Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INCIDÊNCIA
Cerca de 60 a 75% dos ovos fertilizados são abortados, e em mais da metade deles isso
ocorre antes da primeira falha menstrual.
CLASSIFICAÇÃO
Quanto à intenção: o abortamento pode ser espontâneo, se ocorrer sem ação deliberada
de qualquer natureza, é aquele que ocorre sem nenhuma intervenção externa e pode ser
causado por doenças da mãe ou por anormalidades do embrião ou feto.
ETIOLOGIA
Cromossômicas
Endócrinas
Diabetes mellitus
A taxa de abortamento encontra-se aumentada em mulheres com diabetes mellitus tipo 1
que não estão metabolicamente controladas no início da gravidez. Em contra
partida, aquelas que se encontrem adequadamente controladas ou que apresentem
diabetes mellitus subclínico não apresentam maior risco de perda fetal ou de mal
formação.
Tireopatias
A incidência de abortamento mostra-se aumentada em pacientes com evidente tireopatia.
INFECÇÕES
Causas uterinas
Sinequias
As aderências intra uterinas, geralmente secundárias a curetagens pós-abortamento
infectado, podem interferir no processo de implantação ovular. Estima-se que entre 15 e
30º/o das pacientes com aderências intrauterinas desenvolvem abortamento de repetição.
Miomas
A associação entre mioma uterino e gravidez é relativamente comum .
A localização do mioma é mais importante que seu tamanho, sendo os miomas intramurais
e principalmente os submucosos que distorce.m a cavidade uterina os mais relacionados
aos casos de abortamento.
o mioma pode ter seu suprimento sanguíneo comprometido e sofrer necrose tumoral com
liberação de citocinas e, consequentemente, provocar contratilidade uterina e abortamento.
As malformações uterinas,
como útero unicomo, didelfo, septado, bicomo e arqueado são consequentes às anoma
lias de fusão dos duetos de Müller. Os defeitos da fusão dos duetos de Müller são
aventados como causa de abortamento habitual (tardio), restrição do crescimento fetal,
prematuridade e hemorragia pós-parto.
A insuficiência istmocervical
incompetência cervical (IIC) caracteriza-se por perda fetal recorrente no segundo trimestre,
devido à incapacidade do colo uterino de manter-se fechado para reter o concepto até o fim
da gestação. Essa patologia corresponde de 10% a 20% das causas de abortamento de
repetição.
O quadro clínico das perdas gestacionais por IIC consiste em dilatação cervical indolor,
ausência de contração uterina, pouco sangramento, protrusão das membranas fetais e
parto pouco doloroso, com nascimento de feto vivo.
ultrassonografia transvaginal com a medida do colo uterino. A medida do colo uterino deve
ser feita para todas as gestantes com suspeita de IIC entre 16 e 24 semanas. O colo < 25
mm indica a cerclagem indicada, também denominada terapêutica.
O tratamento de escolha para a IIC é a cerclagem uterina. Essa cirurgia objetiva prevenir o
encurtamento e abertura do colo uterino prematuramente, por meio da realização de sutura
cervical, ao nível do orifício interno do colo uterino.
A cerclagem uterina clássica é realizada por via vaginal e as principais técnicas descritas
são a de Shirodkar e a de McDonald. Na UNIFESP e na USP, emprega-se a técnica de
McDonald modificada por Pontes, que consiste na realização de duas suturas circulares
próximas ao orifício interno do colo uterino
A cerclagem uterina eletiva ou profilática é feita entre 12 e 16 semanas para gestantes com
diagnóstico de IIC pela história obstétrica
prévia.
Fatores imunológicos
Causas autoimunes
Causas aloimunes
A teoria aloimune para abortamentos de repetição baseia-se em resposta materna
anormal para antígenos paternos, ou do trofoblasto. Partindo-se do princípio de que a
desigualdade antigênica entre mãe e feto é fundamental para o progredir da gestação,
na presença de histocompatibilidade matemo-fetal exagerada pode ocorrer uma resposta
imunológica alterada e paradoxal (agressora), ocasionando rejeição materna aos
tecidos fetais, semelhante ao observado em transplantes.
Trombofilias hereditárias
Trombofilia é um termo utilizado para descrever alterações que predispõem à ocorrência de
trombose. Consistem em trombofilias hereditárias as deficiências da antitrombina e das
proteínas C e S e as mutações do gene da protrombina, do fator V de Leiden e dos genes
da enzima metilenotetraidrofolato redutase. A literatura a respeito da associação de
trombofilias hereditárias e abortamento habitual é controversa.
