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Avaliação I
Profª Ms. Sandra Mesquita
Sumário
CORRENTES TEÓRICAS........................................................................................... 3
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO..................................................................... 24
Instrumentos de Avaliação I
(...) nesse
Instrumento de Avaliação I lugar do processo de aprendizagem
coincidem num momento histórico,
Profª Mestre Sandra Regina Stanziani um organismo, uma etapa genética da
Higino Mesquita inteligência e um sujeito associado a
tantas outras estruturas teóricas, de
cuja engrenagem se ocupa e preocupa
a Epistemologia; referimo-nos princi-
È importante conhecermos os palmente ao materialismo histórico,
fundamentos da Psicopedagogia para assim a teoria piagetiana da inteligência e a
teoria psicanalítica de Freud, enquanto
fundamentarmos nossas escolhas nesse a ideologia, a operatividade e o in-
momento de observação e intervenção consciente. (PAIN apud BOSSA, 2000,
psicopedagógica. Assim temos em p.25)
PORTO(2005) um importante texto de
introdução que nos auxilia refletir : Dessa forma,
(...) a Psico-
pedagogia foi se perfilando como um
CORRENTES TEÓRICAS conhecimento independente e comple-
Olivia Porto mentar, por assimilação recíproca das
contribuições das escolas psicanalíti-
É importante conhecer os fundamentos cas, piagetiana e da psicologia social
de Enrique Pichón-Riviére. Dessa
da Psicopedagogia, pois implica refletir sobre forma, entende esse autor ser possível
as suas origens teóricas, ou seja, revisar compreender a participação dos aspec-
velhos impasses conceituais que subjazem tos afetivos, cognitivos e do meio que
na ação e na atuação da Pedagogia e da confluem no aprender do ser humano.
(VISCA apud BOSSA, 2000, p. 25)
Psicopedagogia no apreender do fenômeno
educativo.
Vale lembrar que, os que se defrontam
Assim, do seu parentesco com com os problemas de aprendizagem, devem
a Pedagogia, a Psicopedagogia traz as fundamentar sua prática na articulação
identificações e contradições de uma da Psicanálise, da teoria Piagetiana, do
ciência cujos limites são os da própria materialismo histórico, dentre outras teorias.
vida humana. Envolve simultaneamente
o social e o individual em processos tanto Por sua
vez, Muller aponta como suportes
transformadores quanto reprodutores. teóricos na Psicopedagogia Clínica:
Da Psicologia, a Psicopedagogia herda o a psicanálise e a Psicologia Gené-
velho problema do paralelismo, psicofísico, tica, bem como a Psicologia Social e
num dualismo que ora privilegia o físico Lingüística. ( BOSSA, 2000, p.25)
(observável), ora psíquico (a consciência).
Portanto,
Essas duas áreas não são suficientes
para apreender o objeto de estudo (...) a psico-
pedagogia terapêutica é um campo de
da Psicopedagogia – o processo de conhecimento relativamente novo que
aprendizagem e suas variáveis – e nortear surgiu na fronteira entre a Pedago-
a sua prática. Dessa forma, recorre-se a gia e a Psicologia. Encontra-se ainda
outras áreas, como a Filosofia, a Neurologia, em fase de organização de um corpo
teórico específico, visando a integração
a Sociologia, a Lingüística, a Psicanálise..., das ciências pedagógica, psicológica,
no sentido de alcançar compreensão desse fonoaudilógica, neurológica e psicolon-
processo. guistica, para uma compreensão mais
integradora do fenômeno da aprendi-
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“colocar-se no meio”. Ao pensar sobre estes aprendizagem do sujeito, o qual pode estar
significados das palavras, imediatamente nos apresentando problemas. Na intervenção, o
lembramos de várias formas de mediação procedimento adotado interfere no processo,
às quais a criança está submetida, ou seja, com o objetivo de compreendê-lo, explicitá-lo
várias pessoas e instituições que se “colocam ou corrigi-lo. Introduzir novos elementos para
no meio”, entre a criança e o mundo físico e o sujeito pensar poderá levar à quebra de
social, desde o início de sua vida. A família um padrão anterior de relacionamento com o
ou, mais precisamente, os pais ou adultos mundo das pessoas e das idéias. É isso que
são os primeiros mediadores, aqueles que ocorre na intervenção terapêutica. Uma fala,
apresentam o mundo à criança, os que um assinalamento, uma interpretação são
ensinam os primeiros hábitos, valores, leis exemplos de intervenções, com a finalidade
e regras. Interpõem-se entre a criança e o de desvelar um padrão de relacionamento,
mundo lá fora, fazendo um recorte, filtrando uma relação com o mundo e, portanto, com o
as informações, propiciando a construção conhecimento.
