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DEFINIÇÃO

Abortamento é uma síndrome hemorrágica da primeira metade da gravidez, definida pela


Organização Mundial de Saúde (OMS) como a interrupção da gravidez antes de 20
semanas ou com um feto até 500g, ou seja, antes de atingida a viabilidade do produto
conceptual.
Quando a interrupção da gesstação acontece após esse período, nos referimos a morte
fetal, sendo que o produto é chamado de natimorto e não aborto.

INCIDÊNCIA

O abortamento representa a complicação mais frequente da gravidez.


Ainda que a real incidência do abortamen­to seja desconhecida, entre 15 e 20º/ das
gestações clini­camente diagnosticadas terminarão em abortamento antes de 20 semanas,
sendo que, destas, 80% são interrompidas até a 12ª semana.

Cerca de 60 a 75% dos ovos fertilizados são abortados, e em mais da metade deles isso
ocorre antes da primeira falha menstrual.

O abortamento representa a quarta causa de mortalidade materna no Brasil, diferentemente


do que ocorre em países desenvolvidos, onde essas taxas de morte, especificamente por
aborto, são reduzidas.

CLASSIFICAÇÃO

Quanto à cronologia: o abortamento é denominado como precoce se a perda gestacional


ocorrer até 12 se­manas. Os abortamentos precoces, com menos de 12 semanas,
respondem por 80% dos abortamentos e reconhecem uma multiplicidade maior de causas.

E tardio, se ocorrer entre 12 e 20 semanas de ges­tação.

Quanto à intenção: o abortamento pode ser espontâ­neo, se ocorrer sem ação deliberada
de qualquer natu­reza, é aquele que ocorre sem nenhuma intervenção externa e pode ser
causado por doenças da mãe ou por anormalidades do embrião ou feto.

Ou induzido (provocado), caso a interrupção da gestação seja resultante de interferência


intencional an­tes de alcançadas as condições mínimas de sobrevivên­cia extra uterina do
produto conceptual.

ETIOLOGIA

Cromossômicas

A maioria dos abortamentos ocorre nas primeiras 12 se­manas de gravidez e 50 a 80º/


apresentam alterações cro­mossômicas. A proporção de perdas fetais consequen­tes às
alterações cromossômicas diminui com a evolução da gestação.
A trissomia autossômica é a alteração mais frequen­temente ligada ao abortamento
espontâneo de primeiro trimestre e representa 50º/o dos abortamentos de causa ge­nética.

As trissomias mais relacionadas ao abortamento são, em ordem decrescente de frequência,


dos cromosso­mos 16, 22, 21, 15, 13, 2 e 14
Trissomias. mais comum é do 16, incompatível com a vida extrauterina.

monossomia do X - síndrome de turner.


A monossomia do cromossomo X é a segunda causa de alteração cromossômica mais
comumente relacionada ao abortamento. Aproximadamen­te 99°/o dos casos de
monossomia do X evoluem para o abortamento.

A triploidia encontra-se associada à mola pardal e os achados patológicos frequentemente


encontrados incluem saco gestacional desproporcionalmente grande, degene­ração
hidrópica parcial das vilosidades coriônicas e hiper­plasia do trofoblasto. Os fetos triploides
podem apresen­tar defeitos do tubo neural, onfalocele, dismorfismo facial, fenda labial e
sindactilia.

Os abortamentos triploides são geralmente relacionados a cariótipos do tipo 69,XXY


ou 69,XXX, e originam-se da fecundação por dois esper­matozoides ( dispermia) ou por um
espermatozoide queduplica seu genoma.

A ocorrência de tetraploidia é rara e, portanto, a ob­servação de abortamentos decorrentes


de tetraploidia éincomum, sendo que a gestação raramente evolui além da terceira semana.

Em relação ao abortamento habitual, cerca de 3 a 5°/o dos casais apresentam alterações


cromossômicas. A alte­ração cromossômica mais frequentemente encontrada é
a translocação balanceada. A presença de translocação ba­lanceada em um componente do
casal, após a recombi­nação meiótica, pode originar uma translocação não ba­lanceada no
produto conceptual, o que é capaz de causar o abortamento.