À luz das evidências científicas atuais, não há justificativa para que se realize a pesquisa
rotineira de trombofilias hereditárias em pacientes com abortamento de repetição. Há
insuficiente evidência de relação causal e também insuficiente evidência de que a ad
ministração de anticoagulante possa melhorar a evolução da gravidez em pacientes com
trombofilia hereditária.
Tabagismo
A associação entre tabagismo e abortamento tem sido admitida por muitos estudos;
contudo, a maioria não depura adequadamente algumas variáveis de confusão. Mulheres
que fumam mais que 10 cigarros/ dia apresentam maior risco de abortamento.
Vasoconstrição e danos placentários podem estar implicados na gênese do abortamento em
fumantes.
Álcool
Estudos observacionais têm relatado, ainda que de forma inconsistente, que o consumo
moderado ou excessivo de álcool na gestação se relaciona com maior risco de abor-
tamento. as gestantes deveriam evitar o consumo habitual de álcool por seu efeito
teratogênico e pelo pouco conhecimento a respeito do nível de segurança na gestação.
Cafeína
Alguns estudos relatam que mulheres que consomem pelo menos 500 mg/dia de cafeína
apresentam maior risco de abortamento.Por outro lado,outros estudos mostram que não se
pode estabelecer uma relação causal entre a cafeína e a ocorrência de abortamentos.
TRAUMA
FORMAS CLÍNICAS
O abortamento não se apresenta com roupagem clínica única. Pode-se diagnosticá-lo por
meio de sinais e sintomas diversos que, agrupados aqui e acolá, caracterizam várias formas
clínicas do abortamento:
FEBRASGO
Como o próprio nome sugere, é o abortamento em que há chances de reversão do quadro
Dois grandes sintomas caracterizam-no: o sangramento e a dor. O primeiro é de pequena
monta; já o segundo traduz a contratilidade do útero, que promove cólicas leves e é incapaz
de induzir modificações cervicais.
Ao exame físico especular, pode-se encontrar: sangue coletado ou sangramento ativo de
leve intensidade e colo uterino impérvio.(10) Ao toque vaginal combinado, constata-se útero
com tamanho compatível com o atraso menstrual, colo impérvio e sangramento de pequena
monta.
Ao exame ecográfico transvaginal, observa-se saco gestacional regular, batimento cardíaco
fetal regular e superior a 100 bpm e área de descolamento ovular inferior a 40% do diâmetro
do saco gestacional.(11)
Nas gestações com mais de 12 semanas, pelo tamanho uterino, a conduta consiste no uso
do misoprostol para promover o esvaziamento uterino e em seguida, na maioria das vezes,
complementa-se com curetagem uterina. Abaixo de 12 semanas, indica-se o esvaziamento
uterino mecânico por meio da vácuo-aspiração ou aspiração manual intrauterina (AMIU).
Quando não for possível, faz-se a curetagem uterina.
Abortamento completo;
Diz-se do abortamento em que há eliminação integral do ovo.
A sintomatologia é representada pela diminuição ou mesmo parada do sangramento e das
cólicas após a expulsão de ovo íntegro.
Quando o abortamento ocorre no primeiro trimestre da gravidez, principalmente nas 10
semanas iniciais, é comum a expulsão completa dos produtos da concepção. Rapida
mente, o útero se contrai e o sangramento, juntamente às cólicas, diminui de intensidade. O
orifício interno do colo uterino tende a fechar-se em poucas horas. Ao exame
ultrassonográfico, pode não haver evidência de conteúdo uterino; algumas vezes, porém,
observa-se mínima quantidade de conteúdo heterogêneo e líquido. Apesar da falta de
consenso, a medida da espessura endometrial de até 15 mm ao corte longitudinal mediano
do útero à ultrassonografia transvaginal tem sido considerada indicativa de abortamento
completo por vários autores
Abortamento incompleto;
Abortamento retido;
Denomina-se aborto retido a ocorrência de morte embrionária ou fetal antes de 20 semanas
de gravidez, associada à retenção do produto conceptual por período prolongado de tempo,
por vezes dias ou semanas.