de uma nova personalidade, a qual sofrerá
talvez para sempre a interferência das Quatro visões sobre a intervenção
figuras paternas, reais e imaginárias. Sem psicopedagógica
dúvida, a família intervém e a qualidade
dessa mediação dependerá da organização Um dos objetivos da psicopedagogia é a
da própria família. É ela a fonte das primeiras intervenção, a fim de “colocar-se no meio”,
aprendizagens da criança e também. O motor de fazer a mediação entre a criança e seus
dos primeiros desenvolvimentos. objetos de conhecimento. Vários autores
preocuparam-se em configurar o campo e a
A escola e os professores são também natureza da intervenção psicopedagógica.
importantes mediadores, pois se interpõem
entre a criança e o mundo social mais Vinh-Bang (1990) apresenta uma
amplo e se responsabilizam por ensinar- modalidade de intervenção baseada no
lhes conteúdos, por fazê-las aprender, método clínico piagetiano e aponta três
por desenvolver sua inteligência e sua níveis nos quais a intervenção pode se dar:
afetividade. A escola intervém com no nível individual do aluno, para preencher
novos materiais e objetos para pensar, lacunas e corrigir atrasos; no nível coletivo
aproveitando (umas mais e outras menos) as ‘de um conjunto de alunos. Para dar conta
experiências trazidas pela criança. Tal como de elementos que foram negligenciados;
a família, a escola seleciona o que considera e no nível da escola, para reduzir a
importante de ser aprendido, filtra, faz um desadaptação escolar. O autor trabalha com
recorte e “toma as rédeas” do processo de a idéia de insuficiência, definindo-a como
aprendizagem de seus alunos. Seja qual for “todo e qualquer erro nas produções dos
a metodologia seguida, uma coisa é certa: alunos, quaisquer que sejam a freqüência,
na escola ocorre intervenção, cujo objetivo a proveniência ou a natureza. Tais erros
central é a aprendizagem de conteúdos podem ou não convergir ao insucesso, a uma
selecionados’ como importantes para a vida produção considerada como insuficiente” (p.
futura da criança no mundo social a que ela 2). Com base nessa idéia de insuficiência,
pertence. há que se buscar entender o processo de
produção dos alunos e não somente seus
Num sentido mais específico, fala-se em resultados finais; deve-se olhar o sucesso
intervenção como uma interferência que um e o insucesso e reconstituir o processo
profissional (educador ou terapeuta) realiza de produção de resposta do aluno, o que
sobre o processo de desenvolvimento e/ou
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com o espaço de aprender. O exemplo citado de ação subjacente”; buscar a repetição dos
por Fernández é bem elucidativo: “Quando esquemas de ação, e interpretar a operação
uma criança brinca de andar de avião com mais do que o conteúdo.
uma vassoura está negando que a vassoura
é uma vassoura. Ao usá-la como avião, Ao tratar da questão do diagnóstico, a
acredita que é um avião. Porém, ao mesmo autora dá pistas de como este poderá auxiliar
tempo em que está negando que é uma no planejamento de uma intervenção ou
vassoura, e acreditando que é um avião, tratamento. Os casos clínicos discutidos e
está negando que é um avião e acreditando apresentados em sua obra A inteligência
que é uma vassoura. Não vai se atirar de aprisionada ilustram a proposta de
um primeiro andar, montando a vassoura- diagnóstico feito por equipe multidisciplinar,
avião. Quando não pode jogar, pode ser bem como informam sobre os elementos que
que só possa ver a vassoura como vassoura este diagnóstico oferece para se intervir. Na
(hiperacomodaçãoJ, ou que a transforme num realidade brasileira, ainda deparamos com
avião (hiperassimilação). Em nenhum desses um diagnóstico feito aos poucos, isto é, numa
casos poderá aprender nada, nem sobre seqüência de encaminhamentos, o que leva
vassouras nem sobre aviões” (p.165-166). a uma demora maior no processo e a uma
dificuldade de integração dos resultados.
