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Delirium:

(Deriva de “delirare”que significa estar “fora dos trilhos” - estar perturbado,


desorientado)

Definição: Síndrome cerebral orgânica sem etiologia específica,

DELIRIUM caracterizada por alteração aguda da atenção e de uma ou


mais funções cognitivas gerais (percepção, pensamento,
memória, linguagem...), de início agudo e com caráter
flutuante
É problema clínico comum em idosos (49% de pacientes com 65
anos ou mais)- Inouye, 2006; Saczynskyet al.,2012)

Delirium não é diagnosticado frequentemente, embora seja


associado ao aumento da morbimortalidade, das internações em
Dra. Rita Cecilia Reis Ferreira ILPs, ao declínio cognitivo e funcional e às demências, a longo
PROTER IPq HC FMUSP
prazo.

DELIRIUM
MANIFESTAÇÕES CLINICAS:
DSM V
Perturbação da atenção e do estado de consciência com disfunção É, muitas vezes, o único sinal de uma afecção clínica aguda
cognitiva global que não se justifica por disfunção preexistente e grave.
e/ou em evolução. Ocorre agudamente ( horas ou poucos dias) e
sua manifestação é flutuante. Tem início agudo, evolução flutuante, alterações da atenção
Etiologia: manifestações clinicas decorrem do efeito cerebral e da consciência, comprometimento cognitivo (percepção,
produzido por outra condição médica, intoxicação/ abstinência de pensamento, memória etc), alteração do ritmo sono-vigília,
substância. e comportamento psicomotor alterado.

Pode, portanto, ocorrer ilusões, alucinações, pensamento


CID 10 desorganizado, vago e fragmentado, ideação
paranoide, labilidade emocional, inversão do sono,
Presença de sintomasem cinco domínios: perturbação da agitação ou letargia, apatia, retardo psicomotor e
consciência e da atenção, alterações cognitivas, distúrbios mesmo “catatonia”.
psicomotores, alterações emocionais e alterações do ciclo
sono-vigília Acomete mais frequentemente idosos frágeis.

Delirium: CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS


Epidemiologia:
DSM V (APA 2013)

Sintoma central: Transtorno de atenção e de consciência Dados dependem da população avaliada.

Classificação: Na comunidade em geral: 1 a 2%

HIPOATIVO: retardo psicomotor, sonolência, apatia, letargia, fica


quieto, sem se alimentar ou ingerir liquido. É a forma mais comum Em idosos:
mas menos reconhecida e confundida com depressão ou fadiga. 11 a 42% dos hospitalizados (Siddiqi et al,2006)
Tem pior prognóstico. Até 30% dos idosos da emergência
Até 60%dos internos em ILPs ou em cuidados pós-agudos
HIPERATIVO: atividade psicomotora excessiva, agitação,
(Inouye,2006)
agressividade, alucinações, hipervigilancia e hiper-reatividade,
distratibilidade 2 a 73% dos idosos em pós-op (Sieber,2009)
70 a 87% em UTI e Cuidados Paliativos (Inouye,2006)
MISTO: Acontecem momentos de hipoatividade e outros de
hiperatividade. É difícil o diagnóstico diferencial com transtornos
psicóticos e de humor.
Fisiopatologia:
FATORES DE RISCO
Atualmente é considerado como via final de mecanismos
patogênicos distintos como desequilíbrio da neurotransmissão,
inflamação e estresse crônico. Causas multifatoriais.
Provavelmente há conjunto de vulnerabilidades e fatores
precipitantes (idade, demência, comorbidades, cirurgia, dor,
O estresse crônico ativaria sistema simpático e imunológico que uso/abuso de álcool e substâncias...)
incluiria maior atividade hipotálamo-hipófise- suprarrenal ->
aumento do cortisol ->liberação de citocinas ->alteração de Medicamentos como sedativos (benzodiazepínicos), hipnóticos,
neurotransmissores. narcóticos ( opióides), antagonistas dos receptores de histamina
H1 e anticolinérgicos tb podem provocar delirium.

Fatores precipitantes do Deliriun

Fatores predisponentes ao Deliriun

Medicamentos que podem provocar Delirium CAUSAS FREQUENTES DE DELIRIUM:


SEDATIVOS-HIPNÓTICOS: Benzodiazepínicos(+ os de ação prolongada),
Barbituricos Infecções:
ANALGÉSICOS: Opiáceos ( + meperidina), Anti-inflamatórios não ITU, Meningites, Pneumonia, Septicemia, Pielonefrite
esteróides
Cardiopatias:
MEDICAMENTOS PSICOATIVOS: ADT, Antipsicóticos ( clorpromazina,
Arritmias, ICC, Infarto agudo do miocárdio
haloperidol, tioridazina), Antiparkinsonianos (triexifenidil, levodopa,
benztropina, amantadina)
Distúrbios metabólicos:
MEDICAMENTOS CARDIOVASCULARES: Digitálicos (digoxina), Alterações hidreletrolíticas, Alterações glicemicas (hipo e hiper),
Antiarritmicos (quinidina, procainamida, lidocaína,disopiramida),
Insuficiências hepática e renal, Hipercalcemia, Hipóxia
Anti-hipertensivos (Metildopa e betabloqueadores)

