Você está na página 1de 12

94

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento


ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

O IMPACTO DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL


NA PREVENÇÃO DO EXCESSO DE PESO EM ESCOLARES: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Aillen Leite Araújo1


Vanessa Alves Ferreira1,2
Dora Neumann1
Lucilene Soares Miranda1,2
Ivy Scorzi Cazelli Pires1,2

RESUMO ABSTRACT

O ambiente escolar apresenta grande The impact of Food and Nutrition Education in
potencial para a realização de ações overweight prevention in school: a literature
educativas, sobretudo de Educação Alimentar review
e Nutricional (EAN) para a prevenção e
controle do sobrepeso e obesidade. Dessa The school environment has great potential to
forma, objetivou-se realizar uma revisão carry out educational activities, especially for
sistemática de artigos e trabalhos científicos Food and Nutrition Education (FNE) for the
acerca do impacto da EAN nas ações de prevention and control of overweight and
prevenção e controle do excesso de peso obesity. Thus, the aim was to conduct a
entre escolares nos últimos dez anos (2005- systematic review of articles and scientific
2015) no país. A revisão sistemática constou papers on the impact of FNE in prevention and
em uma busca de trabalhos científicos nas control of overweight among school children in
bases de dados SciELO, LILACS, MEDLINE e the past decade (2005-2015) in the country.
em bibliotecas especializadas tais como BVS, The systematic review consisted in a search of
biblioteca da USP, UNESP e scientific studies on the databases SciELO,
ENSP/Fiocruz/RJ. O estudo totalizou 90 LILACS, MEDLINE and specialized libraries
referências, dessas, 18 foram selecionadas. such as BVS, library USP, UNESP and ENSP /
Observou-se um baixo número de publicações Fiocruz / RJ. The study totaled 90 references,
na área e no período analisado. Os resultados of these 18 were selected. There were a few
dos estudos apontaram para mudanças no numbers of publications in the area and the
comportamento alimentar dos escolares e period analyzed. The results of the studies
melhoria do conhecimento sobre alimentação pointed to changes in eating behavior in school
saudável, dessa maneira, conclui-se que as and improving knowledge on healthy eating,
ações de EAN apresentaram impacto positivo thus, it is concluded that the EAN actions had
na prevenção do sobrepeso e obesidade entre a positive impact on the prevention of
os escolares e, portanto, devem ser overweight and obesity among school children
incentivadas no país. and therefore should be encouraged in the
country.
Palavras-chave: Sobrepeso. Obesidade.
Escolares. Prevenção. Educação Alimentar e Key words: Overweight. Obesity. Students.
Nutricional. Prevention. Food and Nutrition Education.

E-mails dos autores:


aillenla18@gmail.com
vanessa.nutr@gmail.com
doraneumann@ig.com.br
1-Departamento de Nutrição, Universidade lucisares1@yahoo.com.br
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, ivycazelli@gmail.com
Brasil.
2-Mestrado Profissional Ensino em Saúde, Endereço para correspondência:
Universidade Federal dos Vales do Rodovia MGT 367. Km 583. nº 5000.
Jequitinhonha e Mucuri, Brasil. Diamantina/Alto da Jacuba. Minas Gerais.
Brasil. CEP: 39100-000.

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
95
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

INTRODUÇÃO 2012), publicado pelo Ministério da Saúde no


Brasil, a EAN se insere no contexto do Direito
Nas últimas décadas, observa-se no Humano à Alimentação Adequada e da
Brasil o incremento do sobrepeso e da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional
obesidade em todas as faixas etárias e grupos e pode ser conceituada como “um campo de
sociais. conhecimento e de prática contínua e
De acordo com os dados da última permanente, transdisciplinar, intersetorial e
pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de multiprofissional que visa promover a prática
Geografia e Estatística (IBGE) o excesso de autônoma e voluntária de hábitos alimentares
peso é prevalente a partir dos cinco anos de saudáveis”.
idade, em todos os grupos de renda e em Ainda de acordo com o documento “a
todas as regiões brasileiras (IBGE, 2010). prática da EAN deve fazer uso de abordagens
Em adultos, o excesso de peso no e recursos educacionais problematizadores e
período de 1974 a 2009 quase triplicou no ativos que favoreçam o diálogo junto a
Brasil, sendo que 49% desses indivíduos indivíduos e grupos populacionais,
encontravam-se com sobrepeso e 14,6% com considerando todas as fases do curso da vida,
obesidade. No grupo infanto-juvenil os as etapas do sistema alimentar e as interações
resultados também são alarmantes. e significados que compõem o comportamento
Observa-se uma expressiva alimentar”.
prevalência de excesso de peso no grupo de Neste contexto, o ambiente escolar
crianças (47,8%) e nos adolescentes (21,5%), passa a ser considerado um cenário oportuno
os quais apresentaram incrementos não somente por promover ações educativas
percentuais de três e quatro vezes ao longo do bem como para ampliar o acesso a uma
mesmo intervalo de tempo (IBGE, 2010). alimentação saudável através de estratégias
De acordo com Duncan e de intervenções nutricionais (CAISAN, 2014).
colaboradores (2012), o problema é grave A esse respeito, segundo Souza e
tendo em vista que o sobrepeso e obesidade colaboradores (2007), a escola possui grande
são um dos fatores de risco mais importantes potencial na formação de bons hábitos
para Doenças Crônicas Não Transmissíveis alimentares. Para os autores, mais do que
(DCNT), como doenças cardiovasculares e representar apenas um momento do cotidiano
Diabetes Mellitus. No Brasil as DCNT são a de alimentação das crianças e jovens, a
principal causa de mortalidade. No ano de escola é responsável por uma considerável
2009 elas responderam por 72,4% do total de parcela do conteúdo educativo apreendido,
óbitos. inclusive no que diz respeito à EAN.
Frente a esse cenário, o excesso de Frente a esse debate, acredita-se ser
peso tornou-se prioridade para o campo das necessária, a realização de estudos e
políticas públicas no país, especialmente para pesquisas que possam contribuir com as
o campo da alimentação e nutrição. Nesta análises a respeito do impacto das ações de
direção, a proposição de estratégias e EAN na promoção de hábitos alimentares
iniciativas que permitam a prevenção e o saudáveis no grupo infanto-juvenil no Brasil.
controle do excesso de peso são Dessa forma, o objetivo deste trabalho
extremamente válidas, incluindo aquelas que foi realizar uma revisão sistemática de artigos
envolvam atividades de Educação Alimentar e e trabalhos científicos no país acerca do
Nutricional (EAN). impacto da Educação Alimentar e Nutricional
Sob este prisma, a temática da EAN, nas ações de prevenção e controle do
constitui-se como estratégia importante nesse excesso de peso em escolares nos últimos
debate sendo, dessa maneira, preconizada dez anos (2005-2015).
pelas políticas públicas de alimentação e
nutrição no Brasil. A EAN revela-se, portanto, MATERIAIS E MÉTODOS
um instrumento fundamental para a promoção
de hábitos alimentares saudáveis (Boog, Realizou-se uma revisão sistemática
1997). da literatura científica nacional e internacional
Segundo o documento – Marco de acerca do tema de excesso de peso em
Referência de Educação Alimentar e escolares pertencentes ao grupo infanto-
Nutricional para as Políticas Públicas (Brasil, juvenil.

