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A principal causa de morte materna no mundo, sendo a segunda maior causa de morte materna no
Brasil, é a hemorragia da gravidez. No país, a primeira causa de morte é a pré-eclâmpsia e a terceira
causa consiste nas infecções.
As hemorragias da gravidez são classificadas em hemorragias da primeira metade da gravidez
(abortamento, gravidez ectópica e mola hidatiforme) e da segunda metade da gravidez (placenta
prévia, descolamento prematuro de placenta e rotura uterina, entre outros).
1) Abortamento
Principal causa de sangramento da primeira metade da gravidez. Ocorre quando a
interrupção da gravidez acontece com menos de 22 semanas completas ou se o feto possui
menos de 500 gramas. Os abortamentos podem ser clínicos (20 a 30% das gestações) ou
subclínicos (20 a 30% das gestações).
Podem ser classificados em abortamentos precoces (com 12 semanas ou menos) ou
tardios (de 13 a 20 semanas). O bebê só é viável normalmente a partir das 23 ou 24
semanas, dessa forma, um bebê com 22 semanas dificilmente sobrevive. Ainda podem ser
divididos em provocados - legalmente ou não - e espontâneos, que são a principal
complicação do início da gestação.
Em relação a incidência, a frequência do abortamento diminui com o aumento da idade
gestacional. Estatisticamente, 70 a 80% dos casos de abortamento acontecem no primeiro
trimestre, tendo um risco de 0,6% depois de 15 semanas.
Os fatores de risco consistem na idade da mãe - quanto maior a idade, maior o risco de
abortamento -, a quantidade de abortamentos prévios e o uso de determinadas drogas
(antiinflamatórios, cocaína e tabagismo).
Etiologias:
- A principal causa de abortamentos são as anormalidades cromossômicas e dentre elas,
as trissomias dos pares 18 e 21. Infelizmente, nesses casos, não existe nenhuma conduta
capaz de reverter a situação.
- Temos também as etiologias de origem anatômica:
A incompetência istmo cervical ocorre quando há encurtamento e dilatação do colo
- que não aguenta o peso da gravidez - sem que haja contração uterina. A
incompetência caracteriza-se por possuir formas cada vez mais precoces de
abortamento em relação ao nº de semanas. O procedimento mais usual e efetivo
nesses casos é a cerclagem uterina, feito idealmente antes das 16 semanas
(podendo ser feito até a 20ª semana). Nesse procedimento, com o auxílio de um
espéculo, são feitos pontos absorvíveis no colo do útero realizando-se um nó em
bolsa de tabaco, que é cortado no final da gravidez permitindo o trabalho de parto.
Os miomas são causas de abortamento menos frequentes. Os miomas cavitários
(submucosos) e miometriais podem causar abortamentos eventuais.
As malformações uterinas diminuem o tamanho uterino, podendo causar
abortamentos. Podem sustentar uma gestação normalmente, porém os bebês
geralmente nascem prematuros. Em alguns casos é possível realizar a correção
cirurgicamente.
As sinéquias uterinas, que surgem por conta de uma endometrite ou de uma
curetagem (Síndrome de Asherman), diminuem o conteúdo uterino podendo causar
abortamento. O tratamento por lise pode ser feito através da histeroscopia.
Por fim, temos como causa anatômica ainda as distopias uterinas, como os
prolapsos uterinos muito intensos (de terceiro grau).
- As doenças endócrinas, como DM descompensada, doenças da tireoide (hiper ou
hipotireoidismo) e insuficiência lútea podem ser fatores causais de abortamentos.
Atualmente, questiona-se se o embrião torna-se não viável por conta da incompetência do
corpo lúteo em produzir progesterona ou se o embrião, já não viável, produz beta-HCG
insuficiente, o que limita a manutenção do corpo lúteo e a produção de progesterona.
- As doenças imunológicas, principalmente a Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo,
podem ser fatores causais de abortamento. Essa síndrome é caracterizada por abortos de
repetição, maior tendência a trombofilia e presença de marcadores imununológicos
(principalmente o anticardiolipina e o anticoagulante lúpico). O tratamento pode ser feito com
heparina.
