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PSIQUIATRIA: Transtornos Mentais Orgânicos Prof.

João Ricardo
Anotações da Aula por Taíse Araújo e Luciano Sampaio (144)

Transtornos Mentais Orgânicos


 Dependem mais de problemas orgânicos do que de
fatores ambientais estressores negativos.
 Transtornos com base psíquica e biológica
o Exemplos dos fatores ambientais estressores
 É uma frequente emergência psiquiátrica negativos: violência (física, psicológica, sexual),
 Atualmente, utilizamos no CID 11: Transtornos perdas (trabalho, familiar, bens, etc),
neurocognitivos (é o mesmo termo utilizado no catástrofes ambientais
DSM-V)
o A principal característica comum a eles é o
comprometimento da cognição
 Algumas alterações tinham uma base biológica
clara, enquanto que outras seriam desordens da
“mente”
 Transtornos de humor, ansiedade e
personalidade, mas decorrentes de
lesões/disfunções cerebrais, também são
considerados orgânicos! Eles mimetizam essas
síndromes funcionais. Uma cascata de citocinas pode impactar no seu
 Princípio da Parcimônia (navalha de Ockhan): sistema renal, hepático, nervoso central, etc.
tende a explicar os fenômenos pela causa mais Vários sistemas fisiológicos podem repercutir
provável. em seu estado mental/cognitivo
o Eliminar o que é impossível, e o que restar,
por mais improvável que seja, deve ser a DELIRIUM
verdade.
o Atenção! As comorbidades podem fazer esse  Sinônimos: estado confusional agudo, confusão
mental
princípio falhar.
 Pode ser causado por basicamente qualquer
alteração na homeostase
TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS  Atenção! Delirium ≠ Delírio
o Delirium = síndrome global que engloba as
 Englobam um grupo de transtornos diversos com flutuações de consciência, atenção, orientação
doenças de base metabólica, infecciosa, genética acompanhada de agitação psicomotora e
ou neurodegenerativa ou mesmo em quadros frequente associação com ilusões.
pós-operatórios e cuja etiologia pode ser o Delírio = disfunção cognitiva relacionada ao
frequentemente mapeada por exames pensamento e ao juízo. Delírio místico,
persecutório: falsas crenças que são irremovíveis,
complementares de sangue, urina, LCR ou
mesmo que você tente provar o contrário ao
neuroimagem. paciente.
 Prevalência aumentada em idosos, portadores de
comorbidades em outros sistemas fisiológicos e  Quadro clínico
usuários crônicos de psicotrópicos. o Alteração agudas ou de curso flutuante do estado
o Em geral, os transtornos psiquiátricos mental!
surgem no início da vida adulta; o Déficit de atenção está sempre presente
o Pode estar associado a alterações do ciclo sono-
o Já os transtornos neurocognitivos têm uma
vigília e agitação psicomotora
prevalência aumentada em idosos!
o Ilusões, alucinações

 Existem 4 grandes grupos de transtornos  Classificação


neurocognitivos o Hiperativo: agitação, alucinações, tremor, mais
1. Delirium fáceis de diagnosticar
2. Déficit cognitivo leve o Hipoativo: apatia, sonolência e lentidão
3. Transtorno amnéstico (amnésia) psicomotora
4. Demência o Misto: mistura dos dois, as manifestações flutuam
ao longo do dia
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 Considerações OBS: De uma forma geral, o estado cognitivo do


o Início súbito (horas a dias), curso breve e flutuante idoso é mais frágil. Com poucas perturbações
 Por exemplo, o paciente pode estar bem pela fisiológicas o paciente já pode ter alteração
manhã, e de tarde começar a ter delirium
cognitiva. Ex: 50% dos idosos com infecção urinária
o Rápida melhora após eliminação do fator causal
o O comprometimento do nível de consciência e de ou pulmonar desenvolvem alterações
atenção é obrigatório! comportamentais/cognitivas até mesmo antes de
o A maioria das causas se situa fora do SNC! outros sintomas surgirem.
o No delirium, há melhora durante a manhã e piora ao
anoitecer.
o Indica mau prognóstico! A mortalidade é de 50% em
um ano.