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
96
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

A revisão sistemática, bem como Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), biblioteca


outros tipos de revisões bibliográficas, refere- da Universidade de São Paulo (USP),
se a um método de investigação que utiliza Universidade Estadual Paulista (UNESP) e
como fonte de dados à literatura sobre Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio
determinado objeto de análise. Arouca-Fiocruz (ENSP/Fiocruz/RJ) no período
Esse tipo de pesquisa utiliza um de 2005 a 2015.
apanhado de evidências relacionadas a uma Como critérios de seleção foram
estratégia de intervenção específica, por meio utilizados as seguintes palavras-chaves:
da aplicação de métodos evidentes e “excesso de peso/ Overweight”, “obesidade/
sistematizados de busca, apreciação crítica e obesity”, “educação nutricional/ educação
síntese da informação selecionada. alimentar/ nutrition education”, “educação
As revisões sistemáticas são alimentar e nutricional/ food and nutrition
empregadas para agregar informações de um education”, “escolares/ students”, “escolas/
conjunto de estudos realizados school”, “prevenção/ prevention”, “intervenção/
separadamente sobre determinada terapêutica intervention”, “promoção da saúde/ health
ou intervenção, cujos resultados podem ser promotion” e “Brasil/ Brazil”.
conflitantes e/ou coincidentes, assim como As publicações foram pré-
identificar temas que necessitam de destaque, selecionadas pelos títulos e acompanhada da
contribuindo na direção de futuras leitura dos resumos disponíveis em uma
investigações (Linde e Willich, 2003). primeira etapa.
Segundo Botelho, Cunha e Macedo Posteriormente, realizou-se a leitura
(2011), esse tipo de revisão é empregada na íntegra dos artigos pré-selecionados. Em
quando se pretende responder questões seguida, foram excluídos artigos repetidos em
específicas para um determinado tema ou diferentes bases de dados ou aqueles que
assunto o que difere das revisões narrativas diferiram do objetivo de estudo.
uma vez que se aplicam em estudos que Por fim, foram selecionados estudos
procuram analisar temáticas mais amplas e realizados no Brasil no qual se desenvolveram
trazer informações gerais sobre o assunto em ações de Educação Alimentar e Nutricional em
questão. Também se distinguem das revisões escolares.
integrativas, nas quais permitem que o autor
expresse sua opinião, além de utilizarem RESULTADOS E DISCUSSÃO
diferentes delineamentos na mesma pesquisa.
A estratégia de busca de artigos O levantamento bibliográfico totalizou
incluiu uma pesquisa nas bases eletrônicas, a na primeira etapa de seleção cerca de noventa
seguir: The Scientific Electronic Library Online (90) referências. Dessas somente dezoito (18)
(SciELO), Literatura Latino-americana e do foram selecionadas seguindo os critérios de
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), seleção descritos no método da pesquisa,
National Library of Medicine (MEDLINE), e em conforme revela a Tabela 1.
bibliotecas especializadas tais como a

Tabela 1 - Categorização de artigos de acordo com a base de dados, número de bibliografia total e
selecionada.
Base de Bibliografia
dados Total Selecionada
SciElo 40 08
LILACS 24 05
MEDLINE 13 00
BVS 05 02
USP 02 01
UNESP 02 01
ENSP 04 01
Total 90 18

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
97
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

A revisão de artigos e publicações Contudo, Santos (2005), ao investigar


científicas acerca do impacto da EAN em a EAN no contexto da promoção de práticas
escolares revelou a escassez de bibliografias alimentares saudáveis no Brasil, reconheceu
a respeito dessa temática no período estudado esse mesmo paradoxo. O autor verificou que
(2005-2015), conforme mostra o Quadro 1. ao mesmo tempo em que o tema é apontado
Assim, pode-se observar um baixo como uma importante estratégia na área da
número de publicações no que se refere às alimentação e nutrição, o seu espaço não se
atividades de EAN nesse grupo, em particular. apresenta claramente definido no campo
Considerando que o tema tem sido bastante científico. Ou seja, ao mesmo tempo em que a
abordado nos últimos anos, em eventos temática está em todos os lugares, não ocupa
científicos e na mídia falada e escrita, lugar algum, sendo pouco citada nos
esperava-se encontrar um contingente maior documentos oficiais.
de publicações nessa revisão.

