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Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento


ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
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DISTÚRBIO DE IMAGEM CORPORAL E TRANSTORNOS ALIMENTARES


EM UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DA SAÚDE

Paula Canali1, Thais Caroline Fin2, Valeria Hartmann3, Cintia Gris3, Ana Luisa Sant’Anna Alves3

RESUMO ABSTRACT

Os transtornos alimentares (TA) são Body image disorder and food disorders in
caracterizados como doenças marcadas por health university
modificações no comportamento alimentar e
possuem etiologia multifatorial. Em Eating disorders (ED) are characterized as
concomitância, a imagem corporal é um diseases marked by changes in eating
importante componente do mecanismo de behavior and have a multifactorial etiology.
identidade pessoal e corresponde à satisfação Concomitantly, body image is an important
e sentimentos relativos à figura mental do component of the mechanism of personal
corpo. No cenário dos TA, a anorexia nervosa identity and corresponds to satisfaction and
(AN) e a bulimia nervosa (BN) são as mais feelings related to the mental figure of the
comuns, sendo que estudos mostram que body. In the TA's scenario, anorexia nervosa
universitários de cursos da área de saúde são (AN) and bulimia nervosa (BN) are the most
mais suscetíveis ao seu desenvolvimento. common, and studies show that university
Assim, o presente estudo objetivou investigar students in health courses are more
a prevalência de transtornos alimentares susceptible to their development. Thus, the
associado ao distúrbio de imagem corporal, present study aimed to investigate the
em universitários da área da saúde em uma prevalence of eating disorders associated with
universidade comunitária da região norte do body image disorder, in university students in
Rio Grande do Sul. Este, foi realizada através the health field at a community university in the
de um formulário eletrônico enviado ao e-mail northern region of Rio Grande do Sul. This was
institucional dos alunos, apresentando carried out through an electronic form sent to e
questões demográficas, socioeconômicas, institutional email from students, presenting
antropométricas, o questionário Eating demographic, socioeconomic, anthropometric
Attitudes Test - EAT-26 e a Escala de questions, the Eating Attitudes Test - EAT-26
Silhuetas de Stunkard. Foram avaliados 125 questionnaire and the Stunkard Silhouettes
universitários, 90,4% da amostra era composta Scale. 125 university students were evaluated,
por mulheres com faixa etária prevalente de 90.4% of the sample was composed of women
21 a 45 anos (55,2%). Em relação ao estado with a prevalent age group of 21 to 45 years
nutricional, 66,1% dos estudantes estavam old (55.2%). Regarding nutritional status,
eutróficos. Quanto ao risco para 66.1% of students were eutrophic. As for the
desenvolvimento de TA e insatisfação risk of developing TA'S and body
corporal, 31% dos estudantes apresentaram dissatisfaction, 31% of students were at risk
risco e 63,5% estão insatisfeitos, and 63.5% were dissatisfied, respectively. It
respectivamente. Foi identificado que os was identified that students who are at risk for
estudantes que possuem risco para developing ED, also have a higher BMI
desenvolvimento de TA, também possuem average, in addition to 43% of them having
maior média de IMC, além de 43% body dissatisfaction with being overweight.
apresentarem insatisfação corporal por Thus, it is important to explore the
excesso de peso. Dessa forma, se torna determinants of the results found, promoting
importante explorar os determinantes dos actions that can intervene in the nutritional and
resultados encontrados, promovendo ações psychological losses of individuals.
que possam intervir nos prejuízos nutricionais
e psicológicos dos indivíduos. Key words: Body image. Eating disorders.
Anorexia nervosa. Nervous bulimia.
Palavras-chave: Imagem Corporal.
Transtornos da Alimentação. Anorexia
Nervosa. Bulimia Nervosa.

1 - Curso de Nutrição da Universidade de


Passo Fundo, Passo Fundo-RS, Brasil.

