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EDITORES
Fábio Bagnoli
Professor Instrutor Doutor da Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo
Assistente do Setor de Mastologia da Santa Casa de São Paulo
Membro das Comissões do TEMA e Oncoplastia da SBM (2017-2019)
Secretário da SBMSP (2017-2019)
MASTOLOGIA
DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Goiânia - Goiás
Conexão Propaganda e Editora
2017
PREFÁCIO
É com enorme prazer que escrevo o prefácio deste e-book elaborado pela SBM em prol de todos os
uma orientação rápida e qualificada, escrito por importantes referências da nossa especialidade.
A praticidade e objetividade foram o que mais me chamou a atenção. Nosso especialista tem hoje
uma ótima opção de recurso para auxilia-lo na resolução da maioria das dúvidas. Importante ressaltar
que este e-book foi elaborado na gestão de nosso Amigo Ruffo de Freitas Jr. e está sendo lançado na atual
gestão do também Amigo Antônio Frasson, mostrando a integração que a Mastologia precisa vivenciar
porque afinal de contas a Mastologia é para Todos e nosso principal objetivo é você Mastologista.
Boa leitura
M423
Fábio Bagnoli ... [et al.]. – Goiânia : Conexão Propaganda e Editora, 2017.
648 p. : il ; ePUB
Bibliografia
ISBN: 978-85-68764-06-0
CDU 618.19
1 Mastologia.................................................................618.19
NÍVEIS DE EVIDÊNCIAS
MONICA TRAVASSOS
Pós Graduada em Oncologia Clínica pelo Hospital Gafree Guinle
Tesoureira geral e secretária geral da AMB (2011-2016)
Assessora da presidência SBM (2017-2019)
LUCIANA NAIRA
Fellow pelo IEO
Chefe do serviço de Mastologia hospital Português
MILENA ISSA
Chefe do serviço de Mastologia do hospital do Servidor do Estado RJ
CAP. 01 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
14
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 01
A palpação, propriamente dita, far-se-á com uma Em 2012, a OMS publicou a Classificação para
ou as duas mãos, utilizando as polpas digitais, em movi- Tumores de Mama – 4ª edição, na qual reconhece
mentos rotatórios, e não as pontas dos dedos, para evitar mais de 20 subtipos diferentes da doença, explican-
um eventual deslocamento ou mesmo deixar de palpar do dessa forma, o comportamento heterogêneo com
um nódulo, que deverá começar superiormente na re- relação à clínica e à morfologia. (OMS). Devido essa
gião da clavícula, inferiormente até o limite inferior das heterogeneidade, sua história natural é bastante
costelas, medialmente o esterno e lateralmente a linha diversa, implicando assim, em diversas abordagens
média axilar. Fazendo uma pressão, sem exercer descon- de prevenção e métodos de diagnósticos precoces.
forto para paciente, avaliando criteriosamente todos os Enquanto o rastreamento mamográfico tem
quatro quadrantes e a região medial. A Paciente deverá sua importância confirmada através da diminuição
estar sentada e com os braços atrás da nuca, e, pos- da mortalidade câncer-específica, controvérsias
teriormente deitada com os braços também elevados. ainda existem em relação ao EF das mamas , nes-
A abordagem clinica axilar, a paciente deverá per- se contexto dos programas de rastreio. Entretanto,
manecer sentada ao longo dos flancos e em ligeira de acordo com Canadian National Breast Screening
abdução, e com um dos membros superiores apoia- Study (cnbss) , não houveram diferenças na sobrevi-
-se no antebraço do examinador e com a mao con- da em 13 e 25 anos, entre as mulheres submetidas
tralateral, faz-se leve compressão, entre as mar- ao rastreamento mamografico associada a exame
gens dos músculos grande peitoral e grande dorsal. clinico periódico, versos apenas exame clínico. 1-3.
A expressão da papila é parte integrante do EF, poden- Críticas e considerações devem ser pontuadas em
do assim identificar as possíveis secreções, sua colora- relação a publicação canadense: O exame clínico
ção, se ducto único e se existe algum ponto de gatilho. era realizado antes da seleção aleatória e deveriam
A maior parte dos casos de CM se manifesta estar “normais” para serem incluídas na randomiza-
como uma formação nodular. Exemplificado num ção do estudo. 4
estudo do Instituto Nacional Tumores de Milão, Dados do programa de Rastreio de Ontario
com 2107 casos operados de CM, de 1987-1989, fo- demonstraram que a mamografia e o exame clínico
ram clinicamente observados como, Nódulo 1300 realizados com equipe de enfermagem treinada por
casos(61,7%), Nódulo e retração cutânea 596 ca- especialistas, obtiveram maior sensibilidade com-
sos(28,3%), Nódulo e secreção 76 casos(3,6%), parado à apenas mamografia, porém com maior nú-
Retração cutânea 51 casos(2,4%), Alterações da mero de falsos positivo5,6,7
papila 42 casos(2%), Secreção sanguinolenta 34 ca- A eficácia do EF não tem sido confirmada atra-
sos(1,6%), Linfoadenopatia axilar 8 casos(0,8%). vés de ensaios clínicos bem desenhados e controla-
A densidade mamária irá influenciar, na sen- dos.8. Por esse motivo, os principais Guidelines (Ca-
sibilidade da detecção do CM, que esta intimamen- nadian Task Force on Preventive Health Care9, U.S.
te ligada a idade, status menopausal, utilização de Preventive Services Task Force8,10, American Cancer
hormônios e ao peso corporal, modificando a estru- Society11, U.K. National Health Services12, e World
tura mamaria. Health Organization13 não recomendam o ECM. En-
tretanto, U.S. National Comprehensive Cancer Net-
RASTREAMENTO CLÍNICO work14, the American College of Obstetricians and
O câncer de mama é o tipo de câncer que possui Gynecologists15, e Memorial Sloan Kettering Cancer
a maior incidência e a maior mortalidade na popula- Center16 ainda mantém o EF associado ao rastreio.
ção feminina em todo o mundo, tanto em países em Consideram, dessa forma, uma opor-
desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. tunidade de orientar e informar as mulhe-
Para o Brasil, em 2016, são esperados 57.960 casos res sobre suas mamas, a importância do diag-
novos de câncer de mama, sendo desses, apenas nóstico precoce, orientações quanto fatores
10% com diagnóstico de tumores até 2 cm. O risco de risco e auto-conhecimento de seu corpo.
estimado de câncer de mama é de 56,20 casos a É bem conhecido que nem todos os tumores são
cada 100 mil mulheres (Inca – 2016) detectados através do rastreio mamografico e que
15
CAP. 01 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
este não engloba todas as faixas etárias.11,12,14,16 Existem , portanto, dados de literatura que
Recentemente, L. Provencher et al17 publi- suportam e enfatizam a importância do EF no con-
cou um trabalho retrospectivo envolvendo 6.333 texto atual. Por vezes, representa a única técnica
mulheres diagnosticadas com CM entre 1999 e que detecta o câncer de mama em determinadas
2010. Nesse artigo, um número significante de tu- pacientes, principalmente naquelas que não estão
mores poderia não ter sido diagnosticados caso sob programas de rastreio. Deve-se salientar que a
o EF não fosse realizado. Afirma que os tumores eficácia do EF depende de uma curva de aprendi-
detectado apenas pelo EF eram mais agressivos e zado, e que os mastologistas devem cada vez mais
que o EF é de baixo custo, além de poder orien- utiliza-lo, permitindo melhor acurácia. Importante
tar avaliações ultrassonográficas naquelas pacien- também frisar que nas situações em que há alguma
tes onde a mamografia é negativa. Seus resultados queixa clínica, o EF deve ser realizado antes de qual-
foram 36.5% cânceres diagnosticados apenas por quer avaliação ou resultado de exames de imagem.
mamografia, 54.8% com Mamografia e EF e, em A literatura sugere que o EF constitua uma
destaque, 8.7% diagnosticados apenas pelo EF. ferramenta de rastreio na população geral, e que
Nos anos 60, o estudo HIP confirmou que a combi- deveria ser parte do rastreio oportunístico nas mu-
nação de mamografia e EF por médico especialista lheres assintomáticas mas sob Terapia Hormonal,
levou redução na mortalidade de câncer de mama alto risco , mamas densas, história familiar, muta-
específica. das, lesões atípicas da mama e história pessoal de
Nesse estudo, a detecção em pacientes jo- CM.25
vens foi baixa e as doenças mais avançadas eram
detectadas pelo EF.18,19 Deve-se lembrar que o REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CNBSS, um dos estudos mais importantes de ava-
liação do rastreio, previamente citado, não incluía 1. Miller AB, Wall C, Baines CJ, Sun P, To T, Narod
um grupo para avaliar a eficácia o EF isolado.20 SA. Twenty five year follow-up for breast can-
Esse estudo comparou a combinação de mamogra- cer incidence and mortality of the Canadian
fia associado a EF e autoexame versus EF e autoe- National Breast Screening Study: randomised
xame. Não houve benefício nas mulheres jovens screening trial. BMJ 2014;348:g366.
entre 40-49 anos.3 Nas faixas etárias entre 50 e 2. Miller AB, To T, Baines CJ, Wall C. Canadian Na-
59 anos, a associação do EF a mamografia e au- tional Breast Screening Study–2: 13-year re-
toexame não apresentou impacto na sobrevida.1 sults of a randomized trial in women aged 50–
Em 2016, um estudo Japonês sugeriu que o 59 years. J Natl Cancer Inst 2000;92:1490–9.
EF deva ser associado a mamografia no rastreio, mas 3. Miller AB, To T, Baines CJ, Wall C. The Canadian
que poderia ser omitido nas mulheres com idade en- National Breast Screening Study–1: breast can-
tre 60 a 70 anos. Encontrou melhor sensibilidade e cer mortality after 11 to 16 years of follow-up.
especificidade do EF na faixa etária de 40-50 anos.21 A randomized screening trial of mammography
Outro estudo evidenciou que 13 % das in women age 40 to 49 years. Ann Intern Med
mulheres com massa palpável ao EF e diagnós- 2002;137:305–12.
tico de CM tinham mamografia normal nos anos 4. Kopans DB. Breast cancer screening panels
precedentes.22 Os tumores de intervalo geral- continue to confuse the facts and inject their
mente apresentam características mais agres- own biases. Curr Oncol 2015;22:e376–9.
sivas23 e provavelmente, correspondiam a esses 5. Chiarelli AM, Majpruz V, Brown P, Theriault M,
tumores detectados apenas ao EF , nesse estudo. Shumak R, Mai V. The contribution of clinical
Nos países em desenvolvimento , o EF mui- breast examination to the accuracy of breast
tas vezes é a única opção de rastreio oferecida , e screening. J Natl Cancer Inst2009;101:1236–
dessa forma, pode-se detectar tumores em estadios 43.
menos avançados se o acesso ao profissional espe- 6. Fenton JJ, Rolnick SJ, Harris EL, et al. Specificity
cialista for garantido.24 of clinical breast examination in community
16
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 01
practice. J Gen Intern Med 2007;22:332–7. 17. Memorial Sloan Kettering Cancer Center
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breast cancer? The screening clinical breast lable at: https://www.mskcc.org/cancer-care/
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9. Tonelli M, Connor Gorber S, Joffres M, et al. on nogr 1997:27–30.
behalf of the Canadian Task Force on Preven- 20. Miller AB. Mammography: a critical evaluation
tive Health Care. Recommendations on scree- of its role inbreast cancer screening, espe-
ning for breast cancer in average-risk women cially in developing countries. J Public Health
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Med 2009;151:716–26,W236. 22. Ohta K, Kasahara Y, Tanaka F, Maeda H. Is cli-
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Breast cancer screening for women at average Consideration from the age-specific perfor-
risk: 2015 guideline updatefrom the American mance of breast cancer screening combining
Cancer Society. JAMA 2015;314:1599–614. mammography with clinical breast examina-
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cer: prevention and control [Web page]. Gene- mal mammogram within 1 year. Am J Surg
va, Switzerland: who; n.d. [Available at: http:// 2010;200:712–17.
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2014. -examination (bse) in screening and early de-
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www.nccn.org/professionals/physician_gls/ 2008;3:17–20.
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logists. Practice bulletin no. 122: breast can-
cer screening. Obstet Gynecol 2011;118(pt
1):372–82.
17
2
RASTREAMENTO
IMAGINOLÓGICO
Palavras Chave:
Mamografia, rastreamento, câncer de mama
20
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 02
mortalidade global de 0,98 (95% CI 0,96-1,00). mama em mulheres que receberam mamografia. Na
Nove estudos clínicos controlados randomi- faixa etária entre 50 e 59 anos, as mulheres foram
zados avaliando mais de 650.000 mulheres, avalia- divididas em 2 grupos, que receberam mamografia
ram o impacto da mamografia associada ou não ao associado à exame clínico das mamas com dura-
exame clínico, com relação à mortalidade especí- ção de 5 a 10 minutos, comparadas à outro grupo
fica por câncer de mama. Mostraram efeito prote- que recebeu exame clínico somente. Mulheres en-
tor no intervalo de idade entre 40 e 69 anos3(A). tre 40 e 49 anos, foram divididas em mamografia
Metanálise publicada em 20128(A) compreen- somente ou exame clínico somente. No seguimento
dendo estudos randomizados evidenciaram redução de 25 anos, o risco cumulativo de morte por cân-
de risco de 20% na mortalidade por câncer de mama. cer de mama mostrou-se o mesmo entre o grupo
Vale ressaltar que a maioria destes estudos foi rea- de mamografia versus exame clínico (hazard ratio
lizada há vários anos, quando o tratamento para 0.99, 95% CI 0.88-1.12). Este estudo se iniciou em
câncer de mama era menos efetivo que atualmente. 1980 e as terapias adjuvantes foram oferecidas
Em 2009 foi publicada uma revisão siste- às mulheres diagnosticadas com câncer de mama.
mática (A) sobre rastreamento de câncer de mama
9
Interessante avaliação foi publicada na No-
incluindo oito estudos avaliando a qualidade da ruega (B), num estudo coorte, que avaliou o impac-
12
Figura 1: Metanálise de mortalidade por câncer de mama, após 13 anos de seguimento em estudos de rastreamento de câncer de mama. Adaptado de
Independent UK Panel on Breast Cancer Screening.8
21
CAP. 02 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
histórico (0,72 CI 95% 0.63-0,81) e 4,8 mortes/100 absoluto no rastreamento hoje seja menor do que
000 pessoas- anos no grupo não-rastreamento em nos ensaios. Estudos observacionais recentes mos-
comparação com o grupo histórico de não rastrea- tram mais over diagnosis que nos estudos antigos
das (0,82 CI 95%, 0,71- 0,93; P <0,001 para ambas e impacto menor na redução de mortalidade por
as comparações), para uma redução relativa da câncer de mama específico.
mortalidade de 10% no grupo rastreamento (p =
0,13). Assim, a diferença na redução da mortalidade Mulheres de baixo risco entre 40 e 49 anos
entre os grupos atuais e históricos que poderia ser No Brasil, assim como em outros países em
atribuída apenas ao rastreamento foi de 2,4 mortes desenvolvimento, apresentam incidência de cân-
por 100 000 pessoas/ano, ou um terço da redução cer de mama entre 40 e 49 anos maior, quan-
total de 7,2 mortes. Concluiu-se que a disponibili- do comparados com países desenvolvidos2,14(B).
dade da mamografia foi associada à uma redução Associado a este fator, alguns estudos cor-
na taxa de óbito por câncer de mama, porém repre- roboram a redução de mortalidade nesta faixa etá-
sentou apenas cerca de um terço da redução total. ria submetida à mamografia. Estudo publicado em
Em 2014, a International Agency for Re- 200611 (A), avaliando o impacto do rastreamento em
search on Cancer (IARC)13(A), com representantes mulheres nesta faixa etária mostraram redução de
de 16 países, analisou as evidências de 20 es- mortalidade de 25%.
tudos coorte e 20 estudos caso-controle, acer- Trabalho sueco publicado em 201115(A) ava-
ca do rastreamento do câncer de mama. Na faixa liando o rastreamento entre 40 e 49 anos, com se-
etária entre 50 e 69 anos, mulheres que realiza- guimento de 16 anos, mostrou redução de mortali-
ram rastreamento mamográfico apresentaram re- dade de 29% (figura 2), sendo que no grupo entre
dução de 23% no risco de morte por câncer de 40 e 44 anos foi menor (18%) comparado ao grupo
mama. Os dados relacionados à faixa etária entre entre 45 e 49 anos (32%).
40 e 49 anos foram limitados e menos efetivos.
Após esta breve discussão sobre os principais es-
tudos acerca do rastreamento do câncer de mama,
algumas dúvidas ainda persistem:
• Grande parte dos estudos randomizados
foram conduzidos antes da disponibilidade de te-
rapias adjuvantes (tamoxifeno e inibidores de aro-
matase). Sendo assim, torna-se dúbio determinar se
o responsável pela redução de 30% de moralidade
por câncer desde a década de 90, seja o rastrea-
mento ou o impacto das terapias adjuvantes.
• Se assumirmos que o rastreamento reduz a
mortalidade por câncer de mama em 15% e que o
over-diagnosis e over-treatment é de 30%, significa
que, para cada 2000 mulheres convocadas para ras-
treamento ao longo de 10 anos, uma mulher será
salva do câncer de mama e 10 mulheres saudáveis
serão tratadas desnecessariamente. Além disso,
mais de 200 mulheres terão sofrimento psicológi-
co importante, incluindo ansiedade e incerteza du- Figura 2. Seguimento de 16 anos de rastreamento em mulheres entre 40
rante anos devidos aos resultados falsos positivos. e 49 anos, com taxa de mortalidade. A linha pontilhada mostra o grupo
não rastreado, e a linha contínua mostra o grupo submetido à mamogra-
Devido aos avanços substanciais no tratamento e fia. Adaptado de HellquisT BN et al. Cancer 201115
maior consciência do câncer de mama desde que
os ensaios foram realizados, é provável que o efeito
22
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 02
23
CAP. 02 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
24
3
DIAGNÓSTICO
MAMOGRÁFICO
Palavras Chave:
Mamografia, diagnóstico, neoplasia da mama
26
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 03
RASTREAMENTO:
O câncer de mama é a causa mais frequente-
mente de morte por câncer em mulheres em todo o
mundo1(A), a segunda principal causa de morte por
câncer em mulheres em países desenvolvidos1(A),
e a principal causa de morte por câncer em baixo
e médio países de renda, onde uma elevada pro-
porção de mulheres apresentam-se com doença
avançada, o que leva a um prognóstico ruim. O ras-
treamento para o câncer da mama tem o objetivo
reduzir a mortalidade por esse tipo de câncer, bem
como a morbidade associada a estágios avançados
da doença, através da detecção precoce em mulhe-
res assintomáticas2(B).
Rastrear vem de rastro, ou vestígio, e significa in-
vestigar, inquirir, indagar, seguir rasto ou pista3. O
FIGURA 2: Manobra de Eklund em duas incidências (ML e CC). termo correspondente em inglês é screening e de-
riva de scieve, ou peneira4(B).
mamários, bem como as características Rastreamento é a realização de testes ou exa-
radiológicas da expressão tumoral. mes diagnósticos em populações ou pessoas assin-
tomáticas, com a finalidade de diagnóstico precoce
Do ponto de vista do posicionamento, (prevenção secundária) ou de identificação e con-
atualmente são preconizados no mínimo trole de riscos, tendo como objetivo final reduzir a
duas incidências primárias para cada mama morbidade e mortalidade da doença, agravo ou ris-
examinada: incidência cranio-caudal e a co rastreado4(B). O rastreio pode ser definido como
incidência médio lateral oblíqua. Outras a aplicação de testes de diagnósticos em pacientes
incidências adicionais que podem ser assintomáticos com a finalidade de dividi-los em
acrescentadas são a compressão seletiva, dois grupos: aqueles que têm uma condição que
a magnificação ou ampliação, manobra de beneficiaria de intervenção precoce e aqueles que
Eklund, perfil verdadeiro, e as rotações laterais. não5(B). O programa de rastreamento ideal consi-
Dentre essas,perfil verdadeiro e as manobras de dera as características do teste, as da doença e as
rotação são pouco empregados. De particular da população estudada. Os critérios básicos foram
interesse temos a magnificação, recomendada descritos, em 1968, por Wilson e Jungner, e são os
para estudo detalhado das microcalcificações, seguintes:
podendo também evidenciar pequenas
27
CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
1. A doença deve representar um importante pro- apenas transformaria a mulher em uma paciente
blema de saúde pública, relevante para a popu- com câncer, com todos os prejuízos físicos e psíqui-
lação, levando em consideração os conceitos de cos disso, sem qualquer benefício. Além disso, outro
magnitude, transcendência e vulnerabilidade; risco do rastreamento é submeter mulheres assin-
2. A história natural da doença ou do problema clí- tomáticas, que evidenciam alterações no exame de
nico deve ser bem conhecida; rastreamento, a reconvocações para novos exames
3. Deve existir um estágio assintomático pré-clíni- de imagem, a acompanhamento, ou até mesmo a
co bem definido, no qual a doença seja passível procedimentos invasivos. Ao final das reavaliações,
de diagnóstico; por vezes, estas mulheres serão diagnosticadas
4. O benefício da detecção e tratamento precoces, como não tendo câncer de mama. Estes casos se re-
derivados do rastreamento, deve ser maior do ferem a resultados falsos positivos de rastreamento
que se a doença fosse tratada no momento ha- de câncer8(B). No caso do câncer de mama, o impac-
bitual do diagnóstico; to psicológico de ser reconvocada, após um exame
5. Os exames que detectam a condição clínica de- de rastreamento, para nova avaliação (exame diag-
vem estar disponíveis, ser aceitáveis e com re- nóstico), tem sido relatado em vários estudos e se
sultados confiáveis; conclui que o exame de rastreamento falso positivo
6. O custo do rastreamento e do tratamento deve não causa ansiedade e aflição de um modo geral pe-
ser compatível com o orçamento destinado ao los procedimentos, mas apreensão relacionada es-
sistema de saúde como um todo; pecificamente à possibilidade do câncer. Entretanto,
7. O rastreamento deve ser um processo contínuo esse estresse é transitório e relativo ao tempo en-
e sistemático. tre a suspeita e a resolução com a comunicação de
que o diagnóstico do câncer de mama foi excluído.
Em relação à forma, o rastreamento pode ser opor- O risco do exame falso positivo está diretamente
tunístico, quando o indivíduo é captado pelo sistema associado à taxa de reconvocação, que por sua vez
ao procurar a assistência de saúde, ou organizado, é influenciada pelo treinamento e experiência do
nos casos em que ocorre de forma sistematizada e radiologista, pela qualidade da imagem, por carac-
voltada para detecção precoce em uma população terísticas da mulher (densidade mamária, uso de te-
assintomática, com convocação da população alvo, rapia hormonal, etc.) e por fatores relacionados ao
para realização do teste, em intervalos regulares. rastreamento como, por exemplo, a dupla leitura da
O rastreamento organizado é geralmente realizado imagem8(B). Para se otimizar o balanço entre risco e
por instituições de saúde5(B). O rastreamento deve benefício do exame de rastreamento é importante
ser voluntário, ágil, evidenciar benefícios maiores do manter as taxas de falso-positivos baixas sem se
que os riscos e ser consentido mediante informações perder a detecção das lesões malignas8(B).
e orientações sobre o mesmo5(B). A mamografia é o único teste de rastreamento
que tem demonstrado redução da mortalidade re-
Para análise dos benefícios das estratégias de lacionada ao câncer de mama2(B),9(A). Não se suge-
rastreamento é necessário se identificar o impac- re com isso que a mamografia seja a resposta para
to na redução da mortalidade e o impacto na di- a prevenção primária ou para a cura do câncer de
minuição da morbidade, por exemplo, através da mama. Claramente a cura do câncer ou a prevenção
redução da necessidade de mastectomias2(B),6(B). segura são alvos a se almejar, mas ainda não são
Por outro lado, a detecção do câncer de mama em possibilidades sob a perspectiva atual. Neste cená-
mulheres assintomáticas pode levar a riscos, como rio, a mamografia pode salvar milhares de vidas10(C).
por exemplo, diagnosticar um câncer que nem seria Apenas tumores que crescem vagarosamente de
detectado naturalmente ao longo da vida da mu- forma a serem detectados durante os intervalos re-
lher e nem estaria relacionado à sua causa de óbito, gulares do teste diagnóstico, e que tem capacidade
ou seja, um sobrediagnóstico (do inglês, overdiag- de metastatizar, são indicados para serem rastrea-
nosis)6(B),7(B). Neste caso, o diagnóstico do câncer dos5(B). Todos os tipos de câncer exibem nuances
28
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 03
em sua história natural, desde lesões indolentes mente observada em mulheres de 70 a 74 anos de
a agressivas, e a minoria é manejável por rastreio. idade que foram convidadas à realização de mamo-
Isto leva a um paradoxo em que os cânceres agres- grafia ou que participaram de rastreamento mamo-
sivos, fatais, não serão detectados no rastreamento, gráfico em diversos estudos de coorte baseados em
enquanto que aqueles indolentes, lentos, com baixo incidência2(B). Poucos estudos avaliaram a eficácia
risco de metástases, serão diagnosticados, e por ve- da triagem em mulheres de 40 a 44, ou 45 a 49
zes sobrediagnosticados e sobretratados5(B). anos de idade, que foram convidados a participar
O maior benefício do rastreamento mamográfico ou que participaram de rastreamento mamográfico,
tem sido relacionado à redução da mortalidade por e a redução do risco nestes estudos foi geralmente
câncer de mama. Em 2002, com base em resultados menos pronunciada. No geral, os dados disponíveis
de estudos randomizados e controlados, o Grupo não permitem a definição do intervalo de triagem
de Trabalho The International Agency for Research mais apropriado2(B).
on Cancer (IARC), da Organização Mundial de Saú- No Brasil, o Ministério da Saúde, assessorado pela
de (OMS), concluiu que existia evidência suficiente Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias
para que a mamografia fosse considerada o único – CONITEC, também realizou um levantamento da
método eficaz da triagem na redução da mortalida- literatura, em 2014, em busca de evidências cien-
de, por câncer de mama, para as mulheres 50 a 69 tíficas para nortear o rastreamento populacional
anos de idade. Porém a evidencia era limitada para do câncer de mama12(B). Os estudos identificados
as mulheres de 40 a 49 anos de idade, e o rastre- apresentaram evidências controversas de eficácia
amento com mamografia para mulheres com me- com redução relativa da mortalidade por câncer de
nos de 40 anos ou mais de 69 anos de idade, seria mama em mulheres abaixo dos 50 anos com a rea-
inadequado11(A). Em novembro de 2014, para atua- lização do rastreamento mamográfico em compara-
lização das evidências, peritos de 16 países reuni- ção ao cuidado usual (sem a realização de mamo-
ram-se novamente na IARC para avaliar os efeitos grafias de rastreamento). Em relação aos potenciais
preventivos e adversos de diferentes métodos de danos, detectou-se evidências de comprometimen-
rastreio para o câncer da mama2(B). Nesse estudo to da acurácia do exame nesta faixa etária, em fun-
foram incluídos 20 trabalhos de coorte e 20 de ção da densidade das mamas. Não se encontrou
caso-controle, todos conduzidos no mundo desen- metanálise específica para a faixa etária de menos
volvido (Austrália, Canadá, Europa ou Estados Uni- de 50 anos, sendo descritos, para as mulheres em
dos), considerados informativos para avaliar a efi- geral submetidas ao rastreamento mamográfico,
cácia dos programas de rastreio mamográfico, em índices estimados de sobrediagnóstico entre 1% e
sua maioria em intervalos de 2 anos2(B). A maioria 30% e de falso-positivo entre 21% e 56% após dez
dos estudos de mortalidade de coortes de base de mamografias anuais12(B). Entre 50 e 69 anos, tam-
incidência, envolvendo mulheres em rastreamento bém se verificou controvérsias de eficácia quanto
organizado ou em rastreamento oportunístico, re- à mortalidade por câncer de mama em mulheres
latou uma clara redução na mortalidade por câncer com idade entre 50 a 69 anos quando comparada a
de mama2(B). Mulheres de 50 a 69 anos de idade, realização do rastreamento mamográfico versus o
que foram convidadas a participar do rastreamen- cuidado usual (sem a realização de mamografias de
to mamográfico tinham, em média, uma redução de rastreamento). Em um estudo, foi descrita redução
23% no risco de morte por câncer de mama; mu- relativa da mortalidade nesta faixa etária de 50-59
lheres que participaram rastreamento mamográfico anos de idade: RR 0.86 (0.75-0.99) e em mulheres
organizado apresentaram maior redução no risco, com 60-69 anos de idade: 0.68 (0.54- 0.87), ainda
estimado em cerca de 40%. Evidência do pequeno com impacto discutível na redução absoluta do ris-
número de estudos ecológicos informativos foi am- co. De outra parte, no que se refere aos potenciais
plamente consistente com o de estudos de coorte e danos, não foram localizadas metanálises especí-
caso-controle. Uma redução substancial no risco de ficas para a faixa etária entre 50 a 69 anos, nem
morte por câncer de mama também foi consistente- avaliação do efeito do rastreamento mamo
29
CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
gráfico sobre anos perdidos ajustados por inca- entre mulheres rastreadas e mulheres convocadas
pacidade (DALYs) e qualidade de vida relacionada à para o rastreamento que não tem sido considerado
saúde (HrQoL)12(B). A mulher com mais de 70 anos nas discussões, inclusive leigas, sobre o assunto. Oi-
tem limitação das evidências disponíveis quanto à tenta e quatro mulheres necessitam ser rastreadas,
eficácia do rastreamento mamográfico em relação anualmente, entre 40 e 84 anos, para se salvar uma
à mortalidade por câncer de mama. O único estudo vida do câncer de mama e, 5.3 necessitam ser ras-
incluído pelo Ministério indicou para a possibilida- treadas anualmente para se ganhar 1 ano de vida
de de que não exista diferença na mortalidade por contra o câncer de mama13(A).
câncer de mama (incluindo a possibilidade de au- Em relação aos achados falso-positivos nas ma-
mento do risco) com a realização do rastreamento mografias de rastreamento na Europa, num progra-
mamográfico. De outra parte, no que se refere aos ma de exame bianual dos 50-69anos, analisando-se
potenciais danos, não foram localizadas metanáli- duas décadas, o valor varia de 8 a 21% (média de
ses específicas para a faixa etária de 70 anos ou 20%), e associa-se a um risco cumulativo de proce-
mais, nem avaliação do efeito do rastreamento ma- dimentos invasivos em 3%8(B). Já o sobrediagnósti-
mográfico sobre anos perdidos ajustados por inca- co na Europa varia de 0 a 54%, porém ao se ajustar
pacidade (DALYs) e qualidade de vida relacionada as estimativas para o risco de câncer de mama e o
à saúde (HrQoL). Não há, portanto, estudos de boa tempo dos ciclos de rastreio, o sobrediagnóstico é
qualidade metodológica e nível de evidência que menor, ocorrendo em 1 a 10% dos casos6(B).
demonstrem a superioridade de benefícios em rela- A introdução de mamografia de rastreamento
ção aos riscos de se realizar o rastreamento mamo- nos Estados Unidos foi associada a duplicação de
gráfico em mulheres com idade de 70 anos ou mais. detecção de câncer de mama em estágios iniciais
Ainda há necessidade de estudos de boa qualidade de 112 para 234 casos por 100.000 mulheres, o que
metodológica, inclusive desenvolvidos no cenário foi muito mais evidente do que a redução de es-
nacional atualizado, para a complementação de tais tágios avançados de câncer de mama que reduziu
informações12(B). de 102 para 94 casos por 100.000 mulheres15(A). A
O número necessário de mamografias de rastre- partir dessa analise pressupõe-se que, estatistica-
amento para salvar uma vida do câncer de mama mente, houve sobrediagnóstico de câncer de mama,
tem sido citado e varia dentre os estudos. Em inglês em cerca de 1.3 milhões de norte americanas, em
é descrito como number needed to screen (NNS) e 3 décadas, para um pequeno efeito na redução da
tem sido comparado ao número necessário de con- mortalidade15(A). Também o estudo nacional cana-
vocações evidenciado nos estudos de rastreamento, dense de rastreamento de câncer de mama, num
ou number needed to invite (NNI)13(A),14(A). Verifica- seguimento de 25 anos, não demonstrou redução
-se que o número de mamografias necessário para da mortalidade por câncer de mama em mulheres,
salvar uma vida do câncer de mama em programas de 40-59 anos, rastreadas anualmente16(A). E por
de rastreamento é menor do que o percebido nos outro lado indicou que 22% dos canceres invasivos
estudos controlados randomizados. Para mulheres diagnosticados por mamografia de rastreamento se
entre 40 e 49 anos rastreadas anualmente, estima- tratavam de sobrediagnóstico. Mas os próprios au-
-se um o NNS de 746, enquanto que o NNI nessa tores ponderam que os resultados do estudo não
mesma população seria de 1904, ou seja, presume- podem ser generalizados para todos os países; e
-se um acréscimo de 155% a mais de exames para reforçam que a detecção precoce pode ter grande
o mesmo benefício comparando-se os exames de beneficio em áreas cujo diagnóstico ocorra em es-
rastreamento com os realizados em estudos com tágios clínicos avançados, e com axila acometida;
convocação de pacientes13(A). Os trabalhos ran- onde não haja educação e estratégia de cuidados
domizados e controlados na sua maioria são das clínicos eficazes para a população16(A). Porém, de-
décadas de 70 e 80, e tem limitações para refletir ve-se ter em mente que a mamografia não causa
a tecnologia moderna atual de captura e interpre- excesso de diagnóstico ou de tratamento de câncer
tação de imagem. Existe uma diferença conceitual de mama, pois ainda não existe um método que dis-
30
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 03
tinga qual câncer existente, ou diagnosticado, seria mento mamográfico em mulheres com idade
letal ou não requereria tratamento. Mesmo porque abaixo dos 50 anos de idade e acima de 70
lesões malignas palpáveis, não diagnosticadas por anos, o Ministério da Saúde recomenda con-
mamografia, também, potencialmente, podem estar tra a mamografia de rastreamento em mu-
sendo sobrediagnosticadas ou sobretratadas10(C). lheres nessas faixas etárias;
Na atualidade, de um modo geral, tem-se um 2. Recomenda, mesmo que fracamente, o ras-
acordo de que a mamografia de rastreamento treamento mamográfico entre 50 e 69 anos,
deve ser oferecida rotineiramente a partir dos 50 porém existe necessidade de estudos de boa
anos2(B),9(A),12(B),17(A). Há um conflito de defini- qualidade metodológica, inclusive desenvol-
ção sobre o rastreamento na faixa etária de 40 a vidos no cenário nacional atualizado, para
49 anos e, também, sobre a idade de término do a complementação de informações12(B). A
rastreamento2(B),9(A),12(B),17(A). O intervalo entre os periodicidade do rastreamento com mamo-
exames varia de a cada ano e a cada dois anos9(A). grafia, na faixa etária recomendada deve ser
E a idade final para o término também varia entre bienal.
69, 74 anos e dependendo das condições clinicas da
mulher2(B),9(A),12(B),17(A). É necessário salientar que A Associação Brasileira de Mastologia (SBM) pre-
mulheres com alto risco de câncer de mama devem coniza que, em mulheres de risco habitual, o ras-
ter um acompanhamento diferenciado9(A). treamento mamográfico deva ser iniciado aos 40
A Sociedade Americana de Câncer publicou, em anos e mantido anualmente18(C). Um estudo sueco,
outubro de 2015, suas recomendações para o ras- de atualização de resultados, iniciado em 1982 e
treamento relatadas a seguir17(A): publicado em 2016, demonstrou que existe be-
nefício do rastreamento mamográfico também na
1. Mamografia anual dos 45 aos 54 anos, na fai- faixa etária abaixo dos 39 aos 49 anos, da ordem
xa etária que se espera maior benefício na de 40% na redução da mortalidade por câncer de
redução de mortalidade pelo exame, da or- mama19(A).
dem de 20 a 40%; Embora haja evidência da redução de mortali-
2. Mamografia bianual, ou anual, pela escolha dade por câncer de mama através do rastreamento
da mulher, a partir dos 55 anos indo até a mamográfico, a magnitude do efeito ainda é incerta,
idade em que a mulher estiver saudável, dificultando o estabelecimento entre os benefícios
considerando-se uma expectativa de vida de e riscos do mesmo9(A),20(A). Como o efeito foi menor
mais de 10 anos; nos ensaios randomizados de forma adequada, uma
3. A mulher com idade entre 40 e 45 anos tem a estimativa razoável é que haja uma redução de 15
escolha de iniciar o rastreamento anual, con- %, correspondendo a uma redução do risco absolu-
siderando-se seus riscos e benefícios (deci- to de 0,05% 21(A). Por outro lado, o potencial risco
são individualizada e compartilhada). de sobrediagnóstico, que também pode gerar o so-
bretratamento, inclusive com mais mastectomias, é
Em 2014, o IARC (OMS) publicou suas recomen- de cerca de 30% 21(A). Isso significa que para cada
dações informando que há um benefício real de 2000 mulheres rastreadas por 10 anos, uma terá
convidar mulheres de 50 a 69 anos de idade para sua vida prolongada e 10 serão tratadas desneces-
receber o rastreio2(B). sariamente; além disso 200 terão risco de exames
As recomendações do Ministério da Saúde do falso-positivos21(A). O quadro 1 apresenta algumas
Brasil, publicadas em abril de 2015, concluem o se- características de ensaios clínicos relevantes sobre
guinte12(B): rastreamento mamográfico22(B).
1. Por não se demonstrar, por meio de estudos Informar a mulher convidada ao rastreamento
de boa qualidade metodológica e nível de sobre os riscos e benefícios do exame mamográfico
evidência, a superioridade de benefícios em é fundamental, e põe em discussão a questão do
relação aos riscos de se realizar o rastrea- atendimento em saúde realizado com autonomia
31
CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
versus com paternalismo, além de questões éti- esta diferença entre a triagem e a mamografia diag-
cas, políticas, econômicas e da geração de conflitos nóstica33(B).
de interesse em se fazer, ou não, exames em pes- Evidentemente diante de uma queixa mamária,
soas assintomáticas7(B). A decisão sobre o rastreio tal como um nódulo, a mamografia pode ser um re-
mamográfico depende do equilíbrio entre benefí- curso propedêutico, pois esta pode alterar uma con-
cios e malefícios e a maneira pela qual a mulher e duta cirúrgica. Por exemplo, se na vigência de um
seu médico pesam esses fatores concorrentes. nódulo palpável, a mamografia mostrar, além deste,
um extenso foco de microcalcificações suspeitas, a
conduta cirúrgica poderá ser alterada de um trata-
MAMOGRAFIA DIAGNÓSTICA mento conservador (setorectomia) para um radical
É aquela realizada em pacientes que apresentam (mastectomia).
alguma queixa clínica, incluindo um amplo espec- Em poucos casos, a mamografia pode ser re-
tro de alterações, tais como: mastalgia, descarga almente diagnóstica. Um destes casos ocorre na
papilar e nódulo. Destes sinais e/ou sintomas, em presença de um nódulo palpável de consistência
um estudo de Aiello et al, apenas o nódulo em pa- endurecida (Figuras 3 e 4). Se na mamografia visi-
cientes pós-menopausa, tem associação relevante bilizarmos, na mesma região da alteração clínica,
com câncer de mama23(B). um nódulo associado a calcificações grosseiras, fir-
Embora frequentemente vejamos orientações ma-se o diagnóstico de fibroadenoma calcificado e
para investigação imediata, como por exemplo uma nenhuma propedêutica adicional faz-se necessária.
rápida realização da mamografia, em pacientes com
queixas mamárias (incluindo aí forte apelo da mídia ACHADOS RADIOLÓGICOS E
leiga), que possam levar a um diagnóstico de câncer CLASSIFICAÇÃO BI-RADS
de mama, não existem evidências científicas, que a
mamografia diagnóstica altere a mortalidade24(B). O Sistema de Dados e Relatórios de Imagem da
Dados que demonstram redução de mortalidade Mama (em inglês Breast Image Reporting and Data
por câncer de mama em pacientes que realizaram ma- System => BI-RADS®) foi desenvolvido pelo Ameri-
mografia, originam-se de estudos realizados em que can College of Radiology (ACR), com o objetivo de
o exame foi executado com método de triagem25(B), padronizar a terminologia a ser usada. Inicialmen-
26
(A), 27(A), 28(A), 29(A), 30(A), 31(A), 32(A). Portanto, o prin- te foi desenvolvido apenas para a mamografia e
cipal objetivo da mamografia é o diagnóstico preco- posteriormente foi extendido para o ultra-som e a
ce do câncer de mama em mulheres assintomáticas. ressonância magnética. Atualmente o BI-RADS® en-
Desde o fim da década de 70, Moskowitz enfatizou contra-se na 5a edição, lançada em 201334(B).
32
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 03
Nódulos
Têm representação tridimensional e deve ser
visto em duas incidências mamográficas. As bordas
são convexas ou parcialmente convexas. Na pre-
sença de um nódulo, deve-se avaliar a localização,
tamanho, forma (redonda, oval, irregular), margens
(circunscrita, obscurecida, microlobulada, indistinta,
espiculada), densidade (alta densidade, densidade
igual, baixa densidade, conteúdo adiposo)34(B).
A forma redonda é usada quando o nódulo é esfé-
FIGURA 3: Paciente portadora de lesão tumoral suspeita, palpável, com
correspondente tumoral espiculado e com retração cutânea associada,
rico, arredondado, circular ou globular. A forma oval
localizada em QSL de mama esquerda pode ter no máximo 3 ondulações. A forma irregular
33
CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
não pode ser classificada como redonda ou oval. radioluscente, na maioria das vezes localizado no
A margem circunscrita caracteriza-se por uma QSL), o fibroadenoma calcificado (nódulo associado
transição abrupta entre a lesão e o tecido circunja- a calcificações grosseiras, tipo “pop corn”), o cisto
cente. A obscurecida é aquela em que mais de 25% oleoso (nódulo associado a depósitos de calcifica-
da margem de um nódulo circunscrito está oculta. ções, delimitando a sua parede).
Margem microlobulada é caracterizada por peque- Outro sinal que é bastante sugestivo de benig-
nas ondulações. Na margem indinstinta não existe nidade, mas não patognomônico, é o sinal de halo,
demarcação nítida de toda ou parte da margem em que trata-se de uma ilusão de ótica, formando uma
relação ao tecido circunjacente. Margem espiculada tênue e escura linha de 1mm de espessura, em tor-
caracteriza-se por linhas irradiadas do nódulo. no de um nódulo circunscrito38(B).
Densidade é usado para definir a atenuação dos
raios x pela lesão em relação à atenuação de um vo-
lume igual de tecido fibroglandular normal. A maio-
ria dos nódulos malignos apresentam densidade
igual ou maior ao tecido fibroglandular adjacente.
Nódulos contendo gordura raramente são malignos.
34
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 03
35
CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
FIGURA 8: Assimetria focal imprecisa com confluência trabecular asso- FIGURA 9: Lesão tumoral espiculada associada a microcalcificações ple-
ciada, em destaque na 1/w superior de mama direita. omórficas e com nítida confluência trabecular.
Assimetria global: grande volume de tecido fi- Distorção arquitetural: o tecido mamário encon-
broglandular, ocupando pelo menos um quadrante tra-se distorcido, sem nenhum nódulo visível. Apre-
da mama. Esta alteração somente tem valor prediti- senta alto valor preditivo de malignidade, sobretu-
vo de malignidade, quando existe alteração corres- do quando associado a microcalcificações amorfas
pondente ao exame físico. ou pleomórficas (Figura 9), se não tiver história pre-
Assimetria focal: Menor volume que a assimetria gressa de cirurgia em área correspondente. O prin-
globlal. Ocupa menos de um quadrante (Figura 8). cipal diagnóstico diferencial ocorre entre cicatriz
Apresenta margens convexas e é visibilizada em 2 radial e câncer de mama.
incidências mamográficas. Espessamento e retração de pele e mamilo: são
36
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 03
achados associados. Pode ser decorrente de proces- à localização dos achados descritos nesse método.
sos neoplásicos, seqüela de tratamento (por exem- Não menos importante, está na definição do pró-
plo: radioterapia e cirurgia), mastites, co-morbida- prio padrão de densidade glandular mamário, visto
des (Insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência à Mamografia, podendo ser utilizado como um im-
renal, esclerodermia). portante marcador de risco para o câncer de mama.
O contínuo aprimoramento do método, com ine-
COMENTÁRIOS FINAIS gável melhora na qualidade das imagens obtidas,
permite-nos vislumbrar um diagnóstico cada vez
É inegável que o principal objetivo da Mamogra- mais precoce e, consequentemente, reduzir a mu-
fia é o rastreamento do câncer de mama, sobretudo tilação provocada pelos tratamentos e aumentar
pelo fato de ser, até o presente momento, o único as chances de cura dessa doença. A grande evolu-
método que foi capaz de determinar uma redução ção dos equipamentos de Mamografia é evidente,
na mortalidade dessa doença, em decorrência da migrando de uma época em que os equipamentos
sua utilização num sistema organizado e abran- de Mamografia analógicos já nos dava informações
gente. Por outro lado, a possibilidade de aplicação importantes, mas que na atualidade, os grandes re-
da Mamografia como recurso auxiliar de imagem cursos tecnológicos que a Mamografia digital nos
no diagnóstico e esclarecimento das mais diversas oferece, coloca esse método num patamar mui-
anormalidades mamárias, nos permite melhorar o to acima do que era no passado, dificultando até
raciocínio diagnóstico e claramente aumentar as mesmo análises comparativas da sua acurácia atu-
chances de acerto nas nossas condutas. Outra si- al com os resultados encontrados em estudos das
tuação importante a ser destacada é a utilização décadas de 70 e 80 e que são, na sua totalidade, os
dos achados mamográficos para definir uma melhor dados utilizados para a justificação desse método
estratégia e planejamento cirúrgico, condicionado como recurso eficaz de rastreamento do câncer de
37
CAP. 03 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mama, ainda criticado por alguns profissionais. 9. Tirona MT. Breast cancer screening update.
Apesar da grande discussão sobre as recomen- Am Fam Physician. 2013;87(4):274-78.
dações de rastreamento Mamográfico do câncer de 10. Kopans DB. Point: The New England Journal
mama no Brasil, entidades médicas como Sociedade of Medicine Article Suggesting Overdiagno-
Brasileira de Mastologia, FEBRASGO e Colégio Bra- sis From Mammography Screening Is Scien-
sileiro de Radiologia, entendem que a melhor estra- tifically Incorrect and Should Be Withdrawn.
tégia de recomendação do rastreamento do câncer JACR. 2013;10(5):317-19.
de mama no Brasil deve-se iniciar aos 40 anos, com 11. International Agency for Research on Cancer.
intervalo anual do mesmo. Vale ressaltar, finalmente, IARC handbooks of cancer prevention. Vol. 7.
que o rastreamento mamográfico foi o único método Breast cancer screening. Lyon, France: IARC
efetivo na redução da mortalidade por essa doen- Press, 2002.
ça, representando a principal ferramenta auxiliar de 12. CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação
diagnóstico para nós Mastologistas. de Tecnologias no SUS). Mamografia para o
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39
4
ULTRASSONOGRAFIA
MAMÁRIA
Palavras Chave:
ultrassonografia mamária, doenças mamárias, neoplasias da mama
GILBERTO UEMURA
Professor Doutor da Faculdade de Medicina de Botucatu
Membro do Centro de Avaliação em Mastologia da Faculdade De Medicina De Botucatu “Prof. Laurival Antônio
De Lucca”
Figura1:Imagem panorâmica permitindo melhor visualização da exten- Figura2: Elastografia: lesões mais duras apresentam coloração azul na compres-
são da lesão e sua correlação com pele e os tecidos vizinhos.Fonte: ar- são, quanto mais dura a lesão maior o risco de malignidade.Fonte: arquivo pes-
quivo pessoal do autor. soal do autor.
42
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 04
POSICIONAMENTO DA PACIENTE
E TÉCNICA DO EXAME
É importante primeiramente o posicionamen-
to da paciente, de modo que a mama fique repousa-
da sobre a parede torácica com mínima espessura
possível. Na grande maioria das vezes isso é obtido
com a paciente em decúbito dorsal, porém em ma-
mas mais volumosas e/ou pendulares, o decúbito
lateral semicompleto ou completo pode fornecer a Figura3: Posicionamento em decúbito dorsal com braços elevados.
melhor condição para o exame.8(B) Figura 3. Fonte: arquivo pessoal do autor.
Para a avaliação do complexo aréolo-papilar
devemos utilizar o gel morno, para evitar a contra- terior ao tecido fibroglandular. Nessa região temos
tura da musculatura da aréola e do mamilo que po- tecido gorduroso e ligamentos de Cooper. As lesões
dem produzir sombra acústica posterior impedindo mais comuns nessa região são os lipomas, cistos de
a boa visualização do local. Também podemos fazer inclusão, hemangiomas e edema de linfáticos sub-
várias manobras para melhorar a visualização desta dérmicos. Essa região tem um padrão de ecogeni-
região, como compressão e colocar o transdutor em cidade isoecogênico próprio da gordura. (3) Área fi-
posição lateral, medial, inferior ou superior ao com- broglandular, nessa região encontram-se os ductos
plexo areolo-papilar.9(B), 12(C) e lobos mamários, juntamente com suas unidades
A avaliação axilar do nível 1 e do nível 2 é ductos-lobulares terminais. Assim encontramos a
melhor feita em decúbito lateral incompleto com maioria das alterações mamarias benignas ou ma-
os braços fletidos atrás da cabeça. Avalia-se inicial- lignas nessa área. O tecido fibroso representado
mente a região de nível I e de maior probabilidade pela fibrose interlobular é hiperecogênico e o te-
de localizar o linfonodo sentinela e após examina- cido lobar (incluindo a unidade ducto terminal) é
mos o nível 2, localizando inicialmente a veia axilar isoecogênico. (4) Área retroglandular, que fica pos-
e o musculo peitoral menor. Para examinarmos o terior a fibroglandular e é composta por gordura
nível 3 colocamos o transdutor abaixo da clavícula sendo isoecogênica e normalmente fica bastante
e procuramos a artéria e veia subclávia, para isso comprimida durante o exame. A maioria das lesões
voltamos a paciente em decúbito dorsal e esten- que ocorrem nessa área provem da área glandular
demos o braço lateralmente ao tronco.8(B) Figura 4. e mais raramente da musculatura peitoral.4(B), 11(C)
Para o exame da glândula mamária, o transdu- Figuras 5 e 6.
tor deve varrer a mama em vários planos de forma a
cobrir toda a glândula mamária. Os planos mais co-
mumente usados são os longitudinais e transversos,
porém o plano que mais fornece detalhes da anato-
mia da mama é o radial e anti-radial, permitindo a
avaliação dos ductos e lobos.10-11(C).
ANATOMIA
ULTRASSONOGRÁFICA DA MAMA
No ultrassom podemos dividir a mama em:
(1) Pele, com espessura normal em torno de 2mm.
Figura5: Anatomia ultrassonográfica da mama.Fonte: arquivo pessoal do
(2) Área subcutânea que fica abaixo da pele e an- autor.
43
CAP. 04 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
44
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 04
Figura 7: Exemplos das categorias do BIRADS®: a- categoria 3, b- categoria 4, c- categoria 5. Fonte: arquivo pessoal do autor.
Figura 8: Nódulos no exame ultrassonográfico: a- nódulo com forma ovalada, margem circunscrita, hipoecogênico, paralelo a pele e sem efeito posterior
(fibroadenoma), b- nódulo com forma ovalada, margem não circunscrita microlobulada, heterogêneo, não paralelo a pele e sem efeito posterior (carcino-
ma ductal receptor hormonal positivo, Her 2 negativo e índice de proliferação alto), c- nódulo com forma ovalada, margem não circunscrita angulada he-
terogêneo, não paralelo a pele e com sombra posterior (carcinoma ductal receptor hormonal positivo, Her 2 positivo e índice de proliferação alto), d- tumor
multifocal com nódulos com forma irregular , margem não circunscrita –indistinta, hipoecogênico, não paralelo a pele e com sombra posterior (carcinoma
ductal receptor hormonal positivo e índice de proliferação alto), e- nódulo com forma irregular , margem não circunscrita – indistinta, hipoecogênico,
não paralelo a pele e com sombra posterior (carcinoma ductal receptor hormonal positivo e índice de proliferação baixo), f- nódulo com forma ovalado
, margem circunscrita, hipoecogênico, não paralelo a pele e com reforço posterior. (carcinoma ductal triplo negativo).Fonte: arquivo pessoal do autor.
45
CAP. 04 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura9: Calcificações no exame ultrassonográfico: a- microcalcificações no interior de uma massa (carcinoma ductal Her 2 positivo), b- microcalcificações
no tecido fibroglandular associada a pequenos cistos (condição fibrocistica), c- microcalcificações no interior do ducto (carcinoma intraductal).Fonte:
arquivo pessoal do autor.
Figura 10: Achados associados no exame ultrassonográfico: a- distorção da arquitetura associada a edema de pele, b- dilatação ductal com conteúdo
ecogênico no seu interior (ectasia ductal), c- vascularização no interior da lesão, d- vascularização periférica.Fonte: arquivo pessoal do autor.
46
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 04
Figura 11:Aspecto dos cistos ao exame ultrassonográfico: a- imagem nodular, ovalada, circunscrita, paralela, anecóica e com reforço acústico posterior
(cisto de mama BIRADS® 2), b- imagem nodular, ovalada, circunscrita, paralela, conteúdo misto e com reforço acústico posterior (cisto complexo BIRADS®
4), c- imagem nodular , ovalada, circunscrita, paralela, hipoecogênica e com reforço acústico posterior (cisto complicado BIRADS® 3).Fonte: arquivo pes-
soal do autor.
Figura 12:Nódulo com características benignas: a- imagem nodular, ovalada, circunscrita, paralela, hipoecogênica e sem efeito acústico posterior (fibroa-
denoma BIRADS® 3), b- fluxo doppler no interior da lesão com baixo índice de pulsatilidade e baixo índice de resistência.Fonte: arquivo pessoal do autor.
47
CAP. 04 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
NÓDULOS COM
CARACTERÍSTICAS SUSPEITAS
Neste grupo, a maioria das lesões são repre-
sentadas por carcinomas com pouca celularidade,
intermediário ou baixo grau histológico e estro-
ma muito denso, que possuem as seguintes carac-
terísticas: forma irregular, margens espiculadas,
Figura 14: Nódulo com forma irregular, margem não circunscrita –espi- ecotextura hipoecogênica, forte sombra posterior;
culada, hipoecogênico, não paralelo a pele e com sombra posterior (carci-
noma ductal receptor hormonal positivo e índice de proliferação baixo).
orientação não paralela. Os principais diagnósticos
Fonte: arquivo pessoal do autor. diferenciais são as cicatrizes cirúrgicas, áreas de ne-
crose gordurosa e cicatriz radiada. Estas lesões são
Figura 15: Espessamento palpável na mama esquerda – ultrassonografia anatomia normal da mama.Fonte: arquivo pessoal do autor.
48
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 04
classificadas como BIRADS® categoria 5. 18(B), 22(B) MAMOGRAFIA COM ACHADO SUSPEITO
Figura 14. O ultrassom pode confirmar uma lesão sus-
peita, permitir a biópsia e é melhor que a mamogra-
INDICAÇÕES DA ULTRASSONOGRAFIA fia para avaliar a extensão tumoral, principalmente
para parede torácica e cadeias linfonodais axilares,
ALTERAÇÕES PALPÁVEIS mamária interna, supraclavicular e cervical.6-7(B)
O ultrassom permite examinar o local palpá- É possível inferir com as características ul-
vel e definir se existe ou não lesão de caracterís- trassonográficas sobre celularidade, grau de fibrose
ticas benignas ou suspeitas. Isto tem especial im- e até predizer em alguns casos o provável painel
portância em pacientes com alterações palpáveis e imuno-histoquimico, principalmente no que diz res-
mamografia normal, mais comum em mulheres com peito ao status do receptor estrogênico. Em tese de
mamas densas (padrão C e D do BIRADS®), que po- Doutorado, Pessoa et. al, ao comparar as caracterís-
dem obscurecer lesões. O exame de ultrassom nor- ticas morfológicas ultrassonográficas dos tumores
mal associado a mamografia normal diminui muito divididos nos subtipos luminal, triplo negativo e
a chance do achado palpável ser maligno, alguns HER2, verificou que cada subtipo tem a associação a
estudos mostram um valor preditivo negativo de certo grupo de características distintas. Os tumores
até 99%.9(B) Figura 15. luminais são pleomórficos, apresentam tecido ao
MAMOGRAFIA COM ACHADOS BENIGNOS redor espessado, margem não circunscrita, ausência
Figura 17: Predição do painel imuno-histoquímico pela ultrassonografia: a- características morfológicas ultrassonográficas de tumor luminal, b- caracte-
rísticas morfológicas ultrassonográficas de tumor triplo negativo, c- características morfológicas ultrassonográficas de tumor HER2 positivo.Fonte: arquivo
pessoal do autor.
49
CAP. 04 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
de microcalcificações em seu interior, efeito acústi- Normalmente são pacientes que a mamogra-
co posterior ausente ou presença de sombra, pre- fia tem uma sensibilidade muito diminuída devido
sença de halo ecogênico e orientação não paralela à alta densidade mamária pela idade (pacientes
a pele. Os tumores triplo negativos se apresentam mais jovens) e pela mama lactante. Assim o ultras-
com forma oval e circunscritos quando comparados som tem grande utilidade para avaliar alterações
aos luminais e HER2. Também apresentam tecido mamária nesse grupo de mulheres, principalmen-
ao redor normal, ausência de microcalcificações em te na avaliação de massas palpáveis, conseguindo
seu interior, efeito acústico posterior ausente ou diferenciar lesões verdadeiras do ingurgitamento
presença de reforço, limites abruptos e orientação mamário.19(B)
mais paralela a pele. Os tumores HER2 positivo são
pleomórficos, apresentam tecido ao redor normal, AVALIAÇÃO DAS CADEIAS LINFONODAIS
margem não circunscrita, presença de microcalci- A avaliação axilar das pacientes a serem
ficações em seu interior, heterogêneos, ausência de submetidas à biópsia do linfonodo sentinela nor-
efeito acústico posterior, limites abruptos e orienta- malmente é clínica. No entanto o exame clínico é
ção não paralela a pele. 15(B) Figura 17 pouco sensível para avaliar o acometimento linfo-
nodal axilar, assim observa-se que de 15 a 60% das
REAVALIAÇÃO APÓS EXAME DE RESSO- pacientes com axila clinicamente negativa tem lin-
NÂNCIA ( SECOND LOOK ) fonodos positivos, levando a taxas de 30 a 40% de
O ultrassom das mamas pode ser utilizado linfonodos sentinelas metastáticos.28(B)
para avaliar um realce suspeito na ressonância A ultrassonografia pode identificar linfonodos
magnética, as taxas de detecção na literatura são suspeitos nas axilas clinicamente negativas, sele-
muito variáveis (23-89%).As lesões com realce do cionando-os para a punção aspirativa com agulha
tipo massa são mais facilmente encontrada na ul- fina (PAAF), diminuindo as biópsias desnecessárias
trassonografia do que as do tipo não massa (podem do linfonodo sentinela. Estas técnicas associadas
corresponder a lesões in situ) e a chance de encon- (ultrassom e PAAF) diminuem o risco de falsos ne-
trarmos a lesão é diretamente proporcional ao ta- gativos em até 15%, que pode ocorrer devido ao
manho do realce. A ultrassonografia constitui o mé- maciço comprometimento do linfonodo sentinela,
todo de escolha para localizar lesões inicialmente desviando assim a drenagem linfática para outro
só visualizadas na ressonância.24-26(B) Figura 18 linfonodo não acometido.8(B), 28(B)
Observamos que os canais aferentes dos lin-
AVALIAÇÃO DE MAMAS DE GESTANTES E fonodos desembocam inicialmente na cortical do
LACTANTES linfonodo. Levando em consideração a fisiologia da
Figura 18: Realce na ressonância que no second look foi visualizado área de dilatação lobar na topografia correspondente – carcinoma in situ .Fonte:
arquivo pessoal do autor.
50
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 04
Figura 19: Imagem ultrassonográfica do linfonodo com espessamento da cortical e corte histológico do linfonodo com metátase. T (metástase) e H ( hilo).
Fonte: arquivo pessoal do autor.
metástase linfonodal, as células se alojam primeiro próteses contendo silicone, observa-se um degrau.
na cortical, dilatando e distendendo-a, assim inde- A utilização da imagem com harmônica pode redu-
pendentemente do tamanho ou da forma do linfo- zir o ruído e os artefatos de reverberação, tornando
nodo, observamos as alterações e irregularidades a avaliação da cápsula e envelope da prótese mais
na sua região cortical. Figura 19 fácil. Além de poder diferenciar o tipo de prótese, a
A classificação dos linfonodos como suspeitos ultrassonografia também pode determinar a posi-
é determinada pela relação da sua cortical com a ção da prótese, se subglandular ou retro muscular
medular. Utilizamos como normal linfonodos com (peitoral maior). O conceito de rotura intracapsular
cortical regular e com diâmetro máximo menor ou ou extracapsular é válido para pacientes com próte-
igual a 2,3 mm e suspeitos aqueles com cortical se de gel de silicone, pois a rotura de próteses com
maior que 2,3 mm.8(B) soro fisiológico provoca o colabamento da prótese.
Na rotura extracapsular, observamos gel de silicone
AVALIAÇÃO DE PRÓTESES MAMÁRIAS do lado externo do invólucro ou da capsula da pró-
À ultrassonografia, nas próteses contendo tese, geralmente apresenta ecogenicidade variável
soro fisiológico, não se observa degrau entre a bor- a aparência clássica e de uma área com pontos eco-
da posterior da prótese e a parede torácica, já nas gênicos com aspecto de tempestade de neve. A ro-
Figura 20: Panorâmica avaliando a espessura do retalho, a integridade Figura 21: Avaliando a integridade da prótese e presença de líquido pe-
da prótese, presença de líquido peri-prótese e de contraturas capsulares ri-prótese e de contraturas capsulares em paciente com prótese aditiva
em paciente pós-adenectomia. Fonte: arquivo pessoal do autor. retroglandular. Fonte: arquivo pessoal do autor.
51
CAP. 04 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 22: Dilatação ductal com lesão ecogênica em sua porção distal Figura 23: Áreas hipoecogênicas retro areolar compatível com gineco-
(papiloma intraductal). Fonte: arquivo pessoal do autor. mastia Fonte: arquivo pessoal do autor.
tura intracapsular pode não ser demonstrada pelo AVALIAÇÃO DA DESCARGA PAPILAR
ultrassom, como achados, podemos citar: aumento A descarga papilar é uma queixa comum na
da ecogenicidade do silicone e o “sinal da escada”, mastologia, na grande maioria das vezes está rela-
observam-se ainda pregas do invólucro da prótese cionada a processos benignos como galactorreias,
flutuando no gel. Figuras 20 e 21. ectasias ductais e alterações fibrocísticas. A ultrasso-
nografia é considerada o método de escolha na ava-
52
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 04
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
53
CAP. 04 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
54
5
DIAGNÓSTICO DA
RESSONÂNCIA
MAGNÉTICA
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Ressonância Magnética, Gadolínio
RAQUEL NUNES
Mastologista do Serviço de Mastologista da Rede Mater Dei de Saúde
CAP. 05 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 1- Realce não nodular, heterogêneo, regional, na mama esquerda (não há nódulo demostrável no estudo morfológico na RM nem achados compatí-
veis em outros exames de imagem das mamas ou exame clínico). Primeira imagem pós-contraste, ponderada em T1, com supressão de gordura. Patologia:
Carcinoma ductal invasor
56
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 05
nologia mamária foi a falta, em estudos iniciais, de densas e mamas com próteses sem as limitações da
métodos de biópsia, o que incluía técnica e mate- mamografia nestes casos específicos; além de não
riais específicos. A tecnologia foi criada sob deman- utilizar radiação ionizante3(D). Entretanto, como
da e hoje temos um arsenal de equipamentos e téc- todo método de imagem, tem suas limitações. As
nicas bem estabelecidas para proceder intervenção principais que se colocam são a necessidade de
diagnóstica em lesões identificadas apenas por res- realização do exame em um período do ciclo com
sonância magnética. Esta intervenção pode ser feita menor estimulação de estrogênio e progesterona
a partir de biópsia percutânea a vácuo, com aquisi- (segunda semana do ciclo); a dificuldade de diag-
ção de fragmentos que são enviados para estudo nóstico de lesões pouco proliferativas, como o car-
histológico ou a partir de marcação pré-cirúrgica, cinoma in situ de baixo grau e até mesmo o carcino-
com injeção de radiofármaco ou posicionamento de ma invasor bem diferenciado (pouca angiogênese,
fio metálico, que funcionarão como guia para exé- pouco realce pelo meio de contraste); o falso posi-
rese da área suspeita em um segundo tempo, em tivo de lesões benignas proliferativas ou muito vas-
bloco cirúrgico (biópsia excisional, a céu aberto). cularizadas, como linfonodos e hiperplasias típicas;
A ressonância magnética é um método im- passado recente de cirurgia ou radioterapia (pode
portante e tem como vantagens o esclarecimento haver realce relativo a processos inflamatórios).
de imagens que geram dúvidas em métodos de TÉCNICA DO EXAME
imagem rotineiros em mastologia - mamografia e O aparelho de ressonância magnética funcio-
ecografia; a possibilidade de avaliação de mamas na como um grande imã, que determina um campo
Routine mammography
Category 1: Negative Essentially 0% likelihood of malignancy
screening
Routine mammography
Category 2: Benign Essentially 0% likelihood of malignancy
screening
Short-interval (6-month)
Category 3: Probably Benign follow-up or continued > 0% but ≤ 2% likelihood of malignancy
surveillance mammography
57
CAP. 05 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
magnético conhecido. Os vários tecidos do corpo ca. As aquisições são feitas em três planos (axial,
são compostos de quantidades diferentes de água sagital e coronal), incluindo a totalidade do tecido
e com isso são estimulados de maneira diferente fibroglandular e axilas, além de musculatura peito-
pelo campo magnético. As imagens são resultan- ral adjacente, permitindo o estudo tridimensional
tes da interação de ondas de radiofrequência com das lesões. Desta maneira, o estudo morfológico
o núcleo do átomo de hidrogênio. A diferença da das lesões é completo, identificando-se tamanho,
composição dos tecidos e o tempo que cada um intensidade do sinal, forma, margens e padrão de
leva para retornar ao estado inicial após ser ex- realce interno das lesões, sua localização e relação
posto ao campo magnético faz com que os tecidos com tecidos adjacentes.
tenham sinais diferentes na imagem formada pela As aquisições das imagens são feitas em duas
ressonância magnética. Assim, a interpretação da fases – uma fase não contrastada, para estudo dos
imagem em ressonância magnética é descrita em aspectos morfológicos e outra com uso do contraste
termos de “intensidade do sinal” (o que equivaleria, endovenoso, para o estudo dinâmico. O estudo di-
a grosso modo, à ecogenicidade da ecografia e à nâmico é feito com a injeção do contraste endove-
densidade dos tecidos na mamografia). noso gadolínio e aquisição de imagens sequenciais
Os aparelhos que fazem ressonância magné- a cada minuto após a injeção (num total de 3 ou
tica das mamas possuem campos magnéticos varia- 5 minutos, a depender do protocolo utilizado). No
dos. Especificamente para realização da ressonân- estudo dinâmico, as lesões mamárias são estudadas
cia mamária, espera-se um aparelho de no mínimo em termos de captação de contraste em relação ao
de 1,5T (tesla) e bobinas dedicadas, específicas para tempo, além do padrão de realce interno das lesões
as mamas, garantindo imagens adequadas e acurá- nodulares. A captação de contraste em função do
cia diagnóstica1(D). Durante o exame, as pacientes tempo forma curvas que também serão considera-
ficam em decúbito ventral com as mamas apoiadas das na análise destes achados. A base fisiológica do
nessas bobinas. (FIG 2; FIG 3) estudo dinâmico considera que lesões suspeitas e
As imagens são adquiridas em várias sequên- malignas possuem um aumento da permeabilidade
cias que variam de acordo com o protocolo adotado capilar e da neoangiogênese, o que faz com que o
em cada serviço. De uma maneira geral, as sequên- contraste seja captado mais rapidamente por essas
cias identificam os elementos que constituem a lesões (pelo aumento da permeabilidade vascular)
mama (gordura, tecido fibroglandular, água e, even- e também “lavado” mais rapidamente (pela angio-
tualmente, silicone) e os softwares são capazes de gênese). A velocidade da captação do contraste e
gerar imagens com supressão de um ou mais des- o comportamento deste contraste em relação ao
ses elementos para ajudar na definição diagnósti- tempo forma curvas de realce pelo meio de con-
Figura 2: Aparelho de ressonância magnética, Avanto SIEMENS Figura 3: Bobina específica para realização de ressonância das mamas
58
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 05
traste, como demostrado na figura 4. Estas curvas dêutica em mastologia tem algumas indicações5(D),6(D)
são descritas como ascendentes ou persistentes já bem estabelecidas por estudos clínicos publica-
(tipo 1), em platô (tipo 2) e em washout (tipo 3). dos e outras que ainda são fonte de pesquisas e
Considerando o estudo dinâmico da ressonân- muitas controvérsias. As principais indicações do
cia magnética e o fato que o aumento da permeabi- uso da ressonância magnética como propedêutica
lidade capilar influencia nos achados deste método, em Mastologia são discutidas a seguir.
fica claro que é muito importante correlacionar a O rastreamento de pacientes de alto risco
época do ciclo menstrual com a data de realização é um dos usos mais bem estabelecidos da resso-
do exame. A segunda semana do ciclo (entre o 7º nância magnética das mamas. Segundo a American
e o 14º dias), onde temos níveis hormonais mais Cancer Society3(D), a ressonância deve ser utilizada
baixos e uma menor estimulação do parênquima anualmente, em adição à mamografia, baseado em
por estrogênio e progesterona, consequentemente evidência científica, para pacientes com mutações
menor vascularização e menos edema mamários, conhecidas de BRCA1 ou BRCA2, ou para aquelas
seria a melhor época para fazer uma ressonância pacientes com risco relativo ao longo da vida su-
magnética das mamas, melhorando a sensibilidade perior a 20% (calculado por modelos de cálculo de
do exame e a acurácia diagnóstica. Neste mesmo risco já validados). Algumas situações, entretanto,
raciocínio, a realização deste exame em pacientes não possuem evidência científica, mas são de modo
gestantes estaria contra-indicada, uma vez que a geral, condições onde a RM está também indicada
mama da mulher grávida já é naturalmente mais anualmente, em adição à mamografia. São elas: pa-
vascularizada, além de não conhecermos os efeitos cientes submetidas a radioterapia do tórax entre 10
do gadolínio para o feto. Outra limitação para rea- e 30 anos de idade (por linfomas, por exemplo) e
lização do exame em gestantes é a necessidade de pacientes com síndromes genéticas conhecidas que
manter decúbito ventral durante todo o tempo do sabidamente cursam com aumento do risco de de-
exame. senvolvimento de neoplasia mamária. Esse capítulo
INDICAÇÕES de rastreamento para pacientes com mutação ge-
O uso da ressonância magnética como prope- nética recebe uma atenção especial no NCCN 2016.
Segundo esse guideline, pacientes com mutação
BRCA 1 ou BRCA 2 e Síndorme de Li-Fraumeni, entre
25 e 29 anos devem fazer a ressonância anualmen-
te. Entre 30 e 75 anos além da ressonância devem
também fazer mamografia anualmente. Nas pacien-
tes acima de 75 o manejo deve ser individualizado.
Em pacientes com diagnóstico anterior de
neoplasia de mama com a mutação BRCA 1 ou BRCA
2 o screening do tecido mamário residual deve ser
realizado anualmente com RNM e MMG.
As pacientes com Síndrome de Cowden devem
fazer a mamografia e RNM anualmente, iniciando a
partir de 30-35 anos ou 5-10 anos antes do diag-
nostico do tumor de mama em seu familiar.
Além dessas síndromes mais comuns, NCCN
2016 recomenda RNM em mutações que cursam
com síndromes que apresentam mais de 20% de ris-
co de câncer de mama (ATM, CDH1, CHEK2, PALB2,
PTEN, STK11).
FIG 4: Desenho esquemático de tipos de curva de intensidade de sinal. Segundo o NCCN 2016 a ressonância magné-
Adaptado de Kuhl CK, Radiology, 1999.4(D) tica das mamas também está recomendada anual-
59
CAP. 05 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
60
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 05
61
CAP. 05 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
quelas onde há maior risco de multicentricidade e vidual, entre cirurgião e paciente, considerando as
bilateralidade, além de envolvimento neoplásico de particularidades de cada caso e seu contesto clí-
musculatura peitoral e parede torácica. Os autores nico-social.16(D) O estudo do tecido fibroglândular
que argumentam contra o uso no pré-operatório por ressonância magnética em pacientes com pró-
questionam a validade deste emprego, uma vez que teses é indicado quando há alguma dúvida ou dis-
ainda não foram publicados estudos prospectivos cordância em exames de rastreamento de câncer de
randomizados neste sentido. A literatura já coloca mama realizados em pacientes portadoras destes
alguns grupos como principais candidatos a este implantes. A ressonância inclui todo o parênquima
tipo de abordagem propedêutica, a saber: pacientes e a prótese, inclusive a parte posterior à prótese e
de alto risco com mamas mamograficamente den- zonas que se tornam cegas à mamografia pela pre-
sas (FIG 5A e 5B), aquelas em pré-operatório para sença da prótese.
RT intra-operatória, pacientes com discordância no Como contraindicações em realizar a resso-
tamanho tumoral/extensão da doença maior que 1 nância das mamas como propedêutica em Mastolo-
cm na avaliação mamográfica e ecográfica, pacien- gia, são consideradas algumas situações17(D). Como
tes com biópsia percutânea mostrando carcinoma rastreamento de câncer de mama, a ressonância
lobular (FIG 6)13(D),14(C). está contraindicada para pacientes com risco relati-
O que se impõe é a seleção de pacientes que vo menor que 15% ao longo da vida, calculado por
se beneficiariam do uso, e isso só será possível com métodos de cálculo de risco validados3(D). A resso-
discussões e estudos prospectivos analisando os nância magnética funciona em uma sala com cam-
grupos separadamente, com ou sem randomização, po magnético instalado. Assim, pacientes com mar-
ainda que a força de validação deste tipo de ensaio ca-passo cardíaco e outros dispositivos metálicos e
clínico seja menor. eletrônicos implantados (clip em aneurisma cere-
Um emprego bem estabelecido da ressonân- bral, implante coclear, objeto metálico ferromagné-
cia magnética das mamas é a avaliação de pacientes tico na córnea) não são candidatas a realização do
que foram submetidas a mamoplastia de aumento exame pela possibilidade de deslocamento destes
com colocação de próteses, seja para avaliação da clips e alteração do funcionamento destes disposi-
integridade das próteses15(C) ou para avaliação do tivos implantados. Em pacientes gestantes, da mes-
parênquima mamário como estudo complementar ma forma, os riscos suplantam os benefícios, uma
à mamografia e ecografia. A avaliação da integri- vez que não se sabe a ação do gadolínio no feto,
dade do implante pode ser feita mediante queixa as mamas estão muito vascularizadas pela ação
da paciente ou periodicamente em pacientes assin- hormonal e ainda pela impossibilidade do decú-
tomáticas. As sociedades de classe no Brasil ainda bito ventral em pacientes com gestação avançada.
não definiram um intervalo para o rastreamento de Pacientes com alergia conhecida ao gadolínio tam-
roturas assintomáticas. A Sociedade Americana de bém não devem fazer o exame contrastado. Cabe
Cirurgia Plástica orienta a realização de ressonân- ressaltar que essa alergia é identificada em número
cia magnética após 2 anos de inserção dos implan- pequeno de pacientes, variando em torno de 4% na
tes e depois a cada 3 anos. Sabe-se que o período literatura médica. Pacientes com insuficiência renal
médio de validade dos implantes é de 7 anos e a devem ser submetidos ao exame apenas se real-
ressonância magnética se coloca como o método mente imprescindível, uma vez que o gadolínio tem
mais sensível para identificação das roturas, princi- excreção renal e necessita de função renal preser-
palmente as intracapsulares (FIG 7 e 8). vada para seu uso. Pacientes claustrofóbicos têm
Entretanto, essa prática é questionada por ci- dificuldade de realização do exame pela necessi-
rurgiões no mundo todo, uma vez que não se es- dade de ser realizado dentro de uma sala fechada
tabeleceu ainda o risco de morbidade destas pe- e ainda, algumas vezes, com a entrada do paciente
quenas roturas confrontado com o custo de um dentro do aparelho. Essa característica da claustro-
screening destas pequenas alterações em pacientes fobia pode ser perpassada pela realização do exame
assintomáticas. A decisão passa, então, a ser indi- sob sedação do paciente. Por ultimo, a incompatibi-
62
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 05
Figura 7 - Imagem axial seletiva de silicone, implante de lúmen único, Figura 8 - Imagem sagital ponderada em T2, implante de lúmen único,
rotura intracapsular à esquerda - sinal do linguine rotura intracapsular - sinal do linguine
lidade do paciente com o aparelho, seja pelo peso, 2. ACR BI-RADS® ATLAS — BREAST MRI, 2013,
seja pelo diâmetro do tórax, ou por dificuldade de 125-143
manter o decúbito ventral ou ainda pela presença 3. Saslow D, Boetes C, Burke W et al American
de alguma agitação psicomotora, pode também ser Cancer Society Breast Cancer Advisory Group
um fator impeditivo da realização do exame. American Cancer Society Guidelines for Breast
Em última análise, a ressonância magnética Screening with MRI as an Adjunct to Mammo-
das mamas vem se consolidando como método pro- graphy CA Cancer J Clin 2007;57;75-89.
pedêutico importante na Mastologia, ressaltando a 4. Kuhl CK, Mielcareck P, Klaschik S et al. Dyna-
sua importância em cenários específicos, como dis- mic Breast MR Imaging: Signal Intensity Time
cutido neste texto. O papel do médico na seleção Course Data Radiology - April 1999, vol 211
de pacientes e indicação do exame é fundamental. number 1. pg 101-110
Para isso, conhecer características técnicas, suas in- 5. American College of Radiology Practice Gui-
dicações, contra-indicações e limitações do método delines 2004
se torna fundamental. 6. Pilewskie M, Morrow M, Applications for breast
magnetic resonance imaging Surg Oncol Clin
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63
CAP. 05 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
64
6
BIÓPSIAS AMBULATORIAIS:
PUNÇÃO ASPIRATIVA
POR AGULHA FINA, POR
AGULHA GROSSA E BIÓPSIA
ASSISTIDA A VÁCUO
Palavras Chave:
Tumores da mama, biópsia, diagnóstico.
Figura 1. Técnica de realização da punção aspirativa por agulha fina. Figura 2. Técnica de confecção do esfregaço citológico. Fonte: reproduzi-
Fonte: reproduzido de Barra (2003)6, ( Mesmo autor do capítulo). do de Barra (2003)6, ( Mesmo autor do capítulo).
66
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 06
solta-se o êmbolo para desfazer a pressão negati- Na abordagem da axila no tratamento do cân-
va. É importante que não haja diferença de pres- cer de mama, a PAAF guiada por ultrassom tem sido
são, quando se retira a agulha de dentro da lesão, utilizada no diagnóstico pré-operatório para o esta-
para evitar que o material aspirado vá para dentro diamento das pacientes. O ultrassom apresenta os
da seringa – o material deve manter-se dentro da melhores valores de acurácia na detecção de me-
agulha (Figura 1). Após retirar a agulha da mama, tástases em linfonodos axilares e tem a adicional
desconecta-se esta da seringa, enche-se a seringa vantagem de facilidade de obtenção de material ci-
de ar, reconecta- se então a agulha e expele-se o tológico com a utilização da PAAF para confirmação
conteúdo da luz da agulha sobre a lâmina de vidro. diagnóstica e planejamento terapêutico adequa-
Distribui-se o material celular sobre a lâmina por do9(A). Pacientes com suspeita de lesão B-IRADS 4c
meio de outra lâmina (Figura 2) e coloca-se a lâ- ou 5 na mamografia têm indicação de ultrassono-
mina em um frasco com etanol fixador a 95%, e o grafia da axila ipsilateral, seguida de PAAF dos nó-
material é encaminhado para análise citológica6(A). dulos suspeitos10(B).
A pressão negativa pode ser mantida por mão
livre ou podem ser usados dispositivos tipo pisto- PUNÇÃO POR AGULHA GROSSA (CORE BIOPSY)
la de Cameco e método de auto-vácuo. A aplicação
dos dispositivos não proporciona diferenças na O sistema de disparo automático Biopty-Cut®
acurácia do método7(B). foi utilizado em Mastologia pela primeira vez em
As principais desvantagens do uso da PAAF 1991 por Barreto e colaboradores, no Guy’s Hospi-
são a inabilidade de distinguir o câncer in situ do tal em Londres11(B). Estudos subsequentes avalia-
invasor (haja vista que a PAAF é um método citoló- ram a eficácia e a reprodutibilidade deste sistema
gico) e as dificuldades oriundas da menor experiên- de punção por agulha grosa (core biopsy) em lesões
cia do médico com o método e dificuldades na uni- mamárias, tanto em nódulos quanto nas microcalci-
formização da técnica entre os diversos centros. Em ficações, demonstrando que a biópsia de fragmento
grande parte dos protocolos de conduta dos servi- percutânea constitui uma alternativa eficaz na pro-
ços, não se aceita tratar uma paciente com câncer pedêutica diagnóstica das lesões mamárias12(B). A
sem a confirmação histopatológica prévia, e cada core biopsy pode ser guiada pela palpação ou por
vez mais tem se empregado diagnóstico histológi- imagem, o que incluiu o ultrassom, a mamografia
co pré- operatório com o objetivo de se planejar a (estereotaxia) ou a ressonância magnética. Dentre
terapêutica. Em metanálise recente, Yu e colabora- estes três métodos de imagem, utiliza-se o que
dores8(A) encontraram uma sensibilidade da PAAF confiavelmente melhor visualiza a lesão em cada
de 92,7% para o diagnóstico de carcinoma mamá- paciente, dando preferência, por motivos de custo,
rio e especificidade de 94,8%. Em geral, os estudos acessibilidade e complexidade, inicialmente ao ul-
mostram sensibilidade da PAAF variando de 68 a trassom, posteriormente à estereotaxia e, por fim, à
96,5% e especificidade quase sempre próxima de ressonância.
100%5(A). Embora esses estudos confirmem a acu- Após infiltração do anestésico local, uma pe-
rácia da PAAF, a utilidade desta técnica depende do quena incisão é feita na pele para a introdução da
contexto em que ela é empregada. Indiscutível que agulha da core biopsy (diâmetro da agulha varia de
a PAAF tem uma importância significativa como 1,6mm até 3,8mm). Para evitar pneumotórax, o tra-
método investigativo inicial, haja vista seu custo jeto da agulha deve ser paralelo à parede torácica.
e invasibilidade mínimos. Caso a PAAF seja utiliza- Deve-se escolher o caminho mais curto possível,
da como teste diagnóstico definitivo para emprego dando preferência a um trajeto que será removido
clínico, a experiência dos profissionais que a exe- ao se considerar um potencial futuro tratamento
cutam e analisam o material deve ser inquestioná- cirúrgico da lesão. Na realização do procedimen-
vel. Além disso, caso não haja concordância entre o to monitorizado por ecografia, todo o percurso da
exame clínico, mamográfico e citológico, a avalia- agulha é visibilizado pela monitorização ultras-
ção histológica torna-se essencial8(A). sonográfica até que a sua ponta encoste na lesão,
67
CAP. 06 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
68
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 06
a realização de exames mamográficos de rotina. lha da biópsia não é monitorada em tempo real – a
Neste caso, a paciente permanece sentada, vendo mesa de ressonância é trazida para fora do apare-
todo o procedimento, sendo mais comum, portan- lho e a agulha é posicionada; uma nova imagem é
to, a ocorrência de reação vagal ou movimentação obtida e o espécime é coletado caso a agulha esteja
da paciente, podendo determinar a alteração das na posição correta17(B).
coordenadas. O procedimento propriamente dito Através do material coletado na core biop-
consiste nas seguintes etapas: identifica-se a lesão, sy, é possível realização de imunohistoquímica
realiza-se o enquadramento da mesma na janela para definição de fatores prognósticos e prediti-
de compressão do aparelho de forma que ela possa vos de resposta terapêutica no câncer de mama. O
ser vista nas duas visões estereotáxicas (+15 e -15 diagnóstico de carcinomas de mama por core biopsy
graus), cálculo pelo aparelho para posicionamento tem uma elevada reprodutibilidade, quer em ter-
da agulha, seguido de controle mamográfico pré e mos histológicos, quer em termos moleculares, o
pós-disparo para confirmar o bom posicionamento que permite o estabelecimento de uma estratégia
da mesma. Em se tratando de microcalcificações, terapêutica segura e torna dispensável, na maioria
os fragmentos deverão também ser radiografados dos casos, a repetição do estudo molecular nas pe-
para confirmação de sua exérese15(A) (Figura 5). ças cirúrgicas18(B).
A core biopsy guiada por ressonância magné- As indicações primordiais para a core biopsy
tica está indicada para casos de lesões não palpá- estão nas lesões mamárias suspeitas ou fortemente
veis, visualizadas apenas na ressonância. Em geral, sugestivas de malignidade, palpáveis ou não palpá-
ao concentrar-se nos achados da ressonância, o ul- veis. Nas lesões com características de benignidade,
trassonografista visualiza mais de 80% dessas le- a core biopsy pode ser indicada para planejamen-
sões em um segundo ultrassom (“second-look”)16(B) to do seguimento destas lesões. Lucena e colabo-
e, nesses casos, prossegue-se com biópsia guiada radores analisou comparativamente o emprego da
por ultrassom. A biópsia guiada por ressonância é core biopsy na investigação de nódulos benignos e
um método caro e de baixa disponibilidade. A agu- malignos das mamas, demonstrando uma falha sig-
Métodos Propedêuticos
Acuidade
BF PAAF PAAF BF versus
(%)
versus BF versus PAAF + BF
PAAF + BF
Nota: BF = biópsia de fragmento, E = especificidade, FN = falso-negativo, MI = material ,insuficiente, (p) = p-valor, PAAF = punção aspirativa por agu-
lha fina, Se = sensibilidade, Susp = lesões suspeitas de malignidade, Tx = taxa, VPN = valor preditivo negativo, VPP= valor preditivo positivo. Tabela
adaptada, com autorização, de Barra et al (2008)20, onde PAAF e core biopsy guiadas por ultrassom foram realizadas em 264 mulheres com lesões
suspeitas, sendo o resultado da biópsia reportado em 4 categorias: lesão maligna, benigna, suspeita de malignidade ou com material insuficiente.
Tabela 1: Resultados dos testes de validade para comparação entre os métodos de PAAF, biópsia de fragmento (core biopsy), e ambos associados em
paralelo (PAAF + biópsia de fragmento) considerando material colhido de lesões suspeitas de 264 pacientes
69
CAP. 06 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
nificativamente maior na captação de tecido com ratória, com o auxílio de um sistema de vácuo con-
representação tumoral na biópsia de lesões de na- tínuo. A cânula somente é retirada após o término
tureza benigna, tanto em tumores maiores que 2 cm do procedimento com a confirmação por método
de diâmetro, quanto nos tumores menores que 2 cm. de imagem da retirada da lesão-alvo. Se a lesão for
Isto pode ser justificado pela maior mobilidade das suspeita e tiver sido retirada completamente, pode-
lesões benignas e também pela maior quantidade -se inserir um clipe metálico, para posterior orien-
de componente fibroso, particularmente observado tação de marcação pré-operatória da área a ser ex-
nos fibroadenomas, dificultando a penetração da cisada22(B). Nota- se que trata-se de procedimento
agulha de biópsia no interior dos nódulos após o similar ao descrito na core biopsy, com a diferença
disparo19(B). Estes dados reforçam a teoria de que de que é assistido a vácuo.
as pacientes portadoras de lesões provavelmente Já em 1996, Burbank, Parker e Fogarty publi-
benignas, seja pela avaliação mamográfica ou caram seus primeiros resultados, demonstrando a
no estudo ultrassonográfico, se beneficiariam mais eficácia do método. A mamotomia coletou o dobro
com a realização de uma PAAF guiada por ultras- de material em comparação com a core biopsy (3,43
som do que com o uso da core biopsy. mg x 17,2 mg; P < 0,0002). Além disso, a mamoto-
Barra e colaboradores desenvolveu um es- mia foi capaz de retirar completamente a lesão em
tudo comparando a PAAF e a core biopsy por meio 48,1% dos casos23(B).
de uma avaliação prospectiva dos dois métodos de Este procedimento ficou inicialmente conhe-
uma maneira homogênea, ou seja, os dois procedi- cido pelo nome de mamotomia, pois o primeiro
mentos foram realizados simultaneamente em le- dispositivo recebeu o nome de Mammotome®, que
sões de 264 pacientes. Todas as biópsias foram rea- usa agulhas de 8 a 11G. Atualmente temos outros
lizadas guiadas por ultrassom, sendo a maioria das aparelhos no mercado, tais como: Vacora®, ATEC
lesões palpáveis (93%). A core biopsy apresentou Sapphire®, EnCor Enspire®, We Took® 24(D). Tanto
resultados estatisticamente superiores de sensibi- os termos mamotomia, quanto core biopsy assistida
lidade e especificidade, com a PAAF apresentando a vácuo, ou, simplesmente, biópsia assistida a vá-
taxa de material insuficiente estatisticamente supe- cuo, referem-se a tal procedimento.
riores à core biopsy. A associação dos dois métodos Estudos comparando os diversos tipos de dis-
demonstrou resultados estatisticamente superiores positivos e calibres das agulhas usados para reali-
ao emprego isolado de cada um deles, mostrando zação do procedimento não encontraram diferen-
um aumento da sensibilidade e diminuição na taxa ça estatisticamente significativa na acurácia entre
de material insuficiente, sem diminuir a especifici- os dispositivos, mas a quantidade de material e as
dade dos métodos associados (Tabela 1)20(B). complicações variaram de acordo com o calibre da
agulha. Assim é que Mariscotti e colaboradores não
BIÓPSIA ASSISTIDA A VÁCUO encontraram diferença, em termos de diagnóstico,
O dispositivo para biópsia assistida a vácuo comparando o dispositivo Mammotome® (usando
foi desenvolvido em 1995, pelo radiologista Fred agulha de calibre 11G) com o dispositivo EnCor®
Burbank e pelo engenheiro Mark Retchard. Trata-se (usando agulha de calibre 10G)25(A).
de um procedimento realizado guiado por ultras- Em outro estudo, em que foi comparado os
som, mamografia ou ressonância nuclear magné- dispositivos Mammotome® (com agulhas de 8 e
tica. Pode ser diagnóstico e/ou terapêutico (lesões 11G) e ATEC® (com agulhas de 9 e 12G), encontrou-
de até 1,5cm podem ser ressecadas completamen- -se diferença significante em hemorragia (41,9% x
te, embora tenha autores que relatam retiradas de 8,4%, p < 0,001) e formação de hematoma (35,5% x
lesões de até 3,0cm)21(B). Após anestesia local, in- 16,7%, p = 0,029) quando comparados os dois gru-
troduz-se uma cânula, cujo calibre pode variar de pos do Mammotome® (8 e 11G). Esta diferença não
7 a 12 gauge (G), dentro ou próximo a lesão, sendo foi observada quando comparado os dois grupos do
então, realizado um único disparo para a coleta do dispositivo ATEC® (9 e 12G): hemorragia => 26,9%
material desejado. Esta se faz por uma lâmina gi- x 29,7%, p= 0,799; hematoma => 42,3% x 43,2%,
70
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 06
p= 0,596. Quando comparado o dispositivo Mam- cirúrgica não deve ser utilizada inicialmente, a não
motome® x ATEC®, observa-se diferença signifi- ser que a biópsia percutânea (associada ou não a
cante para o primeiro dispositivo, naquelas que fo- algum método de imagem) não seja viável ou es-
ram usadas agulhas de menor calibre, mas isto não teja absolutamente indisponível1,2(A),30(B). A deci-
ocorreu quando usado agulhas de maior calibre. Em são entre a utilização de PAAF ou core biopsy como
relação a outra complicação avaliada, a formação método inicial varia entre as diferentes instituições.
de cicatriz no parênquima, não houve diferença sig- Em geral, a PAAF é o método de escolha para lesões
nificativa entre os 4 grupos26(B). suspeitas de benignidade. No caso de lesões sus-
Em relação a segurança e complicações do mé- peitas de malignidade, a PAAF é o método inicial
todo para tumores benignos da mama em compara- apenas em instituições onde a experiência do mé-
ção com a biópsia excisional, uma meta-análise de 15 dico e do citologista é indiscutível. Instituições com
estudos, que envolveu 5256 pacientes, não encontrou equipe menos experiente devem dar preferência à
diferença no tamanho do tumor, doença residual, he- core biopsy como método de avaliação inicial para
matoma e equimose pós-operatória, mas a mamotomia essas lesões cujas características clínicas e mamo-
obteve resultados estatisticamente melhores, em rela- gráficas apontam para a malignidade10(B).
ção ao tamanho da incisão, perda de sangue intra- ope- A concordância entre os resultados da biópsia
ratória, tempo do procedimento, infecção e deformida- e a clínica/imagem é fundamental para o planeja-
de da mama27(A). mento terapêutico e a discordância leva à necessi-
Para avaliação do risco de subestimação de ma- dade de reforçar a investigação diagnóstica. Caso
lignidade, reportamos a um estudo mono institucional, o resultado de uma PAAF seja discordante, deve-se
que avaliou o resultado de 4326 mamotomias realiza- prosseguir com uma core biopsy. Caso o resultado
das, das quais 134 tiveram o diagnóstico de hiperplasia de uma core biopsy seja discordante, deve-se pros-
ductal atípica (HDA). Todas estas 134 pacientes foram seguir com uma nova core biopsy, mamotomia ou
submetidas a ressecção aberta das lesões, sendo en- com a biópsia cirúrgica.
contrado doença invasiva em 12 pacientes (9%)28(B). Quando os resultados são concordantes, há
Outra utilidade da biópsia aspirativa a vácuo foi segurança no diagnóstico e a partir daí a melhor
avaliada por um pequeno estudo, com 70 pacientes terapêutica para cada quadro nosológico específico
com abcesso mamário (40 lactantes e 30 não lactan- pode ser instituída10,30,31(B).
tes), não- responsivas a antibioticoterapia e/ou aspira- A mamotomia (core biopsy assistida a vácuo) é um
ção com agulha. Estas pacientes foram submetidas a método relativamente novo e sua indicação na prope-
mamotomia e continuação de antibioticoterapia. Todas dêutica diagnóstica de lesões mamárias ainda não está
elas evoluíram satisfatoriamente, sem necessidade de bem definida. Deve-se lembrar que a mamotomia co-
drenagem aberta29(B). leta um volume de material maior que a core biopsy, o
Em resumo, a biópsia aspirativa a vácuo, inde- que talvez seja interessante em algumas pacientes em
pendente do modelo de dispositivo usado, é um proce- específico. Uma clara indicação de mamotomia este-
dimento diagnóstico/terapêutico seguro e eficaz, tanto reotáxica é a biópsia de microcalcificações agrupadas,
em doenças benignas como malignas. O custo ainda é mas, caso essas calcificações estejam associadas com
um fator limitante em nosso país, embora fique menos uma massa que é visível ao ultrassom, uma core biopsy
oneroso do que um procedimento aberto. Existe ainda ecoguiada pode ser realizada com posterior confirma-
a subestimação diagnóstica em relação as hiperplasias ção radiológica das calcificações no espécime21(B).
atípicas e carcinomas “in situ”, mas em menor monta em
relação a core biopsy, pois a amostragem retirada é maior. CUIDADOS PÓS-PROCEDIMENTO
71
CAP. 06 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
72
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 06
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73
CAP. 06 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
74
7
LOCALIZAÇÃO DE
LESÕES NÃO PALPÁVEIS
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Tecnécio, Radioisótopos de Iodo, Medicina Nuclear
76
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 07
com o adequado posicionamento do mesmo, após a com alteração de sua posição, transfixação do guia
inserção, visualizado em incidências crânio caudal e metálico durante a cirurgia, má introdução e fratu-
perfil verdadeiro.9(B) A marcação orientada por Res- ra do fio pós inserção.11(B) Esse procedimento tem
sonância Nuclear Magnética de mamas é realizada como desvantagens o desconforto para o paciente
através de bobina apropriada, com abertura lateral e pior resultado estético em comparação a outros
que permite a introdução do fio (este de titânio). tipos de marcação.12(B)
Podem ser abordados nódulos e áreas de captação Cerca de 96% a 99% das marcações com fio
focal suspeitas.10(B) são adequadas, com a lesão sendo correta e ade-
A parte mais distal do fio metálico termina quadamente marcada.12(B),13(A) A incidência de reti-
em forma de arpão. É esta extremidade que é po- rada incompleta da lesão ou presença de margens
sicionada próximo ou dentro da lesão de interesse. comprometidas varia de acordo com os estudos de
A distância entre a entrada do fio na pele e a lesão 12% a 50%.11(B),14(A) Figuras 1 e 2.
deve ser a menor possível. Essa técnica permite uma A falha do método pode estar ligada a fa-
localização mais fácil da lesão, diminuindo tempo tores associados à lesão tais como lesões muito
cirúrgico e menor quantidade de tecido é retirado pequenas, achado isolado de microcalcificações, a
durante a exérese da lesão índice. As complicações elementos relacionados à técnica de inserção do
mais frequentes desta técnica são: migração do fio fio dos quais se destacam a inserção do fio sem
orientação adequada de imagem, posicionamento
da ponta do fio metálico muito distante da área de
interesse e lesões localizadas a mais de três cen-
tímetros de profundidade da pele. Devem ser con-
siderados os fatores relacionados ao ato cirúrgico:
experiência da equipe cirúrgica e uso de anestesia
local, haja vista que o deslocamento da agulha du-
rante a cirurgia pode ser desconfortável para a pa-
ciente.15(B) Ainda assim, é o método mais utilizado
nos grandes centros, considerado, ainda hoje, pa-
drão-ouro.
