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Queixa principal: tristeza

Caso clínico

• Fátima, 66 anos, viúva há 7 meses, mora sozinha. Costureira e aposentada (ex-funcionária de


empresa têxtil). Católica.

• QP: “me sinto triste a maior parte do tempo há 3 meses”.

• A filha a acompanhou na consulta, e disse que a mãe sempre foi muito ativa e cheia de energia.
Gostava de dirigir e era independente. Porém, atualmente tem preferido ficar em casa. Sempre
cuidou das finanças da casa, mas ultimamente tem se confundido e acabou fazendo algumas dividas
pequenas em mercas e armarinhos de costura.

• A filha também notou que a mãe apresenta um discurso repetitivo, com aspecto pessimista.

• Nega episódio semelhante anteriormente. Nega quadros hipomaníacos ou maníacos previamente.


Nega doenças clínicas. Nega uso de medicações contínuas. Ex-tabagista, parou há 12 anos. Nega
etilismo.

• Exame do estado mental

o BEG, aparência adequada para idade, boas condições de higiene pessoal.

o Consciente, orientada auto e alopsiquicamente, normovigil e discretamente hipotenaz. Humor


hipotímico, afeto congruente ao humor. Memória recente e remota com conteúdos
predominantemente negativos. Memória de trabalho prejudicada. Sem alterações de
sensopercepção. Juízo de realidade preservado.

• Hipóteses diagnósticas → depressão, demência, hipotireoidismo, anemia, desidratação, ICC,


TCE, epilepsia do lobo temporal, etc.

• Exame físico → geral, tireoide, coloração de mucosas e neurológico.

• Exames complementares → TSH, hemograma.

• Diagnóstico → transtorno depressivo maior.

• Tratamento

o Escitalopram 10 mg;

o Exercício físico regular;

o Atividades prazerosas com os filhos;

o Dieta balanceada.

• Evolução → após 3 meses, um dos filhos retorna com Fátima à sua consulta. Ela refere que ela está
melhor do quadro de humor, negando tristeza. Voltou a ter energia para as atividades e o sono e
apetite se adequaram.

• O filho percebe permanência das queixas cognitivas → dificuldades para cozinhar, organizar as
finanças e não realiza mais costuras com a mesma destreza.

• MOCA/Minimental

• RNM → identificar atrofias corticais, demência vascular, etc.


Tristeza

• Nem toda tristeza é patológica.

• Tristeza pode ser secundária a doenças clínicas: hipotireoidismo, anemia, insuficiência renal,
diabetes, epilepsia, câncer, doenças cerebrovasculares, doença de Alzheimer, uso de medicações,
etc.

• Depressão pode afetar outras funções mentais: atenção, orientação, memória e sensopercepção.

o Em idosos, após a melhora do quadro depressivo deve-se investigar comprometimento


cognitivo → a depressão pode ser a primeira manifestação dessas doenças.

Memória → capacidade de codificar, armazenar e evocar as experiências, impressões e fatos que ocorrem
em nossas vidas.

• É um processo ativo e reeditado → nem sempre são fidedignas.

• Fases: codificação (precisa de atenção, afeto adequado), armazenamento e evocação.

• Tipos de memória

o Psicológica ou neuropsicológicas → experiências;

o Genética → da espécie;

o Imunológica;

o Social → coletiva, cultural, de tradições, identidade de grupo.

• Fatores relacionados

o Nível de consciência e estado geral do organismo;

o Atenção focal;

o Organização e distribuição temporal da memória;

o Interesse e afeto;

o Conhecimento anterior sobre a situação;

o Capacidade de compreensão do significado da informação;

o Estabelecimento de um contexto rico e elaborado;

o Codificação da informação nova em mais de uma via.

• Classificação da memória

o De acordo com o tempo

▪ Memória imediata → repetir lista de palavras;

▪ Memória recente → o que você almoçou hoje?;

▪ Memória remota → qual primeira escola frequentou.


o De acordo com o processo

▪ Memória explicita (declarativa) → conhecimento consciente, aprendida;

▪ Memória implícita (não declarativa) → automática, espontânea.

o Do processo de estrutura

▪ Memória de trabalho → trajetos;

▪ Memória episódica → descrição de um momento;

▪ Memória semântica → significado das palavras;

▪ Memória de procedimentos → como fazer as coisas (não declarativa).

• Mini-mental x MOCA

o MOCA → avalia a cognição em 30 pontos

▪ Avalia memória de procedimentos, executiva e visuoespacial;

• Teste do relógio, marcando 11 horas e 10 minutos → pode ser feito sozinho, por
ser mais simples.

▪ Avalia a memória semântica.


▪ Avalia a memória imediata e recente.

Transtornos neurocognitivos → transtorno neurocognitivos leve x transtorno neurocognitivos maior.

• Transtorno neurocognitivo leve

o Evidências de declínio cognitivo pequeno a partir de nível anterior de desempenho em um ou


mais domínios cognitivos → atenção complexa, função executiva, aprendizagem e memória,
linguagem, perceptomotor ou cognição social, com base em:

▪ Preocupação do indivíduo ou informante com conhecimento ou do clínico.

▪ Prejuízo pequeno, geralmente documentado por teste neuropsicológico padronizado.

o Os déficits cognitivos não interferem na capacidade de ser independente nas atividades


cotidianas.

o Não ocorrem no contexto de delirium.

o Não são mais bem explicados por outro transtorno mental.

• Transtorno neurocognitivo maior

o Evidências de declínio cognitivo importante a partir de nível anterior de desempenho em um


ou mais domínios cognitivos → atenção complexa, função executiva, aprendizagem e
memória, linguagem, perceptomotor ou cognição social, com base em:

▪ Preocupação do indivíduo ou informante com conhecimento ou do clínico.

▪ Prejuízo substancial, geralmente documentado por teste neuropsicológico


padronizado.

o Os déficits cognitivos interferem na capacidade de ser independente nas atividades


cotidianas.

o Não ocorrem no contexto de delirium.

o Não são mais bem explicados por outro transtorno mental.

Doença de Alzheimer

• Descrita por Alois Alzheimer em 1907.

• Tipo de demência mais comum → doença neurodegenerativa progressiva com alta relevância
epidemiológica e impacto social.

• O histórico familiar está presente em 40% dos indivíduos.


• Diagnóstico

o Final → neuropatológico (depósitos amiloides, emaranhados neurofibrilares, proteína tau,


perda neuronal e degeneração granulovascular).

o Alguns estudos com marcadores no LCR e no sangue → experimentais.

• Apresentação clínica

o Problemas para completar tarefas que antes eram fáceis.

o Dificuldades para a resolução de problemas.

o Mudanças no humor ou na personalidade; afastamento de amigos e familiares.

o Problemas com a comunicação, escrita e falada.

o Confusão sobre locais, pessoas e eventos.

o Alterações visuais, como prejuízo em entender imagens.

• Ressonância magnética de crânio → atrofia cortical, mais predominante em lobos temporais, em


especial de hipocampo.

• Tratamento

o Farmacológico → sintomáticos e inibidores da acetilcolinesterase (donepezila, rivastigmina e


galantamina).

o Reabilitação cognitiva → equipe multidisciplinar.

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