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 93. p.244-250. Mar./Abril. 2021. ISSN 1981-
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INTRODUÇÃO colaboradores, 2020; Sampaio e


colaboradores, 2019).
A imposição dos padrões de beleza, A transição dos jovens adultos para o
juntamente a grande valorização do peso e da ensino superior pode se tornar um período
forma corporal, pode despertar aos indivíduos estressante e suas estratégias de
sentimentos de desprezo, insatisfação enfrentamento podem envolver mudanças nos
corporal e pessoal, assim como provocar a comportamentos alimentares.
realização de práticas que podem Esse desenvolvimento pode ser
comprometer a saúde das pessoas, como desencadeado por mudanças dos hábitos de
hábitos alimentares alterados e prática vida, adaptações aos novos papéis sociais,
excessiva de exercícios físicos, tendo como pressões psicológicas e pela indisponibilidade
finalidade de atingir o ideal de corpo temporal para alimentar-se, juntamente aos
(Nascimento e colaboradores, 2020). sentimentos como medo, angústia,
Os transtornos alimentares (TA) são insegurança e ansiedade, gerados nos
caracterizados como doenças marcadas por graduandos quando se inicia a rotina
modificações no comportamento alimentar e universitária (Trindade e colaboradores, 2019;
possuem etiologia multifatorial, envolvendo Costa e colaboradores, 2018; Ponte e
componentes biológicos, genéticos, colaboradores, 2019; Moreira e colaboradores,
psicológicos, socioculturais e familiares. Em 2017).
concomitância, a imagem corporal é um Dessa forma, devido à importância do
importante componente do mecanismo de tema para os profissionais da saúde e a
identidade pessoal e corresponde à satisfação gravidade das doenças, investigou-se a
e sentimentos relativos à figura mental do prevalência de transtornos alimentares
corpo (Moreira e colaboradores, 2017). associado ao distúrbio de imagem corporal,
No cenário dos transtornos em universitários da área da saúde em uma
alimentares, a anorexia nervosa (AN) e a universidade comunitária da região norte do
bulimia nervosa (BN) configuram-se como as Rio Grande do Sul.
mais comuns. Ambas se caracterizam pela
preocupação excessiva com o peso, sendo MATERIAIS E MÉTODOS
que na AN há uma grave restrição da ingestão
alimentar associada à busca intensa pela Trata-se de um estudo transversal
magreza e a distorção da imagem corporal, e realizado no período de maio a julho de 2020
na BN ocorrem episódios recorrentes de uma envolvendo universitários da área da saúde de
grande ingestão de alimentos em um curto uma universidade comunitária do norte do
período associada a uma sensação de perda estado Rio Grande do Sul.
de controle e comportamentos compensatórios Para o cálculo de amostra foi
inadequados para o controle de peso considerado o total de alunos matriculados no
(Nascimento e colaboradores, 2020; Nunes, Instituto de Ciências Biológicas que inclui os
Santos e Souza, 2017). cursos de Nutrição, Estética e Cosmética,
A prevalência de AN e BN têm Farmácia, Fonoaudiologia, Biologia e
alcançado altas proporções na população Enfermagem, totalizando 1.050 alunos.
geral e estudos mostram que universitários de A frequência esperada do desfecho é
cursos da área de saúde são mais de 20%, erro aceitável de 5% e nível de
susceptíveis ao desenvolvimento de TA. confiança de 95%, totalizando 199 estudantes.
Há estimativas de que 15% a 25% dos O processo de amostragem foi por
universitários apresentam algum tipo de conveniência, para tanto, foram convidados a
transtorno psiquiátrico no decorrer de sua participar do estudo todos os 1.050 alunos do
formação acadêmica, especialmente aqueles Instituto de Ciências Biológicas. Os critérios de
da área de saúde. inclusão foram: idade entre 18 e 59 anos e
A prevalência de BN na população estar regularmente matriculado nos cursos do
universitária é estimada à 20% e os sintomas Instituto de Ciências Biológicas.
de compulsão alimentar à 90% dessa A coleta de dados foi realizada por
população. meio de formulário eletrônico enviado para o
Universitárias do sexo feminino são e-mail institucional dos alunos. O formulário
mais susceptíveis a adquirirem hábitos apresentava questões demográficas (sexo,
alimentares inadequados e desenvolverem TA idade, estado civil), socioeconômicas (classe
em relação aos homens (Nascimento e econômica), peso e altura autoreferido,