Além da incidência maior de abortamento, essas gestações carreiam risco de crianças


malformadas.

Endócrinas

Deficiência de corpo lúteo


A implantação ovular em endométrio pobremente prepa­rado, em consequência à produção
deficiente de proges­terona pelo corpo lúteo foi aventada no passado como causa de
abortamento espontâneo e habitual. Atualmen­te, os defeitos da fase lútea são considerados
causa pou­co provável de abortamento e sua pesquisa não faz mais parte da rotina
diagnóstica do abortamento habitual.

Diabetes mellitus
A taxa de abortamento encontra-se aumentada em mu­lheres com diabetes mellitus tipo 1
que não estão metabo­licamente controladas no início da gravidez. Em contra­
partida, aquelas que se encontrem adequadamente controladas ou que apresentem
diabetes mellitus subclíni­co não apresentam maior risco de perda fetal ou de mal­
formação.

Tireopatias
A incidência de abortamento mostra-se aumentada em pacientes com evidente tireopatia.

Síndrome dos ovários policísticos


A síndrome dos ovários policísticos afeta cerca de 10º das mulheres em idade reprodutiva e
tem sido considerada causa de abortamento, inclusive de abortamento habitual.
Os possíveis mecanismos responsáveis pelo abortamen­to em pacientes com síndrome dos
ovários policísticos são: maior resistência à insulina, com consequente hipe­rinsulinemia e
elevação do hormônio luteinizante, obe­sidade e hiperandrogenismo. Alguns estudos têm
mostra­do que o tratamento pré concepcional e durante a gravidez com metformina diminui a
taxa de abortamento em pa­cientes com essa síndrome

INFECÇÕES

Teoricamente, as infecções maternas (bacterianas ou vi­rais) podem ocasionar abortamento


por lesões da decí­dua, da placenta, das membranas ovulares e do produto conceptual.
A relação entre abortamento tardio e infecção mater­na pelo 'Ireponema pallidum é bem
estabelecida, entretan­to, para microrganismos como Chlamydia trachomatis, Neis­
seria gonorrhoeae, Streprococcus agalactiae, herpes-vírus, citomegalovírus e Listeria
monocytogenes, embora sejam im­plicados na gênese do abortamento espontâneo, não há
uma relação causal bem estabelecida.

Causas uterinas

Sinequias
As aderências intra uterinas, geralmente secundárias a cure­tagens pós-abortamento
infectado, podem interferir no processo de implantação ovular. Estima-se que entre 15 e
30º/o das pacientes com aderências intrauterinas desenvol­vem abortamento de repetição.

Miomas
A associação entre mioma uterino e gravidez é relativa­mente comum .
A localização do mioma é mais im­portante que seu tamanho, sendo os miomas intramurais
e principalmente os submucosos que distorce.m a cavida­de uterina os mais relacionados
aos casos de abortamen­to.

o mioma pode ter seu suprimento sanguíneo comprometido e so­frer necrose tumoral com
liberação de citocinas e, conse­quentemente, provocar contratilidade uterina e aborta­mento.

As malformações uterinas,
como útero unicomo, didelfo, septado, bicomo e arqueado são consequentes às anoma­
lias de fusão dos duetos de Müller. Os defeitos da fusão dos duetos de Müller são
aventados como causa de abortamento habitual (tardio), restrição do cres­cimento fetal,
prematuridade e hemorragia pós-parto.

A insuficiência istmocervical
incompetência cervical (IIC) caracteriza-se por perda fetal recorrente no segundo trimestre,
devido à incapacidade do colo uterino de manter-se fechado para reter o concepto até o fim
da gestação. Essa patologia corresponde de 10% a 20% das causas de abortamento de
repetição.

O quadro clínico das perdas gestacionais por IIC consiste em dilatação cervical indolor,
ausência de contração uterina, pouco sangramento, protrusão das membranas fetais e
parto pouco doloroso, com nascimento de feto vivo.

Por isso, o diagnóstico é baseado na história obstétrica de abortamentos tardios recorrentes


do segundo trimestre ou partos prematuros extremos (antes de 28 semanas).