77
CAP. 07 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
78
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 07
pelo foco marcado permitindo ao cirurgião a identi- estatisticamente significativa em relação ao volume e
ficação do local previamente marcado e a realização peso das peças.23(A)
de uma incisão mais estética visando à abordagem Apesar da maioria dos estudos, que com-
da lesão a ser ressecada – Figura 6. Ao final da exci- pararam o uso do ROLL ao fio metálico, terem en-
são, o cirurgião pode confirmar a exérese completa contrado resultados mais favoráveis para o ROLL,
da lesão utilizando o gama probe no leito tumoral, estudo randomizado multicêntrico não encontrou
identificando nesta região uma radioatividade resi- diferenças estatisticamente significativas em rela-
dual mínima ou ausente. Com o mesmo gama probe ção a taxa de sucesso na excisão completa do tu-
é checada a presença de sinal alto de captação na mor, necessidade de reabordagem, duração total
peça cirúrgica ressecada, confirmando novamente a das cirurgias, dificuldade técnica entre os métodos
ressecção da lesão índice. Figuras 7, 8, 9, 10, 11 e 12. ou diferença em relação aos resultados estéticos.
A peça cirúrgica pode, ainda, ser radiografa- Além disso, este mesmo estudo relatou excisão de
da, confirmando, também, radiologicamente, a com- peças cirúrgicas maiores no grupo que utilizou o
pleta ressecção da lesão. Figura 13. ROLL como método de marcação pré-cirúrgica con-
Quando do diagnóstico de lesões invasivas, cluindo portanto que o ROLL não é superior ao fio
o status axilar deve ser avaliado através de biópsia metálico.14(A).
do linfonodo sentinela. A associação do ROLL com
a biópsia do linfonodo sentinela deu origem ao
SNOLL (Sentinel node and occult lesion location),
técnica também descrita pelo Instituto Europeu de
Oncologia em 1998.16(A)
Diversos trabalhos comparam a marcação
pré-cirúrgica com fio metálico ao ROLL. Radiologis-
tas intervencionistas relatam maior facilidade para
realizar o ROLL em comparação à inserção do fio
metálico, e cirurgiões tem também relatado maior
facilidade para localização da lesão quando se uti-
liza o gama probe.12(B),13(A),21(B),22(A) Quanto à taxa
de sucesso na identificação e exérese da lesão e ao
tempo de duração total das cirurgias, os dois méto-
dos apresentam resultados semelhantes na maioria Figura 7: Projeção cutânea da lesão..Fonte: arquivo pessoal do autor.
dos estudos 12(B),13(A), entretanto, Sajid e cols., em
uma metanálise, encontraram resultados mais fa-
voráveis com o ROLL em relação ao tempo total das
cirurgias, menor neste último.23(A)
O uso do ROLL vem também sendo associado a
maior facilidade técnica, menor tempo para localização
da lesão 12(B),13(A),22(A), menor taxa de margens com-
prometidas, lesão mais central na peça cirúrgica, menor
taxa de novas abordagens com índices de ressecção
correta que chegam a 99,5% 12(B),17(B),21(B),22(A),23(A),
menor dor no pós operatório e melhores resultados
estéticos.13(A) As peças cirúrgicas também foram ana-
lisadas e comparadas em relação ao seu tamanho e
os resultados divergem entre os estudos, uns relatam
Figura 8:Gama probe identificando projeção cutânea do sítio de injeção:
peças maiores quando utiliza-se o ROLL 12(B),14(A), ou- a) captação, b) background.Fonte: arquivo pessoal do autor
tros menores 20(A) e outros não encontraram diferença
79
CAP. 07 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 9:Dissecção Radioguiada. Fonte: arquivo pessoal do autor. Figura 11:Varredura da peça cirúrgica ex vivo.Fonte: arquivo pessoal
do autor.
Figura 10: Localização da lesão com gama probe.Fonte: arquivo pessoal Figura 12: Leito cirúrgico silencioso. Fonte: arquivo pessoal do au-
do autor. tor.
80
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 07
ção e exérese do linfonodo sentinela em 97% dos ca- marcadas com 125I. As sementes de titânio são tra-
sos.26-27(B) Já a injeção em dois sítios (intralesional e dicionalmente utilizadas para realização de braqui-
subdérmica) de nanocoloide-99mTc permitiu identifi- terapia, para tratamento de carcinoma de próstata
cação de 100% das lesões subclínicas, e localização e – Figura 14. Combinam excelente tolerância tecidu-
remoção de 97.2% do linfonodo sentinela.28(A) al com baixa dose de absorção.37(B),38(A) O 125I tem
De Cicco e cols.29(A), após resultados iniciais meia vida de 60 dias, o que fornece flexibilidade no
de estudos no Instituto Europeu de Oncologia de Mi- agendamento das cirurgias, inserção durante qui-
lão29-30 (A), avaliaram três grupos de pacientes, utili- mioterapia neoadjuvante em leito tumoral residual,
zando-se três metodologias diferentes, visando à re- e permite, também, realizar, de forma concomitan-
alização de ROLL e SNOLL. O grupo I era composto te, no mesmo ato cirúrgico, a pesquisa de linfonodo
de pacientes onde se injetava MAA-99mTc intratumoral sentinela com injeção de Fitato-99mTc, Nanocoloi-
e nanocoloide-99mTc peritumoral, o grupo II era com- de-99mTc ou Dextran-99mTc. Basta apenas modificar
posto por pacientes onde se injetava MAA-99mTc intra- a especificação no gama probe durante a cirurgia
tumoral e nanocolide-99mTc subdérmico e o grupo III, de 125I para 99mTc e vice-versa. O probe possui chave
era composto por pacientes onde se injetava somente específica para isso.
nanocoloide-99mTc intralesional. A localização das le- A metodologia de marcação é semelhante
sões subclínicas foi realizada em 94,7% dos casos. A àquela realizada para introdução de fios metálicos.
identificação do linfonodo sentinela foi possível em Através de agulha de 18G, a semente é inserida na
80,6% das pacientes do grupo I, 98,8% das pacien- topografia da lesão subclínica em investigação sob
tes do grupo II e em 88,6% do grupo III. Dessa forma, orientação de exames de imagem37(B) – Figura 15. A
tais pesquisadores relatam que a melhor técnica para
pesquisa de linfonodo sentinela e realização de ROLL,
simultaneamente, é aquela onde se injeta MAA-99mTc
intratumoral e nanocoloide-Tc99m subdérmico.29(A)
Em estudos desenvolvidos por Barros e cols.
31-32
(B) e Piato e cols.33(B) com uso do Dextran-99mTc, as
taxas de identificação de linfonodos sentinela foram
da ordem de 93 a 97,4%, com 100% de exérese das
lesões subclínicas estudadas, com margens livres de
doença residual. Lavoué e cols.34(B) utilizaram injeção
peritumoral de nanocoloide-99mTc, obtendo resultados
Figura 14:Sementes de Titânio.Fonte: foto cedida: arquivo pessoal Profa.
para identificação e exérese de 100% das lesões im- Lea Miriam Barbosa da Fonseca
palpáveis, além de identificação de linfonodo senti-
nela da ordem de 90%. Sarlos e cols.35(B) utilizaram
MAA-99mTc intratumoral para realização de ROLL e na-
nocoloide-99mTc subdérmico para a pesquisa de linfo-
nodo sentinela. Obtiveram identificação de 98,3% das
lesões subclínicas e 98,6% dos linfonodos sentinela.
Já Strnad e cols.36(B), com injeção de coloide-99mTc in-
tratumoral e subdérmica obtiveram níveis de identifi-
cação e exérese das lesões estudadas e dos linfono-
dos sentinela em 100% das pacientes.
81
CAP. 07 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização cada vez maior do rastre-
amento mamográfico para câncer de mama, e com
Figura 17: Dissecção orientada por gama probe. Fonte: foto cedida:
a melhoria na qualidade dos exames de imagem arquivo pessoal Profa. Lea Miriam Barbosa da Fonseca
mamária, a incidência de lesões mamárias subclí-
nicas da mama encontra-se em ascensão. Tal fato
se traduz na necessidade do Mastologista dominar
amplamente técnicas cirúrgicas que permitam re-
moção segura e completa da lesão impalpável, pre-
servando o máximo de tecido sadio possível.
O fio metálico utilizado há algumas décadas
para marcação pré-operatória está associado a pos-
síveis intercorrências que aumentam a morbidade
cirúrgica. Destacam-se a inserção do fio fora do sí-
tio da lesão, além de migração e fratura do mesmo
durante seu posicionamento ou no ato cirúrgico. A
técnica do ROLL, em combinação ou não com bióp-
Figura 18:Peça Cirúrgica. Fonte: foto cedida: arquivo pessoal Profa. Lea
sia de linfonodo sentinela, foi desenvolvida visando Miriam Barbosa da Fonseca
maximizar a eficácia da localização pré-operatória
das lesões, mantendo adequada margem cirúrgica ridade desta técnica em relação ao fio metálico. A
de segurança ao redor da lesão impalpável resse- técnica deixa mais à vontade o cirurgião para a es-
cada. Inúmeros trabalhos na literatura, inclusive colha da área de incisão, com menor dissecção e
os citados neste capítulo, demonstram a superio- exérese de parênquima mamário sadio. A lesão a
82
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 07
83
CAP. 07 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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84
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 07
85
8
ESTADIAMENTO CLÍNICO
DE METÁSTASES ANTES DO
TRATAMENTO PRIMÁRIO
Palavras Chave:
Câncer de mama, diagnóstico, estadiamento
88
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 08
estágio I [0,5%, 95% intervalo de confiança (IC) de gicas sugestivas de doença metastática devem ser
0,1-0,9] e as mais altas nos pacientes EC:III (8,3%, sempre confirmadas histologicamente, uma vez que
95% CI 6,7-9,9) 5,6,9 . a taxa de verdadeiro-positivo é muito baixa. Muitos
Os estudos que avaliam o papel da Ultrasso- dos testes sugeridos no estadiamento servem pri-
nografia de abdômen na detecção de metástases mariamente como parâmetro de comparação para
hepáticas mostraram uma prevalência ainda menor seguimento futuro. Exceção a essas recomendações
do que a observada nos estudos de Cintilografia ós- é feita no caso de pacientes com dez ou mais lin-
sea: 0% para a fase I, 0,4% para a fase II (IC 95% fonodos axilares positivos. Elas devem ser avalia-
0-0,8), 2% para a fase III (95% IC 0,4-3,6)4,8. das com TC de tórax, abdome e pelve e cintilografia
Os estudos sobre Raio-X do Tórax examinados óssea, pois doença metastática pode ser detectada
na revisão relataram resultados semelhantes (0,1%, por esses métodos em cerca de 20% dos casos5-7.
95% intervalo de confiança (IC) de 0,1-0,9) e por O exame por PET-TC parece ser útil em pa-
fases: CI 0-0,3 para a fase I; 0,2%, IC 95% 0-0,4 da cientes em estádio II de risco alto e no estádio III,
fase II; 1,7%, IC 95% 0,8- 2,6 para a fase III). Além mas tem valor muito limitado naquelas em está-
disso, Chen et al., em um grande estudo (n = 1493), dios precoces, cuja taxa de verdadeiro-positivo é
concebido para identificar pacientes com câncer de quase nula e a de falso-positivo é da ordem de 5
mama precoce que foram classificados em estágio a 10%. Por exemplo, em estudo prospectivo espa-
IV por um Raio-X, demonstraram uma prevalência nhol incluindo 60 pacientes com T > 3 cm, o exame
de metástases pulmonares de 0,099% em pacientes por PET-TC identificou metástases à distância em
assintomáticos4,8. 13% dela. Em outra série prospectiva, que incluiu
Em 2002. Ravaioli et al. analisou dados sobre 131 mulheres em estádios IIA, IIB e IIIA, o exame
os procedimentos de estadiamento em 1218 doen- mostrou metástases em somente 13% daquelas
tes com câncer da mama. Uma prevalência geral de em estádio clínico T3N0, T2N1 ou T3N1 quando
1,46% foi relatada quando os resultados de Cinti- comparado com estadiamento convencional. Em
lografia óssea, ultrassom abdominal e RX de tórax pacientes com doença N2, entretanto, PET-TC levou
foram analisados em conjunto em pacientes com à modificação do estadiamento em 56% dos 18 ca-
características de tumor de baixo risco (Tumores sos avaliados. Em uma série retrospectiva com 70
estadiados na patologia de pT1 a T3 e um núme- pacientes em estádios IIB e III em que esse exa-
ro de linfonodos positivos menor ou igual a três). me foi comparado com estadiamento convencional
Por outro lado, em doentes que pertencem ao gru- (radiografia de tórax, US de abdome e cintilografia
po de alto risco (Tumores estadiados na patologia óssea), PET-TC demonstrou metástases à distância
pT4 ou um número de linfonodos positivos> 3 ou em 10% delas15. O Memorial Sloan Kettering Cancer
com linfonodos fusionados pN2), a prevalência foi Center reportou sua experiência com PET-TC em
de 10,68% . 134 pacientes assintomáticas e com idade inferior
Os autores concluíram que novas recomenda- a 40 anos em estádios I a IIIC. O exame identifi-
ções para o estadiamento do câncer de mama deva cou metástases à distância em 17% das mulheres
ser formulada, sugerindo o uso de Cintilografia ós- em estádio clínico IIB, 31% para estádio clínico IIIA
sea, ultrasom abdominal e RX de tórax apenas em e 50% para estádio clínico IIIC. Não há indicação
pacientes com um alto risco de metástases5. para realização de CEA e CA 15-3 no estadiamen-
Em uma revisão sistemática da literatura, a to. Deve-se ressaltar, mais uma vez, que todas as
taxa de detecção de metástases em pacientes em suspeitas de metástases em pacientes com estagio
estádio I foi de 0,5% para cintilografia óssea, 0% inicial de câncer de mama devem ser biopsiadas.
para US de abdome e 0,1% para radiografia de tórax. O PET-TC também revelou uma leve superioridade
Em pacientes em estádio II, a taxa de detecção foi para o estadiamento das pacientes com câncer de
de 2,4, 0,4 e 0,2% respectivamente e, naquelas em mama inflamatório5,12-16.
estádio III, foi de 8,3, 2,0 e 1,7%, também respecti- Conclui-se que o estadiamento clínico do
vamente. Assim, por serem raras alterações radioló- câncer da mama é um componente importante do
89
CAP. 08 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
90
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 08
91
MANEJO DAS DOENÇAS BENIGNAS
DA MAMA
9
TUMORES BENIGNOS
Palavras Chave:
Neoplasia; benigno, diagnóstico, tratamento
96
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 09
camadas únicas ou múltiplas de células (fibroade- mal, que é abundante nesta idade8. Em faixas etá-
noma pericanalicular). Em outras áreas, o estroma rias mais elevadas, quando se indica a mamografia,
de tecido conjuntivo parece haver sofrido prolifera- observa-se imagem nodular circunscrita, ovalada, de
ção mais ativa com compressão dos espaços glan- média densidade e eventualmente com calcificações
dulares, fazendo com que o lúmen glandular esteja grosseiras, com aspecto de “pipoca”, aspecto que tipi-
colapsado em forma de frestas irregulares e os ele- fica o achado mamográfico benigno10.
mentos epiteliais surjam como estreitas faixas de A efetivação do tríplice diagnóstico (clínica,
epitélio dentro do estroma fibroso (fibroadenoma imagem e citologia)7 tem sensibilidade de 99,6%,
intracanalicular)5,7,8. com chance de falso negativo menor que 1%, que
Além da forma clássica, o fibroadenoma pode se aumenta em mulheres com mais de 35 anos. A pun-
apresentar, mais raramente, nas formas juvenil, gigan- ção aspirativa com agulha fina é método diagnóstico
te, complexa e extramamária (localizações na bexiga, importante, pois trata-se de uma das poucas lesões
próstata, braço e pálpebra já foram descritos)5,10 . benignas da mama que está associada a diagnósti-
O diagnóstico é essencialmente clínico. Apre- co citológico específico. Observam-se nos esfregaços
senta-se como tumor único ou múltiplo, bem de- grupos celulares epiteliais em dedo de luva, forman-
limitado, móvel, não fixo ao tecido adjacente, às do agrupamentos arborescentes e numerosos núcle-
vezes lobulado, de crescimento lento, com maior os desnudos, muitas células ductais coesas em mo-
ocorrência no quadrante súpero-lateral5,10. Em ge- nocamadas e fragmentos de células estromais5,7,10.
ral é indolor, exceto durante a gravidez e lactação, Este procedimento é especialmente indicada em fai-
condições que podem estimular seu crescimento xas etárias mais elevadas, para diagnósticos diferen-
rápido e produzir dor por infarto7. A consistência ciais, ou quando se adota conduta expectante.
é fibroelástica, mas, nas pacientes de maior faixa A indicação cirúrgica é baseada em fatores
etária, pode haver deposição de calcificação distró- como: idade da paciente, dimensões do nódulo, au-
fica no nódulo (“calcificação em pipoca”), e o nódulo mento progressivo durante conduta expectante, de-
passa a ter consistência endurecida10. sejo da paciente. Procura-se sempre a abordagem
Quando o aspecto palpatório não é típico, re- das lesões por incisões estéticas segundo as linhas
corre-se à ultra-sonografia, sendo o achado clássico de força da mama, dando-se preferência às periareo-
a presença de margens bem definidas na imagem lares ou no sulco inframamário. Quando os nódulos
nodular hipoecôica e com maior eixo paralelo à localizarem-se longe da aréola e se utilizar anestesia
pele8. Pode ocorrer reforço posterior e sombras la- local, é melhor praticar incisão circumareolar sobre o
terais, características sugestivas de benignidade10. nódulo, evitando tunelizações, que, além de produzi-
Por incidirem em mulheres jovens, a mamogra- rem dor, podem provocar hematomas 10.
fia não está indicada, pois o fibroadenoma apresenta Quando indicado o tratamento conservador, o
a mesma textura radiológica do tecido mamário nor- seguimento pode ser precedido pela punção aspira-
97
CAP. 09 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
tiva com agulha fina e é realizado em intervalos de te por apresentar informações de arquitetura extra
6 meses por 2 anos com ultrassonografia simples. proporcionada pela histologia em comparação com
Após este período, e mantendo-se estabilidade da a citologia9. Além disso, pode diferenciar o tumor
lesão, preconiza-se a conduta expectante anual, in- filóides do carcinoma, mas, com freqüência, não dis-
dependente da faixa etária8. crimina a variedade benigna da maligna, sendo ne-
cessária a avaliação anátomo-patológica de todo o
TUMOR FILOIDES tumor durante a exérese cirúrgica3,10. O diagnóstico
O tumor filoides ou cystosarcoma phyllodes é diferencial principal é com o fibroadenoma juvenil,
um tipo de massa mamária rara, correspondendo a que também atinge grandes dimensões, mas apre-
menos de 2% dos tumores fibroepiteliais da mama, senta consistência fibroelástica e incide, em geral,
sendo mais comum após os 40 anos5. Na maioria na adolescência10.
das vezes, apresenta-se sob a forma benigna, pos- O tratamento cirúrgico consiste na ressecção
suindo alta tendência de recidiva local, cerca de 20- local da lesão com retirada de 1 a 2 cm de tecido
46% dos casos3,5, podendo sofrer degeneração ma- mamário peritumoral macroscopicamente normal,
ligna sarcomatosa. O aparecimento bilateral é raro, para garantir margens cirúrgicas livres e diminuir
mas pode ocorrer. a taxa de recorrência7. Certamente, nos tumores
Ao contrário de carcinoma da mama, os tumo- muito volumosos, que comprometem toda a glân-
res filoides começam fora dos ductos e lóbulos, no dula mamária, pratica-se a mastectomia total ou a
tecido conjuntivo da mama, chamado estroma, que adenomastectomia, e geralmente com reconstru-
inclui o tecido adiposo e ligamentos que cercam os ção plástica imediata9. A linfadenectomia axilar é
ductos, lóbulos, e os vasos sanguíneos e linfáticos9. desnecessária, uma vez que, quando a forma histo-
Semelhante aos fibroadenomas, histologicamen- lógica for maligna, a disseminação faz-se por via
te é composto por elementos epiteliais e estroma hematogênica10.
de tecido conectivo, onde a característica predomi-
nante é a celularidade (TAN, 2016,3. O epitélio pode HAMARTOMA
ser hiperplásico, com ou sem atipias. Para definição Também chamados de fibroadenolipomas são
de benignidade ou malignidade, consideram-se o massas benignas que contém tecido mamário nor-
predomínio do crescimento estromal a contagem mal, mas com seus componentes gorduroso e fibro-
mitótica, atipias celulares e comprometimento das glandular distribuídos de modo desorganizado6,7.
margens7,10. São usualmente unilaterais e macios à palpação3.
Tipicamente, sua apresentação clínica é de Ocorre em mulheres entre os 40 a 55 anos de idade,
uma lesão palpável, indolor de crescimento rápido porém sua incidência é rara.
e com capacidade de atingir grandes volumes em O padrão histólogico já citado como desorga-
pouco tempo, podendo ainda causar abaulamentos, nização entre componente gorduroso e fibroglan-
retração mamilar e ulcerações, não necessariamen- dular, é envolto por um pseudocápsula (Figura 2).
te tais características significando malignidade5. A maioria dos hamartomas é diagnosticada
O diagnóstico é clínico e a mamografia é ines- pela mamografia. Correspondem a nódulos bem de-
pecífica, assemelhando-se a de um fibroadenoma. limitados, circundados por um halo radiotranspa-
Na ultrassonografia há um padrão elástico específi- rente, de dimensões variáveis, com densidade mis-
co (sinal do anel), onde o centro encontra-se elásti- ta, apresentando áreas com densidade idêntica ao
co e os limites exteriores inelásticos3. A punção as- tecido fibroglandular alternando com áreas de te-
pirativa com agulha apresenta baixo valor preditivo, cido adiposo6. Se os aspectos forem característicos
provavelmente pelo fato de o tumor ser bastante na mamografia, não são necessários outros estudos.
volumoso e apresentar com freqüência, em seu in- Na ultrassonografia, pode corresponder a nó-
terior, áreas de infarto hemorrágico, o que dificulta dulo hipoecogênico, heterogêneo com áreas hipo e
o diagnóstico10. A biópsia com agulha grossa (core hiperecogênicas, sendo geralmente bem delimita-
biopsy ou mamotomia) é uma alternativa atraen- dos. Alguns hamartomas são irreconhecíveis ecogra-
98
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 09
99
CAP. 09 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
100
10
MASTALGIA
Palavras Chave:
Mastodínia, diagnóstico, tratamento
102
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 10
geralmente unilateral
localizada, aguda (“em fisgada”) ou em queimação
acíclica
sem relação com o ciclo menstrual
constante ou irregular
unilateral
musculoesquelética de origem
piora com mobilização e/ou respiração
torácica (síndrome de Tietze,
além dos limites da mama
fasciite, tendinite, radiculopatia
reproduzida com compressão da parede torácica
cervical e/ou torácica)
Dor extra-mamária dores osteomusculares em outras áreas (artropatias e/ou osteopatias)
(referida)
outras causas menos frequentes (isquemia do miocárdio, cardiomiopatia hipertrófica, miocardite, pericardite,
dispepsia, esofagite, colecistite, gastrite, pancreatite, pleurite, pneumotórax, embolia pulmonar, dissecção
de aorta, abscesso subfrênico, linfoma, herpes zoster, neuralgia pós-herpética, radiculopatia diabética, neurite
intercostal, distúrbio de somatização, ataque de pânico, hipocondríase, fibromialgia)
ência lútea na síntese de progesterona ou aumento cientes com mastalgia apresentarem características
da sensibilidade dos receptores hormonais. Há uma psicológicas específicas, a relação entre mastalgia e
possível relação também entre mastalgia e altos esta síndrome pré-menstrual não é tão clara e me-
níveis de prolactina, o que explicaria a melhora im- rece investigação adicional.7(B)
portante desta queixa em mulheres com hiperpro-
lactinemia tratadas com agonistas dopaminérgicos, CONDIÇÃO FIBROCÍSTICA
drogas que diminuem a síntese de prolactina. 1,3(B)
Alguns estudos relatam a associação da mastal-
SÍNDROME PRÉ - MENSTRUAL gia cíclica com condição fibrocística da mama. 4(A), 6(B)
103
CAP. 10 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
104
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 10
105
CAP. 10 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
106
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 10
da dose e/ou utilização apenas na fase lútea sobre LH, consequentemente reduzindo significativamente
a mastalgia, sendo observada uma melhora signi- os níveis de estrogênios, progesterona e androgênios
ficativa da dor mamaria com redução dos efeitos ovarianos. Há apenas alguns estudos que avaliaram
adversos. Dessa forma, apesar de ser uma opção no seu papel na mastalgia e, apesar de mostrarem taxas
tratamento da mastalgia, é uma droga de custo ele- de melhora de até 81%, seu uso é limitado principal-
vado com efeitos colaterais indesejáveis, devendo mente devido aos efeitos colaterais relacionados ao
ser prescrita somente em casos extremos.18(B) estado de hipoestrogenismo (fogachos, atrofia genital
e perda da densidade óssea).21(B)
MODULADORES SELETIVOS DOS
RECEPTORES DE ESTROGÊNIO ( SERMS ) MASTECTOMIA
107
CAP. 10 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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108
11
DESCARGA PAPILAR
Palavras Chave:
Secreção dos mamilos, diagnóstico, terapêutica.
JULIANA FRANCISCO
Mestre em Tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas
Título de Especialista em Mastologia
CAP. 11 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
110
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 11
de revestimento do ducto mamário e pode abrigar na ausência de nódulos ou massas mamárias, deve-
áreas de atipia celular ou de carcinoma ductal in se realizar a pressão firme ao redor da aréola para
situ. Está associado a secreção do tipo serosa ou observar as características da secreção e identificar
sanguinolenta3(A). o ducto dilatado que irá produzir a descarga papilar
Algumas vezes as mulheres percebem uma (“ponto de gatilho”). Além de diagnóstico, esse
mancha sanguinolenta ou escurecida no sutiã e procedimento pode ajudar demarcando o local de
associam o achado com a presença de descarga incisão para uma possível cirurgia excisional.
papilar, e em boa parte dos casos não se evidencia A coloração da descarga papilar é característica
a descarga mamilar objetivamente no exame físico. fundamental na avaliação de risco de malignidade.
Diversas afecções cutâneas podem mimetizar a Meta-análise que incluiu 3110 pacientes encontrou
descarga papilar, entre elas destacamos como risco maior de câncer entre mulheres com descarga
diagnóstico diferencial a inversão papilar, lesões papilar hemorrágica em relação a mulheres com
eczematoides, lesões traumáticas, herpes simples descarga papilar não-hemorrágica (52% x 19%)7(B).
ou zóster, infecções cutâneas, mastites periareolares
recidivantes, fístulas ductais, doença de Paget e o EXAMES DE IMAGEM CONVENCIONAIS
adenoma de mamilo. Independente da presença de nodulação
ou massa associada, toda paciente com descarga
DIAGNÓSTICO papilar considerada patológica ou suspeita deve
realizar uma exame de imagem4(B), sendo que a
HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO ultrassonografia pode ser oferecida a qualquer
Na presença da queixa de descarga papilar paciente e a mamografia deveria ser oferecida para
alguns dados da história clínica podem ser mulheres acima de 30 anos3(A).
fundamentais para a elucidação diagnóstica. Deve- A mamografia apresenta alta sensibilidade
se questionar o uso de medicação e herbáceos, ou a para a detecção do câncer de mama, porém, as
presença de doenças que possam estar associadas ao lesões causadoras da descarga papilar dificilmente
surgimento da queixa mamária; e verificar queixas são identificadas por esse método devido ao seu
de amenorréia ou sinais de hipogonadismo que tamanho diminuto, e sobretudo se não houverem
possam estar relacionados a distúrbios endócrinos. calcificações associadas. Apesar da mamografia ter
É importante perguntar sobre possíveis traumas até 94% de sensibilidade para a detecção de atipias
na região torácica, lembrando que até mesmo mamárias, o seu desempenho é muito inferior para
a realização recente de uma mamografia pode a detecção de papilomas (apenas 7%)8(C).
se associar a descarga papilar pela compressão A ultrassonografia é uma importante
vigorosa das mamas durante o exame. ferramenta na propedêutica da descarga mamilar.
O exame físico geral deve contemplar a busca Permite identificar ductos dilatados retroareolares
de alterações do campo visual (relacionados à ou não (ectasia ductal), bem como lesões
presença de tumores de SNC que elevam a secreção intraductais como os papilomas, mesmo com
de prolactina), de sinais de hipotireoidismo e diâmetros de 0,5mm. Permite também a realização
hipogonadismo. O exame físico específico deve de diagnósticos diferenciais como por exemplo
começar com exame minucioso das mamas: nos casos de abscessos. Numa série de casos
inspeção estática e dinâmica, palpação mamária e com suspeita de doença ductal a ultrassonografia
das cadeias ganglionares axilar e supraclavicular. apresentou sensibilidade de 97% e valor preditivo
Atenção especial deve ser dada ao complexo aréolo- positivo de 95%9(C).
papilar com o objetivo de identificar a presença ou A ressonância nuclear magnética (RNM)
não de massas palpáveis, alterações cutâneas e as somente está indicada em casos específicos,
características do derrame papilar. Na ausência de sobretudo naqueles em que a ultrassonografia foi
alterações da pele que poderiam associar a queixa inconclusiva. À semelhança do que se tem descrito
de descarga mamilar à doença de Paget ou eczema, e para o diagnóstico do câncer de mama, a taxa
111
CAP. 11 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
significativa de falsos positivos da RNM limita sua obsterução ou irregularidades da parede do ducto
indicação. Estudo que avaliou 52 pacientes com caracterizam a presença da lesão intraductal.
descarga papilar, com follow up de 14 meses, obteve Estudo onde 88% das pacientes com descarga
77% de sensibilidade e 56% de valor preditivo papilar suspeita conseguiram realizar a ductografia,
positivo no diagnóstico de neoplasia maligna com o método apresentou 76% de sensibilidade, 11% de
a RNM10(B). especificidade e 19% de valor preditivo positivo10(B).
Qualquer lesão indentificada pelo método Além de ser um método doloroso, a ductografia
de imagem pode ser biopsiada tanto de forma está limitada pela necessidade de reprodução da
percutânea (core ou mamotomia), como pode descarga mamilar durante o exame físico para
ser marcada para excisão. E o exame histológico a identificação do ducto afetado, e dificuldade
é o padrão-ouro nos casos de descarga papilar de cateterização do mesmo3(A). Outra limitação
patológica suspeita. do método é a presença de mastite instalada ou
abcesso mamário. A paciente que irá realizar o
CITOLOGIA exame deve ser advertida da possibilidade de
Apresenta pouco valor como exame evoluir com mastite após o procedimento se houver
complementar diagnóstico nos casos de descarga extravasamento do contraste. Como ponto positivo
papilar patológica, e seu uso sistemático não para o exame, a ductografia permite a localização
é custo-efetivo3(A). Estudo que avaliou 618 precisa da área acometida do ducto possibilitando
mulheres com descarga papilar, das quais 163 ressecções cirúrgicas mais restritas, o que pode ser
foram biopsiadas, encontrou sensibilidade de considerado benefício em mulheres jovens sem
16,7% e especificidade de 66,1% para a citologia. prole constituída que desejam amamentar.
O desempenho do método foi inferior nos casos de Pode-se realizar a ductografia associada a
descarga mamilar hemorrágica em comparação aos imagem da RNM. Este método não requer a instilação
casos de descarga não-hemorrágica. Nessa mesma de contraste no ducto ou intravenoso, mas se
casuística, classificando as secreções hemorrágicas baseia na capacidade de visualização de estruturas
como malignas e não-hemorrágicas como benignas contendo líquidos usando uma seqüência T2-heavy.
apenas pela avaliação macroscópica apresentou Se o ducto em questão tiver líquido no seu interior
sensibilidade de 60,6% e especificidade de 53,6%; o método permite a identificação do local e forma
mostrando um desempenho superior da avaliação da lesão intraductal de maneira tridimensional. Mas
macroscópica em relação à citologia11(A). se o ducto não estiver distendido por secreção, sua
Apesar dos exames citológicos destas visualização não será possível3(A).
secreções não serem elucidativos em todos os
casos, estas descargas papilares contêm proteínas DUCTOSCOPIA
concentradas que são secretadas pelo epitélio O exame baseia-se na introdução de um
ductal da mama. Entre elas o CEA e o CA153 microendoscópio para a visualização direta do
apresentam-se elevados na secreção mamária das lúmen e localização da lesão. As fibras endoscópicas
pacientes com câncer de mama em comparação utilizadas na ductoscopia tem acessórios que
à pacientes com descarga papilar de origem não permitem execução de biópsia e coleta de
neoplásica5(B). citologia12(B). À semelhança da ductografia, a
ductoscopia é um exame doloroso se não realizado
DUCTOGRAFIA sob anestesia, que só pode ser realizado se a
A ductografia é um método que visa a descarga papilar for reprodutível no exame físico
identificação de lesões intraductais pela imagem e se o ducto afetado puder ser canulado. Necessita
da árvore ductal através da realização de de longa curva de aprendizado e o custo do exame
mamografias seqüenciais após a cateterização do é elevado considerando-se que se trata de método
ducto afetado e injeção de contraste hidrossolúvel complementar e que poderão haver custos da
no mesmo. A presença de falhas de enchimento, cirurgia após o exame. Mas como vantagem para a
112
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 11
113
CAP. 11 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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114
12
MALFORMAÇÕES
E ALTERAÇÕES DO
DESENVOLVIMENTO
AMASTIA, HIPOMASTIA, SIMASTIA,
HIPERTROFIA MAMÁRIA, MAMAS
SUPRANUMERÁRIAS E
MAMAS TUBEROSAS
Palavras Chave:
Anormalidades congênitas, diagóstico, terapêutica.
ÂNGELO C. S. MATTHES
Universidade de Ribeirão Preto-UNAERP
Professor e Coordenador da disciplina de Mastologia, Ginecologia e Obstetricia do Curso de
Medicina da Universidade de Ribeirão Preto-UNAERP
116
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 12
calizada no tórax, ma região das papilas mamárisa, o achado de infecção por germens gram negativos
que é induzida pela exposição intrauterina do feto, (ex: E. coli, Klebsiella, Shigella, Salmonella e Pseu-
a estrogénios maternos 1(C). É rara em prematuros domonas) 4(B). Existe muito pouca informação so-
por apresentarem uma glândula mamária ainda bre as consequências a longo prazo da Mastite Neo-
imatura. É entidade que se resolve espontanea- natorum, sendo referido em alguns casos atrofia da
mente e não se observa rubor nem edema mole. mama onde foi efectuada drenagem5(C).
As secreções pelo mamilo, quando ocorrem, são do 1-3 Alteração mamária na Síndrome de Turner
tipo leitoso, popularmente conhecidas como leite apresenta tórax largo, com mamilos amplamente
de bruxa, pois no folclore, acredita-se que bruxas espaçados6(D).
e duendes se alimentariam desta secreção, em que 1-4 A politelia e a polimastia são diagnosti-
não são detectadas bactérias pela coloração de cadas normalmente, imediatamente, após o nas-
gram e não contêm polimorfonucleares, mas se as- cimento. Os mamilos supranumerários (politelia)
semelha ao leite materno com uma concentração geralmente aparecem ao longo das linhas de leite
idêntica de IgA, IgG, lactoferrina, lisozima e lactal- embrionárias, a crista mamária ou em outros lo-
bumina 2(B). cais, incluindo as costas, coxa, vulva, pescoço etc. A
A conduta é expectante. Geralmente a tume- frequência de politelia varia de 0,2% a 5,6%. Está
fação regride do terceiro ao décimo dia após o nas- associada a outras malformações congênitas ou
cimento do recém-nascido, e desaparece dentro de síndromes com diferentes padrões de herança7(C).
algumas semanas 1(C). O tecido mamário ectópico está presente desde o
Após o parto, a queda dos níveis de estrogênio nascimento, mas não se torna evidente até a puber-
materno é responsálvel para desencadear a secre- dade, gravidez ou amamentação. Existem diferentes
ção pituitária de prolactina no recém-nascido. A pro- apresentações desta entidade, com classificações
lactinemia estimula as mamas e provoca a secreção de acordo com se ou não o tecido mamilo, aréola
de leite em 5 a 20% dos recém-nascidos. A falta do e da mama. Este tecido é sujeito às mesmas influ-
estímulo da oxitocina no recém-nascido, pode levar ências como a mama normal, de modo que podem
à estagnação do leite (galactocele), que pode com- também sofrer as mesmas modificações e transfor-
plicar com infecção como a mastite e o abscesso mações malignas, o que deve ser tomado em con-
mamário. Portanto é fundamental não espremer as sideração no diagnóstico diferencial. No entanto, a
tumefações de mama, pois pode causar um trauma remoção cirúrgica profilática não é recomendada
e inflamar, formando um abcesso que exigirá o uso actualmente. A politelia tem sido associada com
de antibiótico e possível intervenção cirúrgica 3(C). genodermatoses e a tumores sólidos, tais como
adenocarcinoma renal, cancro testicular, cancro
1-2 Mastite neonatorum apresenta eritema, tume- da próstata, e carcinoma da bexiga urinária, assim
facção e exsudato purulento pelo mamilo, pode sendo relacionado com um aumento do potencial
também ocorrer aumento da temperatura local, maligno. Embora a maioria dos relatórios descreva
febre, flutuação, hipersensibilidade local ao to- uma ligação entre mamilos supranumerários e ano-
que. Pode apresentar outras manifestações clínicas malias do trato urinário, uma relação potencial com
como irritabilidade, recusa alimentar parcial e ge- outras anomalias congênitas ou doenças malignas
mido. Normalmente não se palpam gânglios axila- também tem sido especulado8(D). Discute-se se a
res 3(C). politelia é uma manifestação de simples atavismo
Conduta: O tratamento é feito com antibio- ou pode estar associada a condições severas con-
ticoterapia. A drenagem cirúrgica em caso de for- comitantes. Ratos mutantes Scaramanga (ska) que
mação de abcesso mamário deve ser feita, porém apresentam tecido mamário ectópico apresentam
com cuidado, para evitar perda de tecido mamário desregulação da via de sinalização da neureguli-
com consequente atrofia mamária na idade adul- na-3, o que pode ser crítico na ocorrência de po-
ta. O agente etiológico encontrado frequentemente litelia8(D). A conduta é expectante e tem resolução
(83-88%) é Staphylococcus aureus sendo mais raro cirúrgica na adolescência ou na fase adulta.
117
CAP. 12 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Ausência congênita - A manifestação de au- sexta semana de gestação, período em que ocorre
sência congênita de mama é frequentemente en- a diferenciação vascular, diminuindo o suprimento
contrada na síndrome de Poland que pode estar sanguíneo embrionário , possivelmente por uma hi-
concomitante à síndrome de Mobiius e está relacio- poplasia da artéria subclávia e de seus ramos 9-11(C),
nada à embriogênese da quinta à oitava semana de 12
(B). Casos relatados demonstram a associação en-
gestação, principalmente devido a malformações tre tentativa de aborto e hemorragias de grande
dos vasos sanguíneos, gerando distúrbios no de- volume durante as primeiras seis semanas de gra-
senvolvimento osteomuscular. No caso da síndrome videz 13-14(C).
de Moebius, cogita-se causa genética ligada ao cro- As anormalidades congênitas da caixa toráci-
mossomo X, utilização de substâncias teratogênicas ca, incluimdo as mamas, envolvem uma abordagem
e abortivas durante a gravidez e diminuição da irri- de equipe multidisciplinar. O tratamento para mui-
gação sanguínea com isquemia e necrose dos vasos tas dessas condições inclui correção cirúrgica. Se a
sanguíneos do tronco cerebral, causando deformi- criança ainda está em fase de desenvolvimento, o
dades neurofuncionais ao feto9(B). Alguns autores tempo de tratamento é crucial e muitos dos proce-
acreditam que as duas síndromes são independen- dimentos cirúrgicos de correcção requerem mais do
tes; outros, que são variações de uma mesma condi- que uma operação ao longo de vários anos. Embora
ção. As duas síndromes juntas formam um conjunto estas deformidades têm menos impacto na capaci-
de sinais relacionados, como: deformidades ósseas dade funcional, as consequências psicológicas po-
e musculares, hipoplasias, agenesias, paralisias e dem ser graves em pacientes adolescentes. Eles po-
disfunções dos pares cranianos, acompanhado de dem experimentar constrangimento, o isolamento
deficiência mental e disfunções respiratórias 10-14(C). social e complexidades durante o desenvolvimento
Uma amastia congênita bilateral isolada foi sexual, e isso resulta em problemas com relaciona-
diagnosticada após completas investigações. Foi mentos 12(B).
relatado o achado de ausência congênita bilateral
do tecido mamário, aréolas e mamilos em um bebê 2- NA ADOLESCÊNCIA, JUVENTUDE E
do sexo feminino com 3 dias de idade. Nenhuma MENACME
outra anomalia foi observada. Também a mãe e
dois outros membros da família do lado materno
relataram ausência de mamilos, aréolas e tecido As malformações das glândulas mamárias
da mama. Investigações feitas durante a estadia no podem ser divididas em 2 grupos:
hospital, incluindo ultrassonografia da parede to-
rácica, abdome e cabeça foram todos normais10(C) . • Defeitos intrínsicos (verdadeiros): malforma-
A incidência da síndrome de Poland situa-se ções decorrentes de manifestações de doen-
em torno de 1:32000 nascidos vivos , sendo citada ça hereditária (genética e cromossómica),
em alguns artigos como até 1:80000, e é vista em ou resultantes de efeitos adversos sobre os
10% dos pacientes com sindactilia. Setenta e cinco primórdios embrionários de mama nos está-
por cento dos casos afetam o hemicorpo direito e é gios iniciais de diferenciação, portanto sem-
mais comum no sexo masculino que no feminino. pre congênitos.
A ocorrência é esporádica e casos em uma mesma
família acontecem ocasionalmente. A etiologia des- • Defeitos extrínsicos: causados por fatores
sa afecção é desconhecida 9-14(C); alguns autores ci- externos na mama formada (hormonal, neo-
tam um atraso no desenvolvimento embrionário do plásica) ou exógena (trauma, infecção, ra-
indivíduo, da quinta à oitava semana de gestação, diação) fatores que influenciam no período
pois é nesse período que os dedos e os músculos pós-natal.
peitorais são formados. A maioria dos pesquisado-
res acredita que a síndrome de Poland provém de Em todos os casos, podem existir defeitos de
uma malformação dos vasos sanguíneos, durante a um ou dos dois lados do corpo.
118
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 12
Na adolescência podem-se encontrar vários acessório é na região axilar, mas podem ser locali-
defeitos congênitos, incluindo várias anomalias de zados em lugares incomuns, como pescoço, pernas,
número, forma e posição da mama, aréola e mamilo costas, na região dos grandes lábios. Pode causar
7-16
(C), 12(B). desconforto e dor na região axilar, e também cons-
2-1 Anormalidades do número de mamilos e de trangimento, bem como se tornar um problema na
glândulas mamárias puberdade ou durante a gravidez e a amamentação.
2-1-1- AGENESIA MAMÁRIA ou AMASTIA (FIG A conduta é expectante e quando traz desconfor-
3): é uma condição clínica extremamente rara, to deve-se realizar uma cirurgia de exérese destas
consiste na ausência completa da mama (glândula mamas. Na polimastia pode ser encontrado mamas
e complexo aréolo-papilar), uni ou bilateralmente. totalmente desenvolvidas inclusive com lactação
Pode ser devida a alterações cromossomiais, defi- no pós-parto e também mamas sem forma e fun-
ciência de gonadotrofinas ou hiperplasia adrenal ção com mamilos desenvolvidos. As As glândulas
congênita 9-11(C), 12(B). mamárias acessórias podem apresentar as mesmas
Na síndrome de Polland ocorre alterações alterações das mamas normais.
uni ou bilateral do volume das mamas com presen-
ça do complexo aréolo-papilar , porém pode-se en- 2-1-4 ATELIA é a completa ausência do complexo
contrar amastia, ausência congênita de uma ou de aréolo-papilar, porém encontram-se rudimentos de
ambas as mamas, Se somente um lado está afetado tecido mamário glandular. Existem técnicas cirúrgi-
diz-se: monomastia. cas próprias para a construção de uma nova papila.
Assim, na síndrome de Polland, juntamente A aréola tem sido hoje reconstituída através de ta-
com sindactilia congénita, deformação do tórax e tuagem, micropigmentação e retalhos dérmicos e
ausência parcial do músculo peitoral maior é obser- a papila com implantes ou retalhos dérmicos com
vada aplasia unilateral da mama. Também com esta diferentes técnicas cirúrgicas.
doença muitas vezes apresentam defeitos estrutu-
rais da coluna vertebral, coração e pulmões9-14(C), 2-1-5 POLITELIA (FIG 5-8) é a presença de papilas
12
(B). A conduta é cirúrgica com apoio psicológico e extranumerárias, ectópicas, ocorrendo geralmente
muita informação sobre a anomalia, caso o pacien- abaixo da mama ou no abdome. Pode ser realizado
te optepela cirurgia, o tratamento é realizado por a exérese, caso seja o desejo da paciente. A poli-
meio de cirurgia reparadora, com retalho miocutâ- telia é a mais comum anomalia das mamas, com
neo, prótese artificial, criação de papila e aréola por presença de mamilo e aréola ao longo da linha ma-
tatuagem ou micropigmentação e ou retalho dér- mária embriológica, que vai da axila à virilha. Pode-
mico da região inguinal, buscando forma adequada -se encontrar mais de um complexo aréolo-papilar
e harmônica. normal ou pouco desenvolvido por toda a linha
mamária que vai da virilha à axila, podendo ser uni
2-1-2- AMASIA (FIG 2) é a ausência do tecido glan- ou bilateral. O único tratamento, quando necessário,
dular, mas com a presença de papila e aréola, é o é cirúrgico. Há politelia quando se encontra apenas
grau máximo de hipoplasia mamária. A terapêutica papilas extras, sem tecido mamário. Uma papila ec-
é cirúrgica sempre com reconstrução das mamas tópica pode ser confundida com miomas ou nevus,
com tecidos autólogos ou implantes de silicone e indicando-se sua remoção radical.
acompanhamento psicológico.
2-2 Anomalias de tamanho, forma e posição das
2-1-3 POLIMASTIA ou MAMAS ACESSÓRIAS (FIG glândulas mamárias e dos mamilos
3-4) é a presença de mais de duas glândulas ma-
márias. Pode ser chamada de completa quando 2-2-1 ANOMALIAS DE TAMANHO Normalmente
está presente a aréola, o mamilo e tecido glandu- há uma proporcionalidade do tamanho das mamas
lar mamário ou incompleto quando existe apenas a em relação ao tórax dos indivíduos, em que se en-
glândula. O local mais comum de tecido mamário contram mamas, que apresentam o diâmero da base
119
CAP. 12 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
da mama igual ao da medida da projeção do vértice perda de tecido glandular. Imdivíduos com este pro-
mamário, considerado mamas normais, com medi- blema podem ter baixaestima e sofrerm constran-
das de 5 a 7 cm; contudo encontramos situações em gimento. Um acompanhamento psicológico e inclu-
que se apresentam com pouco volume, constituindo são de prótese de silicone, podem ser necessárias
as mamas pequenas, com diâmetros menores que 5 para melhorar a qualidade de vida destas pessoas.
cm e também com grandes volumes com diâmetros
maiores de 7 cm e às vezes, até exagerados. Quan- 2-2-5 HIPOTROFIA COM PTOSE- Pode-se oferecer
do o volume for devido ao crescimento mamário, para as mulheres com essa queixa, uma correção ci-
caracterizam as aplasias e quando é devido à absor- rúrgica das mamas sendo que nos casos de grande
ção ou perda são as distrofias, contudo frequente- ptose pode-se realizar uma mastoplastia tipo Arie-
mente os termos são usados como sinônimo; assim -Pitanguy, com descolamento completo da glândula
temos: atrofia, agenesia, hipoplasia e outros. e medialização do pólo externo, técnica em T in-
vertido, preferencialmente, com cicatriz horizontal
2-2-2 HIPOPLASIA-(FIG 9) É um termo utilizado reduzida, que não deveria ultrapassar os limites que
para designar mamas que tiveram pouca formação ficam ocultos sob o pólo inferior da mama.
dos tecidos orgânicos, portanto com menor quan- Nos casos de ptose moderada, uma masto-
tidade de células que as compõem. São mamas pexia periareolar pode ser suficiente para levantar
com diminuição parcial de tecido mamário com o Complexo Areólo Papilar; nos casos de ligeira hi-
presença do complexo aréolo-papilar. Pacientes potrofia com ptose, pode-se solucionar mediante
com Síndrome de Turner podem apresentar hipo- colocação de implantes, contudo se a expansão ob-
plasia mamária devido ao hipoestrogenismo. As tida pela prótese não for suficiente para compensar
mamas apresentam-se com pouco volume desde a o excesso cutâneo pode ser necessário realizar a
telarca. ressecção desse excesso de pele.
2-2-3 ATROFIA MAMÁRIA- A atrofia mamária pode 2-2-6 HIPERTROFIA JUVENIL OU VIRGINAL- (FIG 12)
ser devida a hipoestrogenismo e também à virili- Esse termo refere-se a um desenvolvimento patoló-
zação, mas a causa mais comum é a perda de peso. gico das mamas de ter caráter familiar que pode ser
Devido ao fato de as mamas serem compostas prin- uni ou bilateral. Não há recursos para atuar preven-
cipalmente de tecido gorduroso, existe uma asso- tivamente, pois sua instalação é rápida. Algumas
ciação entre o tamanho da mama e o peso. Perda jovens apresentam um crescimento mamário rápi-
significativa de peso pode resultar em diminuição do e exagerado que lhes afetam o estado psicoló-
do volume mamário. Por outo lado, em doenças sis- gico e físico causando intertrigo e estrias sulco nos
têmicas, também ocorrer atrofia mamária, que pode ombros, hipovascularização, cifose postural. De-
estar associada à hipoesrogenismo, à perda de peso ve-se oferecer a cirurgia de mastoplastia redutora
e ao catabolismo. para melhorar a qualidade de vida destas pacientes.
2-2-4 HIPOTROFIA MAMÁRIA OU HIPOMASTIA- Re- 2-2-7 HIPERTROFIA MAMÁRIA-(FIG 13) É o termo
fere-se às mamas de pequeno volume, uni ou bilate- que se dá às mamas de grande volume, uni ou bila-
ral. Quando o tamanho das mamas não correspon- teral. Pode ser encontrado verdadeiras macromas-
de ao tamanho esperado para a idade, altura, peso, tias ou gigantomastias caracterizada por um au-
estando desproporcional ao tórax, ombros, quadris mento em glândulas mamárias devido à hipertrofia
e se o volume é extremamente pequeno, diz-se que de todos os elementos do tecido mamário. Qual-
há uma micromastia. Pode ocorrer monomastia e quer siruação de hipertrofia mamária pode causar
hipomastia unilateral, com a mama conralateral de constrangimento, alteração de postura e de dores
volume normal e pode resultar de intervenções ci- nas mamas e no dorso, escoriações inframamárias,
rúrgicas, da exposição neonatal à mastite, heman- o intertrigo. As pacientes com essa patologia, na
giomas, cirurgia e radiação que podem levar a uma maioria das vezes, devem ser consideradas doentes,
120
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 12
pela definição de saúde da Organização Mundial cirúrgica podem ser realizadas na época ideal. A
da Saúde, pois apresentam baixaestima com com- correção de uma grave assimetria mamária pode
prometimento psico-social e requerem, como trata- requerer um aumento mamário em uma mama e a
mento, a mamoplastia redutora, sempre com apoio redução da outra mama contralateral. Assimetrias
psicológico16(C) . moderadas podem ser compensadas mediante uti-
lização de próteses de diferente volume e projeção.
2-3-Anomalias da posição A fim de obter um equilíbrio, além dos procedimen-
tos acima expostos, podemos recorrer à formação
2-3-1 ASSIMETRIA MAMÁRIA- As mamas, na maio- de um sulco inframamário assimétrico ou modificar
ria das mulheres, não estão perfeitamente simétri- a colocação da prótese, a fim de dissimular, visual-
cas, por isso é de conhecimento popular que as ma- mente, a alteração.
mas não são iguais para a mesma mulher, contudo, Em várias concretizações, o complexo de
principalmente na adolescência, isto pode ser um anomalias mamilo-areolar pode exigir correção dos
grande problema, quando a diferença entre elas é mamilos invertidos, a redução do mamilo e aréola,
muito grande, ocasionando uma distorção da ima- a correção da excessiva mamilo saliente.
gem corporal e da feminilidade. Em alguns casos, a
assimetria das mamas pode ser caracterizada por
uma disparidade pronunciada com notável efeito 2-4-ANOMALIAS DA FORMA
cosmético negativo. As assimetrias observadas po-
dem ser de origem congênita ou adquirida e podem 2-4-1 SULCO DUPLO (doublé duble ou snoo-
se apresentar com diferenças do tamanho, da for- py effect)- normalmente, aparece em pacientes com
ma e da posição das mamas. Observa-se assimetria ptose moderada e grave que se negam a uma mas-
mamária em pacientes que sofreram queimaduras, topexia; casos de implantes antigos com uma ptose
infecções, cirurgias ou traumatismos desde a for- de mama posterior; pacientes gravidas com prótese
mação do botão mamário até na mama adulta e submuscular e cobertura cutânea fina. Neste ulti-
em pacientes com alterações torácicas e na coluna mo caso o aumento glandular provoca um excesso
vertebral, em mamas tuberosase e na Síndrome de de peso que se repercute sobre a pele, que cede e
Poland. ocasiona um duplo sulco. É uma alteração na for-
A coluna vertebral e grelha costal determi- ma da mama, provocada por uma situação bicom-
nam a forma do tórax, que por sua vez determina partimental onde a prótese, na posição submuscu-
a posição das mamas. Frequentemente, alterações lar, marca o sulco inferior ao mesmo tempo que a
no tórax mais conhecido como peito de pomba ou glândula origina um novo sulco. Embora isso possa
peito carinado ou em forma de quilha e no tórax ocorrer devido às retrações cicatriciais ao nível do
pectus excavatum, bem como na coluna verte- sulco. Esta alteração surge também em casos onde
bral com cifose e escoliose podem apresentar assi- há dissociação entre o diâmetro da prótese e o da
metrias aparentes ou salientar assimetrias reais. base da mama. Nestes casos, o primeiro sulco ou o
A assimetria pode estar combinada com pólo inferior da mama pode não ter suficiente elas-
macro ou micromastia. Poucas pacientes vêm ao ticidade para acomodar-se à nova dimensão ou ao
consultório apenas por causa de uma assimetria arco de uma prótese de diâmetro demasiado gran-
mamária, e quando isto ocorre, se for antes do com- de. Ocorre algo semelhante quando há uma caída
pleto desenvolvimento mamário, que se dá aos 18 exagerada do novo sulco inframamário em pacien-
anos de idade, no estágio V de Tanner, as assime- tes com polo inferior insuficiente ou pouco elástico.
trias, salvo exceções, não devem ser tratadas e devi- Nesses casos, pode ser necessário substituir a pró-
do aos problemas psicológicos que podem ocorrer, tese por uma menor, levantar o sulco ou provocar
sugere-se o uso de prótese no sutiã para que haja uma distensão do polo inferior, mediante incisões
equilíbrio estético até encerrar o desenvolvimento de relaxamento sobre a glândula.
mamário completo. As mamoplastias com prótese Quando há ptose devemos realizar uma mas-
121
CAP. 12 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
122
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 12
ocorre no primeiro trimestre da gestação (64% dos do tecido mamário nestes casos é dificultada por
casos). O diagnóstico diferencial da gigantomastia congestão venosa e aumento dos plexos vascula-
inclui uma investigação completa para excluir ne- res, ocasionando aumento do sangramento no in-
oplasia maligna de mama e tumores fibroepiteliais, traoperatório, além de apresentar um tecido mais
como fibroadenoma e tumor phyllodes. denso e menos gorduroso. A transposição do Com-
A hipótese etiológica mais aceita é que exis- plexo Aréolo Papilar(CAP) é dificultada pela vascu-
ta uma estimulação anormal do tecido mamário, larização inadequada do pedículo local, fazendo-se
que pode ser desencadeada por níveis excessivos necessário o enxerto do CAP.
de hormônios ou por uma hipersensibilidade deste O tratamento proposto para a hiperplasia
tecido a níveis hormonais. Com seu aumento exces- maciça das mamas durante a gestação está orien-
sivo, as mamas ficam edemaciadas, com congestão tado para melhorar as condições atuais da gestante,
venosa, podendo ocasionar mastalgia, dor cervical, sobretudo a dor que a mesma provoca19(B) .
problemas posturais, ulceração da pele, celulite e Como alternativa não cirúrgica, pode-se con-
hemorragia. Além do estigma físico e psicossocial, o feccionar um suporte tipo porta-seios que mante-
rápido crescimento das mamas pode também pre- nha as mamas elevadas, também a bromocriptina
judicar o desenvolvimento fetal. Estas complicações em doses de 5 a 7,5 mg/dia pode ser utilizada para
podem ser a causa de mastectomia de emergêcia diminuição da dor e do intumescimento glandular,.
ou abortamento induzido. Entre as modalidades te- mesmo após o sétimo mês gestacional.
rapêuticas estão a hormonioterapia e a abordagem Entretanto, a necrose com subseqüente ulcera-
cirúrgica, ou uma combinação de ambas 16(A) . ção da pele mamária parece não ser evitada ou mi-
Devido ao grande risco de recorrêcia em nimizada com o uso da droga, além das queixas de
gestações subsequentes, em muitos casos, opta- náuseas e vômitos relatadas por algumas grávidas.
-se pela mastectomia simples, ao invés da mamo- A progesterona atualmente não tem sido
plastia redutora. Caso a paciente deseje engravidar usada pelos pobres resultados quando comparada
futuramente, a mastectomia simples é a conduta à bromocriptina. A gestação deve ser levada a termo
mais adequada. Apesar de a mama regredir após a aguardando-se o início espontâneo do trabalho de
gestação, raramente volta ao estado original. A gi- parto e, quando possível, solução vaginal. Ocasio-
gantomastia gestacional é uma complicação que nalmente observa-se crescimento fetal restrito jus-
geralmente necessita de intervenção cirúrgica. Gi- tificando, nestes casos, o rastreamento do seu bem-
gantomastias não necessariamente ocorrem du- -estar e, se necessário, interrupção da gravidez. O
rante a primeira gravidez. No entanto, a ocorrêcia suporte psicológico deve ser plenamente oferecido.
de gigantomastias durante uma gravidez anterior, Estas pacientes tornam-se motivo de curiosidade e
complica quase todas as gestações subsequentes. chacota e freqüentemente encontram-se profunda-
Embora possa não ocorrer na primeira, segunda mente deprimidas.
ou terceira gravidez, uma vez tendo ocorrido a hi- A inibição da lactogênese com bromocripti-
pertrofia maciça das mamas, esta complica todas na 7,5 mg/dia deve ser iniciada logo após o parto,
as gestações subsequentes, se a paciente não for porque o ingurgitamento da mama pode precipitar
submetida à mamoplastia redutora ou mastecto- infecção e necrose.
mia. Esta recorrêcia pode ser observada mesmo em 3-2 Polimastia na gestação com produção de
gestações que evoluem para o abortamento espon- leite (FIG 18)- A polimastia pode em alguns casos
tâneo. É muito importante dizer que há uma pos- manifestar-se na gestação devido ao aumento do
sibilidade de novo crescimento de tecido mamário tecido mamário que sofre as mesmas alterações da
remanescente, após uma mamoplastia redutora, mama normal.
durante as próximas gravidezes. Não havendo com-
prometimento como necrose e/ou infecção, a redu- 4- NO HOMEM
ção volumétrica pela mamoplastia deve ser poster-
gada, para após o quarto mês pós-parto. A ressecção 4-1 Ginecomastia (FIG 20-22)é o desenvolvi-
123
CAP. 12 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
124
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 12
tologista. Os indivíduos nesta condição atingem va- peso devido a tumorese após suspensão do consu-
lores de E2 superiores ao da testosterona de indiví- mo de substâncias como hormônios. Mr Rufus Car-
duos adultos e os valores médios de E2 são maiores twright Editor International Urogynecology Journal
em adolescentes com GP, encontrando-se maiores O objetivo do tratamento cirúrgico é retirar o
relações de E2 /Testosterona e estrona/androgênios volume mamário e devolver ao indivíduo um for-
adrenais 21(B). Entre 1 a 2 anos há uma regressão es- mato de tórax mais anatômico, para permitir um
pontânea deste nódulo, porém em torno de 5% dos convívio social mais efetivo e que favoreça as prá-
casos isso não ocorre e pode ser necessária uma ci- ticas esportivas e lhe dê tranquilidade quanto ao
rurgia para exérese. O tratamento medicamentoso, caráter benigno desta mama desenvolvida.
com citrato de tamoxifeno 10 mg ao dia, é indicado
quando a ginecomastia é dolorosa e ou implica em 4.2 Politelia
alterações psicológicas e deve ser iniciado o quan- A ocorrência de mama extranumerária com-
to antes, uma vez que ginecomastias instaladas há pleta é um evento raro, principalmente em ho-
mais de 12 a 18 meses não responderão bem ao mens22(C). O tecido mamário ectópico está sujeito
uso de medicamentos, fazendo-se necessário a cor- às mesmas alterações que ocorrem na mama nor-
reção cirúrgica. moimplantada e pode estar associado a malforma-
4-1-3 Ginecomastia no idoso (senil): Encon- ções urológicas ou urogenitais.
tram-se em 40% dos idosos, devido aos fatores: Paciente, 50 anos de idade, referia que desde
- níveis médios de T plasmática; a adolescência notou aumento de volume na axila
- níveis médios de T biodisponível; direita. Ao exame físico apresentava mama axilar
- globulina ligadora da T; direita (papila e parênquima mamário). Não apre-
- taxa de aromatização periférica; sentava nenhuma outra anormalidade ao exame
- relação androgênio/estrogênio; clínico. Foi proposto a ressecção cirúrgica da mama
- níveis de LH/FSH; axilar pela queixa estética, entretanto o paciente
- ou perda da ritmicidade circadiana de T. não retornou para a cirurgia.
Também, no idoso, encontra-se a ginecomas-
tia mais frequentemente com o uso de medicações REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
múltiplas, doenças cardíaca ou hepática.
Nas formas patológicas verificam-se as se-
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-ão fazer necessários e em outros, a cirurgia poderá ra H, Januário L et al. Mastite Neonatal: Expe-
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125
CAP. 12 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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13
MALFORMAÇÕES
E ALTERAÇÕES DO
DESENVOLVIMENTO 2
(GINECOMASTIA)
Palavras Chave:
Ginecomastia; humano; masculino; tratamento
128
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 13
129
CAP. 13 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
130
14
GALACTORRÉIA
Palavras Chave:
hiperprolactinemia, prolactina, Galactorreia, antagonistas
de dopamina, bromocriptina
CAROLINA DO AMARAL
Ginecologista, R1 do Serviço de Mastologia do Hospital Universitário de Santa Maria, RS Mestranda no Curso
de Mestrado Profissionalizante em Ciências Médicas da Universidade Federal de Santa Maria, RS.
CAP. 14 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
132
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 14
Neurogênicas
SINTOMATOLOGIA
lesões da parede torática (herpes zoster), mastectomia, queimaduras,
toracotomia, lesões do cordão medular.
IDIOPÁTICAS
A galactorreia pode ser uni ou bilateral, es-
pontânea ou à expressão, intermitente ou continua, Tabela 1. Causas de galactorréia. Adaptado de: Halperin Rabinovich I,
Cámara Gómez R, García Mouriz M y Ollero García-Agulló D. Guía clínica
sendo normalmente poliductal. Sua cor é límpida de diagnóstico y tratamiento del prolactinoma y la hiperprolactinemia.
ou esbranquiçada, as vezes se apresenta amarela ou Endocrinol Nutr. 2013;60(6):308-319
esverdeada, chamando a atenção para o diagnosti-
co diferencial com outras patologias. Secreções de disso, a massa tumoral de um prolactinoma pode pro-
múltiplos ductos geralmente estão relacionadas a duzir efeitos de compressão da estrutura selar e hipopi-
causas hormonais, enquanto as de ducto único nos tuitarismo. Nas mulheres, a maioria dos prolactinomas
remetem a doenças mamárias locais.10(C) são microadenomas e se apresentam com distúrbios
Independentemente da causa, a hiperprolactine- menstruais (oligomenorréia), galactorréia e infertilida-
mia interfere com a secreção pulsátil de GnRH e inibe de. Em mulheres pós-menopáusicas, a clínica decorre
a secreção de LH e FSH. Consequentemente, produz hi- principalmente do efeito da massa do adenoma. No
pogonadismo e infertilidade em ambos os sexos. Além sexo masculino, 80% dos prolactinomas são macroa-
133
CAP. 14 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
denomas, então não há normalmente efeito de massa O exame físico específico deve incluir uma
clínica (dor de cabeça, perda visual) e / ou envolvimen- completa análise das mamas para avaliar a sime-
to de outro eixo hipofisário. A hiperprolactinemia cau- tria e o contorno, quaisquer anormalidades na pele,
sa diminuição da libido, disfunção erétil, infertilidade, edema ou eritema, e posição do mamilo. Uma ten-
oligospermia e, menos frequentemente, ginecomastia tativa deve ser feita para suscitar a descarga papi-
e galactoréia. O hipogonadismo induzido por hiperpro- lar e identificar o ducto ou ductos envolvidos. Pres-
lactinemia está associada com a densidade mineral ós- são ao redor da aréola de forma sistemática pode
sea diminuida em ambos os sexos.11(B) ajudar a identificar o ducto específico que produz
Outros sintomas como dores de cabeça e alterações a secreção. Uma palpação mamária minuciosa é
visuais podem indicar um tumor hipofisário. Ainda são imprescindivel, a fim de detectar possíveis nódulos
evidenciados sintomas como ausência de períodos mens- e adensamentos mamários, bem como linfonodo-
truais ou períodos que não são regulares, dimuição da li- megalias axilares ou supraclaviculares.3(C),13(B)
bido, disfunção erétil e osteoporose, a qual ocorre devido
à queda dos níveis dos hormônios sexuais em resposta à DIAGNÓSTICO
alta concentração de prolactina circulante.11-12(B)
Quando uma mulher apresenta alguma alte-
EXAME FÍSICO ração ou sintomatologia mamária logo pensa na
possibilidade de ter alguma neoplasia maligna na
No exame físico geral do paciente devem ser de- mama. Por isso, o diagnóstico diferencial entre uma
terminados o peso, altura, e sinais vitais. O crescimen- situação benigna, uma lesão com aumento de risco
to pobre pode indicar hipopituitarismo, hipotiroidismo, para câncer de mama e um câncer de mama é man-
ou insuficiência renal crônica. Gigantismo ou acrome- datório. Qualquer queixa de galactorréia deve ser
galia sugere um tumor da hipófise. Bradicardia sugere investigada em mulheres nulíparas ou multíparas,
hipotireoidismo e taquicardia sugere tireotoxicose. De- doze meses após a última gravidez ou desmame,
vemos atentar para sinais associados, como um defei- sendo a determinação sérica da prolactina impera-
to no campo visual, papiledema ou neuropatia crania- tiva em todos os casos.10(C),5(C)
na, que sugerem um tumor da hipófise ou uma massa Um teste de gravidez deve ser considerado
intracraniana. A presença de bócio, pêlos grossos, pele para todas as mulheres na idade reprodutiva. A do-
seca, carotenemia, e mixedema indicam hipotireoidismo. sagem da gonadotrofina coriônica humana perma-
Em contraste, a presença de bócio, tremor das mãos, e nece positiva por semanas após a interrupção de
exoftalmia sugerem tireotoxicose. O hirsutismo e a acne uma gravidez. Ela pode ser utilizada para confirmar
podem estar relacionados a hiperandrogenismo crônico uma gravidez recente. Se o diagnóstico não é ób-
associado com hiperprolactinemia (Tabela 2).3(C) vio, os níveis de prolactina, hormônio folículo-es-
Tabela 2. Achados do exame físico em pacientes com Galactorréia e possivel etiologia. Leung AK, Pacaud D. Diagnosis and Management of Galactorrhea.
Am Fam Physician 2004;70:543-50
134
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 14
timulante, hormônio luteinizante e hormônio esti- cos, mas um resultado pouco elevado (20-60 ng/ml)
mulante da tireóide devem ser dosados, porque a deve ser confirmado, especialmente quando não há
secreção de prolactina é lábil e um nível elevado correlação com a clínica e os níveis laboratoriais da
episódico tem de confirmado em pelo menos duas prolactina.14(D),15(C)
ocasiões quando o paciente está em jejum, em re- Por vários anos a prolactina foi mensurada por
pouso e sem estimulação das mamas.3(C) radioimunoensaio, mas atualmente estas medidas
Durante a avaliação de um paciente com sin- têm sido realizadas por ensaios de quimiolumines-
tomas, sinais clínicos ou com exames laboratoriais cência e imunorradiométricos. Para os ensaios mais
de hiperprolactinemia, é fundamental que causas comumente utilizados, os níveis séricos normais de
fisiológicas e medicamentosas sejam afastadas por prolactina geralmente são inferiores a 20 ng/ml em
meio de cuidadosa revisão da história clínica, ade- homens e a 25 ng/ml em mulheres. Em casos limí-
quado exame físico e teste de gravidez em mulhe- trofes, com leves aumentos da PRL ou discordantes
res com idade fértil, quando necessário. Quando se da apresentação clínica, o teste pode ser repetido
apresenta uma hiperprolactinemia laboratorial em com intervalos minimos de 15 a 20 minutos para
pacientes assintomáticos devemos realizar uma minimizar o efeito da pulsatilidade.11(B),14(D),15(C)
investigação cuidadosa para afastarmos macro- Realizamos diagnóstico de hiperprolacti-
prolactinoma. Além disto, devemos dosar o TSH e nemia idiopática quando excluimos as causas se-
proceder exames bioquímicos de função renal e cundárias da hiperprolactinemia e a ressonância
hepática, para que sejam afastados, respectivamen- magnética hipofisária se apresenta normal. Chama
te, hipotireoidismo primário, insuficiência renal e a atenção, que em cerca de 10% desses pacientes,
insuficiência hepática.4(C) Em cerca de um terço dos posteriormente, é diagnosticado um microadeno-
pacientes com doença renal, se desenvolve hiper- mas, enquanto que em outros 30% ocorre normali-
prolactinemia por causa da diminuição da depura- zação espontânea da PRL.14(D)
ção e da produção aumentada do hormônio.13(B) A maioria das causas secundárias de hiper-
Em pacientes com macroadenomas hipofisá- prolactinemia produzem PRL entre 25 e 100 ng
rios associados a hiperprolactinemia, o diagnósti- / ml. A hiperprolactinemia causada por lesão hi-
co diferencial se impõe entre macroprolactinoma e potalâmica ou por compressão do eixo hipofisário
pseudoprolactinomas (lesões selares ou perissela- é geralmente menor que 100-150 ng/ml. Valores
res que provocam aumento da prolactina sérica por séricos de PRL superiores a 250 ng/ml geralmente
compressão da haste hipofisária, e não por produ- indicam a presença de um prolactinoma (geral-
ção aumentada de prolactina).11(B),13(B),14(D) mente um macroprolactinoma), mas deve-se aten-
O Guideline da Sociedade de Endocrinologia tar para o uso de algumas drogas, como a meto-
recomenda que para estabelecer o diagnóstico de hi- clopramida, a risperidona e fenotiazinas, pois em
perprolactinemia, basta uma única medição da pro- alguns casos podem produzir valores de PRL supe-
lactina no soro. Um nível acima do limite superior do riores a 200 ng/ml.14(D),16(C)
normal confirma o diagnóstico desde que a amostra Geralmente as concentrações séricas de pro-
de soro seja obtida de maneira correta e sem es- lactina estão relacionadas com o tamanho do pro-
tresse na punção venosa, mas em caso de dúvida, a lactinoma. Macroprolactinomas (≥ 10 milímetros
amostragem pode ser repetida em outro dia.13(B) de diâmetro) estão tipicamente associados com
Para a determinação sérica da prolactina, o níveis de prolactina superiores a 250 ng/litro. Esta
ideal é que a coleta de sangue seja realizada pelo associação entre os níveis de prolactina no soro e
menos uma hora após a alimentação e o despertar, o tamanho do tumor nem sempre é constante e o
em ambiente tranquilo, devendo-se também evitar volume da massa tumoral e os níves de prolactina
o estresse excessivo da venopunção. Na maioria das podem estar dissociadas. Quando há discrepân-
vezes, uma única medida sérica da prolactina é ade- cia entre o volume do tumor de hipófise e o nível
quada para fazer o diagnóstico de hiperprolactine- de prolactina, recomenda-se diluição em série de
mia em associação com dados clínicos e radiográfi- amostras de soro para eliminar a presença de ar-
135
CAP. 14 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
tefatos na amostra, implicando níveis de prolac- avaliação global da adenohipofise (eixos tireotró-
tina falsamente baixos (“efeito gancho”). Esse fe- fico, gonadotrófico, corticotrófico e somatotrófico).
nômeno, contudo, é praticamente inexistente com Além disso, se o tumor tem contato com o quiasma
alguns novos imunoensaios utilizados nos dias é recomendada uma avaliação neuroftálmica inicial
atuais.11(B),13(B) abrangente, incluindo acuidade visual, campime-
Em pacientes tratados com medicamentos que tria computadorizada, estudo de motilidade ocular
podem causar hiperprolactinemia, sugerimos que, se extrínseca e fundo de olho.13(B),14(D)
possível, seja realizada uma nova determinação da
PRL após pelo menos 72 horas de suspensão da dro- TRATAMENTO
ga. No entanto, não se sabe o tempo ideal necessá-
rio para que a concentração de PRL volte ao normal O objetivo primário na introdução do trata-
após a retirada de algumas drogas. Além disso, esse mento para as pacientes com galactorréia decorren-
tempo pode ser mais longo quando são usados me- te de prolactinomas ou hiperprolactinemia idiopá-
dicamentos com formulações depot.13(B),14(D) tica é restaurar a função gonadal e sexual por meio
da normalização da prolactina. Entretanto, naqueles
CITOLOGIA / EXAMES DE IMAGEM casos com macroprolactinomas, além do controle
hormonal, a redução do volume e o controle tumo-
Os testes laboratoriais devem ser solicitados ral são fundamentais. Desta maneira, todos os pa-
apenas quando houver indicação pela história cli- cientes portadores de macroadenoma necessitam de
nica ou exame físico do paciente. Se houver dúvida tratamento. Nos demais casos, têm indicação apenas
sobre a natureza da descarga papilar, a galactorreia indivíduos com sintomatologia decorrente da hiper-
pode ser confirmada por exame microscópico da prolactinemia, tais como infertilidade, galactorréia
secreção. Para confirmação diagnóstica é funda- relevante, alterações no desenvolvimento puberal
mental o achado de gotículas de gordura no exame ou hipogonadismo de longa data. Ocasionalmente,
microscópico da secreção.3(C) mulheres com hiperprolactinemia leve, ciclos mens-
Vários estados fisiológicos, incluindo gravidez, truais regulares e desejo de engravidar, também ne-
amamentação, estresse, exercício físico e sono po- cessitem de manejo terapêutico.14(D)
dem causar elevação da prolactina, além do uso de Em um paciente sintomático com suspeita
alguns medicamentos.13(B) de hiperprolactinemia induzida por fármaco, suge-
A ressonância magnética (RM) da fossa hipofi- re-se a descontinuação da medicação durante três
sária, de preferência com gadolínio, deve ser consi- dias ou a substituição da medicação por uma droga
derada se o nível de prolactina no soro é significati- alternativa com menos efeitos sobre as concentra-
vamente elevado ou se suspeitamos de um tumor de ções de PRL, seguida de nova medição da prolacti-
hipófise. A tomografia computadorizada de alta de- na sérica. A descontinuação ou substituição de um
finição pode não ser sensível suficientemente para agente antipsicótico não deve ser realizada sem
identificar lesões pequenas ou grandes lesões que consulta prévia ao médico assistente. Se o fármaco
são isodensas com estruturas adjacentes.3(C),17(C) não pode ser descontinuado e o início da hiperpro-
A osteopenia e a osteoporose podem estar asso- lactinemia não coincide com o início da terapêuti-
ciadas com hiperprolactinemia, como um resultado de ca, recomenda-se a obtenção de uma imagem da
inibição e de perturbações da hidroxilação da vitami- hipófise por ressonância magnética (RM) para dife-
na D. Quando suspeitamos de osteoporose, a realiza- renciar entre hiperprolactinemia induzida por me-
ção de densitometria óssea deve ser considerada.3(C) dicação e hiperprolactinemia sintomática devido a
Em microadenomas intra-selares não é ne- uma massa na hipófise ou no hipotálamo.11(B),13(B)
cessário avaliar o campo visual, nem a função hi- O tratamento com agonistas da dopamina em
pofisária, exceto quando não desaparece o hipogo- pacientes com hiperprolactinemia induzida por an-
nadismo após a normalização dos níveis séricos de tipsicótico é muito controverso, pelo risco de exa-
PRL. Em caso de macroadenomas se recomenda um cerbação dos sintomas psicóticos. Esta opção só
136
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 14
deve ser considerada, sob estrito controle, nos ca- nérgico seletivo D2 e antagonista D1. Apre-
sos de hiperprolactinemia sintomática onde não se senta taxas de 48%-72% de normalização da
pode substituir o medicamento antipsicótico e há prolactina11-12(B),14(D),16-17(C),18(B), e de aproxi-
uma contraindicação absoluta de terapia de substi- madamente 70% na redução dos macropro-
tuição com estrogénio / testosterona.11(B),18(B) lactinomas.21(C),22(B),23(C),24(B) Geralmente é
Recomenda-se o tratamento de pacientes com administrada 2-3 vezes por dia, porque tem
microprolactinomas sintomáticos e com macropro- uma meia-vida curta, embora em alguns pa-
latinomas. Os sintomas resultantes de hiperprolac- cientes seja suficiente apenas uma dose. Deve
tinemia que tem indicação de tratamento são hipo- ser iniciada com doses de 0,62 a 1,25 mg / dia,
gonadismo, galactorréia, infertilidade e diminuição e aumentar em 1,25 mg cada semana. O inter-
da densidade mineral óssea. O tratamento do pro- valo terapêutico é geralmente entre 2,5 e 7,5
lactinoma esta indicado com objetivos de reduzir mg / dia, sendo que a dose média é de 2,5 mg
as concentrações de PRL e reverter o quadro clínico, duas vezes ao dia. Contudo, alguns pacientes,
reduzir o tamanho do tumor, restaurar a função go- eventualmente, necessitam de doses diárias
nadal e outras deficiências hormonais hipofisárias, de 20-30 mg. Os efeitos colaterais mais co-
além de prevenir a recorrência e a progressão tu- muns que acometem 20 a 78% dos usuários
moral.13(B),14(D),19(C) são náuseas, vómitos, hipotensão postural e
Os agonistas dopaminérgicos constituem dor de cabeça são muito frequentes quando as
a primeira opção de tratamento. Estes fármacos doses são elevadas, o que muitas vezes limita
normalizam os níveis de prolactina, restauram a a adesão ao tratamento.11(B),21(C),22(B),23(C)
função gonadal e reduzem significativamente o C. Lisurida: agonista da dopamina não ergot. É
volume tumoral dos prolactinomas na maioria dos administrada em duas doses diárias. O tra-
pacientes. Todos os agonistas dopaminérgicos são tamento inicia com 0,1 mg noite e a dose é
eficazes, mas a bromocriptina e a cabergolina são aumentada progressivamente. A dose média é
os mais usados.14(D) de 0,3 mg / dia.11(B)
Efeitos colaterais do tratamento medicamen-
AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS: toso são frequentes. Eles ocorrem especialmente no
A. Cabergolina: agonista dopaminérgico ergótico, início do tratamento, por isso a dose inicial deve ser
agonista especifico do receptor D2 da dopami- muito baixa e aumentada gradualmente. Os efeitos
na, possui meia-vida mais longa, permitindo colaterais mais frequentes são os gastrointestinais
que seja administrada uma ou duas vezes por (náuseas, vómitos, constipação intestinal, refluxo,
semana, por via oral. A dose de inicio é de 0,25 a dispepsia), neurológicos (dor de cabeça, tontura,
0,5 mg / semana e pode-se aumentar semanal- discinesia e confusão), cardiovasculares (hipoten-
mente até alcançar as concentrações normais são postural, síncope e vasoespasmo digital). Podem
de PRL. A dose média é de 0,5 a 1 mg / semana. ocorrer outros sintomas como boca seca, caimbras
É recomendada como primeira escolha por ter musculares, psicose e manía. A resposta ao trata-
uma melhor tolerância e maior eficácia, tanto mento é avaliada pela normalização das concentra-
no aspecto de normalização das concentrações ções de PRL (resposta bioquímica) e pela redução
de PRL como pela diminuição do tamanho do do tamanho tumoral.13(B)
tumor.3(C),19(C),25(A) As taxas de normalização Estudo de meta-análise afirma a efetividade
da prolactina e de redução tumoral variam de do uso de agonistas da dopamina no tratamento
76,5%-93% e de 67%-92% respectivamente, e da hiperprolactinemia e na redução da morbidade
os efeitos colaterais são similares aos observa- associada. A cabergolina foi considerada mais eficaz
dos com bromocriptina.20(A),21(C),22(B),23(C),24(B) do que a bromocriptina na normalização dos niveis
B. Bromocriptina: foi a primeira droga introdu- de prolactina e na resolução de amenorréia, oligo-
zida no tratamento da hiperprolactinemia há menorréia e galactorréia.25(A)
mais de 30 anos. É um agonista de dopami-
137
CAP. 14 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
138
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 14
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139
CAP. 14 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
140
15
MASTITES
(GESTACIONAL, PERIAREOLAR
RECIDIVANTE, INCOMUNS)
Palavras Chave:
Doenças mamárias; Mastite; Mastite Granulomatosa;
Transtornos da Lactação.
MELINA REBELLO
Médica residente em Ginecologia e Obstetrícia – HMMKB
Fúngicas Esteatonecrose
Sarcoidose
Parasitárias
Virais
Tabela 1: adaptada de Joaquim TAN. Como são classificadas as mastites. Bol. 3-16. Soc. Bras. Mast. 2011 abril;
Tabela 1: Adaptada
15(92): 3-16.de Joaquim TAN. Como são classificadas as mastites. Bol. Soc. Bras. Mast. 2011 abril; 15(92):
142
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 15
143
CAP. 15 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
144
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 15
145
CAP. 15 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Diagrama 1: adaptado de The Royal Women’s Hospital [Internet]. Melbourne: Policy, Guideline and Procedure Manual, Inc.; 2012. [cited 2012 Jul. 12].
Available from: https://thewomens.r.worldssl.net/.../mastitis-and-breast-abscess.pdf
Estudos mostram que realizar o esvaziamento sendo a primeira escolha as Cefalosporinas de pri-
completo das mamas com amamentação, ordenha meira geração; em pacientes com fatores de risco o
manual ou mecânica resultam em redução signifi- Sulfametoxazol com Trimetoprim ou Clindamicina;
cante da duração dos sintomas e no desfecho final e nas infecções graves Vancomicina (ver mais deta-
da doença. Também está indicado o uso de sutiãs lhes na Tabela 3).
ou faixas para adequada sustentação mamária. Se não houver melhora clinica em 48-72h de-
Deve-se prover o alivio dos sintomas, seja ve-se realizar ultrassom para afastar a ocorrência
com uso de, analgésicos, antiinflamatórios não es- de abscesso e avaliar necessidade de troca para es-
teroidais (AINES), antipiréticos ou compressas frias. quema endovenoso10(A).
Assim como no abscesso mamário, o trata-
mento antibiótico empírico contra S. aureus deve 2.9 Prevenção
ser instituído. Na presença de infecção leve sem fa- Na fase pré natal medidas de higiene devem
tores de risco para S. aureus resistente a Methicili- ser encorajadas, assim como o exercício com as
na (MRSA) está indicado o tratamento ambulatorial, papilas, objetivando aumentar a elasticidade e di-
146
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 15
minuir o aparecimento de fissuras. Durante a ama- Clinicamente apresenta-se como tumor ma-
mentação, deve-se principalmente evitar o ingurgi- mário geralmente palpável, único ou múltiplo, de
tamento mamário. A administração de Lactobacillus grande volume e rápida velocidade de crescimen-
probióticos no último trimestre da gestação em pa- to, endurecido, indolor, móvel, uni ou bilateral, com
cientes com passado de mastite lactacional parece propensão a região subareolar (Imagem 3).
reduzir a possibilidade de um novo episódio. Um es- Os achados em exame de imagem podem con-
tudo randomizado com 108 gestantes com história fundir com carcinoma e são inespecíficos. A mamo-
de mastite lactacional evidenciou menor incidência grafia mostra tecido extremamente denso com massa
de novos casos nas mulheres que receberam Lacto- irregular ou assimetria associada. Já o ultrassom pode
bacillus salivarius PS2 quando comparadas aque- demonstrar massa hipoecogênica com reforço acústi-
las que receberam placebo (25 versus 57%). Não se co posterior. O doppler quando mostra envolvimento
sabe se o uso de Lactobacillus diminuiria o risco de vascular e a RNM com hipersinal sugerem lesões ma-
mastite em pacientes sem historia prévia11(B). lignas14(B). A PAAF não é muido utilizada devido gran-
de resistência a passagem da agulha. Core biópsia ou
2.10 Recorrência: biópsia incisional fazem o diagnóstico definitivo, evi-
Mastite recorrente não é uma situação co- denciando fibrose estromal densa, associada a infil-
mum mas pode resultar de tratamento antibiótico tração linfocítica ductal lobular e vasculite linfocítica,
inapropriado, incompleto e/ou falha na correção de predominantemente de células B.
problemas relacionados ao esvaziamento completo Na maioria das vezes os nódulos requerem
das mamas na amamentação. excisão cirúrgica, mas regressões espontâneas já
foram relatadas (Imagens 4, 5 e 6). A taxa de recor-
3. MASTITES NÃO LACTACIONAIS rência é de 30% sendo ainda maiores se não houver
As mastites não lactacionais, como o próprio adequado controle glicêmico com dieta e ajuste das
nome diz, não estão associadas ao ciclo gravídico doses de insulina15(B).
puerperal e podem ser classificadas como especí-
ficas (infecciosas ou relacionadas a doenças crôni- 3.1.2 Mastite por fungos
cas), não específicas (mastite periductal e da ectasia A infecção por cândida é amplamente diag-
ductal) e especiais (esteatonecrose e granulomato- nosticada como causa de dor nas mamas em lac-
sas idiopática). tantes com discordância do exame físico, especial-
mente em mães com candidose vaginal associada
3.1 Mastites específicas: a situações de debilidade do sistema imune (ex.
3.1.1 Mastopatia diabética (linfocítica): DM, quimioterapia, corticoterapia, HIV, transplanta-
É uma desordem benigna e rara acometendo das) ou ainda neonatos com monilíase oral. Antes
1:1694 mulheres com diabetes mellitus - DM12(C),
que afeta principalmente as insulino-dependen-
tes, geralmente do tipo 1, com mau controle e
complicações associadas a doença, como neuro-
patia, retinopatia e nefropatia.
Embora de patogênese ainda obscura, e pos-
sivelmente multifatorial, acredita-se que estas
lesões são atribuíveis à reação autoimune contra
a expansão da matriz extracelular secundária ao
aumento da produção e diminuição da degrada-
ção de colágeno, em parte relacionada ao estado
hiperglicêmico. No entanto, alguns estudos, têm
atribuído as mudanças a uma reação autoimune
Imagem 3. Tumoração palpável bilateralmente, mimetizando neoplasia
ao acúmulo de matriz diabetogênica13(C). maligna. Mastite Diabética . Arquivo pessoal do autor
147
CAP. 15 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
148
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 15
ase oral, suspensão de Nistatina (100.000 unidades/ mente auto-limitada, caracterizada por trombo-
mL) 0,5ml em cada lado da boca, 4x ao dia20(D). flebite esclerosante, envolvendo classicamente
uma ou mais das veias subcutâneas da mama e
3.1.3 Mastite gonocócica da parede torácica anterior, raramente outros sí-
Causada pela contaminação da papila através tios como pênis, fossa cubital e abdôme23(C).
da cavidade oral pela Neisseria gonorrhoea, diplo- Afeta principalmente mulheres, com história
coco Gram-negativo. Manifesta-se com eritema e previa de mastite, trauma, procedimentos invasi-
edema do complexo aréolopapilar, retração ou des- vos na mama, câncer de mama ou esforço físico
carga purulenta. O diagnóstico é feito pela colora- extenuante, com pico de incidência aos 43 anos.
ção de Gram ou cultura em Thayer-Martin e a cura Gestantes apresentam maior risco em função do
se dá com o uso de antibióticos durante 14 dias, ex. aumento da vascularização e volume mamário24(C).
Ciprofloxacino21(B). A fisiopatologia não é clara, no entanto a
estase sanguínea ou lesão tecidual parecem estar
3.1.4 Mastite brucelar envolvidos25(C).
Também conhecida como febre ondulante, fe- Manifeta-se como dor, sensibilidade, hipe-
bre do mediterrâneo ou febre de malta, é uma zoo- remia ao curso da veia acometida e palpação de
nose de distribuição mundial causada pela Brucella cordão fibroso principalmente com a elevação do
spp., um pequeno coco aeróbio oxidase positivo, membro superior. A inflamação perivascular pode
endêmico na America do Sul, Mediterrâneo e Ará- fazer retração do tecido mamário subjacente. Pa-
bia. A infecção humana ocorre pelo consumo de de- cientes com apresentações clinicas atípicas de-
rivados do leite não pasteurizados, particularmente vem ser investigadas.
queijo de cabra cru e leite. O período de incubação O ultrassom pode ser o primeiro exame a
pode ser longo, geralmente dois meses ou mais. ser solicitado em mulheres jovens com massas
O quadro clínico é variável, geralmente cur- palpáveis, seu aspecto é de uma estrutura tubu-
sando com febre prolongada, mal estar e sintomas lar hipoecóica. Na mamografia é vista uma densi-
focais, sendo a mama raramente acometida em hu- dade espessada em forma de cordão indicando a
manos.Quando comprometida, aparece na forma de porção trombosada da veia superficial.
eritema periareolar doloroso, edema, linfadenopa- O quadro clinico costuma ter resolução
tia e ocasionalmente com abscessos associados. completa por volta de 6 semanas, nenhum tra-
Métodos de imagem tamento específico é necessário, além do uso de
são inespecíficos e mostram alterações com- sintomáticos. Após regressão dos sintomas a pa-
patíveis com mastite ou abscessos. ciente deve ser acompanhada por 1 ano26(C).
O diagnóstico da doença é clínico e laborato-
rial. O método disponível no sistema único de saúde 3.1.6 Mastites por helmintos (Cysticercus e
(SUS) é o teste sorológico por reação de aglutina- Echinococcus)
ção rápida com antígenos de B. abortus, conhecido É um tipo raro de mastite que ocorre devi-
como Rosa de bengala22(C). do a ingestão de alimentos ou água contaminada
Bacterioscopia e cultura da secreção, hemo- com ovos de helmintos seguida de sua absorção
cultura no pico febril e biópsia podem auxiliar. no intestino e disseminação sistêmica pelo siste-
O tratamento consiste no uso de Doxiciclina ma porta hepático. O período de incubação varia
com Aminoglicosideo ou Rifampicina durante 6 entre 15 dias e anos após a infecção.
semanas, em gestantes pode-se optar pelo Sulfa- As manifestações clinicas de mastite por
metoxazol com Trimetoprim. Exceto na suspeita de Cysticercus ou Echinococcus são: sinais flogísticos
malignidade o tratamento pode ser conservador. da mama, lesões de conteúdo cístico, com reação
fibrótica intensa e calcificação da parede do cis-
3.1.5 Síndrome de Mondor to, geralmente unilateral. Os métodos de imagem
Trata-se de uma condição benigna rara, geral- podem confundir com fibroadenoma e diagnóstico
149
CAP. 15 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
diferencial deve ser feito também com neoplasia como febre, mal-estar, sudorese noturna e perda de
mamária27(C). peso estão presentes em menos de 20% dos casos36(C).
O diagnóstico definitivo é feito com PAAF ou Em 1982 a tuberculose mamária foi classificada com
biópsia que evidencia células multinucleadas, di- base nas características clínicas e radiológicas em três
versos linfócitos, em associação a macrófagos e te- formas de apresentação: Nodular, difusa e esclerosante.
cido conjuntivo frouxo. A forma nodular, mais comum, apresenta-se
O tratamento é feito com retirada cirúrgica da inicialmente como uma massa indolor de cresci-
lesão e antiparasitários como Mebendazol, Prazi- mento lento com ou sem envolvimento da axila e
quantel ou Albendazol. que progride para o envolvimento cutâneo, forman-
As principais medidas de controle para a cisti- do úlceras e fístulas38(C) e com uma sombra oval
cercose incluem noções adequadas de saneamento nodular na mamografia, que dificilmente pode ser
básico para a população e tratamento dos pacien- diferenciada do câncer de mama36(C).
tes com teníase, evitando a disseminação dos ovos A forma disseminada é caracterizada por múl-
no meio ambiente e/ou auto infecção. tipas lesões associadas com a formação de cavidades
e múltiplos focos de drenagem38(C), mimetizando o
3.1.7 Mastite Tuberculosa carcinoma de mama inflamatório na mamografia36(C).
A mastite tuberculosa é uma rara manifesta- A forma esclerosante da doença é vista em
ção extrapulmonar da tuberculose, causada pelo mulheres idosas e caracterizada por um processo
Mycobacterium tuberculosis, uma vez que órgãos fibrótico excessivo, com pouca supuração, visto na
ou tecidos, como o da mama, músculo esqueléti- mamografia como uma massa homogênea densa
co e do baço são mais resistentes à infecção, tor- com septo fibroso e retração mamilar38(C).
nando a sobrevivência e multiplicação do bacilo A mastite tuberculosa pode ser primária,
da tuberculose mais difícil. Possui uma incidência quando nenhum outro foco de tuberculose é detec-
de aproximadamente 0,1% de todas as lesões da tado, ou secundária, quando uma fonte, principal-
mama, podendo chegar a 3-4% em regiões em que mente de origem pulmonar, é identificada37(C).
a tuberculose é endêmica, como Índia e África. Aco-
mete principalmente mulheres em idade reproduti- DIAGNÓSTICO
va, multíparas e lactantes, tendo poucos relatos no
sexo masculino, antes da puberdade e em mulheres Além das manifestações clínicas, vários ou-
de idade avançada. tros testes são úteis no diagnóstico e na avaliação
As vias de propagação na mama são: hemato- adicional de pacientes com mastite tuberculosa. O
gênica, linfática, por extensão direta da parede to- teste de Mantoux não fecha o diagnóstico definiti-
rácica ou dos linfonodos axilares, ou por inoculação vo, mas confirma a exposição do paciente ao bacilo
nos ductos através da pele traumatizada36(C). da tuberculose.
Os principais fatores de risco incluem multipa- A mamografia é pouco útil em mulheres jo-
ridade, lactação, trauma, mastite prévia e AIDS37(C). vens devido à alta densidade mamária, enquanto
nas pacientes idosas os achados não permitem di-
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ferenciar das lesões causadas pelo câncer de mama.
Apresenta-se mais comumente como uma mas- No ultrassom, uma massa hipoecogênica é encon-
sa no quadrante superior externo da mama, unilateral, trada em 60% dos pacientes. A tomografia e a res-
sendo raro o acometimento multifocal. A lesão pode sonância magnética são úteis para avaliar a exten-
ser dolorosa ou não, é endurecida, com bordos irregu- são da lesão para além da mama, principalmente na
lares, fixada à pele, músculo ou à parede torácica. Pode direção da parede torácica.
ocorrer formação de fístula, porém a descarga papilar O padrão ouro para o diagnóstico é a de-
é incomum. O nódulo pode estar acompanhado de in- tecção de M. Tuberculosis pela coloração de Ziehl
flamação e formar abscessos, ulcerações de pele e até Neelsen ou pela cultura. No entanto, a cultura tem
mesmo mastite difusa. Acometimento do estado geral limitações devido a demora na obtenção do resul-
150
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 15
tado final e a possibilidade de falso-negativos em terizada por inflamação do tecido subcutâneo pro-
amostras paucibacilares. fundo da mama, também conhecida como panicu-
A avaliação citológica obtida através da pun- lite lúpica. Pode ser encontrada em pacientes com
ção aspirativa com agulha fina pode não ser capaz de histórico de lúpus sistêmico ou discoidal. A mastite
detectar o patógeno responsável, mas permite iden- lúpica é uma doença predominantemente feminina
tificar granulomas epitelióides e necrose, que condiz (10:1) e a sua idade média de apresentação é de
com o diagnóstico definitivo em até 73% dos casos. 37,5 anos, não sendo identificada predileção racial.
A Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) é alta- Clinicamente se apresenta como nódulos ma-
mente sensível para o diagnóstico e, embora raramen- mários profundos, que podem ser únicos ou múlti-
te usada, é recomendada nos casos com resultados de plos, irregulares, endurecidos, bem circunscritos e
cultura negativos ou para diagnóstico diferencial de palpáveis, podendo mimetizar malignidade.
outras formas de mastite granulomatosa. Histologicamente as mudanças mais perti-
A histopatologia da lesão identifica uma infla- nentes se encontram na gordura subcutânea e con-
mação granulomatosa crônica com células do tipo siste primariamente em uma paniculite lobular com
Langhans gigantes de necrose caseosa36(C). infiltrado linfocitico proeminente, que pode ser no-
O principal diagnóstico diferencial é o de car- dular, difuso, periductal, e ou perilobular. Acredita-
cinoma, além de outras doenças da mama, como -se que o achado patognomônico está representa-
necrose gordurosa, mastite de células plasmáticas, do pela presença de necrose gordurosa hialina39(C).
abscesso periareolar, mastite granulomatosa idio- Embora as lesões causadas pela mastite lúpica
pática e infecções como a actinomicose e blasto- possam ser vistas em mamografia, as calcificações
micose. progridem de suspeitas à benignas nas suas aparên-
Sendo assim a mastite tuberculosa deve ser cias. Calcificações iniciais frequentemente simulam
sempre suspeitada em casos de câncer de mama, malignidade, com distribuição ductal e aparência li-
abscessos, fístulas ou nódulos com má resposta ao near. Como as calcificações aumentam de tamanho e
tratamento37(C). tornam-se cada vez mais grossas, são mais facilmen-
te visualizadas no ultrassom e na ressonância.