Fernández propõe um olhar clínico para Cada vez mais se torna necessário o
os problemas de aprendizagem e uma trabalho em equipe multidisciplinar para
atitude que se resume em escutar e traduzir atender mais rapidamente à clientela,
o material trazido pelo cliente. Para isso, o assim como refletir sobre os pontos de
psicopedagogo deverá formar-se, inclusive intersecção das observações feitas pelos
fazendo um trabalho consigo mesmo em diferentes profissionais, o que conduzirá
relação às suas dificuldades para aprender a um diagnóstico mais integrado. Como
(deverá levantar sua história e trabalhá- conseqüência, poder-se-á planejar uma
la). Para a autora, saber não é o mesmo intervenção que atenda mais adequadamente
que conhecer. O saber está associado à ao problema da criança.
experiência, “é transmissível só diretamente,
de pessoa a pessoa, experiencialmente; não Macedo (1992), por sua vez, apresenta
se pode aprender através de um livro, nem uma visão construtivista da psicopedagogia,
de máquinas, não é sistematizável...” (p. derivada da epistemologia construtivista de
129). O conhecimento pode ser adquirido Piaget. Com base nessa teoria, sugere um
por meio de livros ou máquinas, pode ser tipo de intervenção.
sistematizado em teorias. Esta distinção se
aplica também ao saber psicopedagógico. “... A meta de uma psicopedagogia
Este último se obtém com base na construtivista é criar condições para que o ser
experiência e no tratamento psicopedagógico humano possa e queira (na dupla perspectiva
didático, que é o trabalho de auto-análise funcional e estrutural) estabelecer suas
das próprias dificuldades e possibilidades relações com o mundo em um nível
no aprender, necessário à formação do operatório formal” (p. 127).
psicopedagogo.
O autor sugere o uso de jogos de regras
Assim, propõe um guia para conseguir com um propósito psicopedagógico, pois
uma escuta psicopedagógica: escutar- estes apresentam uma situação-problema,
olhar; deter-se nas fraturas do discurso; um resultado e um conjunto de regras que
observar e relacionar com o que aconteceu determinam os limites dentro dos quais a
previamente à fratura; descobrir o “esquema situação-problema e os resultados serão
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experiência, mais recursos ele deverá utilizar apresentação de um estímulo, para, desta
para fazer a sua leitura dos problemas de forma, poder observar suas condições do
aprendizagem. processo de aprendizagem, bem como os
recursos em termos de operações e funções
Embora refutemos a padronização, cognitivas.
os recursos devem responder a uma
pesquisa que envolva a observação dos Muitas vezes uma criança iniciante no
aspectos relacionais, cognitivos, motores e processo de aprendizagem da leitura e da
pedagógicos. Considero úteis os seguintes escrita não consegue espontaneamente
recursos: desenhos, escrita livre e dirigida, expressar adequadamente suas ideias por
leitura, propostas pedagógicas, diagnóstico meio da escrita. Ao propormos que expresse
operatório, jogo simbólico e jogo de suas possibilidades de lidar com a língua
regra, observação do material escolar. escrita, por um outro recurso, como, por
Os instrumentos estão a serviço de uma exemplo, cenas mudas, pode-se verificar
compreensão dos diferentes aspectos que suas condições para lidar com a sintaxe.
necessitam ser pesquisados. Na segunda atividade, a exigência foi
simplificada e limitada no sentido de que
O psicopedagogo-investigador deverá a atividade proposta teve grau menor de
ir fazendo uma ponte entre as diferentes complexidade.
modalidades expressivas do sujeito,
procurando entender o sentido das mesmas, Nesta oportunidade, devido a
as possibilidades e recursos do aprendiz, proposta de reflexão geral do diagnóstico
quais as melhores condições para aprender, psicopedagógico, darei apenas uma visão
além de observar as suas possíveis global de dois parâmetros do mapa cognitivo:
limitações. operações mentais e funções cognitivas.