No período intergestacional, pode-se lançar mão da histerossalpingografia e da prova da


vela 8 para auxiliar no diagnóstico quando a história é inconclusiva.

Sugere-se IIC quando a largura da região istmocervical é maior que 8 mm pela


histerossalpingografia ou há passagem sem resistência da vela de Hegar nº 8 na segunda
fase do ciclo menstrual.

ultrassonografia transvaginal com a medida do colo uterino. A medida do colo uterino deve
ser feita para todas as gestantes com suspeita de IIC entre 16 e 24 semanas. O colo < 25
mm indica a cerclagem indicada, também denominada terapêutica.

O tratamento de escolha para a IIC é a cerclagem uterina. Essa cirurgia objetiva prevenir o
encurtamento e abertura do colo uterino prematuramente, por meio da realização de sutura
cervical, ao nível do orifício interno do colo uterino.

A cerclagem uterina clássica é realizada por via vaginal e as principais técnicas descritas
são a de Shirodkar e a de McDonald. Na UNIFESP e na USP, emprega-se a técnica de
McDonald modificada por Pontes, que consiste na realização de duas suturas circulares
próximas ao orifício interno do colo uterino

Sendo assim, a cerclagem uterina pode ser eletiva, terapêutica ou de emergência.

• Cerclagem uterina eletiva: realizada antes do surgimento dos sintomas na gestação


atual, quando a paciente apresenta história obstétrica prévia clássica de IIC.

Cerclagem terapêutica: realizada quando a gestante não apresenta história clássica de


IIC, mas tem antecedente de parto prematuro espontâneo antes de 34 semanas ou
anomalias müllerianas, associado a colo uterino curto na gestação atual. <25mm

• Cerclagem de emergência: quando, na gestação atual, ocorrer dilatação cervical de 1 a


4cm, sem contração uterina, com ou sem exposição da membrana, independentemente da
história obstétrica pregressa.

A cerclagem uterina eletiva ou profilática é feita entre 12 e 16 semanas para gestantes com
diagnóstico de IIC pela história obstétrica
prévia.
Fatores imunológicos

As causas imunológicas relacionam-se com abortamentos de repetição e têm sido


exaustivamente estudadas nos úl­timos anos. Elas podem ser divididas em autoimunes e
aloimunes.

Causas autoimunes

Pacientes com doenças autoirnunes apresentam maior pro­babilidade de perda fetal,


contudo somente a síndrome antifosfolípide (SAF) apresenta como critério de definição
a presença de perda fetal.

Os anticorpos antifosfolipídicos( anticorpo anticardiolipina, anticorpo anticoagulante lú­pico e


anti-beta-2-glicoproteína I), estão implicados em várias complicações obstétricas, como
abortamento habi­tual, restrição do crescimento fetal (RCF), prematuridade, doença
hipertensiva específica da gestação, descolamento prematuro de placenta (DPP) e óbito
fetal.

Os anticorpos antifosfolipídicos são responsáveis por fe­nômenos trombóticos, tanto arteriais


como venosos, e en­contram-se presentes entre 15 e 20°/o das mulheres com abortamento
habitual

Causas aloimunes
A teoria aloimune para abortamentos de repetição baseia-se em resposta materna
anormal para antígenos paternos, ou do trofoblasto. Par­tindo-se do princípio de que a
desigualdade antigênica en­tre mãe e feto é fundamental para o progredir da gestação,
na presença de histocompatibilidade matemo-fetal exage­rada pode ocorrer uma resposta
imunológica alterada e paradoxal (agressora), ocasionando rejeição materna aos
tecidos fetais, semelhante ao observado em transplantes.

Trombofilias hereditárias
Trombofilia é um termo utilizado para descrever altera­ções que predispõem à ocorrência de
trombose. Consis­tem em trombofilias hereditárias as deficiências da anti­trombina e das
proteínas C e S e as mutações do gene da protrombina, do fator V de Leiden e dos genes
da enzima metilenotetraidrofolato redutase. A literatura a respeito da associação de
trombofilias he­reditárias e abortamento habitual é controversa.