TRATAMENTO No ultrassom a Mastite Lúpica se apresenta
como uma massa heterogênea e hiperecóica, com
O tratamento da mastite tuberculosa consis- margens irregulares e mal definidas. Espessamento
te em um regime de seis meses, composto por duas da derme, proeminência do tecido glandular e hi-
fases. A primeira fase tem duração de dois meses pervascularização são frequentemente observados.
com quatro drogas utilizadas oralmente (etambutol
800mg/dia, pirazinamida 1500mg/dia, rifampicina
450mg/dia e isoniazida 300mg/dia), seguida por uma
fase de manutenção de quatro meses com isoniazida
e rifampicina36(C), havendo uma boa resposta em 95%
dos casos37(C). A intervenção cirúrgica através de bi-
ópsia excisional é necessária principalmente para fim
diagnóstico, drenagem de abscesso e excisão de le-
sões residuais após má resposta à terapia oral. A mas-
tectomia simples, na maioria das vezes sem dissecção
de linfonodos axilares, é reservada para casos com
doença extensa, em que toda a mama é envolvida36(C).
151
CAP. 15 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Sombreamento em calcificações grosseiras tornam- gridade da pele. Relatos de mastite herpética ocorrem
-se visíveis com a progressão da doença predominantemente em situações onde o neonato
A ressonância magnética é muito útil para possui infecção sistêmica pelo vírus HSV, transmitin-
avaliar a extensão e envolvimento da pele, no en- do-o para o seio materno, durante a amamentação;
tanto, em geral, não são encontradas características entretanto já foram observados casos adquiridos por
específicas da Mastite lúpica na Ressonância. Assim auto-inoculação a partir de lesão por via oral, e até
como na maioria dos processos inflamatórios, a res- mesmo por contato sexual. Além disso, o desenvolvi-
sonância não consegue diferenciar mastite lúpica mento de lesões da mama como a primeira e única
de malignidade40(C). manifestação de infecção clinicamente aparente pelo
A mastite lupica é uma doença crônica, inter- HSV sem herpes oral ou genital é incomum.
calando momentos de remissão e exacerbação, se A infecção primária pelo HSV tipo 1 pode ser
não tratada, pode resultar em retração, atrofia, e subclínica, contudo, lesões dérmicas primárias são
algumas vezes lesões desfigurantes. A intervenção mais frequentemente sintomáticas e associadas com
cirúrgica não é necessária para o tratamento, sendo sintomas mais graves (constitucionais, adenopatia lo-
o mais adequado o uso de medicação oral. Hidroxi- cal e lesões de pele extensas) do que com recidivas.
cloroquina é atualmente a medicação de escolha, Os achados no exame físico até hoje relatados
sendo usada na dose de 200mg/dia alcançando foram lesões mamilares com crosta de ulceração, li-
uma remissão dentro de 3 a 6 meses39(C). mitadas a ponta do mamilo ou estendendo-se até a
aréola, e mais raramente pode-se encontrar extenso
3.1.9 Sarcoidose eritema, com espessamento de pele e característica
A sarcoidose é uma doença sistêmica de etio- de casca de laranja, achados sugestivos de carcino-
logia desconhecida, caracterizada pela presença de ma inflamatório e doença de Paget do mamilo42(C).
granulomas que envolvem vários órgãos como pul- A mastite herpetica deve ser considerada
mões, linfonodos, baço, fígado, pele, olhos, múscu- sempre que houver mastite ulcerada não responsi-
los, ossos, sistema nervoso central e glândulas sali- va aos tratamentos antibióticos.
vares. O envolvimento mamário é raro na evolução É importante diferenciar lesões causadas pelo
da doença. A média de idade da apresentação é aos HSV tipo 1, dos casos de acometimento mamário
48 anos41(B). pelo varicela zoster, uma vez que o HSV tipo 1 apre-
A sintomatologia mamária na sarcoidose é senta–se com lesões de característica herpética,
rara e vista principalmente em pacientes com en- que cicatrizam espontaneamente em 7 a 10 dias,
volvimento sistêmico. A doença se apresenta como sem deixar cicatrizes, enquanto o zoster gera lesões
uma massa mamária endurecida e firme mimetizan-
do um carcinoma. Na mamografia produz imagens
suspeitas de contornos irregulares, mal definidos e
espiculados e de consistência solida ao ultrassom.
Biópsia é indispensável para confirmação diag-
nostica. Não há aumento do risco de neoplasia de
mama nas pacientes acometidas.
152
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 15
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CAP. 15 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 15
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 15
157
MANEJO DAS LESÕES PRECURSORAS
16
ANATOMIA
PATOLÓGICA DAS
LESÕES PRECURSORAS
Palavras Chave:
Hiperplasia intraductal usual, Hiperplasia intraductal atípica,
Neoplasia intra lobular, Células colunares.
162
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 16
proliferação de pequenas glândulas com padrão in- que têm em comum a presença do epitélio colunar
filtrativo, não apresentando a configuração lobular, das UTLT, que se apresenta dilatado, revestido por
em meio a estroma fibroso ou adiposo e os lumens uma ou duas camadas de células epiteliais coluna-
contem característica secreção eosinofílica. Esta res, com núcleos uniformes, ovoides ou alongados,
lesão simula carcinomas invasivos que formam tú- orientados de forma regular perpendicular à mem-
bulos bem formados sem desmoplasia do estroma brana basal, com a cromatina dispersa uniforme-
e não apresentam células mioepiteliais contínuas mente e sem nucléolos conspícuos10(B). As figuras
o que dificulta a interpretação destas lesões como de mitose são raramente encontradas. Estas células
benignas, embora a membrana basal esteja presen- secretam por decapitação nos apicais, na superfície
te. Muitas vezes ocorre em pacientes na pré ou pós- luminal e as secreções podem estar presentes no
-menopausa, apresenta fenótipo triplo negativo e lúmen além de frequentes microcalcificações11(B).
positividade para a proteína S1008(B). A característica citológica do revestimento des-
tas unidades UTLT varia de nenhuma a poucas ati-
ADENOSE MICROGLANDULAR pias. As características arquitetônicas pode, por vezes,
ATÍPICA (AMGA) justificar o diagnóstico de hiperplasia ductal atípica
ou de carcinoma ductal in situ de baixo grau12(B).
As células do revestimento glandular na A hiperplasia de células colunares é o termo
AMGA são pluriestratificadas, com ligeira a mode- utilizado para descrever ácinos dilatados nas UTLT,
rada atipia, presença de atividade mitótica e figuras revestidos por células colunares que possuem carac-
apoptóticas. Os carcinomas invasivos que surgem terísticas citológicas similares às observadas na al-
da AMGA mostram morfologia heterogênea incluin- teração de células colunares, mas com estratificação
do carcinomas metaplásicos e os adenóides císti- celular e mais de duas camadas de células colunares.
cos. São negativos para RE, RP e para o oncogene Estas lesões apresentam frequentemente calcifica-
HER2, com fenótipo triplo negativo e positivo para ções intraluminais que, em alguns casos, pode ter a
citoqueratinas 5/6, 14, 17 e marcadores de células configuração de corpos psamomatosos13(B).
basais8(B). Em algumas lesões que têm as características
A AMGA é uma lesão clonal, com aberrações arquitetônicas das UTLT, as células colunares ou a hi-
genéticas, localizada no Lócus 19q12 amplificado perplasia destas células colunares, podem apresentar
e pode ser o precursor potencial não obrigatório e atipias citológicas de baixo grau. Esta atipia é carac-
direto de um subgrupo de cânceres de mama triplo terizada pela presença de células colunares cuboides,
negativos. Este lócus amplificado compreende nove com núcleos redondos ou ovais e com aumento da
genes incluindo a ciclina E1. A hibridização genômi- relação núcleo/citoplasmática14(A). Em alguns casos,
ca comparativa apresenta aberrações no número de os núcleos mostram estratificação. A cromatina nu-
cópias em AMG e AMGA que variaram de 0,5 a 61,9% clear pode estar uniformemente dispersa, ou ligeira-
em diferentes níveis de instabilidade genética, com mente heterogênea e os nucléolos são proeminentes.
aberrações de cópias semelhantes às encontradas As figuras de mitose podem ser observadas, mas são
nos componentes invasivos e podem constituir subs- incomuns. Estas lesões de células colunares foram de-
trato para o desenvolvimento do carcinoma invasivo, signadas de atipias epiteliais planas pela Organização
imunofenotipo triplo negativo. Recomenda-se exci- Mundial da Saúde e pela Patologia Genética de Tumo-
são completa da lesão, das margens cirúrgicas e de res da Mama. Este termo, portanto, abrange as lesões
minucioso exame das amostras com AMG e/ou AMGA que foram anteriormente chamadas de alterações de
para excluir carcinoma invasivo9(B). células colunares com atipia, hiperplasia de células
colunares com atipia e carcinomas aderentes, do tipo
LESÕES COLUNARES ( LC ) monomórfico. Deve notar-se, no entanto, que, quando
aplicado a estas lesões, o termo atipia epitelial plana
As lesões de células colunares da mama re- é um termo relativo e simplesmente indica a ausência
presentam um espectro morfológico de alterações de padrões arquiteturais mais complexos14(A).
163
CAP. 16 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
O termo atipia epitelial plana fica reserva- cinoma lobular in situ (CLIS) são lesões mamárias que
do apenas para as lesões em que as característi- possuem características morfológicas distintas e são
cas citológicas e arquiteturais são insuficientes consideradas como lesões de risco para o carcinoma
para justificar o diagnóstico de HDA ou CDIS15(B). lobular invasivo. Estas lesões são caracterizadas por
É importante reconhecer que a atipia citológica de células pequenas, monótonas e pouco coesas que
alto grau com pleomorfismo nuclear intenso, obser- preenchem as unidades lobulares, distendendo os
vado em CDIS de alto grau não é uma característica espaços envolvidos e com tendência à disseminação
de atipia epitelial plana. A presença de alterações pagetóide para a unidade túbulo lobular terminal. O
nucleares de alto grau pode compreender apenas tipo mais comum de lesão lobular é a forma clássica.
uma camada de células ductais, porém são caracte- Formas ditas não clássicas caracterizam-se por pa-
rizadas como CDIS de alto grau. As lesões compos- drões celulares distintos: apócrino, histiocitóide, com
tas por epitélios colunares complexos com padrões células em “anel de sinete” e o padrão pleomórfico (
arquiteturais tais como: micropapilas, pontes celu- Túbulo lobular), mais agressivo, pois agrega altera-
lares e fenestrações, com polarização celular dentro ções genéticas19(B).
destas estruturas são categorizadas como HDA ou As classificações nas formas de hiperplasia lo-
CDIS de baixo grau16(B). bular atípica/carcinoma lobular “in situ” em graus 1,
A imunofenotipagem da atipia epitelial plana, 2 e 3, refletem o grau de envolvimento dos lóbulos
mostra expressão intensa para a citoqueratina de bai- e não definem entidades diferentes, como ocorre en-
xo peso molecular CK19 e, não apresenta expressão tre HDA e CDIS. Estudos de perda de heterozigose
para as citoqueratinas de alto peso molecular. Portan- demonstram que a neoplasia lobular independe da
to, as citoqueratinas de alto peso como CK5/6 e CK14, classificação tendo todas as lesões o mesmo perfil
não são utilizadas para distinguir atipia epitelial pla- morfológico29. O padrão de alterações genéticas das
na de alteração e hiperplasia de células colunares neoplasias intra-lobulares é o mesmo das lesões as-
sem atipia, como ocorre nas HDU e HDA. As lesões de sociadas à via patogenética de baixo grau (alterações
células colunares sem atipias e a atipia epitelial plana, colunares, HDA, CDIS de baixo grau e do carcinoma
exibem expressão forte, nuclear para receptores de invasivo de baixo grau). O perfil genético apresenta
estrógeno e de progesterona na maioria das células. perdas cromossômicas em16q e ganhos em 1p20(B).
Em geral, as células da atipia epitelial plana parecem As neoplasia intra-lobulares apresentam imu-
ter maior índice de proliferação celular (Ki-67) auxi- no marcação com expressão intensa para recepto-
liando na distinção destas lesões além das caracterís- res hormonais (RE e RP). A grande maioria dos ca-
ticas nucleares descritas acima17(B). sos é negativa para o produto do oncogene HER2 e
Estudos recentes têm investigado as alterações para o p5320(B).
genéticas em atipia epitelial plana. Moinfar et al de- Uma das características histológicas mais ca-
monstraram que a perda da heterozigose e das altera- racterísticas destas lesões proliferativas intra-lobu-
ções genéticas nestas lesões foram as mesmas encon- lares é a perda da coesão celular. Foi estabelecido
tradas na HDA e no CDIS de baixo grau. Nesse estudo, que a ruptura da coesão celular nas lesões lobula-
as perdas mais comuns foram nos lócus 3p e 11q. Em res da mama é o resultado da perda da expressão
outro estudo usando hibridização genômica compara- da molécula de adesão intercelular E- caderina. Em
tiva para avaliar 81 lesões de 18 pacientes, Simpson lesões lobulares, as alterações genômicas e/ou epi-
et al encontraram alterações genômicas não apenas genéticas na codificação gênica que codifica a E-ca-
em atipia epitelial plana, mas também em alterações derina, produz o silenciamento de dois alelos no
e em hiperplasia de células colunares18(B). cromossomo 16, que resulta em perda de expressão
da proteína E-caderina nas membranas das células
NEOPLASIA LOBULARES neoplásicas com perda de coesão intercelular que
caracteriza estas lesões. Esta perda de expressão
A hiperplasia lobular atípica (HLA) conhecida da E-caderina na membrana das células neoplási-
também como neoplasia intra lobular grau 1 e o car- cas, pode ser demonstrado por imuno-histoquímica,
164
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 16
e distingue CLIS das lesões intra-ductais como o 2. Azzopardi JG. Problems in Breast Patholo-
CDIS que é positivo para E-caderina21(B). gy. Philadelphia: WB Saunders; 1979.
As armadilhas da E-Caderina por imunoisto- 3. Eusebi V, Feudale E, Foschini MP, Micheli A,
química pode levar a um diagnóstico incorreto, que, Conti A, Riva C, et al. Long-term follow-up
por sua vez, pode resultar em inadequação diag- of in situ carcinoma of the breast. Semin
nóstica. Recomenda-se a utilização de anticorpos Diagn Pathol. 1994;11(3):223-35.
do complexo caderina-catenina, particularmente a 4. Dupont WD, Page DL. Risk factors for breast
catenina p120 e a beta-catenina para auxiliarem cancer in women with proliferative breast di-
no diagnóstico diferencial entre as lesões ductais sease. N Engl J Med. 1985;312(3):146-51. 11.
e lobulares22(B). Page DL, Dupont WD, Rogers LW, Rados MS.
O carcinoma lobular in situ é uma proliferação Atypical hyperplastic lesions of the female
epitelial atípica que é semelhante citologicamente breast. A long-term follow-up study. Can-
à HDA, mas com expansão de mais que 50% da uni- cer. 1985;55(11):2698-708.
dade túbulo lobular terminal e dos lóbulos. O CLIS 5. Page DL, Rogers LW. Combined histologic
é identificado em aproximadamente 1% das core and cytologic criteria for the diagnosis
biopsys (CB) realizadas em mamografias de rastreio, of mammary atypical ductal hyperplasia.
porém alguns estudos tem relatado uma variação Hum Pathol. 1992;23(10):1095-7. 13.
entre 0% a 33%. Semelhante a HLA o CLIS clássi- Rosen PP. Rosen’s Breast Pathology. 2nd ed.
co é muitas vezes achado incidental, associado às Philadelphia, PA: Lippincott-Raven; 2001.
microcalcificações. Para o CLIS clássico incidental 6. Otterbach F, Bankfalvi A, Bergner S, Dec-
encontrado nas CB as orientações do National Com- ker T, Krech R, Boecker W. Cytokeratin
prehensive Cancer Network recomendam a excisão 5/6 immunohistochemistry assists the
cirúrgica 23(B). differential diagnosis of atypical proli-
Pacientes com neoplasia lobular, denominação ferations of the breast. Histopathology.
que pode ser usada para se referir a HLA e para o 2000;37(3):232-40.
CLIS clássico na CB, pode ser oferecido como vigi- 7. Ellsworth RE, Ellsworth DL, Weyandt
lância alternativa segura à cirurgia. É preciso notar JD, Fantacone-Campbell JL, Deyarmin B,
que há pouca informação sobre a taxa de maligni- Hooke JA, et al. Chromosomal alterations
dade associada à das variantes menos comuns CLIS in pure nonneoplastic breast lesions: im-
não-clássico, incluindo CLIS pleomórfico e com co- plications for breast cancer progression.
medo necrose, que são mais frequentemente alvos Ann Surg Oncol. 2010;17(6):1688-94.
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166
17
HIPERPLASIA DUCTAL
ATÍPICA E HIPERPLASIA
LOBULAR ATÍPICA
Palavras Chave:
Hiperplasia Ductal Atípica e Hiperplasia Lobular Atípica.
auxiliar a distinçao entre HLA e HAD. HLA, CLis e Diagnóstico: A maior parte dos achados de HA
carcinoma lobular invasivo (CLI) não expressam a são incidentais. Porém quando os achados provem
168
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 17
169
CAP. 17 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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Diagnosed with Atypical Hyperplasia and
170
18
CARCINOMA DUCTAL IN
SITU: DO DIAGNÓSTICO AO
TRATAMENTO
Palavras Chave:
Carcinoma Ductal In Situ, Carcinoma Intraductal não
Infiltrante Carcinoma Intraepitelial.
INTRODUÇÃO
FISIOPATOLOGIA
ca. Os fatores anatomopatológicos mais importan- Tabela 1. Recomendações baseadas no Comitê de Consenso para classi-
ficação do grau do CDIS de mama.
tes no controle local e indicadores de prognóstico
172
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 18
173
CAP. 18 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Gráfico 1: Metanálise sobre taxa de recidivas locais em 10 anos, para casos de carcinoma ductal in situ de acordo com o tamanho da margem, com os
respectivos números de casos incluídos (adaptado de Wang et al, 2012).
acordo com consenso internacional multidisciplinar carcinoma invasivo, e no grupo não submetido à radio-
de especialistas em 2010, é de pelo menos 2 mm. terapia, esse evento ocorreu em 48% das recidivas.
Wang e cols, 2012, demonstraram em metanálise Outros estudos tentaram identificar grupos
de 21 estudos benefícios para margens > 10 mm. de pacientes que poderiam prescindir da radiote-
Outra metanálise também não concluiu a necessi- rapia. O modelo mais conhecido é o ÍNDICE PROG-
dade de maiores margens para o controle adequa- NÓSTICO DE VAN NUYS (IPVN), que atribui notas de
do. Todavia, o pequeno número de pacientes com acordo com o grau nuclear, tamanho, distância das
margens maiores ou iguais a 5 mm impede conclu- margens e idade da paciente. Segundo os autores, a
sões definitivas nestas situações (Gráfico 1)10(A). recidiva nos casos de baixo risco sem radioterapia
A biópsia de linfonodo sentinela (BLS) deve foi de 3% em 12 anos nas 93 pacientes estudadas.
ser reservada aos casos de mastectomia e pode ser Porém, estes resultados não foram obtidos em ou-
discutida nos casos onde existam fortes suspeitas tros estudos que usaram as mesmas formas de se-
de carcinoma invasor como tumores maiores de leção. Os próprios autores do IPVN relataram 13,9%
4cm, lesões palpáveis, presença de comedonecrose. de recorrência na revisão de 12 anos com 212 pa-
Pode-se discutir com a paciente, a não realização cientes. Portanto, a radioterapia deve fazer parte do
do BLS, até que haja diagnóstico comprovado de tratamento conservador do CDIS. Obviamente, al-
invasão, deixando-se a indicação deste, apenas nos gumas situações clínicas podem ter risco absoluto
casos onde de fato existir a necessidade. de RL muito baixo e nestes casos a decisão sobre
irradiar a mama pode ser individualizada11(B).
TRATAMENTO RADIOTERÁPICO
TRATAMENTO SISTÊMICO
Os quatro estudos randomizados que avalia-
ram o impacto da radioterapia sobre o tratamento A única terapia sistêmica para o CDIS é a
do CDIS, alocaram 3.729 pacientes, com tempo mé- hormonioterapia com tamoxifeno (TMX), indicada
dio de seguimento de 8.9 anos. para tumores com receptores hormonais positivos.
Em todos os estudos, houve redução do risco de Apenas dois estudos avaliaram o impacto do TMX
recidiva em 50% (Gráfico 2), sem diferença estatística na recidiva local e na redução de mortalidade, sendo os
entre os subgrupos de CDIS. Nas pacientes submetidas resultado conflitantes, devido à seleção de pacientes.
à radioterapia, 47% das recidivas apresentaram-se com Aparentemente, existe benefício na redução das recidi-
174
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 18
Gráfico 2: Resultados dos estudos randomizados de cirurgia conservadora com ou sem radioterapia em CDIS
vas locais e contralaterais, principalmente nas pacien- INCA (Brasil), [citado em 2016 Aug 20]. Dispo-
tes pré-menopausadas, com margem positiva e com nível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/
comedonecrose. Já nas outras pacientes, não é possível connect/tiposdecancer/site/home/mama/
quantificar este benefício. Com relação à sobrevida glo- cancer_mama+.A
bal, dados preliminares mostram ganho de sobrevida 4. Goldhirsch A, Glick JH, Gelber RD. Meeting
anual de 1 a 2% após os 15 anos12,13(B). highlights: international expert consensus
Utiliza-se o tamoxifeno em pacientes com ris- on the primary therapy of early breast cancer
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176
19
CARCINOMA LOBULAR
IN SITU
Palavras Chave:
Carcinoma de mama in situ, Carcinoma mamário in situ,
Carcinoma lobular, Carcinoma Lobular in situ (LCIS)
178
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 19
tricidade14,22,26(A), o que é consistente com a noção va-se maior pleomorfismo nuclear ao invés da pro-
de que essas lesões constituem indicadores de liferação uniforme habitualmente descrita nestas
risco; todavia, alguns autores relataram uma fre- lesões.Observa-se ainda , frequentemente, área de
quência mais alta de câncer de mama na mama necrose central do tipo comedo e maior frequência
ipsilateral9,21,27(A), apoiando um papel precursor
para o CLIS. O tipo histológico de câncer de mama
após um diagnóstico de NL também difere nesses
relatórios. Em estudos que sugerem que o risco é
conferido de maneira igual a ambas as mamas se
relata, correspondentemente, a ocorrência de um
número igual de CDI e CLI após um diagnóstico de
CLIS22(A),o que é consistente com a noção de que o
CLIS não constituiria de fato uma lesão precurso-
ra. Por outro lado, em muitos dos estudos que rela-
tam uma incidência maior de desenvolvimento de
câncer de mama ipsilateral, a maioria dos cânceres
apresenta histologia lobular8,15,16,21,27(A).
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
179
CAP. 19 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
É importante ter uma adequada diferenciação dessas cia E-caderina-catenina disfuncional. A E-caderina
lesões , pois a abordagem é bastante diferente.(A) é uma molécula de aderência transmembrana en-
contrada em junções aderentes que media a ade-
PATOLOGIA MOLECULAR rência homofílica-homotípica em células epiteliais;
seu domínio intracitoplasmático está ligado à p120
O advento da microdissecção por captura a catenina e à β-catenina. Em células epiteliais da
laser e de métodos genômicos e transcriptômicos mama a perda de E-caderina acarreta o acúmulo ci-
de alta produtividade possibilitou o estudo de toplasmático e, por vezes nuclear, de p120 cateni-
lesões pré-invasivas da mama. Na última década na e a perda da expressão na membrana de β-cate-
estudos genéticos moleculares forneceram uma nina, porém não há acúmulo nuclear de β-catenina
riqueza de dados progressivamente mais coerentes nem ativação da via canônica Wnt20,21(A).
sobre as vias de evolução do câncer de mama e A ausência ou a sub-regulação acentuada da
de como esses achados se correlacionam com as expressão de E-caderina é observada em mais de 95%
características morfológicas8,30(B). de HLA, CLIS, CLISP, CLI e depósitos metastáticos de CLI,
Os estudos moleculares da NL foram fundamentais e é considerada como sendo a causa do característico
para destacar o papel da inativação da E-caderina no de distúrbio da coesão das células de NL e de CLISP8,11,21(B).
senvolvimento de lesões lobulares e para fornecer evidên Uma diferenciação precisa entre NL e CDIS tem
cias para demonstrar que a HLA e o CLIS constituem de importância primordial, especialmente em casos
fato precursores não obrigatórios do câncer invasivo e não em que essas lesões são encontradas nas margens
simplesmente indicadores de risco do desenvolvimento cirúrgicas. Alguma validação do uso da E-caderina
subsequente de câncer de mama.(A) na classificação vem de estudos clinicopatológicos
de pacientes apresentando um CLIS puro em
IMUNOFENÓTIPO biópsias, em que o CLIS positivo para E-caderina foi
associado a um risco mais alto de desenvolvimento
Todos os subtipos de CLIS se associam a uma de carcinoma invasivo em comparação ao CLIS
forte expressão de receptores RE-alfa (REα), RE- negativo para E-caderina.(A)
beta (REβ) e RP na maioria das células neoplásicas
. As formas clássicas de NL apresentam comumente TRATAMENTO CLÍNICO
um perfil imuno-histoquímico consistente com
aquele do câncer de mama RE-positivo, com um Na prática atual o tratamento do CLIS con-
comportamento clínico menos agressivo (isto é, tinua a ser um desafio. Embora amplamente acei-
luminal A), incluindo a ausência de expressão to como um fator de risco para o desenvolvimento
de HER2 e de p53, e evidenciam baixos índices subsequente do câncer de mama, o risco cumulati-
proliferativos, conforme definido por Ki67. O vo num período mais longo e nossa incapacidade
CLISP, por outro lado, pode apresentar níveis nulos de predizer quais mulheres vão desenvolver câncer
ou baixos de expressão de RE e RP, evidencia de mama geram uma incerteza considerável nos
frequentemente amplificação e positividade para o provedores e as opções de tratamento em 2013
gene HER2 e seus índices de marcação por Ki67 permaneciam variadas, indo da observação à ci-
são habitualmente mais altos que aqueles do CLIS rurgia de redução do risco bilateral. As diferenças
clássico.(A) nas respostas de pacientes individuais em níveis
de risco variáveis contribuem igualmente para as
E - CADERINA E PROTEÍNAS grandes variações vistas na prática clínica23.As op-
RELACIONADAS NA NEOPLASIA ções para o tratamento incluem :observação , qui-
LOBULAR mioprevenção e mastectomia profilática bilateral.A
radioterapia ou a mastectomia unilateral isolada
A NL, incluindo sua variante pleomórfica, e o pra o tratamento do CLIS não são consideradas op-
CLI se caracterizam por um complexo de aderên- ções de tratamento(A)
180
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 19
181
CAP. 19 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
de documentar a evolução clínica final e definir a mulheres em alto risco, as diretrizes da American
real magnitude do risco conferido por essa lesão, Cancer Society (ACS) não apoiam o uso rotineiro da
ao invés de se supor que seu comportamento clíni RM nesse contexto, afirmando que não há evidên-
co é conhecido e se recomendar um tratamento cias suficientes para se fazer uma recomendação
cirúrgico agressivo e/ou radioterapia. (A) contra ou a favor do rastreamento por RM em mu-
lheres em risco aumentado por CLIS, tornando algo
TRATAMENTO DE PACIENTES EM ALTO difícil se interpretar a diretriz da NCCN31(B).
RISCO No entanto , não há dados suficientes para re-
comendar a RM no screening de mulheres sob ris-
Depois de afastada uma condição maligna, as co intermediário para câncer de mama , incluindo
mulheres portadoras de CLIS devem ser informadas aquelas com CLIS.(A)
quanto a seu risco aumentado de câncer de mama.
Em comparação à população geral, as mulheres QUIMIOPREVENÇÃO
portadoras de CLIS têm um risco de oito a 10
vezes maior de câncer de mama11. Na série com o Dados prospectivos randomizados do Natio-
acompanhamento mais longo a probabilidade de nal Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project
desenvolvimento de um carcinoma in situ ou de um (NSABP) Breast Cancer Prevention Trial (BCPT, P-1)
câncer invasivo foi de 13% nos 10 primeiros anos demonstraram que em mulheres em alto risco o ta-
após o diagnóstico, de 26% após 20 anos e de 35% moxifeno diminuía em 49% o risco de desenvol-
a 35 anos ou aproximadamente 1% por ano28(B) vimento de câncer de mama invasivo32(A) . Assim
Ao se aconselhar mulheres em relação a seu risco, também, o ensaio NSABP Study of Tamoxifen and
é importante enfatizar que o ris co permanece Raloxifene (STAR, P-2) demonstrou que raloxifeno
constante durante sua vida e que, portanto, o risco era tão eficaz quanto tamoxifeno na redução do ris-
absoluto de câncer de mama de um indivíduo é co de câncer de mama em mulheres pós-menopau-
conferido por sua idade ao diagnóstico de CLIS. É sa de alto risco33(A). As mulheres com CLIS estavam
importante, porém, que muitas mulheres portadoras bem representadas em ambos os estudos, com-
de CLIS não irão desenvolver um câncer de mama preendendo 6,2% das 13.338 participantes no en-
invasivo.(A) saio P-1 e 0,2% das 19.747 participantes no ensaio
A mastectomia redutora de risco bilateral com STAR. Em ambos os subgrupos, a quimioprevenção
reconstrução imediata é considerada por muitos reduziu em mais de 50% o risco de desenvolvimen-
autores a principal tratamento para o CLIS , pois to de câncer de mama. Coletivamente esses dados
representa o único método que remove todos os levaram à declaração da American Society of Clini-
riscos pontenciais , diminuindo futuros riscos de cal Oncology (ASCO) recomendando 5 anos de ta-
doença invasiva. moxifeno em mulheres na pré-menopausa em alto
risco para se reduzir o risco de câncer de mama in-
VIGILÂNCIA vasivo RE-positivo e de raloxifene para se reduzir
o risco em mulheres na pós-menopausa. Ainda que
As NCNN Breast Cancer Screeening and Diag- não haja dados abordando diretamente o uso da
nosis Clinical Practice Guidelines (Diretrizes de Prá- quimioprevenção no CLISP, o fato de que a maioria
tica Clínica para Avaliação de Triagem e Diagnós- esmagadora dessas lesões é RE-positiva apoia um
tico do Câncer de Mama do NCCN) para mulheres papel potencial para a quimioprevenção em pa-
apresentando CLIS incluem mamografias anuais e cientes com esse diagnóstico.(A)
um exame clínico da mama (ECM) a cada 6 a 12
meses, com consideração de uma RM anual29(B). CIRURGIA DE REDUÇÃO DO RISCO
Embora estratégias de vigilância intensificada do
câncer de mama incluindo o rastreamento por RM Ao ser descrito originalmente o CLIS foi trata-
da mama sejam comumente recomendadas para do como uma condição maligna tornando necessá-
182
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 19
ria a mastectomia, assim como todos os carcinomas ção e/ou a segurança oncológica dessa abordagem
de mama nessa época, e essa permaneceu como a num período mais longo.
abordagem padrão até que os estudos demonstras- Considerando a cirurgia para a redução do ris-
sem que o risco efetivo de câncer de mama era me- co, as pacientes precisam estar plenamente cientes
nor do que o esperado e que as mulheres portadoras de todos os riscos e benefícios e devem ser enco-
de CLIS tinham igual probabilidade de serem diag- rajadas a considerar o impacto que a cirurgia profi-
nosticadas como apresentando cânceres de mama lática pode ter sobre sua qualidade de vida no que
ipsilaterais ou contralaterais; a mastectomia total diz respeito à imagem corporal e ao funcionamento
bilateral, portanto, seria a única operação lógica sexual. Caso vá ser realizada a reconstrução, elas
que reduziria efetivamente o risco. Paralelamente também devem ter uma expectativa razoável quan-
à tendência no sentido de uma terapia mais con- to ao resultado estético mais provável. A decisão
servadora para o tratamento do câncer de mama de se submeter à MBP é altamente individualizada
invasivo, a terapia cirúrgica agressiva do CLIS caiu e não deve ser tomada sem tempo bastante para
em desfavor e, na experiência moderna do MSKCC, se considerar todas as opções disponíveis para o
somente uma proporção minoritária das mulheres controle do risco.(A)
com CLIS (5%) se submete à mastectomia bilateral
profilática23. Ainda assim, a mastectomia bilateral RESUMO
profilática (MBP) pode ser uma opção razoável num
subgrupo de mulheres apresentando CLIS e outros 1-O CLIS e a HLA são achados patológicos in-
fatores de risco, tais como uma forte história fami comuns, fazendo parte de um espectro de prolife-
liar ou mamas extremamente densas.(A) rações epiteliais designadas como NL. Eles consti-
Historicamente a MBP era relatada como tuem tipicamente achados acidentais, identificados
acarretando uma redução de aproximadamente em até 4% das biópsias de mama fora isso benig-
90% no risco de desenvolvimento de um câncer nas, porém a prevalência do CLIS provavelmente
subsequente34(A). Esse número se baseava numa supera sua incidência, tendo em vista que eles não
análise retrospectiva de 639 mulheres com histó- apresentam manifestações iniciais ou característi-
ria familiar de câncer de mama se submetendo a cas de aquisição de imagens típicas.
mastectomias bilaterais profiláticas entre 1960 e 2-Um diagnóstico de CLIS confere um risco
1993. Enquanto é importante informar essas mu- cumulativo de câncer de mama subsequente num
lheres de que a mastectomia profilática não elimi- período mais longo que é em média de 1% a 2%
na inteiramente o risco de câncer, muitas mulheres por ano e permanece constante ao longo do tempo,
nessa série foram submetidas à mastectomia sub- acarretando um risco relativo de câncer de mama
cutânea, uma operação que caiu em desfavor devi que é oito a dez vezes maior que o risco da popu-
do à quantidade de tecido mamário deixada para lação geral. A HLA se associa a um risco relativo de
trás, e um estudo retrospectivo de casos-controles câncer de mama quatro a cinco vezes maior que o
mais recente avaliando a eficácia da MBP num con- da população geral.
texto de prática comunitária relatou uma redução 3-A excisão cirúrgica rotineira após um diagnós-
de 95% no risco30(B). O padrão de cuidado atual tico de NL a uma biópsia é apoiada pelas diretrizes do
na mastectomia profilática é a mastectomia total NCCN dos EUA; todavia, dados emergentes apoiam a
(com ou sem reconstrução), com o objetivo de se observação em casos em que não haja outras indica-
remover toda a glândula mamária, tal como se faria ções de excisão e a concordância radiológico-pato-
durante uma mastectomia terapêutica. O desejo de lógica tenha sido confirmada por uma revisão multi-
se preservar o mamilo nesse e em outros contextos disciplinar. Um diagnóstico de CLISP à biópsia deve
está se tornando cada vez mais comum e, embora ser seguido pela excisão cirúrgica, devido à elevada
isso possa acarretar um melhor resultado estético e frequência de câncer associado nas séries relatadas.
maior satisfação por parte das pacientes, ainda não 4-Um diagnóstico de NL feito por excisão
se dispõe de dados prospectivos apoiando essa no- cirúrgica não requer uma intervenção cirúrgica
183
CAP. 19 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
adicional; não há nenhuma indicação de se docu- of breast carcinoma in situ. Breast Cancer Res
mentar o estado das margens em espécimes que Treat 2003;78(1):7–15.
contenham unicamente uma NL. A presença de uma 9. Allen-Brady K, Camp NJ, Ward JH, et al. Lobu-
NL num espécime de nodulectomia ou na margem lar breast cancer: excess familiality observed
não é uma contraindicação à conservação da mama in the Utah Population Database. Int J Cancer
e não torna necessária a reexcisão. 2005;117(4):655–661.
5-Devido aos dados disponíveis, é razoável se 10. Reis-Filho JS, Pinder SE. Non-operative breast
tentar a excisão completa até margens negativas em pathology: lobular neoplasia. J Clin Pathol
casos de CLISP. Entretanto, não há dados apoiando a 2007;60(12):1321–1327.
eficácia da radioterapia nesse diagnóstico. 11. Chuba PJ, Hamre MR, Yap J, et al. Bilateral risk
6-As pacientes portadoras de NL devem ser for subsequent breast cancer after lobular
informadas de seu risco aumentado de câncer de carcinoma-in-situ: analysis of surveillance,
mama e instruídas quanto às opções tanto clínicas epidemiology, and end results data. J Clin On-
quanto cirúrgicas para a redução do risco. A qui- col 2005;23(24):5534–5541.
mioprevenção diminui significativamente, em pelo 12. Fisher ER, Land SR, Fisher B, et al. Pathologic
menos 50%, o risco de câncer de mama em pacien- findings from the National Surgical Adjuvant
tes com NL, e a mastectomia bilateral profilática Breast and Bowel Project: twelve-year obser
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185
CÂNCER DE MAMA
20
EPIDEMIOLOGIA
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Fatores de Risco, Incidência
Muitos fatores justificam a importância epide- Após a era da mamografia, houve um signifi-
miológica atribuída ao câncer de mama. Entre eles, e cante aumento no diagnóstico precoce do câncer
talvez o mais significativo, é sua elevada incidência, de mama7(A). Nos Estados Unidos, 58% das pacien-
inclusive em população mais jovem. Outra razão é a tes diagnosticadas com câncer de mama não têm
possibilidade de rastreamento precoce que, quando nenhuma metástase à distância ou em linfonodos
efetivo, aumenta as possibilidades terapêuticas, di- regionais8(B), e 17% encontram-se nos estádios III
minuindo seu custo e sua agressividade, aumentando e IV9(A). Em países desenvolvidos da Europa, entre
também a chance de cura e de proporcionar melhor 8.3-23.5% das pacientes são diagnosticadas nos es-
qualidade de vida para as pacientes. Identificando tádios III e IV10,11(B), na Nova Zelândia esse número é
seus fatores de riscos, é possível melhor orientar e in- próximo de 20%12(B). No Brasil, o estudo “Amazone”
dividualizar o rastreamento para, e assim diminuir o de 2009, mostra que 30% dos cânceres de mama são
impacto físico e psicológico que esta patologia inflige. diagnosticados nos estádios III e IV. A detecção em
estádios avançados é significantemente menor nas
INCINDÊNCIA regiões Sul e Sudeste, com cerca de 25%, enquanto
em outras regiões, como o Norte, supera 46%13(B).
O câncer de mama é uma das neoplasias ma- Estudo que avaliou 87.969 pacientes de múltiplos
lignas mais frequentemente diagnosticadas. É a prin- estados brasileiros entre 2000 e 2009, mostrou que
cipal causa de morte relacionada ao câncer entre 37,5% das pacientes apresentavam estádios IIB no
mulheres em todo o mundo, com 1,7 milhão de casos momento do diagnóstico14(B). O Centro de Referência
e 521.900 mortes em 2012. As taxas de mortalida- da Saúde da Mulher (CRSM) – Hospital Pérola Byin-
de têm diminuído em países desenvolvidos, os quais gton, na cidade de São Paulo, mostra dados recentes
são responsáveis por apenas 38% das mortes, núme- coletados de 3.566 pacientes tratadas no período de
ros já ultrapassados pelo câncer de pulmão1(B). De- 2012 a 2014, sendo 8,1% de pacientes com tumores
vido a fatores ainda não completamente entendidos, in situ, 17,2% no estádio I, 43,1% no II, 28,6% no III, e
tanto a incidência quanto a mortalidade por câncer apenas 3% no estádio IV15(B).
mamário vem aumentando em países da América Os casos avançados são decorrentes de diversos
Latina, Ásia, Africa e Europa Oriental. Uma possível fatores. Um deles está ligado às características tumo-
explicação poderia estar relacionada com a “ociden- rais. Os subtipos triplo negativos ou superexpressores
talização” dessa população, incluindo consumo caló- de HER 2, pelas características mais agressivas, são fre-
rico, sedentarismo, obesidade e fatores reprodutivos quentemente diagnosticados em estádios mais avan-
como atraso na primeira gestação e menor numero çados e não rastreáveis (cânceres de intervalo)16,17(B).
de filhos, além de falhas na detecção precoce e difi- A demora da paciente em procurar assistência médica
culdades de acesso ao tratamento2,3(B). é um dos fatores responsáveis, normalmente relacio-
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) prevê nado às situações socioeconômica e educacional des-
596.070 casos de câncer no Brasil em 2016, sendo favoráveis18-20(B). Outro importante fator está associa-
57.960 casos de câncer de mama, com um risco do a falhas no sistema de saúde pública na detecção
estimado de 56,20 casos a cada 100 mil mulheres. precoce para confirmação diagnóstica das pacientes
Em 2016, estima-se a morte de 14.388, sendo 181 sintomáticas, podendo ocorrer progressão da doen-
homens e 14.206 mulheres4(B). Devido ao tamanho ça21(B), com possível prejuízo na sobrevida global, es-
e à desigualdade socioeconômica entre as regiões pecialmente em pacientes jovens22,23(C).
do Brasil, existe uma disparidade no número de
mortes por câncer de mama, que se mostra menor CARACTERÍSTICAS TUMORAIS
ou estável em estados mais desenvolvidos do país,
porém com crescimento em estados menos desen- Existem diversos tipos histológicos de carcino-
volvidos5,6(B). mas de mama, sendo o mais frequente o tipo não
190
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 20
especial ou ductal com 50-80%, seguido do lobular quentes depois da menopausa, assim como os tri-
com 5-15%24(A). plo negativos acontecem com maior frequência em
Em relação aos subtipos, estudos mostram que mulheres mais jovens31(B).
72% dos cânceres são receptores hormonais positivos e Os fatores reprodutivos são bastante impor-
HER 2 negativos, vindo a seguir os triplo negativos com tantes, como a idade da menarca e da menopausa.
13% , os tumores receptores hormonais e Her 2 posi- Quanto mais precoce a idade da menarca, maior o
tivos com 10% e menos frequentemente os tumores risco para o câncer de mama. Uma metanálise en-
receptores hormonais negativos com HER 2 positivo volvendo 117 estudos epidemiológicos mostrou
5%25(A). Blows e colaboradores, encontraram dados se- que o risco relativo (RR) aumenta em 1.05 para cada
melhantes em estudo com casos provenientes da Aus- ano mais jovem da menarca32(A). Esse mesmo estu-
trália e diversos países da Europa e América do Norte: do mostrou também um aumento de RR de 1.029
71,76% de receptores positivos e HER 2 negativo, 16% para cada ano mais tardio da menopausa.
de triplo negativos, 6,24% de HER 2 e receptores positi- Mulheres na pré-menopausa apresentaram
vos e 6% de receptores negativos e HER 2 positivo26(B). maior risco (RR de 1.43) de desenvolver câncer de
No Brasil, trabalho publicado em 2014 que mama comparado com mulheres da mesma idade
mostra 63% de tumores luminais negativos para Her já menopausadas, especialmente tumores hormô-
2, 11% de luminais híbridos, 9% de Her2 exclusivos e nio sensíveis. Além disso, mulheres submetidas à
17% de triplo negativos. Houve maior incidência dos ooforectomia bilateral durante o menacme, portan-
triplo negativos e Her 2 positivos com receptores hor- to com menopausa iatrogênica, apresentaram redu-
monais negativos em mulheres da região Norte27(B). ção significativa do risco de câncer de mama33(B).
Outra publicação recente com 3.566 pacientes trata- Em relação à paridade, nulíparas têm risco
das no Hospital Pérola Byington (SP) mostrou 23.2% 30% maior de câncer de mama em comparação
de tumores luminais A, 46.1% luminais B, 16.1% tri- com as que já gestaram34(B), e quanto mais precoce
plo negativos e 17.4% de HER-2 positivos15(B). a gestação, maior a proteção. Mulheres que gesta-
ram depois dos 35 anos tem um RR de 2.25 até 3.7,
FATORES DE RISCO comparando-se com aquelas que tiveram filhos até
os 25 anos, especialmente para tumores hormônio
O risco médio para uma mulher branca nos EUA sensíveis (principalmente os lobulares) e diagnosti-
com 30 anos desenvolver cancer de mama até os 80 cados na pós menopausa35(B). Quanto maior a pari-
anos é de 11,3%, variando de 4.4 até 23.5% de acor- dade, maior o efeito protetor36(B).
do com a presença ou não de fatores de risco28(B). A amamentação está relacionada com fator
Existem vários fatores de risco para o câncer de protetor para câncer de mama, com um RR de 0.6
mama, alguns modificáveis e outros não. A idade é um para mulheres que amamentaram, podendo che-
importante fator. O risco de câncer de mama aumenta gar a 0.4 com o aumento do tempo de amamen-
rapidamente durante a idade reprodutiva até os 50 tação37(B). Uma metanálise de 2015 mostrou que
anos de idade, quando é mais prevalente, e depois este fator protetor acontece especialmente para
continua aumentando, porém mais lentamente29(A). tumores receptores de estrogênio e progesterona
Em países desenvolvidos, 8,8% dos carcino- negativos, necessitando maiores investigações para
mas de mama acontecem em mulheres abaixo dos os receptores positivos38(A).
40 anos contra 5,4% em pacientes em desenvol- Existe um aumento no risco de câncer em pa-
vimento, sendo o câncer mais comum em mulhe- cientes com mamas densas, tanto na pré quanto na
res nesta faixa etária30(B). No CRSM, entre 2012 pós menopausa39(A). Metanálise comparou este ris-
e 2014, 1.4% dos pacientes tinham menos de 30 co por porcentagem de densidade medida com ma-
anos, 11.1% entre 31 e 39 anos, 28.1% entre 40 e mografia, chegando ao RR de 1.79 em mamas com
49 anos, 48.7 entre 50 e 69 anos, e 10.7% acima de 5-24% de densidade, 2.11 entre 25-49%, 2.92 entre
70 anos15(B). Os subtipos positivos para estrogênio 50-74% e 4.64 >74% quando comparados a mamas
e progesterona e negativos para Her2, são mais fre- com menos de 5% de densidade40(A).
191
CAP. 20 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Doenças benignas das mamas aumentam o sáveis por cerca de 25% de todos os cânceres49(B).
RR em cerca de 1.5 em comparação com a popu- Existem alguns modelos preditores de risco para
lação em geral. Em lesões não proliferativas o RR câncer de mama familiar e relacionado com mutações
é de cercade 1.3, em lesões proliferativas sem ati- genéticas, sendo um dos mais utilizados globalmente o
pia 1.9 e em lesões proliferativas com atipia 4.2. BOADICEA. Ele leva em consideração especialmente fa-
Pacientes sem história familiar importante com le- tores familiares para identificar a probabilidade de mu-
sões não proliferativas não apresentam aumento tação e o risco/vida de apresentar câncer de mama50(B).
do risco41(B). O RR para câncer de mama em pacien- História pessoal de radiação em tórax, como
tes com fibroadenoma excisado é de 1.48-1.7042(B), acontece no tratamento da doença de Hodgkin, au-
quase que dobrando se o fibroadenoma for comple- menta significantemente o risco para outros cânce-
xo, em parte pela concomitância deste com outras res, sendo o mais frequente o câncer de mama51(A).
proliferações de maior risco43(B). Esse risco aumenta quanto maior a dose e mais
Outro fator de risco é o antecedente pessoal jovem a idade da paciente durante o tratamento.
de câncer de mama. Comparadas com mulheres Em metanálise de 2012, o RR para quem recebeu
nunca diagnosticadas com carcinoma mamário, apenas radioterapia é de 4.70, e se quimioterapia
mulheres com o antecedente pessoal tem o risco também foi administrada, o RR sobe para 5.6552(A).
1.5 maior de apresentar um câncer de mama, che- Ganho de peso após a menopausa está asso-
gando a 4.5 se diagnosticado antes dos 40 anos. ciado a um maior risco de câncer de mama, espe-
Cerca de 40% de todos os novos cânceres diagnos- cialmente os luminais. Mulheres que apresentaram
ticados entre sobreviventes de câncer de mama são aumento de IMC para níveis de obesidade compa-
novas neoplasias malignas da mama44(B). rada com as que se mantiveram com IMC normal
O risco de desenvolver câncer de mama au- apresentam chance de câncer de mama duas vezes
menta proporcionalmente com a quantidade de maior53(B). O RR para câncer de mama em mulheres
parentes de primeiro grau com esta doença. Com- sem uso de terapia hormonal (TH) ou em uso de TH
paradas com mulheres sem história familiar em pa- de baixa dosagem, foi de 1.11 para cada 5kg ga-
rentes de primeiro grau, o risco aumenta em 1.80 nhos54(B). Um estudo encontrou que o RR para cada
para um parente de primeiro grau, 2.93 para dois e 5kg ganhos foi de 1.19, porém, quando ajustado
3.90 para três ou mais. Quanto mais jovem um pa- para níveis normais de estradiol livre, o RR baixou
rente de primeiro grau tem câncer de mama, maior para 1.02, sugerindo uma explicação relacionada
o risco para desenvolver câncer de mama, especial- aos níveis circulantes de estradiol55(B). Outro estu-
mente abaixo dos 50 anos45(B). do mostra que a hiperinsulinemia, frequentemente
Existem alterações genéticas que aumentam o associada à obesidade, está associada positivamen-
risco de câncer de mama, sendo as mais importantes te com o câncer de mama (hazard ratio (HR) para
as mutações em BRCA 1 e BRCA 2. A prevalência é níveis mais elevados vs menos elevados de insulina
baixa, são responsáveis por cerca de 2% de todos os de 1.46), especialmente em não usuárias de terapia
cânceres, aumentando a porcentagem quanto mais hormonal combinada (HR de 2.40)56(B).
jovens as pacientes, em pacientes com histórico fa- Atividade física parece ter um fator protetor
miliar importante46(B). Cerca de 20% dos tumores tri- em metanálise, onde o RR para as praticantes foi de
plo negativos são em pacientes mutadas para BRCA 0.88, aparentando ser intensidade dependente58(A).
1 (15%) e BRCA 2 (5%)47(B). Apesar da baixa prevalên- O sedentarismo é importante, especialmente na
cia, a penetrância é bastante elevada: o risco acumu- época atual. Os trabalhos relacionando o risco de
lado até os 70 anos chega a 65% (44-78%) nas BRCA câncer de mama associado ao sedentarismo são
1 mutadas e 45% (31-56%) nas BRCA 248(A). Outra conflitantes. Metanálise de 34 estudos mostrou dis-
importante mutação é a do gene TP53 (Síndrome de creto aumento do risco de câncer de mama asso-
Li-Fraumeni), onde quase 100% das mulheres irão ciado ao sedentarismo. Neste grupo encontramos
desenvolver câncer durante a vida, sendo os mais com maior frequência obesidade, hiperinsulinemia
comuns câncer de mama e sarcomas, ambos respon- e aumento da densidade mamária, que conforme já
192
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 20
discutido, já são fatores de risco por si só57(A). de interromper cai para 1.16, em 5-9 anos depois
Entre os consumidores de bebidas alcoólicas, da suspensão do uso é de 1.07, desaparecendo de-
o RR de câncer de mama sobe para 1.28, sendo do- pois dos 10 anos da interrupção, com RR 1.0169(B).
se-dependente59(B). Pacientes com ouso diário de Apesar de mais estudos serem necessários, o uso
5-9.9g de álcool ao dia durante a vida tem RR de de progestágenos isolados como anticoncepcio-
1.15, já com 15-30g/diao risco aumenta em 33% o nais nunca foram associados com um risco aumen-
risco de câncer de mama60(B). tado para neoplasias malignas das mamas70,71(B).
A literatura recente mostra uma associação, Os estudos são conflitantes em relação ao sistema
embora que não tão importante, do tabagismo com intrauterino liberador de levonorgestrel (SIU-L).
o câncer de mama, especialmente em mulheres que Alguns estudos relatam não observar maior risco
fumam por muito tempo ou que iniciaram o taba- de câncer de mama em usuárias de SIU –L72(B), en-
gismo antes da primeira gestação. Esse risco está
associado à duração, intensidade, exposição acu- Tabela 1 - Fatores de risco para o câncer de mama
sobreviventes do próprio WHI que receberam ape- Lesões não proliferativas* RR de 1.3
nas estrogênio por uma media de 5.9 anos, em um Lesões proliferativas sem atipias RR de 1.9
follow-up médio de 11.8 apresentaram redução de Lesões proliferativas com atipias RR de 4.2
não é consistente em todos os estudos, mas parece 5-9 anos depois da interrupção RR de 1.07
pacientes em uso é de 1.24, após 1-4 anos depois QT= Quimioterapia P= Progesterona
TH= Terapia Hormonal AHCO= Anticoncepcional hormonal combinado oral
193
CAP. 20 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
quanto outros encontraram uma maior incidência 3. Anderson BO, Braun S, Lim S, Smith RA, Taplin
entre essas mulheres73,74(B). Estudos mostram que S, Thomas DB, et al. Early detection of breast
ao ser usado em pacientes com câncer de mama cancer in countries with limited resources.
em uso de tamoxifeno, não parece haver aumen- Breast J 2003 Mai-Jun 9;2:S51–9.
to do risco de recorrências, e existe fator protetor 4. Inca.gov.br. Instituto Nacional de Cânc-
para formação de pólipos endometriais e outras er (INCA), 2015 Nov. Available from: http://
patologia benignas do endométrio75,76(B). www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tipos-
Uma mulher com alto risco não modificável decancer/site/home/mama/cancer_mama+
para câncer de mama, ao adotar um estilo de vida 5. Disparities in female breast cancer mortal-
mais saudável, por exemplo, não fumando, não ity rates in Brazil bxetween 1980 and 2009.
bebendo e evitando outros fatores de risco como 2012; 67:731-7.
TH, com um consequente risco semelhante ao da 6. Temporal trends in female breast cancer mortal-
população geral77(B). A atividade física, além de ity in Brazil and correlations with social inequal-
ajudar no combate ao sobrepeso e a obesidade ities: ecological time-series study. 2015; 15:96.
(que como já visto anteriormente, são importan- 7. Reduction in late-stage breast cancer inci-
tes fatores de risco para o carcinoma mamário na dence in the mammography era: Implications
pós-menopausa), leva a uma redução dos níveis de for overdiagnosis of invasive cancer. Can-
estradiol total e livre, e um aumento da SHBG, po- cer 2014;120:2649-56.
dendo ter uma importante função com na redução 8. Breast cancer statistics, 2015: Convergence
do risco de câncer de mama78,79(B). of incidence rates between black and white
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CONSIDERAÇÕES GERAIS 9. Differences in breast cancer stage at diagno-
sis and cancer-specific survival by race and eth-
É importante salientar, que Independente- nicity in the United States. 2015;313:165-73.
mente dos fatores de risco e da agressividade do 10. McPhail S, Johnson S, Greenberg D, Peake
tumor, quanto menor o estádio do tumor, melhor M, Rous B. Stage at diagnosis and early
a sobrevida do paciente80(A) e melhor a qualidade mortality from cancer in England. Br J Can-
de vida, com maiores chances de cirurgia conser- cer. 2015;1:S108-15.
vadora. É fundamental que o sistema de saúde for- 11. Walters S, Maringe C, Butler J, Rachet B, Bar-
neça orientações em relação ao câncer de mama rett-Lee P, Bergh J, et al. Breast cancer survival
(tanto para profissionais da saúde quanto para a and stage at diagnosis in Australia, Canada,
população), um rastreamento adequado individua- Denmark, Norway, Sweden and the UK,2000-
lizando as necessidades individuais de cada mulher 2007: a population-based study. Br J Can-
baseado nos seus fatores de risco, e que quando cer 2013; 108:1195-208.
identificada lesão suspeita, ela seja prontamente 12. Seneviratne S, Lawrenson R, Harvey V, Ram-
encaminhada para um serviço preparado para con- saroop R, Elwood M, Scott N, et al. Stage of
tinuar com a investigação e se necessário, iniciar o breast cancer at diagnosis in New Zealand:
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 20
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197
CAP. 20 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
198
21
IDENTIFICAÇÃO DE
PACIENTES DE ALTO RISCO
(ESPORÁDICO E HEREDITÁRIO)
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Fatores de risco
200
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 21
ne como pacientes de risco intermediário (15-20%) mas densas têm mais tecido fibroglandular e me-
para desenvolvimento de câncer de mama as que nos gordura, e é bem estabelecido que as mulheres
apresentam Carcinoma Lobular in situ, hiperplasia com estas características têm maior risco para cân-
atípica e história pessoal de câncer de mama, in- cer de mama, com RR de 2 a 4 vezes maior.11(A) Es-
clusive Carcinoma Ductal in situ; e para alto risco tudo envolvendo 2.392.998 mulheres, comparando
(≥ 20%) pacientes com mutação pessoal ou familiar a densidade mamográfica, obteve um risco relativo
dos genes BRCA1 ou BRCA2, radioterapia torácica de 4,09 para desenvolvimento do câncer em ma-
entre 10 e 30 anos, Síndromes de Li-Fraumeni, Cow- mas densas.12(A) A densidade mamária pode masca-
den e Banna-yan-Riley-Ruvalcaba.8(B) rar nódulos nas mamografias de rastreamento13(B),
com resultados falso-negativos ou retardando o
ANÁLISE SUBJETIVA DE RISCO diagnóstico da doença.
Os fatores de risco modificáveis, são aqueles
A análise subjetiva do risco é feita com a pes- que podem se alterar ou modificar ao longo da vida,
quisa minuciosa da história clínica e familiar, pois como, por exemplo, dietas e hábitos de vida mais
existem muitos fatores de risco para o câncer de saudáveis. Entre eles estão: o índice de Massa Corpó-
mama, que muitas vezes não são lembrados duran- rea (IMC) > 30 na pós menopausa, o ganho de peso
te a anamnese. Importante analisar bem os dados resulta em maior nível de estrogênio circulante nos
da história coletada, pois sua interpretação depen- tecidos, é um fator de risco independente para o cân-
derá também da estrutura familiar, ou seja, mulhe- cer de mama, como já descrito em vários estudos;
res com possível câncer de mama hereditário com consumo álcool; tabagismo; terapia hormonal com-
estruturas familiares limitadas podem apresentar binada na pós menopausa e anticoncepcional oral.
número menor de casos na família.9(A) 13-14
(A) Há dados consistentes na literatura de que
Organizaremos os fatores de risco em grupos, quanto maior a exposição ao estrogênio da mulher
para uma compreensão e análises mais didática e ao longo da vida, maior o risco de desenvolvimento
criteriosa. de câncer de mama. A terapia de reposição hormonal
Dentre os fatores não modificáveis, ou seja, com estrogênio e progesterona combinados aumen-
fatores que são constitucionais, pertencem a cada ta o risco de câncer de mama e este risco aumenta
indivíduo e não há o que se possa fazer para modi- conforme o tempo de uso.15(B),16(A)
ficá-los temos: Outros fatores que tem sido considerados
• sexo feminino como de risco, em alguns estudos, é a densidade
• idade avançada óssea e a história de fratura em 5 anos, pois tam-
• menarca precoce (antes dos 12 anos); bém estão relacionados à exposição de estrogênio
• menopausa tardia (após os 55 anos); ao longo da vida da mulher. A história de fratura em
• nuliparidade; 5 anos apresenta um RR de 0,6 para o desenvolvi-
• primeira gestação tardia, após os 30 anos; mento da doença.17-18(B)
• raça e etnia (descendentes dos judeus De acordo com o Manual do National Com-
Ashkenazi); prehensive Cancer Network (NCCN) atualizado em
• mamas densas 2016, os critérios para avaliação da história de risco
• fatores genéticos (mutações BRCA 1, BRCA familiar são um ou mais dos seguintes critérios:
2, PTEN, P53, ATM, CHEK2, CDH1, STK11, • parente próximo com mutação conhecida
TWIST1, entre outros). em gene com suscetibilidade para o cân-
A incidência do câncer de mama em mulheres cer de mama;
é muito maior que em homens, sendo assim, ser mu- • dois ou mais parentes de primeiro grau
lher, é um fator de risco para desenvolver a doença. (do mesmo lado da família) com câncer de
A constituição do tecido mamário varia em mama com mais de 50 anos;
cada indivíduo, devido diferenças na distribuição • parente com história de um segundo câncer
celular dos adipócitos, estroma e epitélio.10(B) Ma- de mama primário, incluindo o câncer de
201
CAP. 21 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mama bilateral ou dois ou mais tumores na possuem um risco de 80 a 100 vezes maior de de-
mama ipsilateral sincrônicos ou anacrônicos; senvolver câncer de mama que a população em ge-
• história de parente com câncer de ovário; ral.19(A),20(B)
• história de câncer de mama em homem; Na tabela 2 apresentamos alguns dos fatores
• parente de primeiro ou segundo grau com de risco e seu risco relativo para o desenvolvimento
câncer de mama antes dos 45 anos; do câncer de mama.21(A)
• história familiar de três ou mais dos se-
guintes em parentes, principalmente se ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCO
ocorridos em idade precoce e mais de um
tumor primário no mesmo indivíduo: cân- Vários modelos de previsão de risco de câncer
cer de mama, câncer de pâncreas, câncer de mama estão disponíveis para as mulheres não
de próstata (Score de Gleason ≥ 7), câncer afetadas; eles diferem ao considerar os fatores de
gástrico difuso, câncer de colón, câncer de risco e em suas abordagens estatística.22(A),23(B) To-
endométrio, melanoma, sarcoma, carcino- dos os modelos permitem calcular o risco de câncer
ma adrenocortical, tumores cerebrais, leu- de mama, e alguns também, calcular o risco de mu-
cemia, câncer de tireóide, câncer de rim, tações nos genes BRCA1 e BRCA2. Alguns calculam
manifestações dermatológicas, macroce- tanto os riscos em cinco anos e ao longo da vida, as-
falia, pólipos hamartomatosos de trato sim como o tipo e número de variáveis diferentes;
gastrointestinal.14(A) alguns se concentram mais na história da família e
Mulheres com história pessoal de várias bióp- outros, em variáveis pessoais, tais como história de
sias de mama, dentre elas atipia epitelial plana, hi- biópsias de mama, paridade e densidade mamográ-
perplasia atípica ou carcinoma lobular in situ (LCIS), fica24(A),25(B) - Tabela 3.
história de doença de Hodgkin prévia tratada com Uma importante vantagem dos modelos gené-
irradiação de parede torácica antes dos 30 anos, his- ticos é que eles podem calcular riscos de apresentar
tória de câncer de mama antes dos 50 anos, câncer a doença, para qualquer grupo familiar. No entanto, a
de mama triplo negativo antes dos 60 anos são fato- sua adequação depende de identificar todos os efei-
res de risco pessoais para câncer de mama.14(A) Gene Freq. RR < 50 anos RR 50-69 anos Risco Absoluto
Existem algumas síndromes genéticas muito BRCA 1 0,1% 33 15 65%
bem estudadas que estão relacionadas ao maior BRCA 2 0,13% 12 12 45%
risco para o câncer de mama, estas síndromes estão TP53 0,01% NA NA 90%
relacionadas com mutações de genes conhecidos, PTEN <0,01% NA NA 30%
destacando-se a Síndrome de Predisposição Here-
ATM 0,5% 5 1,5 15%
ditária ao Câncer de Mama e Ovário (HBOC) que en-
CHEK2 0,5% 3 2 10%
volve a mutação dos genes (BRCA1 e BRCA2), Sín-
Tabela 1: Risco Relativo do câncer de mama de várias mutações genéti-
drome de Li-Fraumeni com mutação do gene p53, cas e a freqüência destas mutações na população. Fonte: figure 6 página
Síndrome de Cowden do gene PTEN, variante de 180 do Santen RJ, Boyd NF, Chlebowski RT, Cuzick J, et al. Critical asses-
Li-Fraumeni com mutação do gene CHEK2, Síndro- sment of new risk factors for breast cancer: considerations for develop-
ment of an improved risk prediction model. Endocrine-Relative Cancer.
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dentre outras. Geralmente estas síndromes são de
transmissão vertical, caráter autossômico dominan- tos genéticos que podem ser apenas aproximados,
te e têm associação com outros tumores. Estas sín- pois ainda não foram descobertos todos os genes
dromes serão abordadas com mais detalhes, ainda que predispõem ao câncer de mama.26(B)
neste capítulo. A ferramenta mais amplamente disponível
Indivíduos com mutação do BRCA1 e BRCA2 para calcular o risco de câncer de mama é a fer-
possuem risco absoluto para o desenvolvimento do ramenta de Breast Cancer Risk Assessment (BCRAT),
câncer de mama de 40 a 65% até os 80 anos de também conhecido como modelo de Gail, em ho-
idade (Tabela 1), e homens com mutação do BRCA2 menagem ao Dr. Mitchell Gail, seu desenvolvedor,
202
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 21
mama (BCDDP) e o estudo CARE. Ela permite o cál- FATOR GAIL CLAUSS BRCAPRO IBIS BOADICEA
• Número de biópsias de mama, anteriores; Tabela 3: Modelos de avaliação de risco. Fonte: Kurian AW, Antoniou AC,
Domchek SM. Refining Breast Cancer Risk Stratification: Additional Ge-
• Hiperplasia atípica, se qualquer biópsia de nes,Additional Information. In: ASCO EDUCATIONAL BOOK . 2016. Availa-
mama; ble from: www.asco.org/edbook.2016.
203
CAP. 21 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
de Gail27(A), são amplamente utilizados na prática desenvolver câncer de mama e as estimativas de mu-
clínica, mas não podem capturar informações de tações BRCA1 / BRCA2. O estudo realizado por Amir e
história familiar suficiente para as mulheres com colaboradores avaliou IBIS e vários outros modelos de
história familiar mais extensa. Por esse motivo, os risco (não incluindo BRCAPRO) e constatou que o mo-
outros modelos foram criados. delo IBIS teve a melhor precisão dos modelos testa-
Os modelos mais utilizados estão disponíveis dos. O modelo IBIS foi o mais consistentemente exato.
virtualmente e de livre acesso. (Tabela 4) Exceto para o modelo de Gail, o modelo IBIS é o único
que incorpora a história de hiperplasia atípica.
MODELO BRCAPRO No entanto, o trabalho feito por Boughey e co-
laboradores, descobriram que o modelo superesti-
É um modelo de computador, criado por in- mou o desenvolvimento de câncer de mama em um
vestigadores da Universidade do Sudoeste de Texas grupo de mulheres com hiperplasia atípica seguido
Medical Center at Dallas and Duke University. por uma média de 14 anos.33(B)
BRCAPRO incorpora seis modelos preditivos para o
câncer de mama hereditário ou familiar: MODELO BOADICEA
- Modelo de história familiar de Claus
- Modelo Couch Foi desenvolvido para determinar a suscepti-
- Modelo de Shattuck - Eidens bilidade para o câncer de mama e de ovário por
- Modelo Frank causa de mutações genéticas. Uma comparação en-
É um modelo de probabilidade Bayesiana de- tre BOADICEA com outros quatro modelos de pre-
senvolvido por esses investigadores. visão, em 1934 famílias com mutação de BRCA1 /
O programa resultante pode ser usado para BRCA2, descobriu que BOADICEA previu melhor o
construir uma árvore familiar que considera o máximo número total de mutações observadas. BOADICEA
de informações disponíveis para calcular chances de tem um desempenho semelhante ao BRCAPRO na
desenvolver câncer de mama (ou ovário) e a probabi- discriminação dos fatores de risco, e melhor do que
lidade de ser portador do gene BRCA1 ou BRCA2.32(B) três outros modelos.34(B),35(A)
Este modelo incorpora ambos os fatores de risco Síndromes genéticas hereditárias como a Sín-
genéticos e não genéticos para determinar o risco de drome de Câncer de Mama e Ovário, são causadas
BOADICEA http://www.ccge.medschl.com.ac.uk
Claus http://www.cyrillicsoftware.com
204
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 21
por uma linha germinal patogênica variante nos • Ressonância Nuclear Magnética anual en-
genes BRCA1 ou BRCA2. É caracterizada por um au- tre as idades de 25 a 29 anos;
mento do risco de câncer de mama, ovário, pâncreas • Mamografia anual e Ressonância Nuclear
e outros cânceres. A identificação de quem tem uma Magnética de mama entre as idades de 30
mutação BRCA1/ BRCA2 é importante para que eles a 75;
possam se beneficiar do aconselhamento genético, • Avaliação de quimioprevenção e mastec-
triagem e estratégias de prevenção capazes de sal- tomia de redução de risco;
var suas vidas36(B) - Tabela 5.48(B) • Salpingo-oforectomia redutora de risco ti-
picamente entre 35 anos a 40 e quando
SÍNDROME DE CÂNCER DE MAMA E tem prole constituída;
OVÁRIO HEREDITÁRIO Recomendações para portadores da mutação
BRCA masculino são:
A maioria dos cânceres de mama e ovário • Auto-exame de mama e exames clínicos
hereditários são devidos a mutações germinativas da mama a cada 12 meses a partir de 35
altamente penetrantes em BRCA1 ou BRCA2, que anos de idade;
são herdados de forma autossômica dominante. Até • Apartir de 40 anos de idade, o rastreamen-
20% dos doentes com essa síndrome tem uma mu- to de câncer de próstata com o antígeno
tação num desses genes ou outro (gene) que con- específico prostático anual, e exame físico
fere um risco moderado a alto para estes cânceres. recomendado para portadores da mutação
Os dados que afirmam as características clí- BRCA2; considerar também em portadores
nicas associadas a mutações de BRCA são discuti- da mutação BRCA1.40(A)
dos a seguir:
As mulheres que desenvolvem câncer de mama SÍNDROME DE LI - FRAUMENI
aos 40 anos de idade ou mais jovens estão em risco
aumentado para uma mutação BRCA, especialmente A Síndrome de Li-Fraumeni (SLF) foi inicialmente
se forem de etnia Judaica - Ashkenazi. Por exemplo, descrita, a partir de 4 casos, em 1969 por Frederick Li e
em uma coorte selecionada de mulheres não-judias Joseph Fraumeni. A definição original foi posteriormen-
com câncer da mama diagnosticadas antes dos 40 te criada em 1988 a partir observação de 24 famílias
anos, menos de 10% tiveram uma mutação BRCA, en- que se apresentaram com uma transmissão autossômi-
quanto o risco em um grupo comparável de mulhe- ca dominante de tumores de início precoce, incluindo
res judias é de cerca de 30% a 35%.37(A) sarcomas de tecidos moles, câncer de mama, tumores
Na metanálise realizada por Tun e colabora- do sistema nervoso central, leucemias e carcinomas
dores, mostraram que os pacientes com câncer de adrenocorticais antes dos 45 anos de idade.41(A)
mama triplo negativo, tem um risco maior de 5 ve- Em 1990 foram identificadas mutações do
zes de ser portador de mutação BRCA1 comparadas gene TP53 nas famílias com doença anteriormente
com mulheres que não eram triplo negativo.38(B) descritas e com isso foi possível consolidar a desco-
E no artigo publicado por Couch e colabora- berta da SLF. Vinte e quatro anos depois, apesar de
dores, em 1824 mulheres com câncer de mama tri- contradições transitórias, o único gene comprova-
plo negativo, que não tinham historia familiar de damente demonstrado que está envolvido na SLF é
câncer de mama, 8,5% tinham uma mutação BRCA1 TP53. Portanto, as mutações neste gene podem ser
e 2,7% tinham uma mutação BRCA2.39(B) definidas como uma forma hereditária de câncer.
Resumidamente, as principais recomendações Para definir como SLF, os seguintes critérios
para mulheres não afetadas com câncer de mama, foram estabelecidos:
porém portadoras dos Genes BRCA, são:
• Auto exame da mama a partir de 18 anos; Os critérios Chompret:
• Exame clínico da mama a cada 6 a 12 me- 1. Apresentação familiar - câncer de mama; sar-
ses de início aos 25 anos; coma de tecido moles; osteossarcoma; tumor
205
CAP. 21 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
de sistema nervoso central; carcinomas adre- Situações onde o teste de mutação TP53 deve ser
nocorticais; leucemia; câncer broncoalveolar considerada pode ser dividido em várias categorias:
até 46 anos; e um parente até segundo grau • Os indivíduos de alto risco para a síndrome
com um destes tumores até 56 anos ou com de Li-Fraumeni com base em suas caracte-
múltiplos tumores; rísticas clínicas.
2. Múltiplos tumores primários (dois dos quais • As pessoas que satisfazem os critérios clás-
pertencem ao espectro SLF estreito, o primeiro sicos para a síndrome de Li-Fraumeni, ou
a ser desenvolvido antes de 46 anos) ou; critérios Chompret, ou que têm outras com-
3. Cânceres raros (carcinomas adrenocorticais binações de câncer e história familiar que
ou carcinoma do plexo coróide, independen- os colocam em risco de Li-Fraumeni como
temente da história familiar). síndrome, mas em quem não há mutação
conhecida na família. Neste cenário, é neces-
A sensibilidade e especificidade destes crité- sária uma avaliação laboratorial extensa e
rios foram estimados a 82% a 95% e 47% a 58% , detalhada para a mutação.
respectivamente.42(A) • Um resultado negativo não exclui o diagnós-
Para pacientes com síndrome de Li-Frau- tico da síndrome de Li-Fraumeni, e estes in-
meni ou suspeita de síndrome de Li-Fraumeni, as divíduos ainda podem precisar ser tratados
principais questões incluem testar as mutações no como se tivessem síndrome de Li-Fraumeni.
gene TP53. • Testes de fatores predisponentes podem
Testes para mutações deletérias em TP53 ser considerados para indivíduos de uma
podem fornecer informações importantes tanto família com uma mutação TP53 conheci-
para o indivíduo testado quanto para outros mem- do. Neste contexto, os testes podem ser
bros da família. restritos para a mutação conhecida. Um
A decisão de que se deve ou não prosseguir teste negativo neste cenário descarta
com os testes genéticos requer uma avaliação cui- efetivamente a síndrome de Li-Fraumeni.
dadosa dos múltiplos fatores. Aqueles que não optarem por se subme-
206
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 21
terem a testes devem ser manejados como significativas de SP que não preenchem os critérios
se tivessem a mutação TP53. diagnósticos para SP.44(A)
• Teste pré-natal pode ser considerado para A Síndrome de Cowden tem efeitos em quase
gestações de alto risco em situações em todos os sistemas de órgãos e uma equipe de tra-
que uma mutação TP53 foi identificada. tamento multidisciplinar é necessária , que inclui o
Por outro lado, há controversias sobre a ne- aconselhamento genético adequado.
cessidade de fazer o teste, pelas seguintes razões: As seguintes recomendações de manejo se apli-
• Fatores-chave a considerar ao decidir se cam a pacientes com mutações PTEN bem como para
deve ou não realizar os testes incluem a aqueles que se ajustam aos critérios de diagnóstico
heterogeneidade genética associada a pre- clínico para a síndrome de Cowden, mas não têm uma
disposição ao câncer, o fato de que os testes mutação detectada. Note-se que estas recomenda-
genéticos só detectam aproximadamente ções são baseadas na opinião de especialistas, dada
70% a 75% dos indivíduos com SLF, e o a raridade das síndromes e falta de ensaios clínicos.
impacto psicossocial de um teste positivo. Além do aconselhamento genético e educa-
• Além disso, há pouca evidência de que o ção sobre a síndrome e possíveis manifestações, as
conhecimento do estado da mutação TP53 recomendações para todos os pacientes incluem:
pode alterar a história natural de cânceres • Exame físico anual, com especial atenção para
associados a Síndrome de Li-Fraumeni.43(A) mama e tireóide, a partir de 18 anos de idade
ou cinco anos antes da idade mais jovem do di-
PTEN: SÍNDROME DOS HAMARTOMAS agnóstico de um câncer componente na família;
MÚLTIPLOS INCLUINDO SÍNDROME DE • Ultra-som da tireóide iniciando aos 18 anos e
COWDEN depois anualmente;
• A colonoscopia na idade de 35 anos e, em se-
A síndrome do tumor PTEN (hamartoma) inclui guida, a cada cinco anos ou mais frequente-
síndrome de Cowden (SC), síndrome de Bannayan-Ru- mente, se o paciente é sintomático ou pólipos
valcaba-Riley (SBRR), síndrome relacionada - PTEN são encontrados;
Proteus (SP) e síndrome de Proteus-like. • Considere ecografia renal aos 40 anos e repe-
SC é uma síndrome de hamartomas múltiplos tir a cada um a dois anos;
com alto risco de tumores benignos e malignos da • Consideração do exame dermatológico anual.
tiróide, da mama e do endométrio. Os indivíduos afe-
tados geralmente têm macrocefalia, triquilemomas e Recomendações especificamente para mulhe-
pápulas papilomatosas, presentes até o final dos 20 res incluem:
anos de idade. O risco de desenvolver câncer de mama • Autoexame da mama, incluindo a notificação ime-
é de 85%, com uma idade média de diagnóstico entre diata para os médicos de todas as mudanças e ex-
38 e 46 anos. O risco de câncer de tireóide (geralmen- ames periódicos de mama, a partir de 18 anos;
te folicular, raramente papilar, mas nunca câncer me- • Exame clínico da mama a cada 6 a 12 meses,
dular da tiróide) é de aproximadamente 35%. O risco com início na idade de 25 anos ou individu-
de câncer do endométrio pode aproximar-se à 28%. alizada com base na idade mais precoce de
SBRR é uma doença congênita caracterizada câncer de mama na família;
por macrocefalia, polipose hamartomatosa intestinal, • Mamografia anual e ressonância magnética
lipomas e máculas pigmentadas da glande. de mama para rastreio a partir de 30 anos de
SP é uma doença complexa, envolvendo malfor- idade até os 35 anos, ou 5 a 10 anos antes da
mações congênitas e sobrecrescimento hamartoma- idade primeiro caso de câncer de mama con-
toso de vários tecidos, bem como o tecido conjuntivo, hecido na família;
nevos, epidérmica e hiperostose. • Educação sobre câncer de endométrio e pron-
Síndrome de Proteus-like é indefinido, mas ta resposta a sintomas consistentes com cânc-
refere-se a indivíduos com características clínicas er de endométrio;
207
CAP. 21 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
208
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 21
decisões sejam feitas geralmente em uma base de dução da mortalidade ainda não está comprovada,
casos, como são as decisões sobre quimioprevenção mas vários estudos demonstram eficácia e boa rela-
usando modulador seletivo do receptor de estróge- ção custo-benefício. A mamografia (MMG) e a resso-
no ou inibidores da aromatase . A principal recomen- nância magnética (RM) são os métodos de escolha,
dação é que estas pacientes devem ser manejadas porém, nas pacientes com mamas densas a mamo-
semelhante aos portadores BRCA1 / BRCA2.49(B) grafia torna-se menos sensível. A sensibilidade da
Em geral , a triagem deve começar nas idades RM pode variar de 86 a 100%, sendo altamente sen-
listadas na Tabela 6, ou 10 anos mais cedo do que sível para detectar câncer de mama em mulheres
a idade em que o câncer desenvolvido no primeiro de alto risco, sejam elas sintomáticas ou não, porém
parente afetado, o que for mais cedo. No entanto, a variação de sua especificidade tem um intervalo
as decisões do rastreio são compartilhados com o muito grande, de 37 a 97%. Diferentemente da MMG,
paciente e às vezes são afetados por significativos a RM não sofre influência da densidade mamária,
custos para o paciente e ansiedade resultante do cirurgias prévias ou idade da paciente, por isso sua
teste ou resultados de testes subsequentes, que de- alta sensibilidade. A variação da especificidade se
vem ser considerados. deve ao padrão morfológico e cinético diferenciado
destes tumores. Deve-se evitar o uso indiscrimina-
ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE RISCO do da RM principalmente por sua alto custo e au-
mentos dos resultados falso-positivos.50(B)
A identificação de mulheres de alto risco atra- A American Cancer Society define o uso da RM
vés da história pessoal e familiar, testes genéticos e como rastreamento nas mulheres de alto risco, ou
modelos de risco nos ajuda a definir quais pacientes seja, as que apresentam mutação genética, radio-
precisarão de um rastreamento mais intensivo para terapia torácica , sendo justificado pela sua sensi-
detecção precoce da doença e de estratégias de re- bilidade na detecção de lesões pequenas e valor
dução de risco. Os recursos disponíveis hoje visando preditivo negativo para neoplasia maligna.
a redução de risco nestas pacientes são o screening A MMG e a RM têm recomendação anual nes-
mamográfico intenso, mudança no estilo de vida, te grupo de mulheres, sendo assim, pode-se optar
quimioprevenção e cirurgias redutoras de risco. pela realização a cada 6 meses dos exames de ima-
Em mulheres portadoras de mutação BRCA1 ou gem, intercalando os dois métodos. A adição da RM
BRCA2 a conscientização das mamas é importante e à MMG eleva em 15% a taxa de tumores de inter-
deve ser iniciada precocemente com incentivação de valo.51(B) Esta combinação permite a identificação
exame clínico mensal a partir dos 18 anos. de tumores em fase mais precoce, com aumento de
Para homens e mulheres com teste positivo 15% na sobrevida em 5 anos.52(B)
para uma mutação BRCA1 e/ou BRCA2, uma inspe- A ultrassonografia deve ser empregada como
ção da pele do corpo inteiro para triagem melanoma uma ferramenta complementar à MMG e RM, e não
e protocolos experimentais para o rastreio de cân- como método de rastreamento, devido a baixa sen-
cer do pâncreas devem ser consideradas. Embora sibilidade.
não existam diretrizes de rastreio específicos para As tabelas 8, 9 e 10 resumem as recomenda-
esses tipos de tumores, as abordagens de triagem ções por meio de mamografia e ressonância em pa-
individualizadas podem ser fornecidos de acordo cientes de alto risco e o grau de recomendação de
com a história pessoal ou familiar de câncer.14(A) acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia,
A tabela 7 apresenta os métodos de rastreamen- Sociedade Brasileira de Radiologia e FEBRASCO.53(B)
to em pacientes de alto risco, preconizado pelo NCCN.
MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA
EXAMES DE IMAGEM
Uma dieta equilibrada e exercícios físicos re-
Os métodos de imagem nesta população de- gulares são recomendações básicas para se evitar
vem ter idade de início e intervalos reduzidos, a re- a obesidade, sendo assim, reduzindo o risco de de-
209
CAP. 21 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
senvolver o câncer de mama, já que o excesso de O SERMs de primeira e segunda geração, ta-
peso aumento o risco a desenvolver a doença. Na moxifeno e raloxifeno, respectivamente, devido
pós-menopausa a perda de peso apresenta um efei- seus efeitos antagonistas são excelentes escolhas
to protetor, principalmente em mulheres que não com o propósito da quimioprevenção.
utilizam a terapia hormonal. Os estudos envolvendo O estudo mais importante que avaliou o Tamo-
atividades físicas ainda são escassos, um envolven- xifeno na prevenção do câncer de mama foi o NSA-
do mais de 45.000 mulheres concluiu que mais de BP P-1, realizado pela National Surgical Adjuvant
10 horas semanais de caminhada apresenta efeito Breast and Bowel Project, que avaliou 13.388 mu-
protetor, e este efeito é visto nas mulheres na pré- lheres e comparou o uso de de tamoxifeno 20mg/
-menopausa ou na pós menopausa mas que nunca dia por 5 anos e placebo em pacientes de alto risco
utilizaram terapia de reposição hormonal.54(B) e idade ≥ 35 anos, mostrando uma redução de risco
A ingestão de álcool em qualquer quantida- em torno de 50% para o câncer de mama invasi-
de é contra-indicada, pois, como já citado, é um fator vo e não invasivo; em pacientes com hiperplasias
de risco para este tipo de tumor, por seu efeito car- atípicas esta redução chegou a 86%. Os efeitos
cinogênico14(A). Embora os dados dos estudos não colaterais são fogachos, eventos tromboembólicos
sejam consistentes deve-se encorajar as pacientes e câncer de endométrio. O estudo mostra que os
a manterem um estilo de vida saudável, reduzindo benefícios superam os riscos, porém sua indicação
assim alguns dos fatores de risco modificáveis rela- deve ser criteriosa devido a toxicidade.55(A)
cionados ao câncer de mama. O estudo Multiple Outcomes of Raloxifene
Evaluation (MORE) avaliou 7.705 mulheres na pós
QUIMIOPREVENÇÃO menopausa com osteoporose por 4 anos com uso
de raloxifeno 60mg/dia, e a redução do câncer de
A quimioprevenção através das medicações an- mama foi um dos objetivos secundários do estudo.
tiestrogênicas são uma boa opção devido a importân- Observou-se a redução de 84% do risco relativo dos
cia do estrogênio na fisiopatologia do câncer de mama. casos de câncer de mama invasivo em tumores re-
Selective Estrogen Receptor Modulators (SERMs), ceptores de estrogênio (RE+).56(A) O estudo CORE
os moduladores seletivos dos receptores estrogênicos (Continuing Outcomes Relevante to Evista) foi um
se ligam aos receptores de estrogênio e podem atuar prolongamento do MORE por mais 4 anos, obser-
como agonistas ou antagonistas estrogênicos a depen- vando-se uma redução de risco de 66%.57(A)
der do tecido ligante, por exemplo, exercem efeito ago- O estudo NSABP P-2, também conhecido por
nista no tecido ósseo e antagonistas em mama e útero. STAR (Study of Tamoxifen and Raloxifene Trial) ran-
Tabela 6: Orientações de Rastreio no câncer de mama. Fonte: Pederson HJ, Padia SA, May M, Grobmyer S. Managing patients at genetic risk of breast
cancer. Cleve Clin J Med. 2016 Mar;833:199-206.
210
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 21
domizou mais de 19.000 mulheres, com 35 anos ou brando sempre de fazer o controle e rastreamento
mais e com alto risco para câncer de mama, para dos efeitos colaterais desses fármacos.
o uso de tamoxifeno 20 mg/dia ou raloxifeno 60
mg/dia, e demonstrou inferioridade do raloxifeno CIRURGIAS REDUTORAS DE RISCO
na prevenção de câncer de mama invasivo e foi li-
mítrofe para o CDIS. Raloxifeno também apresenta As cirurgias redutoras de risco são estratégias
grau de recomendação A, porém com menos efeitos que podem ser utilizadas em mulheres com alto ris-
adversos. O grupo do tamoxifeno apresentou mais co para o desenvolvimento de câncer de mama, e
casos de trombose venosa profunda, hiperplasia podemos lançar mão de dois recursos, a mastecto-
endometrial atípica, câncer de endométrio e cata- mia profilática e a salpingo-ooforectomia bilateral.
rata.58(A) Publicação mais recente do estudo STAR, A indicação para estratégia deve ser feita de modo
confirmou o grau de evidência A, com redução de criterioso, com avaliação de equipe multidisciplinar,
risco de 38% no desenvolvimento do câncer de esclarecendo riscos, complicações e até resultado
mama em pacientes de alto risco com a quimiopro- estético insatisfatório.
filaxia dos SERMs.59(A) As principais indicações para as cirurgias re-
Os inibidores da aromatase (IAs) anastrozol dutoras são história familiar ou pessoal de câncer
e exemestane bloqueiam a produção de estrogênio de mama, presença de mutação genética, múltiplas
pela supressão da conversão de androgênio para es- biópsias mamárias, carcinoma lobular in situ, altera-
trogênio, e têm demonstrado redução na incidência ções difusas em mamas densas e cancerofobia.62(B)
do câncer de mama, porém, seu uso está restrito a A mastectomia redutora de risco reduz em
mulheres na pós-menopausa. O estudo IBIS-II avaliou aproximadamente em 90% o risco de desenvolver
3.864 mulheres de alto risco na pós-menopausa, com câncer de mama, em pacientes conhecidamente
idade entre 40 e 70 anos, que receberam 1mg/dia de com mutação de BRCA1 e BRCA2, e redução de 81%
anastrozol por 5 anos, e observou-se redução de 53% no risco de morte por câncer de mama. O ganho de
na incidência de câncer de mama contralateral em sobrevida ainda não está estudado.63(B)
pacientes RH+, se comparada com o tamoxifeno.60(A) Há algumas diferentes técnicas de mastecto-
O estudo MAP3 demonstrou uma redução de risco de mia com ou sem reconstrução imediata, que consis-
65% na incidência de câncer de mama invasivo em tem na retirada do parênquima mamário bilateral-
mulheres na pós-menopausa com alto risco que usa- mente, entre elas:
ram o exemestano durante 5 anos.61(A) • mastectomia simples - remoção de toda a
A quimioprofilaxia tanto com tamoxifeno, ra- glândula incluindo a pele que a recobre e
loxifeno, anastrozol, exemestano são medicamen- o complexo aréolo-papilar (CAP);
tos com grau de recomendação categoria A. Lem- • mastectomia poupadora de pele ou skin-spa-
211
CAP. 21 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Recomendações para o rastreamento com mamografia para mulheres de alto risco abaixo de 40 anos.
Mulheres com história dc irradiação no tórax entre A partir de 8 anos após o tratamento radioterápico
Categoria 2b
os 10 e 30 anos de idade (mas não antes dos 25 anos)
Mulheres com síndrome dc Li-Fraumeni, Cowden, A partir do diagnóstico, (mas não antes dos 25 anos) Categoria 3
ou parentes de primeiro grau
HLA, hiperplasia lobular atípica; CUS, carcinoma lobular in situ; HDA. hiperplasia ductal atípica; CDIS, carcinoma ductal in situ.
Tabela 8: Recomendações para o rastreamento com mamografia para mulheres de alto risco abaixo de 40 anos. Fonte: Urban LABD, Schaefer MB, Duarte
Tabela 2 Recomendações para o rastreamento com ressonância magnética para mulheres de alto risco abaixo de 40 anos.
DL, Santos RP, et al. Recommendations of Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Sociedade Brasileira de Mastologia, and Federação
6
BrasileiraMulheres
das Associações de Ginecologia
com mutação e Obstetrícia
dos genes BRCA1 ou BRCA2 ouforcom
imaging screening
parentes de forAnualmente
breast cancer. Radiol
a partir Bras, 2012.da
da confirmação 45mutação
:335 Categoria 1
primeiro grau com mutação provada genética (mas não antes dos 30 anos)
Nenhuma das técnicas garante a remoção to- 2. Instituto Nacional do Câncer (INCA). 2016
Anualmente partir do diagnóstico
Mulheres com história pessoal de neoplasia lobular (HLA e CUS),
tal do parênquima mamário, podendo
HDA, CDIS, carcinoma invasor de mama ou de ovário restar alguma (mas não[cited
antes dos2016
30 anos) jun 30]. Available from: http://
Categoria 2a
212
Mulheres com síndrome dc Li-Fraumeni, Cowden, A partir do diagnóstico, (mas não antes dos 25 anos) Categoria 3
ou parentes de primeiro grau
HLA, hiperplasia lobular atípica; CUS, carcinoma lobular in situ; HDA. hiperplasia ductal atípica; CDIS, carcinoma ductal in situ.
Tabela 2 Recomendações para o rastreamento com ressonância magnética para mulheres de alto risco abaixo de 40 anos.
Mulheres com mutação dos genes BRCA1 ou BRCA2 ou com parentes de Anualmente a partir da confirmação da mutação
Categoria 1
primeiro grau com mutação provada genética (mas não antes dos 30 anos)
Mulheres com história de irradiação no tórax entre Anualmente a partir de 8 anos após o tratamento
Categoria 2b
os 10 e 30 anos de idade radioterápico (mas não antes dos 30 anos)
Mulheres com história pessoal de neoplasia lobular (HLA e CUS), Anualmente partir do diagnóstico
Categoria 2a
HDA, CDIS, carcinoma invasor de mama ou de ovário (mas não antes dos 30 anos)
Recomendações para o rastreamento com ressonância magnética para mulheres de alto tisco entre 40 e 69 anos.
Mulheres com mutação dos genes BRCA1 ou BRCA2 ou com parentes Anualmente a partir da confirmação
Categoria 1
de primeiro grau com mutação provada da mutação genética
Pode ser consuderação em mulheres com história pessoal de neoplasia Anualmente a partir do diagnóstico
lobular (HLA e CDIS), HDA, CDlS, carcinoma invasor de mama ou de ovário
Tabela 10: Recomendações para o rastreamento com ressonância magnética para mulheres de alto risco entre 40 e 69 anos. Fonte: Urban LABD, Schaefer
MB, Duarte DL, Santos RP, et al. Recommendations of Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Sociedade Brasileira de Mastologia, and
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22
SÍNDROMES DE
PREDISPOSIÇÃO
HEREDITÁRIA AO
CÂNCER DE MAMA
Palavras Chave:
Câncer de mama, testes genéticos, hereditário, síndrome,
predisposição genética para doença
218
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 22
219
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
indivíduo (sincrônicos ou metacrônicos). ria, ainda menor, não foi detectado nenhum rearran-
• Câncer de mama masculino. jo57(C). Jackson et al. observaram que mulheres sem
• Câncer de mama triplo negativo (abaixo 60 anos). diagnóstico de câncer de mama, de ancestralidade da
• Ancestralidade de Judeus Ashkenazi com tu- Europa Ocidental, com histórico familiar de câncer de
mores relacionados a síndrome (mama, ovário, pân- próstata e pâncreas tem uma chance de 0,69% de ter
creas e próstata gleason >= 7. teste positivo para BART mutation (BRCAnalysis Lar-
• Três ou mais cânceres associados a síndro- ge Rearrangements) caso seja negativa a análise de
me em qualquer idade do mesmo lado da família mutação de BRCA1/2. Por outro lado, a mulher latina
(mama, ovário, pâncreas e próstata Gleason>=7. com o diagnóstico de câncer de mama e parente de
• Um indivíduo da família previamente detec- primeiro grau com câncer de mama tinha 13.01% de
tado com mutação BRCA1/2. probabilidade de testar positivo para BART se teste
negativo para BRCA1/236(B).
GENES BRCA1/BRCA2 Porchia et al. identificaram em uma meta-aná-
lise as mutações mais comuns nas Latino-americanas
O gene BRCA1 (OMIM # 113705) é composto nos genes BRCA1 /2. A mutação em BRCA1 mais co-
de 22 éxons (regiões codificantes) e sua localização mumente detectada foi a deleção dos éxons 9-12. Esta
citogenética é 17q21.31. O gene BRCA2 (OMIM # mutação leva a uma forma inativa de BRCA1. Entretan-
600185) tem 27 éxons e sua localização citogenética to, esta mutação foi somente encontrada em estudos
é 13q13.1. Ambos os genes estão envolvidos na manu- mexicanos. A segunda mais prevalente de BRCA1 foi
tenção da integridade genômica, engajados na repa- 185delAG, encontrada em diferentes regiões da Amé-
ração do DNA, controle do checkpoint do ciclo celular rica Latina (Argentina, Brasil, Chile, México e Peru). A
e estabilidade genômica12,27,55,58(A). O tamanho destes mutação 6174delT e H372N em BRCA2 foi encontra-
genes é importante do ponto de vista clínico pois o da na Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Venezuela,
screening por mutações é de maior custo por serem mas não no México. Assim como BRCA 349ins7, G273R
extensos5,25,36(A). Uma única mutação germinativa em e W2586X foram detectadas apenas no México62(A).
BRCA1 e BRCA2 representa somente o primeiro “hit”
ou evento da hipótese de Knudson dos dois eventos PENETRÂNCIA DOS GENES BRCA1/BRCA2
ou “Two-Hits”. O segundo evento geralmente envolve
a deleção do alelo selvagem (LOH – perda de hetero- A penetrância de uma mutação depende de vá-
zigose). LOH tem sido descrita na maioria (>80%) dos rios fatores incluindo: o tipo de mutação e o risco obser-
tumores que são desenvolvidos nestes portadores de vado de câncer de mama entre aquelas com histórico
variantes patogênicas de BRCA1/25,41,45(A). familiar positivo. Presumivelmente isto ocorre devido
Centenas de mutações deletérias germinativas a uma predisposição poligênica subjacente, predispo-
de BRCA1/2 têm sido descritas em todas as popula- sição multifatorial ou ambas (modificadores de risco
ções. Estas mutações são geralmente substituições de genéticos e não genéticos). Diferentes penetrâncias le-
base única (predominantemente mutações nonsense) vam a diferentes avaliações de risco11,46,50,54,60(B).
ou pequenas inserções/deleções tipo frameshift, que Em um grande estudo CIMBA (consortium of in-
resultam em códons de parada prematura e proteí- vestigators of modifiers of BRCA1/2) a média de idade
nas truncadas não funcionais. Hot-spot mutacionais do diagnóstico do câncer de mama encontrada foi de
são raros19,24(B). Rearranjos gênicos deletérios podem 40 anos entre as portadoras de mutação de BRCA1
ocorrer em até 30% dos casos, incluindo deleções ou e 43 anos para aquelas BRCA245(A). A média de risco
duplicações de grandes fragmentos do gene, incluin- cumulativo para desenvolvimento de câncer de mama
do um ou mais éxons5,19,22,24,25(B). Em uma série de em portadores de mutação aos 70 anos é 55% (95%
145 pacientes brasileiras testadas para rearranjos foi CI 50-59%) para BRCA1 e 47% (95% CI, 42-51%) para
detectada uma taxa de 5%, embora tenha sido uma BRCA25,11,51,74(A). Pacientes com mutações em BRCA1/
amostra pequena e que não possa representar toda BRCA2 tem também risco aumentado para o câncer
a população brasileira24(B). Em outra série brasile- de mama contralateral, sendo de aproximadamente
220
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 22
3% cumulativo ao ano. Para o câncer de mama espo- gativas vs 23% daquelas BRCA2. A hiperexpressão da
rádico este risco está entre 0,5-1% ao ano12,35,46,56,67(B). proteína HER-2 foi observada em apenas 10% das pa-
Homens tem um fenótipo BRCA2 característico. cientes com mutação em BCA1/2. O câncer de mama
O risco durante toda a vida de desenvolverem câncer relacionado a mutação no gene BRCA2 tende a ter pa-
de mama naqueles portadores de mutação em BRCA2 drão de apresentação mais parecido com os cânceres
é de aproximadamente 80-100 vezes maior do que a esporádicos, sendo 77% ER-positivos e somente 16%
população geral. Por volta dos 70 anos de idade, o ris- triplo negativos12,34,35,43,45,46,67,89(B)
co é de 7% para aqueles portadores de mutações em Couch et al. avaliando tumores Triplo negativos de-
BRCA2 e 1% para aqueles com mutações em BRCA1. tectaram 3,7% de mutações deletérias de outros genes
Mutações em BRCA2 são responsáveis por aproxima- naquelas pacientes sem mutação de BRCA1/2. A frequên-
damente 15% de todos os cânceres de mama no sexo cia destas mutações, especialmente o PALB2, foi similar
masculino. É importante ressaltar que o homem sem em famílias com câncer de alto e moderado risco13(B).
mutações germinativas (população) tem risco durante
a vida de 0.1% de desenvolve o câncer de mama12,46(A). CONSEQUÊNCIAS DO
CONHECIMENTO DAS VARIANTES
RISCOS DA EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO PATOGÊNICAS NO TRATAMENTO
IONIZANTE: JANELA DE VULNERABILIDADE LOCAL DO CÂNCER DE MAMA
IDADE - ESPECÍFICA
Alguns estudos relacionando a exposição à A identificação de indivíduos portadores de va-
radiação ionizante e o risco de câncer de mama, riantes patogênicas em genes de alta penetrância no
sugerem que esta exposição precocemente na tratamento do câncer de mama, fornece uma estima-
vida contribui para o aumento dos casos de cân- tiva de risco para tumores sincrônicos e metacrônicos
cer de mama em portadores de mutação dos genes e podem influenciar no tratamento cirúrgico e radio-
BRCA1/2. Assim é aconselhável que antes dos 30 terápico. Estudos sugerem um risco de tumores ipsila-
anos de idade se faça o rastreamento apenas com terais entre 27-49% para BRCA1/BRCA2, comparados
ressonância magnética das mamas19,22,34,40,44,49,87(B). com 4-21% para tumores esporádicos. Portadores de
variantes patogênicas em BRCA1/BRCA2 têm de 2-3
CORRELAÇÃO GENÓTIPO FENÓTIPO vezes maior o risco de recidiva local após cirurgia
NOS TUMORES ASSOCIADOS A conservadora, quando comparados com aqueles que
MUTAÇÕES EM BRCA1/BRCA2 fizeram mastectomia total. No entanto este fato não
alterou a sobrevida, possivelmente devido ao peque-
Tung et al. demonstraram a prevalência de no número de pacientes nestas séries22,27,35(B).
