nos termos da legislação relativa à fiscalização prévia;

6
• As minutas de contratos de qualquer valor que venham a celebrar-se por escritura
pública e cujos encargos tenham de ser satisfeitos no acto da sua celebração;
• Os diplomas e despachos relativos à admissão de pessoal não vinculado à função
pública, assim como todas as admissões em categorias de ingresso na
administração pública. orçamental dos actos e contratos sujeitos à jurisdição do
Tribunal Administrativo;
• Fiscalizar, sucessiva e concomitantemente os dinheiros públicos;
• Fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros obtidos o estrangeiro,
nomeadamente través de empréstimos, subsídios, avales e donativos.

Segundo Meirelles (2001) no âmbito da fiscalização concomitante e sucessiva:

• Proceder à fiscalização concomitante e sucessiva dos dinheiros públicos, no


âmbito das competências conferidas por lei incluindo a avaliação segundo
critérios de economia, eficácia e eficiência;
• Proceder à fiscalização da aplicação dos recursos financeiros obtidos através de
empréstimos, subsídios, avales e donativos, no âmbito da administração pública
central;
• Apreciar e decidir os processos de prestação de contas das entidades sobre sua
jurisdição conhecer e decidir sobre outras matérias atribuídas por lei;
1.6.Resultados da Fiscalização dos Actos Administrativos

Redução do número de execução de actos e contractos celebrados entre a administração


pública e particulares, sem a prévia submissão à Jurisdição Administrativo, para efeito de
fiscalização;

Aumento de número de contractos submetidos à Jurisdição Administrativo, para o efeitos


a anotação;

Diminuição de número de processos devolvidos pela Jurisdição Administrativo, para


efeito de correcção;

Diminuição de número de processos recusados pela Jurisdição Administrativo, no âmbito


da fiscalização prévia;

Aumento da cultura de prestação de contas.

7
1.7.Controlo e fiscalização da conta geral do Estado

De acordo com o jornal LUSA, citado pelo portal Moçambique para Todos2, o Tribunal
Administrativo de Moçambique considera que várias instituições do Estado não
canalizaram receitas para o tesouro em 2014, realizaram investimentos não orçamentados
e executaram despesas inapropriadas incorrendo em desvio de aplicação.

Num parecer sobre a Conta Geral do Estado (CGE) de 2014, que a Assembleia da
República de Moçambique começou a debater hoje, o Tribunal Administrativo refere que
nem todas as receitas ingressaram na Conta Única do Tesouro (CUT), tal como prevê a
legislação financeira moçambicana.

"Todos os recursos públicos devem ser centralizados com vista a uma maior capacidade
de gestão, dentro dos princípios de eficácia, eficiência e economicidade", considera
aquela instância judicial moçambicana, que exerce também as funções de Tribunal de
Contas no país.

Figueiredo (2001) afirma que nas entidades auditadas, prossegue o parecer, subsistem
deficiências na organização dos arquivos, o que não permite a localização fácil dos
documentos comprovativos das receitas coletadas e das despesas executadas.

O Tribunal Administrativo observa ainda que da análise da CGE de 2014 constatam-se


ainda dotações orçamentais não solicitadas pelas instituições supostamente beneficiárias
e redistribuições de dotações de umas verbas para outras, sem se obedecer aos
procedimentos e limites estatuídos na lei.

Segundo Kelsen (1994), durante o debate parlamentar, a bancada da Frente de Libertação


de Moçambique (Frelimo), partido no poder e que detém a maioria na Assembleia da
República, defendeu a aprovação da CGE, assinalando avanços na elaboração do
documento.

"A Assembleia da República deve reconhecer os esforços e avanços do Governo na


elaboração da CGE, apesar de certas imperfeições que ainda se verificam", declarou
Moreira Vasco, deputado da Frelimo.

2
Tribunal Administrativo moçambicano critica Conta Geral do Estado disponível em
https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2016/06/tribunal-administrativo-
mo%C3%A7ambicano-critica-conta-geral-do-estado.html acesso aos 02/06/2020 pelas 06:56 Min

8
Por seu turno, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido de
oposição, defendeu o chumbo da CGE, criticando a ausência no documento das chamadas
dívidas escondidas, contraídas pelo Governo entre 2013 e 2014.

"O país foi endividado às escondidas e esses empréstimos não constam desta conta,
ficando mais que claro que o Governo não está a respeitar as recomendações da
Assembleia da República nem a Constituição em relação às normas que devem ser
seguidas na elaboração da Conta Geral do Estado", afirmou António Muchanga, deputado
do principal partido de oposição.

Também o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira bancada


parlamentar, criticou a omissão das garantias que o Governo moçambicano prestou a
favor das dívidas contraídas pelas empresas públicas que beneficiaram dos chamados
empréstimos escondidos, superiores a mil milhões de euros.

"Esta Conta Geral do Estado é falaciosa, encobre a maior fraude financeira na história do
país, não faz referência a empréstimos que estruturam a bancarrota em que o país se
encontra", declarou Fernando Bismarque.

9
2. Considerações finais

Diante do exposto no presente trabalho de pesquisa, chega- se ao consenso que o Tribunal


Administrativo tem um papel preponderante em garantir a justiça administrativa, fiscal e
aduaneira ao cidadão bem como a boa gestão e controlo dos dinheiros públicos, é uma
Instituição célere e eficaz na promoção da integridade e imparcialidade da Administração
Pública.

Na verdade, contribui também para reforçar, facilitar e alargar o acesso do cidadão à


justiça administrativa, consolidar a boa gestão dos fundos do Estado e, de uma forma
geral, permite que a justiça seja feita de forma mais rápida assim como é de uma extrema
importância no controlo e fiscalização de todos actos Administrativos para o bom
funcionamento da Administração Pública.

10
3. Referências bibliográficas

Constituição da República de Moçambique (2004)

Lei n.º 25/2009

Caetano. Marcello. (2001). Manual de direito administrativo. 10. ed. rev. e actual.
Coimbra: Almedina

Coelho, Fábio Ulhoa.(2002). Curso de direito comercial. 6. ed. rev. e atual. de acordo
com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva

Di Pietro, Maria Sylvia Zanella.(2003). Direito administrativo. 15. ed. São Paulo: Atlas

Ferraz, Tercio Sampaio. (2003). Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão,


dominação. 4. ed. São Paulo: Atlas

Figueiredo, Lucia Valle. (2001). Curso de direito administrativo. 5. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Malheiros

Gasparini, Diogenes. (2002). Direito administrativo. 7. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva

Kelsen, Hans. (1994). Teoria pura do direito. trad. João Baptista Machado. 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes

Justen. Marçal. (2000). Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 8.


ed. São Paulo: Dialética

Medauar, Odete.(1998). Direito administrativo moderno. 2. ed. rev. e atual. São Paulo:
RT

Meirelles. Hely Lopes. (2001). Direito administrativo brasileiro. 26. ed. atual. São
Paulo: Malheiros
Mello, Celso Antônio Bandeira de. (2003). Curso de direito administrativo. 15. ed. ref.,
ampl. e atual. São Paulo: Malheiros
Pereira, José Torres.(1994). Comentários à lei de licitações e contratações da
administração pública. Rio de Janeiros: Renovar

11

Você também pode gostar