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comportamento alimentar de risco e imagem de peso (resultado foi um valor positivo). Além
corporal. disso, foi avaliada concordância entre a
O desfecho do comportamento classificação do estado nutricional (IMC) e a
alimentar foi avaliado por meio do Teste de silhueta real indicada na presente ferramenta.
Atitudes Alimentares (Eating Attitudes Test, Foram coletadas informações de peso
EAT-26), traduzido e validado no Brasil por e altura autoreferidas para o diagnóstico do
estudos anteriores (Bighetti e colaboradores, estado nutricional por meio do Índice de
2004). Massa Corporal (IMC/kg2) e categorizado
Este, é composto por questões com conforme pontos de corte preconizados pela
seis opções de resposta (nunca, quase nunca, Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO,
poucas vezes, as vezes, muitas vezes e 1998).
sempre). A pontuação final do questionário Os dados foram organizados e
pode variar de 0 a 78 pontos. analisados em software de estatísticas, para
Para o teste EAT-26, as as variáveis qualitativas foram apresentadas
características das participantes que obtiveram as frequências absolutas e relativas simples.
pontuação > 20 pontos foram considerados de Para as variáveis quantitativas foi
alto risco para do desenvolvimento de testada a normalidade com o teste de
transtornos alimentares; as daquelas com Kolmogorov-Smirnov e foram calculadas as
pontuação de 10 a 20 foram consideradas de medidas de tendência central e dispersão.
baixo risco e as com escore de 0 a 9 pontos Para a comparação de médias de IMC
foram consideradas isentas de risco. dos acadêmicos com e sem risco para TA’s,
Dessa forma, o resultado do EAT-26 aplicou-se o teste t independente.
foi categorizado em: EAT com ausência de Para avaliar a concordância entre IMC
risco para transtorno alimentar e EAT com e silhueta real utilizou-se o Índice Kappa. Por
risco para transtorno alimentar (baixo e alto fim, para a associação entre risco para TA e
risco). insatisfação corporal foi empregado o teste
Quanto à percepção da imagem qui-quadrado.
corporal (IC), foi avaliada através Escala de O estudo foi conduzido dentro dos
Silhuetas de Stunkard adaptada ao português preceitos éticos e aprovado pelo Comitê de
por Scagliusi e colaboradores (2006), que se Ética em Pesquisa da Universidade de Passo
baseia em uma escala de silhuetas que Fundo sob parecer nº 4.051.564. Antecedendo
contém nove IC do sexo masculino e nove do a distribuição do questionário, os universitários
sexo feminino. Assim, os avaliados são assinaram um Termo de Consentimento Livre
submetidos a duas perguntas diretas sobre e Esclarecido.
sua imagem:
Como se vê?: variável denominada de RESULTADOS
autoimagem real. Para responder a ela, o
indivíduo indicou a IC/silhueta que melhor O estudo contou com a participação
representava sua própria imagem naquele de 125 acadêmicos e o percentual de perdas e
momento; recusas foi de 37,2%.
Como gostaria de ser?: variável Na Tabela 1, observa-se que a maior
denominada de autoimagem ideal. O indivíduo parte eram mulheres (90,4%), com uma faixa
indicou a imagem ideal que desejaria ter. etária prevalente de 21 a 45 anos (55,2%),
A satisfação com a IC foi avaliada solteiros (87,2%) e pertencentes a classe
através de uma variável chamada de econômica B (47,2%).
satisfação com o perfil corporal. Em relação ao Índice de Massa
Para isso, realizou-se uma operação Corporal (IMC), 66,1% dos estudantes estão
de subtração entre o valor da figura que em eutrofia. Quanto ao questionário EAT-26,
representava a silhueta real e o valor da figura 31% dos estudantes apresentaram risco para
que representava a silhueta ideal, gerando o desenvolvimento de TA. Em relação a
valores que poderiam variar de -8 a +8. A aplicação da escala de silhuetas, 49,8% se
partir do resultado da operação, o indivíduo foi veem em baixo peso e 75,4% gostariam de
classificado como: satisfeito (resultado foi igual estar com baixo peso. Sobre a insatisfação
a zero), insatisfeito por magreza (resultado foi corporal, 51,6% estão insatisfeitos por excesso
um valor negativo) e insatisfeito por excesso de peso.