À luz das evidências científicas atuais, não há justificativa para que se realize a pesquisa
rotineira de trombofilias hereditárias em pacientes com abortamento de repetição. Há
insuficiente evidência de re­lação causal e também insuficiente evidência de que a ad­
ministração de anticoagulante possa melhorar a evolução da gravidez em pacientes com
trombofilia hereditária.

Drogas e agentes nocivos

Tabagismo
A associação entre tabagismo e abortamento tem sido ad­mitida por muitos estudos;
contudo, a maioria não depu­ra adequadamente algumas variáveis de confusão. Mulhe­res
que fumam mais que 10 cigarros/ dia apresentam maior risco de abortamento.
Va­soconstrição e danos placentários podem estar implica­dos na gênese do abortamento em
fumantes.

Álcool
Estudos observacionais têm relatado, ainda que de forma inconsistente, que o consumo
moderado ou excessivo de álcool na gestação se relaciona com maior risco de abor-
tamento. as ges­tantes deveriam evitar o consumo habitual de álcool por seu efeito
teratogênico e pelo pouco conhecimento a res­peito do nível de segurança na gestação.

Cafeína
Alguns estudos relatam que mulheres que consomem pelo menos 500 mg/dia de cafeína
apresentam maior risco de abortamento.Por outro lado,outros estudos mostram que não se
pode estabelecer uma relação causal entre a cafeína e a ocorrência de abortamentos.

TRAUMA

Frequentemente, atribui-se a ocorrência de abortamento a algum tipo de trauma, como


queda ou trauma abdomi­nal direto. No início da gestação, no entanto, o produto
conceptual se encontra bem protegido dos traumas abdo­minais. Estudo com 392 casos e
807 controles não evi­denciou relação entre violência física e abortamento.86 Pa­rece, assim,
não haver evidências para se atribuir o abortamento a traumas de menor gravidade. No
trauma grave, o produto conceptual pode sofrer trauma direto ou, ainda, sofrer
Consequências danosas em função do esta­do hemodinãmico matemo

FORMAS CLÍNICAS

O abortamento não se apresenta com roupagem clínica única. Pode-se diagnosticá-lo por
meio de sinais e sintomas diversos que, agrupados aqui e acolá, caracterizam várias formas
clínicas do abortamento:

Abortamento evitável ou ameaça de abortamento;


hemorragia, que traduz anomalia decidual e/ou descolamento do ovo, e dor,
sinal de contração uterina.

FEBRASGO
Como o próprio nome sugere, é o abortamento em que há chances de reversão do quadro
Dois grandes sintomas caracterizam-no: o sangramento e a dor. O primeiro é de pequena
monta; já o segundo traduz a contratilidade do útero, que promove cólicas leves e é incapaz
de induzir modificações cervicais.
Ao exame físico especular, pode-se encontrar: sangue coletado ou sangramento ativo de
leve intensidade e colo uterino impérvio.(10) Ao toque vaginal combinado, constata-se útero
com tamanho compatível com o atraso menstrual, colo impérvio e sangramento de pequena
monta.
Ao exame ecográfico transvaginal, observa-se saco gestacional regular, batimento cardíaco
fetal regular e superior a 100 bpm e área de descolamento ovular inferior a 40% do diâmetro
do saco gestacional.(11)

A presença de hemato­ma subcoriônico é observada à ultrassonogra­fia entre 4 e 40º/o dos


casos de ameaça de abortamento.
Diversos estudos têm evidenciado que os hematomas subcoriônicos, sobretudo os que
envolvem mais de 50% do SACO GESTACIONAL estão relacionados com maior risco de
perda fetal.

Aproximadamente 40 a 50% das mulheres que apre­sentam sangramento vaginal no início


da gestação irão abortar. A taxa de abortamento cai consideravelmente, para
4 a 100/o, se a ameaça de abortamento ocorrer após a vi­sualização de atividade cardíaca
do produto conceptual à ultrassonografia

Abortamento inevitável ou em curso

É o abortamento não mais compatível com o prosseguimento da gestação. Traduz-se


clinicamente pela dilatação da cérvice que se deixa permear pelo dedo, que detecta, na
maioria das vezes, as membranas ovulares ou o próprio embrião.