Quadro 1 - Caracterização dos estudos selecionados segundo autoria, ano, estado, tipo de estudo,
objetivo, métodos e principais resultados, realizados no Brasil no período de 2005-2015.
Autoria, Ano, Tipo de
Objetivo Métodos Principais resultados
Estado estudo
Durante a disciplina de Educação Ficou evidente a importância de serem utilizados
Nutricional, duas acadêmicas foram materiais ilustrativos para as ações, bem como vídeos
orientadas a realizar intervenções breves e atrativos e abordagem dirigida ao perfil do
educativas lúdicas semanais com 17 público alvo. Através das intervenções realizadas, uma
Kops, Zys e
Desenvolver escolares de 10 a 12 anos em um base de conhecimento foi construída pelos escolares,
Ramos, 2013,
Intervenção experiência na área período de 2 meses. O primeiro passo proporcionando-lhes condições para que possam
Rio Grande do
de EAN. foi o diagnóstico, em que se identificou refletir e tomar decisões mediante fatos percebidos. A
Sul
um alto percentual de excesso de peso, experiência adquirida prepara os graduandos a
além de alto consumo de frituras, solucionarem imprevistos e a lidarem com ações
guloseimas e refrigerantes. A partir educativas de acordo com as necessidades do público
desse dado, as ações foram planejadas. alvo.
Participaram do estudo duas escolas
municipais do ensino fundamental,
sendo uma escola controle (n=56) e a
Avaliar conceitos Os resultados obtidos foram significativamente maiores
outra intervenção (n=170), em turmas
Silva e básicos de alimentos na escola intervenção quando comparados aos da
com idades entre 6 a 10 anos. O
colaboradores, e alimentação escola controle. Portanto a abordagem educacional
Intervenção conhecimento sobre alimentos e
2013, saudável com aplicada teve um efeito positivo no desenvolvimento de
alimentação saudável dos alunos das
Rio de Janeiro escolares do ensino conhecimentos sobre alimentos e alimentação
escolas controle e intervenção foi
fundamental. saudável dos escolares.
avaliado através de duas aplicações de
jogos pedagógicos, com um intervalo de
três meses.
Trata-se de um estudo de intervenção
comunitário com escolares de 8 a 14
anos de duas escolas públicas em 2010.
Foi encontrado efeito positivo da intervenção na
O grupo intervenção foi submetido às
preferência por frutas e salada de frutas oferecidas na
Avaliar o efeito de ações de educação alimentar e
Prado e merenda escolar (p=0,048) e no consumo de balas,
ações de EAN no nutricional e o grupo controle não
colaboradores, pirulitos e chicletes adquiridos na cantina escolar
Intervenção consumo de recebeu ação educativa. Constituiu-se
2012, (p=0,043). As ações educativas desenvolvidas
alimentos no de variáveis desfecho – “efeito positivo
Mato Grosso propiciaram, além da construção de conhecimentos
ambiente escolar. no consumo de alimentos” – definidas
importantes de alimentação e nutrição, também
segundo critérios baseados em variáveis
motivação, reflexão e troca de saberes pelas crianças.
relativas ao consumo alimentar e a
alimentos mais adquiridos ou preferidos,
assim como frequência de consumo.
Validaram-se as metodologias utilizadas. Nas
dinâmicas de avaliação, a colagem adequada dos
Descrever a Foi feito estudo de validação de quatro
alimentos foi realizada por 84% das crianças,
validação de tecnologias educacionais: dinâmicas de
demonstrando aquisição de saberes. Na atividade
metodologias ativas avaliação, minuto-cinema, momento-
Maia e minuto-cinema, os escolares demonstraram interesse
de educação em teatro e caixa dos sentidos. A população
colaboradores, na obtenção de conhecimento sobre a valia dos
Intervenção saúde, na promoção foi composta por 25 crianças de 5 a 7
2012, alimentos abordados. No momento-teatro, observou-se
da alimentação anos, estudantes de uma escola privada
Ceará interatividade eficaz entre sujeitos e pesquisadores.
saudável de crianças selecionadas intencionalmente para
Todas as crianças identificaram os alimentos ocultos
do Ensino participar de oficinas de ensino-
na caixa dos sentidos, através de sua textura e
Fundamental. aprendizagem.
consistência, o que contribuiu para o aperfeiçoamento
das habilidades cognitivas infantis.
Avaliar o impacto de Foram coletados dados antropométricos, Foram avaliados 115 indivíduos, identificando-se
Zanirati e oficinas de Educação socioeconômicos, demográficos e de 27,6% de excesso de peso entre as crianças da EI e
colaboradores, Alimentar no perfil consumo alimentar de crianças (6-10 18,2% na ET (p=0,72). Destaca-se que o jantar foi a
Intervenção
2011, nutricional de anos) participantes da EI e ET sendo a única refeição em que não foram observadas
Minas Gerais crianças inseridas no intervenção nutricional desenvolvida diferenças significativas dos alimentos consumidos
Programa somente entre os alunos da EI. A entre os grupos. Uma alteração verificada para os

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
98
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