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Tabela 1 - Descrição das características demográficas e socioeconômicas de uma amostra de


acadêmicos de cursos da área da saúde de uma universidade comunitária, 2020, Passo Fundo
(n=125).
Variáveis Categorias n %
Feminino 113 90,4
Sexo
Masculino 12 9,6
Solteiro 109 87,2
Estado conjugal
Casado 16 12,8
18 a 20 anos 56 44,8
Faixa etária
21 a 45 anos 69 55,2
Classe A 25 20
Classe econômica Classe B 59 47,2
Classe C, D, e E 41 32,8

Tabela 2 - Descrição dos indicadores de IMC, atitudes alimentares e imagem corporal de uma
amostra de acadêmicos de cursos da área da saúde de uma universidade comunitária, 2020, Passo
Fundo (n=125).
Variáveis Categorias n %
Baixo peso 10 8,1
Eutrofia 82 66,1
Índice de Massa Corporal
Sobrepeso 25 20,2
Obesidade 7 5,6
Sem risco 87 69
EAT-26
Com risco 39 31
Baixo peso 62 49,2
Escala de silhuetas real Eutrofia 59 46,8
Excesso de peso 5 4,0
Baixo peso 95 75,4
Escala de silhuetas ideal
Eutrofia 31 24,6
Insatisfação por excesso de peso 65 51,6
Insatisfação corporal Satisfação 46 36,5
Insatisfação por magreza 15 11,9

Tabela 3 - Descrição da associação entre o risco para TA a insatisfação corporal de uma amostra de
acadêmicos de cursos da área da saúde de uma universidade comunitária, 2020, Passo Fundo
(n=125).
Risco para TA
Variáveis Categorias Sem risco Com risco p-valor
n % n %
Insatisfação por magreza 11 73,3 4 26,7
Insatisfação corporal Satisfação 39 84,8 7 15,2
0,007
Insatisfação por excesso de peso 37 56,9 28 43,1

Na comparação entre as médias de prevalência de insatisfação por excesso de


IMC dos acadêmicos com e sem risco para o peso foi maior entre os acadêmicos com risco
desenvolvimento de transtornos alimentares, nutricional (43,1%; p=0,007), quando
identificou-se diferença entre as médias comparado com as demais categorias (Tabela
(p=0,023), sendo que os acadêmicos com 3).
risco têm maior média de IMC (média=24,28;
DP=4,49) em relação aos acadêmicos sem DISCUSSÃO
risco (média=22,62; DP=3,33). Em relação a
concordância entre IMC e a silhueta real, O presente estudo identificou que 31%
identificou-se baixa concordância dos estudantes têm risco para
(Kappa=0,024). desenvolvimento de TA, sendo que este tem
Ao associar o risco para TA com a maior média de IMC. A insatisfação corporal
insatisfação corporal, observa-se que a foi observada em 63,5% e entre os estudantes