 Deve-se:
o Manter as luzes acesas no ambiente hospitalar
o Estimular deambulação
o Realizar medidas preventivas
o Estimular terapia ocupacional
o Estimular interação com o idoso
o Controle medicamentoso adequado
o Manter o idoso interativo e orientado no tempo e DÉFICIT COGNITIVO LEVE (DISFUNÇÃO CEREBRAL
no espaço
MÍNIMA)

 Tratamento  Não interferem no dia a dia do idoso


o Tratar a condição causadora  É difícil diferenciar do déficit próprio do
envelhecimento
o Antipsicóticos atípicos em baixas doses (ex:
 Nem todos que têm esse déficit vão desenvolver,
clozapina) necessariamente, um quadro demencial
 Para casos de agitação psicomotora  Alterações de atenção, memória, linguagem…
 OBS: evitar os típicos! tendem a ser flutuantes e não progridem de forma
o Benzodiazepínicos linear.
 EVITAR! Exceto em casos de delirium  Geralmente é subdiagnosticado
 São alterações que se exacerbam no quadro
tremens.
demencial (quando chega a ser um quadro demencial
é que realmente impacta a qualidade de vida)
 Delirium tremens é um delírio com tremor
 Esse paciente geralmente é visto como um paciente
(sobretudo de MMSS) que ocorre na síndrome de
idoso comum.
abstinência por álcool em usuários gravemente
 É importante realizar atividades físicas e cognitivas
dependentes, com longa história de uso.
para evitar que esse idoso migre para um quadro de
apatia, depressão ou de pseudodemência (idoso tão
 Atenção! O uso de medicamentos no delirium apático que mimetiza um quadro depressivo e
deve ser criterioso, devido ao risco de piora do demencial, quando na realidade é apenas um quadro
déficit cognitivo. depressivo)

