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Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG

Instituto Jenny de Andrade Faria de Atenção à Saúde do Idoso

CENTRO MAIS VIDA MACRORREGIÃO CENTRO I - BELO


HORIZONTE

Demências

Camila Aquino
Rafaela Almeida

Residência de Enfermagem em Saúde do Idoso


HISTÓRIA
 Philippe Pinel (1745-1826) reduziu a nosologia da
insanidade metal a cinco categorias: Demência, Idiotismo,
Melancolia, Mania com Delirium e Mania sem Delirium.

 Jean Etienne Esquirol (1772-1840) descreveu demência


como “uma doença cerebral caracterizada por uma perda
dos sentidos, inteligência e interesse”.

 A demência foi descrita como uma síndrome orgânica do


cérebro (OBS) devido a sua natureza crônica e
irreversível,  diferente de uma síndrome aguda.

Caixeta, 2007
MEMÓRIAS
CURTO PRAZO QUEIXA

MEMÓRIA IMEDIATA Dificuldade em repetir instruções simples, decai de 20 a 30


segundos
MEMÓRIA DE TRABALHO Mantem a informação ativa por alguns segundos até
que tenha significado. Filtrar as informações.

LONGA PRAZO QUEIXA

EPISÓDICA Caráter autobiográfico, lembranças associadas a um tempo


ou lugar.

SEMÂNTICA Conhecimento sobre o mundo

IMPLÍCITA Dificuldade de aprendizagem por exposição repetitiva, perda


habilidades motoras;

Fonte: Moraes, 2007


ALTERAÇÕES COGNITIVAS

SENESCÊNCIA X SENILIDADE
Ambos são ligados ao envelhecimento, no entanto, são quadros
com impactos muito diferentes sobre a saúde.

 SENESCÊNCIA: Alterações pelas quais o corpo passa e que são


decorrentes de processos fisiológicos E PORTANTO não
caracterizam doenças e são comuns a todas as espécies.

 SENILIDADE:  É um complemento da senescência, condições que


acometem o indivíduo no decorrer da vida baseadas em
mecanismos fisiopatológicos, E PORTANTO, doenças que
comprometem a qualidade de vida das pessoas.

SBGG, 2016
TRANSTORNO COGNITIVO LEVE

 Amnéstico – memória episódica


 Esquecimento corroborado pelo familiares;
 Comprometimento de memória demostrados pelos testes
cognitivos (memória episódica);
 Prejuízo mínimo ou ausente das atividades instrumentais de vida
diária;

Fonte: Moraes, 2007


TRANSTORNO COGNITIVO LEVE

Envelhecimento Normal Transtorno Cognitivo Demência


Leve

10% - 15% ano


Envelhecimento Normal
Transtorno Cognitivo
1% - 2% ano Leve

Demência

PROGRESSÃO DO DECLÍNIO COGNITIVO

Fonte: Moraes, 2007


DEPRESSÃO
 Depressão sintoma X Depressão doença

 Pseudodemência: detecção da depressão simulando


síndrome demencial – Lentificação cognitiva,
principalmente da memória episódica.

 Relação entre depressão e doença de Alzheimer

Resultantes do mesmo processo neuropatogênico,


acometendo regiões diferentes, alterando a
quantidade de neurotransmissores (dopamina e
acetilcolina) em momentos diferentes.

MORAES, 2008
DELIRIUM
 Incapacidade cognitiva aguda e flutuante,
caracterizada por alterações no nível de consciência
em função de distúrbios sistêmicos.

 Ocorre em um curto período de tempo, com


tendência a flutuações no decorrer do dia;

Causas frequentes em Idosos

• ITU;
• Pneumonia;
• Iatrogênia;
• Desidratação;
• Hospitalização.
MORAES, 2008
DEMÊNCIA

 Perda do funcionamento harmonioso das funções


cognitivas e comportamentais, comprometendo
autonomia e a independência do individuo.

ABC da Demência

A Atividades de Vida Diária

B Behavior (Comportamento)

C Cognition (Cognição)

MORAES, 2008
DEMÊNCIAS REVERSÍVEIS
TÓXICAS
 Álcool, drogas.

INFECCIOSAS
 Neurossífilis, SIDA, Meningites

METABÓLICAS
 Hipotireoidismo, Deficiência B12, distúrbios eletrolíticos (uremia,
encefalopatia).