O abortamento em curso é caracterizado clinicamente por sangramento moderado ou


intenso, acompanhado de dor abdominal em cólica, geralmente de forte intensidade. No
exame físico, dependendo da intensidade da hemorragia, pode-se evidenciar anemia,
taquicardia e hipotensão arterial. No exame especular, observa-se sangramento ativo pro­
veniente do canal cervical, geralmente com presença de res­tos dos produtos da concepção.
O orifício interno do colo uterino encontra-se dilatado no exame de toque vaginal. A
A ultrassonografia pode evidenciar o descolamento ovular com saco gestacional em posição
baixa e dilatação cervical.

As hemorragias tendem a ser mais abundantes que as da fase de ameaça, e o sangue


apresenta cor viva. O volume do útero corresponde à data da amenorreia, exceto quando a
morte do ovo é antiga. O colo mostra-se permeável, notando-se as membranas herniadas
pelo orifício externo na cavidade uterina. O quadro clínico inconfundível dispensa exames
complementares.

Nas gestações com mais de 12 semanas, pelo tamanho uterino, a conduta consiste no uso
do misoprostol para promover o esvaziamento uterino e em seguida, na maioria das vezes,
complementa-se com curetagem uterina. Abaixo de 12 semanas, indica-se o esvaziamento
uterino mecânico por meio da vácuo-aspiração ou aspiração manual intrauterina (AMIU).
Quando não for possível, faz-se a curetagem uterina.

Abortamento completo;
Diz-se do abortamento em que há eliminação integral do ovo.
A sintomatologia é representada pela diminuição ou mesmo parada do sangramento e das
cólicas após a expulsão de ovo íntegro.
Quando o abortamento ocorre no primeiro trimestre da gravidez, principalmente nas 10
semanas iniciais, é comum a expulsão completa dos produtos da concepção. Rapida­
mente, o útero se contrai e o sangramento, juntamente às cólicas, diminui de intensidade. O
orifício interno do colo uterino tende a fechar-se em poucas horas. Ao exame
ul­trassonográfico, pode não haver evidência de conteúdo ute­rino; algumas vezes, porém,
observa-se mínima quantida­de de conteúdo heterogêneo e líquido. Apesar da falta de
consenso, a medida da espessura endometrial de até 15 mm ao corte longitudinal mediano
do útero à ultrassonografia transvaginal tem sido considerada indicativa de abortamen­to
completo por vários autores

Abortamento incompleto;

O abortamento incompleto é mais frequente após 10 se­manas de gravidez. Nesses casos,


ocorre a eliminação par­cial dos produtos da concepção. O sangramento vaginal
persiste e, por vezes, toma-se intermitente. O volume ute­rino é menor que o esperado para
a idade gestacional e,no exame de toque, o orifício interno do colo uterino ge­ralmente se
encontra pérvio; contudo, algumas vezes pode se apresentar fechado, sendo o diagnóstico
realizado pe­los achados ultrassonográficos. A ultrassonografia, obser­va-se a presença de
conteúdo intrauterino de aspecto amor­fo e heterogêneo, com presença ou não de líquido.

medida da espessura endometrial ao corte longitudinal mediano do útero à ultrassonografia


acima de 15 mm tem sido considerada indicativa de abortamento incompleto.

Abortamento retido;
Denomina-se aborto retido a ocorrência de morte embrionária ou fetal antes de 20 se­manas
de gravidez, associada à retenção do produto con­ceptual por período prolongado de tempo,
por vezes dias ou semanas.
Geralmente, as pacientes relatam cessação dos sintomas associados à gravidez (náuseas,
vômitos, in­gurgitamento mamário). Pode ocorrer sangramento vagi­nal, na maioria das vezes
em pequena quantidade, de for­ma semelhante ao observado nos casos de ameaça de
abortamento. O volume uterino é menor que o esperado para a idade gestacional e o colo
uterino encontra-se fe­chado ao exame de toque.