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No que se refere a isto, temos interesse âmbitos nos quais está inserido o aluno,
em enfatizar alguns aspectos. Um primeiro como a família e inclusive a comunidade
conceito que se manifesta é a idéia de social. Especificamente, no que se refere à
processo, oposta à de intervenção pontual. família, o diagnóstico psicopedagógico pode
Falamos de processo porque se trata de uma alcançar também - além da atenção, no
seqüência de atuações - sem que, em muitos caso em que a solicitação de ajuda venha
casos, possamos marcar um final claramente da família - um primeiro conhecimento
delimitado - que tendem à transformação de das problemáticas familiares, algumas
uma situação inicial. orientações e inclusive, e se for O caso, o
encaminhamento aos Centros de Saúde
Outra noção implícita no diagnóstico Mental. O que gostaríamos de esclarecer
psicopedagógico é a análise das dificuldades é que, ainda que o conhecimento e as
do aluno no ambiente escolar. Nesta avaliação modificações do sistema familiar possam ter
intervêm, no mínimo, dois profissionais. Em uma importância capital, a ajuda psicológica
primeiro lugar, o psicólogo como especialista, às famílias insere-se sempre dentro de uma
mas também, e isso é importante, o atuação mais ampla, que é a de conseguir a
professor, que é quem conhece o aluno melhoria do aluno dentro da própria família e,
nas situações cotidianas de aprendizagem. evidentemente, também dentro da situação
Ambos os profissionais trabalharão juntos escolar. Colocado de outra forma, dentro
e serão corresponsáveis pelo processo de de urna perspectiva psicopedagógica, o
conhecimento e avaliação das dificuldades trabalho com famílias pode ser considerado
do aluno. Em outras palavras, no diagnóstico fundamental e indispensável para modificar
psicopedagógico, a exploração da as atitudes de alguns alunos, mas, mesmo
problemática do aluno não é responsabilidade assim, esse trabalho somente se constituirá
única do psicopedagogo, apesar de ser ele em uma das partes do diagnóstico, já que
o elemento essencial; o professor também ele estará centralizado, principalmente, no
participa, dando uma visão complementária conhecimento e na modificação da situação
fundamental. escolar.
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referindo à escola, ao professor, ao aluno, à pelo contrário, pode ser fonte de conflitos,
família e ao psicopedagogo. dependendo de como estejam estruturados
e se relacionem os diferentes níveis
hierárquicos ou subsistemas, como a equipe
2.2. Sujeitos e sistemas envolvidos no dirigente, a administração ou os diversos
diagnóstico psicopedagógico níveis, entre outros. Para estabelecer um
consenso e aceitar sem conflitos as funções
2.2.1. A escola dos diferentes núcleos organizadores, é
básico, entre outras condições, que exista
É conveniente esclarecer previamente que, uma estabilidade mínima nas equipes. Na
quando falamos de escola ou de instituição escola pública, as mudanças de educadores
escolar, tanto nesta parte como em todo o são freqüentes e isso tem repercussão
livro, referimo-nos essencialmente à escola na instituição à medida que ela enfrenta
pública, já que este é o nosso contexto dificuldades, para se consolidar em torno
habitual de trabalho e, portanto, aquela que de um projeto comum a ser desenvolvido a
melhor conhecemos e podemos tomar como curto e médio prazo. Na prática, observamos
referência. diferentes tipos de escola segundo tenham
existido ou não as condições e o tempo
A escola como instituição social, pode ser suficientes para estabelecer objetivos
considerada de forma ampla e, de acordo comuns, para marcar uma metodologia
com a teoria sistêmica, como um sistema de base e para explicitar o seu projeto
aberto que compartilha funções e que se educativo. Em outras palavras, as escolas
inter-relaciona com outros sistemas que são instituições que passam por momentos
integram todo o contexto social. Entre estes evolutivos diferentes.
sistemas, o familiar é o que adquire o papel
mais relevante no referente à educação e Num outro nível, a sociedade outorga
assim, na atualidade, vemos a escola e a à escola a missão de educar e instruir os
família em inter-relação contínua, mesmo alunos, visando à sua integração da forma
que nem sempre sejam obtidas atuações mais plena possível como seres individuais
adequadas, já que, muitas vezes, agem e com critério próprio para abordar assun
como sistemas contrapostos mais do que tos diferen tes, tanto aqueles relativos à
como sistemas complementares. Essa maturidade pessoal como os referentes à
diferenciação, talvez, seja salientado pelo sua integração social. Assim, a escola não
fato de que a escola é um organismo sobre pode agir independentemente; existe um
o qual muitas outras instituições fazem outro sistema mais abrangente, que é a
fluir exigências e formas de agir diversas, administração do Estado, dentro do qual
muitas vezes descoordenadas e, inclusive, ela está inserida e que é o que propõe os
aparentemente, contrapostas. Na prática objetivos mínimos que cada aluno deve
diária podemos constatar como as diferentes atingir ao concluir o ensino obrigatório.