ESTRUTURAIS
 Hidrocefalia de pressão normal (HPN); Hematoma Subdural; Tumores
intracerebrais; TCE.

MORAES, 2008
DEMÊNCIAS IRREVERSÍVEIS

Fronto
Alzheimer
Temporal

Vascular Corpos de
Lewy

MORAES, 2008
DEMÊNCIA VASCULAR

 A vascular representa a 2ª causa de demência nos


idosos. Cerca de 15 a 20%.
 Definida pelo declínio cognitivo e manifestado pelo
comprometimento da memória e de duas ou mais
funções cognitivas (orientação, atenção, linguagem,
visuoespacial, f. executiva, controle motor e praxia)
 Distúrbios de marcha precoce; história de síncopes,
tonturas ou quedas sem motivo aparente.
 Mudanças de personalidade, humor, depressão,
retardo psicomotor, incontinência urinária de
urgência.
DOENÇA CÉREBRO-VASCULAR

Hemorragia Hipotensão
Oclusão arterial
intracerebral arterial

Completa Incompleta

AVE hemorrágico Subcortical Hipofluxo


Multi-infarto
Isquêmica Cerebral
Infarto
Estratégico Arteriopatia
DEMÊNCIA POR CORPOS DE
LEWY
 Segunda causa de demência degenerativa.
Cerca de 15 à 25% dos casos;

 A idade média de aparecimento é de 60 a 68


anos. Sobrevida de 06 a 10 anos;

 Diagnóstico clínico difícil: sintomatologia.


Déficit de atenção, disfunção executiva e f.
visuoespacial;

MORAES, 2008
DEMÊNCIA POR CORPOS DE LEWY

 Marcante déficit atentivo;


 Memoria episódica relativamente preservada;
 Mudanças súbitas na cognição
 Comprometimento na fluência verbal;
 Alucinações visuais e cinematográficas;
 Parkinsonismo presente no início da doença
leve, sendo tremor de repouso menos comum;
 Distúrbiosdo sono especialmente do
comportamento do sono REM.
(Teixeira-Jr AL, Cardoso F.,2005)
DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL
(DFT)
 Degenerativa por disfunção associada a atrofia dos lobos frontais
e temporais.
 Acomete 1 para cada 4 DA;
 Manifesta-se principalmente entre 45 e 65 anos de idade;
 A suspeita inicia-se com alteração de personalidade e desordem
da conduta social.
 Alteração precoce na personalidade e linguagem; Perda da
inibição.
 Redução da capacidade funcional e de controle pessoal.

MORAES, 2008.
DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL (DFT)

 Funções cognitivas são relativamente preservadas


nas fases iniciais da doença.
 Diagnóstico: história clínica + exame de imagem.
 Comprometimento maior frontal => alteração mais
grave comportamental.
 Comprometimento maior temporal => alteração mais
grave de linguagem.

MORAES, 2008
DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL
(DFT)
SÍNDROME SINTOMAS SÍTIOS LESIONAIS
Alterações em
Demência do tipo frontal personalidade e Frontal orbito basal
(mais prevalente) comportamento, bilateral
desibição social
Córtex temporal polar
Perda do significado das
Demência semântica esquerdo (ou bilateral) e
palavras e conceitos.
ínfero-lateral

Comprometimento da
linguagem. Dificuldade
Afasia progressiva não na fluência, pronúncia, Região erisilpviana
fluente recuperar palavras, esquerda
gradualmente evoluem
para o mutismo.

Paula, Guimarães, Florenza; 2009


DEMÊNCIA DE ALZHEIMER
 Principal causa de demências não reversíveis – cerca de 50-60%;
 Idade avançada é o fator de risco mais importante;
 Demais FR: histórico familiar +; gênero F; Síndrome de Down.
 Há fortes indícios de DA tardia com presença de riscos
cardiovasculares;
 Início Insidioso + progressão lenta;
 Triagem: prejuízo nos testes de memória episódica, função
executiva e linguagem;
 Diagnóstico por exclusão e diagnóstico clínico.