MEDICAMENTOS GASTRINTESTINAIS: Antagonistas do H1(cimetidina, Doenças Neurológicas: Epilepsia, DCV, Tumores, Metástases
ranetidina, famotidina), Antieméticos (escopolamina, metoclopramida), cerebrais
Antidiarreicos (difenoxilato/atropina, loperamida)

OUTROS: Medicam para Incontinência urinária (oxibutinina, Outras: Anestesias, Traumatismos, Queimaduras, Cirurgias
hiosciamina), Antagonistas histaminicos H1 (difenidramina, hidroxizina),
Esteróides (prednisona), Med “alternativos” ( Atropa belladona, figueira
brava, meimendro, mandrágora)
• CAM (Confusion Assessment Method)
Componente 1: Início agudo e curso flutuante
DIAGNÓSTICO Obtido de informante confiável, com respostas positivas para:
Existe evidência de alteração aguda do estado mental do paciente?
É eminentemente clínico, inicialmente, usando critérios DSM V Componente 2: Desatenção
ou CID 10. Demonstrado por resposta positiva à pergunta:
O paciente tem dificuldade de concentrar a atenção ( ex:distrai-se
Depende da observação, da anamnese de um bom informante, facilmente ou tem dificuldade de acompanhar o que é dito?
de exame físico, incluindo o neurológico. Componente 3: Pensamento desorganizado
É demonstrado por resposta positiva à pergunta:
O pensamento do pac foi desorganizado ou incoerente, como divagações,
É importante saber toda medicação em uso pelo doente, como
fluxo confuso de ideias, mudança de assunto de modo imprevisível, ilógico?
é administrada e verificar se há abstinência de substancia lícita
ou ilícita. Componente 4: Alteração do nível da consciência
Quando existe resposta que nos alerte à questão:
Em geral, como você classificaria o nível de consciência desse paciente:
Utilizar instrumentos específicos para diagnóstico como o CAM
alerta/normal; vigilante/hiperalerta; letárgico/sonolento, mas facilmente
(Confusion Assessment Method) ou outros (Delirium Rate Scale, acordavel; estupor/difícil de acordar ou coma/impossível de acordar?
Delirium Observation Screening Scale)
O diagnóstico de DELIRIUM exige presença de 1 e 2 e do 3 ou4

Diagnóstico diferencial de Delirium


Característica Delirium Demência Depressão Psicoses Diagnóstico diferencial de Delirium

Início Súbito Insidioso Eventos vitais, Súbito


recentes característica Delirium Demência Depressão Psicose

Curso nas 24 horas Flutuante c/ Estável Pior pela manhã Estável Ideias delirantes Fugazes, Frequentemente Ausentes exceto Presentes
exacerbação mas humor não pobremente ausentes nos casos graves sustentadas e
noturna flutua sistematizadas sistematizadas

Consciência Reduzida Clara Clara Clara Linguagem Frequentemente Dificuldades em Normal Normal
incoerente encontrar
Atenção Globalmente Normal, exceto Pouco prejuízo, Pode ser palavras e
desordenada em casos graves distração desordenada perseveração
Cognição Globalmente Globalmente Memória Seletivamente Reversibilidade Sim Não Sim Raramente
prejudicada prejudicada prejudicada prejudicada
EEG Lentificação Normal ou Normal Normal
Orientação Frequente Frequentement Seletivamente Pode ser prejudicada generalizada lentificação
prejudicada; e prejudicada prejudicada difusa leve
flutua em
gravidade

Alucinações Frequente Frequentement Ausentes, Predominantemente


visuais/e ou e ausentes menos nos auditivas
auditivas graves

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DO DELIRIUM


TRATAMENTO DO DELIRIUM
Só se deve usar medicamento em pacientes cuja agitação interfira
no tratamento proposto ou que coloque em risco a si ou a outros.
1ª linha: Medidas não farmacológicas:
Usar a menor dose eficiente pelo menor tempo possível pois
medicação tb provoca delirium. O doente deve ser mantido lúcido e
Reorientação, intervenções comportamentais, aumentar a controlável.
supervisão, corrigir déficits sensoriais e minimizar contenção
física. (Inouye et al., 2007)
Existem poucos estudos controlados.
Também limitar mudanças no ambiente e na equipe de Haloperidol e Neurolépticos atípicos, (Risperidona, Olanzapina e
atendimento, proporcionar ambiente tranquilo com luz Quetiapina), são as medicações mais usadas.
adequada conforme período do dia e ter protocolo de sono
não farmacológico , propiciando sono ininterrupto. ( Mc Dowell et Benzodiazepínicos apenas podem ser usados em abstinência
al.,1998)
alcoólica, doença de Parkinson e Síndrome neuroléptica maligna.
ritaferreirapsy@gmail.com

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