administrações - local, regional, estadual - Podemos, assim, considerar que, no que se
estabelecem para a escola objetivos diversos refere aos objetivos finais, a escola tende à
que podem dispersar as suas ações. Da homogeneização. Além do mais, o sistema
mesma forma, os pais, com diferentes níveis atual de níveis (em parte corrigido pela
socioculturais, costumam esperar da escola idéia de ciclo), que congrega os alunos por
tarefas educativas muito diversas. idades, reforça ainda mais essa possível
uniformização dos alunos. Existem também
Em nível interno, a escola pode-se tornar outros elementos que contribuem para o
uma instituição potenciadora ou, então, tratamento igualitário dos alunos como,
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entre outros, O tipo de formação básica que momento de evolução em que se encontra a
recebem os educadores, a sobrecarga da escola, qual o grau de maturidade que atingiu
gestão escolar que sofrem em detrimento e como entende o processo educativo dentro
do tempo dedicado à revisão da prática de um contexto realista.
educativa e, finalmente, uma certa tradição
e inércia na forma de abordar os problemas A nossa atuação na escola e, mais
didáticos, que consiste em considerar, concretamente, nos casos que apresentam
principalmente, tudo aquilo que é genérico e dificuldades, pode também estar midiatizada
comum antes das necessidades individuais e pelo modo com a escola trata a diversidade
particulares. e pela sua possibilidade de que ser flexível
e acolhedora. Geralmente, dependendo da
Paralelamente, fala-se do conceito de forma como a escola entende estes conceitos,
diversidade, mas na realidade, essa ideia dará ou não condições de que se ofereça
coincide pouco, ao menos aparentemente, uma maior ou menor ajuda aos alunos com
com os objetivos globais mínimos do dificuldades.
sistema educativo que, como já dissemos,
induzem ao tratamento igualitário dos Para finalizar, já colocamos que a escola
alunos. Se à falta de um debate profundo tem uma função social, que é a de preparar
sobre a questão da diversidade e à ausência os alunos para enfrentarem as futuras
de orientações sistemáticas sobre como exigências da sua comunidade. Temos
realizá-la acrescentamos a problemática avaliado também que é muito difícil criar
que já demonstramos antes da tendência uma escola integradora e respeitosa das
à uniformização do sistema educativo, individualidades e que, ao mesmo tempo,
encontra-nos diante de uma situação ainda obtenha bons níveis de formação. Apesar
muito pouco madura no que se refere ao disso, temos certeza de que cada escola
conceito de tratamento individualizado do pode abordar, e, na verdade, muitas o estão
aluno. Com freqüência, na prática, cada fazendo, o tema da educação na diversidade
professor individualmente ou cada grupo de forma coletiva. No que se refere a este
de professores precisa considerar esta aspecto, temos observado que a elaboração
problemática e buscar soluções genuínas e do projeto educativo tem sido um bom
originais. Especificamente, um dos temas recurso, para explicitar o problema e para
não resolvidos e que esperamos o seja com começar a buscar soluções institucionais.
a nova Lei de Educação é o critério a ser
seguido na avaliação do rendimento dos 2.2.2. O professor
alunos com dificuldades. São efetivamente
avaliadas a aprendizagem e a evolução A estrutura atual do sistema educativo,
social? Ou é indicado o nível de obtenção dos e, mais ainda, a reforma do ensino prevista
objetivos mínimos? Estes e outros pontos colocam o professor como um profissional
deverão ser repensados, para a superação que deve pertencer e agir em diferentes
desta tendência da escola à homogeneização subsistemas ao mesmo tempo.
e para que ela se tome realmente aberta à
diversidade.