Atualmen­te, por meio de ultrassonografia transvaginal, denomina­-se morte do produto


conceptual a ausência de atividade cardíaca em embriões com comprimento
cabeça-nádegas maior ou igual a 7 mm.

Chama-se ovo anembrionado o tipo de abortamento retido no qual a ultrassonografia não


identifica o embrião, estando o SG ≥ 25 mm.

O diagnóstico definitivo de abortamento retido/anembrionado deve ser sempre confirmado


por duas ultrassonografias espaçadas de 7 a 10 dias.

Abortamento infectado;

A etiologia quase sempre resulta da tentativa de esvaziar o útero por meio do uso de
técnicas inadequadas e inseguras (introdução de sondas, agulhas, laminas e soluções
variadas).
muitas vezes encontra-se intimamente ligado à ilegalidade, sendo sua prática realizada em
condições inadequadas

As bactérias envolvidas no abortamento infectado são aeróbias e anaeróbias, e merecem


destaque: estreptococos beta-hemolíticos, Enterococcus spp., Escherichia coli,
Peptostreptococcus sppBacteroides fragilis e Clostridium spp.

A in­fecção que se inicia no útero ( endomiometrite) pode se propagar para os anexos


(anexite), peritônio pélvico (pel­viperitonite), cavidade peritoneal (peritonite generaliza­da) e,
ainda, disseminar-se por via hematogênica ( sepse).

O quadro clínico depende do grau de comprometi­mento da paciente.

Nos casos de endomiometrite, geralmente se observam hipertermia, sangramento vaginal


dis­creto ( que pode ser acompanhado de saída de material purulento oriundo do canal
cervical), dores abdominais em cólica e útero doloroso à palpação. No toque vaginal, o
colo uterino apresenta -se geralmente pérvio e doloroso à mobilização. No exame
especular, observa-se saída de material purulento proveniente do canal cervical e podem
estar presentes lacerações cervicais denunciadoras de abor­tamento provocado de forma
clandestina.

Na presença de sangramento vaginal moderado ou in­tenso decorrente de hipotonia ou


atonia uterina, deve-se realizar cateterização de veia calibrosa e infusão de Ringer
lactato ou solução salina a 0,9°/

Sangue, solutos glicosados ou salinos, Ringer com lactato, em função de anemia,


desidratação, condições circulatórias, depleção de eletrólitos .

Administra-se ocitocina em altas doses (50 U) em 500 mL de solução salina (125mL/h).

A antibioticoterapia deve ser abrangente, uma vez que na maioria das vezes a infecção é
polimiaobiana, com bac­térias aeróbias e anaeróbias provenientes das floras intesti­nal e
genital. As combinações mais comumente uti­lizadas são ampicilina ou penicilina associada
à gentami­cina e ao metronidazol, ou clindamicina em associação com gentamicina.

O tratamento cirúrgico está indicado nas seguintes condições:


• A demonstração de restos ovulares pela ultrassonogra­fia impõe a necessidade de
esvaziamento uterino por meio de curetagem ou aspiração manual intrauterina.

• Nos casos de laceração cervical, pratica-se a sutura do colo uterino e faz-se revisão dos
fórnices e das paredes vaginais.

• Diante da evidência de perfuração uterina, impõe-se a laparotomia exploradora para


completo inventário do útero e das vísceras abdominais e correção cirúrgica das lesões
encontradas. A presença de perfuração ute­rina com infecção, em regra, é indicação de
histerectomia.
• A histerectomia será indicada nas formas disseminadas ou nas localizadas refratárias ao
tratamento clínico. Deve ser realizada, sempre que as condições técnicas permitirem, de
forma total e, se necessário, radical, com retirada dos anexos e paramétrios caso estejam
com­prometidos.

Abortamento habitual
Definição clássica
• Três ou mais perdas gestacionais espontâneas e consecutivas antes de 20 semanas de
gestação

Classifica-se o abortamento de repetição em primário, quando não há história prévia de


gestação viável, e secundário, nos casos em que houve pelo menos uma gestação prévia
com filho vivo.