Escola Integrada intervenção abrangeu aproximadamente alunos da EI, após a intervenção, foi o aumento da
(EI), comparando três meses, sendo composta por quatro ingestão de suco de frutas (p=0,01) no almoço.
com alunos da oficinas educativas sobre alimentação Considerando a aplicação da escala hedônica após as
Escola Tradicional saudável, contemplando todos os oficinas, foi verificada elevada satisfação das crianças
(ET). grupos alimentares. com as atividades realizadas.
Não se observaram mudanças significativas nas
Intervenção em um período de 7 meses
práticas alimentares na EC. Na EI aumentou a
Avaliar os efeitos de com 331 estudantes de 11 a 17 anos de
proporção de estudantes que relataram não consumir
um programa de 5º e 6º anos de duas escolas públicas:
Vargas e lanches vendidos por ambulantes (de 36,7% para
prevenção de classificadas como Escola de
colaboradores, 50,6%; p = 0,02) e dos jovens que relataram não
Intervenção obesidade sobre Intervenção (EI) e Escola de Controle
2011, substituir almoço (de 44,5% para 65,2%; p < 0,01) e
práticas alimentares (EC) para comparação. Práticas
Rio de Janeiro jantar (de 8,4% para 54,3%; p < 0,01) por lanches. A
de adolescentes de alimentares foram abordadas em
principal mudança favorável foi a redução na
escolas públicas. questionários auto respondidos antes e
frequência de consumo de lanches fast food na EI
após o período de intervenção.
comparada à EC (72,7% vs 54,4%; p = 0,001).
Verificar efeitos de
A coleta de dados foi sub-dividida em
uma intervenção, no Os escolares, tanto da escola controle quanto da
dois momentos: realização de medidas
âmbito da escola, experimental, encontram-se com uma alimentação
Cavalcanti e antropométricas e aplicação de um
para a promoção do classificada insuficiente e adotam hábitos alimentares
colaboradores, questionário modificado de estilo de vida
estilo de vida irregulares, em relação ao que é sugerido pela nova
2011, Intervenção para identificar os hábitos alimentares
saudável, em relação pirâmide alimentar. A classificação do IMC em relação
Distrito das crianças. O estudo desenvolveu-se
aos hábitos aos hábitos alimentares dos escolares no momento pré
Federal em três momentos distintos, mas
alimentares em e pós-intervenção, nas duas escolas, não apresentou
interdependentes: diagnóstico,
escolares da rede diferença significativa.
intervenção e reavaliação.
pública de ensino.
O trabalho foi realizado em duas escolas
Planejar e aplicar um públicas, A e B, nas quais foi Os escolares da escola A apresentaram mudança
programa de desenvolvido o projeto educativo, sendo significante (p<0,01) no conhecimento de alimentação
orientação em que na primeira os professores foram e nutrição após o desenvolvimento do projeto
Detregiachi e nutrição, realizado apoiados por um programa de educativo, o que não ocorreu entre os estudantes da
Braga, 2011, Investigação por nutricionista e orientação realizado por profissional escola B (p>0,05). Os resultados obtidos sugerem que
São Paulo destinado a nutricionista. Antes e depois do a realização de programa de orientação, prestada por
professores de 1ª a desenvolvimento do projeto educativo foi nutricionistas aos professores para desenvolverem o
4ª série do ensino aplicado um instrumento para avaliar o projeto educativo, maximizou os resultados, gerando
fundamental. conhecimento dos escolares sobre mudança significante.
alimentação e nutrição.
Analisar e comparar
O Projeto Escola utilizou duas Foram avaliadas 4 escolas com intervenção A (180
o conhecimento
estratégias de intervenção em educação alunos e 19 professores) e 4 com intervenção B (129
sobre nutrição de
nutricional: (A) ações educativas alunos e 16 professores). A média de acertos no
professores e alunos
realizadas na comunidade escolar pela instrumento de pirâmide dos alimentos foi de 3,2 e 2,9
Yokota e do Projeto “a escola
equipe; e (B) ações educativas (p=0,37), respectivamente pelas crianças que
colaboradores, promovendo hábitos
desenvolvidas por professores que receberam as intervenções nutricionais A e B. Os
2010, Intervenção alimentares
frequentaram oficinas de capacitação. O professores que receberam as intervenções
Distrito saudáveis”,
conhecimento das crianças foi avaliado nutricionais A e B obtiveram percentuais de acertos
Federal submetidos a duas
por meio de um instrumento sobre semelhantes nos questionários, em torno de 90,0%
estratégias de
pirâmide dos alimentos, sendo aplicado (p=0,06). Observou-se que os dois tipos de intervenção
educação nutricional
um questionário do tipo verdadeiro ou de educação nutricional foram igualmente úteis para
em escolas do
falso. promover o conhecimento de alunos e professores.
Distrito Federal.
O protocolo de estudo foi composto por
Avaliar os informações demográficas, intervenção
aprendizados nutricional e avaliação da mesma. A
Verificou-se prevalência de 85,8% de satisfação das
e percepções dos intervenção apresentou duração de três
crianças em relação às oficinas, indicando maior
escolares meses, sendo composta por oficinas de
Botelho e frequência da expressão facial mais feliz. A avaliação
participantes de um educação alimentar, e nutricional, além
colaboradores, após a intervenção demonstrou, por meio das falas,
Intervenção grupo operativo, de saúde bucal, utilizando como
2010, que as oficinas apresentaram impacto positivo para as
voltado para referencial as técnicas de grupo
Minas Gerais crianças e que as respostas às atividades
discussões que operativo. Ao final de cada oficina, foram
corresponderam, em sua maioria, ao esperado (“C:
visam a promoção da realizadas avaliações verbais breves
Aprendi a comer direito”).
alimentação contemplando os temas, sendo a
saudável. aceitação verificada por meio de escala
hedônica adequada à faixa etária.
A fruta foi ressignificada enquanto direito do agricultor
A abordagem foi pautada nos conceitos
Apresentar métodos que a produz. Houve grande interesse dos alunos
de promoção da saúde, nutrição
e tecnologias de porque as atividades realizadas refletiam o seu
comunitária e educação
intervenção em EAN cotidiano e valorizavam o trabalho e a história de suas
Boog, 2010, problematizadora. O programa de
Intervenção criados com base em famílias. O respeito por essa atividade e a possibilidade
São Paulo intervenção foi denominado “Ensinando
diagnóstico realizado de expressarem saberes sobre as lavouras de fruta,
a amar a terra e o que a terra produz”
no âmbito de escola socialmente construídos na prática comunitária,
realizado com 155 escolares da pré
e comunidade. fortaleceu a autoestima dos alunos e de seus
escola a 7ª série.
familiares.
Verificar a Foram realizadas quatro atividades Participaram da pesquisa 93 escolares (69,92%) dos
efetividade de educativas, no período de agosto a quais 48 crianças (54,5%) estavam eutróficas,
Anzolin e Intervenção
intervenções novembro de 2008 e o consumo enquanto 36 (40,9%) apresentaram sobrepeso e
colaboradores, não
nutricionais na alimentar reavaliado ao final. Avaliou-se obesidade. Os grupos de alimentos mais consumidos,
2010, randomizado
modificação do o estado nutricional por meio do IMC antes e após a intervenção foram: bolacha e macarrão;
Santa e não
consumo alimentar para sexo e idade, e da circunferência arroz e suco de frutas. A frequência média do consumo
Catarina controlado
entre escolares, de 6 da cintura. Foram comparadas as de doces reduziu após a intervenção (0,54 para 0,24
a 10 anos, de escola frequências de consumo antes e após a vezes ao dia, p < 0,001), entretanto aumentou a