12,2%, 3.0% e 1,8% de mutação patogênica nos ge- Alguns autores sugerem que este grupo de mu-
nes BRCA1/2 para 488 mulheres detectadas com cân- lheres com variantes patogênicas, façam mastectomia
cer de mama com idades inferior ou igual a 45 anos, ipsilateral, mastectomia poupadora de risco contralate-
46-60 anos e mais velhas do que 60 anos, respecti- ral e salpingo-ooforectomia bilateral se pré-menopau-
vamente84,85(B). Os cânceres de mama relacionados sadas. Outros grupos, porém, sugerem apenas a salpin-
a mutações em BRCA1 são geralmente de alto grau go-ooforectomia lateral dado o impacto na redução de
histológico, mostram um número excedente de histo- mortalidade22,34,35,49(B).
logia medular (9% para aqueles com mutação vs 2%
para os esporádicos) e se apresentam como triplo ne- CONSEQUÊNCIAS DO CONHECIMENTO
gativos na maioria das vezes (receptor de estrogênio DAS VARIANTES PATOGÊNICAS NO
negativo, receptor de progesterona negativo e sem TRATAMENTO ( NEO) ADJUVANTE
hiperexpressão da proteína HER-2)13,42,43,45,46,51,60,89(B). DO CÂNCER DE MAMA
Em um estudo com 4.325 pacientes com muta-
ção em BRCA1 e 2.568 com mutação em BRCA2, foi A influência da presença da mutação nos genes
demonstrado que 78% daquelas BRCA1 eram RE-ne- BRCA 1 e BRCA 2 e o prognóstico deste câncer perma-
221
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
nece controverso. Há uma diversidade de estudos pro- Pacientes com histórico pessoal de câncer de
missores que evidenciaram benefício dos derivados da mama (infiltrante ou in situ) com 1 ou mais dos cri-
platina em quimioterapia adjuvante e neoadjuvante em térios abaixo:
portadores de mutação de BRCA1 (perfil molecular ba- • Indivíduo com mutação conhecida em gene
sal). As pacientes metastáticas BRCA1/2 mutadas rece- de susceptibilidade dentro da família.
biam carboplatina e obtinham melhora significativa em • Diagnóstico com idade < ou = 45 anos.
detrimento daquelas sem mutação em BRCA1/2. Um es- • Diagnóstico de 2 tumores primários (tumo-
tudo retrospectivo de quimioterapia neoadjuvante que res bilaterais ou 2 ou mais tumores ipsilaterais cla-
incluiu 102 pacientes com mutação em BRCA1 teve taxa ramente separados, ocorrendo sincronicamente ou
de resposta completa em 20% com regimes baseados não), sendo que o primeiro diagnosticado aos 50
em antraciclininas, comparados com 83% a 90% para anos ou mais jovem.
a cisplatina22,34(C). Pacientes BRCA1 mutadas teriam • Diagnóstico aos 50 anos ou menos com 1
uma resistência relativa aos taxanes1,21,26(B). Inibidores ou mais parentes próximos com câncer de mama
da PARP têm sido usados em pacientes com câncer de em qualquer idade (ou com história familiar limi-
mama avançado refratários ao tratamento, onde aqueles tada ou desconhecida), 1 ou ais parentes próximos
com mutação em BRCA1 /BRCA2 tiveram respostas ob- com câncer de pâncreas, ou 1 ou mais parentes com
jetivas (50% em BRCA1 e 22% BRCA2)1,7,22,27,34(C). câncer de próstata (Gleason > = 7).
• Diagnóstico de câncer de mama triplo nega-
OUTROS TUMORES ASSOCIADOS tivo com idade igual ou inferior a 60 anos.
A SÍNDROME DE CÂNCER DE • Diagnóstico em qualquer idade com 1 ou
MAMA E OVÁRIO mais parentes próximos com câncer de mama diag-
nosticado com 50 anos ou menos.
Mersch et al. estudando 1072 indivíduos que por- • Diagnóstico em qualquer idade com 2 ou
tavam variante patogênica de BRCA1/2 demonstraram mais parentes próximos com câncer de mama em
2 tipos mais frequentes de câncer quando estratificados qualquer idade.
por gene e sexo. O número de câncer de próstata e • Diagnóstico em qualquer idade com 1 ou
pâncreas foi maior do que o esperado para a população mais parentes próximos com carcinoma de ovário
geral, para aqueles indivíduos com mutação de BRCA 2. (incluindo câncer em trompa de Falópio ou peritô-
Os autores concluem mediante os seus achados que, os nio) diagnosticados em qualquer idade.
indivíduos com mutação de BRCA2 devem ser subme- • Diagnóstico em qualquer idade com 2 ou
tidos à screening para câncer de próstata e pâncreas. mais parentes próximos com câncer de pâncreas e/
A incidência de melanoma em portadores de mutação ou próstata (Gleason>=7) em qualquer idade.
de BRCA1 foi maior do que na população geral. Outros • Ter um parente próximo com câncer de
estudos relatam a relação de melanoma com mutação mama masculino em qualquer idade.
de BRCA2, o que não ocorreu neste estudo53(B). Obs: parentes próximos incluem parentes de
Em alguns estudos o câncer de pâncreas foi re- primeiro, segundo ou terceiro grau
latado naqueles portadores de mutação de BRCA1 e • O teste também é recomendado para quem
especialmente nos BRCA2 (RR 2,26 e 3,51 respectiva- tem histórico pessoal de carcinoma de ovário ou
mente)12(B). Relatos de risco elevado de câncer de prós- câncer de mama masculino.
tata foram demonstrados em indivíduos portadores de • Testar mutação em BRCA1/BRCA2 é recomen-
mutação BRCA2 em até 20 vezes, particularmente em dável para aqueles com histórico pessoal de câncer
homens com idade inferior a 65 anos12(B). de próstata (Gleason>=7) diagnosticado em qualquer
idade, com histórico familiar de ao menos um paren-
CRITÉRIOS PARA TESTAR MUTAÇÃO DE GENE te com carcinoma de ovário em qualquer idade ou
DE PREDISPOSIÇÃO AO CÂNCER DE MAMA E câncer de mama abaixo dos 50 anos de idade ou 2
OVÁRIO 5,16,20,73( B ) parentes com câncer de mama, pâncreas ou próstata
(Gleason> ou=7) diagnosticados em qualquer idade.
222
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 22
• Para aqueles com câncer de pâncreas o cri- ção)4,14,31(B). Câncer de mama é a malignidade mais
tério acima também deve ser adotado. frequente entre as portadoras de Síndrome de Li-
Indivíduos sem histórico pessoal de câncer Fraumeni e representa até 1/3 dos casos de câncer
de mama (deveria ser considerado testar aqueles nas famílias Tp53 mutadas. As mulheres com mu-
indivíduos sem a doença apenas quando não con- tação no gene Tp53 têm uma chance de ter câncer
seguirmos testar o indivíduo afetado) de mama em torno de 56% aos 45 anos de idade e
Quando um parente próximo tenha qualquer 90% por volta dos 60 anos de idade3,5,9,14,19,20(B). Se-
uma das características citadas abaixo: guindo o diagnóstico do primeiro câncer, há 57% de
• Mutação conhecida em um gene de suscep- um segundo tumor primário dentro dos 30 anos do
tibilidade dentro da família. primeiro diagnóstico, seguido de 38% de risco de
• 2 ou mais cânceres de mama primários em um terceiro tumor dentro de 10 anos do segundo
um único indivíduo. diagnóstico74(B).
• 2 ou mais indivíduos com cânceres de mama A detecção da variante de TP53 R337H em
primários no mesmo lado da família com 1 deles pelo várias séries brasileiras e o fato desta variante ter
menos, diagnosticado antes dos 50 anos de idade. efeito fundador na nossa população, sugere que
• Câncer de ovário. qualquer paciente com câncer de mama com cri-
• Câncer de mama masculino. tério clínico para a Síndrome de predisposição ao
• Parente de primeiro ou segundo grau com cân- câncer de mama e ovário e resulte negativa ao
cer de mama com idade inferior ou igual aos 45 anos. testar mutação nos genes BRCA1 e BRCA2, deve-
• História familiar de 3 ou mais das seguintes ria ser testada para esta variante14,31,77(C).Estudos
citadas (especialmente se o episódio ocorreu em ida- recentes demonstram que a maioria dos casos de
de precoce e inclui múltiplos tumores primários em câncer de mama associados a esta síndrome são
um mesmo indivíduo): cânceres de mama, pâncreas, HER-2 positivos e 84% são receptores de estro-
próstata (Gleason>=7), melanoma, sarcoma, carcino- gênio e progesterona positivos. Adicionalmente,
ma de adrenal, tumores cerebrais, leucemias, câncer o tumor Phyllodes maligno da mama está forte-
gástrico difuso, câncer colônico, endométrio, tireóide, mente associado a Síndrome de Li- Fraumeni. O
rim, manifestações dermatológicas e/ou macrocefalia, câncer de ovário parece não ter associação com
pólipos hamartomatosos do trato gastrointestinal. esta síndrome67,87(B). Pacientes com síndrome de
Li-Fraumeni tem uma resposta anormal à baixas
A.2- SÍNDROME DE LI - FRAUMENI doses de radiação. Assim a radioterapia deve ser
evitada no tratamento destes indivíduos3,20,75,87(B).
É uma síndrome de predisposição hereditá-
ria ao câncer, de ocorrência rara e está associada RED-FLAGS PARA TESTAR MUTAÇÃO DE
com aproximadamente 1% dos casos de câncer de TP535,16,20,74(B)
mama. Ocorre na maioria dos casos devido a mu-
tações germinativas no gene Tp53. Este gene está • Indivíduos de famílias com mutação de Tp53 já
localizado no cromossomo 17 e quando mutado conhecida.
predispõem a uma ampla variedade de neoplasias
malignas, incluindo sarcomas ósseos, sarcomas de • Critérios clássicos da Síndrome de Li-Fraumeni
partes moles, câncer de mama, tumores cerebrais,
carcinomas adrenocorticais e leucemias. Esta sín- • Combinação de um indivíduo diagnosticado
drome é de padrão autossômico dominante e mu- antes dos 45 anos de idade com sarcoma e Pa-
tações de novo neste gene não são infrequentes. A rente de primeiro grau diagnosticado com cân-
ocorrência de mutações em Tp53 é de 1 para cada cer antes dos 45 anos e um parente adicional
20.000 nascidos vivos.3,5,9,14,19,20,51,74(B). Mutações de primeiro e segundo grau do mesmo lado da
fundadoras em certas populações são descritas e no família com câncer diagnosticado antes dos 45
Brasil a mais notável é a R337H (0,3% da popula- anos ou um sarcoma em qualquer idade.
223
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
224
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 22
lações, pectus excavatum, escoliose) ou Doença • Atualmente os inibidores de m-TOR tem emer-
de Lhermitte-Duclos (tumores cerebelares). gido como potencial alvo para terapia profiláti-
ca. É também relatado o uso de metformina no
• Desordem do especto de autismo e macrocefalia. retardo de desenvolvimento de neoplasia trato
gastrointestinal nesta síndrome20(C).
• 2 ou mais biópsias comprovando triquilemomas.
A.5- CÂNCER GÁSTRICO
• 2 ou mais critérios maiores (um deve ser macrocefalia). HEREDITÁRIO DIFUSO
225
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
maior naquelas de idades mais jovens por volta de MEDIDAS POUPADORAS DE RISCO EM
20-39 anos com RR de 17.6, comparadas com aque- MULHERES COM MUTAÇÃO EM GENES DE
las entre 40 – 79 anos com RR de 8,72,64,78,85(B). ALTA PENETRÂNCIA ( BRCA1, BRCA2, TP53,
Quando se leva em conta o histórico familiar SKT11CDH1, PTEN, PALB2) E SEM HISTÓRICO
há diferenças entre as penetrâncias nas mulheres PESSOAL DE CÂNCER 5,12,16,19,20,22,29,34,44,46,61,71,74,75( B )
portadoras de mutações de PALB2. Assim, o risco
de desenvolver câncer de mama aos 70 anos é de • Quimioprevenção
33% (95% CI- 25-44) para mulheres portadoras sem
parentes afetados e de 58% (95% CI 50-66) para a • Redução de risco de câncer de mama com uso
mulher portadora com 2 parentes de primeiro grau de tamoxifeno em portadores de mutação em
que tiveram câncer de mama diagnosticado antes BRCA2 (RR 0,38 95%CI 0,06-1,56), mas não
dos 50 anos de idade2,78(B). Mediante estes dados as para aquelas portadoras de mutação de BRCA1
pacientes portadoras de variantes patogênicas de (RR1,67,95%CI 0,32-10,07)(B).
PALB2 devem ser conduzidas de modo semelhante
as portadoras de variantes de BRCA2 com respei- • Anticoncepcionais orais: diminuem o risco de
to ao risco de câncer de mama37,40,88(C). O risco de câncer de ovário RR 0,5 (95% CI 0,33-0,75) e
câncer de pâncreas, ovário e câncer de mama mas- provavelmente não aumenta o risco de câncer
culino associado com mutações em PALB2 ainda de mama RR 1,17 (95%CI 0,74-1,86)(B).
precisa ser melhor determinado40,64(C).
• Outras drogas anti-estrogênicas como raloxi-
ESTRATÉGIAS DE RASTREAMENTO PARA feno, inibidores da aromatase e agentes como,
CÂNCER DE MAMA EM MULHERES COM aspirina e antiinflamatórios não hormonais, ini-
VARIANTES PATOGÊNICAS EM GENES DE ALTA bidores da COX-2, retinóides, metformina ou bi-
PENETRÂNCIA (BRCA1, BRCA2, TP53, SKT11, fosfonados parecem ter algum efeito, mas ainda
CDH1, PTEN, PALB2)5,12,16,20,75,76(B) necessitam de maiores estudos(C).
• Autoexame das mamas iniciado aos 18 anos de • Mastectomia bilateral redutora de risco
idade.
• Reduz em mais de 90% o risco de câncer de mama(B).
• Exames clínicos da mama, a cada 6-12 meses,
iniciados aos 25 anos de idade. • Discutível indicação da mastectomia com pre-
servação de CAP (complexo aréolo-papilar) a
• Mamografias anuais iniciadas aos 30 anos de qual deixaria uma quantidade não recomendá-
idade (até os 75 anos de idade). vel de tecido glandular e deveria ser evitada em
pacientes com mutação em genes BRCA(C).
• Exames de ressonância magnética de mama
anuais a partir dos 25 anos de idade (até os 75 • O risco de câncer de mama após uma mastecto-
anos de idade). mia bilateral poupadora de risco é estimado em
7% para as portadoras de variantes patogênicas
• Após os 75 anos de idade, discutir individual- de BRCA1/BRCA2(B)
mente o caso.
O conhecimento do impacto na sobrevida des- • Evidência insuficiente para indicação em mulhe-
tas pacientes quando é feito apenas o rastreamen- res portadoras de mutação no gene STK11(C).
to ainda é pouco conhecido, necessitando de mais
estudos. Parece ser mais efetivo naquelas mulheres • Salpingoooforectomia bilateral
portadoras de mutação em BRCA212,23(B)
• Deve ser considerada para as portadoras de varian-
226
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 22
227
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
228
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 22
mama e ovário3(C). Um estudo caso-controle avalian- SPNs estarem disponíveis comercialmente, no momen-
do 2 variantes de ABRAXAS a uma maior susceptibili- to não há utilidade clínica para serem usados como
dade ao câncer de mama não conseguiu comprovar screening populacional6,9,19,20,22,26,30,51,54,69,71,83,91(B).
tal fato. Estas variantes poderiam explicar apenas
uma pequena porção dos casos de câncer de mama O PROCESSO DO ACONSELHAMENTO
hereditários. Devido a raridade das mesmas, estudos GENÉTICO EM PREDISPOSIÇÃO
mais abrangentes devem ser desenhados66(B). HEREDITÁRIA AO CÂNCER DE MAMA
229
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
230
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 22
231
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mama1(C). A questão muitas vezes ”não é se eu 10. Borges-Osório MR,Robinson WM.Genética Hu-
vou ter câncer e sim, quando vou ter este câncer? mana.3th ed.Porto Alegre: Artmed, 2013.
O conhecimento faz com que o paciente procu- 11. Chen S, Parmigiani G. Meta- analysis of BRCA1
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233
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
234
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 22
235
CAP. 22 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
236
23
MANEJO CLÍNICO E
MEDICAMENTOSO DAS
PACIENTES DE ALTO
RISCO ESPORÁDICO E
HEREDITÁRIO
Palavras Chave:
Breast Cancer, High Risk Beast Cancer, Chemoprevention
in Breast Cancer, Hereditary Breast Cancer, Surgery in
High Risk Breast Cancer.
238
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 23
Síndromes Genéticas:
BRCA 1
herança autossômica dominante
cromossomo 17, posição 21
Lifetime risk CA mama 65%; CA ovário 27 – 45%
CA mama em homem, CA testículo, CA pâncreas, CA colo e endométrio
BRCA 2
herança autossômica dominante
cromossomo 13
Lifetime risk CA mama 45 – 84%; CA ovário 10 -20%, CA mama
em homem 6% CA pâncreas, CA estomago, CA vias biliares,
melanoma maligno
Li Fraumeni
herança autossômica dominante
gene supressor tumoral p53, cromossomo 17
risco de câncer 50% aos 30 anos e 90% aos 70 anos
CA mama, sarcoma, tumores do sistema nervoso central, leucemia
e carcinoma adrenocortical.
Cowden
autossômico dominante
80% tem mutação do gene PTEN, cromossomo 10
CA mama, macrocefalia, nódulos de pele e mucosas, CA folicular
de tireóde e Ca endométrio
CA Gástrico Difuso
Mutaçāo do gene CDH1 (e-caderina), contribui para progressão e invasão
Cromossomo 16
CA gástrico, CA mama Lobular
Peutz-Jeghers
Autossômico dominante
Mutaçāo STK11, cromossomo 19
Hamartomas, risco aumentado para CA mama, Ca trato gastrointestinal,
útero e gônadas
Tabela 1: Ref (DISEASES OF THE BREAST. Harri JR, Lippman ME, Morrow M, Osborne CK. 5th edition.2014.Cap 17, p 187-207)
hormonal, massa corpórea aumentada, ganho de mostram que mulheres tratadas por linfoma de Hodg-
peso na pós- menopausa, 17 (B),18 (A) e consumo de kin que receberam irradiação do tórax apresentam um
bebidas alcóolicas 19 (B) também conferem aumen- risco absoluto de desenvolver câncer de mama seme-
to de risco para o câncer de mama. lhante aos casos de mutaões do BRCA. 21 (B)
Outro fator relevante que deve ser conside- O aumento na densidade mamária também é
rado para cálculo do risco de câncer de mama, é o um fator a ser considerado, visto que mulheres com
antecedente de biópsias mamárias com lesões de mamas densas na pós-menopausa têm risco aumen-
alto risco histológico, principalmente as hiperpla- tado para o desenvolvimento de câncer de mama, com
sias atípicas e carcinoma lobular in situ. 20 (B) risco relativo que varia de 4,5 a 5,3 na literatura. 22 (B)
A radioterapia no tórax também é um fator de Para mulheres sem história familiar bem esta-
risco independente para o aumento do risco de câncer belecida, os modelos de Gail e Tyrer-Cuzick são os
da mama, principalmente se antes dos 30 anos. Estudos mais utilizados para predizer o risco.
239
CAP. 23 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
O Modelo de Gail (disponível em: http://www. Dados sugerem que o Gail pode superestimar
cancer.gov/bcrisktool/) foi o primeiro modelo de cálcu- o risco em pacientes jovens e subestimar o risco em
lo de risco que foi validado na prática clínica. Utiliza in- pacientes acima de 59 anos. 22 (B)
formações como idade da menarca, idade do primeiro Outro modelo para cálculo de risco, o Tyrer-
parto, número de parentes de primeiro grau com câncer -Cuzik (disponível em: http://www.ems-trials.org/
de mama, número de biópsias de mama e quais bióp- riskevaluator/), incorporou fatores de risco relacio-
sias apresentaram resultados com atipias, raça/ etnia. 22 nados à exposição ao estrogênio como a idade da
(B) Esse modelo é aplicável para mulheres com idade menopausa e uso de hormônios para terapia de re-
maior ou igual 35 anos, sem mutação BRCA 1 e 2, PTEN posição hormonal, peso, altura, história familiar que
ou TP53 e tem valor para estimar o risco em grupos po- inclui familiares mais distantes e a idade em que
pulacionais, porém individualmente tem menor impacto. cada familiar teve o diagnóstico de câncer, assim
240
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 23
como informações sobre câncer de ovário. Nesse ticos deve ocorrer de acordo com os critérios abaixo:
modelo ainda é possível avaliar a probabilidade de A paciente a ser testada tem que ter diagnós-
mutações nos genes BRCA 1 e 2. 22 (B) tico de câncer atual ou anterior de câncer de mama:
Alguns estudos compararam a eficácia desses • Abaixo de 35 anos , todas devem ser testadas
modelos de risco em populações de alto e baixo ris- • Abaixo de 50 anos com:
co e o modelo de Tyrer-Cuzik foi o que apresentou • - um segundo câncer primário de mama
menor risco de subestimação para ambos os grupos. • - 1 familiar de 1, 2 ou 3 grau com câncer de
As mulheres são consideradas de alto risco mama ou ovário
quando têm risco em 5anos superior a 1,7% (pelo Mo- • Qualquer paciente com câncer de mama triplo
delo de Gail, que corresponde ao risco de uma mu- negativo abaixo dos 60 anos
lher saudável aos 60 anos de idade) ou risco vitalício • Diagnóstico de câncer de mama em qualquer
maior ou igual 20% (RR> 2,5). Considera-se normal o idade e:
risco quantificado até 14%, sendo definido como risco • - 1 familiar com câncer de mama abaixo
moderado quando entre 15-20% (RR 1,6 a 2,5). 23 (B) dos 50 anos
Estes métodos, no entanto, não são perfeitos • - 1 familiar do sexo masculino com câncer
pois a incidência da doença em determinada região de mama
muda com o passar dos anos além do que as popu- • - 1 familiar com câncer de ovário
lações não são as mesmas em diferentes países. En- • - 2 familiares com câncer de mama em
quanto nos USA 20% dos casos de câncer de mama qualquer idade (do mesmo lado da famí-
ocorrem antes dos 50anos em nosso meio são cerca lia)
de 35% e portanto um método matemático que em • - 2 familiares com câncer de pâncreas ou
teoria deve ser exato não pode ser aplicado em po- próstata (Gleason >7) em qualquer idade
pulações tão distintas. • - Tumor mama bilateral
Na realidade, devemos considerar alto risco 3 • Câncer de ovário em qualquer idade
situações : • Homem com câncer em qualquer idade
A) Portador de mutações em genes relaciona- • Pancrêas em qualquer idade mais 2 familiares
dos ao câncer de mama ou não testados mas com com câncer de mama, pâncreas, próstata ou ovário
história sugestiva de câncer hereditário. • Judeus ashkenazi com câncer de mama ou ová-
B) Biópsias mamárias com diagnóstico de ati- rio ou pâncreas mais outro tumor da síndrome
pias como hiperplasias ductais e lobulares incluin- • Estrutura familiar limitada
do o CLIS. • Pacientes sem câncer de mama que têm fami-
C) Irradiação do tórax, principalmente antes liares com mutação conhecida
dos 30 anos.
Nestes casos são necessárias intervenções redu- Teste preferencial: NGS (Next generation se-
toras de risco nos demais apenas vigilância e orienta- quencing) + MLPA (Multiplex ligation-dependent
ções inclusive em mulheres com mamas densas, por- probe amplification)
que não existe ainda método seguro de quantificação Para que os planos de saúde aceitem a rea-
da densidade mamográfica que por enquanto vem lização do exame, deve ser solicitado por médico
sendo avaliada subjetivamente. geneticista.
(http://www.ans.gov.br/)
QUANDO PESQUISAR
MUTAÇÕES BRCA 1 E 2 PESQUISAS DE PAINEL DE MUTAÇÕES
No Brasil, segundo a regulamentação da ANS De acordo com a ASCO, o teste genético pode
de 2016, a cobertura para pesquisa de testes gené- ser oferecido quando:
241
CAP. 23 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
242
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 23
243
CAP. 23 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
também foram observadas maiores incidências de 0,70). O grupo que fez uso de exemestano apresen-
TVP e de câncer de endométrio. 33 (A) tou mais efeitos colaterais relacionados a queixas
O uso do raloxifeno como agente para pre- de trofismo vaginal e sintomas vasomotores. 37 (B)
venção primária foi aventado durante o MORE trial Um outro estudo que utilizou de inibidores de
34 (A)
em que estava sendo avaliado o uso do raloxi- aromatase foi o IBIS-II, publicado em 2014. Foram
feno para prevenção de fraturas na pós-menopausa. randomizadas 3864 pacientes para receber anastro-
Observou-se que o grupo que recebia 60 mg ou 120 zol (1mg) ou placebo durante 5 anos. Houve redu-
mg de raloxifeno por dia apresentou uma impor- ção significativa da incidência de câncer de mama
tante redução na incidência de câncer de mama, RR no grupo que usou o anastrozol (HR: 0,47) sendo
0,24 (95%, CI 0,13-0,44) em comparação com o gru- mais importante para prevenção de tumores de alto
po placebo, o que estimulou a realização de outro grau (HR: 0,35). Porém o grupo do anastrozol apre-
estudo, o CORE trial 35 (B), para avaliação de mais 4 sentou maior taxa de efeitos colaterais, principal-
anos em uso de raloxifeno X placebo com objetivo mente relacionados a sintomas vasomotores. 38 (B)
de analisar o desfecho de câncer de mama em pa-
cientes pós menopausa e com osteoporose. INDICAÇÕES
Em uma análise do seguimento de 8 anos dos - O tamoxifeno 20mg/d é uma opção para
estudos MORE + CORE 35 (B) em conjunto, a redução na redução do risco de câncer de mama em pacien-
incidência de câncer de mama foi de 66% (HR: 0,34, tes saudáveis, na pré e pós-menopausa, com mais
95%CI 0,22-0,50) comparando o grupo do placebo. de 35 anos, com expectativa de vida maior que 10
Um dado interessante destes estudos foi que anos e definidas como de alto risco para câncer de
o uso de raloxifeno não causou impacto na redução mama (lifetime risk >20 % ou 5 –year risk >= 1,7
do câncer de mama não invasivo (CDIS) (HR: 1,78, %). É o método mais indicados nas portadoras de
95% CI 0,37-8,61), o que foi ratificado pelo estudo lesões com atipias. (categoria 1 pelo NCCN 2016).
NSABP- P2 ou STAR trail. Estudos realizados com coortes de paciente
O estudo NSABP-P2 ou STAR, iniciado em com mutação em BRCA 1 e 2, sugerem benefício no
1999, randomizou 19.747 pacientes para receber grupo de BRCA 2 e sem benefício no grupo BRCA 1.
tamoxifeno (20mg) ou raloxifeno (60mg) durante Porém os resultados não são estatisticamente sig-
5 anos. Em 2010 foi publicado o seguimento lon- nificantes e os intervalos de confiança muito largos
go prazo, que demonstrou que o raloxifeno é in- devido ao pequeno número de pacientes (n). 39,40 (B,B)
ferior em relação ao tamoxifeno para prevenção Nestes casos pode ser usado enquanto não se
de câncer invasor RR: 1,24 (95%, CI 1,05- 1,47) e tomar outras medidas redutoras de risco.
semelhante em relação ao CDIS RR: 1,22 (95% CI - O raloxifeno 60 mg/dia pode ser indicado
0,95-1,50). Como os estudos anteriores, não houve na pós –menopausa como opção ao tamoxifeno
diferença na mortalidade. Em relação aos efeitos quando o risco ou comorbidades impedem o uso do
colaterais, o grupo do raloxifeno apresentou me- tamoxifeno. 41 (B)
nor número de eventos tromboembólicos, RR 0,75 - O exemestano 25 mg/ dia e o anastrozol 1
(95%, CI 0,60-0,93) e menor incidência de catarata mg/ dia são opções que têm benefício na prevenção
RR 0,80 (95%CI 0,72-0,90). 36 (B) primária do câncer de mama, como já visto acima,
Para avaliar a possibilidade de uso de inibi- porém não foram aprovadas pelo FDA para este uso
dores de aromatase em quimioprevenção foi rea- até o momento. 42(B)
lizado em 2011 o estudo MAP-3, que randomizou A indicação destes inibidores da aromatase
4560 pacientes de alto risco para receber exemes- vão diminuir de maneira radical a produção estro-
tano (25mg) ou placebo com seguimento de 3 anos. gênica sistêmica o que prejudicará sensivelmente
Foi observada redução significativa da incidência a qualidade de vida feminina e portanto fica re-
de todos os tipos de câncer de mama no grupo do servado para o tratamento da doença e não como
exemestano (HR: 0,47), sendo mais importante no prevenção onde os Serms são comprovadamente
grupo do carcinoma invasivo HR 0,35 (95%, CI 0,18- eficazes e com menor prejuízo da qualidade de vida.
244
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 23
245
CAP. 23 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
de alto risco, tais como a diminuição do consumo dence-based analysis of the accuracy of fami-
de álcool principalmente antes dos 30 anos, prática ly cancer history. JAMA 2004; 292:1480-1489.
de exercícios físicos regulares (150 minutos/sema- 7. Wooster R, Bignell G, Lancaster J, et al. Identifi-
na), dieta com baixa ingestão de gorduras e evitar cation of the breast cancer susceptibility gene
o ganho de peso. Muitos estudos já demostraram BRCA2. Nature 1995; 378:789-792
que a ingestão de moderada quantidade de álcool 8. Miki Y, Swensen J, Shattuck-Eidens D, et al. A
(uma ou duas doses diariamente) está associado ao strong candidate for the breast and ovarian
aumento do risco para câncer de mama 51 (B) cancer susceptibility gene BRCA1. Science
Em relação ao peso, dados do Nurse´s Health 1994; 266:66-71.
Study publicados recentemente, mostram que o ga- 9. Malkin D, Li FP, Strong LC, et al. Germ line p53
nho de 25 quilos ou mais desde os 18 anos de ida- mutations in a familial syndrome of breast
de representa aumento significativo no risco para cancer, sarcomas, and other neoplasms. Sci-
desenvolvimento de câncer de mama (RR 1,45, 95% ence 1990; 250:1233-1238
CI 1,27-1, 66). Assim como a perda de peso de 10 10. van Lier MG, Wagner A, Mathus-Vliegen EM,
quilos ou mais em mulheres que não fizeram uso et al. High cancer risk in Peutz-Jeghers syn-
de terapia hormonal, diminui o risco para câncer de drome: a systematic review and surveil-
mama se comparando com as mulheres que manti- lance recommendations. Am J Gastroenterol
veram o peso na pós-menopausa (RR 0,43, 95% CI 2010;105:1258-1264; author reply 1265
0,21-0,86). 49 (B) 11. Bubien V, Bonnet F, Brouste V, et al. High cu-
Um estudo prospectivo avaliou 45.351 mulhe- mulative risks of cancer in patients with PTEN
res que praticavam atividade física e sedentárias e hamartoma tumour syndrome. J Med Genet
a maior redução do risco de câncer de mama se deu 2013;50:255-263
no grupo que praticou >= 10 horas de caminhada ou 12. Berx G, Staes K, van Hengel J, et al. Cloning
trote por semana (RR: 0,57, 95% CI 0,34-0,95). 50 (B) and characterization of the human invasion
Estudos epidemiológicos sugerem que a su- suppressor gene E-cadherin (CDH1). Genom-
plementação de vitamina D pode ter relação com a ics 1995;26:281-289
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 23
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247
CAP. 23 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
248
24
CIRURGIA REDUTORA DE
RISCO EM PACIENTES DE
ALTO RISCO HEREDITÁRIO
E ESPORÁDICO
Palavras Chave:
Cirurgia Redutora de Risco nas Pacientes de Alto Risco
BETINA VOLLBRECHT
Doutora pela Gerontologia da PUCRS
Mastologista Preceptora do Centro de Mama da PUCRS
Mastologista do Instituto do Câncer Mãe de Deus
250
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 24
redutora de risco no NCCN (National Comprehen- de câncer, uma vez que a sua técnica consiste na
sive Cancer Network Guideline) 1.2017. Já a cirurgia retirada total da glândula mamária. Devido a sua
de mastectomia reduz apenas o risco de neoplasia agressividade cirúrgica e ao grande prejuízo esté-
mamária, e no NCCN guideline 1.2017, sugere-se a tico gerado nas pacientes que apresentavam um
discussão, e não a indicação formal como aborda- risco e não uma patologia, com o passar dos anos
gem redutora de risco para as pacientes acima. 3(B) foi ficando cada vez mais difundido como mastec-
Existe uma controvérsia quanto a indicação tomias redutoras de risco as adenomastectomias e
de salpingo-ooforectomia para redução do câncer de as mastectomia poupadoras de pele (essa última
mama. Além de seu uso para a prevenção do câncer de não preserva mamilo). Os estudos com essas abor-
ovário, a salpingo-ooforectomia tem sido avaliada em dagens cirúrgicas para em pacientes de alto risco
estudos observacionais quanto ao efeito sobre o risco têm demonstrado resultados com bons índices de
de câncer de mama. Em estudos em que o câncer de satisfação e segurança oncológica.
mama é o ponto final de interesse, as mulheres com Os tipos de incisão e de reconstrução variam
câncer de mama anterior devem ser excluídas para muito de acordo com a experiência do cirurgião e o
evitar vieses que favoreçam o grupo cirúrgico ou não tipo de mama da paciente.
cirúrgico. De sete importantes estudos sobre salpingo As mastectomias redutoras de risco podem
-ooforectomia e risco de câncer de mama entre por- ser realizadas por diversas incisões. Podem ser pe-
tadoras de mutação em gene BRCA, cinco mostraram riareolares, infra-mamárias, radiais, transareolares,
uma redução significativa no risco de aproximada- incisões de mamoplastia redutora ou mesmo rea-
mente 50% quando a operação foi realizada em mu- lizando exérese do CAM e após efetuando sua en-
lheres antes da menopausa. Esses estudos excluíram xertia. Não existe uma única incisão ideal e poucos
as mulheres com câncer de mama anterior. Um recen- estudos foram realizados comparando seus diferen-
te estudo nacional holandês examinou esta questão tes tipos. 1,4,5,6,7,8(C)
com o uso de critérios adicionais para minimizar viés. Durante a cirurgia é muito importante evitar
Este estudo excluiu as mulheres com câncer de mama traumas ao tecido subcutâneo e à pele, realizando
ou de ovário anterior, considerou a mastectomia de apenas leve tração cutânea que possibilite a dissec-
redução de risco como um evento de censura e tempo ção homogênea entre o tecido glandular mamário a
de pessoa alocada antes da cirurgia para o grupo que ser retirado e o tecido subcutâneo a ser preservado
não foi submetido a cirurgia. Os investigadores não re- de maneira homogênea e com integridade de sua
lataram nenhum efeito da salpingo-ooforectomia no vascularização subcutânea. Deve-se ter uma espe-
risco posterior de câncer de mama. Dessa forma, para cial atenção a preservação do sulco mamário para
pcientes portadores de mutação patogênica no gene que a reconstrução a ser realizada seja da forma
BRCA continua sendo indicado a cirurgia no devido mais natural possível, e os detalhes da técnica ci-
ao claro benefício quanto a redução de mortalidade rúrgica devem ser observados com muito rigor a
por câncer de ovário, porém se sugere cautela quanto fim de evitar outras complicações, principalmente
a orientação do potencial benefício para redução do necroses de pele, aréola ou papila, infecções e ex-
câncer de mama. 4(B) trusões. 9(C)
Em estudos prospectivos e retrospectivos, mastec- Os princípios para reconstrução tem como ob-
tomias redutoras de risco demonstraram uma diminuição jetivo obter a simetria das mamas, geralmente, rea-
na incidência de neoplasia mamária em torno de 90% em lizando reconstrução com implantes ou próteses ex-
pacientes de alto risco para câncer de mama. 4,5,6,7(B). pansoras. A escolha de implante ou expansor depende
do retalho de pele e subcutâneo remanescente du-
TIPOS DE CIRURGIA E rante a cirurgia, da musculatura peitoral da paciente,
RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA do tamanho esperado pela paciente, da preferência e
habilidade do cirurgião. A reconstrução com retalhos
A mastectomia total era a cirurgia indicada de tecidos autólogo da paciente, raramente é indicado
para reduzir ao máximo o risco do aparecimento para reconstrução de mastectomias redutoras de risco,
251
CAP. 24 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
devido a maior morbidade, tempo cirúrgico e compli- ferem que pode ocorrer piora da feminilidade, piora
cações para uma paciente que não apresenta patolo- da autoestima e da sexualidade, insatisfação corpo-
gia e sim um risco aumentado. ral e aumento da cancerofobia. 1,4,5,6,7,8(C)
Não existem dados na literatura que sustentem A paciente deve ser atendida por equipe mul-
a necessidade de abordagem axilar em pacientes sem tidisciplinar, composta por psicólogo, geneticista,
diagnóstico de câncer. Sabe-se que o achado inciden- mastologista e equipe da cirurgia reconstrutora.
tal de carcinoma invasor é muito baixo nessas pa- Dessa forma, a paciente pode obter uma melhor
cientes (3 a 5%), e nestes casos a chance de linfonodo compreensão de todos os fatores que estão envol-
sentinela positivo é menor ainda. Portanto, a maio- vidos com a tomada de decisão e o procedimento
ria dos autores não recomendam a realização deste propriamente dito, tornando-se assim apta para de-
procedimento, uma vez que o mesmo pode provocar cidir sobre a realização da cirurgia. 10,11(C)
complicações (dor, linfedema, parestesia cutânea e A cirurgia redutora de risco deve ser adotada
aumento do custo do procedimento) sem acrescentar após análise criteriosa de cada caso e sem necessi-
beneficio concreto. 1(C) Recente publicação do grupo dade de urgência. Os riscos existentes e a falta de
do Memorial, descrevem achado incidental de carci- estudos randomizados sobre a proteção devem ser
noma invasor em cirurgias redutoras de risco em 1,7% sempre informados.
das pacientes. Número esse que não justifica realizar Um artigo publicado em 2013 por Heemsker-
esse procedimento para todas pacientes. 10(B) k-Gerritsen observou um aumento na sobrevida das
pacientes de alto risco submetidas a cirurgia redu-
COMPLICAÇÕES tora em um curto prazo de seguimento. 4,5,6,7,8(C) Di-
versos outros grupos ainda estão acompanhando a
As complicações existentes após mastecto- longo prazo o grupo de pacientes que realizaram o
mias com reconstrução devido ao câncer e na mas- procedimento versus o grupo controle que acompa-
tectomia redutora de risco são similares. Essas com- nha com exames, e as estimativas são que também
plicações devem ser claramente informadas para as demonstrarão benefício conforme aumento do se-
pacientes. As complicações mais comuns incluem: guimento. Além disso, a vantagem de não detectar a
hematoma, necrose de CAM, necrose do retalho, in- doença (mesmo que inicial) , podendo evitar a qui-
fecção, perda de sensibilidade, contratura capsular, mioterapia e radioterapia, são benefícios indiscutí-
estética insatisfatória, extrusão da prótese e pro- veis para a maioria das pacientes.
blemas de cicatrização. Importante também é discutir o melhor momento
A necrose do complexo aréolo-mamilar está para a realização do procedimento. Os estudos demons-
descrita na literatura com ocorrência em torno de tram uma incidência para câncer de mama com aumen-
5 a 25%. E as complicações que necessitam de to significativo a partir dos 35 a 40 anos, sendo por isso
novo procedimento são encontrados na literatura indicado a cirurgia antes dessa idade. Dessa forma, ob-
com uma estimativa média de 20% dos casos. Com tendo melhor impacto de ganho de anos de vida por
o aumento da indicação dessa cirurgia e um cres- redução de risco antes do surgimento do câncer. Porém,
cente numero de cirurgiões experientes, as taxas ainda não há estudos conclusivos para indicar até qual
de complicações vem sendo descritas cada vez com idade essa cirurgia de grande porte representaria im-
números inferiores. Recente publicação do Memo- pacto em ganho de sobrevida global.
rial, descreve como 6,5% a taxa de necessidade de
debridamento por necrose tecidual. 10(B) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Além disso, os problemas psicológicos decor-
rentes do procedimento também são observados 1. Novita G, Machado L, Viegas J, Travassos M,
em algumas mulheres. Estudos sobre o assunto re- Frasson A. Cirurgias redutoras de risco in
252
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 24
253
25
ANATOMIA PATOLÓGICA
DO CARCINOMA MAMÁRIO
Palavras Chave:
Câncer de mama; classificação; patologia
256
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 25
CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA
e sem componente “in situ”. A possibilidade de me- Lobular infiltrativo RE-pos/HER2-neg 5% a 15%
com outra neoplasia prévia. Várias neoplasias po- Mucinoso (coloide) RE-pos/HER2-neg 2%
257
CAP. 25 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
similar aos de tipo não especial, dependente de ou- do, distribuídas em arranjos lineares, alveolares ou
tras características clinicopatológicas 7(C). Seguem trabeculares, geralmente concêntricos em relação
adiante as características gerais de apresentação às unidades ducto terminal-lobulares locais (Figura
histológico dos tipos mais frequentes. 3). A perda de coesão que caracteriza as células
neoplásicas deste tipo histológico está relacionada
TIPO HISTOLÓGICO NÃO ESPECIAL à perda da expressão da molécula de adesão e-ca-
derina, identificada em 55% a 100% dos casos1(B).
A apresentação histológica mais comum é a A variante pleomórfica corresponde a 1% a
de carcinoma sem as características que definem 5% dos carcinomas lobulares e caracteriza-se pela
os tipos especiais, correspondente, portanto, a diag- presença de células com intensa anaplasia nuclear,
nóstico de exclusão. Estes tumores são classificados citoplasma amplo e sinais de diferenciação apócri-
como carcinomas invasivos de tipo histológico não na, distribuídas em arranjos similares aos da forma
especial, previamente denominados ductal invasivo clássica, sem coesão celular (Figura 4). Este padrão
ou sem outra especificação. Caracterizam-se pela caracteriza-se por prognóstico pior do que a forma
presença de células neoplásicas grandes ou inter- clássica. Em casos duvidosos o diagnóstico pode ser
mediárias, distribuídas em arranjos cordonal ou em confirmado pela perda da expressão da e-caderina
ninhos com variável formação de espaços glandu- associada à expressão anômala de p53 ou HER2 por
lares. Citologicamente mostram atipia nuclear va- imunoistoquímica1(B).
riável. Componente “in situ” pode estar presente em
proporção variável. Associam-se a estroma intratu- CARCINOMA TUBULAR
moral com variável reação fibrosa ou desmoplásica
e variável reação linfocitária (Figura 2). O tipo histológico tubular é caracterizado pela
presença de túbulos pequenos, angulados, com lúmen
CARCINOMA LOBULAR INFILTRATIVO patente, revestidos por camada única de células colu-
nares uniformes, com sinais de secreção apical, dis-
O segundo tipo histológico em frequência é o postos em estroma intensamente desmoplásico (figu-
lobular, caracterizado por células neoplásicas me- ra 5). Estas características devem estar presentes em
nores, pouco coesas, com alta relação núcleo-cito- mais de 90% da neoplasia. Sua presença em 75 a 90%
plasmática e citoplasma frequentemente vacuoliza- da neoplasia define o carcinoma tubular misto7(C).
Figura 2 – Carcinoma mamário de tipo não especial com células grandes, Figura 3 – Carcinoma lobular infiltrativo, forma clássica, com células pe-
coesas, com moderada atipia nuclear, distribuídas em arranjos glandu- quenas, pouco coesas, em arranjos lineares concêntricos periductais
lares irregulares
258
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 25
Figura 4 – Carcinoma lobular infiltrativo, pleomórfico, com células pouco Figura 5 – Carcinoma tubular caracterizado por túbulos pequenos, leve-
coesas distribuídas em arranjos lineares e com intensa atipia nuclear mente ondulados e patentes, revestidos por camada única de células com
mínima atipia em meio a estroma amplo, fibroso
259
CAP. 25 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
TAMANHO
O tamanho do tumor utilizado no estadia-
mento refere-se somente ao componente invasivo.
A presença e extensão do componente “in situ”, em-
bora não considerados para estadiamento, devem
ser notificados no laudo, pois norteiam o tratamen-
Figura 6 – Carcinoma mucinoso de tipo coloide, tipo A, com abundante to local necessário e suficiente para cada caso.
muco extracelular e agrupamentos pequenos de células com atipia nu-
clear leve A determinação do tamanho do tumor inva-
sivo segundo orientação do College of American
Pathologists (CAP) deve ser feita combinando-se a
características medulares tem sido relaciona- apresentação macroscópica com o exame histológi-
dos a mutação ou inativação do BRCA1, o que jus- co. No caso de tumores múltiplos, quando possível,
tifica sua identificação. A frequência deste tipo his- os tumores invasivos devem ser contados e anota-
tológico ente paciente com mutação do BRCA1 é de dos os tamanhos de todos os nódulos, utilizando-se
9,4%, enquanto que para aquelas com mutação do o valor do maior para fins de estadiamento14(D). No
BRCA2 é de 2,2% 12(B). relato da categoria T pelo sistema TNM da Ameri-
can Joint Committee of Cancer (AJCC) é anotado en-
CARCINOMA METAPLÁSICO tre parênteses o número de nódulos ou a letra m,
referente a múltiplos. Entretanto, independente da
Os carcinomas metaplásicos correspondem a formulação do estadiamento, toda a área de tecido
grupo de neoplasias epiteliais que apresentam di- mamário envolvida pelos tumores invasivos deve
ferenciação escamosa ou fusocelular com aspectos ser informada para orientação do tratamento local.
tipo mesenquimais, incluindo a presença de ele- Se os nódulos invasivos associam-se a componen-
mentos heterólogos7(C). Os subtipos histológicos te “in situ”, mede-se a extensão do tecido mamário
são classificados de acordo com o padrão de dife- ocupada por este componente e anota-se “is” após
renciação e incluem o carcinoma adenoescamoso o número de nódulos no estadiamento final.
de baixo grau, carcinoma metaplásico tipo fibroma- Algumas vezes os nódulos neoplásicos invasi-
tose, carcinoma escamoso, carcinoma fusocelular, vos são múltiplos, mas têm limites imprecisos difi-
carcinoma metaplásico com diferenciação mesen- cultando a individualização de cada nódulo. Exem-
quimal e carcinomas com padrões mistos7(C),13(C). plo desta situação é a que ocorre com carcinomas
Caracterizam-se por pior prognóstico do que os car- de tipo histológico lobular. Nestes casos toda a área
cinomas de tipo não especial, apesar de menores envolvida pela neoplasia é utilizada para fins de
taxas de comprometimento linfonodal13(C). estadiamento, notificando-se que são múltiplos fo-
cos de invasão confluentes e indefinidos ocupando
CARCINOMA MICROPAPILAR aquela área15(D).
INFILTRATIVO As características dos carcinomas mamários
multifocais e multicêntricos foram analisadas em
O carcinoma micropapilar invasivo é caracte- estudo de revisão retrospectivo com 1.495 pacien-
rizado por células epiteliais glandulares agrupadas tes provenientes de banco de dados prospectivo
260
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 25
261
CAP. 25 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mais agressivas, como idade mais jovem, tumores Assim, embora o grupo dos tumores RE-po-
maiores, alto grau histológico, axila positiva, alta ati- sitivos seja potencialmente suscetível à manipula-
vidade proliferativa e superexpressão do HER221(C). ção hormonal e de melhor prognóstico do que as
Nas pacientes com linfonodos negativos, o compro- neoplasias RE-negativas, a presença de receptores
metimento linfático extenso associa-se a menor so- hormonais não é garantia de resposta à terapêutica
brevida livre de doença, risco de metástase e menor anti-estrogênica e o risco de recorrência e eventual
sobrevida geral (21). Nos casos de axila positiva, o benefício de quimioterapia devem ser considerados.
comprometimento vascular extenso se associa ao O RE pode mediar a transcrição gênica através de
subtipo luminal B, pacientes jovens, tumores gran- duas vias de sinalização celular, a via genômica ou
des com alto grau, maior número de linfonodos com- nuclear, através do elemento de resposta ao estro-
prometidos e alta atividade proliferativa, além de gênio (ERE), e a via mais rápida, não genômica ou
maior risco de recorrência22(C). extranuclear com ativação das vias MAPK e PI3K,
comuns aos receptores de fatores de crescimento
DETERMINAÇÃO DA EXPRESSÃO DE RE- com atividade tirosino-quinase31(C). O bloqueio da
CEPTORES HORMONAIS atividade do receptor pelo tamoxifeno é feito so-
mente na via genômica32(D). Na via não genômica
A ação estrogênica no epitélio mamário se faz o RE pode ser ativado mesmo na ausência do es-
através de proteínas receptoras, citoplasmáticas de trogênio33(D). A ativação desta via pode ser suspei-
ação nuclear ou de membranas. Os receptores de tada nos casos com menor positividade ou mesmo
ação nuclear são de dois tipos distintos (alfa e beta), negatividade de RP, maior co-expressão de HER2 e/
codificados por genes distintos e com efeitos anta- ou HER1, e maiores taxas de proliferação celular.
gônicos nas células mamárias. O REα predomina em Estas características se associam a resistência ao
células neoplásicas, enquanto que o REβ tem maior tratamento endócrino e maior risco de recorrência.
concentração em células mamárias normais23(C). O A heterogeneidade do grupo dos tumores RE-
REβ é um supressor tumoral, inibindo a proliferação -positivos quanto a resposta ao bloqueio hormonal,
celular. Está reduzido ou mesmo ausente em carci- risco de recorrência e benefício da quimioterapia é
nomas invasivos24(B). um desafio para as estratégias de tratamento. Al-
O REα é um regulador do crescimento celu- gumas características histológicas podem indicar
lar, proliferação e diferenciação. A sua importância menor chance de reposta ao tratamento hormonal
na previsão de resposta à terapia anti-estrogênica e maior risco de recorrência, como baixa porcen-
foi estabelecida através de sua detecção por méto-
dos bioquímicos. Entretanto, atualmente, o método
imunoistoquímico substituiu as dosagens bioquí-
micas desde que foi comprovada adequada correla-
ção entre os métodos25(D) (Figura 9).
O estado do REα é, logo após o diagnóstico,
informação obrigatória que discrimina os dois gran-
des grupos de carcinomas mamários: os receptores-
-positivos e os receptores-negativos.
A expressão imunoistoquímica do RE carac-
teriza um grupo molecular aproximadamente equi-
valente aos subgrupos genéticos luminais26,27(B),
28
(D), 29(B). Os carcinomas luminais apresentam ex-
pressão genética do receptor e genes relacionados
a sua função e comportam pelo menos dois sub-
grupos discriminados pela atividade proliferativa e Figura 8 – Êmbolos neoplásicos em vasos linfáticos ao redor de vaso
com diferente comportamento biológico30(B). sanguineo
262
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 25
tagem de células neoplásicas RE-positiva, baixa da porção extracelular da molécula. Entretanto, até
expressão de receptor de progesterona e alta ativi- o presente, somente a determinação gênica direta
dade proliferativa. Neste cenário a inclusão de tes- por técnicas de hibridização molecular e a determi-
tes genéticos prognósticos e preditivos contribuem nação imunoistoquímica da proteína na membrana
para tratamentos mais personalizados. são recomendados para sua avaliação. A Socieda-
de Americana de Oncologistas Clínicos (ASCO) e o
AVALIAÇÃO DO HER2 Colégio de Patologistas Americanos (CAP) normati-
zaram critérios de qualidade e interpretação para
Em células normais o gene erbB2 codifica uma o teste38(D). O resultado é apresentado em escores
glicoproteína transmembrana de 185kd com ativida- 0,1+, 2+ e 3+, onde o resultado 3+ corresponde ao
de tirosina-quinase intracelular. Ele pertence à famí- teste positivo e é caracterizado por imunocoloração
lia dos receptores de fatores de crescimento epidér- intensa em toda a circunferência da membrana em
mico humano (HER) composta por quatro receptores mais de 10% das células neoplásicas (figura 10). O
envolvidos em vias de sinalização celular que regu- resultado é equivoco, categorizado com escore 2+,
lam a atividade proliferativa: EGFR ou HER-1 (c-ER- se a coloração em membrana é circunferencial, po-
B-b1), HER-2/neu (c-ERB-b2), HER-3 (c-ERB-b3) e rém incompleta e/ou fraca/moderada em >10% das
HER-4 (c-ERB-b4). Os receptores da família HER células neoplásicas, ou completa e circunferencial,
exercem sua função através de ligação com fator de intensa, em até 10% das células neoplásicas. Os
crescimento e formação de dímeros com um recep- escores 0 e 1+ correspondem ao teste negativo. Es-
tor do mesmo tipo ou de outro da mesma família. Os core 1+ é definido por fraca coloração em membra-
ligantes ou fatores de crescimento são conhecidos na em >10% das células neoplásicas. O escore 0 é
para HER1, HER3 e HER4. Homodímeros de HER3 caracterizado por reação totalmente negativo ou
não tem atividade tirosino-quinase, embora o HER3 fraca positividade em membrana em até 10% das
exerça esta atividade na forma de heterodímero. O células neoplásicas38(D) .
HER2 não tem ligante conhecido, embora possa so- A amplificação é identificada através dos mé-
frer homodimerização independente do ligante em todos de hibridização molecular “in situ” (ISH), por
situações de super-expressão. exemplo, hibridização in situ marcada por fluores-
O gene do HER2 está localizado no braço lon- cência (FISH). Nestes métodos pode-se determinar
go do cromossoma 17 e, em condições normais, es- número de sinais de HER2/neu através de sonda
tão presentes duas cópias do gene e baixos níveis única ou a relação entre número de sinais de HER2
de p185. Cerca de 15 a 30% dos tumores super-ex- e do centrômero do cromossoma 17 (CEP17) com
pressam HER234(C). Em nosso meio, a fração de car- sonda para ambas localizações no cromossoma,
cinomas HER2 superexpresso varia de pouco mais
de 17% nas regiões brasileiras Sudeste e Sul, até
24% na região Norte35(B). Quando comparamos pa-
cientes com idade abaixo dos 35 anos com mulhe-
res acima de 60 anos, as frações de tumores HER2
positivos foi de 16,5% e 5,4%, respectivamente36(B).
A super-expressão de HER2/neu implica em meno-
res sobrevida geral e livre de doença e se consti-
tui em fator preditivo de resposta a antracíclicos
e ao anticorpo monoclonal trastuzumabe37(C). Ela
pode ser detectada através da produção aumentada
da proteína presente na membrana celular, direta-
mente através da quantificação de cópias do gene,
pelos transcritos de RNA no citoplasma ou ainda
Figura 9 – Carcinoma mamário de tipo não especial com células difusa-
pela determinação sérica de fragmentos liberados mente positivas para receptor de estrogênio
263
CAP. 25 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mero de sinais de HER2 por célula for ≥6. Razão <4 HER2 HER2-positivo não luminal
RE-negativo e RP-negativo
HER2-positivo
264
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 25
encontrados foram basal-símile tipo 1, basal-símile ção que vem ampliar o conceito prévio de imuno-
tipo 2, imunomodulador, tipo mesenquimal, tipo me- vigilância46,47 (C). Em revisão sobre o tema, Mittal et
senquimal/célula tronco e luminal receptor de an- al. apresentam os princípios da imunoedição46(C). A
drogênio45(B). O basal1 tem expressão de citoquera- primeira fase corresponde aproximadamente à imu-
tinas basais, enquanto que o basal2 se caracteriza novigilância, conhecida há mais de um século como
por inativação do PTEN. Entre os basais se encontra fator fundamental no desenvolvimento do câncer.
a maioria dos casos de mutação do BRCA1. O imuno- Os experimentos com animais imunodeficientes,
modulador se caracteriza por genes de sinalização assim como a alta incidência de tumores em indi-
imune geralmente associados com tipo histológico víduos imunosuprimidos, confirmam este papel do
medular. O subgrupo mesenquimal apresenta nega- sistema imune, sobretudo na gênese do câncer. Um
tividade para citoqueratinas basais e inclui o grupo dos mecanismos de eliminação ocorre quando an-
das claudinas-baixo e o tipo histológico metaplásico. tígenos do tumor são apresentados a células CD8+,
O subgrupo luminal receptor de androgênio corres- linfócitos citotóxicos, através das células dendrí-
ponde ao tipo molecular e histológico apócrino e ticas apresentadoras de antígenos. Outros meca-
tem ativação das vias androgênicas45(B). nismos de eliminação envolvem a participação de
células NK e macrófagos. Na fase de dormência ou
PAPEL DO MICROAMBIENTE TUMORAL equilíbrio, o microambiente tumoral apresenta alta
proporção de algumas células com função anti-tu-
O comportamento biológico do tumor depen- moral como CD8+ e NK, e baixa proporção de cé-
de não somente de suas características intrínsecas, lulas que passam a se expressar na fase de evasão
mas também da influência do microambiente, com- como, por exemplo, linfócitos Treg Foxp3+. A evasão
ponente do hospedeiro que interage com a neopla- do sistema imune pode ocorrer por vários meca-
sia. Na composição do microambiente temos várias nismos, como redução do reconhecimento imune
estruturas e substâncias, como vasos, fibroblastos, por perda de antígenos pelas células neoplásicas,
miofibroblastos, células inflamatórias, entre outros. aumento da resistência ou sobrevida celular devi-
Deste cenário destacamos os linfócitos intratumo- do a aumento de STAT3 (aumento da proliferação
rais (TILs), agentes envolvidos nas interações entre e redução da apoptose) ou de BCL-2 (redução da
sistema imune e neoplasia. A interação entre o sis- apoptose), ou desenvolvimento de microambiente
tema imune e os tumores é um processo dinâmico imunossupressor. Este último envolve a expressão
onde se reconhecem papéis anti- e pró-tumor. Este de várias citocinas (VEGF, IL-10, TGFß) e expressão
processo apresenta três fases – Eliminação, Equilí- de moléculas imunoreguladoras, incluindo a famí-
brio e Escape – elementos da teoria de imunoedi- lia B7 (PD-1/PD-L1, CTLA-4, VISTA, B7-H4, BTLA)
e expressão de CD73. O conhecimento dos fenô-
menos que ocorrem na fase de evasão através da
composição celular e molecular do microambiente
e da expressão tumoral de moléculas controladoras
do sistema imune amplia as possibilidades de ava-
liação prognóstica e de imunoterapias. Entre estas
temos o bloqueio da via PD-1/PD-L1, com benefício
demonstrado em algumas neoplasias, como mela-
noma, por exemplo48(A).
Em recomendações feitas pelo TILs Working
Group, os autores definem os carcinomas mamá-
rios ricos em linfócitos como aquelas neoplasias
com >50% de linfócitos no estroma intratumoral e
oferecem um tutorial para a adequada classificação
Figura 10 – Carcinoma mamário invasivo, tipo não especial, com supe-
rexpressão de HER2, escore 3+ por parte dos patologistas49(C).
265
CAP. 25 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
266
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 25
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268
26
ESTADIAMENTO
PATOLÓGICO DO
CARCINOMA MAMÁRIO
Palavras Chave:
Câncer; Mama; Estadiamento do Câncer
270
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 26
te incluído em um bloco de parafina. Por outro lado, neoplásicas além da membrana basal, com foco me-
a medida de escolha para a determinação de tumo- nor do que 0,1 cm na maior dimensão. O prognóstico
res grandes, que devem ser incluídos em múltiplos destes tumores é, em geral, mais favorável. Quando
blocos de parafina, é a macroscópica. O tamanho pa- há múltiplos focos, apenas o tamanho do maior foco
tológico para a classificação T deve ser apenas da é utilizado para a classificação (não deve ser feita
porção invasiva: se há um componente intraductal a soma de todos os focos individualmente). A pre-
de 6,0 cm, por exemplo, e um invasivo de 0,2 cm, sença de múltiplos focos de microinvasão deve se
a classificação será pT1a. A mensuração deverá ser anotada ou quantificada, assim como acontece com
antes da remoção de qualquer tecido para exames os múltiplos carcinomas invasivos maiores. O carci-
especiais, como por exemplo, receptores de estro- noma inflamatório é uma entidade caracterizada por
gênio. No caso de múltiplas biópsias de fragmentos eritema e edema que surge rapidamente na maior
em tumores pequenos, medir apenas a lesão resi- parte da pele da mama, devido a embolia dos vaso
dual pode ser um desafio clínico-patológico. Nessas linfáticos dérmicos, sendo classificado como T4d.
situações, o tamanho original do tumor pode ser Portanto, não deve ser aplicado a uma paciente com
subjetivamente avaliado com base na combinação câncer localmente avançado negligenciado, que se
dos achados dos exames de imagem e histológicos. apresenta tardiamente na evolução de sua doença.
A presença de carcinomas ipsilaterais simultâneos A confirmação histológica de carcinoma na derme
deve ser anotada e quantificada e o T será designado não é necessária, nem como sua constatação sem os
ao maior tumor, não devendo ser atribuído uma clas- achados clínicos característicos é suficiente para um
sificação T separada para lesões menores, diferente diagnóstico. (Tabela 2)
da bilateralidade, onde cada carcinoma deverá ser Se o tumor primário for invasivo, uma amostra
estadiado. A microinvasão é a extensão das células axilar deve ser obtida para o pN. Em axilas clinica-
271
CAP. 26 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mente negativas, um ou mais linfonodos sentinelas metimento axilar ou mamária interna. As células
(sn) podem ser removidos e examinados para classi- tumorais isoladas (ITCs) são definidas como células
ficação patológica. Entretanto, quando seis ou mais únicas ou pequenos agrupamentos celulares não
sentinelas são identificados na patologia, o modi- confluentes, de até 0,2 mm na maior dimensão, não
ficador sn deve ser retirado. Nos casos em que os excedendo 200 células, em um único corte transver-
linfonodos regionais não podem ser avaliados (re- sal histológico de linfonodo, geralmente sem evidên-
movidos previamente ou não removidos para exa- cias histológicas de atividade de doença (tais como
me patológico) a designação NX ou pNX deve ser proliferação ou reação do estroma). Se for realizado
colocada e quando nenhuma metástase linfonodal um exame adicional de imuno-histoquímica (IHC)
detectada, como N0 ou pN0. Em axila clinicamente para ITCs em uma paciente com linfonodos histolo-
positiva, N1 designa metástase para um ou mais lin- gicamente negativos, os linfonodos regionais devem
fonodos axilares ipsilaterais móveis, N2 para linfo- ser registrados como pN0(i-) ou pN0(i+). As micro-
nodos axilares fixos entre si ou a outras estruturas metástases são definidas como depósitos tumorais
e N3 indica linfonodos infraclaviculares ipsilaterais. acima de 0,2 mm até 2,0 mm na maior dimensão, de-
Metástases para mamária interna ipsilateral é desig- vendo ser classificadas como pN1mi. Os tumores de
nada como N2b quando é detectada por exames de mama estádio I foram subdivididos em Estádio IA e
imagem (incluindo a tomografia computadorizada e estádio IB, sendo que este último inclui os tumores
ultrassonografia, mas excluindo a linfocintigrafia) ou T1 com micrometástases em linfonodos. Se os linfo-
por exame clínico e quando eles não ocorrem em nodos são negativos na histologia e imuno-histoquí-
conjunto com metástases para os linfonodos axila- mica, porém foram examinados através de métodos
res. O SCLN ipsilateral deve ser estadiado como N3c moleculares (reação em cadeia da polimerase/trans-
independente da presença ou ausência de compro- criptase reversa [RT-PCR]) devem ser classificados
272
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 26
Linfonodos regionais não podem ser avaliados (e.g., previamente removidos ou não removidos para exame
pNX
patológico)
pN0 Sem metástases paralinfonodosregionaisidentificadas na histologia
Observação: ITCs são definidas como pequenos agrupamentos celulares ≤ 0,2mm, ou células tumorais únicas, ou um
agrupamento de ≤ 200 células em um único corte histológico transversal. ITCs podem ser detectadas por métodos
histológicos de rotina ou por IHC. Os nódulos que contêm apenas ITCs são excluídos da contagem total de nódulos
positivos para a classificação N, mas devem ser incluídos no número total de nódulos avaliados
pN0(i-) Sem metástases para linfonodos regionais na histologia, IHC negativo
pN0(i+) Células malignas em linfonodos regionais ≤ 0,2mm (detectados por H&E ou IHC, incluindo ITC)
pN0(mol-) Sem metástases paralinfonodosregionaisna histologia, achados moleculares negativos (RT-PCR)
Achados molecularespositivos (RT-PCR),mas sem metástases paralinfonodosregionaisdetectadas
pN0(mol+)
por histologia ou IHC
Micrometástases
OU
pN1 Metástases em 1-3 linfonodos axilares E/OU
Metástases para linfonodos mamário internos, com metástases detectadas por biópsia de linfonodos sentinela,
mas não detectadas clinicamente
pN1mi Micrometástases (> 0,2mm e/ou > 200 células, mas nenhuma > 2,0mm)
pN1a Metástases em 1-3 linfonodos axilares, pelo menos uma metástases > 2,0mm
Metástases nos nódulos mamários internos, com micrometástases ou macrometástases detectadas por
pN1b
biópsias de linfonodos sentinela, mas não detectadas clinicamente
Metástases em 1-3 linfonodos axilares e linfonodos mamários internos, com micrometástases ou
pN1c
macrometástases detectadas por biópsias do linfonodo sentinela, mas não detectadas clinicamente
Metástases em 4-9 linfonodos axilares
OU
pN2
Metástases em lifonodos mamários internos clinicamente detectados, na ausência de metástases
para linfonodos axilares
pN2a Metástases em 4-9 linfonodos axilares (pelo menos 1 depósito tumoral > 2mm)
Metástases em linfonodos mamários internos clinicamente detectadas, na ausência de metástases em
pN2b
linfonodos axilares
Metástases em ≥ 10 linfonodos axilares
OU
Metástases em linfonodos infraclaviculares (axilares nível III)
OU
pN3 Metástases em linfonodos mamários internos ipsilaterais clinicamente detectadas, na presença de um ou mais
linfonodos axilares positivos níveis I e II OU
Metástases em > 3 linfonodos axilares e mamários internos, com micrometástases ou macrometástases
detectadas por biópsia do linfonodo sentinela, mas não detectadas clinicamente OU
Metástases em linfonodos supraclaviculares ipsilaterais
Tabela 4 – Linfonodo patológico (pN) Observações: 1-A classificação é baseada na biópsia do linfonodo sentinela (LS) ou dissecção axilar. Quando
apenas o LS for realizado, sem dissecção axilar, mesmo após tratamento neoadjuvante, deve ser usado o sufixo (sn), como por exemplo pN0(sn)
2-A classificação X será utilizada (ypNX) se nenhum LS ou dissecção axilar for realizado após tratamento neoadjuvante
273
CAP. 26 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Tabela 5- Metástase
como pN0(mol-) ou pN0(mol+). Metástases acima de bular in situ (CLIS) são, portanto, classificados como
2,0mm serão consideradas pN1. (Tabela 3 e Tabela 4) Tis. Os termos “neoplasia intraepitelial ductal” e
Se a cirurgia ocorrer após tratamento neoadju- “neoplasia intraepitelial lobular” não são amplamen-
vante (quimioterapia, hormonioterapia, terapia alvo ou te aceitos, não sendo usados neste modelo. O CLIS,
radioterapia), o prefixo “y” deve ser utilizado na classi- diferente do CDIS, é reconhecido como um marcador
ficação TNM (ypTNM). O T deve se basear em achados de risco para câncer de mama subsequente, embora
clínicos, de imagem (ycT) ou patológicos (ypT). A metás- haja algumas evidências de que ele possa, ocasional-
tase de até 0,2 mm, são classificadas como ypN0(i+), não mente, ser um precursor do carcinoma invasivo (va-
sendo considerado resposta patológica completa (pCR). riante pleomórfica). O Tamanho do CDIS e CLIS deve
As mulheres serão considerados portadores de ser mensurado, embora não mude o estadiamento.
câncer metastático (M1, portanto estádio IV) se apre- A doença de Paget do mamilo (DP), sem nenhuma
sentarem doença a distância detectáveis, clinicamente doença mamária concomitante, é rara e deve ser esta-
ou por imagem, com ou sem biópsia, posterior ou an- diada como Tis. A DP é, geralmente, associada a CDIS
terior à terapia sistêmica, independente do seu status ou neoplasia invasiva na mama, devendo a classificação
após a terapia. Os sítios principais envolvidos são ossos, seguir a rotina da lesão identificada.
pulmões, cérebro e fígado, mas outros órgãos podem
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em tumores triplo negativo, comparado a Luminais7(B). FL, Trotti A, Editors. AJCC câncer staging manu-
Uma história e exames clínicos negativos são suficien- al (7th ed). New York, NY: Springer:2010.
tes para designar M0 e exames de imagem ou outros 2. Perou CM, Sørlie T, Eisen MB, van de Rijn
testes não são necessários na maioria dos casos. Nesta M, Jeffrey SS, et al. Molecular portraits of
última edição, houve a criação da categoria M0 (i+), de- human breast tumours. Nature. 2000 Aug
finida pela presença de células tumorais detectadas 17;406(6797):747-52
na medula óssea ou de células tumorais circulantes, ou 3. Adjuvantonline.com (Internet). Available from:
encontradas incidentalmente em outros tecidos (tais <http://www.adjuvantonline.com>.
como em ovários removidos profilaticamente), desde 4. Predict.nhs.uk (Internet). Available from:
que não excedam 0,2mm. Entretanto, essa categoria <http://www.predict.nhs.uk>.
não altera o estádio pois não apresenta metástases 5. Cardoso F, van’t Veer LJ, Bogaerts J, Slaets L,
clinica e/ou radiologicamente detectáveis, devendo ser Viale G, et al. 70-Gene Signature as an Aid to
classificadas de acordo com T e N. (Tabela 5) Treatment Decisions in Early-Stage Breast Can-
cer. N Engl J Med. 2016 Aug 25;375(8):717-29
ESTADIAMENTO CARCINOMA IN SITU 6. Sparano JA, Gray RJ, Makower DF, Pritchard KI,
Albain KS, et al. Prospective Validation of a
O carcinoma in situ, sem evidência de compo- 21-Gene Expression Assay in Breast Cancer. N
nente invasivo, é classificado como Tis. Os casos de Engl J Med 2015; 373:2005-2014
carcinoma ductal in situ (CDIS) e de carcinoma lo- 7. Kennecke H, Yerushalmi R, Woods R, Che-
274
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 26
275
27
PERFIL GENÉTICO /
BIOMOLECULAR DO
CARCINOMA MAMÁRIO
Palavras Chave:
Mama; carcinoma; patologia; genética
FELIPE LUZZATTO
Médico Patologista dos Laboratórios LZ Patologia e da Santa Casa de Porto Alegre, RS. Fellow do Instituto Europeu de On-
cologia de Milão, Itália. Mestre pela Universidade de Milão, Itália e pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto
Alegre, RS.
278
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 27
bindo uma enorme variedade de padrões fenotípi- pela crescente introdução de terapias alvo como
cos e morfológicos, de comportamentos clínicos e resultado da identificação destas novas moléculas.
prognósticos diversos.8(B) O critério convencional para seleção de um agente
Por se tratar de uma doença heterogênea, o antineoplásico tem sido a habilidade da droga de
câncer de mama apresenta múltiplas alterações induzir regressão tumoral. A terapia endócrina é o
moleculares, responsáveis pelo crescimento neo- primeiro exemplo de uma abordagem alvo-dirigida,
plásico, a sobrevivência celular e a sua resposta ao já em uso rotineiro há mais de quatro décadas.21(B)
tratamento. Dessa forma, muito esforço tem sido fei- Os receptores hormonais (RE e RP) foram os
to para a identificação de novos e precisos fatores primeiros biomarcadores moleculares identifica-
prognósticos e preditivos no câncer de mama. Os dos na década de 70 e com o advento da imuno-
fatores prognósticos contribuem para a avaliação -histoquímica, foram rapidamente incorporados
do risco de recaídas de pacientes baseados em indi- como norteadores importantes do tratamento e do
cadores tais como a biologia intrínseca tumoral e o comportamento biológico preditivo das neoplasias
estadiamento da doença na ocasião do diagnóstico, mamárias. O tamoxifeno, que é um antagonista do
sendo tradicionalmente utilizados para a escolha RE, tem sido o padrão ouro no tratamento das neo-
dos pacientes que poderão ser poupados da tera- plasias mamárias que expressam receptores hor-
pia adjuvante. A presença ou ausência de metásta- monais. Entretanto, nos últimos anos, os inibidores
ses em linfonodos axilares, a dimensão tumoral e o da aromatase, que inibem a síntese de estrógenos
tipo histológico do tumor são aceitos como fatores nos tecidos periféricos, incluindo a mama, têm-se
prognósticos bem definidos. Além disso, a invasão mostrado superiores ao tamoxifeno em mulheres
vascular neoplásica peritumoral é outro importante na pós-menopausa, com câncer de mama inicial ou
fator prognóstico no câncer de mama, visto que, avançado.22-25(B)
quando confirmada histologicamente, está associa- Em consequência dos incessantes esforços da
da a um risco aumentado de doença metastática, ao comunidade científica e com o advento das técni-
aumento do risco de recidiva local e à redução da cas de hibridização in situ, as detecções e confir-
sobrevida.9(A),10-12(B) mação de amplificações gênicas específicas foram
O grau histológico da neoplasia invasora, possíveis e o HER2 foi incorporado como terceiro
como já referido, é considerado outro importante biomarcador molecular no tratamento de rotina do
fator prognóstico para o tratamento do carcinoma câncer de mama, além do RE e do RP, pelo que se
mamário, visto que vários estudos demonstram uma conhece por segunda geração dos biomarcadores
associação significativa entre o grau histológico da do câncer de mama.26-27(A)
neoplasia invasora e a sobrevida relacionada ao A superexpressão do HER2 está presente em
mesmo, sendo obtido a partir de determinadas ca- cerca de 18 a 20% dos pacientes com câncer de
racterísticas morfológicas da neoplasia, tais como mama e está associada a um perfil de doença mais
a formação tubular, pleomorfismo nuclear e índice agressivo, com pior sobrevida, e resistência à tera-
mitótico, segundo parâmetros observados na clas- pia hormonal. O trastuzumab, um anticorpo mono-
sificação de Elston e Ellis.13-17(B) clonal humanizado, tem como alvo o domínio ex-
Além do grau histológico e dos demais fato- tracelular do HER2, melhorando a sobrevida destas
res prognósticos relatados, o tratamento clínico de pacientes tanto em estádios iniciais assim como em
rotina é baseado no padrão de expressão imuno- doença avançada. 28(D)
histoquímica dos receptores de estrógeno (RE)
e progesterona (RP), na presença ou ausência de PERFIL GENÉTICO DO CARCINOMA MAMÁRIO
superexpressão da molécula HER2 (também desig-
nada c-erbB2 e c-neu) e do índice de proliferação Além dos receptores hormonais e do status
celular (Ki67).18-19(B), 20(D) HER2, outros mecanismos de avaliação prognósti-
Nas últimas duas décadas, os avanços no ma- ca têm sido observados que são o escore, também
nejo do câncer de mama têm sido influenciados denominado assinatura, ou classificação multigêni-
279
CAP. 27 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
ca. Perou e Sorlie fizeram a primeira proposta de te regulados em mais de 3 das 78 amostras foram
classificação molecular no início dos anos 2000 e identificados 231 exibindo correlação com o com-
identificaram cinco subgrupos distintos de câncer portamento da doença e os 70 genes mais recor-
de mama (luminal A, luminal B, HER 2 superex- rentes selecionados para constituir o teste. Após vá-
presso, basal-like e normal-like), cada qual com suas rias pesquisas de validação e regulamentação, com
diferentes características prognósticas. A partir de seguimentos de validação prospectiva realizados
então, várias propostas de análises genéticas es- ao redor do mundo, foi aprovado em fevereiro de
pecíficas e pontuais foram sendo disponibilizadas 2007 pelo FDA (United States Food and Drug Admi-
na busca de caracterizações genéticas mínimas e nistration).33(A)
específicas que permitissem uma melhor distinção • BluePrint® (Agendia, Irvine, CA, USA): teste
(assinatura genética) de cada caso em particular. genético considerado como investigacional e co-
29
(A), 30(B) mercializado como complemento às informações
Dentre as várias alternativas disponíveis, des- adquiridas com o MammaPrint®, buscando uma su-
tacamos alguns testes genéticos, com numerosos bestratificação adicional às características molecu-
estudos validativos, boa disseminação e caracterís- lares da neoplasia através da análise de 80 genes
ticas específicas: relacionados aos mecanismos de distinção dos ti-
• Oncotype Dx® (Genomic Health Inc., Redwood pos luminal, HER2 e basal.34(B)
City, CA, USA): teste genético desenvolvido com o • EndoPredict® (Sividon Diagnostics GmbH,
objetivo de facilitar a melhor escolha para o trata- Koln, Germany): teste genético que combina a pes-
mento adjuvante dos pacientes com diagnóstico de quisa de três genes proliferativos, cinco genes asso-
doenças precoces e que expressam RE. A avaliação ciados ao RE e três genes de referência. Sua análise
de material parafinizado através da reação reversa pode ser feita em material fixado em formol e em-
de transcriptases em reações de cadeia da polime- blocado em parafina, por PCR. Fornece um escore
rase (PCR) quantifica a presença de mRNA de 21 que varia de 0 a 15 após associação das informa-
genes. Seu resultado gera um escore de recorrência ções genéticas obtidas com o status linfonodal e o
que pode variar de 0 a 100 e permite a categoriza- tamanho tumoral, sendo feita, então, a classificação
ção em três diferentes grupos de risco: baixo risco em baixo ou alto risco para o desenvolvimento de
(escore menor que 18), risco intermediário (escore metástases 10 anos após o diagnóstico inicial.35(B)
entre 18 e 30) e alto risco (escore maior que 30). A • PAM50® (Prosigna; Nanostring Technologies,
escolha individualizada de casos que teriam bene- Seattle, WA, USA): teste aprovado pelo FDA e pela
fícios com o tratamento quimioterápico adjuvante União Europeia, que utiliza material fixado em for-
(pacientes do grupo de alto risco) influenciaria a malina e emblocado em parafina e um kit diagnós-
sobrevida livre de doença.31-32(A) tico através da tecnologia Nanostring para quanti-
• MammaPrint® (Agendia, Irvine, CA, USA): de- ficar a expressão do mRNA de 50 genes usados no
senvolvido a partir da colaboração do Instituto Ho- algoritmo da classificação molecular do teste e de
landês do Câncer (NKI) com o Rosetta Inpharmatics cinco genes de controle para identificar os subtipos
LLC através da análise de 78 tumores de mama de intrínsecos de carcinoma mamário já relatados (lu-
mulheres com menos de 55 anos e com dimensões minal A, luminal B, HER2 superexpresso e basal-li-
tumorais menores que 5,0 cm, diagnosticadas sem ke) além de fornecer a quantificação de valores para
doença metastática linfonodal. O comportamen- a proliferação celular, expressão luminal de genes e
to das neoplasias foi acompanhado durante cinco do RE, RP e HER2.36(B)
anos, sendo estas subclassificadas em dois grupos: Uma das vantagens de utilizar estes testes
1) Grupo de bom prognóstico: mulheres livres de multigênicos é o fato de serem reproduzíveis e con-
doença em pelo menos 5 anos de seguimento; 2) fiáveis quando comparados à análise do índice de
Grupo de mal prognóstico: mulheres com doença proliferação celular através do estudo imuno-histo-
metastática linfonodal nos 5 anos subsequentes. químico do Ki67, devido à falta de reprodutibilidade
Da análise de mais de 5000 genes significantemen- e de concordância do melhor ponto de corte do Ki67
280
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 27
entre diferentes laboratórios. Dessa forma, pacien- com carcinomas mamários precoces, demonstrando
tes com tumores exibindo receptores hormonais uma associação significativa entre a sua superex-
positivos, HER2-negativo, linfonodos não metastá- pressão e o risco de recidiva, morte, sobrevida livre
ticos e com baixos scores segundo os testes gené- de doença e a sobrevida em geral.40(A) Além disso
ticos, independentemente da dimensão tumoral (T), é também considerado como um possível método
poderão ter suas neoplasias classificadas e trata- de avaliação prognóstica para os efeitos da qui-
das da mesma forma que a categoria prognóstica mioterapia, embora alguns estudos evidenciem re-
de tumores T1a-T1b N0 M0 (Estádio I). Entretanto sultados conflitantes.44,45(A) Entretanto o Ki67 não
devido ao alto custo destes testes utilizados para é completamente aceito como um biomarcador de
estabelecer o perfil genético do câncer de mama, rotina visto que ainda não existem padronizações
a sua utilização na rotina para o tratamento desta a respeito do métodos de sua avaliação. Atualmen-
neoplasia é limitada a somente um número restrito te, existem questionamentos de como deve ser
de pacientes.37(A), 38(D) realizada a interpretação mais adequada do mes-
mo, se nas áreas de menor ou de maior atividade
O PAPEL DO ÍNDICE DE PROLIFERAÇÃO proliferativa das células neoplásicas, estas últimas
CELULAR ( KI67) NA CARACTERIZAÇÃO áreas denominadas hot spots que, à interpretação
MOLECULAR DO CÂNCER DE MAMA imuno-histoquímica, são identificadas como locais
em que a coloração nuclear das células neoplásicas
A taxa de proliferação celular tumoral há muito pelo Ki67 é particularmente predominante, se com-
tempo tem sido relacionada com o curso clínico das parada ao restante dos cortes imuno-histoquímicos
doenças. A partir disso, histopatologistas têm bus- da neoplasia. 46(A),47(B)
cado meios para a determinação da mesma, como Como já referido previamente, o perfil gené-
complemento diagnóstico. O Ki67 é uma proteína tico vem demonstrando um importante papel na
nuclear que, nos humanos, é codificada pelo gene caracterização do comportamento biológico das
MKI67 (antígeno identificado pelo anticorpo mono- neoplasias mamárias e alguns estudos têm de-
clonal Ki67) e está estritamente relacionado com a monstrado que a análise imuno-histoquímica do
proliferação celular. Durante a interfase, o antígeno Ki67, RE, RP e HER2 pode ter um valor prognósti-
Ki67 pode ser detectado exclusivamente no núcleo co muito similar ao escore prognóstico multigêni-
celular, enquanto que durante a divisão celular (mi- co em pacientes recebendo terapia anti-hormonal.
toses) a maior parte desta proteína é realocada na Dessa forma, a estratificação de pacientes de acor-
superfície cromossômica. Está presente durante to- do com os índices do Ki67 pode ajudar a antever
das as fases ativas do ciclo celular (G1, S, G2 e mito- a significância da resposta terapêutica em pacien-
ses), mas ausente em células em repouso (G0).39-40(A) tes com tumores mamários hormônio-responsíveis.
O método mais simples e mais utilizado para Além disso, alguns pacientes, com tumores de alto
a determinação da atividade proliferativa celular é a índice de proliferação celular e com a expressão de
contagem de figuras mitóticas, entretanto, a quanti- subtipos menos químio-sensíveis, podem ter um
ficação do índice de proliferação celular (Ki67) pelo benefício significativo com a quimioterapia.48(B)
estudo imuno-histoquímico é um outro método con- Segundo Cheang e colaboradores, a subdi-
fiável, e de fácil avaliação, do crescimento das neo- visão das neoplasias, nestes casos, em subgrupos
plasias.41-42(A) O Ki67 é definido a partir do percentual moleculares dos tipos clínico-patológicos luminal
de núcleos celulares de carcinoma invasivo positivos A, luminal B, HER2, basal e triplo-negativo não ba-
para a reação imuno-histoquímica para este anticor- sal, pode ser definida fundamentalmente pelo per-
po, em relação ao total de núcleos de células de carci- fil imuno-histoquímico para receptores hormonais
noma invasor presentes no corte histológico.43(A) (RE, RP), para HER2 e pelo índice de proliferação ce-
Uma metanálise realizada por de Azambu- lular (Ki67) baseado em um ponto de corte (cutoff)
ja e colaboradores, sustenta que a alta expressão de 14% para a diferenciação das neoplasias em lu-
de Ki67 confere um pior prognóstico a pacientes minal A e luminal B. Este estudo foi o primeiro a
281
CAP. 27 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
aplicar escores imuno-histoquímicos visuais quan- tores prognósticos (p.ex. dimensão tumoral, o grau
titativos do Ki-67 em subtipos de câncer de mama nuclear e o tipo histológico), associados aos bio-
que foram classificados pelo perfil de expressão ge- marcadores (RE, RP, HER2 e Ki67), em conjunto com
nética. Uma vantagem deste método é que o cutoff os métodos de classificação multigênica, tornam-se
do Ki-67 de 14%, definido através do estudo imu- cada vez mais fundamentais para a caracterização
no-histoquímico, foi determinado em relação a uma do perfil biológico distinto de cada neoplasia ma-
distinção importante na biologia básica do câncer mária ajudando a prever as probabilidades de re-
de mama, e não em relação ao resultado clínico ou cidiva, independentes da terapia sistêmica, atuan-
ao valor da média ou mediana do índice do Ki-67 do como marcadores de risco residual, levando em
na população em estudo. Através deste método, o conta que o paciente irá receber terapia endócrina,
cutoff seria mais provável de ser diretamente apli- ou ainda, como fatores preditivos para os diferentes
cável em outras coortes de pacientes com diferen- tipos de quimioterapia e contribuindo, dessa ma-
tes regimes de tratamentos e distribuições de riscos. neira, para o tratamento cada vez mais individuali-
Embora, o perfil de expressão genética ainda seja o zado do câncer de mama.
método mais sensível, Cheang e colaboradores de-
monstraram que o Ki-67 pode ser utilizado asso- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ciado ao painel de biomarcadores (RE, RP e HER2),
como já descrito, para identificar tumores luminais 1. Ferlay J, Soerjomataram I, Ervik M, Dikshit
B adicionais que não foram classificados por esses R, Eser S, Mathers C, et al. GLOBOCAN 2012
três biomarcadores.49(B) v1.0, Cancer Incidence and Mortality World-
Entretanto devido à dificuldade na padroniza- wide: IARC CancerBase No. 11 [Internet]. Lyon,
ção da avaliação do Ki67 e na discordância existen- France: International Agency for Research on
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único para instituir o tratamento quimioterápico de iarc.fr, accessed on 30/07/2016.
pacientes com câncer de mama torna-se um pro- 2. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Go-
blema. Dessa forma, no último Consenso da Confe- mes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vi-
rência de St. Gallen, a maior parte dos participantes, gilância. Estimativa 2016: Incidência de Cân-
definiram que os valores do Ki67 deveriam variar de cer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2016.
20-29%, para a diferenciação dos subtipos luminal 3. Caplan L. Delay in breast cancer: implications
A e luminal B evitando desta forma o valor único de for stage at diagnosis and survival. Front Pub-
cutoff do Ki-67 de 14% estabelecido por Cheang e lic Health. 2014 Jul 29;2:87.
colaboradores.49-50(B) 4. Aragón F, Perdigón G, de Moreno de LeBlanc A.
A partir desta análise poderá ser elaborado o Modification in the diet can induce beneficial
tratamento das pacientes, que pode ou não ser as- effects against breast cancer. World J Clin On-
sociado à quimioterapia dependendo das caracte- col. 2014 Aug 10;5(3):455-64.
rísticas moleculares e/ou imuno-histoquímicas das 5. Page DL, Dupont WD, Rogers LW, Rados MS.
neoplasias mamárias.51(B) Atypical hyperplastic lesions of the female
Observa-se assim, que com o advento dos tes- breast. A long-term follow-up study. Cancer.
tes genéticos é fundamental ressaltar a importân- 1985 Jun 1;55(11):2698-708.
cia dos genes responsáveis pela proliferação celu- 6. Page DL, Kidd TE Jr, Dupont WD, Simpson JF,
lar, dentre eles o Ki67, como marcador prognóstico Rogers LW. Lobular neoplasia of the breast:
e preditivo das neoplasias mamárias, exercendo um higher risk for subsequent invasive cancer
papel fundamental para o tratamento de pacien- predicted by more extensive disease. Hum
tes que não possuem acesso aos métodos utiliza- Pathol. 1991 Dec; 22(12):1232-9.
dos para estabelecer o perfil genético do câncer de 7. Page DL, Schuyler PA, Dupont WD, Jensen RA,
mama, devido ao seu elevado custo. Plummer WD Jr, Simpson JF. Atypical lobular
Concluindo, a utilização dos já conhecidos fa- hyperplasia as a unilateral predictor of breast
282
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 27
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284
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 27
285
28
TRATAMENTO CIRÚRGICO
CONSERVADOR CLÁSSICO
DA MAMA
Palavras Chave:
Tratamento cirúrgico conservador clássico da mama
288
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 28
77% e 69% / 72% para os grupos de mastectomia ou, se já pensou anteriormente em melhorar o as-
e tratamento conservador, respectivamente. A taxa pecto estético das mama.
de recorrência locorregional foi menor no grupo de - Exame físico completo das axilas, fossas su-
pacientes submetidas a ressecção segmentar da pra claviculares e mamas. Atenção especial em re-
mama seguida de radioterapia – 5% versus 10%.8 lação ao tamanho do tumor x volume das mamas;
Entre 1979 e 1987, o Instituto Nacional do Cancer proximidade do tumor com relação à pele e com-
nos EUA conduziu um estudo prospectivo randomi- plexo aréolo-papilar ( CAP ).
zado de mastectomia versus tratamento conserva- - Os métodos de imagem são importantes
dor para pacientes com carcinoma mamário inicial no pré-operatório para a definição da extensão da
( estadio I e II ). Após 18.4 anos de seguimento, não doença, multicentricidade, multifocalidade e doen-
houve diferença de sobrevida global entre os gru- ça contralateral. A mamografia é o método funda-
pos – 58% para pacientes mastectomizadas e 54% mental e imprescindível para o planejamento da
para pacientes submetidas a tratamento conserva- cirurgia. A presença de microcalcificações deve ser
dor. Não houve, ainda, diferença estatisticamente avaliada quanto à extensão e proximidade da pele
significativa de sobrevida livre de doença, com ta- ou CAP. Pode ser complementada pela ultrassono-
xas de 67% e 63%, respectivamente.9 Estudo ran- grafia em caso de mamas com alta densidade ma-
domizado conduzido no Instituto Gustave - Roussy mográfica, ou pela ressonância magnética.
na França, comparou tumorectomia seguida de ra- A biópsia por fragmento ( core, mamotomia )
dioterapia com mastectomia radical modificada em deve ser realizada antes da cirurgia, inclusive com
mulheres com câncer de mama com mais de 2 cm. exame imunohistoquímico para confirmação do
Após 10 anos de seguimento, conclusões confirmam diagnóstico, evitar cicatrizes que possam interferir
a segurança do tratamento conservador para estas com a incisão da quadrantectomia e procedimentos
pacientes, sem diferença estatisticamente significa- invasivos desnecessários. O conhecimento prévio do
tiva nas taxas de sobrevida global, metástase à dis- diagnóstico pela paciente e familiares é fundamental
tância, câncer de mama contralateral e recorrência para melhor compreensão do tratamento adequado
locorregional.10 Estudo dinamarquês randomizou e planejado. Em casos de tumores com mais de 2 cm
905 pacientes com câncer de mama entre janeiro ( triplo negativos ou HER 2 + ) ou proporção inade-
de 1983 e março de 1989 para serem submetidas a quada do tamanho do tumor x volume mamário, o
tratamento cirúrgico conservador ou mastectomia. tratamento neoadjuvante pode ser considerado13. A
Após seguimento médio de 40 meses, a sobrevida colocação de clip no centro do tumor é importante
livre de recorrência foi de 70% nas pacientes com para localização do leito tumoral em casos de res-
conservação mamária e 66% nas pacientes mastec- postas clínica e imaginológica completas.
tomizadas.11 A utilização da ressonância magnética de ma-
mas (RM) no pré-operatório de CC é assunto con-
SELEÇÃO DE PACIENTES troverso. As possíveis indicações da RM são: mamas
com alta densidade mamográfica com discordância
A seleção criteriosa para indicação da CC é a entre o tamanho do tumor pela clínica e mamogra-
forma de obtermos resultados semelhantes à mas- fia; tumores profundos para verificação de invasão
tectomia em termos de sobrevida global12. As ne- da parede torácica; linfonodomegalia metastática
cessidades e expectativas da paciente devem ser axilar com exame clínico, mamografia e USG nor-
totalmente esclarecidas. Os aspectos importantes mais; doença de PAGET com exame físico e mamo-
nessa seleção são: grafia normal; tratamento neoadjuvante; presença
- Anamnese adequada com especial atenção de mutação genética e radioterapia prévia. As pa-
às doenças pré-existentes, principalmente a escle- cientes devem ser informadas do risco do falso po-
rodermia e lúpus em fase aguda. História familiar sitivo e necessidade do esclarecimento prévio por
sugestiva ou confirmada de mutação genética. Grau exame histológico das alterações suspeitas encon-
de satisfação com a forma atual estética das mamas tradas. Os serviços que realizam a RM devem ter a
289
CAP. 28 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
capacidade de realizar biópsia e agulhamento pelo trimestre, muitos autores indicam o tratamento radi-
método. cal devido à contraindicação de radioterapia.
Os extremos de idade não são contraindica-
ção para CC . EXAMES PRÉ - OPERATÓRIOS
- Outro aspecto polêmico está relacionado
com a proximidade do tumor em relação à pele e O principal objetivo da avaliação pré operatória
certos tipos histológicos. A retração de pele, papila é a identificação de doenças desconhecidas e possí-
ou parênquima não é sinal de doença avançada e veis fatores que aumentem o risco cirúrgico, possi-
não contraindica a CC. Essa também pode ser in- bilitando a adoção de medidas que garantam maior
dicada no carcinoma lobular, presença de compo- segurança à paciente. A anamnese o o exame físico
nente intraductal extenso e axila positiva, desde fornecem informações importantes de condições clíni-
que as margens estejam livres14. A CC com tumores cas determinantes na estimativa do risco. A indicação
posicionados próximo ao CAP e que necessitem a de exames pré operatórios deve ser individualizada
extração do mesmo é segura, mas, pode apresentar conforme doenças, comorbidades apresentadas pelo
resultado estético insatisfatório em mamas com pe- paciente, além de tipo e porte da cirurgia proposta. 15
queno volume. Nessa situação, a mastectomia pre- O impacto da idade é modesto e o maior ris-
servadora de pele com reconstrução imediata pode co nas idosas esta relacionado com as comorbida-
ser alternativa mais aceitável. des. A obesidade pode aumentar o risco de trombose
- Na presença de história familiar de alto ris- endovenosa e infecções de parede. O risco geral de
co ou mutação comprovada, as pacientes devem ser cirurgias é muito baixo. Os exames pré-operatórios
alertadas do maior risco de novo tumor primário ou podem levar a falso-positivo, custos desnecessários e
doença contralateral, não sendo contraindicada a CC. demora para cirurgia. Uma anamnese cuidadosa ve-
- As colagenoses são contraindicações relati- rificando idade, capacidade para exercer atividades
vas à CC devido às possíveis complicações da radio- físicas diárias, álcool, fumo, drogas ilícitas, complica-
terapia na pele. As principais são o lúpus eritemato- ções anestésicas pessoais e familiares, apnéia do sono
so em fase aguda e a esclerodermia. e medicações pode ser valiosa e única. O hemogra-
- A relação entre volume da mama x tamanho ma é recomendado acima dos 65 anos para grandes
tumoral parece ser o mais importante fator na deci- cirurgias, historia de anemia ou jovens com cirurgias
são de indicação para CC. As mamas com pequeno de grande potencial de sangramento. A creatinina é
volume são mais propensas às deformações estéticas recomendada em pacientes acima dos 50 anos em
para obtenção de margens livres. Em contrapartida, cirurgias de alto risco, jovens com suspeita de insu-
as mamas com grande volume podem ser irradiadas ficiência renal ou quando medicações nefrotóxicas
e passíveis de cirurgias oncoplásticas com remoção forem utilizadas. Não há consenso para solicitação de
de ampla margem de segurança e resultado estético glicemia de jejum, função renal, eletrólitos, coagulo-
satisfatório. As contraindicações são: doença mul- grama e testes urinários. O teste para gravidez deve
ticêntrica com dois ou mais focos que dificultem a ser solicitado nas pacientes em idade reprodutiva
obtenção de margens livres ou resultado estético sa- independente da história. O eletrocardiograma pode
tisfatório; microcalcificações difusas; margens com- ser realizado em pacientes com doença coronariana,
prometidas após varias tentativas de excisão; edema arritmias, doença arterial periférica, alterações cére-
de pele e carcinoma inflamatório. Nas mulheres com bro-vasculares e doenças estruturais cardíacas. O rx
recidiva após CC que fizeram radioterapia prévia, uma de tórax tem indicação em doenças prévias cardiopul-
nova CC pode ser realizada na presença de tumores monares.
pequenos, longo tempo entre tratamento anterior e
aparecimento da recidiva, possibilidade de ser rea- EXAMES DE ESTADIAMENTO
lizada nova radioterapia parcial e conivência da pa- CÂNCER DE MAMA
ciente, uma vez que o clássico seria a realização da
mastectomia. Na presença de gestação no primeiro Para paciente com estadiamento clínico I –
290
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 28
IIB, solicitar exames adicionais apenas em caso de plasia e para pacientes com múltiplos fatores de
sinais e/ou sintomas: risco para TEV, utilizar rotineiramente tromboprofi-
- cintilografia óssea em caso de dor óssea e/ laxia com heparina não fracionada (HNF) profilática
ou aumento de fosfatase alcalina; se suspeita clíni- na dose de 5.000 UI SC 12/12 h ou 8/8 h; heparina
ca permanecer apesar do exame negativo, solicitar de baixo peso molecular (HBPM) profilática (dal-
ressonância nuclear magnética da área acometida teparina 5.000 UI SC 1x/ dia, tinzaparina 4.500 UI
pelo sintoma; SC 1x/dia ou enoxaparina 40 mg SC 1x/dia) e fon-
- tomografia conputadorizada ou ressonância daparinux na dose de 2,5 mg SC 1X/dia - em indi-
magnética de abdome e pelve em caso de aumen- víduos > 50 kg ( nível de evidência A ) - ou o uso da
to de fosfatase alcalina, aumento de transaminases, CPI logo antes da cirurgia até que o paciente possa
sintomas abdominais e/ou alteração de exame físi- deambular (nível de evidência A). Alternativamente,
co de abdome ou pelve; pode-se considerar a combinação de HBPM ou HNF
- tomografia computadorizada de tórax se sin- profilática associada à tromboprofilaxia mecânica
tomas respiratórios. com meia elástica ou CPI (compressão pneumática
Para pacientes com estadiamento clínico IIIA intermitente), ou fondaparinux (nível de evidência
ou maior, solicitar transaminases, fosfatase alcali- C). Para pacientes de mais alto risco, como subme-
na, TC tórax, TC abdome e pelve, cintilografia óssea. tidos a grandes cirurgias por câncer, assim como
PET – CT de corpo inteiro pode ser uma alternativa aqueles com história de TEV prévio, considerar a
aos exames de imagem para estas pacientes.16 utilização da tromboprofilaxia com HBPM por até
28 dias após a alta ( nível de evidência C, grau de
PROFILAXIA DA TROMBOSE VENOSA AGUDA E recomendação IIa ).