- Infecções graves de qualquer tipo podem ser fatores causais de abortamentos. Ex: COVID,
sepse, pneumonia grave etc.
2) Gravidez ectópica
Implantação do ovo fora da cavidade uterina. A apresentação pode ser tubária (95%,
ocorrendo dominantemente na ampola), cornual, abdominal, ovariana e cervical - quando se
implanta no colo uterino. Qualquer fator que retarde a velocidade do embrião ao percorrer a
trompa ou que altere o seu caminho natural pode contribuir para a implantação fora da
cavidade uterina
Etiologias:
- As doenças inflamatórias pélvicas agudas (DIPA), que ocorrem quando as
vaginites e vaginoses bacterianas atingem a cavidade uterina causando a
endometrite. Ao atingirem as trompas e o peritônio, podem causar salpingite e
peritonite, respectivamente. Infecções das tubas uterinas causam a diminuição da
sua luz, permitindo a passagem do espermatozóide mas impossibilitando a
passagem do embrião, tendo por consequência a implantação tubária. Se a
diminuição da luz for muito intensa a ponto de impossibilitar a passagem dos
espermatozóides, temos um caso de infertilidade.
- Em pacientes com endometriose, o blastocisto pode se fixar nos focos de tecido
endometrial
- As malformações uterinas, principalmente as que afetam as tubas uterinas, podem
causar gravidez ectópica. Isso porque a má formação tubária pode aumentar a
extensão e as tortuosidades das tubas, aumentando a possibilidade de implantação
tubária.
- A presença de gestações ectópicas anteriores é o principal fator de risco para uma
nova ocorrência
- A reprodução assistida possui chance de desenvolvimento de gravidez ectópica
- Pacientes com antecedente de cirurgias tubárias possuem chances de
desenvolvimento de gravidez ectópica
- Tem-se como fator etiológico também a transmigração, que ocorre quando o oócito
que é liberado por uma trompa é fecundado e o embrião migra para a trompa
contralateral, onde se fixa.
- Embriões morfologicamente grandes - como em algumas doenças genéticas e em
casos de gemelaridade - podem gerar uma obstrução e consequente gravidez
ectópica.
IMPORTANTE: O uso de DIU não contribuiu para a formação da gravidez ectópica.
Hoje em dia sabe-se que ele é bem efetivo para prevenir uma gravidez tópica mas
não é tão efetivo para prevenir uma gravidez ectópica.
- Malignos:
- Mola invasiva / Corioadenoma destruens: É originada de uma mola
completa ou parcial, em que houve a manutenção da estrutura vilositária. O
beta-HCG permanece elevado ou aumentado. O quadro clínico inclui
metrorragias persistentes, subinvolução uterina (útero não diminui) e casos
de infecção. Dessa forma, deve estar havendo uma invasão do miométrio
pela mola, visualizado através da USG, sendo o quadro classificado como
um câncer. A confirmação é feita através do exame histopatológico.
Prognosticamente pode evoluir para coriocarcinoma.
São tumores, normalmente, de boa evolução clínica. O tratamento pode ser
feito com o uso de metotrexato.
- Coriocarcinoma: é uma transformação maligna originada de uma gravidez
molar, abortamento, gravidez normal ou gravidez ectópica. O quadro clínico
é de uma gravidez recente, em que o útero permanece aumentado, o
beta-HCG permanece elevado e o sangramento é persistente.
Prognosticamente é muito comum haver metástase (pulmonar, vaginal,
pélvica, hepática e cerebral) e a paciente pode morrer por insuficiência
respiratória ou hemorragia cerebral. O quadro é muito sensível à
quimioterapia, obtendo sucesso de cura em até 90% dos casos.
- Tumor trofoblástico de de sítio placentário: Tumor muito raro que
acontece após uma gestação normal, no sítio placentário, sendo formado por
um trofoblasto intermediário. Não eleva o beta-HCG e aumenta o lactogênio
placentário. A suspeita acontece em pacientes que possuem massa tumoral
e miometrial depois da gravidez ou que possuem sangramento com
beta-HCG normal, é um tumor muito agressivo e com pouca resposta à
quimioterapia. O tratamento consiste na histerectomia associada à
quimioterapia.
- Tumor trofoblástico epitelioide