Geralmente, as pacientes relatam cessação dos sintomas associados à gravidez (náuseas,
vômitos, ingurgitamento mamário). Pode ocorrer sangramento vaginal, na maioria das vezes
em pequena quantidade, de forma semelhante ao observado nos casos de ameaça de
abortamento. O volume uterino é menor que o esperado para a idade gestacional e o colo
uterino encontra-se fechado ao exame de toque.
Abortamento infectado;
A etiologia quase sempre resulta da tentativa de esvaziar o útero por meio do uso de
técnicas inadequadas e inseguras (introdução de sondas, agulhas, laminas e soluções
variadas).
muitas vezes encontra-se intimamente ligado à ilegalidade, sendo sua prática realizada em
condições inadequadas
A antibioticoterapia deve ser abrangente, uma vez que na maioria das vezes a infecção é
polimiaobiana, com bactérias aeróbias e anaeróbias provenientes das floras intestinal e
genital. As combinações mais comumente utilizadas são ampicilina ou penicilina associada
à gentamicina e ao metronidazol, ou clindamicina em associação com gentamicina.
• Nos casos de laceração cervical, pratica-se a sutura do colo uterino e faz-se revisão dos
fórnices e das paredes vaginais.
Abortamento habitual
Definição clássica
• Três ou mais perdas gestacionais espontâneas e consecutivas antes de 20 semanas de
gestação
A OMS orienta iniciar a investigação diagnóstica após duas perdas gestacionais. O ideal é
fazer a investigação no intervalo inter-gestacional. Deve-se fazer anamnese obstétrica
detalhada de todas as perdas gestacionais, bem como investigar o histórico familiar e
realizar exame físico completo. Com base na anamnese obstétrica e no exame físico,
suspeita-se de algumas causas e, a partir delas, deve-se iniciar a investigação diagnóstica.
TRATAMENTO
A conduta expectante tem sido utilizada em casos selecionados de perda gestacional
precoce, com taxas variadas de sucesso, dependendo principalmente do tipo de
abortamento e dos sintomas das pacientes.
Em casos de abortamento incompleto, esse tipo de conduta tem sido empregado há alguns
anos e mostra resultados estimulantes.
Para preparação cervical para o aborto mecânico (cirúrgico) 400 µg, via vaginal, 3 horas
antes do procedimento.
mecanicos
AMIU
equipado, após confirmada a perda gestacional. Essa, como mencionado, pode ser
O método consiste na inserção de uma cânula conectada a uma seringa a vácuo, para
A aspiração pode ser realizada tanto com uma bomba elétrica (aspiração a vácuo
elétrica ou AVE) quanto com um vácuo manual produzido por uma seringa (aspiração
envolve a dilatação da cérvix e o uso de uma cureta metálica para raspar as paredes do
útero. Por ter diâmetro variável e ser de material rígido (aço), pode provocar acidentes, tal
como perfuração do útero.
No primeiro trimestre a curetagem uterina não deve ser utilizada para o esvaziamento
uterino, a não ser quando não seja possível a utilização da AMIU.(24,33)
Naqueles casos com volume uterino maior de 12 semanas em que o feto ainda está
presente na cavidade uterina (inevitável e retido), primeiro, promove-se sua expulsão com
uso de misoprostol para, depois, completar o esvaziamento uterino com curetagem.
No entanto, quando o abortamento retido é tardio (2º trimestre ou maior que 12 semanas), a
melhor conduta é a promoção da expulsão do feto com uso de misoprotol, para, em
seguida, completar o esvaziamento uterino, quase invariavelmente, através da curetagem
uterina
abortamento legal
Aborto legal é a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei, portanto não sendo
necessário solicitar autorização judicial para realizar o procedimento e nem boletim de
ocorrência. No Brasil, o procedimento é legalmente permitido em três situações:
A realização do aborto nos casos citados acima não depende de decisão judicial, bem como,
não se condiciona ao Boletim de Ocorrência Policial. O sigilo é garantido, caso seja o desejo da
paciente.
No entanto, se a mulher desejar realizar a denúncia, cabe à equipe de saúde apoiá-la na sua
decisão e garantir que ela faça a denúncia de forma segura.
Todas as pacientes que almejam realizar a interrupção legal da gestação serão atendidas por
uma equipe multiprofissional composta por médico (a), enfermeiro (a), assistente social e
psicólogo (a).
Em todos os casos, a decisão deve ser da mulher, sem juízo de valor, sem imposição de
nenhuma atitude que possa direcionar sua decisão.