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
99
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

privada. intervenção. ingestão de batata frita (0,25 para 0,65, p < 0,001),
pizza e hambúrguer (0,30 para 0,46, p = 0,028). Entre
as meninas, a ingestão de doces reduziu após as
atividades educativas (0,58 para 0,12, p < 0,001).
Caracterizar as
Nos 4 grupos focais conduzidos, os participantes
percepções sobre
Foram feitas perguntas gerais aos relataram conceitos adequados sobre alimentação
alimentação
adolescentes sobre alimentação. saudável e as principais barreiras foram, o sabor dos
saudável na ótica
Toral, 2010, Intervenção Posteriormente conduziu-se o estudo alimentos, a influência dos pais e a falta de tempo e de
dos adolescentes e
Distrito qualitativo e durante 6 meses. O grupo intervenção opções de lanches saudáveis na escola. No segundo
avaliar o impacto de
Federal randomizado recebeu mensalmente revistas e estudo, os grupos intervenção e controle foram
uma intervenção
informativos voltados para a promoção compostos por 373 e 487 adolescentes,
nutricional baseada
de uma alimentação saudável. respectivamente. Apenas 10,9% apresentavam um
no Modelo
consumo adequado de frutas e hortaliças.
Transteórico.
Amostra composta por 135 escolares de
uma escola privada e uma pública
Avaliar o efeito de divididos entre os grupos com O percentual de escolares com sobrepeso/obesidade
um programa de intervenção (n = 55) e sem intervenção passou de 21,8 para 23,6% nas turmas com
Educação Nutricional (n = 80). Realizaram-se duas avaliações intervenção e de 33,7 para 35,0% nas turmas sem
Fernandes e
na prevalência de antropométricas e de consumo intervenção (p > 0,05). Observou-se diminuição
colaboradores,
sobrepeso/ alimentar, antes e após a aplicação de significante no consumo de suco artificial (p = 0,013),
2009, Intervenção
obesidade e o um programa de educação nutricional. O alimento proibido pela Lei, nas turmas com
Santa
consumo alimentar diagnóstico nutricional foi obtido pelo intervenção. Nas turmas sem intervenção, observou-se
Catarina
de alunos da 2ª série IMC para idade, e os alimentos aumento significante no consumo de alimentos
do ensino consumidos na escola foram proibidos, como salgadinho industrializado (p = 0,021)
fundamental. classificados em permitidos ou proibidos e refrigerante (p = 0,031).
pela Lei das Cantinas de Santa
Catarina.
Os adolescentes foram avaliados por
meio de questionário, em três momentos
Analisar os reflexos Participaram do estudo 36 alunos, de ambos os
distintos, T0 antes e T1 e T2 após a
de um Programa de gêneros, com idades entre 11 e 14 anos. Pelas
intervenção. As ações de Educação
Educação Nutricional respostas foi possível identificar aspectos relacionados
Nutricional em sala de aula foram
nas condutas ao consumo, à percepção e ao conhecimento alimentar
Zancul e realizadas em encontros da
alimentares de dos alunos. As análises do questionário indicaram
Valeta, 2009, Intervenção pesquisadora com os alunos uma vez
alunos da alguns reflexos positivos após a implantação do projeto
São Paulo por semana, durante as aulas da
6ª série de uma de educação nutricional, como, por exemplo, o
disciplina de Ciências. As intervenções
escola da rede aumento do número de estudantes que passou a fazer
em sala de aula consistiram de
pública municipal. a refeição matinal e o aumento do consumo de
discussões, apresentação de filmes,
verduras cruas.
elaboração de cartazes, dramatização,
leitura de textos e aplicação de jogos.
Estudo desenvolvido com 162 escolares
Avaliar os resultados
de terceira e quarta séries de duas
de um programa de
Gabriel, instituições de ensino (pública e Embora não tenham sido detectadas mudanças no
intervenção
Santos e privada). O programa de educação perfil nutricional dos escolares, percebeu-se na escola
Intervenção nutricional visando à
Vasconcelos, nutricional de curta duração foi privada redução significativa nos percentuais de
não promoção de hábitos
2008, distribuído em sete encontros. Aplicou- bolachas recheadas trazidas de casa pelos meninos e
controlado alimentares
Santa se um questionário de consumo na escola pública aumentou significativamente o
saudáveis em
Catarina alimentar e aferiu-se peso e estatura consumo da merenda escolar e aceitação por frutas.
escolares do ensino
antes e um mês após o término da
fundamental.
intervenção.
Desenvolver e
implementar um
programa de
Programa com duração de seis meses e
educação alimentar e
envolveu 951 alunos, de 6 a 16 anos de
avaliar seus efeitos Houve aumento significativo na média de pontuação (p
idade, matriculados da pré-escola à 8ª
sobre o estado < 0,05) para NCAN e PA pós-intervenção com relação
série, os quais receberam aulas
Deminice e nutricional (EN), nível à pré. Entretanto, não foram encontradas correlações
semanais sobre alimentação, nutrição e
colaboradores, Intervenção de conhecimento em entre essas variáveis. Além disso, a prevalência de
atividades físicas. O NCAN e PA foram
2007, longitudinal alimentação e sobrepeso e obesidade aumentou entre os alunos
avaliados pré e pós-intervenção com
São Paulo nutrição (NCAN) e (20,7% pré para 24,3% pós). Pouco mais da metade
educação alimentar através de
práticas alimentares dos alunos atingem a recomendação de 30 minutos
questionários. O NAF foi determinado
(PA), além de diários de atividades físicas (68%).
através do Questionário Internacional de
determinar o nível de
Atividade Física (IPAQ).
atividade física (NAF)
em escolares de
ensino fundamental.
Analisar o
O estudo envolveu estudantes e
desenvolvimento,
professores de oito escolas públicas.
implementação e Observou-se uma melhora na escolha alimentar dos
Gaglianone e Três dessas escolas foram submetidas a
Intervenção impacto de um estudantes e redução no consumo de alimentos com
colaboradores, uma intervenção educativa, educação
randomizado programa de alta densidade energética. Também se observou
2006, nutricional, e as demais foram controle.
controlado educação nutricional melhora nos conhecimentos e atitudes de professores
São Paulo Avaliaram-se os efeitos da educação
sobre conhecimentos em relação à prevenção da obesidade.
nutricional sobre conhecimentos e
e atitudes relativos a
atitudes.
hábitos alimentares.
Legenda: IMC - Índice de Massa Corporal.