FATORES DE RISCO PARA ABORTAMENTO DE REPETIÇÃO


Idade do casal > 40 anos
Número de abortos espontâneos prévios
Ausência de gestação bem sucedida prévia
Idade gestacional tardia das perdas gestacionais

A OMS orienta iniciar a investigação diagnóstica após duas perdas gestacionais. O ideal é
fazer a investigação no intervalo inter-gestacional. Deve-se fazer anamnese obstétrica
detalhada de todas as perdas gestacionais, bem como investigar o histórico familiar e
realizar exame físico completo. Com base na anamnese obstétrica e no exame físico,
suspeita-se de algumas causas e, a partir delas, deve-se iniciar a investigação diagnóstica.

Os principais exames utilizados para a elucidação diagnóstica são:


Cariótipo do casal
Ultrassonografia transvaginal, histeroscopia, histerossalpingografia e histerossonografia
Pesquisa de anticorpos anticardiolipina, anticoagulante lúpico e antiB2 glicoproteína
Pesquisa de função tireoidiana e diabetes

TRATAMENTO
A conduta expec­tante tem sido utilizada em casos selecionados de perda gestacional
precoce, com taxas variadas de sucesso, depen­dendo principalmente do tipo de
abortamento e dos sin­tomas das pacientes.
Em casos de abortamento incompleto, esse tipo de conduta tem sido empregado há alguns
anos e mostra resultados estimulantes.

A forma mais efetiva da promoção do abortamento farmacológico e com menos efeitos


colaterais é a combinação de mifepristona seguida de misoprostol.(20) No Brasil,
infelizmente, não há ainda mifepristona, apenas o misoprostol em comprimidos para uso
vaginal de 25, 100 e 200 µg para uso apenas hospitalar.

Como principais vantagens do uso do misoprostol, pode-se elencar: ausência da


possibilidade de perfuração uterina e formação de sinequias, redução dos riscos de
sequelas inerentes à dilatação do colo uterino e eliminação do risco anestésico. Como
desvantagens, tem-se o tempo de resolução, algumas vezes até 7 dias, os efeitos colaterais
até a expulsão do conteúdo da cavidade uterina, como cólica, sangramento, náusea,
calafrios, a necessidade eventual de complementação cirúrgica e, principalmente, a
ansiedade pela espera.

Abortamento no 1º trimestre Recomendam-se duas a três doses de 4 comprimidos de 200


µg (800 µg), via vaginal, no intervalo mínimo de 3 ou 12 horas.

) Nos casos de abortamento infectado ou alterações hemodinâmicas, não se usa o


misoprostol, mas sim o esvaziamento mecânico.

O misoprostol, também, pode ser utilizado no abortamento incompleto no primeiro trimestre,


na dose de 400-800 µg, dose única.

Abortamento no 2º trimestre A presença de ossos fetais no abortamento retido de 2°


semestre torna o tratamento farmacológico seguido da curetagem altamente preferencial
em relação ao cirúrgico puro. A dose preconizada de misoprostol é de 200 µg via vaginal a
cada 4-6 horas ou 400 µg via vaginal, repetida a cada três horas com um máximo de cinco
doses.

Para preparação cervical para o aborto mecânico (cirúrgico) 400 µg, via vaginal, 3 horas
antes do procedimento.

mecanicos

AMIU

é considerada a primeira escolha da Federação Internacional de Ginecologistas e

Obstetras (Figo) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para tratar abortamentos.

A aspiração manual intrauterina é feita em ambiente ambulatorial devidamente

equipado, após confirmada a perda gestacional. Essa, como mencionado, pode ser

espontânea ou induzida por medicamentos específicos (misoprostol).

O método consiste na inserção de uma cânula conectada a uma seringa a vácuo, para

aspiração do conteúdo intrauterino.

A aspiração pode ser realizada tanto com uma bomba elétrica (aspiração a vácuo

elétrica ou AVE) quanto com um vácuo manual produzido por uma seringa (aspiração

manual intrauterina ou AMIU). Ambos os métodos utilizam o mesmo nível de sucção,

podendo ser considerados equivalentes em termos de eficácia e segurança


Curetagem:

envolve a dilatação da cérvix e o uso de uma cureta metálica para raspar as paredes do
útero. Por ter diâmetro variável e ser de material rígido (aço), pode provocar acidentes, tal
como perfuração do útero.