OBS: Ilusão QUADRO AMNÉSTICOS ≠ DEMÊNCIA


★ Alteração da sensopercepção.
★ É uma falsa percepção de um objeto existente.  Não são sinônimos!
★ Ex: no escuro, com medo, uma criança pode ver
 Amnésia = comprometimento específico da memória
uma cabeça em cima do armário, porém,
o Pode atingir populações mais jovens
quando ela acende a luz, vê que tinha uma caixa
o Tendem a ser temporários
em cima do armário.
o Perda de uma capacidade que previamente a
pessoa tinha
OBS: Alucinação = Experiências sensoriais que não são o Pode ser parcial/seletiva ou difusa
compartilhadas o Amnésia de fixação: paciente perde a capacidade
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de formar novas memórias
o Amnésia de evocação: paciente não lembra de
coisas que eram familiares para ele (rostos,
endereços, etc)
TRIAGEM METABÓLICAS, NEUROINFECCIOSA, TUMORAL
(EXPANSIVA), ALÉM DE TRANSTORNOS ANSIOSOS,
 Demência = precisa de um comprometimento
DEPRESSIVOS E CONVERSIVOS/DISSOCIATIVOS.
cognitivo global (memória + outras funções
cognitivas, como inteligência, linguagem,
orientação, etc)
o Perda progressiva das habilidades cognitivas
prévias, sem comprometimento da
consciência!
o O elemento central das demências é a perda
de memória (sobretudo a recente, de fixação.
Apenas nas fases mais tardias há perda da
remota.)
o Seu número aumentou por aumento da
expectativa de vida
o Não apenas os humanos, mas os animais
domésticos/selvagens que vivem mais
também sofrem declínio cognitivo, porém não
é uma regra (por isso é patológico).
o Causas:
 Doença de Alzheimer ALZHEIMER
 Demência Vascular
 Forma mais comum de demência
 Massas intracranianas (tumores, abscessos)  Fisiopatologia
 Traumatismo o Excessivo depósito de proteínas neurotóxicas no
 Infecções (HIV, neurossífilis) cérebro, em particular no hipocampo
 Metabólicas/nutricionais (deficiência de  Mas isso não é uma regra, pois depósitos de
B12, folato/insuficiência hepática) amiloide também acontecem em idosos que
o Alguns pacientes com quadro demencial não tem Alzheimer
 Esses depósitos estão relacionados a uma maior
desenvolvem a Síndrome de Capgras
longevidade: quanto mais tempo se vive, maior
 Paciente afirma que uma pessoa próxima e a chance de ter esses depósitos
familiar dizendo ser seu pai/sua mãe é, na o Esses pacientes possuem menor atividade
verdade, um sósia, um impostor, que quer colinérgica nos neurônios, causando a demência
que o paciente acredite que é seu pai, etc.  O principal fator de risco é a faixa etária
o Diagnóstico diferencial de demência  Forma tardia (senil)
 Pseudodemência o Mais comum
o Inicia após os 65 anos
 Idoso com quadro depressivo pode ter
o Causa multifatorial
perda de memória por prejuízo na
 Forma precoce (pré-senil)
atenção, concentração o Mais rara, mais grave, curso mais rápido
 Delirium o < 65 anos
 Estado confusional agudo, mas com queda o Herança autossômica dominante
do nível de consciência o Sendo portador, os filhos têm 50% de chance de
 Retardo mental ter a doença
 Paciente tem deficiência cognitiva, nunca  Quadro clínico
o As manifestações são variáveis e dependem do
teve aquela habilidade.
estilo de vida, escolaridade que o paciente tinha,
além de comorbidades que podem acelerar o
OBS: Uma coisa é perder uma habilidade que você curso
já tinha (demência, amnésia), já outra coisa é nunca o Quadro demencial de início insidioso, geralmente
ter tido uma habilidade (deficiência cognitiva) a 1ª manifestação é a perda de memória recente
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o Inicialmente, há alterações do humor e da volição
→ depressão, desinibição
o Os sintomas psicóticos e a agitação psicomotora
costumam ocorrer mais tardiamente
o Com a progressão da doença, torna-se
dependente de terceiros para atividades diárias
o Em fases avançadas, pode haver perda do
controle esfincteriano (incontinência), disfagia e
convulsões

 Progride inexoravelmente, mas o tratamento


multidisciplinar pode retardar a progressão
 É uma forma de amiloidose restrita ao cérebro
 Os marcadores (degeneração neurofibrilar, placas de
amiloide) não coincidem com o início da doença,
ocorrem anos antes. O cérebro tem um grau de
resiliência a essas lesões.
 O mais preventivo que se pode fazer é controlar a
saúde geral: fugir da HAS, DM, obesidade!
 Paradoxo: muitas pessoas entendem as placas de
beta-amiloide e degenerações neurofibrilares como
causa da doença de Alzheimer; mas muitos idosos a
possuem e não têm manifestação da doença.
o Seria um mecanismo de resiliência cerebral?
o Pacientes com menos escolaridade manifestam
mais cedo os sintomas da doença.
 Em geral, quanto mais
placas/depósitos/degenerações, mais sintomas
 Boa parte dos pacientes morre em consequência de
outras causas