INFECÇÕES PROFILAXIA DA TROMBOSE
VENOSA AGUDA PROFILAXIA DE INFECÇÕES CIRÚRGICAS
291
CAP. 28 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
292
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 28
linfonodo sentinela. Essa pode ser realizada com azul Apresenta alta incidência, porém, baixo significado
patente, agente radioativo ou ambos como é preco- clínico, na grande maioria dos casos. Considera-se
nizado por vários serviços. O exame intra-operatório significativo clinicamente quando for necessária
de congelação do linfonodo sentinela é assunto con- mais de uma punção ou a colocação de dreno. Em
troverso e, muitos serviços não mais o realizam, pelo estudo retrospectivo de 324 pacientes, das 561 ci-
fato de aceitarem o estudo do ACOSOG Z0011 que rurgias de mama e axila, somente 8,4% evoluíram
não faz linfonodectomia axilar em casos com até dois com seroma que necessitou intervenção.20 As taxas
linfonodos comprometidos, T1 e T2, cirurgia conser- de seroma foram significativamente mais baixas na
vadora e radioterapia de campo total. Nos casos em cirurgia conservadora (6%) do que nas mastecto-
que se opta por tratamento neoadjuvante, com axila mias (14 a 16%)20 A presença do seroma aumen-
inicialmente positiva e que se torna negativa após a ta significativamente o risco de infecção da ferida
quimioterapia, alguns autores ainda realizam a bióp- operatória ( 8,5% x 4 %, na ausência dele) e pode
sia do linfonodo sentinela, desde que se tenha mar- retardar a cicatrização.21 A prevenção de tal com-
cado o sentinela afetado, se utilize dois métodos de plicação é feita com o fechamento da ferida opera-
marcação (azul patente e tecnécio) e se retire mais tória por planos para evitar a formação de espaço
do que três linfonodos. As margens de ressecção são morto e, com a drenagem do sítio cirúrgico ( setor
fundamentais para o critério de seleção e índice de mamário e fossa axilar ) com dreno tubular ligado à
recidivas locais. A margem macroscópica ideal seria um sistema formador de vácuo. A retirada do mes-
entre 0,5 a 1 cm de tecido normal, o que, na imensa mo costuma ser feita com débito inferior a 50 ml
maioria das vezes, iria resultar em margem histoló- em 24 horas ou no máximo em 15 dias.
gica negativa (ausência de tinta no tumor)19. Dentre
as formas de abordagem para se obter maior núme- ABSCESSO E CELULITE MAMÁRIA
ro de margens livres temos uma correta localização
das lesões não palpáveis com cirurgia radioguiada ou A celulite mamária pode afetar o braço ipsilate-
agulhamento; duas ou mais agulhas para delimitação ral sendo observada principalmente no seguimento
da área de microcalcificações; orientação, palpação, das mastectomias e linfonodectomias axilares.O abs-
identificação das margens com tipos diferentes de co- cesso pós-operatório na cirurgia conservadora pode
res, fios de sutura ou agulhas distintas e radiografia ser uma complicação precoce ou tardia. A formação
do espécime; congelação e amostragem das margens pode estar relacionada ao tamanho da área resseca-
( shaving ). A harmonia entre cirurgião e patologista é da e à presença de necrose gordurosa nas margens
fundamental para diminuir o índice de novas cirurgias do sítio cirúrgico. O tratamento do abscesso é feito
para ampliação das margens. A indicação para amplia- sempre com a drenagem do mesmo ou com pequena
ção de margens é quando temos tumor infiltrativo, incisão na pele sobre o ponto de flutuação ou por
carcinoma ductal in situ ou carcinoma lobular in situ punção com agulha grossa, apresentando melhores
do tipo pleomórfico que atinge a tinta na histologia. resultados quando guiada pela ultrassonografia. Nos
Pacientes com margem positiva apresentam duas ve- casos graves com presença de várias lojas, há neces-
zes maior risco de recidiva local ipsilateral19. Esse risco sidade de drenagem cirúrgica com anestesia geral e
não é diminuído por tratamento adjuvante sistêmico colocação de dreno. A coleta do material purulento é
ou radioterapia. Não há evidências da necessidade de aconselhável para identificação do agente causal e
margens mais amplas do que a ausência de tumor na realização do antibiograma.
tinta. Esses dados foram confirmados por metanálise
de 33 estudos em 28.162 pacientes que apresentaram MORBIDADE DO BRAÇO IPSILATERAL
1506 recidivas ipsilateral19.
Complicação relativamente frequente envol-
COMPLICAÇÕES PÓS - OPERATÓRIAS vendo dor, inchaço, dormência ou rigidez do braço.
Seroma: coleção fluida no sítio cirúrgico da A dor e rigidez do ombro ipsilateral também pode
mama ou da axila após o procedimento cirúrgico. ocorrer, assim como a lesão neural. Tais complica-
293
CAP. 28 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
ções são mais frequentes em pacientes submetidas essas pacientes a sobrevida global está relaciona-
à mastectomia e à linfonodectomia axilar, do que da à resposta ao tratamento neoadjuvante; sendo
nas pacientes submetidas à cirurgia conservadora a resposta patológica completa, o melhor preditor
e à biópsia do linfonodo sentinela. É importante de sobrevida para essas pacientes. O centro tumo-
orientar os pacientes quanto aos métodos para di- ral pode ser marcado com clip, colocado antes ou
minuir o risco de linfedema do braço e melhorar a logo após o inicio da quimioterapia, permitindo a
função do ombro com a fisioterapia precoce. localização exata do leito tumoral, caso haja uma
resposta clínica ou por imagem completa. A intro-
SITUAÇÕES ESPECIAIS E RISCO DE dução do clip, no leito tumoral, pode ser feita guia-
RECIDIVAS da pelo USG durante a core-biopsy. Porém ,quando
esse tipo de marcação não for possível, a tatuagem
IDADE na pele pode ser feita com tinta nanquim durante a
Os riscos pós-operatórios são diretamente consulta ambulatorial, que precede o início da qui-
proporcionais à idade e à presença de comorbida- mioterapia. A tendência atual é de não retirada de
des. Assim, quanto maior a idade, maior o risco prin- toda área original do tumor. Retira-se a área clipada
cipalmente quando associado a outras doenças. com margem de segurança e, o importante é obter-
mos margens livres.
DOENÇA DO TECIDO CONJUNTIVO OU
DOENÇAS DO COLÁGENO DOENÇA MULTICÊNTRICA
294
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 28
295
CAP. 28 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 28
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297
29
CIRURGIA ONCOPLÁSTICA
NO TRATAMENTO
CONSERVADOR –
RETALHOS GLANDULARES
Palavras Chave:
Câncer de mama; Cirurgia; Mamoplastia
FÁBIO BAGNOLI
Professor Instrutor Doutor da Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo / Assistente do setor de Mastolo-
gia da Santa Casa de São Paulo
Membro das comissões do TEMA e Oncoplastia da SBM (2017-2019)
Secretário da SBMSP (2017-2019)
300
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 29
301
CAP. 29 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
TÉCNICA CIRÚRGICA
302
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 29
CONTRAINDICAÇÕES
303
CAP. 29 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Já as contraindicações relativas são18, 19(B) : com o tamanho da aréola e esta poderá ser usada
• Grau de ptose mamária muito importante; para a reconstrução da aréola.
• Mamas muito liposubstituídas; - Mamas médias, com ptose não acentuada e
• Algumas comorbidades e vícios (diabetes des- tumores em quadrantes inferiores podem ser abor-
compensado, doenças do colágeno ativa, vasculopa- dadas com ressecção do quadrante inferior acome-
tias, obesidade e tabagismo) as quais podem vir a te tido, com incisão em gota ou vertical 21 (B). Já ma-
resultados insatisfatórios. mas com ptose não acentuada e tumores situados
no quadrante inferior externo podem ser abordados
MARCAÇÃO com ressecções laterais que resultarão em uma ci-
catriz de mamoplastia em “L”22(B).
A marcação é igual a da técnica do pedículo infe-
rior. Diferença está na não marcação do pedículo inferior. CUIDADOS PÓS - OPERATÓRIOS
CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS
304
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 29
305
CAP. 29 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
M A RCAÇÃO
FOTOS PRÉ E PÓS OPERATÓRIO:
A marcação pré-operatória é feita com a pa- SETORECTOMIA + MAMOPLASTIA
ciente em posição ortostática.
TÉ C N I CA C I R ÚRG I CA
306
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 29
307
30
CIRURGIA ONCOPLÁSTICA
NO TRATAMENTO
CONSERVADOR –
RETALHOS
LOCO-REGIONAIS NÃO
MAMÁRIOS
Palavras Chave:
Câncer de mama, cirurgia, reconstrução mamária, mamoplastia
310
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 30
do retalho deve ter pelo menos dois terços do seu defeito também em forma de um retalho simples de
comprimento, para uma maior segurança vascular. A transposição. As figuras 30.5 e 30.6 mostram exem-
ponta do retalho, rachurada, é deseptelizada, para plos de retalhos torácico-laterais convencionais, de
aumentar o volume. O retalho é rodado para cobrir transposição. A figura 30.7 mostra um exemplo do
o defeito da quadrantectomia. Uma pequena área retalho desepitelizado, em casos em que não foi ne-
do abdome superior deve ser descolada e ressutu- cessária a reposição cutânea. Para outros quadran-
rada no antigo sulco inframamário. tes também pode ser utilizado em forma de retalho
de avanço. Nestes casos o fechamento lateral do tó-
A figura 30.3 mostra o resultado, após alguns rax pode ser feito primário ou em VY (Figura 30.8).
meses, da rotação do retalho tóraco-epigástrico, O retalho torácico-lateral também pode re-
preservando o volume, o contorno mamário e a po- construir sequelas tardias de tratamento conserva-
sição do mamilo. Este retalho pode cobrir defeitos dor nos quadrantes laterais, em casos difíceis com
de qualquer região dos quadrantes inferiores, mes- grande afundamento e grande perda tecidual, em
mo em alguns casos de grandes deficiências de vo- que seriam necessárias várias sessões de lipoenxer-
lume em mamas pequenas (Figura 30.4). No caso de tia ou a utilização de um retalho miocutâneo, como
o defeito ser no quadrante inferior medial, pode-se pode ser visto na figura 30.9.
inverter o desenho, em espelho, com resultados se-
melhantes. RETALHO BILOBADO
Caso não seja necessária a retirada da pele
próxima ao tumor, o retalho pode ser totalmente Dependendo da localização do tumor ou do ta-
desepitelizado e utilizado exclusivamente para re- manho do defeito, um retalho duplo de transposição,
por o volume. como o retalho bilobado, pode facilitar a correção. Foi
inicialmente descrito por um autor alemão para o fe-
RETALHO TORÁCICO LATERAL chamento de defeitos do nariz, em 1918, mas tem sido
utilizado em diversas áreas do corpo15(C). A sua utiliza-
O retalho torácico lateral (ou retalho tóraco- ção para a correção de defeitos mamários foi proposta
-dorsal lateral) aproveita o tecido adiposo da late- e popularizada por Tostes, da UFMG, sob o nome de re-
ral do tórax, geralmente abundante e indesejado, talho bilobulado. Dentre as várias maneiras propostas
para repor os tecidos14(B). É ideal para tumores dos para o desenho do retalho, minha preferência é pela
quadrantes laterais, podendo ser transferido para o marcação de Meadows16(C). Parte do tecido glandular
Figura 30.3. Resultado pós-operatório de uma quadrantectomia no quadrante inferior lateral da mama esquerda, associada à rotação do retalho tóraco-
-epigástrico.
311
CAP. 30 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
312
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 30
Figura 30.8. Exemplos de retalho torácico lateral como retalho de transposição (A e B) e de avanço com fechamento em V-Y (C e D).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
313
CAP. 30 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 30.10. O retalho bilobado é um retalho duplo de transposição, onde parte do tecido glandular vizinho é transposto para a área do defeito, e um
retalho torácico lateral é transposto para corrigir o defeito da retirada do retalho. Em vez da marcação proposta por Tostes, preferimos utilizar a marcação
de Meadows.
Figura 30.11. Resultado pré e pós-operatório de uma reconstrução com o retalho bilobado. Apesar do pequeno tamanho da mama e da ausência de ptose,
foi possível preservar o tamanho e o formato da mama, evitando-se uma mastectomia.
Figura 30.12. Exemplo da correção do defeito de uma hemimastectomia através da rotação do retalho miocutâneo grande dorsal. Como vantagem da
reconstrução parcial da mama, destaco a menor morbidade e a maior tolerância à radioterapia do uso do grande dorsal isolado, em comparação à re-
construção total da mama com próteses com ou sem retalhos miocutâneos. Além disso, o aspecto da reconstrução parcial costuma ser mais natural do
que o da reconstrução total. Como desvantagem, cito o defeito no dorso e a impossibilidade de reutilizar o retalho do grande dorsal posteriormente para
a reconstrução total da mama, em caso de recidiva.
314
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 30
cal or multicentric disease on surgery and lo- tic volume replacement techniques according
coregional, distant and overall survival of to the excised volume and tumor location in
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315
31
ABORDAGEM CIRÚRGICA
DA AXILA
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Cirurgia axilar, Biópsia linfonodo
sentinela
RENATO TORRESAN
Mestre e Doutor em Medicina pela Unicamp
Mastologista do Instituto de Mama de CAMPINAS (IMAMA)
Médico Mastologista do CAISM-UNICAMP
LIVIA CONZ
Mestre em Medicina pela Unicamp
Mastologista pela Universidade de São Paulo
CAP. 31 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
318
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 31
falso negativo de 9,8% do linfonodo sentinela, po- O estudo ACOSOG Z00118(A), marco da pos-
dendo chegar a 17,7% quando apenas um linfonodo sibilidade de nova abordagem axilar diante de LS
é retirado. 5611 mulheres com câncer de mama in- positivo, aleatorizou mulheres com câncer de mama
vasivo e axila clinicamente negativa, estratificadas invasivo T1 e T2, com axilas clinicamente negativas
por idade, tamanho tumoral e tipo de cirurgia, foram e com proposta cirúrgica de quadrantectomia ou
aleatorizadas em dois grupos: no grupo 1 todas as setorectomia para a realização de EA ou nenhum
pacientes eram submetidas a BLS e posteriormen- outro tratamento adicional. Nenhuma paciente en-
te a esvaziamento axilar, e no grupo 2, todas a BLS, volvida foi previamente submetida a terapia sistê-
porém apenas àquelas com LS positivo recebiam es- mica neoadjuvante, bem como doença multicên-
vaziamento axilar. Após 5 anos de seguimento, verifi- trica e bilateral. Após média de seguimento de 6,3
cou-se que, quando o linfonodo sentinela é negativo anos, a sobrevida global foi de 92,5% no grupo BLS
não há ganho de sobrevida global realizando-se EA. e 91,8% no grupo EA, com sobrevida livre de doen-
Além disso, mostrou-se que o número de linfonodos ça de 83,9% e 82,2% nos respectivos grupos, todos
sentinela removidos está diretamente relacionado à sem diferença estataísticamente negativa.
sensibilidade do método. Desta forma, apesar de algumas críticas ao
Desta forma, a elevada acurácia do método, estudo, tais como recrutamento abaixo do valor
associada a diminuição de efeitos colaterais como previamente estimado, tumores em estadios muito
linfedema, parestesias, seroma e infecções contri- iniciais com histologia favorável (luminais) e reali-
buíram para a concretização da BLS como escolha zação de radioterapia estendida para os níveis I e II
para o estadiamento axilar cirúrgico definitivo em axilar não descrita na metodologia inicial do estu-
casos de axilas clinicamente negativas, sendo esta do, ainda assim, tal trabalho demonstrou a possibi-
a principal indicação para a realização da pesquisa lidade de omissão do EA em casos especificos, sem
de linfonodo sentinela. Deve-se considerar a reali- prejuízo na sobrevida livre de doença ou global.
zação de BLS frente ao quadro de carcinoma duc- Dados do seguimento das pacientes após dez anos,
tal in situ com necessidade de mastectomia, dado apresentados na ASCO 2016 demonstraram sobre-
que existe risco de subestimação para carcinoma vida locorregional de 93,2% para o grupo randomi-
invasor em até 35% dos casos e impossibilidade de zado para EA e 94,1% para LS isolado. Em dez anos
realização de sentinela após a remoção de todo o houve duas recorrências locais nodais para o grupo
tecido mamário. submetido a EA e cinco entre àquelas submetidas
Como contraindicação à realização de LS ci- a LS apenas. Sobrevida global foi estatisíicamente
tam-se: carcinoma inflamatório e a presença clíni- semelhante entre os grupos, sendo 83,6% para as
ca ou histológica que evidencie comprometimento submetidas a EA e 86,3% para àquelas nas quais
axilar tumoral. Não há contraindicação à realização o EA não foi realizado. Sobrevida livre de doença
de BLS em gestantes, porém deve-se evitar o uso do também não foi diferente entre os grupos: 78,3%
corante de azul patente por não ter sua segurança para EA e 80,3% para LS.
confirmada neste contexto clínico.5(A) Assim, para pacientes com tumores em es-
tadios iniciais, axilas clinicamente negativas, não
CONDUTA EM BLS POSITIVO submetidas à terapia neoadjuvante e com até dois
linfonodos sentinela positivos, aceita-se a não rea-
Talvez o tópico que ainda cause maior contro- lização de EA rotineiro. Atentar para fatores relacio-
vérsia entre mastologistas, oncologistas e radiote- nados à alto risco de recidiva, como idade jovem,
rapeutas seja a conduta diante de LS positivo. Por tumores lobulares e imunohistoquímica desfavo-
muitos anos, a conduta padrão diante de BLS posi- rável, uma vez que pacientes com essas caracte-
tiva manteve-se como o EA, porém, a partir dos da- ristícas provavelmente não foram adequadamente
dos dos estudos ACOSOG Z0118(A) e após, do trial amostradas.
AMAROS, aceita-se a não realização de EA diante Ainda no contexto da possibilidade de preser-
de BLS positiva em casos selecionados.9(A) vação axilar diante de BLS positiva, para pacientes
319
CAP. 31 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
submetidas a mastectomia, dados do trial AMAROS aos 10% considerável aceitável para a realização
permite a não realização de EA para àquelas com do método: FNAC=18,2%, ACOSOG Z1071=31,5% e
até dois LS positivos e submetidas posteriormente SENTINA= 24,3%, porém, com a utilização de técni-
à radioterapia da axila. Resultados deste estudo de- ca combinada e remoção de pelo menos dois linfo-
monstraram sobrevida equivalente entre as pacien- nodos, considera-se método factível e seguro. Não
tes submetidas a EA ou radioterapia da axila, quando há dados de sobrevida livre de doença ou progres-
os tumores iniciais eram de até 5cm e a axila avalia- são, bem como de sobrevida global associada a esta
da antes da cirurgia clinicamente negativa. prática obtidos a partir de estudos prospectivos.
Com o objetivo de avaliar recorrência e sobrevi-
BIOPSIA DO LINFONODO SENTINELA da global de pacientes submetidas à biópsia de linfo-
APÓS QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE nodo sentinela pós quimioterapia neoadjuvante, Ga-
limberti e autores13(B), descreveram dados advindos
Devido as altas taxas de falsos negativos na de 396 pacientes operadas no IEO após seguimento
identificação do linfonodo sentinela após quimio- médio de 61 meses. Apesar de tratar-se de estudo
terapia neoaduvante reportada em alguns estudos retrospectivo, a pesquisa demonstrou sobrevida glo-
como o SENTINA, a realização de pesquisa do LS bal de 90,7% na coorte avaliada, 93,3% nas pacientes
após quimioterapia neoadjuvante tem sido tema de N0 e 86,3% naquelas inicialmente N1 ou N2. Assim,
debate nos últimos anos. A principal crítica aos tra- esses achados sugerem que BLS pode ser realizado
balhos evidenciando altas taxas de falsos negativos após quimioterapia neoadjuvante essencialmente nas
para BLS após QT neoadjuvante refere-se a inclusão pacientes cujas axilas tornaram-se clinicamente ne-
de mulheres com resposta clínica axilar ótima após gativas, pois a sobrevida foi semelhante comparativa-
o tratamento neoadjuvante junto àquelas com res- mente àquelas submetidas a esvaziamento axilar.
posta pobre, na qual clinicamente já não estaria indi- Deve-se destacar, entretanto, que todos os es-
cada à realização da biópsia do linfonodo sentinela. tudos mencionados são de Fase II. Por não haver
Com base nos achados dos estudos ACOSOG ensaios clínicos randomizados de Fase III, conside-
Z107110(A), NSABP B2711(A) e FNAC12(A), aceita-se ra-se razóavel a realização de BLS após QT neoad-
a realização de linfonodo sentinela após quimiote- juvante quando a axila, previamente ao tratamento
rapia neoadjuvante seguindo-se algumas prerroga- neoadjuvante, for clinicamente negativa. Para au-
tivas: axila clinicamente negativa após tratamento mentar o valor preditivo positivo do exame físico
neoadjuvante, remoção de pelo menos dois linfono- antes da Qt neoadjuvante, diversos Centros de tra-
dos e uso de técnica combinada (radiofármaco e azul tamento de câncer de mama sugerem a realização
patente). Segundo os achados do trabalho Z1071, a da punção com agulha fina (PAAF) do linfonodo axi-
taxa de falso negativo com a remoção de dois linfo- lar mais suspeito à ultrassonografia antes do início
nodos pós quimioterapia neoadjuvante foi de 12,8%. do tratamento, ou até mesmo a BLS pré QT.
Utilizando-se a combinação de azul patente e radio- Segundo o Guideline do National Comprehen-
fármaco para a identificação do LS, tal taxa cai para sive Cancer Network 2016 (NCCN 2016), a axila pode
10,8%, tornando-se semelhante àquela descrita no ser reestadiada se tornar-se negativa clinicamente
NSABP B27. A realização de imunohistoquímica nos após o tratamento com quimioterapia neoadjuvante.
linfonodos removidos, técnica utilizada pelos auto- Considera, porém, que a taxa de falso negativo pós QT
res do FNAC, proporcionou diminuição ainda mais só permite a realização da BLS com o uso de dupla
evidente da taxa de falso negativo da BLS pós QT, marcação e exérese de pelo menos dois linfonodos.
com valores de 8,4% para a taxa de detecção geral e
13,3%, quando considerou-se a presença de células BIOPSIA DO LINFONODO SENTINELA
tumorais isoladas como LS positivo. APÓS CIRURGIAS AXILARES PRÉVIAS
Desta forma, considerando-se as taxas de
falso negativo quando apenas um LS é removido, A conduta classicamente adotada diante de
todos os trabalhos demonstram valores superiores recidivas tumorais na mama em pacientes subme-
320
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 31
tidas à BLS prévia é o EA. Entretanto, as taxas de dissecção axilar ou ausência de tratamento axilar
identificação do LS após cirurgia axilar prévia, são adicional, não foram vistas alterações de sobrevida
altas, variando de 75-97%, segundo dois dos princi- livre de doença ou aumento de recorrência entre
pais estudos realizados com pacientes submetidas os grupos16(B). Assim, os dados deste estudo, pros-
a BLS após recidiva local14(A),15(A). Desta forma, a pectivo, multicêntrico e randomizado permitiram a
BLS pode ser oferecida à pacientes com câncer de não realização de EA em casos de BLS positivo para
mama operável, estando a segunda cirurgia prefe- micrometástases ou células tumorais isoladas em
rencialmente indicada quando a dissecção prévia pacientes com tumores de mama em estadios ini-
ocorreu com a remoção de menos de 10 linfonodos. ciais, não submetidas a terapias neoadjuvantes.
321
CAP. 31 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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py in patients with node-positive breast cancer:
322
32
MASTECTOMIA
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Cirurgia, Tratamento
HENRIQUE B. BRENELLI
Professor Associado e Livre Docente do Depto. de Tocoginecologia, Divisão de Oncologia da UNICAMP
Diretor do Instituto de Mama de Campinas (IMAMA)
LIVIA CONZ
Mestre em Medicina pela Unicamp
Mastologista pela Universidade de São Paulo.
RENATO TORRESAN
Mastologista do IMAMA Campinas e CAISM - UNICAMP
Mestre e Doutor pela UNICAMP
FABRICIO P. BRENELLI
Coordenador da divisão de Mastologia do Hospital BP: A Beneficência Portuguesa de São Paulo
Mastologista da divisão de Oncologia Mamária da Unicamp. Responsável pelo serviço de Reconstrução Mamária
Coordenador científico do Instituto de Mama de Campinas (IMAMA)
CAP. 32 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
324
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 32
325
CAP. 32 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
CAP passou a ser empregada também no tra- cas de reconstrução mamária, permitirá à realização
tamento do câncer de mama. Neste contexto, além de mastectomia nos casos indicados, mantendo-se
do cuidado dispensado ao retalho cutâneo, seme- a segurança oncológica associada à qualidade de
lhante ao da mastectomia com preservação de pele, vida das mulheres tratadas.
especial atenção deve ser dada à preservação da
vascularização do CAP. O exame de congelação in- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
traoperatória do tecido da região retroareolar pode
auxiliar o cirurgião quanto à espessura do retalho 1. Harris JR, Lippman ME, Morrow M, Kent O c.
e avaliação de doença residual, porém, não é man- Diseases of the Breast. Fifth edit. Pine JW, edi-
datório. Segundo o NCCN 2016, há forte indicação tor. Philadelphia, PA: 2014; 2014. 570-577 p.
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comparado de forma randomizada as taxas de reci- Wilkins; 1894 Nov;20(5):497–555.
diva associadas à mastectomia com preservação de
CAP em relação aos outros tipos de mastectomia. 3. Frasson, Antônio. Pace, Bárbara. Millen, Eduar-
Em séries de casos, as taxas de recorrência são va- do C. Novita, Guilherme. Brenelli FP. Doenças
riáveis e estão entre 3-28%, entretanto, tais dados da mama. São Paulo; 2013. 195-201 p.
são controversos, provenientes de estudos retros- 4. Veronesi U, Valagussa P. Inefficacy of internal
pectivos e sem padronização da espessura do reta- mammary nodes dissection in breast cancer
lho retroareolar. surgery. Cancer. Wiley Subscription Services,
Desta forma, a falta de técnica padronizada, di- Inc., A Wiley Company; 1981 Jan 1;47(1):170–5.
ficuldade associada tanto às caractéristicas individuais
5. Fisher B, Montague E, Redmond C, Barton B,
das pacientes quanto à experiència do cirurgião, difi-
Borland D, Fisher ER, et al. Comparison of radi-
culta a realização de estudos com resultados seguros.
cal mastectomy with alternative treatments for
Petit e colaboradores, 2010 13(C) , relataram a experiên- primary breast cancer:A first report of results
cia advinda do seguimento de cinco anos de 1001 pa- from a prospective randomized clinical trial.
cientes submetidas à mastectomia com preservação de Cancer. Wiley Subscription Services, Inc., A Wi-
CAP no Instituto Europeu de Oncologia, demonstrando ley Company; 1977 Jun;39(6):2827–39.
3,5% de necrose total de CAP, 5,5% de necrose parcial,
2% de infecção com a necessidade de 43 remoções de 6. Toth BA, Lappert P. Modified skin incisions for
próteses. O dado mais importante demonstrado neste mastectomy: the need for plastic surgical input
estudo foi a ausência de recidiva local no CAP. in preoperative planning. Plast Reconstr Surg.
1991 Jun;87(6):1048–53.
PERPECTIVAS FUTURAS 7. Gieni M, Avram R, Dickson L, Farrokhyar F, Lovrics
Tendo em vista o aumento da expectativa de P, Faidi S, et al. Local breast cancer recurrence
vida das pacientes, processo associado à melhora after mastectomy and immediate breast recon-
do tratamento sistêmico, as cirurgias mamárias ten- struction for invasive cancer: A meta-analysis.
dem a ser cada vez mais conservadoras e menos The Breast. Elsevier; 2012 Jun;21(3):230–6.
mutilantes. O papel da mastectomia neste contexto
8. Boyages J, Delaney G, Taylor R. Predictors of lo-
estará reservado às lesões localmente avançadas,
cal recurrence after treatment of ductal carci-
de caráter inflamatório ou desproporcionalmente noma in situ: a meta-analysis. Cancer. 1999 Feb
grandes ao tamanho das mamas, além das doenças 1;85(3):616–28.
caracterizadas por microcalcificações extensas.
Assim, a melhora na terapêutica neoadjuvante 9. Carlson GW, Page A, Johnson E, Nicholson K,
e adjuvante, associada ao aprimoramento das técni- Styblo TM, Wood WC, et al. Local Recurrence
326
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 32
327
33
MASTECTOMIA
PRESERVADORA DE PELE E
DO COMPLEXO AREOLO-
PAPILAR
Palavras Chave:
Câncer, mama, cirurgia, tratamento
CICERO URBAN
Médico Mastologista (TEMA) na Unidade de Mama do Hospital Nossa Senhora das Graças. Professor de Bioética e Metodo-
logia Científica no Curso de Medicina e na Pós-Graduação da Universidade Positivo em Curitiba. Coordenador do Departa-
mento de Cirurgia Oncoplástica e Reconstrutiva da Sociedade Brasileira de Mastologia.
FLÁVIA KURODA
Médica Mastologista (TEMA), Mestrado em Biotecnologia na Universidade Positivo. Unidade de Mama do Hospital Nossa
Senhora das Graças em Curitiba.
CAP. 33 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
330
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 33
gem, e que nos exames intraoperatórios e pós-ope- tamento de câncer de mama foi motivo de contro-
ratórios também esteja livre de malignidade. vérsias até alguns anos atrás devido à possibilidade
da presença de células tumorais ocultas no CAP.
SEGURANÇA ONCOLÓGICA Apesar de dados a longo tempo serem mais limita-
MASTECTOMIA PRESERVADORA DE dos, se comparados à mastectomia com preservação
PELE de pele e de não existirem ensaios clínicos rando-
mizados que comprovem a sua eficácia oncológica,
Em termos de controle local, os resultados as evidências cumulativas de diversas séries na li-
da mastectomia preservadora de pele são seme- teratura sugerem que a técnica é oncologicamente
lhantes aos da mastectomia convencional. Contudo, segura em pacientes selecionadas de alto risco e
não existe nenhum ensaio clínico randomizado que também naquelas com câncer de mama. Diversos
compare esta técnica com a da mastectomia radical. estudos relatam taxas de recorrência no CAP abaixo
Newmann, em um estudo prospectivo, realizado no de 1%13,14,15. Contudo, uma avaliação criteriosa des-
M.D. Anderson, avaliaram 372 mastectomias preser- tes estudos mostra uma diferenças entre os crité-
vadoras de pele em carcinoma invasivos, T1 e T2. rios de inclusão de pacientes e diferentes técnicas
Em um seguimento médio de 25 meses, encontra- cirúrgicas para remoção dos ductos retro-areolares
ram taxa de recorrência local de 6,2%10. Uma das e de preservação do mamilo16.
melhores evidências de segurança oncológica da Pipe et al, 2013, através de uma revisão sis-
mastectomia preservadora de pele é a da meta-a- temática de 10 estudos, representando um total de
nálise de Lanitis, onde 3739 foram avaliadas e não 1148 mastectomias preservadoras de pele e CAP,
se encontrou diferença significativa entre ela e a com seguimento médio de 2 anos, demonstrou a
mastectomia convencional em termos de recorrên- taxa de recorrência loco-regional de 2,8%17. Em
cia local e sobrevida global11. Outras revisões siste- uma metanálise recente, com a inclusão de 20 estu-
máticas também tem confirmado que a mastecto- dos, foram avaliados os resultados oncológicos em
mia preservadora de pele associado à reconstrução mulheres com câncer de mama inicial após mas-
imediata da mama é segura e permite melhores re- tectomia preservadora de CAP. Esta revisão, que in-
sultados estéticos12. cluiu 5.594 mulheres com seguimento de 25 a 101
meses, não encontrou diferenças significativas na
SEGURANÇA ONCOLÓGICA DA sobrevida global, sobrevida livre de doença e recor-
MASTECTOMIA PRESERVADORA DE CAP rência loco-regional entre os grupos mastectomia
preservadora de CAP e preservadora de pele18. Di-
A mastectomia preservadora de CAP para tra- versos centros, através de pequenas séries, também
331
CAP. 33 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
relataram bons resultados da mastectomia preser- milo25. Mallon, em uma revisão incluindo mais de
vadora de CAP em mulheres com doença localmen- 10.000 pacientes mostrou uma taxa de 11,5% ma-
te avançada (estágio IIb e III)19,20. Como esperado, milo contendo células malignas ocultas26. Crowe re-
estes estudos encontraram alta taxa de recorrên- latou envolvimento oculto no mamilo em 6 (11,1%)
cia locorregional e a distância, entretanto, nenhum de 44 pacientes27. Stanec, em 2013, reportaram taxa
ocorreu no CAP. Isto contribuiu para que o mais re- de 7.7% envolvimento do CAP no exame intraopera-
cente Clinical Practice Guidelines in Oncology - NCCN tório do tecido retroareolar28
indicar a mastectomia preservadora de CAP em mu- O risco de envolvimento oculto do mamilo
lheres selecionada cuidadosamente por um equipe pode ser reduzido através de uma boa avaliação
multidisciplinar e experientes21. radiológica pré-operatória. Segundo Burdge, a ava-
liação clínica e radiológica são excelentes predi-
FATORES PREDITIVOS DE tores de envolvimento do CAP em pacientes com
COMPROMETIMENTO DO CAP câncer de mama20. A mamografia é um dos métodos
de imagem que pode correlacionar a distância do
A segurança oncológica da mastectomia pre- tumor com o CAP. Pirozzi em 2010, mostrou que a
servadora de CAP depende de uma minuciosa ava- distância do tumor ao CAP igual ou inferior a 3cm
liação pré-operatória para afastar a probabilidade na mamografia é um fator de alta probabilidade de
de comprometimento com células tumorais. Di- envolvimento do CAP29. A ressonância magnética de
versos estudos utilizaram análise regressiva para mama (RM) também tem sua importância na ava-
buscar preditores de envolvimento do CAP, porém liação pré-operatória30. Alguns centros utilizam a
os resultados são inconsistentes devido à hetero- RM para avaliar o comprometimento do CAP como
geneidade das amostras. Estudos anatomopatológi- principal critério cirúrgico para indicar mastecto-
cos procuraram identificar que tipo de tumor teria mia poupadora do CAP. A avaliação da distância do
maior probabilidade de se estender ao mamilo22. tumor ao CAP através dela possui uma sensibilida-
Zhang, em uma metanálise demonstrou que de de 32,2% e especificidade de 88.6%24. Quando
os fatores preditivos que sugerem alta taxa de en- comparado com a mamografia e utilizando uma li-
volvimento do mamilo são: distância do tumor ao nha de corte de distância tumoral-CAP de 10mm, a
mamilo ≤ 2,5cm, status linfonodal positivo, estádio sensibilidade foi de 100% versus 71% e a especifi-
clínico III ou IV, tamanho tumoral >5cm, receptores cidade de 66% versus 63%31.
estrógeno e progesterona negativo, HER-2 positivo, Outro método que auxilia na avaliação de
ecarcinoma ductal in situ associado ao carcinoma doença residual e na decisão de preservar ou não o
ductal invasor23. Uma limitação nestes estudos é CAP, é o estudo intraoperatório, por congelação, da
que esses critérios muitas vezes não estão disponí- margem retro-areolar. A sensibilidade da análise da
veis antes da cirurgia e muitos dele utilizam diver- margem retroareolar para detecção de envolvimen-
sas metodologias, com amostra pequena e seleção to oculto no mamilo é de cerca de 80% e o valor
de paciente com critérios não homogêneos. preditivo negativo de 96%32. Pozone encontrou uma
O risco de envolvimento oculto do mamilo na sensibilidade 46,7% e especificidade 100%24. A téc-
mastectomia preservadora de CAP é relatado em nica inclui avaliação do tecido da margem atrás do
vários estudos com dados, contudo, algumas vezes CAP, em separado. Caso a congelação intra-opera-
inconsistentes por utilizarem diferentes protocolos tória seja positiva, recomenda-se a exérese de todo
anatomopatológicos para avaliação do CAP.24. Petit CAP, convertendo a mastectomia preservadora do
em 2007, em uma série de 773 mastectomias pre- CAP em mastectomia preservadora de pele. Outros
servadoras de CAP, a análise do exame intra-ope- autores sugerem aguardar a análise em parafina e
ratório revelou o envolvimento oculto do mamilo retornar para a sala cirúrgica para remoção ape-
em 6,6% das pacientes. Chen, em uma revisão de nas do CAP caso o resultado patológico final seja
115 mastectomias preservadoras de CAP encontrou positivo. A taxa de falso negativo varia de 10,9%
uma taxa de 5.2% de envolvimento oculto do ma- como observado por Petit, em uma das maiores sé-
332
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 33
ries publicadas13. Um estudo prospectivo, mostrou dissecção e as técnicas cirúrgicas. Variam significan-
que o estudo patológico intraoperatório associado temente conforme centros e cirurgiões. Estudos pré-
à avaliação da distância tumor-CAP através da res- vios sugeriram que a dissecção à bisturi frio poderia
sonância magnética são os preditores mais impor- resultar no aumento da taxa de necroses de retalho
tantes de envolvimento de células ocultas no CAP. quando comparado com dissecção por eletrocauté-
Quando realizado a avaliação dupla (RM + avalia- rio. Outros autores, contudo, argumentam que bisturi
ção intraoperatória), a sensibilidade chega a 50%, a frio é menos traumático para a pele e resulta em
especificidade 96,2% e acurácia 84,1%24. uma menor taxa de necrose33.
Na falta de estudos randomizados avaliando Tanto na mastectomia preservadora de pele
a eficácia oncológica da mastectomia preservadora quanto na mastectomia preservadora de pele e CAP,
do CAP, as evidências cumulativas de diversas sé- o envelope cutâneo é mantido, sendo importante pre-
ries na literatura sugerem que quando a margem servar a vascularização subcutânea. A espessura do
do mamilo for negativa, a mastectomia preservado- retalho deve ser suficiente para permitir a vascula-
ra do CAP tem resultados comparáveis aos da mas- rização do mesmo, mas depende da constituição da
tectomia preservadora de pele. paciente e da quantidade de tecido celular subcutâ-
neo presente. A sua espessura ideal não está definida
TÉCNICA e talvez não seja possível definir. Porém ela deve ter
espessura suficiente para manter a vascularização
Cirurgiões devem avaliar técnicas de incisão e sem aumentar o risco de recidiva local34
disseção do tecido mamário na tentativa de melhorar A maioria dos autores defendem a ressecção
resultados estéticos, minimizar riscos de recorrência da margem retroareolar mantendo uma espessura
local e diminuir complicações, particularmente a ne- de 0-2mm de tecido subdérmica atrás da aréola. Pe-
crose de retalho e do CAP. Os dados existentes na tit deixou uma espessura de 3-5mm de tecido sub-
literatura, contudo, são limitados quanto ao tipo de dérmico. Entretanto, todos os pacientes receberam
333
CAP. 33 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
radioterapia intra-operatória com ELIOT.22. Inversão and 31 (43.7%, mamas larga ou ptóticas e tabagis-
do mamilo com ressecção do tecido mamilar logo mo37,38, cirurgia na mama prévia, radioterapia prévia
abaixo do nível da derme é recomendado por al- e IMC.
guns autores. Bisturi a frio ou tesoura podem ser Com o refinamento da técnica, uso de mate-
utilizados para dissecção do CAP para minimizar o riais apropriados, otimização da perfusão do CAP
risco de lesão térmica. através da seleção de incisão e cuidados com a
A localização ideal para a incisão na pele na pressão no retalho da mastecotmia através de re-
mastectomia poupadora de pele e/ou CAP tem sido construção em 2 tempos expansor- prótese, as taxa
objeto de intensos debates (Figura 2). Diversos fa- de complicações da mastectomia preservadora de
tores devem ser considerados na escolha do tipo pele e/ou CAP tem reduzido. Necroses parciais do
da incisão. Estes devem incluir: tamanho da mama, CAP e do retalho, contudo, são comuns (cerca de
grau de ptose, tipo de reconstrução, localização do 21%). Porém, complicações severas e que requerem
tumor, história de tabagismo, preferência do cirur- intervenções cirúrgicas são menos frequentes (em
gião e da paciente. Existem múltiplas incisões des- torno de 6 a 7%). Em uma revisão sistemática fo-
critas para mastectomia preservadora do CAP, po- ram relatadas complicações isquêmicas envolven-
rém nenhuma tem se mostrado superior às outras35. do o CAP em resultados compilados de 24 estudos
As principais incisões utilizadas são: periareolar, ra- (representando 3091 mastectomias), com 9,1% de
dial, lateral, wise-pattern, inframamária e vertical. Já necrose parcial e 2% de necrose completa. 16 estu-
na mastectomia preservadora de pele pode ser rea- dos (representando 2213 mastectomias) relataram
lizada incisões que englobam o CAP, arredondadas, 9,5% taxa de necrose do retalho17. As complicações
periareolares, fusiformes, em raquete de tênis, em T específicas relacionadas à reconstrução mamária
invertido ou em forma de gota invertida. incluem: mau posicionamento da prótese, contra-
tura capsular, necrose gordurosa, sofrimento parcial
COMPLICAÇÕES ou completa do retalho, hérnias abdominais e a ex-
trusão da prótese.
Em termos de complicações na SSM, quando
realizado uma seleção cuidadosa das pacientes, a RADIOTERAPIA ADJUVANTE
incidência é baixa. A complicação mais importan-
te é a isquemia e a necrose do retalho, que pode
ocorrer em 11% casos. Um valor próximo àquele Outro assunto controverso sobre as mastec-
da mastectomia tradicional11. As necroses do CAP tomias poupadoras de pele e CAP é a indicação da
e do retalho podem requerer excisão ou revisões radioterapia adjuvante. Algumas vezes a adição da
cirúrgicas e estarem associados a infecções secun- radioterapia pode melhorar a segurança oncológi-
dárias. Quando isso acontece pode ser necessária a ca, porém ao custo da piora do resultado estético
remoção da prótese ou do expansor. Complicações final. Não existe, contudo, uma diretriz definitiva
podem atrasar o início da radioterapia ou quimio- sobre este assunto. Assim, são seguidas as mesmas
terapia adjuvantes. As taxas de complicações pode rotinas indicadas nas mastectomias convencionais.
ser influenciadas por fatores ligados à paciente, tais Alguns autores optam por individualizar cada caso,
como idade, história de tabagismo, diabetes, hiper- de acordo com a informação do cirurgião sobre a
tensão arterial, índice de massa corpórea (IMC) ele- quantidade de tecido remanescente34.
vada, e tamanho da mama. Radioterapia prévia ou
após a mastectomia também pode aumentar a taxa RECONSTRUÇÃO PÓS - MASTECTOMIA
de complicações, pois a radiação diminui a densida-
de capilar e fluxo sanguíneo na derme. Alguns estu- Com o desenvolvimento da reconstrução de
dos mostram que os principais fatores preditores de mama imediata pós- mastectomia houve uma me-
isquemia da CAP após mastectomia preservadora lhora da imagem corporal e da qualidade de vida
do CAP são: cirurgia por câncer, incisão periareolar36 em pacientes mastectomizadas, sem, contudo, com-
334
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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337
34
RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA
COM EXPANSORES DE
TECIDOS
Palavras Chave:
Neoplasia da mama,próteses e implantes, expansores de tecidos,mamoplastia,
reconstrução mamária
RODRIGO CERICATTO
Mastologista do Hospital de Clínicas e do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre - RS
Mestre em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Preceptor da Escola Superior de Cirurgia Oncoplástica da Mama (ESCO) de Porto Alegre - RS
340
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 34
especialmente na América do Norte. Kurian et al., Não-Simétricos (anatômicos): com maior proje-
em coorte observacional da população da Califór- ção do pólo inferior e especificações variáveis quanto
nia no período de 1998 a 2011, demonstrou um a tamanho da base, altura e projeção.
aumento anual de 14,3% de mastectomias bilate-
rais em pacientes com diagnóstico de câncer de SUPERFÍCIE EXTERNA
mama. A taxa de mastectomia bilateral era de 2,0% Lisa
em 1998 e passou a 12,3% em 2011. Esse aumento Texturizada
foi mais pronunciado no grupo de pacientes mais
jovens. Nas pacientes com menos de 40 anos essa VOLUME
taxa subiu de 3,6% em 1998 para 33% em 2011, Fixo
mas o crescimento percentual está presente em to- Variável
dos os intervalos etários avaliados. A acessibilidade
da população aos estudos de avaliação oncogené- Especificamente em relação aos expansores
tica também tem crescido de maneira exponencial, de tecidos, eles são formados por uma cápsula ex-
repercutindo no número de pacientes com diagnós- terna de elastômero de silicone, lisa ou texturizada,
tico de mutações que denotam alto risco para cân- preenchida com solução salina através de um por-
cer de mama hereditário e que assim optam pelas tal que pode estar integrado ao expansor (válvula
mastectomias bilaterais redutoras de risco.9(B) inclusa) ou portal próximo do expansor, com conec-
Frente a esse aumento do número de mastecto- tor canalicular (válvula remota).
mias bilaterais, houve crescimento substancial e con-
tínuo no número de reconstruções mamárias imedia- TIPOS DE RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA E
tas com expansores e/ou implantes nos últimos 15 a A ESCOLHA DA MELHOR TÉCNICA
20 anos, sendo que, atualmente, 50 a 80% das recons-
truções mamárias estão baseadas nessas técnicas. A evolução da reconstrução mamária está
baseada nas mudanças de conceitos relaciona-
MODELOS DE EXPANSORES/IMPLANTES das ao tratamento do câncer de mama, tecno-
logias disponíveis, avaliação dos resultados es-
Os implantes de silicone e os expansores de téticos, complicações e satisfação do paciente.
tecido hoje disponíveis apresentam diversas especi- Visando restituir a naturalidade, tamanho e for-
ficações quanto ao seu volume, bem como formatos e mato da mama, a decisão sobre qual tipo de re-
projeções variadas 10(A): construção mamária é ideal deve levar em conta
que nenhuma técnica é isenta de riscos e morbi-
NÚMERO DE COMPARTIMENTOS DO dade. As características próprias de cada pacien-
IMPLANTE: te, de sua patologia e de cada técnica de recons-
Implantes de lúmen único: Implantes preen- trução devem ser avaliadas criteriosamente para
chidos por gel de silicone inerte ou implantes com a tomada de decisão.
envoltório de silicone mas preenchidos por solução
salina estéril (expansores de tecidos). VANTAGENS DA RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA
Implantes de duplo lúmen: Presença de dois COM EXPANSOR- PRÓTESE EM COMPARAÇÃO
compartimentos separados, um preenchido por gel COM RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA COM
de silicone e outro preenchido por solução salina RETALHOS AUTÓLOGOS
(volume ajustável), também chamados de próteses- • Maior simplicidade e menor morbidade da
-expansoras. Apresenta portal ou válvula remota para técnica cirúrgica
preenchimento da porção salina. • Menor tempo cirúrgico
• Mais rápida recuperação pós-operatória e
FORMATO menor tempo de internação
Redondos
341
CAP. 34 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
342
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 34
reconstrução em tempo cirúrgico único, é atraente inclusa refere-se ao diâmetro do portal. Um fabrican-
por requerer menos intervenções cirúrgicas, meno- te nacional tem válvula incorporada com 18 mm de
res custos, menor número de visitas ambulatoriais diâmetro, enquanto que outras marcas importadas
e menos dias de afastamento da paciente das suas variam de 36 a 38 mm de diâmetro, o que diminui
atividades. Entretanto, na prática, temos observado significativamente o risco de acidentes de punção e
um maior risco de complicações e de cirurgias não perfuração inadvertida do expansor. Figura 2.
planejadas, quando em comparação com a recons- Alguns fatores de risco têm impacto negativo
trução em dois tempos. bem estabelecido na reconstrução mamária baseada
Salgarello et al., em série de 220 casos de em implantes, sendo eles: tabagismo, idade superior
reconstruções imediatas após mastectomias skin- a 50 anos, radioterapia e fatores cirúrgicos (ressec-
-sparing e nipple-sparing com prótese direta rela- ção de grandes quantidades de pele, linfadenecto-
tou incidência de complicações de 17,7%: 6,4% de mia axilar, uso indiscriminado de cautério, espessura
infecções, 1,3% de seroma, 2,7% de hematoma, 8% delgada dos retalhos e tumores avançados).
de necrose do retalho de mastectomia, 4% de con- Hirsch et al., em revisão retrospectiva de 856 pa-
tratura capsular, um caso de rotação do implante, cientes submetidas à reconstrução mamária com expan-
um caso de exposição do implante e 5,4% de mau sores/implantes, demonstrou que o tipo de complicação
resultado estético. 12(B) difere conforme o estágio da reconstrução em dois tem-
Análise retrospectiva dos dados de reconstru- pos. No estágio no qual a paciente está com o expansor,
ção mamária baseada em implantes, do Serviço de o principal fator de risco para a perda do expansor/con-
Mastologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, versão para retalho autólogo foi o IMC superior a 30 (RR
no período de 2006 a 2014, demonstrou taxa de 3,07). No estágio do implante definitivo, o fator de maior
complicações significativamente maior nas recons- associação com complicação levando à falha na recons-
truções com prótese direta (67,4%) em comparação trução (perda do implante/conversão para retalho) foi a
com a cirurgia em dois tempos (35,5%). No período história de radioterapia prévia à reconstrução (RR 3,45).
foram realizadas 90 (67,7%) cirurgias de reconstru- Os únicos fatores de risco que tiveram efeito significati-
ção em dois tempos e 43 (32,3%) em tempo único. vo no desenvolvimento de complicações em ambos os
O risco de deiscência de sutura e infecção foram estágios da reconstrução foram a idade superior à 50
significativamente maiores na reconstrução com anos, tabagismo no último mês e história de radiotera-
prótese direta (RR de 3,3 e 2,5, respectivamente). A pia prévia ou posterior à mastectomia.14(B)
taxa de perda do implante foi de 9,8%, semelhante A reconstrução em tempo único deve ser se-
a índices descritos na série de Spear et al.13(B) Na lecionada para casos específicos. A garantia de um
série de casos do HCPA, houve maior tendência à retalho da mastectomia com envelope cutâneo
perda do implante nas reconstruções com prótese amplo e vitalidade preservada é pré-requisito para
direta se comparada à reconstrução em dois tem- esse tipo de reconstrução. Preferencialmente, essas
pos, apesar do dado não ter atingido significância pacientes não devem ser candidatas à radioterapia
estatística. adjuvante.
O sucesso da reconstrução com expansores/
próteses depende de diversos fatores, dentre eles:
perfusão adequada do retalho cutâneo da mastec-
tomia, qualidade e presença de musculatura peito-
ral, volume do implante, comorbidades da paciente,
estadiamento da neoplasia e indicações de trata-
mento complementar (quimioterapia neoadjuvante
ou adjuvante e radioterapia), além das complicações
pós-operatórias mais frequentes como seroma, he-
matoma e infecções. Outro detalhe que é importante Figura 2: Expansores de tecido de formato anatômico e superfície textu-
rizada. Diâmetros variáveis das válvulas incorporadas de acordo com o
quando se utiliza expansores com portal ou válvula fabricante.Fonte: Arquivo pessoal do autor. (tamanhos: 3,6 ;1,8 ;3,8cm)
343
CAP. 34 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
No Serviço de Mastologia do Hospital de Clí- descrevem taxas de até 88% de re-operação de pa-
nicas de Porto Alegre, as pacientes selecionadas cientes submetidas a reconstruções mamárias em
para reconstrução mamária com prótese direta nor- um seguimento de 5 anos, enfraquecendo o argu-
malmente são magras ou com peso adequado, têm mento de que a estratégia de reconstrução com
mamas de volume pequeno a médio (400 gramas ou prótese direta visa a cumprir o objetivo de único
menos) e ptose ausente ou discreta. Pode também tempo cirúrgico.15(A)
ser realizada em pacientes com mamoplastia de Em todos os casos em que existe deficiência
aumento prévia, nas quais a pele e os tecidos moles de pele, viabilidade questionável da pele ou que
foram pré-expandidos, possibilitando a obtenção necessitem de reduções de pele (mamas volumo-
de simetria adequada com a mama contralateral. sas, ptóticas), preferimos a reconstrução com ex-
Nas pacientes com mamoplastia de aumento prévia pansores.
à mastectomia, sempre que possível preservamos a As vantagens da reconstrução em dois tem-
cápsula fibrosa anterior para auxiliar na cobertura pos são a segurança gerada pela dupla cobertura
do novo implante, juntamente com o peitoral maior. do expansor/implante (pele e camada muscular),
A reconstrução com prótese imediata após menor risco de complicações, maior participação da
mastectomias nipple-sparing ou skin-sparing é paciente no processo de reconstrução e consequen-
factível, sendo a técnica preferencial em diversas te valorização da reconstrução mamária, possibili-
instituições, entretanto, muitas vezes, reinterven- dade de adaptação do volume mamário conforme
ções para revisões e ajustes são necessárias. Séries o desejo da paciente e de acordo com as variações
Figura 3.1.Incisão no sulco infra-mamário da mama direita, seguindo padrão de cirurgia estética, para mastectomia “nipple sparing mastectomy” à direita
e reconstrução mamária em 2 tempos. Simetrização da mama oposta com mamoplastia de aumento “dual plane”. Mamografia 8 meses após a segunda
etapa da reconstrução mamária.Fonte: Arquivo pessoal do autor.
344
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 34
de peso comuns durante os tratamentos adjuvantes especialmente para as pacientes que podem ser
(quimioterapia e hormonioterapia). Não é incomum tratadas com mastectomias poupadoras da aréola
observarmos um ganho ponderal ao redor de 10 kg e papila (“nipple sparing mastectomy”). Incisões no
durante a quimioterapia. Em caso de cirurgia unila- sulco mamário e em T-invertido são as nossas pre-
teral, este incremento de peso acarretará em assi- feridas. A segurança do uso destes tipos de incisões
metria considerável. A presença do expansor tam- situa-se na cobertura total do expansor de tecidos
bém facilita muito o manejo das complicações mais pela bolsa muscular, formada pelo peitoral maior
frequentes, como as epidermólises, deiscências de e serrátil anterior. Em caso de deiscência da sutura
sutura superficiais e punções de sero-hematomas. cutânea, não haverá problema, pois o expansor de
Nas situações de sofrimento cutâneo ou de deis- tecidos não será exposto. Figuras 3.1 e 3.2.
cências por tensão de sutura, pode-se aspirar parte A segunda etapa cirúrgica é fase essencial
ou toda solução salina do expansor, diminuindo as- nessa modalidade de reconstrução mamária. Cor-
sim a pressão sobre a cobertura músculo-cutânea responde ao momento em que serão realizados to-
e possibilitando melhor vascularização e reaproxi- dos os refinamentos e ajustes que buscam garantir
mação dos bordos de sutura, quando necessário. um excelente resultado estético e de simetria. O
Outra grande vantagem do uso da técnica de objetivo primário da cirurgia de troca do expansor
reconstrução mamária em dois tempos é a possibi- pela prótese de silicone é ajustar o volume e forma-
lidade do posicionamento das cicatrizes nos mol- to da mama, a posição do sulco inframamário, res-
des das incisões utilizadas em cirurgias estéticas, tituindo maior naturalidade à mama reconstruída.
Figura 3.2: Incisão em T-invertido para mastectomia “skin sparing mastectomy” à esquerda e reconstrução mamária em 2 Tempos. No primeiro tempo cirúrgi-
co, além da mastectomia e inclusão do expansor de tecidos, foi realizada a mamoplastia da mama direita para simetrização.Fonte: Arquivo pessoal do autor.
345
CAP. 34 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Nas pacientes com radioterapia prévia, é fundamen- redonda texturizada Siltex Becker 25 (25% de gel
tal a realização de capsulotomia/capsulectomia, de silicone e 75% de solução salina) versus recons-
associando lipofilling ou o uso de matriz dérmica trução em dois tempos, com expansor de tecidos
acelular, quando disponível. Nesse tempo cirúrgico é anatômico e posterior troca por prótese mamária
ideal também que se realizem os procedimentos de anatômica de tamanho específico para a configura-
simetrização da mama contralateral, como a mamo- ção geométrica da mama da paciente, demonstrou
plastia redutora ou de aumento, conforme o desejo que o procedimento com prótese expansora defini-
da paciente. Ainda pode-se realizar a reconstrução tiva não atingiu as expectativas nem das pacientes,
do complexo aréolo-papilar e outros procedimentos nem dos cirurgiões, como procedimento em tempo
não diretamente relacionados à reconstrução ma- único. Houve uma diferença altamente significativa
mária, mas que são frequentemente indicados nesse entre os dois grupos em relação ao número de re-
grupo de pacientes, como a remoção de cateter cen- -operações necessárias para a obtenção de um re-
tral que foi utilizado para quimioterapia e a salpin- sultado estético satisfatório (p = 0,0002): 70% das
go-ooforectomia naquelas que foram diagnosticadas pacientes no grupo reconstruído em um estágio
com mutações genéticas de BRCA1 e 2. (Figura 4) com prótese-expansora não ficaram satisfeitas com
Em relação à reconstrução mamária em tem- o resultado estético da reconstrução, versus 10% no
po único com prótese- expansora permanente, um grupo reconstruído em dois tempos. Uma segunda
Ensaio Clínico Randomizado15(A) comparando a cirurgia corretiva foi realizada em 70% das pacien-
reconstrução com prótese expansora permanente tes do grupo reconstruído em tempo único com
Figura 4: Segunda etapa da reconstrução mamária em 2 tempos, associando lipoenxertia para melhorar o contorno e o volume e reconstrução do com-
plexo aréolo-mamilar. Como a paciente, neste caso, era magra, foi aspirada gordura da face interna do joelho e coxa para lipoenxertia. Reconstrução do
complexo aréolo-mamilar com enxerto de fragmento do mamilo contralateral e dermopigmentação.Fonte: Arquivo pessoal do autor.
346
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 34
prótese-expansora definitiva e ainda uma terceira a posição ou obscurecer a presença do sulco infra-
cirurgia foi necessária em 15% dessas pacientes. No -mamário e da transição com a mama contralateral.
grupo reconstruído em dois tempos, uma nova ci- Os limites críticos na dissecção para a obtenção de
rurgia foi necessária em apenas 10% dos casos. um bom resultado estético, são o inferior e o medial.
Na nossa casuística, as próteses-expansoras A dissecção do músculo peitoral maior é
ou de duplo-lúmen têm sido utilizadas na recons- fácil e minimamente traumática à paciente. Já a
trução de pacientes mais idosas ou com várias co- dissecção completa do músculo serrátil da pare-
-morbidades clínicas. Damos preferência às próte- de costal gera uma superfície da parede torácica
ses-expansoras anatômicas, especialmente aquelas que não será recoberta idealmente pelas estrutu-
com proporção de 50% silicone/50% câmara de so- ras que definirão a porção ínfero-lateral da mama
lução salina, pois conferem uma consistência mais reconstruída, além de ser uma dissecção que gera
natural. Quando utilizamos os modelos nos quais a dor. Dessa forma, surgiu o conceito de criar uma
porção salina é preponderante, re-operações para bolsa músculo-fascial, ou seja, ao invés da dissec-
sua substituição por implantes de silicone foram ção completa do músculo serrátil, o limite lateral
muito frequentes em função de sua sensação tátil passa a incluir a dissecção apenas de uma porção
mais rígida ou pelo desenvolvimento de contratura do músculo serrátil com a totalidade de sua fáscia.
capsular precoce (menos de 5 anos). Para o limite inferior, há uma grande variação
em relação ao local de inserção do músculo pei-
TÉCNICA CIRÚRGICA toral maior na parede torácica. Se o limite inferior
da dissecção for o peitoral maior, localizado acima
POSICIONAMENTO DO EXPANSOR DE do sulco infra-mamário, a bolsa muscular irá for-
TECIDOS çar o expansor a ficar posicionado muito alto. Para
A base do expansor é escolhida conforme solucionar esta situação, é necessária a dissecção
aferição da base da mama da paciente. Nas situa- da fáscia do músculo reto abdominal o que garan-
ções em que a paciente deseja, além da recons- te cobertura inferior do expansor e permite seu
trução mamária, aumentar o volume das mamas, posicionamento em topografia que irá permitir a
podemos selecionar um expansor com base um expansão do polo inferior.
pouco maior para permitir a associação do efeito Para criar a bolsa músculo-fascial, o músculo
de uma mamoplastia de aumento. Idealmente, o peitoral maior é dissecado superiormente. Lateral-
ponto de máxima expansão deve ser o terço infe- mente se disseca porção do músculo serrátil e sua
rior da mama, levando-se em conta a preferência fáscia. Essa cobertura lateral deve ser suficiente
por expansores e implantes de formato anatômi- para manter o expansor em sua posição correta e
co, sempre que disponíveis. Sugere-se o posicio- evitar seu deslocamento para a axila. Por último,
namento da borda inferior do expansor 1 a 2 cm a fáscia do reto abdominal é dissecada, inferior-
abaixo do sulco inframamário. Dessa forma, o pon- mente e em continuidade com a fáscia do serrátil.
to de máxima expansão estará na posição deseja- Deve-se criar espaço suficiente para a inserção do
da. Medialmente, a posição recomendada para o expansor sem que este dobre-se sobre si mesmo.
expansor de altura completa é 1 a 2 cm da linha A bolsa músculo-fascial garante cobertura
média, e lateralmente o limite é a linha axilar an- completa para o expansor através de fáscia e mus-
terior. culatura bem vascularizadas e fornece suporte es-
trutural para o expansor/prótese, garantindo sucesso
BOLSA MÚSCULO - FASCIAL da reconstrução a longo prazo. Essa bolsa músculo-
A abordagem tradicional para a criação da -fascial bem vascularizada forma uma cobertura que
bolsa que recobrirá o expansor e o implante com- permite boa expansibilidade e pode prevenir a perda
preende a cobertura muscular através da dissecção da reconstrução, nas situações em que há necrose do
do músculo peitoral maior e do músculo serrátil an- retalho de mastectomia, por exemplo.
terior. Deve-se ter cuidado especial para não alterar
347
CAP. 34 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
348
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 34
reconstruções unilaterais. Implantes de gel coesi- liação preferencialmente deve ser realizada com a
vo são mais propensos a manterem seu formato e paciente posicionada com o dorso elevado.
contorno e estão menos sujeitos a “rippling” (ondu- O envelope de tecidos moles em torno do im-
lações que podem ser observadas na superfície dos plante deve englobá-lo confortavelmente para evitar a
implantes). rotação e mal posicionamento do implante, especial-
O volume final do expansor é geralmente uti- mente se este implante for anatômico. O resultado es-
lizado como referência para a decisão sobre o vo- tético ao final da cirurgia deve ser visualmente satisfa-
lume do implante, mas com as capsulotomias no tório, já que a tendência é que geralmente não ocorram
segundo tempo cirúrgico, pode-se chegar a volu- modificações com o tempo. A utilização de drenos de
mes de implantes até 200 cc superiores ao volu- sucção fechados na loja do implante, para prevenir a
me do expansor. A escolha das demais medidas do formação de seroma não é uma rotina, sendo decidido
implante deve ser guiada pela aferição geométrica no trans-operatório sobre o seu emprego.
da base, altura e projeção, utilizando-se a mama
contralateral como referência, no caso de cirurgias RADIOTERAPIA
unilaterais. Tem sido muito frequente a abordagem
da mama contralateral, seja com uma mamoplastia Pacientes com carcinoma de mama localmen-
de aumento associada ou uma mastoplastia para si- te avançado terão indicação de realizar radioterapia
metrização. A experiência e a utlilização de moldes da parede torácica e cadeias linfáticas após a mas-
podem ajudar na escolha do volume do implante e tectomia. As reconstruções com retalhos autólogos
no resultado estético. historicamente são as preferidas nestas situações.
Uma parte importante da cirurgia de troca do Entretanto, nos últimos anos, muitas instituições têm
expansor pela prótese é o posicionamento do sul- reservado os retalhos miocutâneos para os casos de
co inframamário. O sulco inframamário é o princi- falha, após primeira tentativa de reconstrução com
pal marco visual da mama e seu posicionamento é implantes, seja em um ou dois tempos. Temos altos
ponto crucial no resultado final da reconstução ma- índices de sucesso com reconstrução com material
mária. No procedimento de troca do expansor pela aloplástico, nas pacientes com radioterapia prévia ou
prótese, além de capsulotomias radiais, é recomen- radioterapia sobre o expansor-implante. Nesse grupo
dada a realização de capsulotomia circunferencial. de pacientes submetidas à radioterapia, a associação
A capsulotomia cirurcunferencial será responsável de lipoenxertia na reconstrução mamária tem sido
pela liberação da contratura em torno do implante essencial para obtenção de sucesso na reconstrução
no sentido ântero-posterior, maximizando a proje- com expansores-próteses.
ção da mama. O ganho em projeção do envelope de Estratégias possíveis descritas na literatura
tecidos moles com a capsulotomia circunferencial em relação ao timing da radioterapia e reconstru-
pode chegar a 7 cm. ção mamária são as seguintes:
Já as típicas capsulotomias radiais somente
irão resultar em liberação centrípeta do implante. 1. Em pacientes com indicação de quimioterapia
A realização apenas de capsulotomia seletiva nas neoadjuvante - radioterapia sobre o expansor de tecidos:
áreas de aparente fibrose e constrição pode levar o • Quimioterapia neoadjuvante
implante a herniar pelas áreas em que foi realizada a • 3 a 4 semanas após o término da quimio-
capsulotomia, pois o restante da cápsula permanece terapia será realizada a mastectomia e re-
firme, levando a pobres resultados a longo prazo. construção com expansor de tecidos
Moldes são utilizados principalmente para es- • 10 a 14 dias após a cirurgia se inicia a ex-
timar o volume, mas podem também ser utilizados pansão rápida, que deve ser completada
para a escolha das dimensões do implante anatômi- em 6 semanas
co, para avaliação da adequação das capsulotomias • início da radioterapia adjuvante com o ex-
e para confirmar o correto posicionamento do sulco pansor cheio (8 semanas após a inserção
inframamário e dos contornos da mama. Essa ava- do expansor)
349
CAP. 34 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
• cirurgia para troca do expansor pelo im- das é significativamente mais baixa (5,5%).18-19(B)
plante 4 a 6 meses após o término da ra- Quanto aos resultados estéticos, para as pa-
dioterapia cientes que não apresentaram falha da reconstru-
ção, são os seguintes:
2. Radioterapia sobre o implante: - Contratura capsular grau III de Baker - 3,7%
• Mastectomia e reconstrução com expan- dos implantes sem radioterapia; 15,9% dos pacien-
sor de tecidos tes que receberam radioterapia sobre o expansor
• início da expansão 10 a 14 dias após a ci- e 44,6% das pacientes que receberam radioterapia
rurgia e durante a quimioterapia sobre o implante (p <0,01).
• troca do expansor pelo implante 4 sema- - Contratura capsular grau IV de Baker - 0,4%;
nas após o término da quimioterapia 1,22% e 6,3%, respectivamente (p<0,01). Demons-
• radioterapia adjuvante iniciada 4 semanas trando taxa significativamente maior de contratura
após a cirurgia do implante definitivo capsular grau III e IV nas pacientes que receberam
a radioterapia sobre o implante.
Deve-se lembrar de que expansões não devem - Resultado estético para pacientes submeti-
ser realizadas durante o tratamento radioterápico. das à reconstrução unilateral: resultado muito bom
Evidências demonstram que a radioterapia a excelente em 73,8% das pacientes sem radiotera-
direcionada tanto ao expansor quanto ao implan- pia; 44,5% nas pacientes que irradiaram o expansor
te é um fator de risco independente para a falha e 45,2% nas pacientes que irradiaram o implante
da reconstrução, se comparada à reconstrução ma- (p<0,01). Não houve diferença significativa no resulta-
mária sem radioterapia (falha na reconstrução em do estético muito bom a excelente para pacientes que
4,6% das pacientes sem radioterapia versus 18,1% receberam radioterapia sobre o expansor ou implante.
e 12,4% quando radioterapia sobre e expansor de - Resultado estético para pacientes submeti-
tecidos e o implante, respectivamente; p <0,01). das à reconstrução bilateral: resultado muito bom a
Spear e Onyewu17(B), em revisão retrospectiva que excelente em 94,3% das pacientes sem radioterapia;
avaliou 40 pacientes submetidas à reconstrução 75% nas pacientes que irradiaram o expansor e 67,6%
mamária em dois tempos, demonstraram que 47,5% nas pacientes que irradiaram o implante (p<0,01). Pa-
das pacientes do grupo irradiado necessitaram de cientes que receberam radioterapia sobre o expansor
um retalho miocutâneo para salvar a reconstrução apresentaram discreto melhor resultado estético se
ou melhorar o resultado estético versus 10% no comparadas àquelas que irradiaram o implante.18-19(B)
grupo não irradiado. A incidência de complicações Pode-se concluir que há diferença significati-
foi superior no grupo com radioterapia (52,5%) em va em termos de satisfação das pacientes com re-
comparação ao grupo sem radioterapia (10%). sultado da reconstrução e bem estar psico-social,
Evidências menos robustas demonstram que, físico e sexual naquelas pacientes que não recebe-
em análise multivariada ajustada para fatores como ram radioterapia sobre as mamas reconstruídas se
tipo de implante, lateralidade e tempo de segui- comparadas às irradiadas. Já na comparação entre
mento, o risco de perda do expansor-implante apa- radioterapia sobre o expansor ou a prótese, ob-
rentemente é maior quando a radioterapia é dire- servam-se escores discretamente mais favoráveis
cionada ao expansor de tecidos (RR 5,75; p<0,01) naquelas que receberam radioterapia sobre o ex-
quando comparada à radioterapia direcionada ao pansor de tecidos em comparação àquelas que re-
implante (RR 5,19; p<0,01). ceberam radioterapia sobre o implante.18-20(B)
Curvas preditoras de falha de reconstrução Essa diferença relativa à menor contratura
em 6 anos demonstram predição de maior falha na capsular grave nos casos de radioterapia sobre o
reconstrução quando a radioterapia é direcionada expansor pode estar relacionada à realização de
ao expansor de tecidos quando comparada à radio- extensa capsulotomia/capsulectomia na cirurgia de
terapia direcionada ao implante (32% versus 16,4%; troca do expansor pela prótese que ocorre poste-
p<0,01). Já a taxa de falha em pacientes não irradia- riormente à radioterapia e permite que o envelope
350
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 34
de tecidos moles se readapte sobre o implante, re- inerente à reconstrução mamária imediata.
sultando em melhor resultado estético. Nesse contexto, a equipe do Dr Kronowitz no
Nos casos em que se realiza a radioterapia so- MD Anderson criou o conceito de “delayed-immediate
bre o expansor de tecidos, surge o questionamento reconstruction”, técnica que busca conciliar resultado
sobre qual o momento ideal para a realização da ci- estético ótimo com radioterapia efetiva. Consiste na in-
rurgia para troca do expansor pela prótese. Apesar de serção de expansor de tecidos no momento da mastec-
as evidências disponíveis não demonstrarem diferen- tomia, buscando manter o formato da mama, espessu-
ças em relação à taxa de complicações e taxa de falha ra e dimensões do retalho cutâneo até que se tenha o
da reconstrução conforme o momento de troca do ex- resultado anatomopatológico definitivo. Em pacientes
pansor pela prótese no contexto da radioterapia após que não terão indicação de radioterapia, prossegue-se
mastectomia, existem evidências de que o tipo de com o processo de reconstrução mamária normalmen-
complicação é influenciada pelo momento da cirurgia. te. Naquelas pacientes que terão indicação de radiote-
Pacientes que realizam a troca do expansor rapia, o expansor de tecidos poderá ser esvaziado antes
pela prótese precocemente (<4 meses após a ra- do início da radioterapia, a radioterapia direcionada à
dioterapia) têm maior incidência de complicações parede torácica é realizada e posteriormente o expan-
infecciosas. Já aquelas que realizam a troca tardia- sor é reinflado permitindo reconstrução tardia com pre-
mente (>4 meses após a radioterapia) têm maior servação de pele e utilização de retalhos miocutâneos
incidência de contratura capsular. e/ou próteses. A justificativa para esta estratégia é que
Alguns autores defendem que pacientes que dessa forma o tratamento das cadeias linfonodais de
têm indicação precisa de radioterapia pós-mas- mamária interna pode ser realizado com menor dose
tectomia deveriam ter sua reconstrução mamária de radiação no pulmão e coração e evita gradientes de
postergada. Mas nem sempre a indicação de radio- distribuição de dose.21(B)
terapia pode ser definida antes do resultado ana- No Hospital de Clínicas de Porto Alegre,
tomopatológico da peça cirúrgica de mastectomia. a rotina do Serviço de Mastologia é realizar a
Postergar a reconstrução mamária nos casos em radioterapia sobre o expansor de tecidos, tanto
que, após avaliação anatomopatológica da peça de em pacientes que realizam quimioterapia neoad-
mastectomia, não haverá indicação de radioterapia, juvante quanto adjuvante. Aguarda-se um período
priva esse grupo de pacientes do benefício global de 4 a 6 meses após o término da radioterapia para
realizar a troca do expansor pela prótese. Preferi-
mos esta estratégia, pois nos permite no segundo
tempo cirúrgico, pós radioterapia, a associação de
lipoenxertia, além da realização de capsulecto-
mias ou capsulotomias nas porções de maior con-
tratura da cápsula fibrosa. Figura 5.
CONCLUSÃO
351
CAP. 34 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
352
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 34
353
35
RECONSTRUÇÃO
MAMÁRIA COM PRÓTESES,
EXPANSORES E MATRIZ
DÉRMICA ACELULAR
Palavras Chave:
Câncer de Mama, Reconstrução da Mama, Implantes de Mama
FABRICIO P BRENELLI
Coordenador da divisão de Mastologia do Hospital BP: A Beneficência Portuguesa de São Paulo
Mastologista da divisão de Oncologia Mamária da Unicamp. Responsável pelo serviço de Reconstrução Mamária
Coordenador científico do Instituto de Mama de Campinas (IMAMA)
RENATO TORRESAN
Mastologista do IMAMA Campinas e CAISM - UNICAMP
Mestre e Doutor pela UNICAMP
CAP. 35 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 35
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CAP. 35 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 35
mais previsível nas mãos da maioria dos cirurgiões, A integridade do músculo e do sulco infra-
enquanto que a reconstrução com implante mamário é avaliada e procede-se com a dissecção
definitivo requer alguns retoques com uma segunda do espaço subpeitoral e desinserção do músculo da
cirurgia em aproximadamente 30% dos casos. Por porção medial (esterno) e de todo o sulco até encon-
outro lado, a reconstrução com expansor exigirá trar a fáscia do músculo reto abdominal. O múscu-
nova cirurgia em 100% das vezes. 5, 7(B) 16(A) lo peitoral cobrirá então superiormente a prótese. A
loja muscular pode ser parcial ou completa. Quando
TÉCNICA se planeja uma cobertura muscular total, o músculo
serrátil anterior é descolado da parede torácica para
As pacientes devem ser examinadas em posi- fornecer cobertura lateral (loja completa). É, então,
ção ortostática. A incisão da pele depende da loca- dissecada a loja muscular entre o músculo peitoral
lização e tamanho do tumor, bem como da neces- maior e serrátil anterior a partir da borda lateral do
sidade de remoção de pele da mama. A biópsia do músculo peitoral maior, que é elevado e destacado
linfonodo sentinela e a dissecção axilar completa na sua inserção inferior e parcialmente em sua in-
geralmente podem ser realizadas a partir da mesma serção medial. A seguir, o músculo serrátil anterior é
incisão. A marcação da linha média, estendendo-se elevado lateralmente e destacado anteriormente, ao
da fúrcula do esterno ao umbigo, e do sulco inframa- nível da margem inferior do peitoral maior. A dissec-
mário bilateralmente, é importante para guiar o cor- ção deve ser estendida até cerca de 2 cm abaixo do
reto posicionamento do implante durante a cirurgia. sulco inframamário e o plano de dissecção da porção
Uma correta avaliação da paciente no pré- inferior é subfascial.19(C)
-operatório através das medidas da mama irá orien- A prótese / expansor é colocada na loja sub-
tar a escolha do implante antes da cirurgia, redu- muscular orientada com a ajuda de marcadores na
zindo o número de próteses de prova utilizadas superfície do implante. Se o retalho cutâneo do
durante a cirurgia (quando disponíveis) e, portanto, quadrante inferior lateral da mama tiver espessura
reduzindo o tempo cirúrgico. Embora a escolha do satisfatória e um bom suprimento sanguíneo pós-
implante seja determinada visualmente com a pa- -mastectomia, e a incisão da pele encontra-se sobre
ciente em posição sentada, as medições pré-opera- o músculo peitoral maior, geralmente opta-se por
tórias e o peso da mama após a mastectomia po- loja muscular parcial, assim é possível obter uma
dem orientar essa decisão. A largura, a altura e a melhor projeção do polo inferior da mama recons-
projeção da mama contralateral são medidas e um truída e melhor contorno. Por outro lado, nos casos
pinch test 18(C) é realizado para avaliar a espessura de mastectomia em que os retalhos são finos ou as
do retalho de pele da mastectomia. incisões cutâneas localizadas nos quadrantes infe-
Nos casos em que são utilizados expanso- rior e lateral da mama, loja muscular completa é a
res, a linha média central, o eixo vertical da mama e melhor alternativa.
sulco inframamário bilateralmente são desenhados, Preservar a fáscia do músculo peitoral evi-
bem como uma linha adicional um centímetro abai- tando qualquer dano ao mesmo, preservar o sulco
xo do sulco inframamário existente. A forma e o con- inframamário e manter os retalhos cutâneos viá-
torno da nova mama são delineados de acordo com veis são passos fundamentais que permitem uma
a mama contralateral. O tamanho e tipo de expansor reconstrução mamária mais satisfatória.
utilizado dependerá da largura e da altura da mama A reconstrução com próteses pode ser feita
contralateral, e o volume pode ser estimado através em um ou dois estágios de acordo com a prótese
do peso do espécime da mastectomia. O tamanho do utilizada:
expansor é menor quando existe o planejamento de
redução da mama contralateral, e é maior no caso de RECONSTRUÇÃO EM UM ESTÁGIO COM PRÓTESE
uma mama grande ou ptótica. O expansor é comple- DEFINITIVA
tamente evacuado de ar e, em seguida, é parcialmen- A reconstrução com prótese definitiva pode
te insuflado com solução salina estéril.3(A)17(C) ser realizada na maioria dos casos, desde que as
359
CAP. 35 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
condições locais permitam. A vantagem é rea- o ideal que a troca ocorra após 3 a 6 meses. Não
lizar tudo em um único tempo, poupando um se- existe tempo limite para o expansor ser substituído,
gundo tempo operatório. mas quanto mais passa o tempo, maiores as chan-
ces de deflação do mesmo.
RECONSTRUÇÃO EM UM ESTÁGIO COM
PRÓTESE EXPANSORA COMPLICAÇÕES
Semelhante ao que foi descrito acima, a di- As complicações podem ser divididas entre
ferença desta prótese é que a mesma possui um precoces e tardias. Tabagismo, obesidade, hiperten-
volume predeterminado de gel de silicone e outro são e idade superior a 65 anos, parecem ser fatores
compartimento no qual é possível injetar solução de risco independentes para complicações.1(B)
salina para aumentar o volume gradativamente e As complicações imediatas mais frequen-
alcançar a melhor simetria contralateral. As desvan- tes são: hematoma, infecção (representando de 1
tagens são a necessidade de realizar novo procedi- a 3% dos casos), seroma persistente, necrose cutâ-
mento para retirar a válvula expansora e o risco de nea e exposição da prótese (2 a 10%). A extrusão
ocorrer deflação da parte inflável, sendo necessária do implante resulta de infecção, necrose da pele ou
a substituição da prótese nestes casos. deiscência. Nos casos de exposição de prótese e in-
fecção, o implante deve ser removido e uma nova
RECONSTRUÇÃO EM DOIS ESTÁGIOS reconstrução indicada após 3 a 6 meses. Algumas
Esta reconstrução se faz com a utilização de complicações podem levar a atraso na terapêutica
expansores teciduais temporários específicos para adjuvante, algumas vezes resultando em prejuízo
este fim. É a técnica mais utilizada e indicada prin- no tratamento.20(B)
cipalmente quando falta tecido para a reconstrução As complicações tardias são: deflação da
com prótese definitiva, quando existe risco de uma prótese/expansor, rippling, que significa pequenas
necrose cutânea, quando existe desejo da paciente dobras do implante que podem ser palpadas pela
em ter mama mais volumosa e quando a cirurgia paciente na mama, contratura capsular e ruptu-
deve ser rápida. Recentemente Cordeiro e colabo- ra do implante. A contratura capsular é a compli-
radores demonstrou a sua experiência com 350 ca- cação mais frequente, podendo ocorrer em até 50
sos de reconstrução com expansor, expansão rápida a 68% dos casos seguidos de radioterapia. Ocorre
durante a quimioterapia e cirurgia de capsulotomia geralmente após 6 a 12 meses, mas pode surgir a
com inserção de prótese definitiva. Os resultados qualquer momento após este período. Esta com-
foram positivos, inclusive no grupo que recebeu plicação é consequência da contração da cápsula
radioterapia adjuvante, com resultados cosméticos periprotésica formada por miofibroblastos que se
satisfatórios em 90% dos casos em médio prazo. desenvolve em torno da prótese como uma reação
Quando são utilizados expansores, o ideal é natural do tecido ao corpo estranho. A contratura
que a expansão seja realizada no prazo mais rápi- capsular é visível em pelo menos 25% dos casos
do possível. Este prazo dependerá da avaliação do após seguimento de 2 anos. Nos casos mais seve-
cirurgião. Se a pele estiver íntegra e a cicatriz sem ros de contratura capsular é preciso proceder com a
sofrimento, a expansão pode ser iniciada já na pri- capsulotomia e/ou capsulectomia cirúrgica.
meira semana. Pode ser realizada semanalmente ou Diversos estudos tentam estabelecer as cau-
a cada 2 semanas. Quanto mais tempo demorar a sas da contratura capsular, como fatores associados
expansão, a cápsula periprotésica já estará formada a própria paciente, presença de infecções subclí-
e expandi-la ocasionará dor para a paciente, assim nicas ou clínicas tratadas ambulatorialmente, he-
como resultados mais modestos de expansão. matoma pós-operatório entre outros. Entretanto,
Uma vez que a expansão é completada, a a causa mais comumente associada a contratura
troca final por prótese definitiva pode ser realizada. capsular grau III e IV é a presença de radioterapia
Um período mínimo de 2 a 3 meses é necessário prévia ou pós-operatória. Atualmente, com as novas
para que os resultados sejam duradouros, sendo técnicas de radioterapia, a gravidade e frequência
360
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 35
de contraturas graves diminuíram, porém ainda A ADM parece ainda estar associada a meno-
ocorrem. Apesar disso, estudos recentes demons- res taxas de contratura capsular quando compara-
tram que mesmo assim, a satisfação das pacientes do com a utilização de loja muscular completa ou
ainda é alta, e a maioria delas escolheria ser sub- parcial para a cobertura do implante. Os dados em
metida ao mesmo tipo de reconstrução.21(B) relação à contratura capsular são constantemente
emergentes e mais e mais artigos estão atestando o
SEGUIMENTO APÓS RECONSTRUÇÃO fato de que a incorporação da ADM na reconstrução
COM IMPLANTES mamária imediata ou tardia parece estar associada
Não existe consenso, além do exame clíni- à diminuição significativa de contratura capsular. A
co, para o seguimento das pacientes submetidas maioria dos estudos, entretanto, são limitados de-
à reconstrução mamária com prótese ou expansor. vido ao curto intervalo de seguimento e pequeno
Exames de imagem devem ser indicados indivi- número de pacientes, apresentando baixo nível de
dualmente caso a caso, principalmente nos casos evidência científica. As taxas de contratura capsular
de mastectomias preservadoras de pele e CAP, nas reportadas variam de 0 a 3,5%. Breuing relatou taxa
quais deve ser avaliada a presença ou não de teci- zero de contratura em 3 anos em mamas não irradia-
do glandular residual. A integridade dos implantes das em série de 97 casos de reconstrução imediata e
segundo recomendação do FDA deve ser realizada a 4 reconstruções tardias com implantes ou expanso-
cada três anos com ressonância magnética. res.24(C) Embora os dados para apoiar esta afirmação
ainda estejam surgindo, existe já uma tendência en-
O USO DA MATRIZ DÉRMICA ACELULAR corajadora neste sentido. Recente revisão da literatu-
NA RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA ra por Jansen demonstrou que existe diferença entre
as taxas de contratura capsular de 0-8% com uso de
A matriz dérmica acelular (ADM – sigla em AlloDerm, as quais foram bem abaixo das médias re-
inglês) é um biomaterial utilizado nas reconstru- portadas para as taxas de contratura capsular não
ções com próteses e expansores que funciona como baseadas em AlloDerm.25(A)26(B)
uma extensão do músculo peitoral para facilitar a Com o aumento da experiência cirúrgica e
cobertura dos implantes. É utilizada para cobrir o da compreensão dos benefícios mecânicos e bioló-
implante em sua porção inferior, lateral, inferolate- gicos da matriz dérmica acelular, a tendência é que
ral, para recriar o sulco inframamário e o contorno as indicações para sua utilização sejam também es-
lateral da mama, mantendo a posição do implante, tendidas para as cirurgias de revisão das reconstru-
constituindo alternativa à loja submuscular peito- ções, frente às complicações reais que existem e às
ral total ou parcial. expectativas das pacientes e dos próprios cirurgiões.
Existem vários tipos diferentes de ADM Sabe-se que a taxa de reoperação após reconstrução
atualmente disponíveis. São provenientes de derme com implantes gira em torno de 51% em seis anos.
de cadáveres humanos (alogênica) ou de tecidos Embora existam complicações também com o uso de
xenogênicos (suíno ou bovino; derme, pericárdio, ADM em cirurgias de revisão, tem sido demonstrado
submucosa intestinal). Elas diferem em espessura que há uma alta frequência de sucesso no manejo
que variam de menos de 1 mm a mais de 4 mm, de problemas que são muitas vezes desafiadores e
sendo as mais espessas mais adequadas para fins uma baixa taxa de recorrência desses defeitos ou da
cosméticos. necessidade de uma nova cirurgia. Portanto, a indi-
Apesar de estudos iniciais sugerirem que uma cações do uso de ADM parece ter papel importante
de suas vantagens era facilitar o processo de expan- principalmente em cirurgias de revisão e nos casos
são no cenário da reconstrução com expansores, es- de mamas irradiadas.27, 28(A)29, 30(B)31, 32(C)33(B)
tudo multicêntrico randomizado mostrou que o uso As taxas de complicações com o uso da ma-
de ADM não acelera as taxas de expansão pós-ope- triz dérmica acelular, por sua vez, variam de 0 a
ratória, nem reduz a percepção de dor no pós-opera- 44,7%. Os principais fatores que afetam as compli-
tório imediato ou na fase de expansão.22,23(B) cações associadas a sua utilização são diferenças
361
CAP. 35 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
362
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 35
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363
36
RECONSTRUÇÃO
MAMÁRIA COM
RETALHO MIOCUTÂNEO
TRANSVERSO DO RETO
ABDOMINAL (TRAM)
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Retalho Miocutâneo, Mastectomia
366
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 36
367
CAP. 36 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
INDICAÇÕES
Reconstrução após mastectomias por tumores
localmente avançados com necessidade de ampla
ressecção de pele
Figura2:Definição das zonas do retalho TRAM baseada na vascularização
Fechamento de grandes defeitos provocados
pelos vasos epigástricos ipslaterias e suas perfurantes
na parede torácica por dissecções amplas
sa do pedículo ao nível da sua margem costal para Radioterapia complementar pós-mastectomia
obter maior flexibilidade no seu posicionamento na Falha na reconstrução com prótese
área da mastectomia, o que pode levar a um ris- Desejo da paciente e/ou recusa ao uso de pró-
co maior de lesão dos vasos epigástricos superio- teses
res.1(C) CONTRAINDICAÇÕES
Lembramos que, em alguns casos, pode ser Cirurgia abdominal prévia, especialmente, as
necessária a utilização dos dois músculos retos cirurgias com incisão na região subcostal, como nas
abdominais, ou seja, um TRAM bipediculado, am- colecistectomias abertas, as dermolipectomias ab-
pliando as zonas a serem incorporadas no retalho, dominais e as lipoaspirações
sendo também um procedimento seguro e bem to- Ausência de volume adequado na área doa-
lerado pelas pacientes. Esta escolha irá depender dora
do volume e da extensão de pele necessários para a Tabagismo
reconstrução ou fechamento do defeito provocado Diabetes
pela mastectomia e, até mesmo, das características Obesidade (IMC > 30 Kg/m²)
clínicas da paciente, como tabagismo pesado, vi- Patologias e comorbidades associadas
sando garantir melhor vascularização do retalho. O TÉCNICA
TRAM bipediculado constitui alternativa nos casos A cirurgia começa pela marcação pré-operató-
de mastectomia bilateral com reconstrução.8(D),10(B) ria das incisões da mastectomia e da área doadora
(definindo a ilha de pele e subcutâneo no abdome
INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES inferior), assim como, a delimitação do sulco infra-
A avaliação da paciente para realização do mamário. A paciente é posicionada em decúbito
TRAM começa pela área doadora, que deve ser ade- dorsal com os membros superiores perpendiculares
quada quanto ao volume e avaliada quanto a pos- ao tronco. O membro superior ao lado da mama a
sibilidade de haver boa vascularização do tecido ser mastectomizada pode ser envolvido em campos
adiposo da região infraumbilical, sendo importan- estéreis com atadura para mantê-lo móvel durante
368
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 36
369
CAP. 36 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
370
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 36
Figura 6 A. TRAM monopediculado - Vasos epigástricos inferiores (VEI): localizados posterior e lateralmente ao músculo reto abdominal. B. TRAM bipedi-
culado - Vasos epigástricos inferiores (VEI)
resistência abdominal à pressão. Logo abaixo des- localizado na lateral oposta do músculo já disseca-
te ponto, encontra-se o limite inferior da dissecção do (zona III e IV). Figura 7.
do músculo reto abdominal e o local de ligadura e
wsecção dos vasos epigástricos inferiores (localiza- A zona IV (menos vascularizada) é descartada
dos posterior e lateralmente ao músculo reto abdo- e o retalho miocutâneo elevado e passado através
minal), seguida da secção do músculo, na altura da do túnel para a área receptora. O músculo é então
linha arqueada. Figura 6. É realizada a individuali- dobrado sobre si próprio, expondo a face cutânea
zação do umbigo do restante do retalho cutâneo- do retalho na área receptora. Quando utilizado o
-adiposo e a liberação do retalho cutâneo-adiposo músculo reto abdominal contralateral, esse deverá
Figura 7 Liberação e elevação do músculo reto abdominal e do retalho cutâneo e adiposo abdominal inferior após ligadura e secção dos vasos epigás-
tricos inferiores.
371
CAP. 36 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
372
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 36
373
CAP. 36 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 13 Pós-operatório imediato. Mastectomia redutora de pele. Paciente em posição de semi-fowler. Presença de drenos com aspiração contínua a
vácuo no abdome e na área da mastectomia.
374
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 36
dias ou mais dias, mesmo após a remoção dos dre- das a evitar movimentos bruscos ou esforços pelo
nos, no entanto não existe estudo conclusivo para mesmo período. 4,6,8(D) A recuperação completa, em
qualquer uma destas práticas.23(B),24(C),25(B) Embora geral, compreende um período que varia em torno
não exista clara evidência para a manutenção de de 6 semanas.6,8(D)
cobertura antibiótica prolongada, as evidências dis-
poníveis até o momento sugerem ser apropriado a COMPLICAÇÕES
sua manutenção até a retirada dos drenos.25(B)
Muitos estudos já identificaram que as pa- O TRAM é um procedimento de reconstrução
cientes submetidas a reconstrução mamária, prin- que envolve uma série de cuidados no pré e pós-
cipalmente a reconstrução imediata, apresentam -operatório e atenção a muitos detalhes durante a
elevado risco de infecção no sítio cirúrgico. Devido sua execução. Além disso, as características asso-
a morbidade potencial causada pela infecção neste ciadas à vascularização do retalho miocutâneo e as
tipo de cirurgia, como atraso na cicatrização das fe- modificações causadas na área doadora aumentam
ridas operatórias e no início dos tratamentos adju- a possibilidade de complicações. Estas complica-
vantes, a maioria dos cirurgiões (58%) adotam o uso ções podem ser em menor ou maior grau, por vezes,
prolongado de antibióticos no pós-operatório (> 24 exigindo novas intervenções cirúrgicas:11(B)
horas), sendo a duração recomendada em torno de • Formação de seroma
7 dias ou até a retirada dos drenos.26(D) • Necrose adiposa
Em geral, os drenos são retirados em torno • Infecção na área doadora/tela
de 7 dias, independente do volume de drenagem, • Deiscência de sutura
sem aumento das complicações pós-operatórias, • Exposição da tela
incluindo a ocorrência de seroma.4(D),25(B) Em situ- • Sangramento e hematoma pós-operatório
ações de drenagem intensa ainda no 7º dia, estes com necessidade de drenagem
poderão ser mantidos por um período maior con- • Abaulamento da parede abdominal com ne-
forme avaliação pela equipe cirúrgica. Muitos auto- cessidade de reparo cirúrgico
res recomendam a sua retirada quando a drenagem • Hérnia abdominal
for < 30ml/24horas, independente do tempo.6,8(D) • Necrose do retalho
A cinta abdominal e o sutiã cirúrgico são man- • Perda parcial ou total do retalho
tidos por 60 dias e as pacientes devem ser orienta- • Necrose do umbigo
Figura 14 Complicações isquêmicas no TRAM associadas à necrose parcial do retalho, necrose do umbigo, deiscência dos bordos da ferida operatória.
exposição da tela.
375
CAP. 36 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
376
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 36
Figura 15.1 Pré-operatório (A e B). Pós-operatório de reconstrução tardia com TRAM monopediculado ipsilateral e simetrização da mama oposta (C e D).
377
CAP. 36 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 15.2 Pós-operatório de reconstrução imediata com TRAM monopediculado ipsilateral (A e B).
rança e efetividade da ligadura laparoscópica, sem micas no retalho, em especial, nas pacientes de alto
complicações ou necessidade de conversões para risco, ampliando as suas indicações.
cirurgia aberta, tendo uma paciente com obesidade
apresentando necrose do retalho.29(C) Em outro es- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tudo, a automização no TRAM é realizada através da
embolização seletiva das artérias epigástricas infe-
riores profundas, evitando a necessidade de proce- 1. Hartrampf CR, Scheflan M, Black PW. Breast
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ções e para o sucesso da cirurgia reconstrutora da 75.
mama com TRAM. Figura 15.1, 15.2, 15.3, 15.4. 5. Zucatto AE, Biazús JV, de Melo MP, Neyeloff
Também contribui para obtenção de resulta- JL, Capp E, von Eye Corleta H. Immediate
dos estéticos ainda melhores a possibilidade de re- breast reconstruction using free transverse
alizar mastectomias poupadoras de pele e CAM, nas rectus abdominis myocutaneous flap: impact
reconstruções imediatas com TRAM, sem compro- on breast cancer recurrence after mastectomy.
meter o controle local da doença ou o seguimento Breast J. 2012;18(3):284-5.
da paciente. Assim como, a realização da automiza- 6. Zenn MR, May JW. TRAM flap reconstruction:
ção no TRAM para reduzir as complicações isquê- the single pedicle, whole muscle technique.
378
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 36
Figura 15.3 Reconstrução com TRAM bipediculado com excelente contorno no sulco inframamário (A e B). Simetrização mamária, reconstrução do mamilo
e correção de cicatriz (C e D).
Figura 15.4 Pós-operatório de reconstrução imediata com TRAM monopediculado ipsilateral com ligadura prévia dos vasos epigástricos inferiores pro-
fundos 15 dias antes do TRAM (A e B).
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CAP. 36 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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380
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 36
381
37
RECONSTRUÇÃO COM
RETALHO DO MÚSCULO
LATÍSSIMO DO DORSO
Palavras Chave:
Neoplasia da mama , Procedimento cirúrgicos reconstrutivos , Retalho miocutâneo
FÁBIO BAGNOLI
Professor Instrutor Doutor da Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo
e Assistente do Setor de Mastologia da Santa Casa de São Paulo
Membro das Comissões do TEMA e Oncoplastia da SBM (2017-2019)
Secretário da SBMSP (2017-2019)
384
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 37
INDICAÇÕES
385
CAP. 37 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
386
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 37
387
CAP. 37 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 6. Paciente submetida a reconstrução tardia com retalho do latíssimo do dorso lipoenxertado, após extrusão de implante mamário. Injetado 180
ml de gordura autóloga. A: Pré operatório; B: 2 meses pós operatório.