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
100
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

A análise acerca das estratégias Considerando que a EAN consiste em


metodológicas utilizadas nos estudos um processo de prática contínua e
revisados revelou a predominância de permanente, pode-se observar nesta pesquisa
atividades lúdicas, que compreendem: que a maioria dos estudos apresentou
pinturas, desenhos, histórias contadas com estratégias de intervenção de curto prazo
fantoches, dinâmicas, brincadeiras e jogos variando-se com duração mínima de (quinze)
educativos, materiais educativos sobre 15 dias na pesquisa de Boog (2010) e duração
alimentação e nutrição, teatro infantil, máxima de (vinte e três) 23 meses na
atividades de recorte e colagem, cartazes, pesquisa de Yokota e colaboradores (2010),
vídeos, materiais de comunicação, seguidas sendo que somente esta última caracterizou
de apresentações, encontros e palestras. como pesquisa de longo prazo, o que de fato
No trabalho de Campos, Bortoloto e pode ter influenciado nos resultados obtidos
Felício (2003), os autores destacam que as nesses trabalhos.
atividades lúdicas são importantes estratégias Todos os estudos revisados
para o ensino e a aprendizagem de conceitos, apontaram para melhoria de conhecimentos
favorecendo a motivação interna, o raciocínio, sobre alimentação saudável por parte dos
a argumentação do aluno e a interação entre escolares e dentre alguns deles também foi
quem aprende e quem ensina. De fato, pode- possível identificar mudanças de
se identificar a presença da abordagem lúdica comportamento alimentar. Sabe-se que esses
em dezesseis (16) pesquisas das dezoito (18) são resultados de impactos positivos, uma vez
revisadas nesse trabalho. que, constituem o primeiro passo para
Quanto aos métodos de avaliação das mudanças de hábitos alimentares e escolhas
intervenções oito (08) estudos realizaram a alimentares saudáveis, mas acredita-se ser
avaliação nutricional, sendo que desses, necessária a realização de pesquisas com um
nenhum apresentou resultado significativo na período maior de duração, para que se possa
redução do Índice de Massa Corporal (IMC) avaliar se as mudanças no comportamento
dos escolares com sobrepeso e obesidade, alimentar e escolhas alimentares assim como
esse resultado sugere que tal método não a melhoria de conhecimento sobre
pareceu ser o mais apropriado para avaliar alimentação e nutrição entre os escolares
ações nutricionais de curto prazo, portanto resultam em alterações no estado nutricional
pressupõe-se que as intervenções em longo dos mesmos.
prazo sejam mais oportunas para a redução Os estudos avaliados mostraram forte
do IMC. envolvimento dos professores nas
A aplicação de questionários de intervenções com atividades de EAN, sendo
avaliação de consumo alimentar tais como que todas as pesquisas analisadas referem o
Recordatório 24 horas (R24h), Questionário de professor como colaborador do processo.
Frequência Alimentar (QFA) e Questionário de Nesta direção, Davanco, Taddei e
Registro alimentar caracterizou-se como Gaglianone (2004), em seu estudo
método de avaliação predominante, visto que reconheceram a importância da participação
do total dos trabalhos analisados quatorze (14) do professor, uma vez que ele é considerado
utilizaram esse instrumento, dentre eles pode- um membro fundamental da equipe de saúde
se identificar que alguns questionários foram escolar.
elaborados para os pais dos alunos Além disso, o professor possui maior
responderem. convívio com os alunos e conhece sua
Segundo Poulain e Proença (2003), o realidade cultural e social. Estes autores
questionário é um instrumento que permite a identificam ainda o papel dos professores na
coleta de grandes quantidades de dados e construção de conhecimentos, na conciliação
possibilita trabalhar com muitas variáveis, mas de regras para o consumo alimentar, além de
como qualquer instrumento de avaliação, esta intervir como modelo de compartilhamento e
aplicação apresenta também limitações favorecimento de trocas de experiências e
principalmente no que se refere à dificuldade opiniões referentes à alimentação entre os
de elaboração, pois é necessário considerar alunos.
fatores importantes tais como: o público alvo, o Dos dezoito (18) estudos revisados
tipo de questões a incluir, o tipo de respostas seis (06) fizeram referência sobre a
que se pretende encontrar e o tema abordado. importância da atividade física sendo que três

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
101
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

(03) desses trabalhos sinalizaram a relevância sobrepeso e obesidade, pesquisas que


da colaboração dos professores de Educação combinem ações de EAN com a prática de
Física durante as intervenções. atividade física.
Friedrichi, Schuch e Wagner (2012), No que se refere aos locais de
em um estudo de revisão, avaliaram o efeito realização das pesquisas, pode-se observar
dos programas de intervenções com a que das dezoito (18) pesquisas selecionadas
atividade física e/ou a educação nutricional na cinco (05) foram realizadas em São Paulo; três
redução do IMC em escolares e concluíram (03) em Santa Catarina, três (03) no Distrito
que programas de intervenções que associam Federal, duas (02) no Rio de Janeiro, duas
a atividade física e educação nutricional (02) em Minas Gerais, uma (01) no Ceará,
tiveram mais efeitos positivos na redução do uma (01) em Rio Grande do Sul e uma (01) no
IMC em escolares do que quando aplicados Mato Grosso. Isso indica a concentração de
de forma isolada. estudos nas regiões Sudeste, Sul e Centro-
Dessa forma, sugere-se como Oeste do país acerca desse tema, como
estratégia para prevenção e redução do revela o Gráfico 1.

Gráfico 1 - Quantidades de pesquisas em relação aos locais de realização.

Ao analisar o tipo de rede escolar em as privadas e que abrangem desde a


que foram realizados os estudos observou-se educação infantil ao nível médio de ensino no
que treze (13) desses ou 72% ocorreram em Brasil.
rede pública de ensino, dois (02) ou 17% em Sendo assim, sugere-se que haja
escolas privadas e três (03) ou 11% em ambas maior realização de ações de EAN nas redes
as escolas (pública e privada) como mostra o privadas de ensino.
Gráfico 2. Em relação aos anos de publicação
A predominância pelas intervenções das pesquisas pode-se observar um maior
na rede pública de ensino pode sinalizar número de publicações entre os anos de 2010
possíveis parcerias locais entre universidades e 2011, sendo selecionadas cinco (05) e
e centro de pesquisas com as prefeituras quatro (04) respectivamente.
municipais. Nos anos de 2005, 2014 e 2015 não
A Portaria Interministerial n.º 1.010 foram encontrados nenhum artigo ou trabalhos
(Brasil, 2006), que institui as diretrizes para a científicos publicados sobre o tema, segundo a
Promoção da Alimentação Saudável nas estratégia metodológica utilizada nessa
Escolas de educação infantil, estabelece que pesquisa, conforme revela o Gráfico 3.
para que haja a promoção de alimentação Ou seja, há uma lacuna considerável
saudável devem-se formular estratégias de de reproduções sobre esse assunto nos
fomento tanto para as redes públicas quanto últimos dois (02) anos no campo científico. Tal

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
102
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

fato é preocupante tendo em vista a Neste sentido, essa revisão alerta para
importância desse tema frente ao crescimento a urgência em investigações e publicações
do excesso de peso no grupo infanto-juvenil. acadêmicas sobre essa temática.