Fonte: Moraes, 2007


DEMÊNCIA DE ALZHEIMER
 Presença de placas amiloides extracelulares e emaranhados
neurofibrilares + perdas sinápticas + degeneração neuronal +
infiltrado inflamatório + angiopatia amiloide.
 As placas senis são depósitos de agregados da proteína B-amiloide.
 O resultado final é o déficit na neurotransmissão colinérgica,
serotoninérgica, dopaminérgica e nora-adrenérgica.
 Hiperfosforilação da proteína TAU = emaranhados neurofirilares;
Cavalcanti; Engelhard,
DECLÍNIO EM AVD´S
INSTRUMENTAIS, QUE EXIGEM REPETIÇÃO DE UM
MAIS COGNIÇÃO COMO MESMO FATO, DE UM
CONTROLE DAS FINANÇAS, MESMO ASSUNTO
FAZER COMPRAS, SAIR
SOZINHO DE CASA

ACIDENTES
FASE INICIAL DOMÉSTICOS
COMUNS

INDEPENDENTE PARA
ESQUECIMENTO DA
AUTO CUIDADO PERDA DA MEMÓRIA CURTO PRAZO
(AVD´S BÁSICAS) INICIATIVA E (FAMÍLIA QUE PERCEBE)
DA MOTIVAÇÃO
PARA TOMAR
DECISÕES
MORAIS; AZEVEDO, 2016
DECLÍNIO FUNCIONAL
EM TODAS AVD´S
INSTRUMENTAIS: SEM PIORA NA
DIFICULDADE CONDIÇÕES DE CUIDAR DESORIENTAÇÃO
PARA DA CASA TEMPORO-ESPACIAL
RECONHECER
PESSOAS

FASE
INICIAM AS
MODERADA AFASIAS,
APRAXIAS,
AGNOSIAS

DIFICULDADE NA
FALA E NA
COMUNICAÇÃO,
ALUCINAÇÕES (OUVIR VOZES,
DISCURSO
VER PESSOAS FALECIDAS),
EMPOBRECIDO
DESCONFIANÇA, QUEIXAS DE
ROUBO.

MORAIS; AZEVEDO, 2016


DEPENDENTE
DEPENDÊNCIA PARA
PARA AVD´S E
TRANSFERÊNCIA
AVDI´S

FASE MEMÓRIA ANTIGA


INCONTINÊNCIA
FECAL E URINÁRIA AVANÇADA COMPROMETIDA
PRESENTES

APATIA, IDOSO INCAPACITADO,


PROSTRAÇÃO = FIM NÃO RECONHECE MAIS
COMUNICAÇÃO PESSOAS PRÓXIMAS

MORAIS; AZEVEDO, 2016


ORIENTAÇÕES E CUIDADOS

D. VASCULAR D. ALZHEIMER FRONTOTEMPORAL CORPOS DE


LEWY
ADAPTAÇÃO RUÍDOS E ILUMINAÇÃO CONTROLE DE COMUNICAÇÃO
AMBIENTAL FINANÇAS

ROTINA ESTÍMULO DE MEMÓRIA USO DE BANHEIRO ALIMENTAÇÃO


OU FRALDAS

SEGURANÇA ENVOLVIMENTO MEDICAMENTOS HABILITAÇÃO


FAMILIAR (CNH)

MORAIS; AZEVEDO, 2016, STEELE; 2011


ESTUDO DE CASO

 Nome: V.O.C
 Idade: 88 anos
 Naturalidade: Belo Horizonte - MG
 Estado Civil: Viúva
 Profissão: Aposentada.
 Mora com a filha e netos
HISTÓRIA PREGRESSA

 HAS, DM, transtorno de humor, gastrite, Alzheimer. Em uso de


Hidrocloritiazida 25mg, Losartana 50mg, Sinvastatina 40mg,
Glifage 500mg, Risperidona (não informado), Omeprazol 20mg;

 Diagnóstico de Alzheimer há 1 ano, sem acompanhamento;


 Nega tabagismo, etilismo e alergias.
HISTÓRIA ATUAL

 Afirma que sua mãe esta muito confusa e agitada; sem conseguir dormir;
apresenta dificuldade para reconhecer pessoas; dificuldade para execução
de movimentos. Devido a piora no quadro, filhos trouxeram mãe para
morar em Belo Horizonte.