No primeiro trimestre a curetagem uterina não deve ser utilizada para o esvaziamento
uterino, a não ser quando não seja possível a utilização da AMIU.(24,33)

A indicação de curetagem uterina encontra-se nos casos de abortamentos incompletos do


segundo trimestre. Já nas gestações com feto intrauterino após 12 semanas, deve-se
promover a indução farmacológica com misoprostol e após a expulsão fetal, faz-se a
curetagem uterina.

abortamento incompleto tratamento - Classicamente, o tratamento de escolha é o


esvaziamento cirúrgico do conteúdo uterino, por cure­tagem ou aspiração manual
intrauterina.

Opta-se pelo abortamento farmacológico ou mecânico através de vácuo aspiração com


menos de 12 semanas, pelo tamanho uterino.

Naqueles casos com volume uterino maior de 12 semanas em que o feto ainda está
presente na cavidade uterina (inevitável e retido), primeiro, promove-se sua expulsão com
uso de misoprostol para, depois, completar o esvaziamento uterino com curetagem.

Quando a expulsão já ocorreu espontaneamente nos casos com mais de 12 semanas,


como é o caso de abortamento incompleto, realiza-se a curetagem uterina de imediato. É
indicado o esvaziamento uterino através da curetagem para os casos de abortamento
incompleto

Abortamento rretido tratamento


Portanto, para o abortamento retido em gestação no 1º trimestre (precoce), pode-se
aguardar naturalmente o início do trabalho de abortamento com controle clínico ou proceder
o esvaziamento uterino mecanicamente - aspiração manual intrauterina (AMIU) ou
farmacologicamente (misoprostol).

Precedendo qualquer método terapêutico, o coagulograma impõe-se quando a retenção é


maior que quatro semanas.

No entanto, quando o abortamento retido é tardio (2º trimestre ou maior que 12 semanas), a
melhor conduta é a promoção da expulsão do feto com uso de misoprotol, para, em
seguida, completar o esvaziamento uterino, quase invariavelmente, através da curetagem
uterina

Prevenção da aloimunização Rh-D


as mulheres Rh-negativas e teste de Coombs indireto negativo com abortamento
espontâneo (incluindo ameaça de abortamento) ou induzido devem receber a
imunoglobulina anti-Rh-D. No primeiro trimestre, a dose de 50 µg é efetiva, embora não haja
contraindicação de fazer uso da dose padrão de 300 mcgb . Após 12 semanas, geralmente,
recomenda-se a dose de 300 µg

abortamento legal

Aborto legal é a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei, portanto não sendo
necessário solicitar autorização judicial para realizar o procedimento e nem boletim de
ocorrência. No Brasil, o procedimento é legalmente permitido em três situações:

1. Gestação decorrente de estupro


2. Risco de vida à gestante
3. Anencefalia fetal

A realização do aborto nos casos citados acima não depende de decisão judicial, bem como,
não se condiciona ao Boletim de Ocorrência Policial. O sigilo é garantido, caso seja o desejo da
paciente.

No entanto, se a mulher desejar realizar a denúncia, cabe à equipe de saúde apoiá-la na sua
decisão e garantir que ela faça a denúncia de forma segura.

Todas as pacientes que almejam realizar a interrupção legal da gestação serão atendidas por
uma equipe multiprofissional composta por médico (a), enfermeiro (a), assistente social e
psicólogo (a).

Em todos os casos, a decisão deve ser da mulher, sem juízo de valor, sem imposição de
nenhuma atitude que possa direcionar sua decisão.

Quanto à técnica utilizada, deve-se prevalecer a vontade da mulher, se cirúrgica ou


medicamentosa, as quais possuem poucas taxas de complicações e eficácia semelhantes.
Muito se fala sobre as complicações decorrentes do aborto inseguro, porém, quando realizado
de forma segura, sob supervisão de uma equipe de saúde qualificada, as taxas de complicações
são muito baixas.

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