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com risco para desenvolvimento de TA 43% insatisfeitos. Apesar de ser uma amostra muito
apresentavam insatisfação corporal por específica e de uma categoria profissional que
excesso de peso. expõe muito o corpo, os dados de insatisfação
Ainda sobre a insatisfação corporal, corporal são similares ao encontrado no
verificou-se baixa concordância entre a presente estudo.
silhueta real e o estado nutricional. Destaca- Os resultados também corroboram
se, no entanto, que as interpretações devem com o estudo de Claumann e colaboradores
ser realizadas com cautela frente ao elevado (2019), o qual estimaram a prevalência de
percentual de perdas e recusas e por tratar-se insatisfação com a imagem corporal e sua
de estudo transversal com amostragem por relação com a magreza e excesso de peso.
conveniência. Dos 1.058 adolescentes, 75,2%
Apesar das limitações, estudos apresentaram insatisfação corporal e foi
recentes apontam para o mesmo sentido, constatado que indivíduos com adiposidade
como o estudo realizado com universitárias da corporal elevada tiveram menor chance de
área da saúde da Universidade Estadual de insatisfação pela magreza e maior chance de
Minas Gerais (UEMG) em que constataram insatisfação pelo excesso de peso.
que 26,7% da amostra apresentava indícios No presente estudo, foi possível
de TA (Oliveira e colaboradores, 2020). verificar a baixa concordância entre IMC e
Outro estudo, também realizado em satisfação corporal, e que acadêmicos com
Minas Gerais, por meio da aplicação do EAT- risco para TA apresentaram maior média de
26, identificou que o risco para IMC.
desenvolvimento de TA estava presente em Tais achados reforçam que a
26,6% da amostra entrevistada (Cardoso e insatisfação corporal está presente ainda na
colaboradores, 2020). adolescência, antes do ingresso no meio
Assim como os resultados do estudo acadêmico e que, talvez, essa insatisfação
de Aidar e colaboradores (2020), que possa durar por muitos anos.
observaram prevalência de TA de 31%. Todos Ao observar a baixa concordância
esses estudos foram realizados com o mesmo entre a silhueta real e o estado nutricional
público do presente estudo, universitários e resultante no presente estudo, verificou-se que
jovens adultos, assim, enfatiza-se a no estudo de Santos e colaboradores (2020),
necessidade de ações de educação alimentar o qual avaliou a concordância entre
e nutricional no meio acadêmico como forma autoimagem corporal através da escala de
de prevenção e tratamento dos TA. silhuetas e estado nutricional em 131
Em relação aos dados apresentados indígenas khisêdjê do Parque Indígena do
pela Escala de Silhuetas também se Xingu, também obteve resultados
assemelham com o estudo de Carvalho e semelhantes. Houve baixa concordância entre
colaboradores (2020), o qual examinou os IC e EN, em que apenas em mulheres com 40
fatores associados a insatisfação com a anos ou mais, observou-se concordância
imagem corporal em uma amostra de 1.019 moderada entre as duas variáveis.
adolescentes estudantes de seis escolas da Esses resultados sugerem que a
região metropolitana do Rio de Janeiro. autoimagem corporal, avaliada por meio da
Entre os adolescentes avaliados, 422 Escala de Silhuetas de Stunkard e
(41,4%) desejavam uma silhueta menor e 343 colaboradores apresentou pouca
(33,7%) desejavam uma silhueta maior, ou aplicabilidade como indicador do EN.
seja, 765 (75,1%) estavam insatisfeitos e O desejo de alcançar o padrão de
informaram desejar ter uma silhueta diferente beleza atual e a impossibilidade de
daquela na qual se autopercebiam. transformá-lo em realidade gera um conflito
Ainda, no estudo de Simas, Macara e que produz insatisfação com a imagem
Melo (2020), o qual verificou a prevalência de corporal e aumenta os riscos para o
satisfação com a imagem corporal em desenvolvimento de transtornos alimentares.
bailarinos profissionais brasileiros de dança De acordo com o Manual Diagnóstico
contemporânea, obteve resultados que Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5),
corroboram com a presente prevalência os TA resultam no consumo ou na absorção
encontrada. alterada de alimentos, comprometendo
Foi constatado que a maioria dos significativamente a saúde física e o
bailarinos (57,9%) estão satisfeitos com a IC, funcionamento psicossocial (American
porém, a outra parte (42,1%), estão Psychiatric Association, 2014).

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Estes, tendem a diminuir 2-American Psychiatric Association (APA).