Gráfico 2 - Porcentagem de pesquisas em relação ao tipo de rede escolar (pública e privada).

Gráfico 3 - Quantidades de pesquisas em relação aos anos de publicação.

CONCLUSÃO Dessa forma, se reconhece a


necessidade de incentivar a realização de
Na revisão da literatura analisada foi novas pesquisas na área tendo em vista que o
possível observar que as ações de EAN tema da EAN apresenta enorme relevância
realizadas em escolares tiveram um impacto para promoção de estilos de vida saudáveis,
positivo na prevenção do excesso de peso e nesses grupos, em particular.
da obesidade, uma vez que os escolares A partir dessa revisão, conclui-se
apresentaram mudanças de comportamento ainda, que o campo da EAN precisa ser
alimentar dos escolares e melhoria de aperfeiçoado, principalmente no que se refere
conhecimento sobre alimentação saudável. à utilização de métodos mais aprofundados de
Ainda assim, pode-se verificar, nessa intervenção que considerem, sobretudo, a
revisão, um entrave importante na superação cultura de valores, crenças e atitudes dos
do problema que foi o baixo número de indivíduos no que se refere à alimentação.
trabalhos científicos publicados no período Além disso, é fundamental a
investigado (2005-2015). realização de pesquisas em longo prazo uma
vez que educar é um processo constante e

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
103
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

que demanda tempo para ser assimilado pelos 8-CAISAN. Câmara Interministerial de
indivíduos. Segurança Alimentar e Nutricional. Estratégia
Desse modo, as intervenções Intersetorial de Prevenção e Controle da
nutricionais podem ser efetivamente úteis para Obesidade: recomendações para estados e
os indivíduos a partir de um método de educar municípios. Brasília. 2014.
crítico e consciente que promova a autonomia
dos sujeitos para estabelecerem conceitos em 9-Campos, L. M. L.; Bortoloto, T. M.; Felício, A.
relação às suas práticas alimentares (Freire, K. C. A produção de jogos didáticos para o
1998; Ometto, 2006). ensino de Ciências e Biologia: uma proposta
para favorecer a aprendizagem. Caderno dos
REFERÊNCIAS Núcleos de Ensino. Vol. 47. 2003. p.47-60.

1-Anzolin, C.; Ouriques, C.M.; Höfelmann, 10-Cavalcanti, L. A.; Carmo Júnior, T. R.;
D.A.; Mezadri, T. Intervenções nutricionais em Pereira, L. A.; Asano, R. Y.; Garcia, M. C. L.;
escolares. Revista Brasileira em Promoção da Cardeal, C. M.; França, N. M. Efeitos de uma
Saúde. Vol. 23. Num. 4. 2010. p.297-306. intervenção em escolares do ensino
fundamental I, para a promoção de hábitos
2-Boog, M. C. F. Educação nutricional: alimentares saudáveis. Revista Brasileira de
passado, presente, futuro. Revista de Ciência e Movimento. Vol. 20. Num. 2. 2011.
Nutrição. Vol. 10. Num. 1. 1997. p.5-19. p.5-13.

3-Boog, M. C. F. Programa de educação 11-Davanco, G. M., Taddei, J. A. A. C.;


nutricional em escola de ensino fundamental Gaglianone, C. P. Conhecimentos, atitudes e
de zona rural. Revista de Nutrição. Vol. 23. práticas de professores de ciclo básico,
Num. 6. 2010. p.1005-1017. expostos e não expostos a Curso de
Educação Nutricional. Revista de Nutrição.
4-Botelho, L. L. R.; Cunha, C. C. A.; Macedo, Vol. 17. Num. 2. 2004. p.177-184.
M. O método da revisão integrativa nos
estudos organizacionais. Revista Gestão e 12-Deminice, R.; Laus, M. F.; Marins, T. M.;
Sociedade. Belo Horizonte. Vol. 5. Num. 11. Silveira, S. D. O.; Dutra de Oliveira, J. E.
2011. p.121-136. Impacto de um Programa de Educação
Alimentar sobre conhecimentos, práticas
5-Botelho, L. P.; Zanirati, V. F.; Paula, D. V.; alimentares e estado nutricional de escolares.
Lopes, A. C. S.; Santos, L. C. Promoção da Revista Alimentos e Nutrição. Vol. 18. Num. 1.
alimentação saudável para escolares: 2007. p.35-40.
aprendizados e percepções de um grupo
operativo. Nutrire: Revista da Sociedade 13-Detregiachi, C. R. P.; Braga, T. M. S.
Brasileira de Alimentação e Nutrição. Vol. 35. Projeto “criança saudável, educação dez”:
Num. 2. 2010. p.103-116. resultados com e sem intervenção do
nutricionista. Revista de Nutrição. Vol. 24.
6-Brasil. Ministério da Saúde e Ministério da Num. 1. 2011. p.51-59.
Educação. Institui diretrizes para Promoção da
Alimentação Saudável nas Escolas de 14-Duncan, B. B.; Chor, D.; Aquino, E. M. L.;
educação infantil, fundamental e nível médio Besenor, I. M.; Mill, J. G.; Schmidt, M. I.;
das redes públicas e privadas, em âmbito Lotufo, P. A.; Vigo, A.; Barreto, S. M. Doenças
nacional. Portaria interministerial, Num. 1010 crônicas não transmissíveis no Brasil:
de 8 de maio de 2006. Brasília. 2006. prioridade para enfrentamento e investigação.
Revista de Saúde Pública. Vol. 46. 2012.
7-Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social p.126-134.
e Combate à Fome. Marco de referência de
educação alimentar e nutricional para as 15-Fernandes, P. S.; Bernardo, C. O.;
políticas públicas. Secretaria Nacional de Campos, R. M. M. B.; Vasconcelos, F. A. G.
Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília. Avaliação do efeito da educação nutricional na
2012. prevalência de sobrepeso/obesidade e no
consumo alimentar de escolares do ensino