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escola por falta de coordenação entre elas. parte um grande número de aspectos que são
Assim, vemos que chegam programas difíceis de controlar (desde a comunicação
específicos (educação sanitária, informática, que se estabelece até as representações
etc.) que, mesmo sendo muito interessantes, mútuas). Muitas vezes, a sensação do
algumas vezes não podem ser aproveitados professor diante de um aluno que não
suficientemente, porque é difícil integrá-los aprende é de fracasso (mais ou menos
no contexto e na dinâmica estabelecida na explícito) como profissional. A resposta dada
instituição. pelo professor a este sentimento dependerá
muito das suas características próprias e
Da mesma forma, os serviços que são da sua história pessoal, da acolhida e ajuda
oferecidos às escolas pelos municípios e pela proporcionados por seus colegas de escola,
Administração (equipes psicopedagógicas, da sua formação profissional e conhecimentos
serviços sociais, serviços de dinâmica como professor, das suas concepções sobre
educativa, centros de recursos pedagógicos, os processos de ensino-aprendizagem, etc.
etc.) devem ser incorporados corretamente Assim, descobrimos que existem várias
na dinâmica da escola, para que tenham uma formas de responder ao fato de enfrentar
repercussão didática sólida e possibilitem a alunos com dificuldades de aprendizagem
reflexão sobre a prática profissional. O papel e/ou comportamento: negar o problema,
solicitado ao professor na situação de ensino- defendendo-se da angústia que isto lhes
aprendizagem é o de urna atuação constante, provoca, angustiar-se e buscar ajuda de
com intervenções para todo o grupo de aula forma desorganizada, refletir e procurar
e para cada um dos alunos em particular. Isto saídas com os conhecimentos e recursos
é bastante difícil, e, ainda mais, quando é próprios do professor, buscar a ajuda de
somada à demanda que fazemos de que se profissionais de fora da escola, aproveitar os
deve observar sistematicamente, o processo recursos que possuem outros profissionais
que os alunos desenvolvem durante a da escola; etc. Todos nós teríamos exemplos
aprendizagem, para poder intervir no mesmo dessas diversas situações.
com uma ajuda educativa adequada.
Outro aspecto que consideramos digno
Acreditamos que estes aspectos que de salientar é que as demandas que nos
comentamos são dignos de serem levados chegam variam em função do modo como
em consideração. Isso não quer dizer que os o professor tenha vivido a situação, e,
psicólogos devam renunciar às intervenções também, do modo em que este entenda
mobilizadoras que provoquem um novo a intervenção do psicopedagogo. Vemos
planejamento ou uma modificação na que, às vezes, a demanda é feita depois
ação dos professores. É necessário que as que o professor desenvolveu um processo
orientações sejam situadas num ponto justo de elaboração e maturação da ajuda que
e que se encaixem no estilo e no momento precisa solicitar. Outras vezes, a demanda
dos professores e da escola, para irem é ambígua e confusa e é preciso ajudar a
avançando rumo a uma maior compreensão e esclarecê-la. Encontramos também situações
domínio do processo educativo. nas quais o que o professor faz é depositar
o problema e as angústias provocadas pelo
À continuação, gostaríamos de tecer aluno para o psicólogo de forma que ele
alguns comentários no que se refere às se encarregue de resolvê-las eximindo-se
representações e vivências que podem ser assim de responsabilidades. Outras vezes,
provocadas nos professores pelos alunos no entanto, tenta encontrar um aliado que
com dificuldades. Como foi visto no capítulo o ajude a dividir as responsabilidades e
anterior, em toda situação de interação, toma preocupações e que tente procurar, com ele,
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destaque às patologias, porque isto comporta momento presente e definir qual a relação
conotações estáticas e imóveis, como que será mantida a partir deste ponto. Para
também devem ser concentrados os esforços conhecê-los e fazemos escutar, deve-se
para escolher pontos mais positivos a partir sentir curiosidade e interesse pela sua forma
dos quais se possa iniciar o trabalho para de agir, valorizar os aspectos positivos que
melhorar a situação inicial. conseguiram e ter confiança na sua ajuda e
Todas as famílias passam por problemas cooperação. Isto facilitará a nossa aceitação
e dificuldades em determinados momentos sem receio e nos ajudará a agir junto a
do seu ciclo evolutivo. Algumas os resolvem eles como num sistema, estabelecendo um
sozinhas após uma fase de crise, outras entendimento básico e fundamental para
solicitam ajuda, e em outras, no entanto, possibilitar o planejamento de pequenas
instalam-se comportamentos determinados mudanças em conjunto.
(sintomas) em algum dos seus membros para
manter o equilíbrio de todo o sistema de uma 2.2.5. O psicopedagogo
forma rígida.