“minha mãe não reconhece meus filhos, e muitas vezes, ela perde a
paciência e briga com eles” – fala do filho.
Pontuações IVCF - 20
 Idade: 88 anos ( > 85= 3pts)
 Autopercepção
 AVD instrumental: Não sai de casa, não controla o dinheiro e
não realiza tarefas domésticas;
 AVD básica: Não é capaz de tomar banho sozinho;
 Cognição: Filha percebe esquecimento, piora de
esquecimento, perda de independência;
 Humor: Sente-se triste e sem vontade de sair de casa;
 Sarcopenia: Circunferência panturrilha < 31 cm
 Marcha: Dificuldade de caminhar impede a realização das
atividades do cotidiano;
 Comunicação – Visão;
 Comorbidade múltipla: Polifarmácia e Polipatologia.
IVCF
ESTRATO

São os idosos que apresentam dependência


completa nas AVD instrumentais associada à
dependência incompleta nas AVD básicas:
Independente apenas para se alimentar.
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EXAME FÍSICO

Sinais vitais:
 Pressão Arterial: assentada 130/80 mmhg;

 Frequência respiratória: 16 Irpm;

 Frequência cardíaca: 72 bpm;


DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM

CONFUSÃO CRÔNICA RELACIONADA A DOENÇA • LIMITAR A QUANTIDADE DE ESCOLHAS QUE O


DE ALZHEIMER CARACTERIZADO POR PACIENTE DEVE FAZER, DE MODO A EVITAR A
ALTERAÇÃO PROGRESSIVA DA FUNÇÃO ANSIEDADE;
COGNITIVA • OFERECER ESPAÇO PARA CAMINHADAS
SEGURAS; DETERMINAR A HISTÓRIA FÍSICA,
SOCIAL E PSICOLÓGICA DO PACIENTE, SEUS
HÁBITOS COMUNS E ROTINAS;
• IDENTIFICAR E REMOVER PERIGOS POTENCIAIS
NO AMBIENTE DO PACIENTE;
• DAR UMA ORIENTAÇÃO DE CADA VEZ;
• OFERECER AO PACIENTE DICAS GERAIS SOBRE
A ORIENTAÇÃO DO ANO, USANDO ESTÍMULOS
ADEQUADOS;
DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM

MANUTENÇÃO INEFICAZ DA SAÚDE RELACIONADO A • ESTABELECER ROTINAS;


ALTERAÇÃO NA FUNÇÃO COGNITIVA CARACTERIZADO • USAR TOM DE VOZ SUAVE E BAIXO;
POR INCAPACIDADE DE ASSUMIR A RESPONSABILIDADE • EVITAR DISCUTIR COM O PACIENTE;
DE ATENDER A PRÁTICAS BÁSICAS DE SAÚDE. • ELOGIAR TENTATIVAS DE AUTOCONTROLE;

COMPORTAMENTO DE SAÚDE PROPENSO A RISCO • APRESENTAR A MUDANÇA GRADUALMENTE;


RELACIONADO POR COMPREENSÃO INADEQUADA • OFERECER UM CALENDÁRIO;
CARACTERIZADO POR FALHA EM ALCANÇAR UM ÓTIMO • REFORÇAR OU REPETIR INFORMAÇÕES;
SENSO DE CONTROLE • DAR INSTRUÇÕES VERBAIS E POR ESCRITO;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 MORAES, E. N. Atenção à saúde do idoso: aspectos conceituais/


Health care for the elderly: conceptual aspects. Brasília - DF:
Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS. Ministério da Saúde,
2012.

 MORAES E.N.; LANNA, F.M. Avaliação Multidimensional do Idoso.


Editora Folium, 4a ed, 2014.

 Moraes EN, Moraes FL. Avaliação multidimensional do idoso. 5.ed. Belo


Horizonte: Folium; 2016. (Coleção Guia de Bolso em Geriatria e
Gerontologia,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 Luzardo Ar. Características de idosos com doença de Alzheimer e seus cuidadores:
Uma série de casos em um serviço de neurogeriatria. Porto Alegre (RS): UFRGS/
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 2006.

 Caixeta L, Nitrini R. Demência frontotemportal: estudo psicopatológico de 10 casos.


Rev Psiq Clin. 1998;25(3):132-4.

 Brunner IS, Smeltzer SC, Suddarth DS. Brunner e Suddart. Tratado de enfermagem
médico-Cirúrgica. 11 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.

 NANDA I. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificações


2012- 2014. Porto Alegre: Artmed, 2.010. 456p

 WOLD, GH. Enfermagem Gerontólogica. 5ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2013

 PARMERA JB; NITRINI R. Demências: da investigação ao diagnóstico. Ver Med


(São Paulo). 2015 jul-set; 94(3):179-84.

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