Figura 7. Paciente 44 anos, submetida a reconstrução imediata com latíssimo do dorso a esquerda e lipoenxertia, sendo injetado 100 ml de gordura
autóloga. A: Pré operatório; B: 6 meses pós operatório( pós radioterapia); C: 12 meses pós operatório
388
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 37
ção do retalho, pode-se colocar o implante atrás do flap. Plastic and reconstructive surgery 1982,
músculo grande dorsal ou se houver necessidade 69(2):216-225.
atrás do músculo peitoral maior e o retalho deve ser 6. Delay E, Gounot N, Bouillot A, Zlatoff P, Rivoire M:
fixado nos limites superior lateral para que o implan- Autologous latissimus breast reconstruction: a
te não corra risco de deslizamento para axila. Outras 3-year clinical experience with 100 patients. Plas-
alternativas para se obter volume adequado é através tic and reconstructive surgery 1998, 102(5):1461-
da confecção do retalho estendido do Latíssimo do 1478.
dorso ou lipoenxertado. Locado dreno tubular de as- 7. Clough KB, Louis-Sylvestre C, Fitoussi A, Coutu-
piração contínua (Fig. 4, 5, 6 e 7). raud B, Nos C. Donor site sequelae after autolo-
gous breast reconstruction with an extended
COMPLICAÇÕES latissimus dorsi flap. Plastic and reconstructive
surgery. 2002;109:1904-11.
As complicações desta técnica não são muito 8. Santanelli di Pompeo F, Laporta R, Sorotos M,
frequentes e a mais comum é a formação de seroma Pagnoni M, Falesiedi F, Longo B: Latissimus dor-
na região do dorso, podendo exigir múltiplas pun- si flap for total autologous immediate breast
ções até a resolução. Complicações agudas como reconstruction without implants. Plastic and re-
hematoma, infecção e necrose são menos frequen- constructive surgery 2014, 134(6):871e-879e.
tes (menos de 1% dos casos) . Necrose da área doa-
dora pode ser mais frequente nos casos de grande
dorsal estendido. Como complicação tardia, as mais
frequentes são: alargamento da cicatriz do dorso,
seroma tardio, dor crônica e limitação do movimen-
to do braço que é facilmente prevenida com a reali-
zação de fisioterapia pós-operatória6,7(C).
Assim, o retalho com músculo latíssimo do
dorso demostra ser uma técnica consagrada e ver-
sátil, podendo dar ao cirurgião diversas opções de
chegar ao seu objetivo .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
389
38
RECONSTRUÇÃO
MAMÁRIA COM RETALHOS
MICROCIRÚRGICOS
Palavras Chave:
Microcirurgia, Mama, Retalho perfurante
392
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 38
do microscópio e o posicionamento durante o ato ci- perfurantes. Os vasos receptores são a artéria e veia
rúrgico deve ser adequado( extremidades superiores mamária ou os vasos toracodorsais.
apoiadas a fim de minimizar a fadiga e o tremor). O defeito abdominal é corrigido por síntese
A utilização de instrumental específico como primária da aponeurose ou através de materiais
tesouras, porta-agulhas microvasculares, clipes de aloplásticos como as telas de polipropileno segui-
pressão atraumáticos, pinças delicadas e fios de su- da de fechamento das incisões de maneira similar a
tura (Nylon 9-0 e 10-0) são fundamentais na execu- uma abdominoplastia.
ção do procedimento. Devido a violação da integridade da fáscia e
Outro fator importante é a escolha correta do músculo, existe o risco de desenvolvimento de
dos vasos receptores. Estes devem ter um calibre hérnia, abaulamento ou fraqueza da parede abdo-
adequado e bom fluxo sanguíneo. A avaliação pré- minal. Com o passar do tempo, foi possível evoluir
-operatória dos vasos receptores pode ser realizada de técnicas que utilizavam todo o músculo reto ab-
através do exame físico associado aos exames com- dominal, para técnicas que utilizam pequenas áreas
plementares (angiografia e angiotomografia). do músculo (“muscle sparing flap”). Com isso, dimi-
Os pacientes que apresentam comorbidades nui-se a morbidade do sítio doador.
(IMC maior do que 30, diabetes, tabagistas, hiper-
tensos) e aqueles já submetidos a cirurgias prévias RETALHO PERFURANTE DA ARTÉRIA
ou radioterapia devem ser avaliados com cautela- EPIGÁSTRICA INFERIOR PROFUNDA ( DIEAP )
5-6
(B). Assim como o retalho livre transverso do mús-
culo reto do abdome, o retalho perfurante da arté-
RETALHOS DO ABDOME INFERIOR ria epigástrica inferior profunda fornece um grande
volume de tecido que se assemelha a consistência
De todas as áreas doadoras disponíveis, o ab- natural da mama.
dome inferior se apresenta como padrão ouro na Este retalho tem como vantagem sobre o
reconstrução microvascular da mama. A pele e o te- TRAM livre a preservação do músculo reto do ab-
cido celular subcutâneo oferecem volume e carac- dome trazendo assim, menos morbidade da área
terísticas suficientes para criar um cone mamário doadora.
adequado. Para a utilização desta região como área Por esses motivos, nos últimos anos, se tornou
doadora, é necessário haver excesso de tecido local o padrão ouro na reconstrução autóloga microvas-
bem como a preservação dos vasos axiais e perfu- cular da mama (figuras 1,2 3 e 4).
rantes nutridores do retalho. A marcação cirúrgica da ilha de pele se asse-
melha ao TRAM livre, no entanto, a maior parte do
RETALHO LIVRE TRANSVERSO DO MÚSCULO retalho é centralizada sobre a perfurante selecio-
RETO DO ABDOME ( TRAM LIVRE ) nada. A dissecção do retalho requer experiência em
O retalho livre transverso do músculo reto do dissecção de vasos perfurantes, especialmente em
abdome (TRAM livre) é composto de pele e tecido sua porção intramuscular.
celular subcutâneo do abdome inferior sobre um Após disseção do retalho, o mesmo é transfe-
dos músculos retos do abdome. A pele sobrejacente rido para a área doadora, sendo realizada as anas-
ao músculo é irrigada pelos vasos perfurantes da tomoses dos vasos epigástricos inferiores aos vasos
artéria epigástrica inferior profunda. receptores (artéria e veia mamária interna ou vasos
A marcação cirúrgica se assemelha a de uma toracodorsais).
abdominoplastia estética.
O retalho é dissecado e levantado do leito RETALHO DA ARTÉRIA EPIGÁSTRICA
doador com preservação dos vasos perfurantes da SUPERFICIAL ( SIEA)
artéria epigástrica inferior profunda. A artéria e sua É a menos invasiva dentre as opções de trans-
veia são, então, dissecadas juntamente com uma ferência livre de tecido abdominal para a reconstru-
faixa do músculo reto do abdome sob a área das ção da mama. Fornece o mesmo tecido que o DIEAP
393
CAP. 38 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
porém não há violação da aponeurose e muscu- funcionais da área doadora. Após dissecção da ilha
latura do reto abdominal. Praticamente elimina o de pele, uma pequena secção do músculo grácil é
risco de formação de abaulamento abdominal ou realizada e o pedículo baseado na artéria circunfle-
hérnia, entretanto, a dissecção do pedículo vascular xa femoral medial é seguido até a sua origem nos
exige elevada experiência cirúrgica. Os vasos que vasos femorais profundos (Figuras 5, 6 e7).
nutrem esse retalho são os epigástricos superficiais, O retalho é transferido e anastomosado nos
no entanto, alterações anatômicas são frequentes e vasos receptores.
o vaso pode ter um calibre inadequado ou não estar
presente. MICROCIRURGIA NO TRATAMENTO DO
LINFEDEMA DE MEMBRO SUPERIOR
RETALHOS GLÚTEOS E DAS COXAS O linfedema é reconhecido como a complica-
Quando a região inferior do abdome não esta ção crônica mais importante do tratamento do cân-
disponível como área doadora, a região glútea e cer de mama. A incidência estimada de linfedema
as coxas fornecem algumas opções de retalhos li- em pacientes submetidas a esvaziamento axilar é de
vres para a reconstrução da mama. Considerando o 19.9%. Desenvolvida com o objetivo de mitigar este
aumento da popularidade da cirurgia plástica, um risco, a técnica de biopsia de linfonodo sentinela ain-
número cada vez maior de mulheres optam pela da oferece um risco de linfedema de 5.6%7-8(B).
realização de abdominoplastia e lipoaspiração abdo- O tratamento cirúrgico do linfedema é uma
minal e, assim, as vezes, deixam de serem candidatas nova fronteira da microcirurgia reconstrutiva. No-
a reconstrução autóloga com tecido abdominal. vos procedimentos que buscam melhorar a função
linfática do membro afetado têm sido replicados
RETALHO PERFURANTE DA ARTÉRIA GLÚTEA em diversos centros ao redor do mundo, com re-
SUPERIOR/INFERIOR ( SGAP/IGAP ) sultados favoráveis. As anastomoses linfo-venosas,
Retalhos livres da região glútea se tornaram idealizadas por Koshima no Japão , buscam uma
popular na década de 90 após os avanços em téc- derivação do sistema linfático congesto para um
nica microvascular. São uma excelente opção de sistema venoso subcutâneo de baixa pressão9(B).
reconstrução em paciente que possuam maior ex- Tecnicamente, consiste na realização de anastomo-
cesso de tecido na região glútea do que abdominal ses supermicrocirúrgicas (≈.01 mm) entre vasos lin-
ou que não são candidatas a utilização do abdome. fáticos e veias subcutâneas por pequenas incisões
Da mesma maneira que no DIEAP e no SIEA, não há na pele em localizações previamente determinadas
dano muscular na confecção do retalho. por um estudo linfográfico com verde de indociani-
Apos a dissecção da ilha de pele, o pedícu- na (figura 8). Os resultados são significativamente
lo vascular é dissecado através do musculo glúteo melhores em pacientes com doença menos avança-
máximo até a sua origem na artéria ilíaca interna. da, com redução média de 61% do excesso de volu-
O retalho é então transferido para área doadora e me do membro afetado em pacientes com linfede-
anastomosado nos vasos receptores da mesma ma- ma grau 1 ou 2 após 1 ano10(A).
neira que nos outros retalhos já descritos. A transferência de retalhos linfonodais, idea-
lizada por Becker na França, pretende melhorar a
RETALHO LIVRE TRANSVERSO SUPERIOR DO capacidade da drenagem linfática do membro pela
MUSCULO GRÁCIL ( TUG ) transferência vascularizada de um retalho gorduro-
O retalho livre transverso superior do múscu- so contendo linfonodos para o defeito da linfade-
lo grácil é uma excelente alternativa para paciente nectomia prévia11(B). Para a axila, o retalho é nor-
que não possuem área abdominal doadora ou que- malmente dissecado na região inguinal e os vasos
rem evitar extensas cicatrizes abdominais. É ide- circunflexos inguinais superficiais são anastomosa-
al na reconstrução de mamas pequenas e fornece dos a um ramo do tronco toracodorsal ou aos vasos
excelente contorno e projeção. A cicatriz, normal- torácicos laterais (figura 9). Um ensaio clínico ran-
mente, fica em área inaparente e não há sequelas domizado com 36 pacientes mostrou uma redução
394
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 38
de 57% do excesso de volume dos membros afeta- observadas.A anticoagulação é um tema controver-
dos após 1 ano em pacientes submetidos a trans- so na cirurgia microvascular. O uso de heparina tem
ferência de retalho linfonodal associado à Terapia como objetivo, além da profilaxia da TVP, a manu-
Descongestiva Complexa (TDC) comparado a 18% tenção de um estado de hipocoagulabilidade após
em pacientes submetidos apenas a TDC (7) (figura a microanastomose. O desafio reside em fornecer
10)12(B). Uma dissecção controlada e bem plane- ao paciente uma profilaxia antitrombótica efetiva
jada do retalho é imperiosa para evitar linfedema sem aumentar de forma agressiva o risco de san-
secundário da área doadora, uma complicação rara gramento no pós-operatório.
do procedimento. Em mais de 95% dos pacientes, o Os principais agentes anticoagulantes sao o
linfonodo sentinela do membro inferior tem posi- ácido acetilsalicílico, heparina, dextran e as estati-
ção medial aos vasos femorais e caudal ao sulco de nas, todos com nível IV de evidência para o uso em
inserção da coxa. A adaptação de técnicas de pes- retalhos livres.
quisa de linfonodo sentinela pode ajudar no plane- A pressão arterial média deve ficar ao redor
jamento destes retalhos. de 75-80mmHg e a hemoglobina em torno de 10g/
A lipoaspiração aparece como uma excelente dl para manter um estado de hemodiluição. O po-
alternativa cirúrgica para pacientes com quadros sicionamento do paciente deve ser adequado para
mais avançados que apresentam hipertrofia do que não haja compressão ou torção do pedículo. O
subcutâneo. Brorson propõe uma lipoaspiração cir- curativo também não pode ser restritivo.
cunferencial agressiva do membro sob torniquete
para ressecção de todo o excesso de tecido fibroa- COMPLICAÇÕES
diposo depositado13(C). Esses pacientes ficam total-
mente dependentes de vestimentas compressivas Como em toda cirurgia, existe o risco de com-
nos pos-operatório. Embora se questione se uma plicações pós-operatórias como o seroma, infecção
ressecção tão agressiva produz dano adicional ao da ferida operatória, deiscência de suturas, hema-
sistema linfático residual, a lipoaspiração é a úni- toma e cicatrização patológica. Todas elas devem
ca técnica que aborda essa sequela da cronificação ser tratadas de maneira habitual como em qualquer
da doença e deve ser considerada para redução de outra cirurgia.
volume do membro quando a disfunção linfática do Entretanto, devido a existência de uma anas-
membro estiver controlada13(C). tomose microvascular, artérias e veias estão sujei-
Mais estudos são necessários para se deter- tas a trombose. Essa, pode ser intraoperatória ou
minar de maneira precisa as melhores indicações tardia, devendo ser abordada em ambas as situa-
e potenciais resultados em cada subgrupo de pa- ções. A trombose arterial ou venosa pode propor-
cientes. No entanto, para Sociedade Internacional cionar perda do retalho, sendo a mais temida das
de Linfologia, o tratamento cirúrgico do linfedema complicações (figura 11).
aparece hoje como a chance mais próxima de cura A perda total do retalho ocorre em 2-5% dos
para as desordens do fluxo linfático. A combinação casos nos centros especializados e normalmente
do tratamento cirúrgico à linfoterapia tradicional, exige um planejamento adequado para o resgate
realizada por fisioterapeuta especializado, é essen- da reconstrução.
cial para otimizar os resultados e evitar a progres-
são da doença com perda dos resultados14(C). CONCLUSÃO
395
CAP. 38 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
o desenvolvimento de centros especializados são 11. Becker C, Vasile JV, Levine JL, Batista BN,
fundamentais no sucesso da cirurgia. Studinger RM, Chen CM, et al. Microlym-
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396
39
TRATAMENTO CIRÚRGICO
DA PACIENTE METASTÁTICA
Palavras Chave:
Câncer, mama, metástase, tratamento, revisão, estadiamento de neoplasias
398
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 39
Figura 1: Gráfico de sobrevida temporal. André et al Figura 2: Gráfico de sobrevida temporal. Giordano et al
399
CAP. 39 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mor na cavidade abdominal, tornou-se um padrão foi associada de forma independente com maior
na estratégia global de tratamento, apesar da falta sobrevida, revelando um hazard ratio de (HR=0,69
de um ensaio randomizado para provar essa aborda- p< 0,00001). O benefício de sobrevida foi indepen-
gem. Assim, com base em dados retrospectivos, es- dente da idade, carga tumoral, tipo de cirurgia, es-
tas neoplasias são frequentemente geridas com “de- tado das margens, local das metástases, status de
bulking” tumoral antes da quimioterapia, permitindo, receptores hormonais, e presença da proteína HER-
com base nesta teoria, que uma menor carga tumoral 2. Importante salientar que nesta metanálise, o uso
aumente a eficácia da terapia sistêmica19,20,21,22(B,D). da terapia sistêmica e da radioterapia foi significa-
Há uma preocupação, com base em dados la- tivamente associado com a sobrevida (Figura 5).
boratoriais, que a ressecção do tumor primário possa Elly Harris36(A) compilou 208 estudos sobre o
acelerar o crescimento de lesões metastáticas, mas tema e, após avaliação criteriosa, selecionou 10 deles
isto não foi demonstrado em seres humanos23(B). Em- para realizar uma interessante metanálise publicada
bora esses dados laboratoriais sugiram uma base bio- em 2013. Foram arroladas 28.693 pacientes no total
lógica para a melhora da sobrevida com ressecção do desses 10 estudos, das quais 15.162 foram subme-
tumor primário na doença metastática, estes modelos tidas a tratamento cirúrgico e 13.531 apenas a tra-
específicos não foram validados em seres humanos. tamento sistêmico. Esta análise evidenciou inegável
benefício do tratamento cirúrgico, no que diz respeito
ESTUDOS RETROSPECTIVOS a sobrevida em 3 anos, com um odds ratio de 2,32 (CI
2,08 – 2,6); ou como dado mais facilmente interpre-
Seema Khan e Monica Morrow24(B) realiza- tado, 22% das pacientes que receberam apenas tra-
ram um estudo retrospectivo publicado em 2002 , tamento sistêmico encontravam-se vivas, contra 40%
no qual utilizaram dados do National Cancer Data das pacientes tratadas inicialmente com cirurgia.
Base (NCDB) do American College of Surgeons (ACS),
avaliando 16.023 pacientes com câncer de mama ENSAIOS CLÍNICOS
metastático (Figura 4). Neste estudo retrospectivo,
com todos os vieses possíveis de se presumir, foi O lançamento de diversos ensaios clínicos rando-
demonstrado dados instigantes para realização de mizados foram motivados pelas publicações sequenciais
um ensaio clínico randomizado. dos dados retrospectivos24,26,27,28,29,30,31,32,33(A, B), que su-
Petrelli e Barni25(A), em 2012, publicaram geriam uma vantagem de sobrevida quando reali-
uma metanálise de 15 séries de casos retrospec-
tivos, mostrando que a cirurgia do tumor primário
400
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 39
cer de mama em estágio IV, estes trabalhos abordam Cady 2008* 622 1970-2002 38 42 17 Não reportado
com maior possibilidade de benefício na ressecção do Leung 2010 157 1990-2000 33 38 13 Não reportado
tumor primário, cirurgia com e sem radioterapia pos- Ruiterkamp 2009* 728 1993-2004 40 40 15 0.62(0.51-0.76)
"Estudo multi- institucional. tRadioterapia locorregional para o sítio primário. ‡Sobrevida em 3 anos para o grupo
terior, tipo de cirurgia (mastectomia vs tumorectomia), da cirurgia(%). §Benefício em pacientes recebendo terapia locorregional, 78% apenas com radioterapia
IC = intervalo de confiança
e o melhor timing da realização da cirurgia. Tabela 2: Estudos retrospectivos avaliando a ressecção cirúrgica do tu-
mor primário em pacientes com doença metastática
TRIAL INDIANO
senhado para detectar uma melhora de 6 meses na
O estudo indiano (A), do Tata Memorial Cen-
34
sobrevida de 2 anos (a partir de 18-24 meses).
tre de Mumbai, incluiu 440 pacientes com câncer de A taxa de sobrevida global foi de 20,5% no gru-
mama metastático de novo com uma expectativa de po não operado e 19,2% no grupo operado em 5 anos
sobrevida de 1 ano. Destes, 350 pacientes demons- (HR = 1,04 CI, 95%: 0.80-1.34). Em análise da sobrevida
traram resposta à terapia sistêmica de indução que em subgrupos de pacientes na pré e pós menopausa,
se constituiu em antraciclinas e taxanos e foram ran- aquelas somente com metástases ósseas vs aqueles
domizadas para cirurgia com ou sem RT (quando in- com metástases ósseas e viscerais, pacientes com 1-3
dicada) vs nenhuma terapia locorregional. focos de metástases vs mais que 3 focos, receptor hor-
A randomização foi estratificada pelos sítios monal ou subgrupos HER2+; foram observadas dife-
de metástases (ossos, vísceras ou ambos), número renças significativas. A taxa de sobrevida livre de pro-
de metástases (>3 vs <3), e status de receptores hor- gressão local, foi significativamente melhor no grupo
monais do tumor. O uso de terapia endócrina de in- cirúrgico (80% em 5 anos, em comparação com 20%
dução ocorreu em 4% dos pacientes em cada braço. no grupo não-cirúrgico, p < 0,001).
Os resultados principais foram a sobrevida Diante disto, concluiu-se que o tratamento
global e sobrevida livre de doença. O estudo foi de- locorregional não conferiu qualquer vantagem na
sobrevida, mas a remoção do tumor primário confe-
riu uma vantagem em relação ao crescimento das
metástases à distância.
TRIAL TURCO
401
CAP. 39 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
à terapia locorregional. Seu primeiro relato foi no -se que 80% dos pacientes cadastrados responderia
SABCS de 2013, com um seguimento médio de 18 ou permaneceria com a doença, e dessa forma, pro-
meses e tendo 31% de óbito. Nenhuma vantagem na ceder-se-ia à randomização. Um crossover de 15%
sobrevida foi revelada nesta apresentação, com uma foi construído no desenho (antecipando que alguns
sobrevida mediana de 42 vs 46 meses, favorecendo a pacientes não aceitariam o braço da terapia locor-
cirurgia (HR=0,76, 95% CI: 0,49-1,16, p=0,2). regional). A terapia para o tumor primário foi dei-
A análise múltipla não planejada de subgru- xada para paliação, mais tarde no curso da doença,
pos, revelou apenas a possibilidade de uma vanta- para as mulheres que foram randomizadas para o
gem com a cirurgia para as mulheres com metásta- braço terapia sistêmica isolada.
ses ósseas isoladas (33 mulheres no braço terapia O estudo possui como resultado primário a
locorregional e 20 no grupo de controle; HR =0,23, sobrevida global e foi desenhado para uma diferen-
p=0,02), mas estes sítios de metástases não foram ça de 19% em 3 anos (de 30% a 49%). Os desfechos
biopsiados no início. Pelo fato desses dados terem secundários são a sobrevida livre de progressão lo-
sido apresentados precocemente, a análise das re- cal e qualidade de vida. As amostras biológicas es-
corrências locais foi insuficiente (Tabela 3). tão sendo guardadas para estudos correlativos. Este
estudo ainda está em andamento, com previsão de
ECOG 2108
402
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 39
recrutamento até 2025. https://clinicaltrials.gov/ primário e seu efeito sobre a sobrevida, bem como a
ct2/show/study/NCT01242800 (Figura 6). qualidade de vida. Um estudo anterior,37(B) incluindo
20 mulheres, relatou que o controle da parede torá-
CONTROLE LOCAL cica foi melhor com o uso de terapias locais .
Com base nestes estudos e outros38(B), ve-
Dado o significativo potencial de deteriora- rifica-se que a fração de mulheres com tumores
ção da qualidade de vida com a doença local des- mamários intactos que progridem até ao ponto de
controlada, outro ponto final importante nos estu- exigir a cirurgia paliativa e que se encontram em
dos prospectivos é o controle local. Assim, mesmo terapia sistêmica, está em torno de 30%. Se o atraso
se a terapia locorregional não tenha efeito sobre na cirurgia paliativa resulta em controle local con-
a sobrevida, mas permitindo que uma mulher com sistente também não é claro até o momento, mas
CMEIV de novo possa viver sem esse tumor em sua deve tornar-se evidente com a análise completa so-
parede torácica, parece ser motivo suficiente para bre ensaios concluídos e em andamento.
considerar essa ressecção ou radioterapia em pa-
cientes selecionadas. MANEJO AXILAR
A apresentação oral dos dados do Memorial
Tata Trial34(A) revelaram informações sobre o con- Algumas séries demonstram que o não con-
trole local e demonstraram uma melhora signifi- trole da doença regional pode ser uma fonte de “re-
cativa (HR = 0,16, CI 95%: 0,1-0,26). Notavelmente, seeding” (re- semeamento). Nas séries de Rapiti26(C),
a mastectomia paliativa foi necessária em apenas o risco de morte por câncer de mama foi diminuído
10% do braço de terapia padrão, ou seja, aqueles em pacientes submetidos a cirurgia independente
que não recebem o tratamento locorregional. No da dissecção axilar.
entanto, esses dados estão de acordo com as me- O estudo do MD Anderson39(B), indica que
lhoras no controle local apresentados em análises houve uma melhora na sobrevida com a linfadenec-
retrospectivas do Reino Unido e do Northwestern tomia axilar na análise univariada.
Memorial Hospital (NMH)29(B). Esses resultados sugerem que a dissecção axi-
Os estudos retrospectivos oferecem pouca lar possui um benefício adicional quando realizada
informação sobre os resultados da parede torácica com a remoção do sítio tumoral primário. Outros es-
neste cenário. Um estudo retrospectivo por Hazard tudos, como o de Quinn40(A) sugerem que seja rea-
et al29(B) avaliou 111 pacientes com câncer de mama lizado o esvaziamento apenas se o linfonodo axilar
em estágio IV com ressecção cirúrgica precoce do estiver comprometido, sendo que o diagnóstico pode
tumor primário (6 meses) e houve redução de sinto- ser feito pré-operatório com a punção por agulha
mas da parede torácica em 86% em comparação com fina (PAAF) guiada por ultrassom do linfonodo axilar.
aqueles que não foram submetidos a cirurgia. É digno
de nota, que as mulheres com um primário controla- O QUE HÁ DE NOVO EM 2016
do, isto é, ressecção sem recidiva ou tumor primá-
rio controlado por terapia sistêmica, demonstraram ESTUDO TURCO, MF07-01, APRESENTADO NA
significativamente melhora da sobrevida do que as ASCO 2016.
mulheres cujo sítio primário foi descontrolado, com Estudo randomizado, multicêntrico, de fase III,
ou sem ressecção, com uma HR=0,42, p<0,002. cujo objetivo primário foi avaliar o efeito do trata-
Estas descobertas sugerem que a hipóte- mento cirúrgico nas pacientes com câncer de mama
se alternativa de que, enquanto o foco primário é metastático (estadio IV) cuja hipótese foi de que
controlado (com cirurgia, radioterapia, ou a terapia haveria uma diferença na sobrevida entre os dois
sistêmica), a interação entre o tumor primário e as grupos de 18% em 36 meses. As pacientes foram
metástases favorece o controle global da doença. randomizadas 1:1 para o grupo de cirurgia locor-
Esta suposição destaca a necessidade de dados de- regional seguido de terapia sistêmica (CLR - TS) ou
talhados adicionais sobre o curso da doença no sítio para o grupo de terapia sistêmica (TS). Figura 7
403
CAP. 39 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
404
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 39
No grupo dos respondedores, 39 (41%) esco- Na literatura, as pacientes que foram operadas
lheram a cirurgia sem impacto na sobrevida global tendem a ser mais jovens, terem tumores menores,
(77% vs 76%, sem cirurgia). Nesta coorte, a cirurgia menos comorbidades, menor carga de doença me-
não foi associada com a melhora da sobrevida para tastática, menor propensão a metástases viscerais e
qualquer subtipo (RE+ HER2- p=0,37; RE+HER2+, com um melhor acesso ao tratamento26,27,28,29,43(B,D).
p=0,07; RE- HER2-, p=0,51). Estes vieses levantam questões sobre se a
O desfecho do estudo demonstrou que a maioria melhora da sobrevida nas pacientes submetidas a
das pacientes responderam à terapia de primeira linha, cirurgia do tumor primário é relação de causa- efei-
sendo que a sobrevida de 3 anos foi muito superior para to, ou se é decorrente da escolha dos médicos em
estas pacientes. No grupo respondedor, a cirurgia não realizar a cirurgia em pacientes com fatores clini-
teve impacto na sobrevida global, independentemente co- patológicos com melhor chance de sobrevida. A
do subtipo tumoral. NCT00941759 (Figura 8). adoção desses dados como estratégia terapêutica
deve ser cautelosa, pois ainda não está claro o be-
O MOMENTO DA CIRURGIA nefício em sobrevida.
QUALIDADE DE VIDA
405
CAP. 39 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
a maioria dos pacientes29,48,38(B). No entanto, cabe conduzidos. Até que tenhamos dados disponíveis
salientar que a maioria das mulheres com doença à adicionais e imparciais, cirurgia e RT para pacientes
distância responsiva ao tratamento sistêmico per- com CMEIV de novo assintomáticas não podem ser
manecem com o tumor principal controlado. recomendadas fora de ensaios clínico. No momento
Portanto, quando pensamos em melhorar a não há nenhuma base para recomendar a cirurgia
QV, devemos planejar muito bem, pesando possí- para as mulheres com metástase nas seguintes si-
veis complicações da cirurgia e possibilidades de tuações: (1) Doença à distância não controlada. (2)
um descontrole do tumor primário. Além disso, con- Doença local e à distância bem controlada conside-
siderar custos potencialmente desnecessários da rando o tempo de vida do paciente.
terapia locorregional. Ensaios em curso, e reanálises dos estudos
INDIANO e permitir novas descobertas sobre a fun-
CONSIDERAÇÕES FINAIS ção da cirurgia isolada ou associada a radioterapia
e, nos permitirão chegar a conclusões mais sólidas
A cirurgia na paciente metastática parece ofe- sobre seu papel no câncer de mama metastático
recer uma melhora na sobrevida livre de doença e A terapia locorregional para o tumor primário
sobrevida global para as pacientes onde exista um deve ser oferecida a pacientes apenas com um con-
descontrole local. As séries retrospectivas demons- sentimento informado claro e preciso, revelando que
tram uma maior tendência no tratamento cirúrgico no momento não temos evidência sólida para o fazer.
da doença metastática para mulheres abaixo de 50 Se terapia locorregional for a escolha con-
anos, com tumores menores, poucas comorbidades sensual, devemos seguir as considerações descritas
e com baixo volume de doença metastática. Contu- nesse capítulo, se possível, a cirurgia conservadora
do, se os resultados da sobrevida são consistentes com margens livres é a opção mais adequada.
com a terapia local ou com o viés de seleção, ainda
não sabemos com certeza. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os estudos retrospectivos que suscitaram os
ensaios randomizados na Turquia e na Índia, e que 1. Siegel R, Naishadham D, Jemal A. Cancer statistics,
foram apresentados em San Antonio em 2013 não 2013. CA Cancer J Clin. 2013 Jan 1;63(1):11–30.
mostraram esse real benefício sob um ponto de vis- 2. Riedl CC, Slobod E, Jochelson M, Morrow M,
ta geral. Goldman DA, Gonen M, et al. Retrospecti-
É inerente o risco dos procedimentos cirúr- ve analysis of 18F-FDG PET/CT for staging
gicos nessas pacientes, como por exemplo, hema- asymptomatic breast cancer patients younger
toma, infecção e má cicatrização. Eles aumentam than 40 years. J Nucl Med. Society of Nuclear
quando associados a dissecção axilar e a reconstru- Medicine; 2014 Oct;55(10):1578–83.
ção. Assim, deve-se levar isso em consideração, uma 3. Cochet A, Dygai-Cochet I, Riedinger J-M, Hum-
vez que um prejuízo na qualidade de vida de pa- bert O, Berriolo-Riedinger A, Toubeau M, et
cientes com poucos meses ou anos de expectativa al. 18F-FDG PET/CT provides powerful prog-
de vida é com certeza uma péssima situação. Outro nostic stratification in the primary staging
ponto importante é que essas complicações podem of large breast cancer when compared with
atrasar a terapia sistêmica. conventional explorations. Eur J Nucl Med
O tratamento cirúrgico locorregional da pa- Mol Imaging. Springer Berlin Heidelberg;
ciente metastática permanece um tema divergente, 2014;41(3):428–37.
principalmente devido a maioria das análises serem 4. Lebon V, Alberini J-L, Pierga J-Y, Diéras V,
retrospectivas e a grande possibilidade de vieses Jehanno N, Wartski M. The rate of distant me-
de seleção. Ainda não existe consenso de quais pa- tastases on FDG-PET/CT at initial staging of
cientes se beneficiariam deste tratamento. Os efei- breast cancer: comparison between women
tos estão sendo estudados em todo o mundo e, ide- younger and older than 40 years. J Nucl Med.
almente, ensaios clínicos randomizados devem ser Society of Nuclear Medicine; 2016 Sep 1;:jnu-
406
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 39
407
CAP. 39 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
te excision of primary breast tumor improves 35. Soran A, Ozmen V, Ozbas S, Karanlik H, Muslu-
survival of patients with metastatic breast manoglu M, Igci A, et al. Abstract S2-03: Early
cancer at diagnosis. J Clin Oncol. 2006 Jun follow up of a randomized trial evaluating
20;24(18):2743–9. resection of the primary breast tumor in wo-
27. Babiera GV, Rao R, Feng L, Meric-Bernstam F, men presenting with de novo stage IV breast
Kuerer HM, Singletary SE, et al. Effect of Pri- cancer; Turkish study (protocol MF07-01). Can-
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Oncology. 2006 Apr 17;13(6):776–82. Determine if Surgical Resection of the Pri-
28. Neuman HB, Morrogh M, Gonen M, Van Zee KJ, mary Tumour in the Setting of Stage IV Breast
Morrow M, King TA. Stage IV breast cancer in Cancer Impacts on Survival. Annals of Surgical
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the primary tumor matter? Cancer. 2010 Mar 37. Carmichael AR, Anderson EDC, Chetty U, Di-
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jnen VCG, Ernst MF. Impact of breast surgery of primary breast site. Ann Surg Oncol. 2008
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pplement):S2–02–S2–02. gical resection of the primary tumour is asso-
408
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 39
409
40
LIPOENXERTIA
Palavras Chave:
Microcirurgia, Mama, Retalho perfurante
MARCELO MORENO
Médico Mastologista do Serviço de Oncologia - Hospital Regional do Oeste, Chapecó, SC
Doutor em Medicina (Radiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ
Professor do Curso de Medicina da Universidade Comunitária da Região de Chapecó, SC
CAP. 40 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
412
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 40
413
CAP. 40 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Durante todo o processo deve-se ter cuidado Os dois métodos mais empregados em nosso
para restringir ao máximo o contato da gordura aspira- meio são a centrifugação e a decantação.
da com o ar, uma vez que esse contato causa oxidação A centrifugação é realizada em centrifugas
dos adipócitos, o que leva a diminuição do numero de apropriadas para receber de maneira estéril o li-
adipócitos viáveis. poaspirado (Figura 2); sendo o método que propicia
melhor separação entre as frações descritas (Figura
MÉTODO DE PREPARO DA GORDURA 3). Utiliza-se o protocolo de centrifugação a 3.000
O lipoaspirado possui três frações: sanguínea, rpm por 3 minutos. No entanto, apresenta maior
adiposa e oleosa. Diversas técnicas foram descritas custo de implantação e logística mais sofisticada,
para separação da fração adiposa das outras duas, sendo ideal a presença de profissional de enferma-
pois somente a última que será utilizada. A injeção gem na equipe para o preparo da gordura enquan-
concomitante da fração sanguínea provoca infla- to a equipe cirúrgica realiza os procedimentos nas
mação excessiva, que por sua vez aumenta a taxa áreas doadoras e receptoras.
de reabsorção do enxerto; enquanto a adição da A decantação é um procedimento mais sim-
fração oleosa, além de aumento da taxa de reabsor- ples, em que as próprias seringas utilizadas para as-
ção, causa a presença de cistos que podem persistir piração são colocadas invertidas em estante apro-
por longo tempo no tecido enxertado. priada (Figura 4); proporcionando a separação das
frações por gravidade. Embora essa separação não
seja tão efetiva como a realizada por centrifugação,
tem-se mostrado um método perfeitamente ade-
quado as nossas necessidades.
A escolha do método de decantação leva em
conta as disponibilidades e preferências da equipe
cirúrgica. Um estudo realizado no Brasil comparou os
dois métodos de preparação e concluiu que embora
a centrifugação proporcione purificação maior da ca-
mada de interesse, provoca o rompimento das mem-
branas dos adipócito com mais intensidade, sendo a
decantação método que mantém essa camada com o
maior numero de adipócitos e ASCs viáveis 2(A). Foi de-
monstrado também que no método de centrifugação,
Figura 1: Material utilizado para aspiração de gordura a maior parte das células pluripotentes são isoladas
414
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 40
415
CAP. 40 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
viabilidade de adipócitos, células pluripotentes e esta- ção provoque o aparecimento de cistos gordurosos com
bilidade do enxerto a longo prazo 9 (A). maior frequência. No entanto, o aparecimento de cisto
não tem grandes consequências, nem do ponto de vista
RESULTADOS E SEGUIMENTO clínico nem radiológico (facilmente identificadas como
sendo de origem benigna pelos métodos de imagem
Do ponto de vista clínico, os resultados com o uso atualmente disponíveis). Estudos clínicos que compa-
das duas técnicas são semelhantes, embora a decanta- raram os diversos métodos de preparação na evolução
clínica do lipoenxerto não demonstraram vantagem de
um método sobre o outro.10 (A), 4 (B).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
416
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 40
417
41
RECONSTRUÇÃO DO
COMPLEXO ARÉOLO-
PAPILAR
Palavras Chave:
mamilo-aréola, mama, reconstrução, cirurgia, neoplasias
RODRIGO SOARESA
Mastologista preceptor da Residência em Mastologia do Hospital e Maternidade São Cristóvão
420
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 41
PROCEDIMENTO AMBULATORIAL
A reconstrução do CAP com anestesia local
têm se mostrado uma boa alternativa nos últimos
30 anos, já que dispensa a monitorização contínua
necessária nas anestesias gerais, levando a maior
benefício para a paciente. Outra grande vantagem
é a redução dos custos cirúrgicos e de internação.16
O desejo da paciente e sua tolerabilidade em
permanecer acordada durante o procedimento tam-
bém devem ser levados em consideração, sendo Figura 5: Diferentes formas de mamilo. Adaptado de Uriburu e col
421
CAP. 41 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 7: Irrigação do mamilo e da aréola. Adaptado de Uriburu e col Figura 8: Manobra de Schwarzmann. Adaptado de Uriburu e col
TATUAGEM
A tatuagem vem sendo utilizada como ad-
juvante no processo de reconstrução do CAP após
uma reconstrução mamária primária. Trata-se de
método simples, eficaz e que pode ser realizado
ambulatorialmente (figura 9). Tecnicamente, a pro-
fundidade da introdução do pigmento na pele é de Figura 9: Tatuagem
extrema importância; se o pigmento é depositado
superficialmente, ele provavelmente será elimina-
do com a descamação, e se introduzido muito pro-
fundamente na derme, ele poderá será drenado pe-
los linfáticos; em ambos os casos, levando à prejuío
da tatuagem.18
Os autores Bhatty e Berry relataram taxa de
10% de re-tatuagem em suas pacientes. E Hugo e
colaboradores afirmaram que 40% de suas pacientes
tiveram que ser re-tatuadas.19,20
Observamos ao longo dos anos que a qualida-
de dos pigmentos nas colorações utilizadas, consi-
derando suas origens, têm fundamental importân-
cia na manutenção destes na derme, ao longo do Figura 10: Tatuagem de aréola após 8 anos, sem retoque, mantendo par-
tempo. te significativa de sua coloração
422
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 41
necessitam de retoques anuais ou a cada dois anos, boradores) e C-V flap (de Bostwick’s). Os retalhos com
em casos selecionados. (figura 10) múltiplos pedículos não ganharam muitos adeptos,
visto que criam maior tensão no retalho, gerando
RECONSTRUÇÃO DO CAP COM TÉCNICAS retração da pele ao redor.
DE RETALHO LOCAL O skate flap, desenvolvido por Little em 1984,
Os métodos mais populares de reconstrução demonstrou ter maior projeção do mamilo e ma-
do CAP são com retalhos de pedículo subdérmico, nutenção dessa projeção a longo prazo, em com-
nos quais o suprimento sanguíneo provém do plexo paração a outras técnicas.23,24 Este tipo de retalho é
subdérmico (figuras 11 a 15). A dissecção do retalho indicado para mamilos grandes, e o star flap é indi-
visa incorporar o tecido subcutâneo e minimizar as cado para criação de mamilos de tamanho pequeno
forças de retração centrífugas para aumentar a pro- a médio.24
jeção do mamilo. Alguns pré-requisitos são essen- Existe um nível 2 de evidência para avaliação
ciais para se conseguir um retalho estável: um bom desses retalhos. Alfano e colaboradores compararam
pedículo, um design de retalho simples de executar, o skate flap ao star flap; eles analisaram 30 pacien-
e a separação do retalho dos tecidos retráteis ao tes e encontraram que após um ano, a projeção re-
redor. 21 sidual foi de 75% para o skate flap e de 35.4% para
A ilha de pele para reconstrução do CAP com o star flap, resultado que foi considerado estatisti-
retalho do grande dorsal é mais resistente à contra- camente significativo.25
ção do que aquela realizada com o TRAM.22 Foi observado que tanto no star flap quanto
As técnicas mais usadas utilizam um único pe- no skate flap, houve uma diminuição da projeção
dículo. São elas: skate flap, star flap (de Anton e cola- nos primeiros 6 meses pós-reconstrução.26
Figura 11: Passo-a-passo técnica star-flap (usada também para resgate de mamilos hipoinvoluídos). Adaptado de Cir Plas e Reconst da Mama, Gabka et al
423
CAP. 41 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
424
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 41
425
CAP. 41 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
426
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 41
mamilo, e realizada ancoragem periférica com fios como um enxerto de pele total, e enxertado na pele
inabsorvíveis três zero. Sistematicamente, retira- do abdome, região inguinal ou glúteo após a desepi-
mos o curativo por volta do sétimo pós-operatório. telização da região receptora. Depois de algum tempo,
Em estudo realizado na Pontifícia Universida- é re-implantado na mama reconstruída. (figura 17) En-
de Católica de Campinas por Polegatto e colaborado- tretanto, foi visto que houve disseminação de células
res, foi analisada a projeção da papila no pós-ope- cancerígenas para os linfonodos inguinais.35
ratprio imediato, duas semanas e doi meses após Em suma, deve-se individualizar o tratamen-
a cirurgia, para diferentes técnicas de reconstrução to mais adequado de acordo com as características
do CAP. Foram comparadas as técnicas do star flap, particulares de cada paciente, comorbidades asso-
skate flap e enxerto de papila contralateral. Obser- ciadas e expertise do cirurgião.
vou-se que a técnica que oferece maior projeção é
a do skate flap. O enxerto de papila mostrou propor- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
cionar maior simetria. Já o star flap foi o que teve re-
sultado de maior satisfação por parte das pacientes,
mostrando que a projeção é o fator mais importan- 1. Yang JD, Ryu JY, Ryu DW, et al. Our experiences
te do ponto de vista estético, superando os quesitos in nipple reconstruction using the Hammond
cor e textura do retalho. flap. Archives Plastic Surg 2014;41: 550–5.
2. Wellisch DK, Schain WS, Noone RB, Little 3rd
ENXERTOS JW. The psychological contribution of nipple
addition in breast reconstruction. Plast Re-
constr Surg 1987;80:699–704.
ENXERTOS DO MAMILO CONTRA- LATERAL 3. Didier F, Arnaboldi P, Gandini S, et al. Why do
O melhor material para reconstrução é o CAP women accept to undergo a nipple sparing
da própria paciente.30,31 mastectomy or to reconstruct the nipple are-
Spear et al32 avaliaram, em 2011, que este ola complex when nipple sparing mastec-
tipo de enxerto pode ser utilizado com segurança tomy is not possible? Breast Cancer Res Treat
em paciente com ou sem radioterapia prévia, sem 2012;132:1177–84.
comprometimento adicional do enxerto, garantin- 4. Peled AW, Wang F, Foster RD, et al. Expan-
do resultados similares ao mamilo contralateral em ding the indications for total skin-sparing
termos de textura, cor e aparência, garantindo satis- Mastectomy: is it safe for patients with lo-
fação em 62% dos casos cally advanced disease? Ann Surg Oncol 2016
Jan, 87e91;23(1). http:// dx.doi.org/10.1245/
ENXERTO DE PELE SOBRE A ARÉOLA s10434-015-4734-6 [Epub 2015 Jul 14].
A reconstrução do CAP pode ser realizada com 5. Delay E, Mojallal A, Vasseur C, Delaporte T. Im-
enxertos de pele total ou com retalhos de áreas mediate nipple reconstruction during immedia-
pigmentadas do corpo, como o mamilo contralate- te autologous latissimus breast reconstruction.
ral, parte interna da coxa ou com pequenos lábios.33 Plast Reconstr Surg 2006;118:1303–12.
6. Losken A, Duggal CS, Desai KA, McCullough
AUTOENXERTO COM TECIDO ADIPOSO MC, Gruszynski MA, Carlson GW. Time to com-
Denominado de lipofilling, esta técnica na pletion of nipple reconstruction: what factors
qual se injeta gordura da própria paciente, tem a are involved? Ann Plast Surg 2013;70:530–2.
finalidade de aumentar a projeção do mamilo. Foi 7. Adams WM. Free transplantation of the ni-
primeiramente descrito por Bernard em 2003.34 pples and areola. Surgery 1944;15:186.
8. Adams WM. Free transplantation of the nipples
ENXERTOS DO COMPLEXOAREOLO-PAPILAR COMPLETO and areola. Surgery 1944;15:186.
Descrito pela primeira vez por Millard et al em 9. Adams WM. Labial transplant for correction of
1971. No momento da mastectomia, o CAP é retirado loss of the nipple. Plast Reconstr Surg (1946)
427
CAP. 41 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
428
42
FISIOPATOLOGIA E
MANEJO DA CONTRATURA
CAPSULAR
Palavras Chave:
Contratura capsular em Implantes; Implantes de mama.
BARBARA PACE
Médica Mastologista e Fellowship da Santa Casa de Belo Horizonte
430
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 42
Tem-se sugerido que a inflamação crónica de- Estudos para determinar se a texturização da
sempenha um papel fundamental na etiopatogenia superfície do implante reduz o risco de contratura
da contratura capsular e, inclusive, já foram identi- capsular tiveram resultados contraditórios. O im-
ficados vários mediadores inflamatórios envolvidos pacto da texturização sobre o risco de contratura
como o TGF-β, TNF-α, entre outros(24)(A), associado capsular parece ser afetado pela técnica cirúrgica.
a presença de miofibroblastos(25)(A),(26)(A). Os mio- A texturização da superfície do implante tem sido
fibroblastos são células especializadas derivadas associada à redução da contratura capsular após a
dos fibroblastos, pericitos, células musculares lisas colocação subglandular de expansores e secunda-
e de algumas células do estroma, que apresentam riamente preenchidos com implantes de gel(33)(A),(34)
características contráteis. Os três elementos essen- (A). Vários estudos têm demonstrado uma taxa mais
ciais que definem o miofibroblasto são: a presen- baixa de contratura capsular com implantes de su-
ça de fibras de estresse (α-actina), sítio de ligação perfície texturizada, especialmente quando são co-
431
CAP. 42 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
432
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 42
Além da solução de antibiótico triplo, reco- removendo todo o conteúdo capsular e o implan-
mendações adicionais incluem: dissecção da loja te afetado. A maioria das contraturas capsulares se
de forma atraumática sob visão direta evitando apresentam no primeiro ano pós implantação, ain-
instrumentação sem corte, imersão dos implantes da que em contraturas precoces, em 6 a 9 meses
em solução de irrigação durante a dissecção da loja pode-se realizar o diagnostico(20)(A).
cirúrgica, irrigação da loja com 120 a 150 mL da Qualquer tratamento para a contratura capsu-
solução preparada, limpeza da pele circunjacente lar tem o potencial de falhar(9)(A). As capsulotomias
às incisões com a solução de irrigação e troca das envolvem a abordagem e a abertura da cápsula, ge-
luvas com limpeza na solução antes da manipula- ralmente circunferencialmente. Vários estudos de-
ção do implante para a inserção do implante na monstraram uma baixa taxa de sucesso dessa técni-
melhor forma “asséptica”. Outras alternativas de so- ca, sobretudo com tentativas sucessivas, alcançando
luções podem ser usadas(1(B)) (Tabela 3). 75% de falha após 3 capsulotomias(3)(B). Peter et al(38)
(A), em seu estudo orienta a capsulotomia circunfe-
ANTIBIOTICOTERAPIA SISTÊMICA rêncial, ja que maximiza a projeção da mama.
Devido a problemas conhecidos com biofil-
Não há um consenso do uso de antibiotico- mes, que são extremamente difíceis de erradicar do
profilaxia em cirurgia eletiva de mama. Alguns ci- elastômero de silicone do implante, é aconselhável
rurgiões limitam o uso a pacientes de alto risco(40) a utilização de um novo implante na mama afetada
(B). Embora os antibióticos sistemicos tenham sido ao tratar a contratura capsular(20)(A).
recomendados para a prevenção da infecção inicial Uma ferramenta importante no tratamento da
no local da ferida e depois da cirurgia, eles não são contratura capsular é a mudança de local da pró-
recomendadas em um primeiro momento para pre- tese, retroglandular se previamente retromuscular,
venir a contratura capsular. Um estudo randomiza- ou vice-versa, com ou sem capsulectomia. Recen-
do em dois grupos de 23 mulheres submetidas a temente vem sendo utilizado o reposicionamento
mamoplastia de aumento mostrou que o número no chamado dual-plane, no qual os dois terços su-
de bactérias cultiváveis na loja do implante são periores da prótese são colocados numa posição
reduzidos inicialmente pela administração de an- retropeitoral e o terço inferior é posicionado retro-
tibióticos profiláticos (benzilpenicilina e dicloxaci- glandular(42)(A),(43)(B).
lina) 1 hora antes da cirurgia, mas não teve efeito Outros métodos cirúrgicos são discutidos como
sobre a contratura capsular(41)(A). Após 1 ano, a taxa estratégias de tratamento para a contratura capsular.
de contratura capsular foi semelhante nos grupos Como exemplo, pode-se citar o uso de transferência
que receberam e não receberam antibióticos antes de gordura autóloga denominada lipofilling. Estudos
da cirurgia. Além disso, do ponto de vista microbio- que analisaram esse método e cirurgia de implante
lógico, a rotina de antibióticos perioperatórios acei- em casos de reconstrução relataram resultados favo-
tos não fornecem cobertura de amplo espectro para ráveis. Salgarello et al.(13)(B) realizaram sessões de li-
uma série de polimicrobianos que são conhecidos pofilling 6 meses após a radioterapia e, após 3 meses
por causar contratura capsular. da última sessão, realizaram a colocação de implantes
mamários. Verificaram que houve uma redução na in-
TRATAMENTO DA CONTRATURA cidência de complicações pós-operatórias, incluindo
CAPSULAR menores taxas de contratura capsular em 15 meses
de acompanhamento. Estes resultados foram repro-
Tendo-se o conhecimento das principais causas duzidos em um pequeno estudo de 28 pacientes que
envolvidas na patogênese da contratura capsular, a tinham sido submetidas a lipofilling 6 meses após a
elaboração de protocolos que possam prevenir e tra- radioterapia seguido de colocação do implante e, 3
tar essa complicação são de grande importância(3)(B). meses mais tarde, não havia nenhum caso de contra-
O tratamento padrão da contratura capsular tura capsular grau III / IV de casos com contratura cap-
tipicamente estabelecido inclui a capsulectomia, sular em 17 meses de acompanhamento(44)(B).
433
CAP. 42 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
434
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 42
435
CAP. 42 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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436
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 42
437
43
MANEJO CIRÚRGICO
DAS COMPLICAÇÕES
OPERATÓRIAS
Palavras Chave:
Mama; Câncer; Cirurgia; Complicações; Reconstrução.
440
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 43
441
CAP. 43 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
442
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 43
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443
44
COBERTURAS ESPECIAIS
NAS COMPLICAÇÕES PÓS
CIRÚRGICAS DAS MAMAS
Palavras Chave:
necrose, deiscência, complicações/mama, curativos cirurgia das mamas,
reconstruções mamárias
As complicações cirúrgicas são inerentes a A pele é o maior órgão do corpo humano, cor-
qualquer procedimento cirúrgico além de serem respondendo a aproximadamente 15% do peso cor-
causadas por um somatório de fatores, desde intrín- poral. É composta por duas camadas : epiderme e
secos das pacientes como grau de Nutrição, comor- derme (Figura 1). 8
bidades associadas, uso de medicações e tabagismo, A epiderme eh uma camada fina e avascular
até extrínsecos, como fio utilizado e tipo de sutura, subdividida em quatro estratos com uma regene-
técnica cirúrgica e indicação do procedimento.1(A) ração em torno de 4 a 6 semanas, o estrato córneo
Nas técnicas de oncoplastia mamária, mastecto- se caracteriza pelo manto lipídico, por uma camada
mias radicais modificadas e reconstruções com implan- superficial de céluas mortas e por ter um pH em
tes ou retalhos, os hematomas são as complicações torno de 4,5 a 6, o estrato Granuloso possui os fila-
agudas mais comuns entretanto as necroses e deiscên- mentos de queratina proporcionando estabilidade
cias com perdas teciduais, ou até mesmo do implante / e força tensil a pele, no estrato espinhoso a princi-
retalho, são as que potencialmente poderão atrapalhar pal característica é a presença dos queratinócitos e
o tratamento adjuvante da paciente.3,4(B) melanina, por fim o estrato basal proporcionando
Com o objetivo de evitar novas abordagens cirúr- a diferenciação celular dos estratos acima assim
gicas e diminuir o tempo de cicatrização o tratamento como a síntese de Vitamina D e a proteção UV.8,11
clínico de tais complicações com as coberturas espe- Na Derme localizam se as terminações nervo-
ciais ou curativos mostrou se altamente eficaz.2(A) sas, os vasos sanguímeos, as glândulas sebáceas e
Um vasto arsenal terapêutico composto por folículos pilosos, os fibroblastos e principalmente o
curativos passivos e ativos é capaz de auxiliar na colágeno (Figura 2).
reparação e reestruturação tegumentar em diversas As feridas e lesões de continuidade acionam
situações.1,2,7(A,B) diretamente todo o processo fisiológico da cicatri-
A escolha do curativo a ser utilizado deve ser zação que didaticamente pode ser dividido em três
baseada no conhecimento das bases fisiológicas da fases principais:inflamatória, proliferativa e de re-
cicatrização e reparação tecidual nunca esquecen- modelação (Figura 3).1,10
do o quadro clínico da paciente.1,7(B) Durante a primeira fase, ocorrem hemostasia,
migração de leucócitos e princípio da cascata de
reparação tecidual, inicialmente ocorre uma vaso-
constricção transitória que dura em torno de 10 a
15 minutos devido a liberação de aminas vasoa-
tivas seguida do processo de adesão e agregação
celular. Ao mesmo tempo, o fibrinogênio sérico é
clivado pela trombina resultante das vias de coagu-
lação, mediado pela ação do fator XIII, e junto com
as plaquetas forma se o tampão hemostático.8,11
Em resposta a produção endotelial de eicosa-
noides e leucotrienos há um aumento progressivo
da permeabilidade vascular às células migrantes e
substâncias biologicamente ativas, caracterizando
a principal etapa da fase inflamatória. Posterior-
mente, monócitos se infiltrarão em reposta a es-
tímulos semelhantes aos de Neutrófilos e se dife-
Figura 1 : Figura ilustrativa da epiderme e derme com suas principais renciarão em macrófagos (Figura 4) sob o estímulo
estruturas anatômicas de substâncias como o IFN-β. Juntamente com os
446
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 44
447
CAP. 44 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
tipo de colágeno que a compõe e sua disposição, proposta atual de oclusão e manutenção do meio
além da substituição ocorre também uma alteração úmido.5(A)
em sua organização, o qual muda de fibras para- A cicatrização através do meio úmido tem as
lelas dispostas aleatoriamente para entrelaçadas e seguintes vantagens quando comparada ao meio
organizadas ao longo da linha de stress.8,11 seco : prevenir a desidratação do tecido que leva
A última fase do processo é responsável pelo a morte celular, acelerar a angiogênese, estimular
aumento da resistência do leito danificado. Ao final a epitelização e a formação do tecido de granula-
da primeira semana após o surgimento da ferida, ção, facilitar a remoção do tecido necrótico e fibrina
ocorre restauração de 3% da resistência da pele e promover diminuição da dor pela hidratação das
íntegra; da terceira semana, 30% e de três meses, terminações nervosas.7,9(A)
80%. Em cerca de um ano, a relação entre o colá- Há no mercado diversos materiais disponíveis
geno I e III atinge proporção semelhante a inicial, que podem ser utilizados nas diferentes etapas do
antes da ferida, entretanto nunca atingirá 100% de tratamento das feridas, como por exemplo : higieni-
sua resistência fisiológica.8,11 zação, desbridamento, diminuição da contaminação
Todas as etapas e fenômenos descritos refe- local, controle do exsudato, estímulo a granulação
rem se ao processo fisiológico da cicatrização, que e proteção da reepitelização.
pode alterar se completamente, diminuindo nos ca- Fan et al. sugerem que os curativos sejam
sos de diabetes melito e/ou na exposição a radia- classificados como passivos, curativos ativos, cura-
ções ou aumentando a resposta como nas cicatrizes tivos inteligentes, curativos biológicos e compos-
queloidianas ou hipertróficas. tos biológicos, nosso objetivo é trabalhar com os
curativos passivos e ativos, como veremos adiante.
TIPOS DE COBERTURAS ESPECIAIS (Tabela 1).
Vejamos na Tabela 2 os materiais disponíveis
O interesse da medicina pelos cuidados com no mercado, assim como suas características técni-
as perdas de continuidade do tegumento cutâneo cas para aplicabilidade.
vem desde a antiguidade, entretanto é relativa- De acordo com nossa experiência clínica ad-
mente recente o aparecimento de inúmeros tipos quirida no ambulatório de Complicações pós cirúrgi-
de curativos e coberturas especiais que auxiliam cas da Clínica de Mastologia da Santa Casa de Mise-
e estimulam as fases da cicatrização, novas tecno- ricórida de São Paulo, sob a supervisão do Dr. Vilmar
logias na confecção do material e novos conceitos Marques de Oliveira, conseguimos associar a aplica-
substituíram rotinas e práticas com poucas evidên- bilidade dos materiais apresentados, à nossa realida-
cias científicas. de. As evidências científicas são escassas no que diz
A escolha do material adequado para o cura-
tivo decorre do conhecimento tanto fisiopatológico
Curativo não-aderente
como bioquímico dos mecanismos de cicatrização e
Filme transparente
reparação tissular.9(A) Curativos passivos Espuma polimérica
Curativos ou coberturas especiais são defini- Hidrocoloide
dos como um meio terapêutico que consiste na lim- Hidrogel
peza e aplicação de material sobre uma ferida para
sua proteção, absorção e drenagem, com o intuito Alginato
Curativo com
de melhorar as condições do leito da ferida e auxi- Carvão ativado
princípios ativos
liar na sua resolução. Em nossa prática podem ser Placas de prata
o tratamento definitivo, na maioria das vezes, como Matriz de colágeno
Curativos inteligentes
uma etapa intermediária para uma nova aborda- Matriz de celulose
gem cirúrgica.7(B) Curativos biológicos Curativos biológicos
Nas feridas abertas, a antiga controvérsia en-
Tabela 1: Classificação dos tipos de curativos disponíveis no mercado
tre curativo seco e curativo úmido deu lugar a uma
448
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 44
respeito as complicações pós cirurgias das mamas cirurgias mamárias, nos deparamos com relatos de
sendo os dados extrapolados do tratamento de le- experiências em determinados serviços e dados
sões vasculares, queimados e tratamento da ulceras extraídos do tratamento de outras lesões cutâneas
diabéticas. Mais trabalhos devem ser realizados no assim como trabalhos de superioridade entre os di-
que diz respeito a utilização das coberturas especiais versos tipos de coberturas. Entretanto devemos sa-
em complicações pós cirúrgicas das mamas. ber claramente as indicações que devemos seguir
antes de indica los, as coberturas especiais devem :
PROTOCOLO DE UTILIZAÇÃO DAS
COBERTURAS ESPECIAIS - promover barreira térmica
- proteger a ferida de traumas e infecções
O tratamento das feridas cutâneas é dinâmico e - absorver o exsudato
depende, a cada momento, da evolução das fases de - manter o ambiente úmido
cicatrização. Via de regra, as complicações que nos de- - desbridar quando necessário
paramos são decorrentes de vários fatores, como ja dis- - ser de fácil aplicação e sem traumas na remoção
cutimos anteriormente, entretanto sempre serão vistas - confortável para a paciente
como complicações sérias pelas pacientes, aumentando
a ansiedade e insegurança, o que nos faz acompanhar e Os recursos financeiros da paciente e/ou da
estreitar cada vez mais a relação médico paciente. unidade de saúde, a necessidade de continuidade
Não existe, na literatura médica, um protoco- de utilização do curativo e a avaliação de custos e
lo para tratamento das necroses e deiscências pós benefícios são alguns dos aspectos que devem ser
449
CAP. 44 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
FASE 2 E 3 : PROLIFERAÇÃO E
OBJETIVOS REMODELAÇÃO
• Desbridamento auto lítico ou mecânico
• Manter umidade do leito OBJETIVOS :
• Hidratação das terminações nervosas (< dor) • Novo epitélio
• Infecção presente - atividade anti microbiana • Pouco exsudato
• Meio úmido
O QUE USAR • Manter bordas hidratadas
• Papaína a 10% - $, manipulação, UBS • Atenção à pele íntegra próxima a ferida
• Sulfadiazina de Prata – queimaduras térmi-
cas, radiodermites O QUE USAR
• Alginato de Cálcio em Gel - $$, pequenas • Papaína 2% (epitelização)
áreas superficiais • Ácidos Graxos Essenciais (AGE)
• Óleos vegetais poli saturados
• OBS : se infecção presente, ATB VO ou EV • Hidratantes na pele íntegra ao redor da lesão
450
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 44
de infecção devemos introduzir antibióticos via oral 4. Chagas, Menke, Vieira, Boff. Tratado de Masto-
ou endovenosa a depender da extensão da lesão. logia da SBM.2011.
Na fase inflamatória o exsudato geralmente 5. p. 865-848
é intenso e a avaliação deverá ser em relação as 6. Luciane SP, Eline LB, Miguir TVD. Uso de hidro-
características e quantidade produzidas, a presença colóide e alginato de cálcio no tratamento de
de infecção e a capacidade absortiva do curativo es- lesões cutâneas. Rev Bras Enf. 2013 set.-out.;
colhido. O profissional de saúde precisa estar ciente 66(5);760-70.
de que os curativos úmidos também produzem se- 7. Lyacir Ribeiro. Cirurgia Plástica da Mama, 2ª
creções de aspecto diversos, deve saber reconhece Edição.2012.p.221-223
las e tranquilizar paciente e familiares quanto a 8. Smaniotto PHS, Galli R, Carvalho VF, Ferreira
evolução do processo. MC. Tratamento Clínico da Feridas – curativos.
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cutâneas causadas por complicações pós cirúrgicas 10. Franco D, Gonçalves LF. Feridas cutâneas: a
requer muita paciência, principalmente no que diz escolha do curativo adequado. Rev Col Bras
respeito ao acolhimento da paciente e ao tempo Cir. [periódico na internet] 2008; 35(3).
correto para iniciar o tratamento adjuvante (Qui- 11. Li J, Chen J, Kirsner R, Pathophysiology of acute
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As coberturas especiais auxiliam e adiantam 12. Junqueira LC, Carneiro J. Histologia Básica. Rio
o processo fisiológico da cicatrização sendo assim de Janeiro; Guanabara Koogan; 1999.p.303
identificar possíveis falhas e todos aspectos clíni-
cos que podem atrapalhar este processo é funda-
mental, algumas vezes precisaremos indicar novas
abordagens cirúrgicas mas mesmo nestas situações
o preparo da lesão com as coberturtas facilitará o
procedimento.
Apesar dos diversos materiais disponíveis no mer-
cado não existe uma cobertura que englobe todos os
fatores da cicatrização, estes materiais devem ser co-
nhecidos por todos e sua aplicabilidade pode variar de
acordo com a fase, o tipo de lesão, com o poder sócio
econômico e com a experiência do profissional que efe-
tuará o acompanhamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
451
45
QUIMIOTERAPIA
NEOADJUVANTE
Palavras Chave:
DeCs - Neoplasias da mama, Terapia neoadjuvante, Mastectomia segmentar,
Procedimentos cirúrgicos
454
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
É possível que a falta de benefício em sobre- 3. HER2 e basal-símile, respondendo por 15%
vida global com o emprego da neoadjuvância seja dos carcinoma cada um. Ambos têm como caracte-
decorrente da ausência de separação dos diversos rística marcante a ausência de expressão de RE e
subtipos moleculares, além de serem estudos muito RP. O primeiro caracteriza-se por amplificação do
antigos onde a maioria não incluía nem mesmo o oncogene HER2, que está associada ao perfil de
uso de taxanos. Estes subtipos moleculares apre- maior agressividade clínica. Esses tumores apre-
sentam, na atualidade, uma grande importância nos sentam em geral, alto grau histológico e nuclear,
tratamentos neoadjuvantes. além de elevada taxa de proliferação celular.
Em 2000, Perou e colaboradores descreveram Basal-símile é considerado o mais agressivo
quatro subtipos moleculares do câncer de mama: clinicamente. É representado por tumores com alto
luminal like, HER2 amplificado, basal like e normal grau (histológico e nuclear) e altos índices de pro-
like.15(A). Posteriormente, o mesmo grupo demons- liferação celular. Parte desses tumores são denomi-
trou que o grupo luminal receptor de estrogênio nados de “triplo negativos”, ou seja, RE, RP e HER2
(RE) positivo pode ser separado em dois subgrupos, negativo.
luminal A e luminal B16(A). Além desses subtipos clássicos, posterior-
Cada um desses subtipos constitue um gru- mente foram descritos outros dois: o claudin low e
po de neoplasias com semelhanças no que se re- o molécular apócrino. Os tumores dito claudin low
fere aos genes que estão alterados e que, portanto, são também triplo negativos, com baixa expressão
determinam características imunohistoquímicas, de genes das claudinas 3, 4 e 7 e perda de E-cade-
prognósticas e terapêuticas distintas. Essa clas- rina17(B). Ocorre em torno de 5% de todos os car-
sificação molecular é feita por microarray de DNA cinomas da mama e têm alto grau histológico. O
baseada em uma análise complexa de expressão molecular apócrino, descrito em 2005 por Farmer
gênica, o que torna difícil a utilização na prática e colaboradores, é classicamente triplo negativo
clínica. Por esse motivo, existe uma classificação pela imunohistoquímica, mas com quase 100% de
análoga onde se utiliza estudos de imunohistoquí- expressão de receptores de andrógenos (RA) que
mica sendo mais viável, apesar de menos preciso. estão ausentes no basal like e claudin low18(B).
Assim, a correlação é feita da seguinte maneira: De maneira geral, os subtipos HER2 amplifi-
1) luminal A: positividade para receptor de estro- cado e os não luminais (basal like) são aqueles que
gênio, receptor de progesterona (RP) e o marca- apresentam maiores taxas de resposta patológica
dor de proliferação Ki-67 <14%; HER2 negativo completa quando comparados aos tumores lumi-
2) luminal B: RE e/ou RP positivo(s); Ki-67 > 14%; nais (A e B) nos tratamentos neoadjuvantes19(A).
HER2negativo ou Ki-67 < 14% com HER2 positi- Um importante estudo publicado em 2014
vo na BMC Women’s Health, descreveu a frequência de
3) HER2: RE e RP negativo; HER2 positivo cada subtipo molecular na população brasileira e
4) Basal-símile: RE, RP e HER2 negativos; em suas diferentes regiões, demonstrando diferen-
5) EGFR e/ou citoceratina 5/6 positivo(s) ças de freqüências dos subtipos nas populações
O subtipos moleculares mais frequentes são os brasileiras e estrangeiras.20(A)
luminais (A e B), que representam aproximadamente O acompanhamento das pacientes durante a
60% dos carcinomas mamários. quimioterapia neoadjuvante sempre foi um impor-
1. luminal A, o mais frequente, é composto por tante desafio clínico. Em 1981, a Organização Mun-
tumores, em geral, de baixo grau histológico, que dial de Saúde validou os primeiros critérios para
revelam alta expressão de receptores de estrogênio acompanhamento do tratamento pré-operatório. Na
(RE) e progesterona (RP) e baixos índices de prolife- década de 1990, uma comissão foi criada, que cul-
ração celular. minou em 2000 com a criação do RECIST (Respon-
2. luminal B, apresentam maior grau histoló- se Evaluation Criteria in Solid Tumors), considerando
gico que o subtipo luminal A, além de apresenta- medidas de ultrassom, tomografia computadoriza-
rem maiores taxas de proliferação celular. da ou ressonância nuclear magnética, definindo a
455
CAP. 45 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
seguinte classificação: resposta completa, quando agregar técnicas oncoplásticas, sem perder a segu-
há desaparecimento da imagem; resposta parcial, rança oncológica25(B). O RECIST e o EUSOMA foram
quando há diminuição de 30% no maior diâmetro; criados e diversas classificações e marcadores têm
progressão de doença, quando há um aumento de sido utilizados na prática clínica, sendo os mais
20% da lesão; e estabilidade da doença, definida utilizados o exame clínico, a ultrassonografia e a
por variações inferiores a resposta parcial e a pro- ressonância nuclear magnética (RNM)23(B). A RNM e
gressão de doença. Mudanças do RECIST foram pro- variações de sua técnica têm demonstrado ser mais
postas para determinados tumores sólidos e novas acuradas, porém muito mais caras e não presentes
tecnologias surgiram, como o PET-CT e a RNM di- em todas as localidades26(B).
nâmica contrastada, sendo, então, atualizado o RE- A resposta patológica completa demonstrou
CIST em 2009. Surgiu o RECIST 1.1, incorporando ser um importante marcador prognóstico, e a ade-
medidas não anatômicas de mensuração. Apesar quada avaliação da redução tumoral para a correta
destas mudanças, vários questionamentos continu- técnica operatória para cada paciente é a meta das
aram sendo feitos, principalmente para o PET-CT, técnicas radiológicas mamárias26(B).
sendo criado o PERCIST (PET Response Criteria in So- A relação de resposta patológica completa nas
lid Tumors)21(A). Novas técnicas de RNM das mamas, pacientes que apresentaram resposta radiológica
como a difusão, RNM dinâmica contrastada, espec- completa, analisada por ressonância nuclear mag-
troscopia de prótons, elastografia por ressonância nética (RNM), é mais confiável no subtipo molecular
magnética, transferência de saturação química por triplo negativo que nos outros subtipos, devendo-
RNM e a ressonância magnética hiperpolarizada, -se ter mais critério nas programações cirúrgicas
têm criado critérios não incluídos nestes clássicos, nos outros subtipos moleculares. Diversos estudos
com constantes atualizações no acompanhamento tem tido algumas divergências, um estudo japonês
das pacientes em QT neo22(B). descreveu que o subtipo luminal possui pior capa-
Na Europa foi criado o EUSOMA (The Eu- cidade preditora27(B), e um estudo americano, reali-
ropean Society Of Breast Cancer Specialists) que zado em Chicago, afirma ser o subtipo HER228(B). Se
estabeleceu como critérios: 1. resposta patológica analisados os parâmetros clássicos, tamanhos tu-
completa, 2. resposta parcial - (i) doença residual morais menores e de alto grau apresentam melhor
mínima, (ii) permanência de 10 a 50% do tumor e acurácia na RNM26(B). Dados de 26 estudos clínicos
(iii) >50% da celularidade tumoral remanescente e sugerem uma sensibilidade de 0,63 (IC95% 0,56 –
3. sem evidência de resposta terapêutica23(B). 0,70) e especificidade de 0,91 (IC95% 0,89 – 0,92)
A cirurgia mamária evoluiu muito desde os na ressonância nuclear magnética das mamas29(B).
primeiros estudos de neoadjuvância. Consolidou- Diversos estudos têm sido publicados tentan-
-se indicações para operar grandes tumores e os do avaliar outras formas de acompanhamento da
carcinomas inflamatórios, a diminuição das mas- resposta tumoral durante a quimioterapia neoad-
tectomias e grandes cirurgias mutiladoras em qua- juvante. Uma meta-análise comparando os estudos
drantectomias com princípios estéticos, sem perder de RNM e PET-CT evidenciou que a RNM apresenta
a segurança oncológica e a adoção da técnica do melhor especifidade que o PET-CT, mas o PET-CT
linfonodo sentinela durante a QT neo24(B). tem maior sensibilidade que a RNM neste acom-
panhamento (sensibilidade do PET-CT 0,86 (IC95%
ACOMPANHAMENTO DO TRATAMENTO 0,76 – 0,93) e RNM 0,65 (IC95% 0,45 – 0,80) e es-
pecificidade PET-CT 0,72 (IC95% 0,49 – 0,87) e RNM
O acompanhamento das pacientes realizando 0,88 (IC95% 0,75 – 0,95)) 30(A).
quimioterapia neoadjuvante sempre foi motivo de O estudo INTENS, multicêntrico holandês,
debates e controvérsias, devido a preocupação de comparou ultrassonografia (US) e RNM, tendo como
evolução da doença e perda de possibilidade de resultado em tumores residuais menores que 1,0
realizar uma cirurgia curativa, além da importan- cm uma discordância radiológica-patológica de
te definição de diminuir a radicalidade cirúrgica e 54% na RNM e 60% no USG, com superestimação
456
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
do tamanho de 28% na RNM e 20% no USG e su- lular Ki67 é controversa, tanto para definição do
bestimação de 18% na RNM e 17% no USG. O valor subtipo luminal B, como para acompanhamento no
preditivo negativo nos tumores receptores hormo- tratamento neoadjuvante. Estudo com 552 pacien-
nais positivos foi de 26% na RNM e 33% no US- tes na Alemanha, que avaliou o ki67 demonstrou
G31(A). Estes dados demonstram uma superioridade sua funcionabilidade como preditor independente
para a RNM, mas com possibilidade de acompanhar de resposta patológica completa OR 3,5 (IC95% 1,4
estes pacientes com ultrassonografia, sem prejuízos – 10,1), sobrevida global HR 8,1 (IC95% 3,3 – 20,4)
para o seguimento clínico. Diferentes técnicas de e sobrevida livre de doença HR 3,2 (IC95% 1,8 –
RNM têm sido testadas também, além da análise 5,9). O valor médio do Ki67 foi de 50,6 ± 23.4% nas
quantitativa, como a dinâmica contrastada e a difu- pacientes com resposta patológica completa e 26,7
são4(B), espectroscopia de prótons, elastografia por ± 22.9% nas pacientes sem resposta completa. O
ressonância magnética, transferência de saturação problema deste marcador é a reprodutibilidade en-
química por RNM e a ressonância magnética hiper- tre os diversos laboratórios e patologistas36(B).
polarizada22(B). Outro fator que vem sendo investigado como
Estudo da Universidade de Hiroshima, no Japão, possível preditor de resposta à quimioterapia neo-
avaliou ultrassonografia contrastada no seguimento adjuvante é o TIL’s (Tumor Infiltrating Lymphocytes).
do tratamento neoadjuvante, com sensibilidade de Em 2014 foi publicada uma revisão sistemática e
95.7% (82.5–99.2%), especifidade de 77.5% (69.9– meta-análise que avaliou 13 estudos e um total de
79.5%) e acurácia de 84.1% (74.5–86.7%), sendo se- 3251 mulheres e demostrou que as pacientes que
melhante ao PET-CT e inferior a RNM no presente tinham maior número de TILs pré operatoriamen-
estudo, com grande vantagem no custo32(B). te correlacionavam-se com melhor resposta à qui-
Uma publicação de 2016 do ACRIN (American mioterapia neoadjuvante e maior taxa de pCR (RR=
College of Radiology Imaging Network), trial 6657, es- 3.93). Essa correlação foi mais intensa nos subtipos
tudo multicêntrico, com RNM avaliando a redução triplo negativo e HER2 amplificado, menos intensa
volumétrica funcional do tumor e a sobrevida livre nas pacientes RE positivo37(A).
de doença, braço radiológico do I-SPY TRIAL (Inves- A mutação de PI3CA também vem sendo anali-
tigation of Serial Studies to Predict Your Therapeutic sada nesse contexto e foi observado que as pacien-
Response with Imaging and Molecular Analysis), teve tes HER2 amplificadas que apresentam a mutação
como resultado em análise univariada da estatísti- (21,4%) apresentam menor taxa de pCR (19,4 nas
ca C de 0,57 e IC95% de 0,39 a 0,74, demonstrando mutadas x 32,8% nas selvagens, p= 0.008), mesmo
ser uma técnica muito promissora33(A). naquelas que receberam transtuzumab e pertuzu-
Estudo publicado em 2016 na Breast Cancer mab38(B).
Research Treatment avaliou a invasão angiolinfática Os pacientes durante o tratamento neoadju-
no universo neoadjuvante, com endpoint para sobre- vante devem estar sendo avaliadas periodicamente
vida global, com 166 pacientes, seguimento médio com o intuito de verificar resposta terapêutica e as-
de 31 meses, num total de 56 eventos com 24 mor- segurar a não progressão da doença. Não existe um
tes por qualquer causa e demonstrou, em análise protocolo padrão para esse acompanhamento, mas
univariada, que a presença de invasão angiolinfáti- existem algumas recomendações para esse cenário:
ca piora a sobrevida livre de doença HR 3,37 (IC95% - Realizar exame clínico a cada 2 a 4 semanas,
1,87 – 6,06, p<0,01) e a sobrevida global com HR avaliando mamas e axilas antes de cada ciclo.
4,35 (IC95% 1,61 – 11,79, p<0,01). Na análise mul- - Para pacientes em hormonioterapia essa
tivariada, apresentou HR 3,76 (IC95% 2,07 – 6,83, avaliação pode ser feita a cada 4 a 8 semanas con-
p<0,01) e a sobrevida global com HR 5,70 (IC95% siderando que a resposta é mais lenta.
2,07 – 15,64, p<0,01)34(B). O grau histológico tam- - Exames de imagem podem ser realizados
bém é um fator prognóstico já bem estabelecido diante da suspeita de progressão. Nesse caso, a
nos pacientes que realizam neoadjuvância35(B). RNM pode acrescentar algum benefício à USG, mas
A avaliação do marcador de proliferação ce- ainda não é considerada padrão, pois, conforme
457
CAP. 45 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mencionado anteriormente no INTENS, não houve decisão para ser tomada sempre com uma aborda-
prejuízo às pacientes seguidas apenas com USG. A gem multidisciplinar que é essencial em todo o âm-
realização de exames de imagem no meio do trata- bito da neoadjuvância41(B).
mento sistêmico não é, portanto, uma rotina, sendo
esta a recomendação do UpToDate e do serviço do TERAPIA SISTÊMICA
MD Anderson.
• PET scan pode ter algum papel nessa avaliação A taxa de resposta patológica completa em
de resposta ao término do tratamento; no en- vários estudos mostrou ser capaz de predizer des-
tanto, os dados são limitados e devem ser consi- fechos a longo prazo sendo um possível marcador
derados apenas em protocolo de pesquisa. de sobrevida global42(A)43(B). No entanto, outros es-
• Após o término do tratamento sistêmico, deve- tudos falham em confirmar essa associação entre
-se repetir os exames de imagens para avaliar pCR e uma melhor SG7(A).
resposta e definir sobre qual a melhor opção de Uma das razões para justificar essa discrepân-
cirurgia. cia vem da falta de padronização de pCR, sendo a
• Avaliação de resposta: o melhor método de ima- definição preferencial ausência completa de lesão
gem capaz de predizer a resposta patológica invasiva na mama e axila, porém vários estudos
completa ainda é motivo de grande controvér- consideram definições diferentes44(B). Possivelmen-
sia. te a que melhor descreva a informação prognósti-
Em 2001, Fiorentino e colaboradores publi- ca seja ausência de doença invasiva ou in situ na
caram um estudo que comparava a acurácia da mama e linfonodos45(B). Outra possível razão é au-
mamografia e ultrassonografia versus exame físico sência de separação nos estudos dos diversos sub-
na capacidade de avaliar resposta à quimioterapia tipos moleculares que, como já demonstrado, apre-
neoadjuvante. Nesse estudo, a avaliação clínica foi sentam diferentes taxas de resposta ao tratamento
mais eficaz em predizer resposta do que os dois neoadjuvante19(B). Portanto, incluir todos os subti-
métodos de imagem (p=0.04)39(B). pos moleculares atenua a informação prognóstica
Em 2006 um novo estudo conduzido pelo MD pertinente a pCR.
Anderson com o mesmo objetivo de avaliar a acurá- A metanálise de Berruti e colaboradores pu-
cia da mamografia, USG e exame clínico em predi- blicada em 2014 tentou responder esse questiona-
zer resposta após QT neo demonstrou que todos os mento sobre a pCR e sua correlação direta com SG,
três métodos foram considerados falhos com uma que se validada facilitaria muito o acesso mais rápi-
pobre correlação com a resposta patológica40(B). do às novas drogas. O FDA já considerou pCR como
Mais recentemente foi publicada uma meta- capaz de predizer desfechos clínicos e baseado
nálise sobre a acurácia da RNM em predizer pCR nessa consideração liberou aprovação acelerada do
com 25 estudos e a análise evidência que a RNM pertuzumabe na neoadjuvância46(B), porém, sobre-
tem alta especificidade (0.91), mas uma sensibili- vida livre de eventos ainda continua a ser o obje-
dade relativamente baixa (0.63). Os estudos foram tivo ideal para aprovação completa de drogas47(B).
bastante heterogêneos principalmente pela gran- No entanto, após analisar 29 estudos randomi-
de variação entre as taxas de pCR. E uma análise zados ficou demonstrado uma relação fraca entre a
de subgrupo mostrou que nas pacientes com pCR > eficácia dos tratamentos e o impacto nos desfechos
20% a RNM foi menos específica do que naquelas clínicos, sendo o efeito da quimioterapia responsá-
com pCR < 20% (p=0.0003)29(B). vel por apenas 9% do efeito nos desfechos.48(A).
Em resumo, esse ainda é um ponto de gran- Esses dados confirmam os achados da ou-
de controvérsia. O NCCN (National Comprehensive tra meta-análise do CTNeoBC (Collaboartive Traisl
Cancer Network) recomenda que exame físico seja Neoadjuvant Breast Cancer) que analisou 12 estu-
sempre feito, combinado com algum método de dos randomizados e mais de 12000 mulheres que
imagem que estivesse anormal antes do tratamen- também demonstrou a pCR como um excelente
to, podendo ser mamografia ou RNM, deixando essa marcador prognóstico, mas incapaz de predizer des-
458
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
fechos como sobrevida global49(A). padrão considerando um estudo de fase 3 que de-
Ambas as metanálises descritas acima têm o monstrou maiores taxas de pCR55(A).
mesmo viés de incluir uma população extremamente Nessa população, houve uma metanálise
heterogênea e com definições não padronizadas de ampla, com 6377 pacientes em 7 estudos rando-
pCR que podem dificultar a análise adequada do dado. mizados56(A) que identificou pCR como um mar-
Tendo em vista o conhecimento de que dispo- cador fidedigno para sobrevida livre de doença e
mos atualmente sobre o comportamento diferen- sobrevida global nas pacientes que fizeram uso de
te de cada subtipo molecular, deve-se considerar a trastuzumabe neoadjuvante (HR 2,85 e 14,11). No
quimioterapia neoadjuvante para casos operáveis entanto, esse impacto prognóstico foi restrito aos
(Estadios I e II), principalmente nos perfis que apre- tumores RH negativos. Esse impacto não foi tão
sentem maior chance de resposta patológica com- robusto na metanálise de Cortazar provavelmente
pleta como os tumores HER2 amplificados ou triplo porque grande parte das pacientes não receberam
negativos45(B). trastuzumabe adjuvante (RH positivo RR 0,58 e RH
Quanto aos tumores triplo negativos (TN), são negativo RR 0,25).
considerados tumores extremamente agressivos, Para os tumores HER2 negativos, os esque-
com alta mortalidade e chance de metástases pre- mas mais utilizados são baseados em antracíclicos
coces50(B). Devido a ausência de tratamentos alvo e taxanos.
disponíveis para esse subtipo, o único tratamento Um dos grandes estudos que demostrou bene-
sistêmico ainda consiste na quimioterapia. Por ser fício do taxano foi o NSABP B27 que observou maior
biologicamente mais agressivo, apresenta maior taxa de resposta clínica (91 x 86%), maior taxa de
risco de doença micrometastática no momento do resposta patológica completa (26 x 13%), mas sem
diagnóstico, mesmo em estádios menos avançados, benefício na sobrevida global (74 x 75%). Foi a par-
com provável maior beneficio da quimioterapia tir desse estudo que a técnica antigamente utilizada,
neoadjuvante51(C). E apesar de ser um subtipo ex- de proceder a cirurgia no meio da quimioterapia, foi
tremamente agressivo e de evolução desfavorável, abondonada, pois o braço que recebeu AC seguido
quando atinge resposta patológica completa, passa de cirurgia e docetaxel adjuvante apresentou maior
a assumir a curva de sobrevida semelhante aquelas risco de recorrência quando comparado ao braço que
pacientes não TN52(B). recebeu toda quimioterapia antes da cirurgia.
Quando estudada em separado como na meta- Após se estabelecer o claro benefício da adi-
nálise chinesa publicada em 2015, essa população ção do taxano ao esquema quimioterápico neoad-
de pacientes triplo negativa apresenta um benefí- juvante foi interrogado quanto à melhor dose in-
cio de sobrevida global e sobrevida livre de doen- tensidade do mesmo. O regime considerado padrão
ça com o uso da quimioterapia neoadjuvante, mas anteriormente era paclitaxel a cada 3 semanas, mas
apenas para aquelas que atingiram pCR53(A). Nes- um estudo em pacientes metastáticas já mostrava
sa mesma metanálise a expressão elevada de KI67 que o regime semanal demonstrava além de ser se-
demonstrou uma boa correlação com pCR quando guro, uma maior taxa de resposta em relação ao
comparada àquelas pacientes com baixa expressão padrão. Possivelmente os efeitos antiangiogênicos
sendo possível utilizá-lo como marcador de respos- e pró apoptóticos do paclitaxel sejam potencializa-
ta. No entanto, para validar esse dado ainda serão dos nessa intensidade57(C)58(C). No estudo conduzi-
necessários outros estudos, especialmente conside- do pelo MD Anderson que randomizou 258 mulhe-
rando a limitação da análise desse parâmetro. res a receberem paclitaxel semanal (x 12 semanas)
A outra populacão que também apresenta ou a cada 3 semanas (x 4 ciclos), foi observado que
comportamento mais agressivo, com maior possi- o paclitaxel quando administrado semanalmente
bilidade de doença micrometastática na apresenta- proporcionou um incremento nas taxas de resposta
ção é a de HER2 amplificada54(B). patológica completa (28,2 versus 15,7%, p= 0.02)
Nos últimos anos, a combinação de trastuzu- e também na taxa de cirurgias conservadoras (p=
mabe com a quimioterapia neoadjuvante se tornou 0.05). Baseado nesses dados ficou padronizado de
459
CAP. 45 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
460
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
461
CAP. 45 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
HER2 positivo: 67%, RE positivo/ HER2 negativo: as pacientes que apresentavam resposta radioló-
12%70(B). Um outro estudo que também avaliou a gica ou clínica receberiam 4 ciclos de docetaxel e
mesma combinação de carboplatina e paclitaxel, as que não respondiam eram randomizadas a pa-
com 107 pacientes e demonstrou pCR de 19% sen- clitaxel por 12 semanas com ou sem everolimus. O
do maior no subgrupo HER2 positivo71(B). Portanto, resultado não demonstrou nenhuma diferença nas
a combinação de carboplatina e paclitaxel pode ser taxas de pCR ou de benefício clínico73(B).
considerada uma alternativa eficaz diante de uma Como mencionado anteriormente, os dois
contra-indicação ao uso de antraciclina. maiores grupos que se beneficiam da estratégia neo-
Estudo randomizado de fase II avaliou a com- adjuvante são os subtipos triplo negativas e HER2
binação de cisplatina, 25 mg/m², com paclitaxel, 80 amplificado. Nas pacientes HER2 amplificadas as
mg/m² EV × 12 semanas, com ou sem everolimo, 5 chances de se atingir pCR são altas, especialmente
mg/dia, em 120 pacientes com tumores triplo-ne- naquele subgrupo de RH negativo e que fizeram uso
gativos. Embora everolimo não tenha aumentado a do bloqueio HER2. O benefício de maior pCR impac-
taxa de pCR, ela foi da ordem de 40% em ambos os ta também nos desfechos a longo prazo conforme
braços. Esse esquema representa mais uma opção evidenciado na metanálise de Cortazar74(A).
de QT sem antracíclico para pacientes com tumores No subtipo HER2 positivo a adição de tras-
triplo-negativos. tuzumabe aumenta a taxa de pCR de 20 para 43%,
Apesar da extrema importância da informa- reduz o risco de recidiva de 39 para 26% e demons-
ção prognóstica que temos diante de uma paciente tra uma tendência a uma menor mortalidade (13
que fez quimioterapia neoadjuvante e evoluiu com vesus 20% HR 0,67)75(A).
pCR versus aquela que evoluiu com doença residual, Além do trastuzumabe, mais recentemente o
ainda não dispomos de uma estratégia sequencial FDA (Food and Drug Administration) aprovou, tem-
ideal ajustada para uma resposta subótima ao es- porariamente, uma outra droga que promete rever-
quema inicial. Para tentar avaliar algumas possi- ter a resistência causada pela formação de hete-
bilidades diante dessa situação foram conduzidos rodímeros HER2:HER3, com base em dois estudos
alguns estudos que serão comentados a seguir. de fase 2 que demonstraram um claro benefício na
O GeparTrio 2090 pacientes receberam 2 ci- taxa de pCR com a adição do pertuzumabe. No en-
clos de TAC (Docetaxel, Adraimicina e Ciclofosfa- tanto, a aprovação final ainda está condicionada a
mida) neoadjuvante seguido de re-avaliação: pa- confirmação de dados de sobrevida global ou so-
cientes que não respondiam eram randomizadas a brevida livre de doença em estudos de fase 3.
receber mais 4 ciclos de TAC ou 4 ciclos de NX (Na- O primeiro dos estudos foi o NeoSphere que
vellbine e Capecitabina) a cada 21 dias. As pacien- randomizou 417 pacientes a um dos 4 braços: 1)
tes respondedoras, por sua vez, eram randomizadas docetaxel (100mg/m2 a cada 3 semanas x 4) com
a receber mais 4 ou mais 6 ciclos de TAC. E após trastuzumabe (braço A); 2) docetaxel com trastuzu-
2 ciclos de TAC, 30% das pacientes não responde- mabe e pertuzumabe (braço B); 3) pertuzumabe com
ram e ao serem randomizadas entre TAC e NX, não trastuzumabe isolados (braço C) e 4) docetaxel com
houve diferença na taxa de conservação da mama pertuzumabe (braço D). Após a cirurgia, as pacientes
(57 versus 60%) ou na pCR (5 e 6%); apesar disso, o que receberam previamente docetaxel, receberam 3
grupo que mudou para NX evolui com incremento ciclos de FEC e depois completaram 1 anode tras-
na sobrevida livre de doença (HR 0,59). O grupo de tuzumabe adjuvante. Já o braço que recebeu ape-
respondedoras que recebeu 6 ciclos adicionais de nas pertuzumabe e trastuzumabe recebeu tanto o
TAC versus 4 também apresentou um benefício na docetaxel quanto o FEC seguidos de trastuzumabe
SVLD (HR 0,78)72(A). na adjuvância. Os resultados mostraram que as ta-
Um outro estudo, também alemão, incluiu xas de pCR variaram de 29, 46, 17 e 24% no grupos
1948 pacientes com diagnóstico recente de câncer A, B, C e D respectivamente. Sendo as maiores ta-
de mama para receber 4 ciclos de EC com ou sem xas alcançadas nos subgrupos RH negativos: 37, 63,
bevacizumabe a cada 3 semanas. Posteriormente, 29 e 30%. A adição do pertuzumabe não adicionou
462
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
toxicidade nem mesmo cardíaca. Desse estudo po- binação com HT 45,8% em comparação com 6,7%
demos concluir que a adição do pertuzumabe in- no braço de trastuzumabe com HT (p< 0.001). Esse
crementou as taxas de pCR, especiamente naquelas benefício foi à custa de minima toxicidade.
RH negativo e pode-se observar que um braço onde Ainda sobre o papel do TDM1 na neoadjuvân-
não foi oferecido nenhum tipo de quimioterapia, cia, na ASCO 2016 foram apresentados os dados
apenas com o duplo bloqueio, atingiu taxas de pCR do KRISTINE81(A), estudo de fase 3 que comparou
não desprezíveis75(A)76(B). TDM1 associado ao pertuzumabe versus trastuzu-
O segundo estudo foi o THYPHAENA, no qual mabe + pertuzumabe + docetaxel + carboplatina.
223 mulheres receberam trastuzumabe e pertuzu- Após 6 ciclos as pacientes eram encaminhadas para
mabe e posteriormente foram randomizadas a rece- cirurgia e posteriormente completavam adjuvância
ber: FEC concomitante seguido por docetaxel, FEC com mais 12 ciclos de TDM1 + pertuzumabe no bra-
seguido de docetaxel concomitante ou docetaxel e ço A ou trastuzumabe + pertuzumabe no braço B. O
carboplatina concomitantes. As taxas de pCR che- braço TCHP comparado com TDM1 + P promoveu
garam a atingir um marco histórico de 84% no bra- maior pCR independetemente do perfil hormonal,
ço RH negativo e sem adição de toxicidade77(B). no entanto, o braço com TDM1 ofereceu perfil de
A terceira droga anti HER2 que foi estudada toxicidade mais favorável, além de melhor qualida-
também na neoadjuvância foi o lapatinibe. O lapati- de de vida versus o braço com quimioterapia. Os in-
nibe quando adicionado ao trastuzumabe e quimio- vestigadores do estudo sugerem que quimioterapia
terapia no NeoALTTO e CHERLOB aumentou as ta- com trastuzumabe + pertuzumabe persiste como
xas de pCR apesar de não alterar a taxa de cirurgia tratamento padrão.
conservadora como se previa. Ainda estão penden- Na era da biologia molecular, o tratamento in-
tes, também, os dados de desfechos a longo prazo dividualizado deve ser priorizado. À medida em que
que serão difíceis de serem interpretados conside- se consolidarem as informações sobre os fatores
rando o uso de tratuzumabe adjuvante.78(A)79(B). preditivos de resposta essa individualização será
O grupo do TBCR006 (Trasnslational Breast reproduzida de maneira mais eficaz. Diante das evi-
Cancer Consortum) avaliou a eficácia de um blo- dências atuais, a análise dos subtipos moleculares
queio duplo sem quimioterapia em um braço único diversos, é essencial para indicar a quimioterapia
de 65 mulheres onde as pacientes RH negativo re- neoadjuvante. Aqueles que devem ser fortemente
cebiam lapatinibe com trastuzumabe e as RH posi- considerados candidatos à estratégia neoadjuvante
tivo recebiam adicionalmente letrozol (com gose- são as pacientes TN e HER2 amplificadas, mesmo
relina nas pré menopausadas). Foi identificada uma os casos considerados operáveis, desde que sejam
taxa de resposta de 27%, variando entre 36 e 21% candidatas à quimioterapia.
nas RH negativo e positivo respectivamente. Os da- O regime de dose densa foi superior, devendo
dos são interessantes, mas o estudo foi de fase 2, ser oferecido sempre que possível. A dose intensi-
merece ser analisada essa situação em um estudo dade também agregou maior benefïcio no paclita-
de fase 380(B). xel; portanto, o paclitaxel deve ser dado semanal-
Outro estudo também de fase 2, avaliou a efi- mente e antes do braço da antraciclina, pois essa
cácia de 12 semanas de TDM1 neoadjuvante com abordagem proporcionou mais taxa de pCR.
ou sem hormonioterapia nas pacientes HER 2 posi- Nas pacientes TN pode-se considerar adicio-
tivo, RH positivo. O Estudo foi apresentado na ASCO nar a platina em casos selecionados.
2015 se baseava em 3 braços: braço A, TDM1 iso- Nas pacientes HER2 amplificadas deve-se
lado; braço B: TDM1 com hormonioterapia e bra- idealmente oferecer o bloqueio duplo.
ço C: trastuzumabe com hormonioterapia sendo o Nas pacientes luminais B ainda não há um
objetivo primário avaliar a diferença entre as taxas consenso, devem ser discutidas individualmente. As
de pCR. E os resultados demostraram taxas de pCR pacientes luminais A são as que menos se benefi-
substancialmente maiores com o uso do TDM1 que ciam, portanto devem seguir a abordagem cirúrgica
isoladamente apresentou pCR de 40,5% e em com- como sendo preferencial.
463
CAP. 45 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Para as pacientes que são luminais A e B que e 32% respectivamente. Não houve diferença nas
não tem condições clínicas de receberem quimiote- taxas de resposta entre os grupos85(A).
rapia, a hormonioterapia passa a ser uma opção, o No entanto, essa estratégia de hormoniotera-
que será discutido a seguir. pia neoadjuvante deve ser restrita às pacientes que
não têm condições clínicas para receberem quimio-
ENDOCRINOTERAPIA terapia neoadjuvante e idealmente sejam do perfil
luminal A86(B).
Para as pacientes que são RH positivos pós Quanto ao tempo da hormonioterapia, em ge-
menopausadas que não possam receber quimiote- ral, tem a duração de 3 a 4 meses, chegando a 12
rapia, pode-se avaliar a possibilidade de endocrino- meses, mas o tempo ideal ainda é desconhecido.
terapia. Para responder a essa questão, um estudo europeu
Poucos são os dados disponíveis que avaliam de braço único foi conduzido prescrevendo letrozol
a comparação de hormonioterapia versus quimiote- por 4 meses ou 8 meses e foi observado que quan-
rapia. Um estudo de fase 2 com 239 mulheres pós to maior o tempo de exposição ao letrozol, maior
menopausadas, RH positivos, EC II e III, foram ran- a resposta, com um perfil de toxicidade extrema-
domizadas a receber hormonioterapia com inibidor mente tolerável. Portanto, se a paciente em hormo-
da aromatase (exemestano ou anastrozol por 3 me- nioterapia estiver respondendo na avaliação inicial
ses ou quimioterapia (4 ciclos de doxorrubicina e aos 4 meses, é possível que haja uma redução tu-
paclitaxel a cada 21 dias). Não houve diferença na moral maior após mais 4 meses de tratamento.87(B).
resposta global entre os grupos. Um outro estudo Quanto ao tipo de inibidor que deve ser uti-
menor, conduzido pelo GEICAM (Grupo Español de lizado, o estudo ACOSOG Z1031, incluiu 374 pa-
Investigacion del Cáncer de Mama) avaliou 95 pa- cientes allred 6 a 8 a receberem anastrozol versus
cientes RH positivo e foram randomizadas a 4 ciclos letrozol versus exemestano e não houve nenhuma
de EC a cada 21 dias seguidos de 4 ciclos de doce- diferença na taxa de resposta entre os grupos. Por-
taxel a cada 21 dias versus 24 semanas de exemes- tanto, qualquer uma das opções de inibidor de aro-
tano (com LHRH nas pacientes pré menopausadas). matase estaria adequada para ser utilizada tanto na
As pacientes do braço da quimioterapia obtiveram adjuvância quanto na neoadjuvância88(A).
maior taxa de resposta, no entanto, o braço do exe- Para as pacientes com indicação de endocri-
mestano foi submetido a um maior número de ci- noterapia, os inibidores de aromatase foram supe-
rurgias conservadoras, porém essa diferença não foi riores ao tamoxifeno e não houve diferença entre
estatisticamente significante.82(B). os três tipos.