 Diagnóstico
o O diagnóstico é de presunção, exclusão de outras
causas de demência DEMÊNCIAS VASCULARES E MISTAS
o As alterações cerebrais só são vistas post-
mortem. Não conseguimos visualizá-las em  2ª forma mais comum de demência
exames de neuroimagem!  Expressão de doença vascular isquêmica subcortical
o Apenas a necrópsia realmente dá o diagnóstico o É um quadro demencial secundário a infartos
definitivo lacunares e lesões isquêmicas da substância branca,
de efeito cumulativo
 A progressão do doente de alzheimer é uma curva  Tem um fator de risco principal: hipertensão
descendente. arterial (sobretudo a não controlada, não
diagnosticada)
 Progressão “em escada”, ou seja, pioras súbitas
seguidas de platô!
o Existem momentos de ausência de sintoma, e
depois os sintomas retornam.
 Nem sempre há clínica de doença
cerebrovascular prévia! O paciente pode só ter o
quadro demencial e quando vai ver na
neuroimagem, há doença cerebrovascular
silenciosa.
 Demência mista: coexistência de Alzheimer e
demência vascular.
 Tratamento: controlar a doença de base para
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evitar instalação de novos infartos!
 Clínica
obs: A progressão do doente de alzheimer é uma curva o Hiper oralidade
descendente. o Hiper sexualidade (hetero e homo)
o Agnosia visual
OBS: Atenção para as pseudodemências! (diagnóstico  Dificuldade em reconhecer pessoas conhecidas
diferencial da depressão no idoso) ou locais
★ Os tratamentos são diferentes o Comportamento dócil
★ Ao tratar a depressão, a pseudodemência some o Diminuição da capacidade de avaliar riscos
o Hipermetamorfose (exploração impulsiva do
ambiente)
DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL OU DOENÇA DE
PICK
DOENÇA PRIÔNICA (CREUTZFELD-JAKOB)
 Ocorre mais na faixa etária dos 40 aos 65 anos
 Conhecida como “doença da vaca louca”
 Produz alterações marcantes da personalidade,
comportamento  É uma doença rara e de notificação compulsória
 Antigamente era considerada rara, mas agora está  Tem evolução rápida
mais comum  Pode acometer pessoas jovens
 Atrofia mais frontal; aumento dos sulcos temporais  É uma encefalopatia espongiforme → a proteína
 Predileção por lesões na região frontotemporal priônica começa a se depositar no cérebro de
(atrofia mais restrita) → características clínicas forma desestruturada. Sua estrutura
diferentes tridimensional é alterada e começa a se
depositar de forma neurotóxica.
 Histopatológico: mais degeneração neurofibrilar do
que placa de amiloide.  Leva a óbito em semanas ou meses
 Clínica  Pode iniciar com quadro demencial
o Comportamento de desinibição (alteração de  Sempre lembrar dela diante de um quadro demencial
libido, linguajar chulo). que progride muito rápido
o Perda do tato social, rudeza emocional
o Discalculia CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS TRANSTORNOS
o Esse quadro é bem semelhante ao das NEUROCOGNITIVOS
desinibições induzidas por lesões mecânicas,  Tratar a doença de base
vasculares ou virais.  Iniciar estimulação precoce em ambiente hospitalar
o Menor comprometimento da memória/atenção, o  Uso de antipsicótico, reposição hidroeletrolítica e
que chama atenção são as alterações de conduta! suplementação vitamínica
Paciente torna-se inadequado.
 Investigação e tratamento de transtornos
metabólicos e neuroinfecciosos
 Investigar quadros depressivos e
conversivos/dissociativos

 Tratamento das Demências (Alzheimer e Vascular)


o Formas leve e moderada de quadros demenciais
 Uso de inibidores colinesterásicos
(Rivastigmina, Donezepila, Galantamina)
OBS: Alzheimer afeta mais o hipocampo!
 A Rivastigmina e Galantamina também agem na
inibição da butirilcolinesterase, receptores
SÍNDROME DE KLUVER BUCY
nicotínicos.
 Retirada de porção medial do lobo temporal em
primatas e outros animais o Forma avançada de quadros demenciais
 Sistema límbico não interagia corretamente com as  Antagonista não competitivo dos receptores
outras partes NMDA (Memantina)
 Desinibição  Uso de estimulantes glutamatérgicos de
PSIQUIATRIA: Transtornos Mentais Orgânicos Prof. João Ricardo
Anotações da Aula por Taíse Araújo e Luciano Sampaio (144)
moderada afinidade com receptor NMDA
(Memantina)

 Atenção! O sistema colinérgico não parece estar


comprometido na demência frontotemporal,
então pode-se fazer ISRS para melhorar a
desinibição. (UpToDate)

o Oscilações do humor e comportamento impulsivo


(ex: demência frontotemporal - Aula)
 Estabilizadores de humor/anticonvulsivantes
(Oxicarbazepina, Carbamazepina, Lítio,
Lamotrigina)
 Inibidores de impulso (topiramato)

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