consideravelmente a qualidade de vida das Manual Diagnóstico e Estatístico de
pessoas, impactando não só na vida de quem Transtornos Mentais: DSM-5. Porto Alegre.
está acometido pelos TA mas em pessoas do Artmed. 5ª edição. 2014.
convívio pessoal (Fontenele e colaboradores,
2019). 3-Bighetti, F.; Santos C.B.; Santos, J.E.;
Diante da complexidade clínica dos Ribeiro, R.P.P. Tradução e validação do
transtornos alimentares e de imagem corporal, Eating Attitudes Test em adolescentes do sexo
o seu enfrentamento requer uma equipe feminino de Ribeirão Preto (SP). Jornal
multidisciplinar composta, no mínimo, por Brasileiro de Psiquiatria. Vol. 53. Num. 6.
médico psiquiatra, psicólogo e nutricionista. 2004. p. 339-46.
As condutas nutricionais utilizadas no
tratamento almejam reverter alterações 4-Cardoso, L.; Niz, L.G.; Aguiar, H.T.V.; Lessa,
funcionais, recuperar o estado nutricional, A.C.; Rocha, M.E.S.; Rocha, J.S.B.; Freitas,
promover um padrão alimentar que atenda às R.F. Insatisfação com a imagem corporal e
necessidades e as recomendações fatores associados em estudantes
nutricionais, sugerindo mudanças no universitários. Jornal Brasileiro de Psiquiatria.
comportamento alimentar e melhorando a Vol. 69. Num. 3. 2020. p. 156-164.
relação paciente-alimento (Farias e Rosa,
2020). 5-Carvalho, G.X.; Nunes, A.P.N.; Moraes, C.L.;
Veiga, G.V. Insatisfação com a imagem
CONCLUSÃO corporal e fatores associados em
adolescentes. Ciência & Saúde Coletiva. Rio
Diante do exposto, identificou-se que a de Janeiro. Vol. 25. Num. 7. 2020. p. 2769-
prevalência de insatisfação por excesso de 2782.
peso foi maior entre os acadêmicos com risco
nutricional para TA, quando comparado com 6-Claumann, G.S.; Laus, M.F.; Felden, E.P.G.;
as demais categorias, sendo ainda revelado Silva, D.A.S.; Pelegrini, A. Associação entre
que os estudantes que possuem risco para insatisfação com a imagem corporal e aptidão
desenvolvimento de TA também possuem física relacionada à saúde em
maior média de IMC. adolescentes. Ciência & Saúde Coletiva. Rio
Ainda, a alta porcentagem de de Janeiro. Vol. 24. Num. 4. 2019. p. 1299-
indivíduos que mesmo sem risco para TA 1308.
apresentam insatisfação corporal, sugere que
há preocupação excessiva com o peso e 7-Costa, D.G.; Carleto, C.T.; Santos, V.S.;
formato corporal. Haas, V.J.; Gonçalves, R.M.D.A.; Pedrosa,
É de fundamental importância que L.A.K. Qualidade de vida e atitudes
sejam realizados estudos exploratórios aos alimentares de graduandos da área da
resultados discutidos, propiciando maiores saúde. Revista Brasileira de Enfermagem. Vol.
esclarecimentos sobre os seus determinantes. 71. Num. 4. 2018. p. 1642-1649.
Além disso, é necessário que sejam
desenvolvidas ações que busquem minimizar 8-Escala de Silhuetas: Scagliusi, F.B.;
os prejuízos físicos, nutricionais e psicológicos Alvarenga, M.; Polacow, V.O.; Cordás, T.A.;
ligados ao público estudado. Queiroz, G.K.O.Q.; Coelho, D. Concurrent and
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Appetite. Vol. 47. 2006. p. 77-82.
1-Aidar, M.O.I.; Freitas, R.B.; Bastos,
G.C.F.C.; Brasileiro, A.A.; Silva, A.M.T.C.; 9-Farias, C.T.S.; Rosa, R.H. A educação
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Suscetibilidade para o Desenvolvimento de tratamento dos transtornos alimentares.
Transtornos Alimentares em Estudantes Brazilian Journal of Health Review. Vol. 3.
Internos de um Curso de Medicina. Revista Num. 4. 2020. p. 10611-10620.
Brasileira de Educação Médica. Vol. 44. Num.
3. 2020. p. e097. 10-Fontenele, R.M.; Ramos, A.S.M.B.;
Goiabeira, C.R.F.; Cutrim, D.S.; Galvão,
A.P.F.C.; Noronha, F.M.F. Impacto dos

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S.I.L. Sintomas de Transtorno Alimentar e
11-Moreira, D.E.; Pinheiro, M.C.; Carreiro, Satisfação com Imagem Corporal em
D.L.; Coutinho, L.T.M.; Almeida, K.T.C.L.; Bailarinos Profissionais de Dança
Santos, C.A.; Coutinho, W.L.M.; Ricardo, Contemporânea. Revista Médica de Minas
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