Com relação à qual a melhor opção para ser
usada nesse contexto, deve-se optar por um inibibor CIRURGIA MAMÁRIA
da aromatase baseado nas evidências atuais83(A).
Um estudo publicado em 2007 randomizou Os principais estudos randomizados em neo-
337 mulheres a receberem 4 meses de letrozol adjuvância sempre tiveram como desfecho principal
(2,5mg/ dia) versus tamoxifeno (20mg/dia). Em re- análises associadas à quimioterapia e não as técnicas e
lação ao tamoxifeno, o letrozol demonstrou maior táticas cirúrgicas mamárias, como o EORTC 10902 trial
taxa de resposta global (55 versus 36%), maior taxa (The European Organization for Research and Treatment
de cirurgia conservadora (45 versus 35%), assim of Cancer) e o NSABP B-18 e B-27 (The National Surgical
como maior taxa de resposta entre as pacientes Adjuvant Breast and Bowel Project). Porém, estes estudos
HER2 positivo (88 versus 21%). Dados que confir- trouxeram grandes informações para a mastologia.O
mam os achados do IMPACT84(A). Primeiro benefício da neoadjuvância foi a possibilida-
Já o PROACT randomizou 451 pacientes a re- de de tratamento cirúrgico em tumores inicialmente
ceberem 3 meses de anastrozol versus tamoxifeno inoperáveis, assim como os tumores inflamatórios. O
neoadjuvante em pacientes RH positivos. Nesse es- segundo benefício foi a condição de converter mastec-
tudo, quimioterapia concomitante foi dada em 29 tomias em cirurgias conservadoras.24(B)
464
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
O NSABP B18 transformou 8% das mastecto- mentos científicos e prós e contras de cada método,
mias em conservação da mama e o EORTC 13%24(B). a decisão da paciente deve ser respeitada89(B).
Com o avanço da oncologia clínica, obteve-se cada A conservação da mama trouxe, como contro-
vez melhores respostas, porém inicialmente não vérsia, um aumento de 3% na taxa de recorrência
se observou uma queda de mastectomias, propor- loco regional24(B). Uma metanálise publicada em
cionalmente. O NSABP B27 adicionou docetaxel 2005, com nove estudos randomizados sobre neod-
no esquema quimioterápico, diferindo do B18, au- juvância, evidenciou um risco relativo de recorrên-
mentando a taxa de resposta patológica completa cia loco regional de 1,22 para as pacientes que fi-
(13,7% para 26,1%, p<0,001), porém não teve au- zeram terapia sistêmica pré operatória, devendo-se
mento estatisticamente significante de conserva- salientar que os autores desta metanálise incluíram
ção da mama comparado com o B18 (61,6% versus estudos com radioterapia pós neoadjuvância, sem
63,7%, p=0,33), mantendo o benefício em relação a cirurgia e consideraram como tratamento local na
cirurgia primária assim como alguns estudos com análise14(A). Outra metanálise publicada em 2007,
terapia alvo como o NeoALTO (Neoadjuvant Lapati- com 10 estudos randomizados demonstrou uma so-
nib and/or Trastuzumab Treatment Optimization), que brevida similar entre as diferentes cirurgias24(B).Os
a resposta patológica completa foi de 51,3%, man- tumores submetidos a QT neo com boa resposta clí-
tendo também níveis parecidos de conservação das nico-radiológica podem ter três comportamentos. O
mamas25(B)78(A). desaparecimento completo de células tumorais viá-
Uma metanálise publicada em 2007, com 10 veis, uma resposta uniforme com um tumor residual
estudos randomizados demonstrou uma taxa de único, muitas vezes facilmente mensurável, ou uma
conservação da mama de 17%, variando entre 3 e resposta salpicada, com um tumor residual maior e
22% nos estudos24(B). Estudos mais recentes, já têm outros focos pequenos de doença viável no antigo
demonstrado uma maior conservação mamária pós leito tumoral. Este comportamento gerou grandes
QT neo. No IMPACT, as pacientes receberem 4 meses controvérsias que ainda criam debates: se seria ne-
de letrozol com taxa de conversão em cirurgia con- cessário ressecar toda a área inicial do tumor ou se
servadora de 45%84(A) e no estudo KRYSTINE, apre- deve apenas retirar a doença residual90(B).
sentado na ASCO, ainda sem publicação em artigo, O grupo do MD Anderson publicou alguns es-
demonstrou uma taxa de conversão de mastecto- tudos avaliando as variantes da cirurgia conserva-
mia em cirurgia conservadora de 70%81(A). dora pós neoadjuvância. Oh e colaboradores des-
A opnião da paciente sempre deve ser consi- creveram a marcação com clips no leito tumoral
derada na decisão entre uma mastectomia e uma pré QT neo para direcionar a cirurgia conservadora
cirurgia conservadora. Estudo publicado na Journal após o tratamento, com 410 pacientes, demonstrou
of Clinical Oncology pesquisou, através de questio- um controle local em 5 anos de 98,6% nas pacien-
nários, a intensão das pacientes em três momentos tes marcadas com clip e 91,7% em quem não foi
diferentes: um momento basal, antes das discussões marcada (p=0,02)91(B).
com o médico; outro após a decisão de qual cirur- Outro estudo avaliou os fatores determinan-
gia realizar e um terceiro após a cirurgia. Noventa e tes para a recorrência ipsilateral em 5 anos, definin-
oito por cento das pacientes compreenderam que a do que a presença de cN2 ou cN3 (antes da QT neo),
sobrevida da mastectomia era igual a cirurgia con- tumor residual maior que 2,0cm, doença residual
servadora, porém 35% das pacientes optaram por multifocal e invasão linfovascular são determi-
fazer uma mastectomia, mesmo podendo realizar nantes de alto risco de recorrência loco regional. A
a quadrantectomia. O mastologista deve ter muito presença de qualquer um destes fatores aumentou
cuidado neste momento decisivo, observando se a a recorrência mamária ipsilateral de 91 para 87%
paciente está bem esclarecida, sem falsas expec- e a recorrência loco regional de 84 para 77%92(B).
tativas, desconhecimentos ou mal orientada por Foi criado um Índice Prognóstico do MD Anderson,
buscas na internet, impressa leiga ou conhecidos; publicado em 2012, descrevendo que paciente com
estando a paciente bem orientada, sob os conheci- até um destes fatores de risco podem ser submeti-
465
CAP. 45 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
das a mastectomia e cirurgia conservadora com ex- pacientes com cirurgia pós QT neo. Odds Ratio não
celentes resultados; pacientes com dois fatores de ajustado de 2,81 (IC95% 2,31 – 3,42) e ajustado
risco presentes submetidas a quadrantectomia tive- para idade, tipo histológico, receptor hormonal, HER
ram pequeno aumento de recorrência loco regional, 2, método excisional e volume da cirurgia de 2,87
sem significância estatística; pacientes com três ou (IC95% 2,23 – 3,68)23(B).
quatro fatores, a mastectomia com radioterapia se Quando analisado os detalhes deste estu-
demonstrou superior a cirurgia conservadora com do, têm-se 42,1% de margens comprometidas nas
significância estatística, sendo esta a recomenda- pacientes sem resposta ao tratamento sistêmi-
ção destes autores, mesmo existindo exequibili- co, 25,6% nas pacientes com resposta parcial e
dade para a quadrantectomia93(B). O MD Anderson 12,0% nas pacientes próximas a resposta completa
publicou um estudo validando este índice prognós- (p<0,001); 20,5% de margens comprometidas nos
tico com uma nova população, demonstrando uma carcinomas ductais invasores e 54,9% nos carcino-
recorrência loco regional em 5 anos de 92% com mas lobulares invasores (p<0,001); 26,1% nos tu-
até 1 fator de risco, 84% com 2 fatores e 69% com 3 mores com receptores hormonais positivos e 5,9%
ou 4 fatores presentes, p=0,0124(B). nos negativos (p=0,001); 13,6% nos tumores HER2
O NSABP publicou em 2012 uma atualização positivos e 25,5% nos HER2 negativos (p=0,036); e
envolvendo o B18 e B27, com 1.100 pacientes, des- 3,6% nos cânceres triplo negativos e 25,8% nos não
crevendo os seguintes fatores de risco para recor- triplos negativos (p<0,001). Foi descrito a marcação
rência loco regional: idade inferior a 50 anos, axila para a cirurgia, com agulha ou Iodo 125, e não hou-
clinicamente positiva pré QT neo, linfonodos com- ve diferença entre os métodos. Não foi citada a for-
prometidos pós tratamento sistêmico e ausência de ma de marcação tumoral durante a terapia sistêmi-
resposta completa. Apresentou taxa de recorrência ca e nem se houve impacto do comprometimento
loco regional em 10 anos de 10,3%94(B). das margens em sobrevida23(B). Foi realizado cirur-
Outra publicação independente do MD Ander- gia adicional pelo comprometimento de margens
son, de 2013, avaliou 2.984 pacientes com segui- em 9,1% das pacientes submetidas a QT neo e 5,3%
mento de 20 anos, descreveu como fatores de risco nas cirurgias primárias (p<0,001), encontrado doen-
para recorrência loco regional: idade inferior a 50 ça residual em 53,6% das pacientes que fizeram QT
anos, estadiamento III, grau histológico III, recep- neo e 32,7% em quem não fez (p<0,001)23(B)
tor de estrogênio negativo, receptor de estrogênio Estudo espanhol avaliou os fatores de ris-
positivo que não recebeu hormonioterapia, doen- co para comprometimento de margem em cirur-
ça multifocal pós QT neo, invasão angiolinfática e gias conservadoras pós tratamento neoadjuvante
margens cirúrgicas positivas95(B). e evidenciou tamanho tumoral superior a 5,0cm
A obtenção de margens livres sempre foi um (p=0,021), tumores com receptores hormonais po-
objetivo nas cirurgias conservadoras para trata- sitivos (p=0,0006) e de baixo grau histológico
mento do câncer de mama. Nos tumores iniciais, os (p=0,031)96(B).
consensos orientavam 1,0cm, inicialmente, depois A cirurgia mamária após terapia neoadjuvante
2mm e atualmente a ausência de tumor no nan- deve sempre ter em foco a ressecção de toda doen-
quim é considerado suficiente. Porém, para tumores ça residual. O mastologista tem que ficar atento aos
localmente avançados com cirurgia pós QT neo, não fatores já definidos de falha local: idade inferior a
existem recomendações consensuais. 50 anos, cN2 ou cN3 (antes da QT neo), tumor resi-
Publicação de 2016 do PALGA (The Nationwi- dual maior que 2,0cm, doença residual multifocal,
de Network and Registry of Histo- and Cytopathology invasão linfovascular, grau histológico III. As mar-
in The Netherlands), avaliou as margens cirúrgicas gens cirúrgicas devem sempre serem negativas.
de 9.902 pacientes submetidas a cirurgia conser- A decisão entre mastectomia ou cirurgia con-
vadora, com 626 (6,3%) pós QT neo. Os resultados servadora deve contemplar a resposta ao tratamen-
demonstraram 10,2% de margens comprometidas to sistêmico inicial, os fatores de risco mencionados
nas pacientes com cirurgia primária e 24,3% nas acima e o desejo da paciente bem esclarecida. De-
466
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
vendo sempre marcar o leito tumoral previamente, Em 2009, Kelly e colaboradores publicaram
seja com clip ou tatuagem, para a adequada realiza- uma revisão sistemática e metanálise de 24 estudos,
ção de uma cirurgia conservadora, quando optado avaliando um total de 1799 pacientes e reportaram
pelo conjunto equipe médica/ paciente. uma taxa de identificação do linfonodo sentinela de
89,6% e uma taxa de falso negativo de 8,4%102(A).
CIRURGIA AXILAR NA NEOADJUVÂNCIA Seguindo a mesma tendência, Tan e colaboradores,
em revisão sistemática de 2011, concluíram que bi-
Historicamente apenas as pacientes com tu- ópsia de linfonodo sentinela em axilas negativas
mores avançados associados a elevado comprome- após a quimioterapia neoadjuvante é tecnicamente
timento axilar eram encaminhadas para a terapia possível e possui acurácia semelhante à realizada
sistêmica primária e a decisão da abordagem axi- em tumores iniciais da mama. A taxa de detecção e o
lar era definida no momento do diagnóstico. Deste número de falsos negativos encontrados variou en-
modo, quimioterapia neoadjuvante era sinônimo de tre 88 a 97% e 5 a 15%, respectivamente98(A).
um tratamento axilar agressivo25(B). Atualmente, o Portanto, axilas clinicamente negativas ao
comprometimento axilar é erradicado em mais de diagnóstico e que não progridem a doença axilar
40% das pacientes submetidas a terapia sistêmica durante a quimioterapia neoadjuvante são candida-
primária43(B)55(A)97(B)98(A). Neste contexto, a linfa- tas a biopsia do linfonodo sentinela após a terapia
denectomia indiscriminada, provavelmente, acar- sistêmica. Esta, se positiva, indica a dissecção axilar
retará maior dano do que benefício para estas pa- e quando negativa nenhum tratamento cirúrgico
cientes25(B)99(B). adicional é realizado.25(B)99(B). Alguns estudiosos,
O avanço das drogas quimioterápicas e a am- transpondo os dados da terapia cirúrgica inicial,
pliação das indicações de terapia sistêmica primária defendem o uso da radioterapia em detrimento da
para tumores menores e sem um alto comprometi- dissecção axilar nos casos de linfonodos sentinelas
mento axilar permitiu uma abordagem menos inva- positivos. Porém, não existem ensaios clínicos ou es-
siva25(B)99(B). A biópsia do linfonodo sentinela após tudos prospectivos que fortaleçam essa conduta no
quimioterapia neoadjuvante, inicialmente questiona- cenário da quimioterapia neoadjuvante. O ensaio clí-
da pela grande diferença entre as taxas de detecção nico randomizado de fase 3, Alliance A11202, encon-
(70-100%) e de falsos negativos (0-39%), apresenta- tra-se em fase de recrutamento e provavelmente nos
das por estudos menores, desenvolvidos em um único trará respostas, pois possui o objetivo principal de
centro, tornou-se factível a partir dos ensaios prospec- comparar a sobrevida livre de doença em 5 anos de
tivos e multicêntricos realizados98(A)99(B)100(B). pacientes com linfonodos sentinelas positivos após
Uma análise subsequente do NSABP B27 de- quimioterapia neoadjuvante submetidas a radiotera-
monstrou uma taxa de identificação e uma por- pia axilar versus dissecção axilar103(A).
centagem de falso negativo com a associação de A linfadenectomia axilar é o tratamento pa-
radioisótopo no mapeamento linfonodal de 88.9% drão para as axilas positivas após o tratamento sis-
e 10.7%, respectivamente94(B). O estudo Francês, têmico, e alta carga de comprometimento axilar ao
prospectivo, multicêntrico, The Ganglion Sentinel- diagnóstico (cN2 e cN3) permanecem com indica-
le et Chimiotherapie Neoadjuvante (GANEA), obteve ção de linfadenectomia axilar independente da res-
uma taxa de detecção de 90% e uma porcentagem posta a terapia sistêmica. Porém, axilas clinicamen-
de falso negativo de 11,5%. Destaque para o dado te positivas ao diagnóstico (cN1) e que se tornam
de ausência de diferença significativa na taxa de negativas após tratamento sistêmico primário são
falso negativo entre as pacientes com axilas ne- o foco das discussões entre os estudiosos pela pos-
gativas ou positivas antes da quimioterapia neo- sibilidade de redução da cirurgia axilar. Dois traba-
adjuvante (9,4%x15%, p=0,66). Porém, uma maior lhos expressivos foram publicados para validação
incidência de detecção do linfonodo sentinela foi do linfonodo sentinela neste cenário99(B).
encontrada entre as pacientes com axilas negativas O ensaio clínico de fase 2, American College
ao diagnóstico (94,6%x81,5%, p=0,008)101(B). of Surgeons Oncology Group (ACOSOG) Z1071, teve
467
CAP. 45 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
como objetivo principal identificar o número de fal- linfonodo sentinela removeu 3 ou mais linfonodos.
sos negativos na biópsia de linfonodo sentinela após Quando considerado marcador isolado para o mape-
a quimioterapia neoadjuvante em pacientes cN1. O amento linfonodal versus dupla marcação a taxa de
limite de falso negativo para a biópsia de 2 ou mais falso negativo caiu de 16% para 8,6%105(B).
linfonodos sentinelas pré-estabelecido pelos auto- Portanto, em conformidade com os dados
res foi de 10 %, ajustando-se ao considerado aceitá- apresentados, no cenário da quimioterapia neoad-
vel para as pacientes com axilas clinicamente nega- juvante, uma taxa de falso negativo menor ou igual
tivas. Foram alocadas setecentos e cinquenta e seis a 10% na biópsia do linfonodo sentinela é encon-
mulheres, de 136 instituições, com comprometimen- trada com o uso da dupla marcação para o mape-
to axilar (cN1 e cN2), comprovados por punção de amento linfonodal e com a remoção de 3 ou mais
agulha fina ou grossa, submetidas a quimioterapia linfonodos104(B)105(B). Apesar disso, um questiona-
neoadjuvante entre julho de 2009 e junho de 2011. mento que persiste é como retirar três linfonodos
Após a quimioterapia, as pacientes eram encami- sentinelas se na maioria das vezes um número me-
nhadas para biópsia de linfonodo sentinela seguida nor de gânglios é marcado pelo mapeamento linfo-
de linfadenectomia axilar. A taxa de falso negativo nodal? A exérese dos linfonodos palpáveis suspei-
entre as pacientes com axila N1 que tiveram 2 ou tos deve ser realizada, mas nem sempre resolverá
mais linfonodos sentinelas removidos (N= 525) foi este desafio.
de 12,3%. Considerando-se apenas 2 linfonodos sen- Não existe um consenso entre o momento
tinelas a taxa de falso negativo foi de 21,1% (IC 95% mais adequado para realização da biópsia do linfo-
13,2 – 31 e p = 0,007), com 3 ou mais sentinelas a nodo sentinela nas pacientes submetidas a quimio-
taxa reduziu para 9,1% (IC 95% 5,6-13,7 e p = 0,007). terapia neoadjuvante o que torna factível a sua rea-
Também foi verificado uma redução da taxa de falso lização antes ou após a terapia sistêmica. Porém, a
negativo com o uso de dois agentes no mapeamento realização de novo sentinela após a quimioterapia
do linfonodo sentinela. Identificou-se um falso ne- neoadjuvante em pacientes com biópsia de linfono-
gativo para agente único de 20,3 %( IC 95%11-32,8 do sentinela positiva antes da terapia sistêmica não
e p=0,05) e de 10,8% (IC95% 7,2-15,3 e p=0,05) para é validada, devido a alta taxa de falso negativo, 51%,
dupla marcação104(B). e a baixa taxa de detecção do linfonodo sentinela,
O segundo trabalho de destaque denomina-se 60%, demonstradas no braço B do SENTINA trial105(B).
Sentinel NeoAdjuvant, SENTINA, e trata-se de uma O ensaio prospectivo e multicêntrico Sentinel
coorte multicêntrica envolvendo 103 instituições Node Biopsy Following Neoadjuvant Chemotherapy,
pertencentes a Alemanha e a Áustria, desenvolvida SN FNAC, também analisou a acurácia da biópsia do
entre setembro de 2009 e maio de 2012. O trabalho linfonodo sentinela após a quimioterapia neoadju-
foi desenhado para fornecer dados de aplicabilida- vante em pacientes com biópsia prévia ganglionar
de e segurança para biópsia do linfonodo sentinela positiva. Neste estudo, o comprometimento de to-
antes ou após a quimioterapia neoadjuvante. Quatro dos os linfonodos sentinelas foram avaliados atra-
braços foram montados, sendo que no braço A e no vés da imunohistoquimica. A taxa de detecção do
braço B os linfonodos eram clinicamente negativos linfonodo sentinela foi de 87,6 % (127 de 145, com
inicialmente e nos braços C e D os linfonodos eram IC 95% 82,2 - 93%) e na ausência de identificação a
clinicamente positivos (cN1 e cN2). No braço de in- linfadenectomia axilar foi realizada. O uso da imu-
teresse, braço C, as axilas que se tornavam clinica- nohistoquimica foi determinante para uma maior
mente negativas após a quimioterapia neoadjuvante identificação de micrometástases e de células tu-
eram submetidas a biópsia de linfonodo sentinela morais isoladas. A taxa global de falso negativo foi
seguidas de dissecção axilar. Neste, a taxa de detec- de 8,4% (7 de 83, com IC95% 2,4-14,4%) com uso
ção do linfonodo sentinela utilizando a dupla marca- da imunohistoquimica e, portanto, inferior aos 10%
ção (azul patente e radioisótopo) foi de 87,8%. A taxa almejados. Considerando-se a avaliação de célu-
de falso negativo global encontrada foi de 14,2%, las tumorais isoladas e micrometástases a porcen-
mas este valor caiu para 7,3% quando a biópsia de tagem de falso negativo aumentou para 13,3%. O
468
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
trabalho não identificou correlação entre tamanho ficação do linfonodo previamente positivo em 97%
da metástase no linfonodo sentinela e número de dos casos110(B).
gânglios não sentinelas comprometidos, o que su- Diante das evidências atuais, o cenário com
gere uma reflexão quanto a necessidade ou não de menor número de falsos negativos para realização
dissecção axilar nos casos de micrometastases ou da biópsia de linfonodo sentinela em paciente com
células tumorais isoladas em linfonodos sentinelas axila positiva que tiveram resposta a quimiotera-
pós quimioterapia neoadjuvante106(B). pia neoadjuvante é o uso de dois agentes para o
Novos instrumentos têm sido utilizados na mapeamento do linfonodo sentinela associado a
busca de um estadiamento axilar mais preciso após remoção de 3 ou mais gânglios, em conjunto com
a quimioterapia neoadjuvante. A marcação com cli- o linfonodo previamente positivo marcado. No en-
pe metálico ou semente radioativa do linfonodo tanto, é importante ressaltar que estudos adicionais
previamente positivo e sua posterior exérese em são necessários para avaliação do real impacto clí-
conjunto com os linfonodos sentinelas possuem nico de linfonodos sentinelas falso negativos em
resultados animadores. Uma análise dos 171 pa- pacientes com axilas positivas que se tornam clini-
cientes pertencentes ao ACOZOG 1071 que tiveram camente negativas após a terapia sistêmica, e não
seus linfonodos positivos previamente marcados são submetidas a dissecção axilar.
revelou uma taxa de falso negativo de 6,4 % quan-
do eram removidos na biopsia de linfonodo sen- RADIOTERAPIA NA NEOADJUVÂNCIA
tinela versus 19% quando eram removidos apenas
com a dissecção axilar107(B). Atualmente, a indicação de radioterapia para
Caudle e colaboradores publicaram em abril pacientes submetidas a quimioterapia neoadjuvante
de 2016, um estudo prospectivo para implementa- é feita ao diagnóstico da neoplasia e baseia-se na
ção da dissecção axilar guiada ou dissecção axilar avaliação do risco de recidiva loco regional de cada
alvo após a quimioterapia neoadjuvante. Os auto- caso clínico, na sua apresentação111(B). A anatomia
res compararam o número de falsos negativos en- patológica cirúrgica final, não influencia na tomada
tre a remoção exclusiva dos linfonodos sentinelas de decisão e as pacientes com indicação de radiote-
e a remoção associada dos linfonodos sentinelas rapia ao diagnóstico permanecerão sendo irradiadas,
e dos linfonodos previamente positivos marcados. mesmo que obtenham resposta patológica completa
Observou-se uma taxa de falso negativo de 10,1% após a quimioterapia neoadjuvante.
na avaliação exclusiva do linfonodo sentinela e Dados retrospectivos demonstram baixas ta-
uma redução da taxa para 1,4% quando utilizada a xas de recidiva loco regional em pacientes que se
dissecção axilar guiada (LS associado ao linfonodo apresentam com tumores menores ou iguais a cin-
previamente marcado). Os linfonodos clipados não co centímetros e evoluem com resposta patológica
estavam entre os linfonodos sentinelas em 23% completa após a quimioterapia neoadjuvante111(B).
dos casos, sendo que em seis casos eles eram posi- A presença de linfonodo axilar comprometido, in-
tivos apesar de LS negativos108(B). vasão angiolinfática, grau histológico 3, extrava-
Semente radioativa iodo, I125, surgiu como samento extra capsular, subtipo triplo negativo e
uma alternativa aos clipes metálicos na marcação pacientes jovens favorecem as indicações de radio-
de linfonodos previamente positivos, mas ainda terapia apesar da ausência de dados prospectivos
está vinculada principalmente a protocolos de pes- após quimioterapia neoadjuvante111(B)112(B).
quisa, sendo alguns deles desenvolvidos no Brasil. Portanto, diferente do cenário confortável,
Dentre os pontos positivos, destaca-se a marcação baseado em ensaios clínicos randomizados para
definitiva antes da quimioterapia, a facilidade de indicação da radioterapia da mama, cadeias de dre-
remoção no ato cirúrgico com o auxílio do gama nagens e plastrão no tratamento adjuvante, a in-
probe, e sem influência na localização do linfonodo dicação de radioterapia nas pacientes submetidas
sentinela marcado pelo tecnécio, T99 109(B)110(B). Os quimioterapia neoadjuvante permanece incerto.
trabalhos iniciais demonstram uma taxa de identi- Dois ensaios clínicos, prospectivos e randomizados
469
CAP. 45 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
de fase 3 estão em andamento e serão fundamen- Kahlenberg MS, Robidoux A, et al. Preoperative
tais para o embasamento científico neste cenário, o chemotherapy: updates of National Surgical Ad-
NSABP B51 e o Alliance A11202. juvant Breast and Bowel Project Protocols B-18
O NSABP B51 avaliará se a adição de radio- and B-27. J Clin Oncol 2008;(26):778-85 [A]).
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 45
477
46
TRATAMENTO
QUIMIOTERÁPICO ADJUVANTE
DO CÂNCER DE MAMA
Palavras Chave:
Câncer; Mama; Tratamento; Quimioterapia adjuvante;
480
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 46
células)7(A), figura 1, há necessidade da avaliação pelo perfil molecular e potencial risco de cada pacien-
por testes de hibridização molecular (FISH, SISH) te. Outro ponto de grande relevância está relacionado
para determinação da positividade deste recep- ao prazo de início da quimioterapia adjuvante, vários
tor8(A). Este perfil configura um pior prognóstico estudos sugerem que o atraso no início leva a dimi-
com redução da sobrevida livre de recidiva e da so- nuição do intervalo livre de recidiva e da sobrevida
brevida global neste grupo de pacientes5(A). global. Metanálise publicada em 201310(B) e estudo
Perfil molecular do câncer mamário que não retrospectivo de 201411(B) demostram piora na efeti-
expressa receptores hormonais, e não superexpressa vidade do tratamento quimioterápico adjuvante sem-
o receptor HER2, corresponde a cerca de 15% destas pre que ultrapassa em quatro semanas o intervalo en-
neoplasias e denominado de Triplo Negativo. Apre- tre a cirurgia e início do tratamento sistêmico.
senta sobrevida global mais curta, pico das recidivas
a distância em três anos e a maioria das mortes ocor- TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO
rem até os cinco anos do diagnóstico. O perfil mole-
cular triplo negativo por IHQ corresponde na maioria TUMORES LUMINAIS
das vezes ao perfil genético Basal Like, e embora não Os tumores “Luminais A” tem baixa resposta ao
haja um consenso sobre este pontos, o painel com tratamento quimioterápico, devido a baixa prolifera-
receptores hormonais, HER2, CK 5/6 e HER1 pode ca- ção, não sendo portanto candidatos a tratamento qui-
racterizar de maneira mais fidedigna este painel9(A). mioterápico adjuvante na doença inicial, nestes casos
Ao definir a indicação da quimioterapia adju- a manipulação hormonal é o tratamento adjuvante
vante, a escolha do melhores esquema é balizado de escolha. Os tumores “Luminais B” apresentam uma
Figura 1 – Exemplos de coloração para tecido, escores 0, 1+, 2+ e 3+ (fonte: HercepTestTM – DAKO)15
481
CAP. 46 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 2 – Comparação entre os modos de infusão do taxano adjuvante no carcinoma de mama. (adaptado de Sparano JA. N England J Med. 2008;
358(16): 1663-71)14.
482
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 46
cina, sugerindo que possa ser a melhor opção nestas um ano de uso), TCH (docetaxel + carboplatina + tras-
pacientes27(B), dados respaldados pelo estudo Plan- tuzumab cada 21 dias x 6, seguido de trastuzumab
B18(A) inclusive para pN0-1 com baixo risco genômi- cada 21 dias até completar um ano)25(A)30(A).
co (Oncotype DX ≤11 ou Ki-67 >10% <40%). Nas pacientes com tumores entre 0,6 - 1 cm
(T1b) com linfonodos negativos a utilização da qui-
HER2 mioterapia adjuvante pode ser considerada, em-
bora dados sejam ainda conflitantes, mas estudos
Pacientes portadoras de tumores HER2 su- recentes demonstram vantagem tanto na recidiva
perexpressos (positivos por IHQ 3+ ou FISH/SISH local como a distância. Neste caso a utilização de
positivos)28(A) apresentam pior prognóstico quanto esquema quimioterápico com paclitaxel semanal
sobrevida livre de recidiva e sobrevida global29(B), e associado a trastuzumab por 12 semanas, seguido
devem receber tratamento adjuvante com quimio- de trastuzumab cada 21 dias até completar um ano
terapia associada a terapia com anticorpo monoclo- seria a melhor opção com a mesma resposta espe-
nal anti-HER2 trastuzumab (terapia alvo molecular rada associada a menor toxicidade31(A)32(B).
contra o domínio extracelular da proteína HER2), e O efeito colateral mais significativo do trastuzu-
manter o anticorpo após o término da quimiotera- mab é a cardiotoxicidade levando a comprometimen-
pia até completar um ano30(A). Esta estratégia de to da contratilidade miocárdica, efeito potencializado
tratamento reduziu em 12% o risco de recidiva e em quando do uso sequencial e principalmente concomi-
33% a mortalidade em três anos de seguimento na tante com antracíclico. Tem caráter reversível quando
publicação que validou o uso deste esquema30(A). da suspensão da medicação. As usuárias desta medica-
Estudos de não inferioridade estão em curso para ção devem ser monitoradas com ecocardiografia antes
determinar o tempo ideal de uso do bloqueio HER2, do início da terapia e a cada quatro ciclos, e interrom-
mas dados ainda não são suficientes pra mudar a perem o tratamento sempre que a fração de ejeção do
conduta padrão (ClinicalTrial.gov). ventrículo esquerdo caia abaixo de 57%30(A).
Portadoras de tumores maiores que 1 cm (T1c) e Pertuzumab , um anticorpo monoclonal humani-
/ ou com linfonodo acometido pela neoplasia (mesmo zado e o primeiro da classe dos agentes chamados ini-
que com microinvasão) são elencadas para quimiote- bidores de dimerização HER2, prejudica a capacidade
rapia adjuvante associada a um ano de trastuzumab. de HER2 para se ligar a outros membros desta família.
Os esquemas preferenciais utilizados seriam AC-TH Ele tem um mecanismo único e complementar da ação
(doxorubicina + ciclofosfamida cada 21 dias x 4, se- em comparação com trastuzumab, e a combinação re-
guido de 12 semanas de paclitaxel + trastuzumab, sultou no bloqueio aumentado da via de sinalização
mantendo trastuzumab cada 21 dias até completar HER33(A). A adição de pertuzumab na terapia adjuvan-
Figura 3 – Taxa de resposta completa em QT neoadjuvante, com e sem uso de carboplatina (adaptado de von Minckwitz. Lancet Oncol. 2014; 15(7): 747-56).
483
CAP. 46 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
te, determinando o duplo bloqueio do HER2, mostrou recidiva e na sobrevida global, favorecendo o esque-
significância estatística, embora marginal no estudo ma sequencial pela menor toxicidade. O uso de dose
fase III, APHINITY, com melhor sobrevida livre de recidi- densa favoreceu maior sobrevida livre de recidiva no
va em pacientes com receptores hormonais negativos estudo SWOG S022138(A)39(A).
e axila positiva34(A). A análise farmaco-econômica da Nas pacientes submetidas a quimioterapia neoad-
utilização deste esquema com duplo bloqueio Tras- juvante que não alcançaram a resposta patologia com-
tuzumab + Pertuzumab, determinou críticas pelo bai- pleta, a adição de quimioterapia adjuvante com capeci-
xo ganho associado a expressivo aumento do custo do tabine foi responsável por aumento da sobrevida livre de
tratamento35(D). Estudos utilizando outros bloqueado- recidiva e da sobrevida global no estudo CREATE-X40(A).
res do HER2 ainda não conseguiram demonstrar dados Embora não desprovida de efeitos adversos esta estraté-
que possibilitem a sua utilização na adjuvância. gia deve ser discutida neste grupo de pacientes.
Os casos HER2 positivos com expressão de A presença da mutação BRCA1/2 em aproxima-
receptores hormonais (LUMINAL-HER) devem ini- damente um quinto dos casos dos tumores triplo nega-
ciar a hormonioterapia adjuvante logo após o tér- tivos, caracteriza-se pela perda da estabilidade genô-
mino do quimioterápico e mantê-la concomitante mica e de alguns pontos críticos da regulação do reparo
ao uso do anticorpo anti-HER25(C)25(A). do DNA. Estas características genômica demonstraram
em estudos pré-clínicos uma sensibilidade aumenta-
TRIPLO NEGATIVO ( TN ) da aos agentes platinantes41(C). Fazendo a transposição
dos resultados em estudos para quimioterapia neoad-
Na programação do tratamento quimioterápico juvante, avaliamos os resultados preliminares do estu-
adjuvante neste grupo de pacientes faremos a análise do Geparsixto que suportam a hipótese de benefício
individual dos tumores até 1 cm, tumores > 1 cm e destas pacientes portadoras da mutação com o uso da
pacientes com mutação BRCA1/2 (cerca de 19,5% das carboplatina. Utiliza-se o esquema com Carboplatina +
portadoras de tumores triplo negativo apresentam a Paclitaxel (semanal x 12) seguido de AC (doxorubicina
mutação, portanto mulheres deste grupo com menos + ciclofosfamida, cada 21 dias x 4)42(A). (Figura 3)
de 60 anos devem ser pesquisadas36(B)). As perspectivas futuras caminham para o de-
Tumores entre 0,6 – 1 cm, com linfonodos nega- senvolvimento de drogas alvo moleculares nos tu-
tivos, apresentam risco intermediário de recorrência mores triplo negativos, ainda um desafio na oncolo-
e morte, portanto a utilização de quimioterapia adju- gia mamaria. Nos tumores portadores de mutação do
vante pode ser considerada e individualizada, embora gene BRCA os inibidores da enzima poly ADP ribose
não haja comprovação da efetividade em todos as pa- polymerase (PARP) e da antiprogrammed death
cientes com tumores subcentimétricos, sendo neces- receptor-1 (PD-L1) surgem como esperança nesse
sário estudos para identificar sub-grupos que possam subtipo molecular de acordo com estudos realizados
obter o benefício da quimioterapia37(B). O esquema na doença metastática43(C).
com TC (docetaxel e ciclofosfamida) tem uma boa re-
lação risco / efeitos colaterais e benefício25(A)27(A). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Todos as pacientes portadoras de tumores
maiores que um centímetro e / ou com linfonodos 1. Olivotto IA, Bajdik CD, Ravdin PM, Speers
comprometidos devem ser submetidas a tratamento CH, Coldman AJ, Norris BD, Davis GJ, Chia
quimioterápico adjuvante. Entre os vários esquema SK, Gelmon KA. Population-based valida-
preconizados a escolha entre TAC (docetaxel + do- tion of the prognostic model ADJUVANT!
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densa) ou AC-Docetaxel (doxorubicina + ciclofosfa- E, Schmidt ML, et al. PREDICT plus: develo-
mida, cada 21 dias x 4, seguido Docetaxel cada 21 pment and validation of a prognostic mo-
dias x 4) seriam semelhantes em sobrevida livre de del for early breast cancer that includes
484
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 46
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CAP. 46 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
486
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 46
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487
47
TERAPIA ALVO EM
HER2 POSITIVO - NEO
E ADJUVANTE
Palavras Chave:
Neoplasias da mama, Quimioterapia adjuvante
Tabela 1:Principais ensaios clínicos de quimioterapia adjuvante associa- Tabela 1: Principais ensaios clínicos de quimioterapia adjuvante com
dos com trastuzumabe sequencial trastuzumabe simultaneos
490
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 47
491
CAP. 47 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
de neratinibe, um inibidor de proteína quinase pan apropriados para a terapia neoadjuvante se a ci-
HER foi desenhado, com base na identificação de rurgia conservadora da mama não é possível por
HER2-positivo hormônio-receptor negativo. A evo- apresentar resultado cosmético abaixo do ideal,
lução do sequenciamento genético mais completo devido à localização do tumor ou de sua relação
poderá melhor caracterizar a doença micrometas- com o volume mamário ou nos pacientes com tu-
tática e ajudar no entendimento dos mecanismos mores pequenos em que o seu subtipo biológico
heterogêneos e da dinâmica tumoral para fornecer está associado com uma elevada probabilidade de
melhores opções de seleções de pacientes que pos- resposta (isto é, o receptor HER2-positivo RE nega-
sam se beneficiar de novas opções terapêuticas.32,33 tivos ou HER2-negativos e RE /RP negativos isto é
triplo negativo.24
A SELEÇÃO DOS PACIENTES Câncer de mama e gravidez pode também ter
sua indicação para terapia neoadjuvante após o pri-
Elegibilidade para a cirurgia primária – A pos- meiro trimestre de gestação, pois além da possibi-
sibilidade de operar um tumor da mama apresenta lidade de preservar a mama estamos antecipando o
importante critério na seleção de pacientes para tratamento sistêmico.
tratamento neoadjuvante. Historicamente, a QT
neoadjuvante ficou restrita aos pacientes com cân- AVALIAÇÃO PRÉ -TRATAMENTO
cer de mama localmente avançado, mas hoje é tam-
bém indicada para aquelas com câncer da mama Antes da QT neoadjuvante ser administrada,
operável em um esforço para melhorar os resulta- a marcação prévia do tumor deverá ser realizada
dos estéticos após a cirurgia. através da colocação de clipes metálicos, tatuagens
Doença Inoperável - Pacientes com câncer de cutâneas ou marcação com carvão com objetivo de
mama localmente avançado (IIIA-IIIC estágio clíni- identificar o tumor após o tratamento sistêmico no
co) são candidatas ideais para terapia neoadjuvan- momento da cirurgia considerando que muitos tu-
te porque devido a extensão da lesão muitas ve- mores podem desaparecer ou restar muito pouco, e
zes não ser possível ressecção inicial, muito menos a identificação prévia torna-se necessária para faci-
de conservação da mama. Pacientes com tumores litar o procedimento cirúrgico e anatomopatológico.
maiores que 5 cm, a terapia neoadjuvante tem sido A possibilidade de avaliação axilar com punção por
a primeira abordagem. agulha fina guiada por ultrassonografia tem sido de
Doença operável - Pacientes com câncer de grande utilidade para estagiar axila previamente à
mama em estágio inicial (I ou II) são candidatos terapia neoadjuvante.30
492
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 47
Nas situações de axilas clinicamente negati- los C, et al. c-erbB-2 related aggressiveness
vas, a biópsia do linfonodo sentinela (LS) pode ser in breast cancer is hypoxia inducible factor-
realizada antes da QT neoadjuvante para poupar -1alpha dependent. Clin Cancer Res 2004;
a remoção axilar nos casos de LS negativos. Se a 10:7972.
biópsia do LS for positiva, a continuação do trata- 6. Slamon DJ, Clark GM, Wong SG, et al. Human
mento dependerá do resultado após quimioterapia breast cancer: correlation of relapse and sur-
neoadjuvante. vival with amplification of the HER-2/neu on-
A terapia neoadjuvante é mais apropriada cogene. Science 1987; 235:177.
para pacientes que possam ter uma boa resposta 7. Yaziji H, Goldstein LC, Barry TS, et al. HER-2
locorregional, independentemente do tamanho do testing in breast cancer using parallel tissue-
tumor na apresentação. Isto compreende aqueles -based methods. JAMA 2004; 291:1972.
com HER2-positivos ou triplo negativos.13 Em con- 8. Owens MA, Horten BC, Da Silva MM. HER2
traste, os pacientes com receptor de estrogénio (ER) amplification ratios by fluorescence in situ
-positivas, HER2-negativo tem menor probabilida- hybridization and correlation with immu-
de de ter uma resposta patológica completa à qui- nohistochemistry in a cohort of 6556 breast
mioterapia primária e respondem razoavelmente cancer tissues. Clin Breast Cancer 2004; 5:63.
bem a hormonioterapia. 14 Portanto, até que possa- 9. Fisher, B. et al. Effect of preoperative chemo-
mos identificar subgrupos de pacientes ER-positi- therapy on the outcome of women with ope-
vo HER2-negativo, os tumores triplos negativos e rable breast cancer. J. Clin. Oncol. 16, 2672–
HER2 positivos são as lesões mais susceptíveis à 2685 (1998).
estratégia de neoadjuvância quimioterápica, mas 10. Baselga J, Bradbury I, Eidtmann H, Di Cosimo S,
não invalida que tal opção seja oferecida aos pri- de Azambuja E, Aura C, et al. NeoALTTO Study
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CAP. 47 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 47
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48
HORMONIOTERAPIA NEO
E ADJUVANTE
Palavras Chave:
Neoplasias da mama. Antineoplásicos hormonais. Terapia neoadjuvante.
Terapia de alvo molecular.
498
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 48
de resposta clínica podem ser observadas na Tabela em relação aos esquemas de quimioterapia neoad-
1. Já entre os IAs, não houve diferença significati- juvante, especialmente entre os tumores triplo-ne-
va entre os grupos avaliados no estudo prospecti- gativos ou com superexpressão de HER2. De forma
vo ACOSOG Z-1031, que comparou a utilização de semelhante, observam-se resultados conflitantes na
Letrozol, Anastrozol e Exemestano por quatro me- avaliação do índice proliferativo Ki67 após a endo-
ses antes da cirurgia e observou taxas de resposta crinoterapia neoadjuvante.19(B) Assim, as assinaturas
clínica de 74,8%, 69,1% e 62,9%, respectivamen- genéticas podem representar uma alternativa efeti-
te.24(A),25(B) Entretanto, uma meta análise recente va na predição de resposta, conforme observado em
avaliando diversos esquemas de endocrinoterapia um estudo recente que utilizou o OncotypeDx® em
neoadjuvante observou maior taxa de resposta clí- mulheres tratadas com Exemestano por 24 semanas.
nica objetiva em pacientes usuárias de Letrozol e Nesse estudo, observou-se maior taxa de resposta
Everolimus, um inibidor da via de sinalização PI3K/ clínica completa em pacientes com Recurrence Score
mTOR.18(A),26(A) (RS) baixo em relação às portadoras de RS elevado
A avaliação de fatores preditivos de resposta (59,4% vs 20,0%, respectivamente; p = 0,015). Ainda,
e de desfechos primários após a endocrinoterapia houve correlação significativa entre o RS e a redução
neoadjuvante também permanece incerta. Por exem- tumoral e a taxa de cirurgias conservadoras após o
plo, a taxa de resposta patológica completa não cons- tratamento neoadjuvante.27(A)
titui um critério prático para a avaliação de resposta, Entre os fatores prognósticos relacionados à
em decorrência da menor ocorrência desse desfecho neoadjuvância, deve-se destacar o Preoperative
Tabela 1: Ensaios clínicos randomizados comparando diferentes regimes de endocrinoterapia neoadjuvante. (RO: resposta objetiva.)Adaptado de Barro-
so-Sousa R, et al. (2016)18.
499
CAP. 48 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Endocrine Prognostic Indexscore (PEPI), desen- prévia, a maioria dos experts recomendou Tamoxife-
volvido a partir de uma amostragem do estudo P024 no isolado. Por outro lado, considerando uma mulher
e validado posteriormente na população do estudo de 34 anos de idade, portadora de tumor grau III e
CONFIRM.28(B) Esse score utiliza as variáveis tama- de comprometimento axilar, a qual permaneceu na
nho tumoral, status linfonodal, expressão de RE e pré-menopausa após a quimioterapia prévia, a maio-
de Ki67; e portadores de score 0 possuem melhores ria dos experts recomendaria Exemestano associado
taxas de resposta à endocrinoterapia neoadjuvante à supressão da função ovariana (SFO).8(D) Por fim, o
e desfechos clínicos favoráveis na avaliação à lon- Painel recomendou a inclusão da SFO em pacientes
go prazo. Dessa forma, em pacientes com tumores com idade inferior a 35 anos; cujos níveis de estro-
Luminais A submetidas a endocrinoterapia neoad- gênio permaneceram significativos após a quimio-
juvante, o score PEPI pode auxiliar na tomada de terapia; ou naquelas portadoras de quatro ou mais
decisão acerca da quimioterapia adjuvante.19(B)28(B) linfonodos axilares comprometidos.8(D)
Para pacientes na pré-menopausa, apenas o As recomendações do Consenso de St Gallen
estudo STAGE avaliou a eficácia da endocrinote- (2015) em relação à endocrinoterapia na pré-me-
rapia neoadjuvante, comparando a utilização de nopausa foram baseadas nos estudos SOFT e TEXT,
Anastrozol ou Tamoxifeno, ambos em associação cujos resultados finais foram publicados recentemen-
com Goserelina. Nesse estudo, o Anastrozol foi su- te.8(D),33-35(A) Na análise combinada dos dois estudos,
perior ao Tamoxifeno em todas as taxas de resposta observou-se aumento na sobrevida livre de doença
objetiva. Ainda, houve benefício nas taxas de cirur- entre as usuárias de Exemestano e SFO em relação
gias conservadoras após 24 semanas de tratamen- às usuárias de Tamoxifeno e SFO (91,1% vs 87,3%,
to (86% vs 68%).29(A) Dessa forma, novos estudos p<0,001). Não obstante, observou-se uma redução
prospectivos devem ser realizados para a avaliação relativa de 34% no risco de recorrência da doença
de estratégias de endocrinoterapia neoadjuvante entre as usuárias da combinação IA + SFO.33(A)
em mulheres na pré-menopausa. Em mulheres na pré-menopausa portadoras
de tumores Luminais, a utilização de Tamoxifeno
HORMONIOTERAPIA ADJUVANTE NA permanece uma recomendação padrão apesar dos
PRÉ - MENOPAUSA resultados favoráveis com a utilização de IAs e
SFO.8(D) Entretanto, a associação entre Tamoxifeno
Em estudos clássicos conduzidos nas últimas e SFO permanece incerta. Em um estudo randomi-
décadas, observou-se que mulheres na pré-meno- zado que incluiu mulheres portadoras de tumores
pausa portadoras de tumores Luminais apresentam pequenos e com axilas livres, não houve benefício
pior prognóstico em relação às mulheres na pós-me- na sobrevida global e na sobrevida livre de doen-
nopausa30(B),31(B), possivelmente em decorrência de ça com o acréscimo da SFO ao Tamoxifeno. Ainda,
maior resistência à terapia endócrina.31(B) Nesse con- observou-se maior incidência de eventos adversos
texto, a utilização de Tamoxifeno reduz a recorrência e e redução na qualidade de vida no grupo de mulhe-
a mortalidade independentemente da idade e do aco- res submetidas à SFO.36(A) Já na avaliação de sobre-
metimento axilar, em pacientes com receptores hor- vida livre de doença do estudo SOFT, a associação
monais positivos.13(D),32(A) Os benefícios também são de Tamoxifeno e SFO foi superior ao Tamoxifeno
independentes da utilização de quimioterapia32(A), isolado apenas entre as mulheres com alto risco
com resultados favoráveis em associação com diver- de recorrência, as quais receberam quimioterapia e
sos esquemas terapêuticos.11(D),13(D),32(A) permaneceram na pré-menopausa.34(A) Dessa for-
Durante a 14ª St. Gallen Breast Cancer Conferen- ma, uma revisão recente conduzida pela American
ce (2015), as recomendações para endocrinoterapia Society of Clinical Oncology (2016) recomendou a
adjuvante na pré-menopausa foram contextualiza- adição de SFO ao Tamoxifeno apenas em pacientes
das em dois cenários distintos. Em um perfil de pa- portadoras de alto risco para recorrência ou naque-
ciente com 42 anos de idade, portadora de doença las com estadiamento II ou III e que permaneceram
pT1pN0, com grau histológico II e sem quimioterapia na pré-menopausa após a quimioterapia.37(B)
500
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 48
Figura 1 – Paciente na pós-menopausa, portadora de carcinoma ductal invasor localmente avançado, com comprometimento de todo o quadrante superior
lateral e comprometimento do complexo aréolo-mamilar da mama esquerda. 1.A) Nota-se lesão cutânea ulcerada, de bordas mal definidas, associada à re-
tração dos tecidos adjacentes. 1.B) Após seis meses do uso de Letrozol neoadjuvante, observou-se a cicatrização da úlcera cutânea e resposta clínica parcial.
501
CAP. 48 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
502
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 48
503
CAP. 48 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
504
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 48
505
49
NOVAS
TERAPIAS ALVO
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Terapia de Alvo Molecular, Quimioterapia
ANDRÉ MATTAR
Doutor em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Diretor do Núcleo de Oncologia Clínica do Hospital Perola Byington (Centro de Referência da
Saúde da Mulher)
ROBERTO HEGG
Livre Docente pela Universidade de São Paulo (USP)
Diretor do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Perola Byington (Centro de Referência da
Saúde da Mulher)
CAP. 49 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
508
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 49
ANTAGONISTA DO RECEPTOR DE
ESTROGÊNIO
509
CAP. 49 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
VIA DA CICLINA
510
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 49
Figura 7: Análise local e central no intervalo livre de doença no estudo Bolero 2,8.
Figura 8: Sobrevida Global no estudo Bolero 2,8 Figura 9: Desenho do estudo Bolero 6,9
estudo fase 2 (Paloma 1) associado ao com o uso de relação a intervalo livre de doença 11(A) – Figura 10.
Letrozol versus Letrozol sozinho em pacientes em Na segunda linha o Palbociclibe foi avaliado
primeira linha de tratamento chegando a conclusão em associação com Fulvestranto versus Fulvestran-
que a combinação das drogas foi mais efetiva em to isolado (Figura 11)12(A).
511
CAP. 49 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 10: Intervalo Livre de doença no estudo Paloma 1,11 Figura 11: Desenho do estudo Paloma 3,12
Chegou-se também à conclusão que a com- pela produção da proteína HER2, é um proto-onco-
binação das drogas aumenta significantemente o gene. Tal como foi referido, a proteína HER2 tem um
intervalo livre de doença12(A) – Figura 12. papel regulador nas células com funcionamento
Novos inibidores de ciclina como o Riboci- normal. Na amostra de tecido mamário, deverá ser
clibe (LEE0011) estão sendo avaliados em estudos analisado e pesquisado o aumento (ou sobre-ex-
prospectivos13, alguns inclusive na pré-menopausa pressão) do receptor HER2 (existente na membrana
ainda sem resultados finais14(A). das células tumorais), ou do gene HER2/neu. Esta
alteração corresponde a um subtipo específico de
HER 2 POSITIVO câncer de mama, atualmente denominado câncer
de mama HER2 positivo (HER2+); este aumento é
HER2 é a abreviatura de “Human Epidermal detectado, nos tecidos, por uma técnica laboratorial.
growth factor Receptor-type 2”, ou seja, receptor O proto-oncogene HER2 codifica um receptor trans-
tipo 2 do factor de crescimento epidérmico huma- membrana do fator de crescimento da tirosina, cuja
no. Em quantidades normais, esta proteína tem um expressão se encontra, frequentemente, aumenta-
papel importante no crescimento e desenvolvimen- da no câncer de mama e noutros tipos de tumores
to de uma vasta categoria de células, designadas sólidos. Em ambiente laboratorial, o aumento da
por células epiteliais. Estas células constituem o expressão do HER2 origina uma transformação on-
revestimento interno e externo do organismo, bem cogênica e um comportamento tumoral mais agres-
como o tecido glandular. O gene HER2, responsável sivo. Na clínica, muitos estudos demonstraram que
512
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 49
o aumento da expressão do HER2 está associado a las15(B). Estudos clínicos em pacientes HER2 positivas
um pior prognóstico. concluíram que o uso de trastuzumabe em associação
com quimioterapia é superior ao uso de quimioterapia
O HER2 COMO ALVO TERAPÊUTICO isolada com aumento significativo da sobrevida tanto
na doença metastática16(A) – figura 13, quanto na adju-
Sabe-se agora que para além do seu valor vância17(A) – figura 14.
prognóstico e preditivo, o HER2 é um alvo antineo-
plásico específico e muito promissor. O fundamento LAPATINIBE ( TYKERB R)
para atingir o HER2 numa estratégia antineoplásica
é interessante, uma vez que o aumento da expres- O Lapatinibe é um inibidor dos receptores
são do HER2 resulta numa transformação oncogê- HER 1 (EGFR) e HER 2 que atua de maneira intra-
nica e num comportamento clínico mais agressivo. celular. É uma molécula pequena que ultrapassa a
Foram investigadas uma grande diversidade de membrana celular e se liga na parte intracelular do
abordagens terapêuticas, incluindo o anticorpo mo- receptor (inibidor de tirosinoquinase), prevenindo a
noclonal dirigido ao domínio extracelular do recep- proliferação celular (Figura 15)18.
tor do HER2, os inibidores da tirosina quinase, abor- O Lapatinibe é indicado atualmente em com-
dagens pouco convencionais e vacinas. Os estudos binação com a capecitabina em pacientes com
realizados com anticorpos monoclonais, quer isola- câncer de mama avançado ou metastático que pro-
dos quer em associação com agentes quimioterá- grediram anteriormente com antracíclicos taxanes
picos convencionais, demonstraram a existência de e trastuzumabe. Esta indicação foi baseada no es-
marcada atividade pré-clínica e clínica nos tumores tudo que randomizou este tipo de pacientes para
acompanhados do aumento da expressão do HER2. receberem Capecitabina com Lapatinibe ou apenas
Capecitabina mostrando um beneficio com a com-
TRASTUZUMABE ( HERCEPTIN R) binação das drogas19(A) - Figura 16.
O lapatinibe foi estudado também em pa-
O trastuzumabe foi o primeiro anticorpo mono- cientes com doença metastática que progrediram
clonal a ser utilizado no bloqueio da via Her2. Atua em tratamentos prévios contendo trastuzumabe
no subdomínio IV extracelular inibindo a proliferação para receberem a associação de trastuzumabe com
celular através da redução da sinalização intracelular lapatinibe ou lapatinibe como monoterapia. Os re-
mediada por HER, ativa a citotoxicidade celular depen- sultados foram favoráveis a combinação das dro-
dente de anticorpos (ADCC), bloqueia a clivagem de gas com aumento significativo de intervalo livre de
HER2 e previne ativação de seu domínio extracelular doença (Figura 17) 20(A).
diminuindo a proliferação exacerbada nestas célu-
Figura 14: Intervalo Livre de Doença (A) e Sobrevida Global (B) com o uso
de quimioterapia associada a trastuzumabe na adjuvância 17. Figura 15: Mecanismo de ação do Lapatinibe18.
513
CAP. 49 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
PERTUZUMABE ( PERJETA R)
T- DM1 ( KADCYLA R)
514
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 49
BEVACIZUMABE (AVASTIM R)
IMUNOTERAPIA
515
CAP. 49 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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516
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 49
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CAP. 49 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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518
50
MANEJO DA
PACIENTE
METASTÁTICA
Palavras Chave:
Metastatic breast cancer, primary tumor resection
Figura 1. Curva de SG em 5 anos nas pacientes CMM submetidas às mastectomias e cirurgias conservadoras comparadas com as sem cirurgias (Khan SA
et al. 2002).
520
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 50
Figura 2. Curvas de SG em 5 anos das pacientes com CMM em relação às margens cirúrgicas. (Khan SA et al. 2002).
pósitrons acoplada à tomografia computadorizada à SG de 26 meses para as sem cirurgias (HR = 0,63
(PET-CT) têm elevado cada vez mais o diagnóstico IC 95%:0,60-0,66) com uma ganho de SG de 37%
de pacientes com oligometástases e assintomáti- com significância estatística.10(C). A grande maioria
cas, resultando em tratamentos mais precoces com dos estudos retrospectivos publicados apresenta
menores cargas tumorais nas metástases em as- um importante viés de seleção, onde as pacientes
sociação aos tratamentos sistêmicos mais efetivos elegíveis para o tratamento cirúrgico eram jovens,
têm-se transformado os CMM de doenças letais às com poucos sítios de metástases e na maioria com
doenças crônicas controláveis.7,8(C). doenças ósseas com expressão de receptores hor-
Assim, muitos questionamentos referentes monais (RH) positivos, ou seja, pacientes com doen-
aos reais benefícios dos tratamentos locorregionais ças indolentes que apresentariam melhores prog-
do TP nas pacientes com CMM têm sido feito. Um nósticos, independente do tratamento cirúrgico.
dos primeiros questionamento nesse sentido foi Quando comparamos esses estudos retros-
feito por Khan SA et al. 2002, que após avaliarem pectivos com um estudo com a mesma metodo-
retrospectivamente os dados de 16.023 pacientes logia, mas que fizeram uma análise de regressão
com CMM, onde 9.162 (57,2%) pacientes foram sub- comparando as idades, o número de sítios das me-
metidas às cirurgias do TP obtiveram uma redução tástases, as expressões de RH e HER-2, os autores
de risco de morte de 39%, como observado na Fi- observaram uma SG de 3,4 anos para as pacientes
gura 1. sem cirurgias contra 3,5 anos para as pacientes
Na Figura 2 os autores também ressaltaram a com cirurgia (HR = 0,94 IC 95%: 0,83-1,08 p=0,38)
importância da obtenção das margens livres, com sem significância estatística.11(C). Ruiterkamp et al.
impacto estatisticamente significativo na sobrevida 2010 como observado na Figura 3, em uma revisão
global (SG), sendo que as SG foi de 35%, 26% e 17%
em 36 meses para as pacientes que tiveram mar-
gens livres, margens comprometidas e que não fi-
zeram cirurgia, respectivamente com p<0,0001.9(C).
Vários estudos retrospectivos foram publica-
dos, onde é destacado o de Gnerlich et al. 2007 que
em uma análise retrospectiva de 15 anos do banco
de dados de SEER, foram avaliados num total de
9.734 pacientes, sendo 4.578 (47%) submetidas a
tratamento cirúrgico e 5.156 (53%) sem tratamento Figura 3. Meta-análise de dez estudos retrospectivos referentes às ci-
cirúrgico foram observados uma SG de 36 meses rurgias do TP e a obtenção de margens livres nas pacientes com CMM.
(Ruiterkamp et al. 2010).
para as pacientes com cirurgias, quando comparado
521
CAP. 50 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
522
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 50
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regionais (TLR) e 177 não receberam tratamento lo- SEER data submission, posted to the SEER
corregionais (NTLR), após um seguimento médio de web site, April 2016.
23 meses a SG foi de 19,2 meses para as pacientes 4. Schmidt-Kittler O, Ragg T, Daskalakis A, Granzow
com TLR, contra 20,5 meses para as pacientes que M, Ahr A, Blankenstein TJ, et al. From latent
NTLR (HR = 1,04 IC 95%: 0,81-1,34 p=0,79). Como disseminated cells to over metastasis: genetic
observado na Figura 4, os autores concluíram que analysis of systemic breast cancer progression.
não há evidências para sugerir o tratamento locor- Proc Natl Acad Sci USA. 2003;100(13):7737-
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fechado em 281 pacientes e os dados foram atua- Namer M, Barrelier A, et al. Breast cancer
lizados na American Society of Clinical Oncology - with synchronous metastases: trend in sur-
ASCO 2016, como destacado na Figura 5, existem vival during a 14 year period. J Clin Oncol.
tendências de benefícios nas pacientes RH positi- 2004;22(16):3302-3308.
vos, HER-2 negativos, jovens (<55 anos) e com me- 7. Weogelt B, Glas AM, Wessels LF, Witte-
tástase óssea isolada.16(A) veen AT, Peterse JL, van´t Veer LJ. Gene ex-
pression profiles on primary breast tumors
CONCLUSÃO maintained in distant metastases. Proc Natl
Acad Sci USA. 2003;100(26):15901-15905.
O tratamento cirúrgico do TP nas pacientes 8. Khan SA, Steward AK, Morrow M. Does
com CMM ainda é controverso, existindo vários es- aggressive local therapy improve survi-
tudos retrospectivos, inclusive com meta-análises val in metastatic breast cancer? Surgery.
que a maioria apontou benefícios do tratamento 2002;132(4):620-627.
cirúrgico em relação à SG7-13(C), dos cinco estudos 9. Gnerlich J, Jeffe DB, Deshpand AD, Beers C,
prospectivos e aleatorizados, apenas um foi publi- Zander C,Margenthaler JA. Surgical removal
cado, não demonstrando benefício da cirurgia15(A) e of the primary tumor increases overall survi-
outro atualizado na ASCO 2016 com tendências de val in patients with metastatic breast cancer:
benefícios favoráveis à cirurgia para determinados analysis of the 1988 – 2003 SEER data. Ann
subgrupos.16(A). Surg Oncol. 2007;14(8):2187-2194.
10. Dominici L, Najita J, Hugles M, Niland J, Marcom
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523
CAP. 50 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
524
51
CUIDADOS
PALIATIVOS
Palavras Chave:
Cuidado Paliativo; Tratamento Paliativo; Câncer de Mama; Sistema de Saúde;
Terminalidade; Fase Final da vida
526
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 51
Deste modo, pela relevância e importância do físicos, psicológicos e espirituais”. Este conceito pode
tema, ainda pouco ensinado nas escolas médicas, trazer certa dificuldade de entendimento por grande
com exceções, e com menor importância nos con- parte dos profissionais da saúde, que confundem doen-
gressos e jornadas de mastologia, o objetivo deste ça em progressão ou em fase final da vida, porém os CP
capítulo se torna muito importante para apresentar devem ser entendidos como apropriados para qualquer
ao mastologista e solidificar conceitos, abordar a idade ou fase da doença, inclusive em doenças crônicas
integração entre as equipes interdisciplinares para de difícil controle e, podem ser oferecidos, também, na
um adequado atendimento às pacientes com câncer fase do tratamento curativo10(B)11(D).
de mama, principalmente, quando em progressão e O objetivo do cuidado paliativo é antecipar,
na fase de incurabilidade da doença. Complementa prevenir e reduzir o sofrimento do paciente e seus
o objetivo primário deste capítulo o de apresentar familiares e manter a melhor qualidade de vida in-
bases científicas em uma área que, por vezes, acre- dependente do estágio da doença ou da necessi-
ditava-se ser subjetiva e exclusiva de uma relação dade de outros tratamentos. Por isso, pode-se ou
humanística, quando não piedosa. E, também, pro- deve-se iniciar no momento do diagnóstico e se
põe apresentar alguns dados de nossa experiência torna o foco principal do cuidado quando os tra-
adquirida, de estudo nesta área, com abordagem tamentos dirigidos à doença que prolongam a vida
não apenas ética e humana, mas também, cienti- não são mais efetivos, apropriados ou desejados(11).
ficamente, comprovada e reprodutível da forma de E, estudos recentes demonstram benefício na qua-
atendimento em assistência contínua, paliativa e lidade de vida de pacientes com abordagens mais
domiciliar em instituição de serviço público da ci- precoces(10,12). O Instituto Nacional do Câncer do
dade de São Paulo, com atendimento exclusivo de Brasil (INCA) em seu protocolo sobre CP estabelece
pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). que esta abordagem para o câncer de mama deve
abranger os princípios gerais dos CP11(D):
CONCEITUAÇÃO - Fornecer alívio da dor e de outros sintomas
estressantes como astenia, anorexia, dispnéia e ou-
Câncer é um importante problema de saúde tras emergências oncológicas.
pública, e com o aumento da expectativa de vida e - Reafirmar vida e morte como processos naturais.
do envelhecimento da população mundial, nos di- - Integrar os aspectos psicológicos, sociais e es-
ferentes continentes, é projetado dramático acrés- pirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente.
cimo dos números de casos novos e mortes pela - Não apressar ou adiar a morte.
doença, particularmente, nos países de média e bai- - Oferecer um sistema de apoio para ajudar a
xa renda. É imperativo que o planejamento come- família a lidar com a doença do paciente, em seu
ce agora, e não apenas para os casos já existentes, próprio ambiente.
mas também para o grande número esperado para - Oferecer um sistema de suporte para ajudar
o futuro, incluindo-se a prevenção, detecção preco- os pacientes a viverem o mais ativamente possível
ce, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados até sua morte.
paliativos. Os serviços de CP permanecem inade- - Usar uma abordagem interdisciplinar para
quados e representam, em determinados países, acessar necessidades clínicas e psicossociais dos
área distante da prioridade, como apresentado no pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamen-
relatório de World Cancer Report, 201416(C). to e suporte ao luto.
A epígrafe geral de definição da OMS8(D) e re-edi- O objetivo, como exposto, deste capítulo é o de
tada em 2015 sobre CP estabelece: “Cuidado Paliativo é conceituar, definir terminologia e apresentar dados
uma abordagem que promove a qualidade de vida dos atualizados da literatura especializada e, apesar de
pacientes e de seus familiares perante as doenças que não ser o escopo deste manual faremos observações
ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção que ajudarão o entendimento da amplitude da prá-
e alívio do sofrimento, por meio de identificação preco- tica da medicina paliativa ou mais especificamente
ce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas, dos CP, já bem qualificada por equipes atuantes, in-
527
CAP. 51 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
ternacionalmente. Esta área de atuação não é uma da doença sobre o bem-estar do paciente. É parte in-
prerrogativa do doente oncológico, tornando assim tegrante da prática do profissional de saúde, indepen-
um equívoco, apesar dos pacientes com câncer fa- dente da doença ou de seu estágio de evolução.
zerem parte de pelo menos 50% dos atendimentos. Hospice: Sem considerarmos o movimento his-
Podemos exemplificar que na Austrália quatro de tórico de sua criação, foi por muito tempo o termo usa-
cinco mortes são causadas por doenças crônicas13. do para designar a prática de CP. Foi consagrado, pela
E, que ainda existem áreas com determinadas parti- enfermeira, assistente social e médica Cicely Saunders,
cularidades de atendimento como CP em pediatria, na metade do século passado, que trabalhou e atuou
HIV/AIDS, em unidades de terapia intensiva, doen- para alívio do sofrimento humano e dedicou-se ao alí-
ças neurológicas incapacitantes etc. vio da dor nos pacientes – com designação da época e
até em recente período – de doentes terminais.
TERMINOLOGIA
A LITERATURA ATUALIZADA
Em 2008, em um excelente trabalho de um
grupo colaborativo o Conselho Regional de Medi- Ainda que, os conceitos preconizados pela Or-
cina do Estado de São Paulo (CREMESP) elaborou ganização Mundial da Saúde, acima descritos, se-
um livro texto em CP que abaixo descrevo defini- jam aceitos e incorporados pelos diferentes grupos
ções que devem ser utilizadas por todos os nossos oncológicos internacionais que assistem de forma
mastologistas quando discutirem, abordarem o holística o paciente oncológico8, 9,11-15(A, B), segundo
tema com as equipes, seus pacientes e familiares, Parikh et al, 2013 CP sofre um problema de iden-
pois acreditamos que inadequadas terminologias tidade tendo em vista que muitos profissionais de
podem até acarretar falta de entendimento nas to- saúde acreditam ser sinônimos de cuidados no fim
madas de decisões17(D). da vida e esta percepção não é apenas na pratica
Paciente Terminal: O grupo sugere que se médica, pois CP oferecido por equipes treinadas
evite este termo por ser estigmatizante e capaz de e especializadas nesta área é, predominantemen-
gerar confusões. Refere que a literatura mundial te, por meio de cuidados em hospice ou quando o
define de formas diferentes, como a existência de tratamento não mais responde e não se consegue
doença incurável, período compreendido do fim do prolongar a vida18(D).
tratamento curativo e morte ou, ainda, a fase de- Por isso, um dos desafios é o de, precocemente,
signada como processo de morte que inclui duas admitir o paciente oncológico e os não oncológicos
fases distintas com a de últimas semanas de vida e com doenças crônicas em CP no momento de sua fase
últimas horas de vida, assim sugerem: de cura ou de controle. Segundo dados do National
- Paciente elegível para CP: Pessoa portado- Hospice and Paliattive Care Organization (NHPCO),
ra de doença crônica evolutiva e progressiva, com 2014 a maioria dos pacientes sob CP nos Estados Uni-
prognóstico de vida supostamente encurtado a me- dos eram acometidos por doença crônica que não o
ses ou anos. câncer (63,5%), dentre elas as mais prevalentes como
- Paciente em processo de morte: Aquele que demência (15,2%), doença cardíaca (13,4%) e doença
apresenta sinais de rápida progressão da doença, com pulmonar (9,9%). Do total de pacientes em CP, 36,5%
prognóstico estimado em semanas de vida a um mês. tinham o diagnóstico de câncer19(C).
- Fase final da vida: Aquele período em que Em agosto de 2010, foi motivo de editorial,
supostamente o prognóstico de vida pode ser esti- por Kelley & Meier, de revista de alto impacto e re-
mado em horas ou dias. levância, a apresentação de estudo feito por meio
- Paliação: Toda medida que resulte em alívio de ensaio clínico aleatorizado apresentado por Te-
do sofrimento do doente. mel e cols., 2010 que demonstraram o benefício
- Ação paliativa: Qualquer medida terapêutica, de modelo que, simultaneamente, fornece os CP
sem intenção curativa que visa a diminuir em ambien- e tratamento específico da doença oncológica no
te hospitalar ou domiciliar as repercussões negativas momento do diagnóstico e concluíram que entre
528
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 51
pacientes com câncer de pulmão de não pequenas número total, até a data da publicação, de outros
células, os CP precoce nos pacientes metastáticos, 20 ensaios clínicos referem que os maiores desafios
significativamente, melhoraram a qualidade de vida foram faltas de padronizações das intervenções,
e o ânimo quando comparados aos pacientes que medidas dos resultados e as interpretações dos re-
receberam cuidados-padrão (CPa) e, ainda tiveram sultados com um número limitado de estudos alea-
cuidados menos agressivos na fase final da vida torizados, incluindo tendências no recrutamento,
com sobrevivência mais longa. Enfatizaram os au- protocolos com deficientes especificações, proble-
tores deste editorial, que este estudo é um exemplo mas com adesão, contaminação dos grupos e fraco
de pesquisa que muda um paradigma de longa data poder estatístico das amostras22(A).
e que este modelo de cuidado deveria ser oferecido Porém, há evidências que apoiem a admissão
a pacientes em fase final da vida. E, reconheceram precoce e CP concomitantes aos cuidados oncológi-
que a doença oncológica que ameaça a sobrevi- cos na fase inicial com base no estudo ENABLE III.
vência traz associações de sofrimento, para os pa- Este ensaio clínico mostrou que a admissão antes
cientes e seus familiares, e pode ser, eficazmente, da morte em CP não foi, estatisticamente, signifi-
controlada por equipes de CP em novo conceito cante entre os grupos no referente à qualidade de
contemporâneo20,21(A). vida diferenciando-se apenas no controle dos sin-
Com base nos avanços e discussões de novos tomas com aumento da sobrevivência, após um ano
conceitos e abordagens do tratamento oncológico a da admissão. Entender os mecanismos complexos
respeito do oferecimento precoce de CP associado pelos quais CP podem melhorar a sobrevivência
à fase de cura demonstrou-se em diversos ensaios continua a ser uma importante prioridade de inves-
clínicos os benefícios desta forma de abordagem tigação24(A).
clínica para pacientes com câncer avançado, e dife- Um aspecto importante dos CP é a assistência
rentes autores dão ênfase ao ensaio clínico publi- prestada aos familiares dos pacientes com diagnós-
cado por Temel e cols., e em artigo de revisão em tico de câncer. Estudo conduzido por Dionne-Odom
que foi abordado o posicionamento e análise crí- e cols, a partir de resultados do estudo ENABLE III e
tica de outros ensaios clínicos aleatorizados sobre direcionado aos cuidadores de pacientes com câncer,
as tendências das publicações sobre o tema22,17(A) demonstrou que a intervenção precoce dos CP reduziu
e (Tabela 1). a depressão e amenizou a sobrecarga da responsabili-
Greer e cols., 2013 apresentaram revisão sis- dade do cuidador, havendo uma tendência de melhora
temática de Zimmermann e cols, com relato de 22 da qualidade de vida, embora não significativa estatis-
ensaios clínicos aleatorizados que tinham como ticamente25(A).
critério de inclusão as evidências para integração Se a admissão precoce e integração dos CP em
precoce de assistência de CP e a efetividade destes oncologia é um processo educativo de treinamento
cuidados sendo especializados e os comparando contínuo nos diferentes centros em assistência ao
com cuidados-padrão para paciente com câncer paciente com câncer, seria muito mais difícil incor-
avançado. Identificaram nos 22 estudos controla- porar este modelo de atendimento na assistência
dos aleatorizados confiável evidência da efetivida- primária. Como este capítulo é baseado nas mais
de na satisfação dos familiares. Estes resultados fo- evidências recentes, apresentamos estudo que ava-
ram menos conclusivos quanto à qualidade de vida, liou implementação dos CP em assistência primária
apenas 4 de 13 estudos demostraram benefícios em 05 grupos na Bélgica. Com base na definição da
significantes ao controle dos sintomas, apenas 1 em OMS de CP os autores referiram que antes, deste
14 estudos em pacientes com diferentes doenças pioneiro trabalho, diversos desafios são conhecidos
inclusive câncer e concluíram que as amostras dos para pesquisa de cuidados paliativos em assistên-
estudos são pequenas e inadequadas para análises cia primária e sumarizaram que o pioneirismo des-
estatísticas22,23(A). ta pesquisa é o de que CP em assistência primá-
Em uma análise global Greer e cols, referin- ria é campo emergente, que o recrutamento para
do-se, também, a outros autores e perfazendo um pesquisa é processo com muitas dificuldades e que
529
CAP. 51 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
este ensaio clínico aleatorizado e controlado adi- desenvolverão recorrência à distância enquanto ou-
cionou novos conhecimentos que foi o de realizá-lo tras desenvolverão metástases com um novo tumor
por meio da web personalizando-o, e demonstrando com características totalmente diferentes do tumor
segurança quanto sua confidencialidade26(A). primário. Metástase recorrente ou câncer avançado
É relevante também destacar a importância da mama são definidos como doença que ocupa
dos CP no final da vida. Em revisão sistemática de além dos situs original a associação com linfonodos
22 estudos comparando CP a intervenções habituais comprometidos. O tratamento da doença metastá-
em pacientes com doenças avançadas em unidades tica não tem intenção de cura, e por pensamento
de terapia intensiva (UTI) constatou-se que houve focado podemos imaginar uma ação paliativa nos
redução de 37% nas admissões de pacientes sob CP. conceitos atuais desta terminologia, tendo em vista
Dentre os 16 estudos que avaliaram o tempo de per- que as taxas de sobrevivência geral em 5 anos é em
manência, 11 demonstraram redução no tempo de torno de 25%30(D).
internação e cinco não observaram diferença. Por- Mas, não podemos tornar as respostas tão, nu-
tanto, entender e quantificar a redução potencial em mericamente, estatísticas à luz do conhecimento atual
cuidados intensivos não desejados no final da vida devendo-se levar em consideração os fatores relativos
pode ter importante implicação clínica e econômica à doença e ao paciente, dentre estes estão a presença
na abordagem dos cuidados nesta fase no cenário dos receptores hormonais e os de membrana (RE/RP e
dos hospitais e UTI. No entanto, é preciso ater-se ao HER2), a atividade proliferativa do tumor (grau nuclear
fato de que a maioria dos estudos realizados esta- e histológico e do Ki67), respostas aos tratamentos
rem focados nos custos médicos, ignorando o foco anteriores, a quantidade de doença (tamanho, locali-
para o paciente e os familiares 27,28(A). zação, e sintomas) e a necessidade do rápido controle
Atualmente, existe uma preocupação das gran- da doença; quanto aos outros fatores a idade da pa-
des sociedades em oncologia como a Sociedade Ame- ciente (fisiológica e cronológica), o performance status,
ricana de Oncologia Clínica (ASCO), em incorporar o o estado menopausal, as doenças associadas (com o
mais rápido possível os CP nas escolas médicas e nos envolvimento anatômico e funcional dos órgãos e sis-
serviços de oncologia já que a confluência da incor- temas acometidos), os efeitos adversos e intolerantes
poração na educação médica em oncologia, a ênfase do dos tratamentos anteriores, aspectos psicossociais da
cuidado baseado em valores, o crescimento contínuo de paciente e de seus familiares e, principalmente, a au-
tecnologias e a necessidade de redução de custos frente tonomia após todas as explicações claras e com bases
a um cenário econômico instável, faz do desenvolvimento das evidências atualizadas31(D).
e introdução dos CP uma meta concebível29(C).
EXPERIÊNCIA ADQUIRIDA NO TEMA
CUIDADOS PALIATIVOS E CÂNCER DE MAMA ABORDADO
530
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 51
de 600 pacientes em análise comparativa de dois gru- idoso é um desafio devido à heterogeneidade desta
pos pré-implantação e pós-implantação do modelo no população. Na prática, a idade, não cronológica, e
período de 1993 a 1998. Resumidamente, serão expos- sim a funcional direcionam o tratamento, embora,
tos alguns dados sócio-demográficos e clínicos que po- por vezes, o julgamento possa não ser apropriado le-
derão auxiliar no entendimento e na compreensão dos vando a supertratamento ou mais, frequentemente,
acometimentos das pacientes com câncer de mama. tratamento aquém do indicado e necessário33,34(D).
Das 430 pacientes com câncer de mama (71,6%) os Segundo o NHPCO, 2014, aproximadamente,
situs metastáticos mais prevalentes com seus respec- 84% dos pacientes sob cuidados paliativos tinham
tivos sintomas foram ósseo (43,7%), pulmão (23,6%), 65 anos ou mais, sendo 41,1% com idade superior ou
locorregional (25,6%), fígado, sistema nervoso central, igual a 85 anos e estimativas indicam que, em 2050,
medula óssea e ovário 1,9%, 1,6%, 0,7%, e 0,5% res- mais de um quarto da população européia terá idade
pectivamente, e mais de um situ metastático ocorreu superior a 65 anos. Os CP do paciente idoso requer
em 271 pacientes (63,3%). A dor e a insuficiência res- uma equipe interdisciplinar ampla já que além do
piratória foram os sintomas mais prevalentes. O tempo câncer, frequentemente, apresentam outras doenças
médio em meses completos de permanência das pa- associadas, sendo importante a presença de diversos
cientes na unidade foi 72,5% de 4 a 18 meses. A ne- especialistas como geriatra, cardiologista, enfermeira,
gativa que mais estimulou a relutância em não aceitar oncologista, médico dos cuidados paliativos, psicólo-
a inclusão no modelo de assistência foi o processo de go, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e assistente social,
negação, pela família, da evolução da doença e, tam- nos diferentes estágios da doença.19,34(D).
bém, a não aceitação da filosofia de atendimento e O local de morte é tema bastante discutido
o termo paliativo. Com a apresentação resumida dos atualmente em CP, a maioria dos idosos preferem
dados conseguimos, cientificamente, comprovar que: que seja no próprio lar. Entretanto apenas em torno
integrou-se CP em hospital geral de atendimento da de 18% das mortes ocorrem desta forma. Análises
saúde da mulher, divulgando assistência paliativa com de evidências envolvendo 1,5 milhão de pessoas
educação contínua e apoio das diversas equipes médi- com câncer em 13 países revelou que os principais
cas, administrativas e da instituição em geral (unidades aspectos que possibilitam a morte em casa são a
de emergência); reduziu-se o tempo de internação hos- preferência do paciente, o fato de morar com paren-
pitalar para os quadros de agudizações das doenças de tes, a introdução do cuidado paliativo em casa e o
base ou clíníca; foi eficiente o uso de medicamentos extenso apoio familiar34(D).
por grupos farmacológicos, principalmente, opióides Entretanto, além de aprimorar o treinamento
com utilização adequada e contínua com a devida cor- profissional, para melhorar a assistência paliativa
reção dos efeitos colaterais que sob vigilância diminuiu tanto a idosos quanto a todas as faixas etárias é
intolerância; manteve-se controle da dor, dos sintomas preciso promover maior conscientização populacio-
clínicos e cirúrgicos com diagnóstico da síndrome do- nal sobre CP e cuidados no final de vida, de forma
lorosa e dos sintomas gerais; melhorou-se a aceitação que esse tema possa ser discutido abertamente e
do óbito domiciliar. E por fim, apesar de não ter sido que as pessoas possam entender qual a real impor-
objetivo do estudo foi observado envolvimento no trei- tância e o que o CP pode trazer de benefícios.
namento, aprendizado e na pesquisa em CP32(B).
EFEITOS DA SEGUNDA LINHA E LINHAS -
ASPECTOS ESPECIAIS DO CÂNCER DE SUBSEQUENTES DE QUIMIOTERAPIA NO
MAMA E CUIDADOS PALIATIVOS CÂNCER DE MAMA METASTÁTICO
PACIENTES IDOSAS COM ESTADIAMENTO IV Como já abordado o câncer de mama tem sua
incidência e prevalência aumentando no mundo,
A população mundial está envelhecendo e apesar do maior número de casos diagnosticados
cada vez mais pessoas convivem com doenças crô- em suas fases iniciais, pela conscientização popu-
nicas graves no final de suas vidas. Tratar paciente lacional quanto aos exames de rastreamento. Po-
531
CAP. 51 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
532
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 51
nica; nociceptiva (somática ou visceral) e neuropá- Tabela 2 - Conduta na Fadiga (sintoma subjetivo e de dificio controle
clínico frequentemente associado a outros distúrbios, deve-se avaliar
tica. Para manejo e controle adequado da dor a OMS possíveis causas para o tratamento)
criou a escala numérica de intensidade e a escada
da dor que regula a administração de substâncias ções das melhores evidências médicas e circunstân-
antiálgicas de forma progressiva de analgésicos co- cias individualizadas podem variar de acordo com
muns e anti-inflamatórios a opióides fracos até os as preferências dos pacientes para intervenção in-
fortes. Enfatiza-se que em todas as etapas existe a tensiva que vão além do controle de sintomas. Tra-
possibilidade de associação de drogas adjuvantes tamento fútil em cuidados oncológicos não é bem
como corticosteróides, anticonvulsivantes, antide- definido. Pode ser não apenas uma opção individual
pressivos e outras substâncias fazendo com que se do oncologista assistente como uma solicitação ou
aumente o limiar da dor e o controle da mesma ain- pressão dos pacientes ou de seus familiares para
da que possa ocorrer efeitos adversos e interações que se continue o tratamento quimioterápico mes-
medicamentosas36,37(Fig 1) (A). mo com pequena chance de benefícios. Quanto aos
Além da dor, outros sintomas comumente en- pacientes, alguns priorizam um possível ganho de
contrados em pacientes em ações paliativas com cân- sobrevivência, outros aceitam para uma melhoria na
cer de mama são a fadiga, dispnéia, náusea e vômitos, qualidade de vida e não benefício na sobrevivência
constipação intestinal, hipercalcemia e neutropenia e, um grande número de pacientes tem inadequada
febril. Ao final desse capítulo encontram-se tabelas compreensão dos benefícios do tratamento paliati-
e algorítimos resumidos para o manejo clínico8,9,11-15, vo. Existe uma pequena concordância entre o que os
38,39
(A,B). (Tabelas 2 a 4 e Figuras de 2 a 4). pacientes desejam o que médicos pensam e o que os
familiares querem diante das decisões a respeito do
QUIMIOTERAPIA COM INTENÇÃO câncer avançado40,41(B).
PALIATIVA NOS ÚLTIMOS 30 DIAS DE VIDA
533
CAP. 51 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Sinal/Sintoma Conduta
Diuréticos
Congestão Pulmonar
Ventilação não invasiva
Drenagem de líquido pleural, pericárdico
Derrame pleural,
ou abdominal
pericárdico ou ascite
Pleurodese
Tromboembolismo pulmonar Anticoagilação
Abordagem inicial empírica
Infecção Investigação sistêmica e Hemocultura
Tratamento de acordo com situs
Discussão com CCIH
Casos de grande Morfina (2,5 a 5mg vo ou 1 a 2,5mg SC)
desconforto respiratório Sedação
*Avaliar sintomas agudo, subagudo ou crônico se recorrente ou noturno.
Excluir causa pulmonares (asma, obstrutiva crônica, cardíaca e
neuromusculares, principalmente hiperventilação psicológica). no que se
refere ao câncer de mama observar os quadros mais prevalentes com seus
respectivos sinais e sintomas para a conduta correspondente.
534
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 51
Testamento Vital possibilitaria que não fosse rea- tos podem auxiliar na integração em todas as fases
lizado um tratamento inútil, agressivo, oneroso à da doença de cura e avançada para intervenções que
sociedade, e evitaria um doloroso processo a pa- prolonguem a vida com qualidade44(A,B,C).
cientes e familiares. Porém, ainda refere o autor, o
Código Penal Brasileiro não acompanha a evolução
da medicina. Mesmo que apoiada no veredito do
paciente e da resolução do CFM, a opção pela orto-
tanásia pode gerar inúmeros problemas ao médico,
inclusive a cassação do seu registro profissional. As
esferas civil e penal têm muito mais força do que
qualquer órgão de classe. É proibido deixar de dar
continuidade ao tratamento, mesmo com a Reso-
lução do Conselho, a despeito de causar mais so-
frimento a quem tem um parente em fase final da
vida. E, conclui que a formação humanística do mé-
dico e a relação médico-paciente (neste caso tam-
bém médico-família) serão de enorme importância
para orientar a sua conduta diante da ortotanásia,
sem conflito de consciência para os partícipes42(D).
535
CAP. 51 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
536
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 51
mento tardio aos CP, com abordagens, explicações e 10. Zimmermann C, Swami N, Krzyzanowska M,
orientações, desde que solicitadas, sobre a expectati- Hannon B, Leighl BN, Oza A et al. Early palli-
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538
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 51
539
52
RADIOTERAPIA
Palavras Chave:
Radioterapia, neoplasias da mama, Radioncologia
EDUARDO MARTELLA
Radioncologista do Hopistal do Coração (HCor Onco) e da EPM/UNIFESP (Disciplina de Mastologia); Doutor em
Medicina pela Faculdade de Medicina da USP
FLAVIA GABRIELLI
Médica Assistente do Serviço de Radioterapia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP-FMUSP)
Radioncologista do serviço Oncorad- Oncologia D’Or e do Centro de Radioncologia de São Paulo
BERNARDO SALVAJOLI
Radioncologista do Hopistal do coração (HCor Onco) e do Centro de Radioncologia de São Paulo
Médico Assistente do Serviço de Radioterapia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP-FMUSP)
CAP. 52 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
INTRODUÇÃO
542
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 52
543
CAP. 52 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Acelerador Linear
Teleterapia EXCEÇÃO PARA DOENÇA
com feixe de fótons
MICROMETÁSTATICA
Implante intersticial com cateteres Braquiterapia
Radioterapia intraoperatória
com feixe de elétrons
Teleterapia Existe pouca evidência na literatura a respeito
Radioterapia intraoperatória
de pacientes submetidas a mastectomia com doença
com raios X– intrabeam™
Braquiterapia
linfonodal micrometastática. A recomendação é não
Tabela 3 – Técnicas de tratamento de irradiação parcial da mama irradiar estas pacientes como linfonodos negativos
544
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 52
de rotina, baseada em risco de recorrência local bai- linfonodal clínica (N>0), independente da resposta
xo, e deixar a decisão da radioterapia baseada em a quimioterapia neoadjuvante, devido ao alto ris-
fatores de risco e o tamanho do tumor26-27 (> T2) (C). co de recorrência em estudos retrospectivos1(B). De
maneira geral, indicamos radioterapia adjuvante de
FATORES DE RISCO forma semelhante a pacientes que não receberam
quimioterapia neoadjuvante, para todas as pacien-
A radioterapia adjuvante pós mastectomia nor- tes estádio III algumas pacientes T2 com fatores
malmente não é empregada para a grande maioria das de risco, independente da resposta2,3,4(B). Os dados
pacientes com doença linfonodal negativa, somente da literatura são controversos com diversos esque-
para o plastrão com tumores maiores de 5 cm. Entre- mas de drogas e aguardamos resultados de estudos
tanto, pacientes com margens positivas na mastecto- randomizados para responder melhor esta questão.
mia devem receber radioterapia da parede torácica.23, É possível que exista um subgrupo com resposta
1,2
O grupo dinamarquês, The Danish Breast Cancer Coo- completa a quimioterapia neoadjuvante que tal-
perative Group (DBCG), publicou dois trabalhos, 82b e 82c, vez não precise receber radioterapia adjuvante de
que discutem sobre este tema. Eles incluíram pacientes drenagens, porém na falta de evidência científica,
pré-menopausadas, linfonodos positivos e também ne- ainda recomendamos a indicação de radioterapia
gativos com fatores de risco, definidos como tumores baseado nos fatores clínicos pré-quimioterapia e
maiores do que 5cm ou invasão de pele ou de fáscia, e na patologia da peça cirúrgica30,31,32(B).
demonstraram ganho em sobrevida câncer específica e
sobrevida global nas pacientes submetidas a radiotera- RADIOTERAPIA NO TRATAMENTO DA
pia pós mastectomia.. Portanto a RT adjuvante deve ser DOENÇA REGIONAL
indicada neste cenário26,27(A).
Também existe evidência, de menor poder, que O estudo ACOSOG Z00111, ao identificar que
sugere que pacientes T2, que normalmente não recebe- a dissecção axilar é equivalente a avaliação de lin-
riam radioterapia adjuvante, porém com fatores de risco fonodo sentinela (LS) (sendo até 3 positivos) em
(alto grau, triplo negativo, idade jovem ou invasão lin- termos de CL, controle regional (CR) e SG nas pa-
fovascular) também recebam radioterapia adjuvante (C). cientes portadoras de tumores T1/T2 submetidas a
Existe um estudo randomizado, que mostra be- tratamento conservador (exceto nas pacientes me-
neficio em radioterapia adjuvante pós mastectomia nores de 50 anos, sem adjuvância sistêmica e com
em pacientes com biologia triplo negativo. Este estu- receptor de estrogênio negativo), retomou a discus-
do incluiu 681 pacientes, 82% linfonodos negativos, são sobre o papel da RT no tratamento da doença
que foram submetidas a radioterapia adjuvante ou regional. Inicialmente não foram publicados deta-
não pós mastectomia. Com seguimento mediano de lhes sobre a área de abrangência da RT nas pacien-
86 meses, quem recebia radioterapia tiveram ganho tes incluídas no estudo. Posteriormente viu-se que
em sobrevida livre de recorrência (88 versus 75%) grande parte das pacientes recebeu alguma irradia-
e sobrevida global (90 versus 79%).3 Apesar destes ção nodal2, tornando cautelosa a interpretação dos
dados favoráveis, radioterapia pós mastectomia em dados iniciais do estudo e desconhecido o impacto
pacientes triplo negativas, com linfonodos negativos, da RT (e da área necessária de RT) nestas pacientes.
ainda não é recomendada de rotina e este estudo Assim, recomenda-se que a RT regional seja empre-
precisa de validação externa28 (B). gada nas pacientes com LS positivo e menos do que
10 linfonodos axilares dissecados33-34 (B).
RADIOTERAPIA PARA PACIENTES
QUE RECEBERAM QUIMIOTERAPIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NEOADJUVANTE
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Na falta de evidência randomizada, é reco- Boyges J. Long-term outcomes of ductal
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CAP. 52 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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53
RADIOTERAPIA
HIPOFRACIONADA NO
CÂNCER DE MAMA
Palavras Chave:
Radioterapia hipofracionada, Terapia por radiação, Terapia por RX
INTRODUÇÃO
HIPOFRACIONAMENTO NO
TRATAMENTO ADJUVANTE DE
NEOPLASIA DE MAMA
550
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 53
1. IDADE
nado para pacientes com alto risco de recidiva local, Nos estudos de HF apenas 25% das pacientes
jovens, histologia lobular, componente intra-ductal possuíam menos de 50 anos, porém no seguimento
extensivo, alto grau e margens acometidas, bem como não foi evidenciado índices de recidiva em 10 anos
dúvidas em relação ao uso desta técnica após quimio- maior que as mais idosas, bem como não apresenta-
terapia adjuvante, associado ao tratamento de dre- ram diferenças nos efeitos cutâneos e estéticos. Por-
nagem linfática, boost (reforço de dose) e quanto aos tanto, a idade não deve influir na escolha entre HF
resultados cosméticos e efeitos tardios.9(C) ou radioterapia convencional.
Em 2011, após avaliar a evolução dos traba-
lhos fase III e a literatura, o ASTRO (American Socie-
ty of Radiation Oncology) publicou um consenso10(A)
favorecendo a realização deste tratamento para: pa-
cientes acima de 50 anos, tumores T1-T2, ausência
de linfonodos comprometidos, cirurgia conservado-
ra, sem quimioterapia prévia, e homogeneidade da
distribuição de dose (variação menor de 7 % da dose
prescrita). Não houve consenso acerca das pacientes
com alto grau histológico, carcinoma in situ, uso após
quimioterapia adjuvante, associação de boost ou in-
clusão de drenagem linfática. A dose mais recomen-
dada foi a utilizada por T. Whelan et al no Canada
– 4240 cGy em 16 frações de 265 cGy. Recomenda-se
também a exclusão do coração nos campos tangen-
tes ao tratar a mama esquerda. (Figs 1,2 e 4).11(A)
Com a tentativa de um fracionamento ainda
menor, o Fast Trial12(A) randomizou pacientes de
baixo em 50 Gy em 25 frações versus 28,5 ou 30
Gy em 5 frações, uma por semana. Em seguimento
de 3 anos houve maior taxa de toxicidade cutânea
Figura - 5 Filme de controle com marcação pulmonar e costal
severa (descamação úmida, atrofia e telangectasia)
551
CAP. 53 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
3. GRAU
Os estudos ingleses Start A e B não mostra-
Figura - 6 Vista do feixe campo tangente (Cortesia Dr. Abram Recht) ram influencia do grau. Após atualização dos dados
do estudo inglês em 2014 com revisão patológica
2. TAMANHO DA MAMA E central foi encerrada a controvérsia, afastando o
HOMOGENEIDADE DE DOSE alto grau como fator negativo para indicar HF.
O estudo canadense excluiu pacientes com lar-
gura da mama maior que 25 cm para evitar hetero- 4. MAMA ESQUERDA
geneidade física na distribuição de dose dos campos Os estudos Start A e B não demonstraram eventos
tangentes. Filtros e compensações foram utilizados cardíacos de maior monta no HF em mama esquerda,
Figura - 7 Modulação do feixe para homogeinizar dose pelo multifolhas- possivel sob imobilização adequada para reprodução diaria
552
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 53
entretanto a doença cardíaca coronariana radioinduzi- nejamento mais avançados, para trazer um ganho
da pode surgir após 10-15 anos da irradiação13-14(C). Da- de 3 a 5 dias no tratamento total. (Fig 8)
dos antigos da SEER – Surveillance Epidemiology and
End Results – demonstram que até o ano de 1992 tais 6. QUIMIOTERAPIA SISTÊMICA
eventos ocorreram na ordem de 1,5% após 8-18 anos Grande parte das pacientes dos estudos de HF
da irradiação. Portanto, o seguimento cardiológico deve que realizaram tratamento sistêmico utilizaram o pro-
ser mantido principalmente nas pacientes jovens com tocolo CMF, o qual possui perfil e toxicidade bastante
neoplasia em mama esquerda, e deve ser ainda mais manejáveis e conhecidos. Somente 25% e 13% das
encorajado nas que receberam antracíclicos e drogas pacientes receberam antracíclico no Start A e Start B,
alvo para expressão de Her-2. Atualmente, após ciência respectivamente, e todas apresentaram perfil de toxi-
dos médicos radio-oncologistas desta ocorrência, há cidade aceitável10(A). Porém ainda há certo receio em
maior enfoque aos limites de dose e à proteção da área relação ao uso de HF após quimioterapia adjuvante,
cardíaca durante o planejamento. (Figuras 1-2-3-8) principalmente com antracíclicos e taxanos, uma vez
que poucas pacientes receberam estes medicamentos
5. REFORÇO DE DOSE mais atuais nos estudos de HF. Portanto não há dados
Tal item ainda não possui consenso no meio suficientes que comprovem o baixo perfil de toxicida-
dos radioterapeutas, uma vez que o ganho de maior de a longo prazo. Sempre que indicada, a quimiote-
controle local pode trazer alterações na cosmese, rapia deve ser realizada preferencialmente antes da
como fibrose localizada ou teleangiectasias9(C). Es- radioterapia, e não concomitante.
tudam-se doses de 10 Gy em 5 frações, 5 Gy em 2
frações, 9 Gy em 3 frações, 10 Gy em 4 frações ou 7. IRRADIAÇÃO REGIONAL LINFONODAL
mesmo 12,5 Gy em 5 frações nas mais jovens. Exis- Seleção criteriosa na irradiação linfonodal
tem estudos com a utilização de reforço de dose in- (mamária interna, níveis I-III e fossa supraclavicu-
tegrado concomitante, porém para sua reprodução lar) deve ser feita para evitar linfedema do mem-
deve haver um sistema de imobilização e localiza- bro superior, pneumonite15(A) ou lesão no plexo
ção diária bastante eficaz, além de sistemas de pla- braquial, independente do fracionamento utilizado.