Como psicopedagogos, estamos inseridos
É importante acreditar e ter confiança em diversos sistemas (a própria equipe, a
nas possibilidades da família para conseguir escola e as diferentes administrações das
ajudá-la; às vezes, com um pequena ajuda quais possamos depender) e ternos relações
externa, a família vê o seu funcionamento com outros: divisões da escola, diversos
com maior clareza, dá valor relativo a serviços municipais e autônomos, centros de
determinados problemas e tem mais saúde mental e de reeducação, associações
capacidade para avançar e mudar. O de pais de alunos, etc.
profundo respeito e confiança nela e nas suas
possibilidades permitirá estabelecer contatos Depreende-se, daqui, a grande
sem criar excessivos temores de perda do complexidade do nosso campo de
seu equilíbrio. intervenção; complexidade que, além do
mais, é necessário aceitar, considerar e ser
Devemos também ter presente que, capaz de analisar para que contribua com
no nosso trabalho com famílias a partir uma visão mais ampla e global das diferentes
do ambiente da escola, a relação com as situações nas quais precisamos atuar.
mesmas está muito influenciada pelas
atitudes, comunicações e visões manifestas De qualquer forma, mesmo encontrando-
pelos professores da escola em relação a nós. nos em diferentes sistemas realizando
Por exemplo, a maneira como um professor atividades em diferentes níveis, o nosso
explica aos pais de que forma foi feita a contexto principal de intervenção é a escola.
nossa intervenção, como psicopedagogos Trabalhamos regularmente para abordar
no que se refere aos problemas do seu problemas e colaborar nas demandas feitas
filho, pode condicionar e criar expectativas por ela.
inadequadas sobre a nossa intervenção.
O fato de estarmos, ao mesmo tempo,
Além de intermediar a nossa relação dentro e fora da escola às vezes é difícil
com os pais, eles possuem também uma e pode criar uma certa confusão, já que
visão e expectativas sobre o nosso papel e podemos ser considerados elementos que
a função que desempenhamos na escola. estão dentro do sistema (por exemplo, em
É indispensável, portanto, explicar-lhes o reuniões do quadro de professores ou das
nosso papel dentro da escola com clareza, séries da escola) e outras vezes fora dele
dizendo por que e como chegamos ao
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Esta situação especial provoca como já Devemos ter em mente que, se o psicólogo
dissemos algumas dificuldades: uma certa não se definir, será definido pelos outros
ambigüidade se as relações não forem em função das suas experiências anteriores
definidas claramente e, às vezes, desconforto e expectativas. Para evitar mal-entendidos
da escola que desejaria aproveitar-nos e situações pouco claras, é preciso que o
dentro do seu funcionamento. Para superar psicólogo se defina claramente no início da
essa possível ambigüidade, é necessário relação e, depois, torne a fazê-lo tantas vezes
que sejamos muito coerentes e claros nas quantas forem necessárias. Esta definição
relações que mantemos com os diversos pode ser realizada de diversas formas e em
sistemas. momentos diferentes, sempre em função
daquilo que seja considerado necessário. Por
Com estas considerações e outras que exemplo, no início de cada ano escolar, é
temos realizado ao longo destes primeiros conveniente falar e fazer acordos conjuntos
capítulos, analisaremos, a seguir, alguns sobre o plano de trabalho que deveremos
critérios e características que consideramos seguir, estabelecer funções tarefas que
devem ser respeitadas pelo psicopedagogo desempenharemos, tornar a falar de como
durante o seu trabalho nas escolas. elas serão executadas, estabelecer acordos e
compromissos com os diferentes professores
É indispensável, no nosso ponto de vista, ou subsistemas com os quais trabalharemos,
estabelecer um contexto de colaboração com etc. No trabalho de cada dia e nas relações
os professores e a escola diante de qualquer com os professores, será necessário
objetivo estabelecido. Definimo-nos, pois, esclarecer desentendimentos, confusões ou
como complementários dos professores aborrecimentos mútuos; as expectativas
para tentarmos resolver, discutir ou atingir deverão ser explicadas com clareza, os
determinadas situações; precisamos da sua papéis redefinidos e, a partir desse ponto,
informação e conhecimentos e acreditamos estabelecer os acordos e compromissos
que, a partir do momento em que ele solicita necessários.
a nossa ajuda devemos estabelecer uma
colaboração eficiente (Selvini, 1985). Para iniciar um trabalho de colaboração,
é necessário também estabelecer relações
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interna, como também da colaboração por ele nos professores, das modificações
com os outros. Assim, é importante que o ou bloqueios que ocorrem e, ao mesmo
diagnóstico psicopedagógico seja inserido tempo, das influências que recebe para ir
nas coordenadas que estruturam a instituição se readaptando, desta forma, em função do
escolar. Isto significa que se deve levar em desenvolvimento da tarefa diagnóstica.