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
104
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

fundamental. Jornal de Pediatria. Vol. 85. 24-Ometto, S. A educação nutricional e sua


Num. 4. 2009. p.315-321. prática em grupo: um estudo de caso.
Dissertação de Mestrado. Universidade
16-Freire, P. Pedagogia da autonomia: Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,
saberes necessários à prática educativa. São Universidade de São Paulo. Piracicaba (SP).
Paulo. Paz e Terra. 1998. 2006.

17-Friedrichi, R. R.; Schuch, I.; Wagner, M. B. 25-Poulain, J. P.; Proença, R. P. C. Reflexões


Efeito de intervenções sobre o índice de metodológicas para o estudo das práticas
massa corporal em escolares. Revista de alimentares. Revista de Nutrição. Vol. 16.
Saúde Pública. Vol. 46. Num. 3. 2012. p.551- Num. 4. 2003. p.365-386.
560.
26-Prado, B. G.; Guimarães, L. V.; Lopes, M.
18-Gabriel, C. G.; Santos, M. V.; Vasconcelos, A. L.; Bergamaschi, D. P. Efeito de ações
F. A. G. Avaliação de um programa para educativas no consumo de alimentos no
promoção de hábitos alimentares saudáveis ambiente escolar. Nutrire: Revista da
em escolares de Florianópolis, Santa Catarina, Sociedade Brasileira de Alimentação e
Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno Nutrição. Vol. 37. Num. 3. 2012. p.281-292.
Infantil. Vol. 8. Num. 3. 2008. p.299-308.
27-Santos, L. A. S. Educação alimentar e
19-Gaglianone, C. P.; Taddei, J. A. A. C.; nutricional no contexto da promoção de
Colugnati, F.A.B.; Magalhães, C. G.; Davanço, práticas alimentares saudáveis. Revista de
G. M.; Macedo, L.; Lopez, F. A. Nutrition Nutrição. Vol. 18. Num. 5. 2005. p.681-692.
education in public elementary schools of São
Paulo, Brazil: the Reducing Risks of Illness 28-Silva, M. X.; Schwengber, P.; Pierucci, A.
and Death in Adulthood Project. Revista de P. T. R.; Pedrosa, C. Abordagem lúdico-
Nutrição. Vol. 19. Num. 3. 2006. p.309-320. didática melhora os parâmetros de educação
nutricional em alunos do ensino fundamental.
20-Instituto Brasileiro de Geografia e Revista Ciências e Cognição. Vol. 18. Num. 2.
Estatística (Brasil). Pesquisa de orçamentos 2013. p.136-148.
familiares 2008-2009: antropometria e estado
nutricional de crianças, adolescentes e adultos 29-Souza, E. C. G.; Paixão, J. A. D.; Arêdes,
no Brasil. Rio de Janeiro. IBGE. 2010. E. M.; Bastos, K. P. L.; Gomes, D. M. O papel
da escola na formação do bom hábito
21-Kops, N. L.; Zys, J.; Ramos, M. Educação alimentar. Revista Nutrição Brasil. Num. 2.
alimentar e nutricional da teoria à prática: um 2007. p.65-67.
relato de experiência. Revista Ciência &
Saúde. Vol. 6. Num. 2. 2013. p.135-140. 30-Toral, N. A alimentação saudável na ótica
dos adolescentes e o impacto de uma
22-Linde, K.; Willich, S. N. How objective are intervenção nutricional com materiais
systematic reviews? Differences between educativos baseado no modelo transteórico
reviews on complementary medicine. Journal entre escolares de Brasília-DF. Tese de
of the Royal Society of Medicine. Vol. 96. Num. Doutorado. Faculdade de Saúde Pública. São
1. 2003. p.17-22. Paulo. 2010.

23-Maia, E. R.; Lima Junior, J. F.; Pereira, J. 31-Vargas, I. C. S.; Sichieri, R.; Pereira, G. S.;
S.; Eloi, A. C.; Gomes, C. C.; Nobre, M. M. F. Veiga, G. V. Avaliação de programa de
Validação de metodologias ativas de ensino- prevenção de obesidade em adolescentes de
aprendizagem na promoção da saúde escolas públicas. Revista de Saúde Pública.
alimentar infantil. Revista de Nutrição. Vol. 25. Vol. 45. Num. 1. 2011. p.59-68.
Num. 1. 2012. p.79-88.
32-Yokota, R. T. C.; Vasconcelos, T. F.;
Pinheiro, A. R. O.; Schmitz, B. A. S.; Coitinho,
D. C.; Rodrigues, M. L. C. F. Projeto “a escola
promovendo hábitos alimentares saudáveis”:

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919
105
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r

comparação de duas estratégias de educação


nutricional no Distrito Federal, Brasil. Revista
de Nutrição. Vol. 23. Num. 1. 2010. p.37-47.

33-Zancul, M. S.; Valeta, L. N. Educação


nutricional no ensino fundamental: resultados
de um estudo de intervenção. Nutrire: Revista
da Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição. Vol. 34. Num. 3. 2009. p.125-140.

34-Zanirati, V. F.; De Paula. D. V.; Botelho. L.


P.; Lopes, A. C. S.; Luana Santos, L. C.
Impacto de oficinas de educação alimentar no
perfil nutricional de crianças inseridas no
programa escola integrada. Revista de
Atenção Primária à Saúde. Vol. 14. Num. 4.
2011. p.408-416.

Recebido para publicação em 09/06/2016


Aceito em 08/11/2016
Primeira versão em 12/02/2017
Segunda versão em 05/03/2017

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v.11. n.62. p.94-10. Mar./Abril. 2017. ISSN 1981-9919

Você também pode gostar