Publicação recente do JAMA por Jay Harris et al16(C)
contraindica irradiação nas pacientes com 1-3 lin-
fonodos axilares acometidos, pois apesar do peque-
no benefício em controle local neste subgrupo de
pacientes, conforme demonstrado no MA.2017(A) e
na metanálise do EBCTCG1(A) – ambos utilizaram
fracionamento convencional –, tem também o ris-
co de toxicidade severa a longo prazo. Com o HF a
irradiação nodal deve ser vista com cautela, quan-
do indicada. Menos de 20% das pacientes trataram
drenagens nos estudos e, apesar da baixa toxicida-
de relatada, o seguimento ainda é curto principal-
mente para avaliação de plexopatia braquial.
553
CAP. 53 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
554
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 53
555
54
RADIOTERAPIA DAS
LESÕES METASTÁTICAS
Palavras Chave:
Radioterapia, radiocirurgia, metástase, oligometástase, câncer de mama.
ROBSON FERRIGNO
Coordenador dos Serviços de Radioterapia do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes – Hospital Beneficên-
cia Portuguesa de São Paulo
558
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 54
559
CAP. 54 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
dência atual é iniciar o tratamento com radiocirur- rie retrospectiva de 121 pacientes com até cinco
gia deixando a radioterapia de todo o crânio para lesões metastáticas pulmonares reportou controle
um possível resgate no futuro. local de 73% em quatro anos34(C) e, posteriormente,
Três estudos prospectivos e randomizados publicou resultados de retratamento de nove reci-
mostraram que utilizar a radiocirurgia em pacien- divas irradiadas e 29 novas lesões pulmonares com
tes com até quatro lesões como primeiro tratamen- o mesmo índice de controle local35(C). Um estudo
to, em metástases cerebrais dos principais sítios multicêntrico fase I/II de 38 pacientes com até três
anatômicos, incluindo mama, deixando o emprego lesões metastáticas utilizou doses escalonadas de
da radioterapia de todo o cérebro para um possí- SBRT em três frações. A incidência de toxicidade
vel resgate, não afeta a sobrevida dos pacientes e graus III e IV foi de 8% e 0%, respectivamente, e o
evita ou adia o emprego da radioterapia de todo o controle local em dois anos foi de 96%22(B).
cérebro e seus efeitos, conforme metanálise desses Esses resultados sugerem que a SBRT promo-
três estudos31(A). No entanto, a radiocirurgia é efi- ve um controle local semelhante à ressecção ci-
caz, com controle em torno de 90%, em lesões até 3 rúrgica, sem ser um procedimento invasivo e com
cm no maior diâmetro. As lesões maiores devem ser baixa toxicidade, portanto, mais atraente, principal-
consideradas para ressecção cirúrgica se o paciente mente para pacientes sem condições clínicas de se-
tiver condições clínicas para tal. rem submetidos à cirurgia.
A radioterapia de todo o cérebro é um trata-
mento com duração de 10 dias úteis, provoca alope- METÁSTASES HEPÁTICAS
cia, reação de pele moderada e perda de memória de
fatos recentes em aproximadamente 30 a 50% dos As metástases hepáticas de câncer de mama
pacientes30(B). Estratégias como o emprego do Clo- ocorrem em até metade dos pacientes, porém, mais
ridrato de Memantina32(A) e proteção do hipocampo usualmente como evento tardio e associado à doen-
com técnicas avançadas de radioterapia, como a ra- ça disseminada e com pior prognóstico do que me-
dioterapia de intensidade modulada (IMRT), têm sido tástase em ossos ou partes moles. Apenas 5 a 12%
utilizadas em pacientes com expectativa de vida re- dos pacientes possuem metástase isolada, o que se-
lativamente mais longa para diminuição do déficit ria fator para considerar tratamento local ablativo,
neurocognitivo da radioterapia de todo o cérebro e como cirurgia, rádio-ablação e SBRT40 – 42(C).
com resultados promissores33(A). Devido à raridade da apresentação de oligo-
metástase hepática em câncer de mama, não há
METÁSTASES PULMONARES dados da literatura com resultados específicos de
SBRT para esses pacientes. Os dados de controle
A radioterapia no tratamento das metástases local e toxicidade são reportados para metástases
pulmonares está inserida no contexto de pacientes hepáticas de vários sítios anatômicos, sendo o mais
oligometastáticos, como alternativa à ressecção ci- frequente de origem em cólon e reto. Assim como
rúrgica e rádio-ablação. Por não ser invasiva e de para metástases pulmonares, o controle local das
ótima tolerância por parte dos pacientes, a radiote- metástases hepáticas tratadas com SBRT é bastante
rapia com técnica SBRT é a terapia ablativa que tem favorável e com baixa toxicidade. Os principais re-
sido mias estudada nos últimos anos como opção latos de estudos retrospectivos reportam controle
de tratamento, preferencialmente para pacientes local em dois anos que varia de 70 a 95%23, 39, 43–45(C).
com até três lesões metastáticas e sem progressão De acordo com a situação clínica, a associação de
de doença em sítios fora do tórax. A SBRT libera al- cirurgia, sempre que possível, com SBRT, pode ser
tas doses de radiação na lesão pulmonar em uma considerada. Estudo retrospectivo que utilizou tan-
ou poucas frações, em geral até quatro. to cirurgia como SBRT para controle de metástases
As principais séries da literatura reportam hepáticas reportou ausência de toxicidade grau 2
controle local das lesões metastáticas pulmonares ou maior entre os pacientes tratados com SBRT45(C).
tratadas com SBRT de 67 a 96%22, 34 – 39(C). Uma sé- Os pacientes que apresentam até quatro le-
560
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 54
sões metastáticas em fígado, com somatório dos nostic significance of single hormone receptor
diâmetros no máximo até 10 cm, com primário con- positive metastatic breast cancer: an analysis
trolado, em bom estado geral e ausência de metás- of three randomised phase III trials of aroma-
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CAP. 54 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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562
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 54
563
55
DOENÇA DE PAGET
Palavras Chave:
Paget, câncer de mama.
INTRODUÇÃO
566
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 55
ulceração do mamilo e com um período prolongado aumentando a chance de um câncer invasivo subja-
de sintomas antes do diagnóstico, sendo assim, é im- cente e, portanto, um pior prognóstico.
portante que se tenha certo grau de suspeita para Pa- O diagnóstico pode ser obtido com uma ci-
get quando uma paciente se apresenta com queixas tologia de raspagem, uma biópsia de raspagem da
no mamilo e/ou aréola. A apresentação inicial mais epiderme superficial, uma biópsia com agulha gros-
comum é o eritema e uma discreta crosta eczematosa sa, uma biópsia com uma incisão em cunha ou pela
que progride para encrustamento, erosão cutânea e excisão do mamilo11(A). O espécime ideal contém
ulceração, com exsudação ou exsudato. epiderme adequada para fornecer as células de Pa-
O diagnóstico diferencial clínico inclui o eczema, get e um ducto lactífero. O tipo celular pode ser
a dermatite de contato, e a dermatite pós-radiotera- determinado pelos estudos imuno-histoquímicos
pia. Apesar ter relatos de Doença de Paget bilateral, os incluindo-se as queratinas de baixo peso molecular
sintomas bilaterais são mais consistentes com eczema (CK7, moléculas de adesão celular 5.2 [CAM-5.2]),
ou dermatite de contato. As alterações cutâneas que as queratinas de amplo espectro, os anticorpos do
são limitadas a aréola e poupam o mamilo tipicamen- melanoma e coloração da mucina11(A).
te são atribuídas ao eczema, apesar de que raramente Obs: No nosso Serviço utilizamos a biópsia
elas podem ocorrer na doença de Paget. O diagnósti- em cunha da lesão realizada com anestesia local.
co diferencial clínico estimulou um tratamento inicial
com esteróides tópicos, frequentemente com melhora APRESENTAÇÃO RADIOLÓGICA
transitória dos sintomas3(B).
Diagnósticos menos comuns no diagnóstico Os achados mamográficos incluem o espessa-
diferencial da doença de Paget mamária incluem o mento da pele, do mamilo e da aréola, retração do
adenoma do mamilo, a papilomatose, o melanoma, mamilo, microcalcificações malignas subareolares
a doença de Bowen, os carcinomas: de células ba-
sais, o escamoso, o sebáceo, o de células de Merkel,
e os carcinomas infiltrantes lobular e ductal. Tam-
bem o linfoma de células T cutâneo, o nevus de
Spitz, as metástases epidermotrópicas assim como
as alterações dos queratinócitos presentes em 10%
dos mamilos normais11-26(A).
Apesar de a maior parte das pacientes com
Paget apresentarem alterações no mamilo, até 50%
das pacientes apresentarão uma massa palpável,
Figura - 2 A Mamilo com Diagnóstico de Doença de Paget invasivo Figura - 2B Mamografia demosntrando assimetria em região areolar su-
perficial `a direita
567
CAP. 55 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
568
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 55
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569
CAP. 55 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
570
56
CARCINOMA OCULTO
DE MAMA
Palavras Chave:
Neoplasias da mama, Neoplasias primárias desconhecidas,
Metástase Linfática.
FELIPE ZERWES
Mestre e Doutor em Medicina pela UFRJ
Professor Adjunto na Faculdade de Medicina da PUCRS e Preceptor do Centro de Mama da PUCRS
Gestor do Serviço de Mastologia do Sistema de Saúde Mãe de Deus
572
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 56
O carcinoma oculto da mama apresenta-se mais comum são nódulos irregulares ou espicula-
como uma tumoração axilar persistente. Devemos dos, detectados desde 5mm.
dispor de mamografia, ultrassonografia mamária e Diagnóstico com avaliação em uma Gama-câ-
raio x de tórax. Se estes forem normais devemos mara específica mostrou alta sensibilidade em detec-
proceder com a análise linfonodal. tar tumores pequenos, menores de 1 mm, tornando o
A biópsia linfonodal pode ser feita por agulha método promissor, porém, necessita de mais estudos
fina (PAAF), core biopsy (tru cut) ou excisional. A es- com maior número de pacientes (14, 15)(C). Estudos ini-
colha vai depender da experiência do examinador, ciais com o exame com emissão de pósitrons (PET)
da profundidade do nódulo e da experiência do ci- demonstraram resultados promissores. Foi possível
tologista. A biópsia por agulha fina tem a vantagem avaliar metástases axilares com 95% de sensibilidade
de ser mais facilmente executável desde que os lin- e 65% de especificidade e também poderia ser utiliza-
fonodos estejam mais superficialmente e de que te- do para identificar carcinoma oculto da mama (16, 17)(B)
nhamos uma boa análise citológica, pois o material
disponível é mais escasso. Já com a agulha grossa TRATAMENTO
teremos a vantagem da análise histológica. Já em al-
guns casos em que os linfonodos estão em cadeias O carcinoma oculto de mama é uma doença de
muito profundas ou junto a vasos torna-se mais se- apresentação rara, cujo manejo é complexo e ainda
guro proceder com biópsia excisional, tendo também controverso. A maioria das condutas atualmente uti-
como vantagem maior quantidade de tecido para lizadas baseia-se em pequenas séries de casos pu-
proceder com imunoistoquímica do tumor (8,9, 10)(A). blicados na literatura. Deve-se considerar que o com-
O diagnóstico definitivo de doença metastática portamento desta doença assemelha-se em muito
axilar de origem mamária pode ser de difícil realiza- com os tumores de mama em estágio II, sugerindo
ção, já que alguns estudos mostram que a histologia que o tratamento de ambos siga a mesma linha.
do carcinoma metastático é distinta da original vista A mastectomia radical modificada (MRM), que
na mama. Alguns marcadores de imunoistoquímica consiste em mastectomia total com esvaziamento
são de fundamental importância, como os receptores axilar, foi o tratamento padrão empregado por mui-
hormonais, status Her2 e marcadores de maior espe- to tempo nos casos de carcinoma oculto de mama.
cificidade para carcinoma mamário como a mamma- A análise patológica destas peças evidenciava
globulina e CD7 (Tabela 1)(8, 9, 10)(A). doença em aproximadamente 40 a 80% dos casos,
Após biópsia linfonodal positiva para carci- mas estes dados não foram confirmados em estu-
noma mamário devemos seguir a investigação. A dos mais recentes (2, 18, 19)C, uma vez que os métodos
eficácia da mamografia em detectar lesões no car- diagnósticos evoluíram muito, especialmente com o
cinoma oculto varia de 5 a 59%. A grande variação advento da ressonância magnética (20)B.
atribui-se a interpretação do exame e ao avanço Nos últimos anos, novas possibilidades tera-
da técnica. Com o advento da RM, temos o méto- pêuticas para o carcinoma oculto passaram a ser
do de imagem mais sensível para diagnóstico de questionadas. A terapia conservadora da mama, que
lesões ocultas, com uma acurácia média de 50 a inclui esvaziamento axilar seguido de irradiação ma-
75% de detecção de lesões (9, 10)A, que vem causan- mária, tem sido empregada com muito sucesso desde
do então um declínio na incidência do carcinoma que foi sugerida por Kemeny e cols. em 1986 (21)(B).
oculto. Apesar de ser muito sensível, a RM é um Esta técnica baseia-se no princípio de que a irradia-
método de pouca especificidade, necessitando de ção mamária é capaz de erradicar doença subclínica.
correlação de suas imagens hipercaptantes com Estudo conduzido por He e cols. em 2012
análise histológica de seus achados, estendendo mostrou que não há diferença com relação à taxa
seu uso para a biópsia guiada (10, 11)C. Este exame de sobrevida global entre pacientes submetidos à
também é eficaz na programação terapêutica, au- MRM e à radioterapia mamária ipsilateral com es-
mentando o número de cirurgias conservadoras vaziamento axilar, assim como não há diferença em
por melhor localização da lesão (12, 13)B. O achado termos de sobrevida livre de doença locorregional,
573
CAP. 56 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
sobrevida livre de metástase ou recorrência e so- melhores resultados nas taxas de recorrência lo-
brevida específica do câncer de mama (22)(B). corregional e tendência à redução de mortalidade
Outro estudo publicado em 2011 por Ma- quando comparado àqueles que realizaram esva-
singhe e cols. com 53 pacientes reportou taxa de ziamento axilar isoladamente (26)(A).
recorrência locorregional em 5 anos de 28% para A identificação de fatores prognósticos no
pacientes submetidas à radioterapia e 53.7% para carcinoma oculto é limitada devido ao pequeno
pacientes não submetidas. Todas as pacientes fo- número de pacientes estudados. Entretanto, sabe-
ram submetidas a esvaziamento axilar, sem cirurgia -se que há correlação com o número de linfonodos
mamária. (23)(B). acometidos. Pacientes com menos de 4 linfonodos
Barton e cols. publicaram em 2011 série en- acometidos evoluem melhor do que aqueles com
volvendo 55 pacientes, dos quais 73% receberam mais de 4 linfonodos comprometidos (27, 28)C. Os tu-
radioterapia mamária e 27% foram somente ob- mores triplo negativos associam-se com pior sobre-
servados. Os pacientes submetidos à radioterapia vida global e sobrevida livre de doença, assim como
apresentaram sobrevida livre de recorrência local risco aumentado de recorrência local (29).C
em 5 anos de 84% contra 34% dos que não reali- A recomendação de terapia sistêmica adju-
zaram e sobrevida livre de doença de 64% contra vante é questionada nestes casos, uma vez que não
34%. No entanto, não se demonstrou diferença nas existem protocolos padrão. Estudos recentes suge-
taxas de sobrevida global. Da mesma forma, séries rem emprego de quimioterapia sistêmica, hormo-
publicadas pelo MD Anderson, Westmead Hospital, nioterapia ou ambos para estes pacientes, com in-
Instituto Curie e Royal Marsden encontraram 12,5 dicação baseada no padrão imunoistoquímico que
a 36% de recorrência local nos pacientes que rece- representam. A terapia neoadjuvante deve ser con-
beram radioterapia mamária, comparado com 54 a siderada nos casos de doença com status linfonodal
83% naqueles que não realizaram (24, 25).B N2, a fim de permitir regressão tumoral antes do
Metanálise publicada por Macedo em 2016 esvaziamento axilar. Radioterapia axilar deve ser
englobando 7 estudos com diferentes estratégias oferecida a pacientes com doença linfonodal exten-
de tratamento cirúrgico para o carcinoma oculto sa. Da mesma forma, pacientes com envolvimento
de mama, encontrou 39% de pacientes submetidos linfonodal maior que 4, submetidos à mastectomia,
a esvaziamento axilar com radioterapia mamária, têm indicação de irradiar a parede torácica (30)(B).
46,5% à MRM e 14,5% à esvaziamento axilar isola- Os resultados dos estudos publicados nos últi-
do. As taxas de recorrência locorregional, metásta- mos anos suportam fortemente a indicação de tera-
se à distância e mortalidade foram similares entre pia conservadora da mama, que consiste em esvazia-
aqueles que realizaram MRM e entre aqueles que mento axilar seguido de irradiação mamária, sendo
realizaram esvaziamento axilar seguido de radio- uma alternativa à mastectomia nestes pacientes.
terapia mamária. O grupo que realizou esvazia- Atualmente, as diretrizes do National Com-
mento axilar com radioterapia mamária apresentou prehensive Cancer Network (NCCN) recomendam MRM
ou dissecção axilar com radioterapia complementar
Tabela 1 - Marcadores imunoistoquímicos para de mama com ou sem ampliação de campo radio-
diagnóstico diferencial de linfadenopatia axilar terápico para região axilar. As recomendações atuais
neoplásica (Adaptada Frasson e cols, 2011) priorizam a utilização de quimioterapia adjuvante ba-
seada em Doxorrubicina, após abordagem cirúrgica
Mama Melanoma Linfoma em pacientes com carcinoma oculto, especialmente
RE/RP CD7 HMB 45 CDs20,3 aqueles com mais de três linfonodos positivos (30)(B).
BRST-2
S-100 45RO CONCLUSÃO
GCDFP-15
Tabela - 1 Marcadores imunoistoquímicos para diagnóstico diferencial Carcinoma de mama oculto apresentando me-
de linfadenopatia axilar neoplásica (Adaptada Frasson e cols, 2011)
tástases axilares é incomum representando 0,3% a
574
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 56
Ressonância mamária
Quimioterapia / Hormonioterapia e
Radioterapia quando indicadas
1% dos casos de câncer de mama. Os dados dispo- tificando lesões não visualizadas por outros exames
níveis sobre câncer oculto de mama são de peque- de rastreamento, e reduziu ainda mais a incidência
nas séries retrospectivas que frequentemente englo- de novos casos de carcinoma oculto.
bam um longo período de tempo, com investigação Semelhante aos casos da maioria das pacien-
e tratamento variáveis. Sendo assim, o manejo ideal tes com câncer de mama, o tratamento de pacientes
é difícil de determinar e permanece controverso. Os com câncer oculto primário com adenopatia axilar
métodos de imagem que, ao longo do tempo, melho- e sem evidência de metástase a distância (T0N1M0)
raram suas técnicas com aparelhos de alta resolução tem 3 pilares: tratamento da mama, tratamento da
diagnóstica demonstraram que o carcinoma oculto axila e finalmente terapia adjuvante local e sis-
da mama será cada vez menos incidente. A utilização têmica. O tratamento adjuvante é semelhante ao
mais frequente da ressonância magnética mamária tratamento preconizado para os estadiamentos
permitiu uma análise mais específica da mama, iden- clínicos II com os linfonodos axilares positivos e, a
575
CAP. 56 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
hormonioterapia deve ser utilizada sempre que os senting with Axillary Lymphadenopathy. In:
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576
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 56
577
57
CARCINOMA
INFLAMATÓRIO DA MAMA
Palavras Chave:
Neoplasias inflamatórias da mama, Terapia Neoadjuvante,
Neoplasia da mama.
Figura 1: Exame Físico Mama esquerda com hiperemia, edema da pele e calor local atingindo pelo menos 1/3 da extensão da mama
580
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 57
EPIDEMIOLOGIA
581
CAP. 57 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Figura 4: Mamografia Espessamento cutâneo difuso da mama direita. Figura 5: Ressonância de mamas espessamento cutâneo difuso asso-
Nódulo espiculado e linfonodos globosos, densos e aumentados em pro- ciado a edema e aumento da vascularização da pele; massa volumosa
longamento axilar direito. expansiva em mama direita.
582
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 57
como presença ou não de receptores hormonais, inapropriados no tratamento do CI, mesmo que te-
superexpressão de HER-2 e seu índice de prolifera- nha alcançado excelente resposta ao tratamento sis-
ção celular. Na identificação de nódulo palpável ao têmico primário (ou tratamento neoadjuvante)13(B).
exame físico ou ao exame radiológico, a ultrasso- O tratamento padrão ouro do CI da mama é
nografia auxilia na realização da biópsia por agulha realizado com quimioterapia (QT) neoadjuvante,
grossa, ao identificar a área de melhor representa- cirurgia, radioterapia (RT) e tratamento adjuvante
tividade do tumor (área sólida, com menor área de com hormonioterapia e terapia alvo (anticorpo mo-
necrose). A biópsia da pele com parte representati- noclonal com por exemplo trastuzumab) nos casos
va de parênquima da mama associado, pode ser ins- com indicação.
trumento diagnóstico para comprovação da presen- O tratamento quimioterápico preconizado a
ça de carcinoma invasor de mama, principalmente partir de 2013 é aquele que inclui esquema com
na ausência de massa tumoral ao exame físico e antracíclico e taxano. O esquema comumente utili-
radiológico da mama. A comprovação de êmbolos zado é o de dose densa com doxarubicina e ciclo-
linfáticos na derme da pele da mama é informação fosfamida seguido de paclitaxel. A adição de trata-
patognomônica para o diagnóstico de CI13(B). mentos adicionais como trastuzumab com ou sem
Decorrente a alta taxa de doença metastáti- pertuzumab associado dependerá da superexpres-
ca encontrada nas pacientes com CI ao diagnóstico, são do HER-2 no tumor.
o correto estadiamento da doença é fundamental Se ao final da quimioterapia o tumor for con-
para que os tratamentos sistêmico e locorregional siderado ainda não operável, pode-se iniciar segun-
sejam planejados de forma adequada. O estadia- da ou terceira linhas com carboplatina, vinorelbine
mento convencional recomendado é realizado com ou capecitabina. Se após esta abordagem ainda for
tomografias computadorizadas (TC) de tórax, ab- considerado não ressecável, pode-se planejar a ra-
dômen e pelve e cintilografia óssea. Cerca de 25% dioterapia pré-operatória para diminuir o tumor e
das pacientes apresentam metástase a distância ao facilitar a cirurgia13(B).
diagnóstico. A metástase cerebral é mais prevalente A cirurgia padrão a ser realizada após o tra-
em pacientes com CI, no entanto a realização de tamento sistêmico primário (TSP) é a mastectomia
TC de cérebro não deve ser solicitada como rotina, com linfadenectomia axilar. É controverso se a re-
apenas em pacientes sintomáticas13(B). construção mamária imediata teria alguma contra-
A realização de tomografia com emissão de -indicação. Desde que não impossibilite, atrase ou
posítron (PET) associada ou não a TC (PET/CT) como dificulte tecnicamente o tratamento radioterápico,
substituição dos exames de imagem convencionais por exemplo, dificulte abranger todos os campos ne-
supracitados para estadiamento do CI não tem be- cessários da RT complementar, não há consenso que
nefício comprovado em relação a identificação de a reconstrução imediata da mama aumente as reci-
mais metástases e, principalmente, não tem benefí- divas locais, tendo o benefício de proporcionar à mu-
cio em relação ao ganho na sobrevida global. Desta lher maior auto-estima e qualidade de vida16(B)17(B).
forma, deve ser utilizado apenas nos casos em que Séries de casos demonstraram que a mastecto-
os exames de estadiamento convencionais tenham mia associada a QT e RT possibilitou maior controle
resultados duvidosos, até que novos estudos de- local, maior sobrevida livre de doença (SLD) e maior
monstrem superioridade do PET/CT13(B)14(B)15(B). sobrevida global (SG) câncer específica e comparação
a RT associada à QT ou RT exclusiva18(C).
TRATAMENTO A cirurgia conservadora da mama comparada
com a mastectomia após TSP e RT no CI da mama
O tratamento do CI da mama não metastático apresenta, em estudos preliminares, maior taxa
segue os mesmos preceitos do tratamento do CINI de falha de controle local, desta forma não sendo
localmente avançado da mama, com exceção da apontada como técnica cirúrgica adequada no tra-
realização da cirurgia conservadora da mama e da tamento do CI, pelo menos até que novos estudos
biópsia do linfonodo sentinela, que são considerados demonstrem o contrário19(B). Em alguns estudos a
583
CAP. 57 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
584
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 57
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CAP. 57 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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CÂNCER DE MAMA
MASCULINO
Palavras Chave:
Câncer, Mama, Homem.
590
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 58
mens. Carcinoma de mama em mães e irmãs de ho- de mama em homens, apesar de serem necessárias
mens com câncer de mama tem sido observado em, provas mais definitivas2, 12, 27,28 (B).
aproximadamente, 11% dos casos, assim como ten- Algumas constatações devem ser menciona-
dência para homens de uma mesma família desen- das a favor dessa correlação:
volverem a patologia. Além disso, mulheres, parentes • marcada atipia no epitélio ductal do tecido
de primeiro grau de homens com neoplasia mamá- mamário em homens com a associação ginecomas-
ria, parecem ter risco elevado para a doença2, 11,13(B). tia e câncer de mama2; 12 (B);
Estudos sugerem que a mutação no gene BRCA • idade média mais baixa em homens com
1 está menos associada (1 – 5%) ao câncer de mama câncer de mama e ginecomastia associada ; 12 (B);
masculino na comparação com o feminino10-11(B). • maior frequência da neoplasia em pacientes
A mutação no gene supressor BRCA-2, mapeado com Síndrome de Klinefelter, sendo a ginecomastia
no cromossomo 13, está implicado no início precoce bastante comum2; 12(B);
de câncer de mama na mulher, de câncer de próstata • a ginecomastia é comum entre homens –
(quatro vezes) no homem, e em torno de quinze vezes 57% da população masculina acima de 47 anos, e o
no câncer de mama masculino. Essa mutação aparece aumento da sua frequência coincide com o aumento
de variadas formas, especialmente em judeus Ashke- da ocorrência de câncer de mama em homens2; 12 (B).
nazi e em islandeses. Estima-se que 40% de todos
os cânceres de mama na Islândia sejam atribuíveis a TRAUMA
essa mutação2-3-11-13(B).
Pode também associar-se a mutação nos genes Vê-se frequentemente a história de trauma
PTEN, p53, CHEK2. A American Society of Oncology pregresso em pacientes com câncer de mama, mas
(ASCO) recomenda que se considere aconselhamen- os estudos concluem que, provavelmente, o trauma
to e teste genético para homens com diagnóstico de não represente outra situação senão o evento reve-
câncer de mama.2, 10, 11,12 (B). lador da neoplasia2; 12 (B).
É o mais importante fator de risco para o de- A radiação ionizante e a sua relação com o
senvolvimento de neoplasia maligna de mama em carcinoma de mama é descrita em casos isolados
homens. O risco é 50 vezes maior do que na popula- de homens submetidos à radiação no tórax e que,
ção em geral. É uma condição que resulta da herança posteriormente, desenvolveram a patologia, sendo
de um cromossomo X adicional (cariótipo 47 XXY). A que o período de latência máximo para o apareci-
síndrome se compõe de fenótipo masculino, caracte- mento do tumor foi de trinta anos, e o mínimo, de
rísticas sexuais secundárias não totalmente desenvol- doze anos após a exposição14(B). Assim, pacientes
vidas na puberdade, distribuição de pelos femininos, que se submeteram à radioterapia na infância de-
ginecomastia (40%), atrofia testicular, hipofunção das veriam ser observados regularmente, visto que há
células de Leydig, aumento do FSH e LH e genótipo maior risco em desenvolver a doença.
XXY2-12(B). Também se sabe que a exposição crônica ao
Devido a essa maior predisposição para a doen- calor (fábricas de aço, fundições e metalúrgicas) au-
ça, pacientes com Síndrome de Klinefelter deveriam menta a frequência de câncer de mama em homens,
ser orientados e submetidos a um cuidadoso e roti- sugerindo que o aumento de temperatura no am-
neiro exame das mamas2-12(B). biente pode ter efeito supressivo-testicular e, as-
sim, potencializar o aparecimento da neoplasia14(B).
GINECOMASTIA Pessoas expostas a campos eletromagnéticos
podem ter risco aumentado de desenvolver neopla-
A presença de ginecomastia é considerada um sia mamária, sendo que os estudos que sugerem o
fator de risco para o desenvolvimento de câncer fato foram feitos apenas com ratos, necessitando-se
591
CAP. 58 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
592
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 58
593
CAP. 58 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 58
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595
CAP. 58 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
596
59
CÂNCER DE MAMA
E GESTAÇÃO
Palavras Chave:
Neoplasia da mama, Gravidez, Diagnóstico, Terapia combinada.
LAURA TESTA
Oncologista Clínica do Instituto do Câncer do Estado de SP e do Centro de Oncologia do Hospital Sírio Libanês
ANGELA F TRINCONI
Doutora pela FMUSP, Mastologista do Instituto do Câncer do Estado de SP e do CRSM Hospital Péola Byington
CAP. 59 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
INTRODUÇÃO
OBS :Devemos considerar a impossibilidade de
O câncer de mama durante a gestação (CMG) desenvolvimento de estudos randomizados com mu-
é definido, de maneira geral, como aquele diagnos- lheres grávidas portadoras de câncer de mama tanto
ticado durante o período gestacional ou até um ano pelo pequeno numero de casos quanto pelas particu-
após o parto, constituindo-se numa situação com- laridades desta situação, o nível de evidência A rara-
plexa tanto do ponto de vista médico quanto psi- mente pode ser encontrado.
cossocial, para paciente e família.
Embora pouco comum, correspondendo a cer- DIAGNÓSTICO
ca de 3% dos cânceres de mama diagnosticados¹(C)2,
ainda consiste na neoplasia maligna mais diagnos- A tendência natural de engurgitamento ma-
ticada na gravidez e puerpério, ocorrendo um caso mário e aumento da sensibilidade local durante a
em cada 3000 gestações. Acomete mais frequen- gestação e lactação podem retardar a detecção de
temente mulheres entre 32 e 38 anos de idade e, pequenas massas e, portanto, o diagnóstico precoce
porque muitas mulheres escolheram postergar a do CMG. São reportados atrasos no diagnóstico do
gravidez, parece que a incidência do CMG vem au- CMG de 5 a 15 meses a partir do início dos sinto-
mentando 2. mas, o que leva ao diagnóstico em estádios mais
Há poucos estudos prospectivos sobre o diag- avançados que em mulheres com a mesma faixa
nóstico e o tratamento do CMG, porém, as carac- etária, porém não gestantes 5(C).
terísticas da doença parecem similares às encon- A maioria das anormalidades encontradas nas
tradas na população controle, quando pareadas por mamas de mulheres grávidas são nódulos palpáveis
idade 3(C). de natureza benigna, por vezes de crescimento rápido,
Apesar de não termos dados seguros quanto a em mama que também aumentou muito de volume, o
casuística brasileira de CMG, o fato de termos 10% que dificulta a distinção clínica das lesões malignas e
dos casos de câncer de mama em idade inferior aos portanto, necessita investigação diagnóstica.
40 anos, quando comparado aos 5% da literatura Para estimular a detecção do CMG torna-se
internacional, acrescido ao conhecimento de que importante o auto-conhecimento das mamas por
a prole das brasileiras costuma ser mais numerosa parte das gestantes e lactantes, para que possam
que a das norte-americanas e européias, nos per- detectar alterações e relatar ao médico pré-natalis-
mite cogitar que o CMG é mais frequentes aqui que ta que, por sua vez, deve realizar na rotina pré-natal
naquelas regiões. o exame das mamas.
Infelizmente, muitos casos são diagnostica-
dos já em situação mais avançada, por dificuldades EXAME CLÍNICO DAS MAMAS
inerentes à avaliação clínica e radiológica da mama - inspeção estática
gestante. Durante a gestação e puerpério existe - inspeção dinâmica
baixo nível de suspeita por parte do médico pois - palpação das mamas, axilas, regiões clavicu-
além de jovem, as alterações do parênquima ma- lares e para-esternais
mário, secundárias ao estado gestacional e à lacta- - expressão
ção, dificultam o exame clinico e, muitas vezes, no- Uma vez detectada alteração mamária, proce-
dulações ou alterações texturais são interpretadas de-se a pesquisa diagnóstica através de:
como normais 4(C).
No CMG o tratamento ideal é aquele que mais EXAMES DE IMAGEM
se assemelha àquele recomendado às pacientes jo-
vens não gestantes, ainda que durante a gestação ULTRASSONOGRAFIA DAS MAMAS
uma série de particularidades deva ser considerada,
o que já não ocorre no puerpério, quando a conduta É o método preferencial para avaliar altera-
é seguir o tratamento padrão para câncer de mama. ções mamárias durante a gravidez e lactação, além
598
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 59
599
CAP. 59 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
600
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 59
Estudos mostram que agentes anestésicos ou associado a morbidade para a paciente ou o feto 10(C).
drogas usadas rotineiramente em anestesia não Rotações de grandes retalhos (Grande dorsal,
têm papel teratogênico em humanos. Assim, a ci- TRAM, etc) devem ser evitados durante a gravidez
rurgia mamária pode seguramente ser realizada em devido a maior agressão cirúrgica e maior risco de
todos os trimestres da gravidez, com mínimo risco complicações como infecção e necrose de tecidos.
ao desenvolvimento fetal. 16(B) No puerpério tardio as condutas de oncoplás-
Além dos fatores relacionados na indicação tica são as mesmas preconizadas para mulheres não
de CC, tais como desejo da paciente, radicalidade gestantes.
oncológica e resultado estético satisfatório, deve-
mos considerar a possível dificuldade na avaliação CONDUTAS PRECONIZADAS
intraoperatória das margens de ressecção e maior
risco de complicações cirúrgicas devido às transfor- De acordo com o National Comprehensive Can-
mações continuas neste período. No caso de cirur- cer Network (NCCN) 9(B) , quanto à época de diagnós-
gia programada durante a gestação, deve-se ter em tico do câncer de mama, temos:
mente a necessidade de radioterapia complemen- • Até 13 semanas de gestação: aguardar
tar, no máximo, após 16 semanas de pós-operatório sempre que possível. Se risco muito ele-
e já no pós-parto. vado, considerar a interrupção da gestação
Estas mesmas considerações devem ser leva- • Após 13 semanas de gestação:
das em conta nos casos de QTNA com boa resposta - cirurgia (CC ou M) seguida por QT adjuvante
tumoral, possibilitando a indicação de tratamento - QTNA seguida de cirurgia
conservador. • Após o parto: seguir as mesmas recomen-
dações feitas para pacientes não gestantes.
ABORDAGEM AXILAR
Indicações de biópsia do linfonodo sentinela Atenção especial10, 16, 17:
(BLS) ou linfonodectomia axilar (LA) são pratica-
mente as mesmas das não gestantes, a diferença • Sempre interromper a quimioterapia 2 a 3
fica por conta dos marcadores do LS: azul paten- semanas antes do parto, ou seja, entre 34
te ou tecnécio. e 35 semanas de gestação
O azul patente esta contraindicado, pois se • O parto deve ser programado entre 37 e 38
mostrou teratogênico em animais de laboratório e semanas de gestação, sendo a via de parto
também existe o risco de reação anafilática que, uma indicação puramente obstétrica.17(B)
apesar de pouco frequente (1%), no caso de ges- • Evitar ao máximo parto prematuro devi-
tantes seria catastrófico.10(C) do às conhecidas alterações neurofisio-
O uso do tecnécio vem se revelado segu- lógicas e cardiotoxicidade secundária ao
ro, pois a dose de irradiação fetal se dá muito uso de antracíclicos.
abaixo do limite de segurança (dose fetal menor • Quando necessário, reintroduzir a quimio-
que 0,014mGy)18(B) e atualmente é o método que terapia 7 a 10 dias após o parto.
vem sendo indicado pelos principais guidelines. • A amamentação é possível na mama contrala-
10
(C), 17(B) Aconselha-se a administração do colói- teral à tratada, desde que não haja indicação
de o mais próximo possível do horário cirúrgico, de radioterapia ou de continuidade de quimio-
para minimizar a exposição ao radiofármaco 17(B). terapia, uma vez que agentes lipofílicos, como
os taxanos, podem acumular no leite .
RECONSTRUÇÃO IMEDIATA
Não há dados sobre reconstrução mamária du- PACIENTES METASTÁTICAS AO
rante a gravidez. De preferência deve ser indicada no DIAGNÓSTICO
pós-parto 16(B), porém, quando realizada durante a ges-
tação, a inserção de expansor tecidual parece não estar 1. Se a indicação de tratamento sistêmico palia-
601
CAP. 59 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
tivo não requerer início imediato, programar com epirrubicina semanal 20(C). Ambos relatam ta-
o parto com 37/38 semanas de gestação. xas de complicações maternas e fetais semelhantes
Amamentação, se possível, e inibir lactação a às descritas em pacientes não grávidas com câncer
partir do início do tratamento sistêmico. de mama e fetos não expostos à quimioterapia, de-
2. Se a indicação de QT paliativa for imediata, vendo-se, entretanto levar em conta o pequeno nú-
deve-se interromper os ciclos entre 34/35 se- mero de pacientes estudadas. Na série do MDACC,
manas e programar o parto para 37/38 sem. na qual a prole foi seguida até o início da vida adul-
Inibir a lactação e continuar a QT paliativa ta, não foram vistos sequelas ou problemas signifi-
uma semana após o parto. cativos 19(C), assim como em outras séries maiores
3. Quando houver indicação de abordagem e com seguimento mais longo em pacientes com
cirúrgica do sítio metastático, deverá ocorrer tumores hematológicos 21(B).
consenso entre as especialidades multidis- No entanto, uma análise cuidadosa destes dados
ciplinares envolvidas no tratamento da pa- mostrará que, tanto para a doxorubicina quanto para o
ciente metastática, considerando-se os pos- paclitaxel, há evidência de algum grau de comprome-
síveis benefícios desta conduta. timento na exposição fetal, já que casos de mielotoxi-
4. Quando a doença for extensa e rapidamente cidade pós-natal são descritos para ambas as drogas,
progressiva, com possibilidade de morte an- especialmente quando a QT foi administrada antes de
tes do término da gravidez, considerar a indi- 3 semanas precedentes ao parto 17(B).
cação de parto prematuro em discussão mul- Deve-se, no entanto esclarecer que o clás-
tidisciplinar. sico esquema FAC do MDACC difere um pouco do
5. Manter um suporte intenso à gestante e fa- usualmente utilizado no Brasil, pois a doxorubicina
miliares, que devem ser previamente orien- é administrada em infusão contínua de 72h (dose
tados de que: clássica de 50 mg/m2). Este esquema resulta em
• O término da gravidez não altera o prog- menores picos séricos e parece inclusive reduzir o
nóstico da paciente com câncer de mama risco de cardiomiopatia em mulheres com câncer
• A doença metastática não é curável. de mama podendo, ao menos teoricamente, resultar
• A doença metastática apresenta resposta numa menor penetração placentária e exposição
imprevisível a QT. fetal. Não se pode, portanto excluir que o modo de
• A doença metastática pode apresentar so- administração da doxorubicina tenha contribuído
brevida limitada. para os bons resultados de segurança fetal nesta
• A possibilidade de progressão da doença pode série. Este mesmo arrazoamento foi utilizado no
prejudicar o desenvolvimento fetal . estudo Europeu (a administração semanal pode, da
• Existe uma maior possibilidade de compli- mesma forma, resultar em menores picos séricos do
cações e até morte do RN quando o parto quimioterápico) 20(C). Contudo, em outras pequenas
é prematuro. séries retrospectivas, AC ou FAC usados da forma
clássica, isto é, a cada 3 semanas também se mos-
TRATAMENTO SISTÊMICO traram esquemas seguros 22(B).
A experiência com taxanos é bem menor, mas
Contrariamente ao que muitos assumiriam, não parece ser diferente daquela descrita com as
sabe-se hoje que a administração de QT a gestan- antraciclinas23(B). O grupo colaborativo internacio-
tes é viável a partir do segundo trimestre, quando a nal tem publicações mais recentes corroborando a
organogênese está completa. segurança das antraciclinas e ampliando a litera-
Isto foi determinado com base em várias sé- tura sobre taxanos e gestação 17(B), 23(B), 24(B). Nesta
ries institucionais retrospectivas, algumas já com coorte prospectiva, a idade gestacional ao nasci-
longo seguimento das pacientes e sua prole, das mento foi determinante para os desfechos pediá-
quais se destacam a do MDACC com 5-fluorouracil, tricos, sendo importante estarmos atentos a não
doxorrubicina, ciclofosfamida (FAC) 19(C) e a italiana causar prematuridade iatrogênica.
602
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 59
As indicações de quimioterapia seguem a para tal. A gravidez não piora o prognóstico do cân-
mesma lógica das não gestantes. Os esquemas uti- cer de mama.
lizados espelham os das demais pacientes, com cer- O manejo do câncer de mama metastático
tas particularidades. Algumas considerações gerais é ainda mais complexo. A gestação pode ser pre-
25(C)
estão listadas no quadro abaixo. servada, mas o contexto deve ser cuidadosamente
• A QT não deve ser administrada durante avaliado, levando-se em conta o risco vital materno
o primeiro trimestre de gravidez (risco de imediato assim como suas preferências. A QT com
aborto e malformação). Pode ser iniciada a doxo/epirrubicina e/ou taxanos pode ser adminis-
partir da 13º semana . trada; no entanto, em pacientes oligo ou assinto-
• Na medida do possível, deve-se evitar a ad- máticas, sem ameaça vital imediata, não há urgên-
ministração de QT nas 4 semanas que pre- cia em se iniciar o tratamento
cedem o parto, devido ao risco de mielotoxi-
cidade fetal que estará então exposto a um REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ambiente não estéril.
• Seguimento especializado e intensivo, acom- 1. Ring AE, Smith IE, Ellis PA. Breast cancer and
panhamento conjunto das equipes de Onco- pregnancy. Ann Oncol. 2005;16(12):1855-60.
logia Clínica, Mastologia e Obstetrícia. 2. National Cancer Institute [Internet]. Breast
• A via de parto deve seguir a indicação obs- Cancer Treatment – Health Professional
tétrica e desejos da paciente. A programa- http://www.cancer.gov/types/breast/hp/preg-
ção do parto deve levar em consideração nancy-breast-treatment-pdq.
que a prematuridade é determinante no 3. Vinatier E, Merlot B, Poncelet E, Collinet P,
desfecho pediátrico. Vinaltier D. Breast Cancer During Pregnan-
As indicações de administração pré-operatória cy. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol 2009
(neoadjuvante) da QT são, na medida do possível, as Nov;147(1):9-14.
mesmas de pacientes não gestantes. No entanto, no 4. Navrozoglou I, Vrekoussis T, Kontostolis E,
contexto da gestação, é frequentemente necessário Dousias V, Zervoudis S, Stathopoulos EM, et
individualizar as decisões. Por exemplo, em pacien- al. Breast Cancer During Pregnancy: a mini-re-
tes com tumores localmente avançados (exceto para view. Eur J Surg Oncol. 2008 Aug;34(8):837-
tumores inflamatórios e/ou inoperáveis) gestantes 43.
de 30 semanas ou mais, pode fazer mais sentido 5. National Cancer Institute [Internet]. Breast
operar primeiro e administrar QT adjuvante somente Cancer Treatment – Health Professional http://
após o parto, sem maiores prejuízos à paciente e evi- www.cancer.gov/types/breast/hp/pregnan-
tando-se assim qualquer exposição fetal. cy-breast-treatment-pdq#link/_103_toc
Quanto às terapias-alvo, deve-se salientar que 6. Yang WT, Dryden MJ, Gwyn K, Whitman GJ,
o Trastuzumabe não pode ser administrado durante Theriault R. Imaging of Breast Cancer Diag-
a gestação, devido ao risco de oligo e anidrâmnio nosed and Treated with chemotherapy during
(efeito adverso descrito também com outros anti- pregnancy. Radiology. 2006 Apr;239(1):52-60.
corpos monoclonais) 26(B), 27(B). A hormonioterapia 7. Ayyappan AP, Kulkarni S, Crystal P. Pregnan-
com o tamoxifeno também deve ser reservada para cy-associated breast cancer: spectrum of im-
o pós-parto, devido ao risco de malformações, e do aging. Br J Radiol. 2010 Jun;83(990):529-34.
mesmo modo evitar a radioterapia e uso dos bis- 8. Doger E, Caliskan E, Mallmann P. Pregnancy
fosfonados 26(B). associated breast cancer and pregnancy after
Sempre devemos pontuar as diferenças entre breast cancer treatment. J Turk Ger Gynecol
tratamentos padrão para não gestantes e gestantes. Assoc. 2011 Dec 1;12(4):247-55.
Manter ou interromper a gestação é uma decisão 9. National Comprehensive Cancer Network [In-
da paciente e a mesma (e seu companheiro) devem ternet]. NCCN Clinical Guidelines in Oncology –
receber todas as informações necessárias e suporte Breast Cancer – version 2/2016 https://www.nccn.
603
CAP. 59 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
604
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 59
605
REABILITAÇÃO E MANEJO DOS
SINTOMAS PÓS CÂNCER DE MAMA
60
REABILITAÇÃO FÍSICA NO
CÂNCER DE MAMA
Palavras Chave:
Fisioterapia, Linfedema, Reabilitação, Complicações e Atividade física
FERNANDA ZAMBELLI
Fisioterapeuta na Clínica Fernanda Zambelli (SP)
Fellow no Instituto Europeu di Oncologia (IT)
ALESSANDRA TESSARO
Fisioterapeuta Especialista em Oncologia
Fisioterapeuta do Núcleo Mama Moinhos/ Hospital Moinhos de Vento (RS)
ANKE BERGMANN
Fisioterapeuta Pesquisadora Associada no Programa de Carcinogênese Molecular – Instituto Nacional de Câncer
Docente da Pós Graduação Stricto Sensu – INCA (RJ)
CAP. 60 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
INTRODUÇÃO retrações);
• Dor (aguda e crônica);
As evoluções no tratamento e no rastreamento • Parestesias e neuropatias;
do câncer de mama aumentaram consideravelmente a • Escápula alada;
sobrevida das pacientes1(B), 2(B). Neste sentido, a fisio- • Fadiga;
terapia desempenha um importante papel na melhora • Disfunções sexuais;
e preservação da funcionalidade física das pacientes, Para uma adequada intervenção fisioterapêutica, em
sendo indispensável em todas as fases do tratamen- cada uma dessas complicações é importante identificar os
to3(B), 4. A fisioterapia atua na preservação da qualidade fatores de risco, os métodos disponíveis para rastreamento
de vida, diminuindo efetivamente as morbidades5(B), e detecção precoce e os tratamentos mais adequados.
6
(B), 7(B), com impacto positivo na sobrevida global des-
sas mulheres8(B). No entanto, muitas pacientes ainda FISIOTERAPIA AO DIAGNÓSTICO DE
apresentam complicações agudas e crônicas9(B), 10(A), CÂNCER DE MAMA
11
(B), 12-13-14 (A). Portanto, a fisioterapia deve ser estimula-
da a partir do diagnóstico de câncer de mama, visando No diagnóstico de câncer de mama, o princi-
estabelecer condutas para a prevenção e o tratamento pal objetivo da fisioterapia é identificar fatores de
das mesmas como pode ser observado na figura 1. risco para as complicações do tratamento a que a
A fisioterapia, quando desempenhada precoce- mulher será submetida e/ou patologias prévias.
mente, pode prevenir e minimizar diferentes compli- De maneira geral, a atuação da fisioterapia no
cações do tratamento oncológico (cirurgia, quimiote- diagnóstico de câncer de mama pode ser:
rapia, radioterapia e hormonioterapia)3(B), 4. Algumas 1. avaliação e identificação dos fatores de risco
complicações do tratamento neo e adjuvante, em- para as complicações do tratamento oncológico;
bora a fisioterapia não tenha atuação direta, podem 2. planejamento do tratamento, de acordo com
interferir nas condutas, tanto aumentando o risco de a avaliação fisioterapêutica e o tratamento
outras sequelas, quanto contraindicando determina- oncológico a ser instituído;
das condutas fisioterapêuticas (figura 2). 3. tratamento das alterações físico funcio-
Entre os principais problemas decorrentes dos nais presentes, sempre que possível;
tratamentos sistêmicos e loco regionais do câncer de 4. orientações domiciliares quanto ao autocui-
mama, no qual a fisioterapia tem atuação importan- dado, exercícios e atividades diárias;
te, destacamos: 5. informar a equipe multidisciplinar quando for
• Edemas e linfedemas; observada alterações preexistentes que pos-
• Restrição da amplitude de movimento sam impactar no tratamento oncológico.
(ADM) do membro superior;
• Síndrome da rede axilar (SRA); FISIOTERAPIA PRÉ E PÓS - OPERATÓRIO
• Alterações da ferida operatória (seroma,
linfocele, deiscência, necrose, infecção); A avaliação pré-operatória permite progra-
• Alterações cicatriciais (fibroses, aderências, mar melhor o tratamento de reabilitação e evita
Figura 1 – Modelo de atenção fisioterapêutica para prevenção e tratamento de complicações do câncer de mama
610
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 60
Figura 3 – Modelo de atenção fisioterapêutica para prevenção e tratamento do linfedema secundário ao câncer de mama
611
CAP. 60 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
612
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 60
AMAROS comparou o risco de linfedema entre pa- deve ser avaliada a possibilidade de mobilização
cientes que fizeram linfadenectomia axilar (40%) e superficial e delicada das próteses, por meio da dre-
pacientes que irradiaram a cadeia linfática axilar nagem linfática manual ou pela liberação tecidual
(21,7%), mostrando que a cirurgia por si só aumenta funcional. Essa mobilização manual irá minimizar a
esse risco. Em pesquisa34 utilizando a perimetria, fo- dor e prevenir a ocorrência de aderências e fibroses,
ram avaliadas 1.476 pacientes que fizeram radiote- sem aumentar o risco de deslocamento da prótese.
rapia após câncer de mama, concluindo que irradiar No pós-operatório tardio, atenção deve ser
cadeias linfáticas aumentou o risco de desenvolver dada àquelas com doação de retalhos musculares
linfedema no membro superior35(A). (grande dorsal e reto abdominal). Diferentes téc-
nicas de reeducação postural podem ser ofertadas
FISIOTERAPIA NAS RECONSTRUÇÕES visando prevenir alterações posturais e processos
MAMÁRIAS degenerativos que podem evoluir com dor e restri-
ção funcional.
A realização de reconstrução mamária ime- Quanto ao linfedema em mulheres submeti-
diata ou tardia requer a implementação de con- das à reconstrução, um estudo39(B) incluindo 622
dutas que visam diminuir as complicações agudas pacientes mastectomizadas e com esvaziamento
e prevenir a instalação de sequelas que possam axilar, que foram acompanhadas por 10 anos, mos-
comprometer o resultado estético e funcional16, trou que tanto a reconstrução imediata como a tar-
36-37(B), 38(B). O pré-operatório deve incluir a ava- dia, diminuíram a ocorrência de linfedema em 36%.
liação das áreas doadoras e as orientações domici-
liares específicas dependendo da técnica cirúrgica FISIOTERAPIA, ATIVIDADE FÍSICA E
a ser realizada. PROGNÓSTICO
No pós-operatório imediato, as mulheres que
são submetidas a reconstrução devem manter a mo- A atividade física está entre os principais re-
vimentação do braço limitada a 90 graus por 2 a 4 cursos da fisioterapia antes, durante, e após o trata-
semanas. Na reconstrução mamária com o uso de ex- mento do câncer de mama, com o objetivo de pre-
pansores e próteses mamárias, é indicado o uso de venir, minimizar e tratar suas complicações. Além
soutien compressivo. Na reconstrução com retalho disso, a atividade física tem importante impacto na
miocutâneo do reto abdominal (TRAM), é necessário sobrevida livre de doença, específica e global40-41(A).
adaptar malha compressiva em neomama e região ab- Entre alguns dos possíveis mecanismos que
dominal a fim de evitar edemas e facilitar a aderência justificam a ação da atividade física no prognóstico
dos tecidos descolados. Essas mulheres também são de mulheres com câncer de mama, estão:
orientadas a manter o tronco levemente fletido por • Aumento da atividade antioxidante;
aproximadamente 15 dias, tanto em decúbito dorsal • Mecanismos de reparo do DNA;
como durante a marcha. Importante também instituir • Alteração no processo de proliferação,
fisioterapia respiratória a fim de evitar complicações e apoptose e diferenciação celular;
facilitar a cicatrização dos tecidos. • Diminuição do processo inflamatório;
Em todas as técnicas de reconstrução, na ocor- • Aumento da função imune;
rência de dor, podem ser utilizados recursos fisiote- • Regulação da angiogênese;
rapêuticos analgésicos, como o uso de TENS, dre- • Controle do peso corporal;
nagem linfática manual, acupuntura, entre outros. • Modulação da expressão de estrogênio e
É importante também orientar as pacientes quanto progesterona.
às mudanças de decúbito, que devem ser realizadas Um dos principais efeitos da atividade física
em decúbito contralateral para evitar descarga de é a redução da fadiga. Em meta-análise publica-
peso no braço afetado. da26(A) foi observado que os exercícios aeróbicos
Após aproximadamente 15 dias, para as pa- supervisionados (p<0,001) e treinamento de resis-
cientes em uso de expansores e próteses mamárias, tência (p=0,02) melhoram a fadiga. Outros estudos
613
CAP. 60 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
614
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 60
O diagnóstico do linfedema pode ser obtido bros a partir das medidas da perimetria (fórmula de
pelos sintomas subjetivos iniciais referidos pelos tronco de cone).
pacientes, como a sensação de peso no braço, sen- Deve-se considerar como diagnóstico de lin-
sação de aperto em punho e dedos, diminuição da fedema a diferença maior do que 2cm ou volume
flexibilidade em mão e cotovelo, relato de incha- maior do que 200ml. Os exames complementares,
ço no braço e hemitórax homolateral. Além disso, como ultrassonografia e linfocintilografia, são uti-
é importante a realização da inspeção e palpação lizados quando se objetiva verificar a eficácia de
onde, dependendo da fase do linfedema, pode ha- tratamentos ou para analisar condições associa-
ver presença de alterações cutâneas e da coloração das48(B), 49(C), 44(B).
do membro, fibrose, linfocistos e eventualmente si- A Terapia Física Complexa (TFC) é a forma de
nais inflamatórios ou flogísticos. tratamento conservador que apresenta resultados
Para a quantificação da alteração de volume mais consistentes para a maior parte dos pacientes.
entre os membros, pode ser realizada a perimetria Os resultados da TFC dependem fundamentalmen-
em pontos fixos nos dois membros ou a volumetria te da fase em que se encontra a doença quando
direta (deslocamento de água). Pelo fato da volu- se inicia o tratamento, independente da idade da
metria direta não ser um método de fácil uso na paciente e do tempo de evolução do quadro clínico.
prática clínica, pode-se obter o volume dos mem- A TFC é composta por drenagem linfática manual,
615
CAP. 60 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
terapia compressiva, exercícios e cuidados com a Os exercícios físicos são indicados sempre
pele44(B), 50-51(A), 52(B). com o membro sob compressão externa. A movi-
A drenagem linfática manual tem como prin- mentação do membro aumenta o fluxo linfático re-
cípios fundamentais a realização de manobras com gional e provoca contração da musculatura lisa da
baixa pressão, atividade manual rítmica e lenta e o parede dos vasos coletores. Além da ação direta so-
tratamento inicial de áreas normais e proximais à bre a drenagem linfática, a prescrição dos exercícios
região de linfostase. As manobras devem ser exe- visa a recuperação funcional do membro, uma vez
cutadas com baixa pressão porque o objetivo da que o linfedema diminui a funcionalidade articular
absorção e transporte linfático se dirige a linfáti- pela infiltração edematosa da cápsula e ligamentos
cos iniciais, mas também pela demonstração de que e ainda pela restrição externa à articulação em de-
pressões acima de 40 mmHg podem levar a lesão corrência da fibrose tecidual e do edema. Devem ser
dos capilares. A abordagem inicial das áreas distan- prescritos exercícios ativos realizados pelo próprio
tes do edema visa preparar os linfonodos e vasos paciente, que mobilizam as articulações e grupos
proximais para receber a sobrecarga de volume musculares de forma centrífuga acompanhando a
proveniente do membro afetado. sequência da drenagem linfática manual.
A terapia compressiva é fundamental para ob- Os cuidados com a pele são necessários uma
tenção de resultados adequados e varia conforme a vez que os pacientes com deficiência de drenagem
fase do tratamento. Na fase descongestiva é empre- linfática apresentam diminuição da circulação lin-
gada compressão com baixa elasticidade através focitária e da resposta imune tardia, resultando em
de enfaixamento com múltiplas camadas. Na fase deficiência imunológica regional. Lesões de pele
de manutenção utiliza-se compressão por meio de provocam perda da barreira protetora da epiderme,
braçadeiras elásticas. Estas só são prescritas quan- facilitando a invasão bacteriana e quadros infec-
do todo o fluido mobilizável não estiver mais pre- ciosos agudos, com lesão adicional dos vasos lin-
sente no membro afetado, fato que pode ser ava- fáticos e piora progressiva do edema. A prevalência
liado pelo desaparecimento do sinal de Godet. O de lesões fúngicas interdigitais é alta em pacientes
grau de compressão a ser escolhido é a máximo su- com linfedema, principalmente por dermatófitos e
portado pelo paciente, usualmente proporcional ao leveduras. Devem ser tomadas medidas locais de
grau de fibrose tecidual. Para o membro superior, a higiene e aplicação de antifúngicos.
compressão utilizada é de cerca de 30 a 40 mmHg Usualmente divide-se a TFC em duas fases:
e não raramente é necessária confecção de malha fase descongestiva e fase de manutenção. Na fase
sob medida. descongestiva, em que a maior parte do edema é
reabsorvida e se inicia a regressão das alterações
teciduais fibroescleróticas, as sessões de drenagem
linfática manual são diárias e a compressão teci-
dual é realizada através de enfaixamento. Essa fase
dura, em geral, de 6 a 8 semanas. Na fase de manu-
tenção, as drenagens linfáticas são ocasionais e o
resultado da primeira fase é mantido ou melhora-
do com uso de compressão através de braçadeiras
elásticas. A fase de manutenção pode estender-se
por toda a vida.
Outras condutas fisioterapêuticas estão sen-
do utilizadas como adjuvantes à TFC. A compressão
pneumática intermitente é utilizada em alguns cen-
tros como terapia para o linfedema. Existem vários
Figura 4 – Fluxograma de atendimento fisioterapêutico a mulher tratada
aparelhos disponíveis para aplicação clínica, porém
com câncer de mama não há consenso sobre a eficácia deste método. En-
616
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 60
Tabela 1 - Principais sequelas do tratamento do câncer de mama, com fisiopatologia, quadro clínico e tempo de evolução.
Restrição do braço Trombose linfática superficial com 1 semana até 1 ano após a cirurgia,
Restrição de abdução do braço
(Web Syndrom) perda de elasticidade com melhora lenta
Quadro 2 - Principais seguelas do tratamento do câncer de mama com físiopatologia, quadro clínico e tempo de evolução.
tre outros recursos, cita-se ainda o taping, laser de zada para o tratamento do linfedema com
baixa frequência, eletroestimulação transcutânea, bons resultados. Consiste na retirada da
acupuntura, etc53(B), 54(A), 51(A), 55(A). gordura edemaciada e hipertrofiada, líquido
Considerando os tratamentos medicamen- intersticial e de proteínas acumuladas. Deve
tosos, os diuréticos não estão indicados para pa- ser realizada de maneira delicada, para as
cientes com linfedema, exceto para tratar outras mesmas indicações da dermolipectomia, re-
afecções concomitantes, como hipertensão arterial sultando em baixa taxa de infecção e dimi-
sistêmica ou insuficiência cardíaca. nuição do volume do membro. Assim como
A cirurgia é considerada a conduta de exce- para a TFC, os pacientes devem manter
ção para o tratamento do linfedema. As cirurgias acompanhamento estrito e de longo prazo;
utilizadas atualmente são divididas em cirurgias de • Amputação: os casos de malignização do
ressecção (dermolipectomia, lipoaspiração e ampu- linfedema, com transformação em linfan-
tação) e cirurgias de derivação (anastomose linfo- giossarcoma, são raros. Esta é uma neo-
venosa por técnica microcirúrgica)44(B). plasia imatura de caráter muito agressivo,
• Dermolipectomia: não visa a cura do lin- com alta taxa de mortalidade. Deve-se es-
fedema mas sim a retirada de excessos de tar atento à formação de uma úlcera no
pele e tecido celular subcutâneo, sendo membro com linfedema e indicar biópsia
uma alternativa para o linfedema gigante precocemente. O tratamento é a amputa-
após o tratamento clínico, num membro ção precoce do membro comprometido,
que manteve as medidas por pelo menos com extenso esvaziamento ganglionar. É
um ano e que não apresentou linfangite. importante fazer o diagnóstico diferen-
Dessa forma, o membro afetado adquire cial preciso entre o linfangiossarcoma do
uma forma mais fisiológica e pode ser me- linfedema pós-mastectomia (Síndrome de
lhor manipulado pela TFC, apresentando Stewart-Treves) e os nódulos subcutâneos
melhor funcionalidade. Consiste na retira- de adenocarcinoma da mama no membro
da de um fuso de pele e tecido celular sub- superior, pois estes últimos são de menor
cutâneo com fechamento primário, deven- agressividade e respondem razoavelmen-
do-se evitar grandes descolamentos para te às excisões locais e quimioterapia;
que não haja lesão linfática excessiva; • Anastomose linfovenosa: tem indicação
• Lipoaspiração: esta técnica tem sido utili- em casos muito selecionados, em linfede-
617
CAP. 60 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
mas numa fase inicial, em que ainda não Available from: <https://www.spandidos-pub-
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61
MANEJO DOS SINTOMAS
CLIMATÉRICOS APÓS O
TRATAMENTO DO CÂNCER
DE MAMA
Palavras Chave:
Câncer , mama, menopausa, fogachos, terapia de reposição hormonal, fitoterapia.
ANDREA CUBERO
Profa Assistente do Departamento de Mastologia da FMABC
Titulo de Especialista em Mastologia
CAP. 61 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
624
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 61
400 a 800mg de vitamina D. mulheres com câncer de mama (69% das quais es-
Os exercícios fisicos aeróbicos melhoram o tavam em uso de tamoxifeno) demonstrou que a
condicionamento cardiorrespiratorio e são benéfi- venlafaxina foi mais eficaz que o placebo no trata-
cos para a função cognitiva do idoso. E devem ser mento dos fogachos após 4 semanas de uso. Houve
realizados, de preferência, sob a luz do sol, para fa- uma redução media dos sintomas em 37% das pa-
cilitar a absorção de vitamina D, auxiliando na fixa- cientes que tomaram 37,5 mg/dia, e 61% das que
ção de cálcio nos ossos. Agora, os exercícios físicos tomaram 75 mg/dia e 150mg/dia, em comparação
de impacto, repetidos com o solo, auxiliam na re- com o placebo.2(A)
modelação óssea.2(A) Os principais efeitos colaterais foram: boca
Os exercícios para a musculatura pélvica são seca, náuseas, hiporexia, e constipação intestinal,
reconhecidamente eficazes para o tratamento da sendo correlacionadas à dose de 150 mg/dia. O uso
incontinência urinaria e da urge-incontinência. de 75mg/dia de venlafaxina durante 12 semanas
O efeito da acupuntura foi analisado, em uma mostrou efeito benéfico significativo na redução
revisão sistemática puplicada em 2009, tendo in- dos sintomas vasomotores. Portanto, concluiu-se
cluido 11 estudos e 764 individuos. Não houve evi- que 75 mg/d foi a dose ideal.
dência da superioridade da acupuntura em relaçao Outro estudo randomizado controlado sobre
ao alívio dos sintomas vasomotores.7(A) a ação do succinato de desvenlafaxina, o principal
Também não se conseguiu comprovar que a metabolito da venlafaxina, demonstrou redução de
yoga seja eficaz no tratamento dos sintomas clima- 64% dos fogachos em 12 semanas de uso com a
téricos. dose de 100 mg/dia (contra 51% do placebo). A des-
venlafaxina mostrou ação rápida e boa tolerabili-
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO NÃO dade. 2(A)
HORMONAL
GABAPENTINA
Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotoni-
na ( ISRS) e Inibidores da Recaptação da Noradrena- A Gabapentina é um anticonvulsivante de
lina ( ISRN) ação rápida e eficiente, em curto espaço de tempo,
após sua introdução.
Há evidências suficientes de que os antide- É eficaz no tratamento dos sintomas vasomo-
pressivos da família dos inibidores seletivos da tores, na dose de 900mg/d, reduzindo as ondas de
recaptação da serotonina (ISRS), tais como a paro- calores em pacientes após o tratamento de câncer
xetina, fluoxetina , sertralina, e dos inibidores da de mama.
recaptação da noradrenalina, como a venlafaxina Existem poucos estudos comparando a eficá-
e desvenlafaxina, são eficazes no tratamento dos cia da gabapentina, nos sintomas vasomotores, com
sintomas vasomotores do climatério. os ISRS/ ISRN. Porém, ela apresentou maior tolera-
As taxas de alívio são bastantes variáveis, a bilidade e menos efeitos colaterais, principalmente
venlafaxina leva a redução de 60%, a paroxetina em em relação à disfunção sexual, em comparação aos
torno de 65%, a fluoxetina em torno de 50%, quan- ISRS/IRSN.9(A)
do comparadas ao placebo.
Porém, nos casos de tratamento após câncer CLONIDINA
de mama em uso de tamoxifeno, deve-se evitar a
maioria dos ISRS, pois podem reduzir o efeito do A Clonidina é um agonista alfa adrenérgico
tamoxifeno pela inibição da sua conversão ao en- de ação central utilizado para controle da pressão
doxifeno, realizada pela enzima CYP2D6. Assim, a arterial, que reduz a reatividade vascular, porém
venlafaxina e a desvenlafaxina podem ser utilizada, mostra baixa eficácia no manejo dos sintomas va-
sendo a escolha mais apropriada.8(A) somotores.
Um estudo placebo controlado evolvendo 80 Em um estudo prospectivo, 194 pacientes em
625
CAP. 61 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
uso de tamoxifeno, com sintomas vasomotores, fo- De forma que os autores concluiram que não houve
ram randomizadas para receber 0,1 mg/dia de clo- evidência para o uso destes no tratamento dos sin-
nidina por via oral ou placebo por 8 semanas. tomas menopausicos.12(B),13(A),14(A),15(A)
As pacientes que receberam clonidina apre- Existe uma preocupação quanto a possíveis
sentaram redução na frequência e intensidade dos efeitos estrogênicos da black cohosh na mama, não
fogachos comparados ao grupo placebo. Porém, há evidencias quanto ao aumento do risco de re-
seus efeitos adversos, como boca seca e insônia le- corrência da doença em mulheres com câncer de
vam a descontinuação do tratamento por boa parte mama RE+. Desta forma, alguns grupos não reco-
das pacientes.10(A) mendam o uso destas substâncias até existirem da-
dos mais concretos sobre sua segurança.16(A)
Apesar de muito utilizados nas mulheres na O primeiro “clinical trial” publicado sobre o
pós menopausa, os fitoterápicos não tem sua eficá- assunto foi o Women’s Health Iniciative ( WHI). Um
cia bem estabelecida. estudo randomizado, americano e multicêntrico,
Entre as substâncias mais utilizadas destacam que incluiu 16.608 mulheres com idade entre 50
se as isoflavonas e Cimicifuga racemosa. e 79 anos, que receberam a terapia hormonal em
As isoflavonas são substâncias naturais en- esquema continuo (0,625 mg de estrógenos equi-
contradas em plantas comestíveis. E as principais nos conjugados associado à 2,5mg de acetato de
são: a genisteína e a daidzeína, consideradas fito- medroxiprogesterona, em doses diárias). Após 5,2
estrógenos por apresentarem uma estrutura po- anos de seguimento, o estudo foi interrompido de-
lifenólica com aspectos estruturais comuns ao 17 vido ao aumento inaceitável de casos de câncer de
beta-estradiol, o que os habilitam a se ligarem fra- mama do grupo da TRH, com razão de chance de
camente ao receptor de estrogênio. Porém não há 1,26 (IC 95% 1,00- 1,59), com 8 casos novos de car-
dados consistentes na literatura que mostrem que cinoma mamário invasivo por 10.000 mulheres ao
elas sejam mais eficazes quando comparadas ao ano.017(A)
placebo para tratamento dos fogachos. A Terapia Hormonal, em pacientes diagnosti-
Uma outra isoflavona, a Red clover (Trifolium cadas com câncer de mama, é cercada de muitas
pratense), também não se mostrou eficaz clinica- controvérsias.
mente para tratamento de fogachos . Dois grandes estudos clínicos randomizados
Uma revisão sistemática de 43 trials publi- conduzidos, entre pacientes que sobreviveram ao
cada em 2013 não mostrou melhora dos fogachos tratamento do câncer de mama, apresentaram re-
com o uso de nenhum tipo de fitoestrogenos, com sultados conflitantes.
exceção da genisteína. O estudo Hormonal Replacement Therapy After
Resultado de 4 trials, que não puderam ser Breast Cancer - Is It Safe (HABITS) avaliou 442 mulhe-
agrupados em meta-analises, com uso de genisteí- res randomizadas para uso de estradiol com ou sem
na, sugere que doses maiores que 30 mg/dia pode acetato de noretisterona (dependendo da presença
reduzir a frequência das ondas de calor quando ou não do útero) versus pacientes que não usaram
comparadas ao placebo.11(A) TH. Este estudo foi interrompido precocemente por
A Cimicifuga racemosa, também é conhecida apresentar aumento do evento câncer de mama no
como black cohosh, tem seu uso muito difundido grupo usuário de TH. Após um follow up médio de
na tentativa do manejo dos fogachos. Entretanto, 4 anos, o grupo que usou TH apresentou duas ve-
os estudos ,trial e uma meta-analise que incluiu zes mais novos casos de câncer de mama quando
2023 pacientes, não mostraram diferença significa- comparado com o grupo sem TH ( 39 de 221 versus
tiva entre a black cohosh e o placebo na melhora 17 de 221, razão de chance 2,4) . A incidência cumu-
da frequência e da intensidade das ondas de calor. lativa de câncer de mama nos grupos, hormonal e
626
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 61
627
CAP. 61 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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628
62
SEGUIMENTO DAS
PACIENTES TRATADAS DE
CÂNCER DE MAMA
Palavras Chave:
Câncer, câncer de mama, mastologia, pós-operatório, aspectos psicoló-
gicos, follow-up, oncologia, psicologia
630
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 62
identificar aquelas mulheres que têm alto risco de cirurgia conservadora, pelo menos 6 meses após tér-
um segundo primário, como suscetibilidade genéti- mino da radioterapia, ou na mama contralateral. A
ca que podem afetar outros membros da família, e ocorrência de câncer de mama contralateral pode re-
encaminhá-las para aconselhamento adequado6(B). presentar um novo tumor primário ou metástase do
Vacinações seriam realizadas seguindo recomen- tumor prévio. Embora muitas vezes a diferenciação
dações apropriadas: gripe e pneumonia podem ser deste cenário possa ser um desafio, um novo primá-
feitas em qualquer momento, inclusive durante a rio pode ter outra histologia ou subtipo molecular,
quimioterapia7(B). ou a presença de componente in situ. Classicamente,
O screening mamário para recorrência local ou o risco anual de tumor contralateral foi estimado en-
novo primário deve ser realizado. Uma metanálise tre 0,5 – 1,0%,possivelmente menor na atualidade
com 13 estudos demonstrou impacto na sobrevida pelo advento da terapia moderna9(B). Radiografias
em relação a detecção precoce da recorrência local mais frequentes não são recomendadas e só devem
comparado ao diagnóstico tardio e a sobrevida foi ser realizadas após achados que justifiquem. Mamas
melhor quando a recidiva foi identificada pela ma- reconstruídas não devem realizar exames de imagem
mografia ao invés do exame físico8(A). A mamografia de rotina. O uso de Ressonância Magnética não deve
deve ser realizada anualmente, seja na mama após ser referendado, exceto como exame adicional de in-
Figura 1
631
CAP. 62 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
vestigação ou quando há critérios de alto risco para lidade de vida. Se não há ganho de sobrevida, o
novos tumores5(D). tratamento precoce da doença assintomática seria
O rastreio de metástases a distância através uma “paliação antecipada”, podendo levar a maior
de exames laboratoriais ou imagem,em mulheres toxicidade devido a sintomas relacionados ao trata-
assintomáticas não é recomendada.Estudos rando- mento. Há de se salientar que poucos estudos pros-
mizados não demonstraram vantagem de sobrevida pectivos foram realizados sobre follow up e em uma
no uso periódico de exames de imagem comparado época distinta da atual. Um estudo usando moda-
apenas ao seguimento clínico e mamografia10-12(A). lidades de imagem mais sofisticadas, por exemplo,
O estudo do Gruppo Interdisciplinare per la Valutazio- poderia impactar tais recomendações, visto que os
ne degli Interventi in Oncologia (GIVIO) randomizou estudos prospectivos utilizaram imagens com bai-
1.320 mulheres (estádio I, II e III) para um programa xa sensibilidade. Os subtipos de câncer de mama
de vigilância intensivo, incluindo visitas clínicas, também não foram avaliados especificamente nes-
Cintilografia óssea anual, ultrassonografia abdomi- tes ensaios e as terapias sistêmicas atuais são mais
nal anual, mamografia anual, radiografia tórax se- efetivas e menos tóxicas que as medicações mais
mestral e marcadores tumorais trimestrais, compa- antigas.
rado a visitas clínicas e mamografias anuais apenas.
Após seguimento médio de 71 meses, não houve MOTIVAÇÃO, TERAPIA ENDÓCRINA E
diferença significativa de sobrevida e a diferença ENDOMÉTRIO
do tempo para o diagnóstico foi menor que 1 mês
entre os grupos11(A).Outro estudo Italiano realizou A motivação é essencial para manutenção da
randomização em 1.243 pacientes sem vantagem vigilância, assim como na aderência do tratamen-
significativa para a vigilância mais intensiva10(A). O to (D). Diversos fatores, especialmente efeitos co-
terceiro estudo randomizado avaliou 472 mulheres laterais, podem afetar a aderência, variando entre
com câncer de mama inicial após tratamento primá- 50 a 92% em 5 anos14(D). As pacientes devem ser
rio para acompanhamento usual ou com associação estimuladas, por exemplo, a manter o tratamento
de exames diagnósticos e após seguimento médio endócrino anti-estrogênico. A hormonioterapia ad-
de 4,2anos não houve diferença em sobrevida glo- juvante no câncer de mama inicial, seja com tamo-
bal ou sobrevida livre de doença12(A). Uma revisão xifeno, inibidores de aromatase ou bloqueio ova-
sistemática recente comparou o acompanhamen- riano, reduz o risco de recorrência, diminui o risco
to de rotina e mamografias com esquemas mais de segundo primário e melhora a sobrevida. Mulhe-
intensivos, incluindo exames radiológicos e testes res na-pós menopausa que fazem uso de SERMS
laboratoriais: nãoforamencontradasdiferenças de (selective estrogen receptor modulator therapies),
sobrevida livre de doença ou sobrevida global13(A). como o tamoxifeno, devem ser avisadas a relatar
Estes estudos em conjunto demonstram, portanto, sangramento vaginal pelo risco de câncer de en-
que até o momento, não há evidências que justi- dométrio. O uso de ultrassonografia pélvica para
fiquem o uso rotineiro de marcadores tumorais, avaliação uterina não é recomendada de rotina em
cintilografia óssea, tomografias, ressonâncias ou mulheres assintomáticas e sua utilização a biopsias
tomografia com emissão de pósitrons (PET-CT) em desnecessárias15(B).
mulheres assintomáticas fora de um estudo rando-
mizado e devem ser solicitados apenas se houver LINFEDEMA E OBESIDADE
suspeita de recidiva a distância. Entretanto, pes-
quisas são necessárias para otimizar o manejo das A incidência de linfedema varia na literatura,
estratégias demonitoramento na era moderna do podendo surgir logo após o término do tratamen-
tratamento. to ou depois de muitos anos. É estimado que pelo
Fundamentalmente, há duas razões para con- menos 40% das mulheres tratadas por câncer de
duzir vigilância em mulheres assintomáticas após mama experimentem algum grau desta morbidade
a terapia primária: melhora da sobrevida e da qua- durante a vida16-17(B). Na maioria dos casos, é limita-
632
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 62
do, mas o edema pode ser, extenso, com limitações à osteoporose devem incluir educação acerca dos
físicas severas, ocasionando diminuição da função- fatores de risco. A suplementação com cálcio e vi-
motora, além de desconforto e dor. A persistência tamina D deve ser considerada para todos adultos
do quadropode levar a infecção da mama, do braço com mais de 50 anos27(D). Opções farmacológicas
ou da parede torácica. devem ser usadas em pacientes de alto risco. O
As mulheres submetidas a biópsia do linfo- uso de bisfosfonatos podem prevenir perda óssea
nodo sentinela têm menor risco de desenvolvê-lo e tratar osteoporose estabelecida29 (D),30(A). A aval-
comparado a dissecção axilar18-20(A). A radioterapia iação com densitometria deve ser recomendada em
pode causar ou exacerbar o quadro, especialmen- mulheres pós-menopausadas logo após tratamento
te após irradiação da fossa supraclavicular ou axi- (exame de base) e deve ser repetida pelo menos a
la21(A).Outro fator de risco é a obesidade. As pacien- cada 2 anos para mulheres em uso de inibidor da
tes acima do peso ideal devem ser recomendadas a aromatase, mulheres na pré-menopausa em uso de
atingir e manter o índice de massa corpórea (IMC) tamoxifeno e/ou em bloqueio da função gonadal
adequado22-23(D). Aproximadamente 62% das mu- e menopausada prematuramente após terapia ci-
lheres sobreviventes do tratamento têm IMC aci- totóxica27,31,32(D).
ma de 25/m2, sendo 30% classificadas como obesa.
Além do linfedema, a obesidade é relacionada a ou- INFERTILIDADE
tros problemas: complicações pos-operatórias, risco
de recorrência e desenvolvimento de diabetes são O câncer de mama incidindo em mulheres
alguns exemplos. Historicamente, a dissecção axilar abaixo de 45 anos torna a infertilidade um pro-
significava evitar atividade física no membro ipsi- blema, com importante impacto físico e psicológi-
lateral. Um estudo recente, entretanto, demonstrou co33(B). A quimioterapia é “gonadotóxica”, levando
que uma atividade física progressiva e supervisio- a redução da fertilidade ou menopausa precoce. A
nada é segura em relação ao desenvolvimento de incidência da amenorréia induzida por drogas au-
linfedema24(B). Esse tipo de atividade pode reduzir menta com a idade. Não há um tempo ideal definido
o edema e melhorar os sintomas das mulheres que para iniciar gravidez após o término do tratamento.
já o apresentam. Obviamente, mais estudos são ne- Esta discussão deve ser realizada em conjunto com
cessários neste cenário. O foco do profissional deve todos os profissionais envolvidos no tratamento. A
ser o aconselhamento de como prevenir e reduzir maioria das mulheres, após terapia primária, reali-
o risco de linfedema, bem como encaminhar ao es- zarão tratamento endócrino adjuvante variável por
pecialista precocemente, se surgirem sinais e sinto- 5 ou 10 anos. Não há ensaios prospectivos que evi-
mas sugestivos do quadro (D). denciem segurança da interrupção da terapia an-
ti-estrogênica e concepção da gravidez. O estudo
AVALIAÇÃO DA SAÚDE ÓSSEA positive está avaliando este risco: mulheres com 42
anos ou menos, após completar 18 a 30 meses de
A magnitude da perda óssea devido à terapia terapia endócrina, farão interrupção da hormonio-
do câncer de mama é maior que aquela relacionada terapia para engravidar e deverão retornar ao trata-
a idade de maneira que até 80% das pacientes trata- mento em até 2 anos34.
das por neoplasia mamária têm queda da massa As pacientes que desejem gravidez e estão
óssea25,26(B). Os fatores de risco para osteoporose in- em dificuldade de engravidar por mais de 6 me-
cluem: menopausa induzida pela quimioterapia, su- ses, ou tiveram perdas gravídicas, devem ser enca-
pressão da função gonadal, terapia anti-estrogênica minhadas a um especialista em fertilidade, pois o
e corticoides. Esses fatores atuam sinergicamente- tempo é crucial nestas mulheres devido a rápida
com outros fatores de risco, tais como idade, fratura deterioração da reserva ovariana.
prévia, história familiar, tabagismo, alcoolismo, sed-
entarismo, deficiência de vitamina D e cálcio27,28(B).
As estratégias para reduzir a morbidade associada
633
CAP. 62 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
634
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 62
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CAP. 62 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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63
PÓS-TRATAMENTO DO
CÂNCER DE MAMA
Palavras Chave:
Pós-Tratamento do Câncer de Mama
GUSTAVO CAMPBELL
Discente da Graduação em Medicina na Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO), Brasil.
FABILA LORENZETTI
Enfermeira da Clínica Cirúrgica do Hospital Regional Alto Vale do Itajaí.
CAP. 63 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
638
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 63
639
CAP. 63 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
640
64
ASPECTOS PSICOLÓGICOS
DAS PACIENTES TRATADAS
POR CÂNCER DE MAMA
Palavras Chave:
Neoplasia da Mama, Medicina Comportamental, Psicologia,
Saúde Mental, Luto
642
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 64
sentimentos e vivências são comuns a elas durante mos que o paciente apresenta um diagnóstico de
o diagnóstico e tratamento da doença como a an- câncer, estamos formalizando todos estes conceitos
gústia, o sofrimento e a ansiedade.2 sociais negativos imputando a ele uma carga mui-
A possibilidade no decorrer do processo de to grande de sofrimento. Para a paciente quando o
adoecer permite surgir modificações emocionais e diagnóstico de câncer é confirmado todo o estigma
físicas em diferentes momentos, como transtorno da doença estará presente, representando a morte.
cognitivo, questões como imagem corporal, preo- Quando estamos frente ao paciente temos
cupações sexuais, alterações funcionais, limitações que esclarecer em poucas palavras que o compor-
físicas. tamento do câncer de mama é crônico, sua doença
Houve mudanças no modelo de assistência não tem o significado social negativo temos que
à mulher com câncer de mama modificando o seu explicar o estigma social presente na palavra cân-
objeto da assistência que passa a ser o ser doente e cer, acrescido a isto temos pacientes com ansiedade
não a doença em si. muito alta na hora da comunicação e muitas vezes
A evolução tecnológica utilizada hoje em dia a compreensão não é satisfatória para a expecta-
voltada para o diagnostico inicial e tratamento mais tiva do paciente, sendo frequente aparecimento
eficaz com grande sobrevida esta permitindo trans- de distorções, entre o diagnóstico e tratamento, o
formar uma doença com melhor prognóstico, tor- medo aflora na paciente, nos cuidadores, familiares,
nando-se doença crônica, como diabete, hiperten- amigos, que também participam da doença, e deve
são, dislipidemia, que se cuidado adequadamente ser considerados importantes nesta fase, devendo o
pode apresentar oportunidade de melhora ou cura. médico ser capacitado para lidar com esta situação,
Esta situação gerou um novo desafio que é a orientando e esclarecendo sobre todas as possibili-
comunicação do diagnóstico de câncer de mama dades, terapêuticas.
para a paciente, em fases iniciais da enfermidade Outra situação comum é a falta de capaci-
quando ainda os sintomas são inexistentes. tação dos profissionais de saúde em comunicar o
Alguns anos atrás os médicos usavam como diagnóstico, não existe na formação médica tradi-
estratégia evitar a discussão sobre o câncer com a cional a capacitação sobre o tema, muitas vezes fica
paciente. atribuída a julgamentos pessoais, e experiência in-
Vários fatores estão envolvidos na dificulda- dividual do profissional.
de de comunicar a uma paciente o diagnostico do A informação técnica sobre o câncer está à
câncer de mama um deles considerado muito im- disposição em muitos meios, principalmente nos
portante é o estigma do câncer. Para o público leigo dias de hoje com a facilidade da comunicação, vá-
existe uma associação entre o câncer e mal prog- rios sites de instituições, hospitais, grupo de ajuda,
nóstico, sofrimento, incurabilidade, dependência de ONGs, universidades, serviço publico etc., e gran-
outras pessoas, tratamentos agressivos e por fim a de parte dos pacientes e familiares com câncer de
morte com sofrimento, esta associação é tão forte mama tem acesso a estas informações antes de
que o conceito social parece ser uma unidade, de tal chegar à consulta médica, isto gera situação nova
forma que existem palavras como câncer que são que não existia alguns anos atrás na relação mé-
evitadas pelo paciente como se o pronunciamento dico paciente. Em princípio o conhecimento prévio
da palavra câncer causaria maus pressentimentos. da enfermidade é saudável ao diagnóstico e trata-
Soma-se a isto o termo pejorativo que o câncer mento, e facilita o entendimento com a equipe mul-
adquiriu na nossa sociedade aonde constantemen- tidisciplinar, mas é necessário que os profissionais
te é pronunciado no sentido de maleficência, assim que atuam na área forneçam sites e endereços se-
uma pessoa que transgrediu a ética, moral na socie- lecionados aonde os pacientes e familiares possam
dade é considerado um câncer em nossa sociedade é ter acesso a informações confiáveis, já que existem
frequente na imprensa denominar que determinado diversidade, e complexidade na informação médica.
político é um câncer em nossa sociedade. Somente com o resultado já confirmado do
Frente a todos estes aspectos , quando dita- estudo histológico cabe ao médico comunicar a pa-
643
CAP. 64 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
ciente o diagnóstico sendo considerado ato médico, Raiva pode surgir quando a paciente, compor-
deve envolver emoção e alguns aspectos conside- ta-se com agressividade com a equipe médica ou
rados positivos, podem ser incentivado, como po- cuidadores não médicos, ou consigo mesmo geral-
sitividade, esperança, contato visual, discussão de mente atribuindo culpa a alguém ou a si mesmo
tratamento ao passo que a informação é a forma pela ocorrência da doença, “Por que eu? Não é justo”.
técnica específica de comunicação podendo ser re- Barganha ocorre quando surgem promessas
forçada por equipe multidisciplinar. de recompensar equipe médica ou aspectos rela-
Comunicação é atualmente reconhecida como cionados à religiosidade e crença, etc., nesta fase é
uma importante habilidade médica no desempenho comum à ideia da possibilidade de reverter à con-
da medicina. No atendimento a pacientes com cân- dição com a negociação, ”Me deixe viver apenas até
cer, essa comunicação é particularmente um desa- meus filhos crescerem”.
fio, devido ao medo, ao estigma associado à doença, Depressão pode ser detectada quando as pa-
à complexidade das informações médicas e incerte- cientes perdem a autonomia de decisão “Estou tão
za sobre o curso da doença3(C). triste, porque me preocupar com qualquer coisa,
Talvez o prévio conhecimento da equipe mé- nada mais importa”.
dica sobre a maneira de pensar da paciente facilite Aceitação é a fase aonde existe concordância
o entendimento e ofereça a oportunidade de esco- com a situação, muitas vezes de forma exagerada e
lher qual a linguagem deverá ser usada, isto ocorre otimista, ”Tudo vai dar certo” sendo o melhor mo-
quando existe equipe multidisciplinar disponível mento de propor a forma inicial de tratamento, com
no serviço sendo um facilitador de importância. A as devidas observações de risco.
equipe deverá estar preparada para atender mulhe- Como o tratamento deve ser realizado de
res com diversas características, cultas, intelectuali- modo eletivo é importante o posicionamento médi-
zadas, outras sem conhecimento, agressivas, passi- co orientando o momento adequado da intervenção
vas, educadas, etc., a equipe tem que apresentar-se terapêutica deixando a paciente elaborar sobre sua
conforme a necessidade individual, mas em geral nova situação, este tempo dado a paciente é muito
o mastologista não dispõe destas informações pre- importante.
viamente, então é possível identificar algumas ca- Deverá existir uma forma de negociação en-
racterísticas como abordaremos abaixo. tre paciente e equipe médica para identificar o mo-
Segundo a psiquiatra Elizabeth Klüber Ross4 mento adequado e ideal de iniciar um tratamento,
existem cinco fases da morte que são negação, rai- enfatizando sempre que o tratamento do câncer de
va, barganha, depressão e aceitação, dependendo mama é longo chegando a durar anos, desmitifican-
das características individuais, cada paciente pode do o conceito de emergência ou urgência interpre-
apresentar sinais mais evidentes de cada uma des- tado pela paciente, e muitas vezes induzido pelo
tas fases, não sendo necessária a presença completa médico.
de todas as fases, portanto as fases não se sucedem O posicionamento médico na comunicação
de forma ordenada e podem ser excludente. Como a do câncer de mama deve ser realizado em várias
paciente no momento do diagnóstico sente-se pró- etapas se necessário, em várias consultas, as infor-
ximo da morte por analogia estas fases podem ser mações devem ser bem compreendidas e refletidas,
aplicadas, no momento do diagnóstico, facilitando e as duvidas devem ser esclarecidas pelo médico,
o entendimento. para isto as múltiplas visitas na fase de diagnóstico
Para exemplificarmos podemos identificar a e pré-operatório, determinam geralmente o tem-
fase de negação quando a paciente comportar-se po e momento adequado, de iniciar o tratamento,
minimizando ou negando sintomas e sinais retar- a qualidade da comunicação é vital para a aceita-
dando o diagnóstico principalmente por ausência ção do diagnóstico e adesão ao tratamento, talvez o
de dor, muitas vezes o diagnóstico será feito com a momento mais vulnerável que a paciente apresenta
doença em estádio avançado “Isso não pode estar na dinâmica da enfermidade é nesta fase.
ocorrendo comigo”. Não existe padrão único fixo de comunicação
644
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 64
de doença grave, mas é recomendável à partici- radioterapia dose e campos, etc., efeitos longo pra-
pação das pacientes em todo o processo expondo zo podem causar sintomas tardios, como limitações
suas dúvidas, negociando seu tratamento para che- funcionais, dores crônicas, perda da sensibilidade,
garmos a uma decisão conjunta, o médico deve es- linfedema, neuropatias, insuficiência cardíacas, etc.
clarecer a paciente que vai haver mudanças em sua O tratamento cirúrgico ainda é uma arma de
vida, e à medida que a mulher tenha esta percepção importância muito grande no tratamento e respon-
a adesão ao tratamento será melhor. sável por influir no aspecto psicológico físico e social
Concluímos que não há um padrão único e como cirurgias mutilantes, ou conservadoras, perda
fixo para a comunicação do diagnóstico do câncer da sensibilidade da região, cicatrizes, limitações sen-
de mama, visto a imensa complexidade e variabi- sitivas e motoras, deformidades, dor, resultados cos-
lidade dos perfis das pacientes. Contudo, há fortes mético não aceitável pela paciente, numero de cirur-
indícios de que a comunicação deve ser feita de gias posteriores estes efeitos físicos contribuem no
forma centrada na paciente, com positividade e es- surgimento de sintomas psicológicos.
perança, mantendo contato visual e físico, na pre- Tais vivências são expressas, quando este
sença de um familiar, se for o desejo da paciente. O aponta que após a retirada da mama, surgem sen-
médico deve estar capacitado para lidar com ansie- timentos de perda da feminilidade e desesperança
dade da paciente e dos acompanhantes que geral- na sexualidade, uma vez que seu potencial sexual é
mente apresentam ansiedades diferentes. A forma modificado, prejudicando sua crença na capacidade
da comunicação deverá ser realizada em ambiente de atrair e seduzir seu companheiro, o que impli-
tranquilo com o tempo necessário que a paciente ca em dificuldades de relacionamento com este. A
precisa para esclarecer suas dúvidas mulher vive numa sociedade que valoriza o corpo
O planejamento terapêutico no câncer de perfeito como atributo essencial na atração sexual,
mama demanda de informações da doença no mo- e assim sendo, o câncer de mama traz também mo-
mento do diagnóstico como sua extensão, localiza- dificações estéticas e funcionais desencadeadas
ção, comportamento biológico, para utilizar moda- pela cirurgia, gerando novas sensações de atitudes,
lidades de tratamento como cirurgia, quimioterapia, traçando a transformação de sua imagem corporal.
hormonioterapia e radioterapia, que harmonica- A atenção médica deve estar voltada para
mente atuam na doença, são recursos terapêuticos situações que podem surgir de imediato ao trata-
agressivos que podem causar modificações na qua- mento ou tardiamente no decorrer dos anos de se-
lidade de vida destas mulheres.5(A) guimento o aparecimento da angustia, depressão e
A reação individual das mulheres ao diagnós- ansiedade são situações mais frequentes que ocor-
tico de câncer de mama esta relacionado a fatores re e o médico deve estar familiarizado com trans-
individuais como características de personalidade, tornos de saúde mental para identificar estas situa-
interação com seu meio social reação frente a doen- ções e encaminhar a tratamento especializado6(A).
ça, e a variáveis de opções de tratamento usados. A prevalência de surgimento de angustia, de-
Não existe um perfil psicológico comum entre pressão e ansiedade ocorrem em especial ao grupo
as mulheres que apresentam a enfermidade, o sur- de risco em mulheres jovens, e também em mu-
gimento de sintoma psicológico é proveniente da lheres com antecedentes de doenças psiquiátricas
modificação emocional e física que ocorre durante previas mulheres que apresentam baixo nível sócio
e após o tratamento, são múltiplos os fatores en- econômico também são consideradas de risco6(C).
volvidos no surgimento de sintomas psicológicos e Existem vários estudos sobre surgimento de
estão relacionados ao tipo especifico de tratamen- alterações psicológicas no câncer de mama e qua-
to utilizado como cirurgia conservadora ou radical lidade de vida, porem estas pesquisas tem pouco
mutilante, na administração de quimioterapia hor- rigor científico é usada metodologia diferente com
monioterapia, duração e dose utilizada, efeitos ime- diversidade nos instrumentos de pesquisa não per-
diatos e cumulativos da medicação usada, idade da mitindo padronização na comparação entre os estu-
paciente, sexualidade, maternidade, fecundidade, dos, até o momento os resultados são conflitantes.
645
CAP. 64 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
Apesar das limitações científicas de avaliação mentos cirúrgicos incluindo próteses de mama.
metodológica sobre qualidade de vida, estudos su- Recomenda-se estimular a participação de
gerem a necessidade de maior suporte emocional familiares e cuidadores em todos os processos da
durante os primeiros anos após o diagnóstico, não enfermidade sempre respeitando a individualidade
somente no período de tratamento.7(D) apesar de estudos não apresentarem força de evi-
A prevalência estimada de ansiedade e de- dencia científica para esta recomendação.
pressão é 17,9% e 11,6%, respectivamente, entre Estudos demonstram que após dois anos do
pessoas portadoras de câncer em geral, porem a diagnostico familiares e cuidadores ainda estão
ansiedade é mais frequente que a depressão, no se- participando ativamente do processo da enfermi-
guimento de longo prazo destas pessoas7(A). dade junto com a paciente.17(C )
Estudos de revisão sistemática estimam que A quimioterapia é um elemento fundamental
22% das portadoras de câncer de mama apresentam no tratamento do câncer de mama que proporciona
depressão sendo mais frequente que a ansiedade, aumento de sobrevida livre de doença e sobrevida
são estudos que utilizam ferramentas metodoló- global um dos aspectos que gera mais medo e an-
gicas e parametrização diferentes com limitações siedade nas mulheres não só em decorrência dos
técnicas de comparação.8 efeitos colaterais físicos provenientes do seu uso
Outro aspecto comum é o medo da recorrência como, alopecia, cardiopatia, osteoporose, sintomas
da doença após o tratamento durante o seguimento de climatério por indução a falência ovariana, dis-
e acompanhamento futuro pode existir a sensação função sexual, perda da libido, perda de fertilidade,
de estar na expectativa de morrer brevemente, au- ganho de peso aumento do risco de leucemias, sín-
mentando sua insegurança e risco de apresentar dromes mieloblasticas, , problemas de saúde oral,
angustia depressão e ansiedade. síndrome mão pé, estes efeitos geram mudança
Modificações na aparência e imagem corporal de vida com limitações sociais, e comportamentais
modificada pelo tratamento são motivos de preocu- com perda da qualidade de vida.
pação em 31% a 67% das pacientes como perda da Durante a realização do tratamento quimiote-
mama, cicatrizes, linfedema, perda de cabelo, dis- rápico geralmente é sugerido a paciente restrições
função sexual, menopausa precoce, ganho de peso, a ambientes que possam gerar risco a sua saúde
preocupação que o parceiro tenha dificuldade em devido sua imunidade baixa induzido pela quimio-
aceitar a nova situação9, 10 terapia, isto leva a paciente a um comportamento
De importância relevante é o médico assistente anti social mais recluso acarretando sintomas emo-
tenha a sensibilidade de identificar qual das pacientes cionais que podem contribuir para o surgimento de
tem preocupação com a aparência sendo recomen- alterações na saúde mental.
dado o oferecimento de dispositivos como prótese Uma característica da quimioterapia no cân-
externa para ser usada em sutiãs, lingerie especiais, cer de mama muitas vezes esta relacionado à
roupas adaptadas à nova modificação do corpo, além disfunção cognitiva como memória, atenção, con-
de perucas, chapéus, lenços, cachecóis e outros aces- centração, ou ação psicológica como ansiedade de-
sórios, que devem estar disponíveis, a mulheres sub- pressão e stress com impacto na qualidade de vida
metidas ao tratamento de câncer. 11(D) em mulheres durante o uso das medicações como
Mulheres que apresentam baixa autoestima também a permanência destes sintomas após o fim
relacionada à mastectomia prévia, ou cirurgias con- do tratamento12
servadoras com resultado cosmético ruim, decorren- O aumento da suscetibilidade de disfunção
tes de cicatrizes cirúrgicas que causam desconforto cognitiva relacionada com a quimioterapia é um
apresentam atualmente alternativas de cirúrgicas problema clínico importante que afeta negativa-
reconstrutivas com segurança oncológica adequa- mente a qualidade de vida para muitas pessoas du-
da, sendo utilizada como opção se for o desejo das rante o tratamento e pós-tratamento 35% das pa-
pacientes, a maioria dos planos e seguro de saúde cientes após o tratamento de câncer apresentaram
apresentam cobertura para a realização de procedi- transtorno cognitivo de concentração e memória de
646
MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 64
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CAP. 64 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO CAP. 64
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CAP. 64 MASTOLOGIA: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO
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