consideração aspectos de relacionamento, de
organização escolar, de enfoque pedagógico e 2.4. . Explicação e argumentação do
estabelecimento de conteúdos. processo
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frustradas. Outro aspecto a ser considerado dos pais; entrevista com o professor e
é que, às vezes, e devido, em parte, entrevista com os pais, revisão dos trabalhos
à relativa novidade do nosso enfoque, de aula; exploração individual, orientações e
essa clareza inicial é diluída ao longo do seguimento.
processo diagnóstico, e há uma tendência a Alguns dos elementos do diagnóstico
depositar no psicólogo a responsabilidade da psicopedagógico requerem uma situação
abordagem do aluno com problemas. Quando definida no tempo. Assim, por exemplo, para
isso ocorre, é importante que o psicólogo conseguir uma boa co-responsabilização,
torne a abordar o assunto e lembre-se da nós não realizamos a intervenção enquanto
responsabilidade conjunta que deve existir no o professor não a solicitar (à diferença
caso. de outros modelos de intervenção que
optam por detectar os problemas a priori).
Num outro nível de considerações, Assim, a solicitação é o primeiro passo do
consideramos importante refletir sobre o diagnóstico psicopedagógico. Logicamente, as
objeto do diagnóstico psicopedagógico. orientações e o plano de trabalho são o ponto
Normalmente, o diagnóstico é iniciado a final. Quanto aos elementos intermediários,
partir do momento em que o educador geralmente é seguida uma ordem quase
aponta um aluno como motivo de sua constante, que é a que será desenvolvida
preocupação. Geralmente, O professor durante a nossa exposição. Apesar disso,
pressupõe que a disfunção pertence, a situação do psicopedagogo na escola e a
principalmente, ao aluno e que, por isso, a própria dinâmica imposta, por ela, faz com
exploração e as orientações farão referência que, às vezes, estes elementos sigam uma
a ele. O psicólogo, no entanto, parte da ordem mais flexível. Assim, por exemplo,
base de que, mesmo que o aluno apresente pode-se decidir a realização da observação
certas características peculiares que o da aula depois da exploração individual e
enfrentam de uma forma determinada à não antes. No entanto, não é necessário
situação escolar, o que o educador está lhe aplicar, em cada caso todos os elementos
apresentando, na realidade, é uma situação do diagnóstico psicopedagógico, e a escolha
de dificuldades na compreensão mútua de uns ou outros, por parte do pedagogo,
entre ele e o aluno. Desta forma, o psicólogo vai depender do tipo de solicitação e das
aborda uma relação na qual estão implicadas condições que a cercam. Assim, muitas vezes
duas ou mais pessoas e não uma como no optamos principalmente na educação infantil,
início poderia parecer. Em conseqüência, o por não realizar testes individuais, quando
psicólogo tentará conhecer a relação entre com a observação da aula já foi possível
ambos e, também, a do grupo em geral, detectar a natureza do problema, e podemos
e, nas orientações tentará implicar tanto oferecer orientações precisas.
os alunos como os próprios professores.
Esta disparidade de expectativas deve ser Deve-se considerar, aqui, que, no
ajustada, principalmente, no momento diagnóstico psicopedagógico, nem
da devolução e na concretização do plano sempre é necessário esperar e obter uma
de trabalho, momentos especialmente informação exaustiva do caso para fazer
importantes para o enfoque correto do prescrições. Levado em consideração que
trabalho conjunto entre professor e psicólogo. a duração do curso é relativamente curta
e que a natureza das relações pessoais
No diagnóstico psicopedagógico, devem- na escola é muito viva e dinâmica, podem
se distinguir diferentes fases ou elementos: ser encontrados, facilmente, pontos de
demanda ou indicação do problema por ancoragem para começar a trabalhar. Às
parte do professor ou, excepcionalmente, vezes, o psicopedagogo pode optar por
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Instrumentos de Avaliação I
Referência:
Bassedas Eulália. Intervenção Educativa e
diagnóstico psicopedagógico ; trad. Beatriz
Afonso Neves. – 3 ed. – Porto Alegre: Artes
Médicas, 1996
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